11 – E aconteceu que, estando Jesus assentado à mesa numa
casa, eis que, vindo muitos publicanos e pecadores, se assentaram a comer com
ele e com os seus discípulos. E vendo isto os fariseus, diziam aos seus
discípulos: Por que come o vosso mestre com os publicanos e pecadores? Mas,
ouvindo-os, Jesus disse: Os são não têm necessidade de médico, mas sim os
enfermos. (Mateus, IX: 10-12).
12 – Jesus dirigia-se sobretudo aos pobres e aos
deserdados, porque são eles os que mais necessitam de consolação; e aos cegos
humildes e de boa fé, porque eles pedem que lhes abram os olhos; e não os
orgulhosos, que crêem possuir toda a luz e não precisar de nada. (Ver
Introdução: Publicanos, Peageiros).
Estas palavras, como tantas outras, aplicam-se ao
Espiritismo. Às vezes admira-se de que a mediunidade seja concedida a pessoas
indignas, e por isso mesmo capazes de a empregarem mal. Parece, costuma-se
dizer, que uma faculdade tão preciosa deveria ser atributo exclusivo de pessoas
de maior merecimento.
Digamos, de início, que a mediunidade é inerente a uma
condição orgânica, de que todos podem ser dotados, como a de ver, ouvir e
falar. Não há nenhuma de que o homem, em conseqüência do seu livre arbítrio,
não possa abusar. Ora, se Deus não tivesse concedido a palavra, por exemplo,
senão aos que são incapazes de dizer coisas más, haveria mais mudos do que
falantes. Deus outorgou as faculdades ao homem, dando-lhe a liberdade de
usá-las como quiser, mas pune sempre aqueles que delas abusam.
Se o poder de comunicar-se com os Espíritos só fosse dado
aos mais dignos, qual aquele que ousaria pretendê-lo? E onde estaria o limite
da dignidade e da indignidade? A mediunidade é dada sem distinção, a fim de que
os Espíritos possam levar a luz a todas as camadas, a todas as classes da
sociedade, ao pobre ao rico: aos virtuosos, para os fortalecer no bem, e aos viciosos,
para os corrigir. Estes últimos não são os doentes que precisam de médico?
Por que Deus, que não quer a morte do pecador, o privaria
do socorro que pode tirá-lo da lama? Os Bons Espíritos vêm assim em seu auxílio
e seus conselhos, que ele recebe diretamente, são de natureza a impressioná-lo
mais vivamente, do que se os recebesse de maneira indireta. Deus, na sua
bondade, poupa-lhe a pena de ir procurar a luz à distância, e lha mete nas
mãos. Não será ele bem mais culpado, se não atentar para ela? Poderia
escusar-se com a sua ignorância, quando ele mesmo escreveu, viu com os próprios
olhos, ouviu com os seus ouvidos e pronunciou com sua própria boca a sua
condenação? Se ele não aproveitar, então será punido com a perda ou a perversão
da sua faculdade, de que os maus Espíritos se apoderarão, para o obsedar e
enganar, sem prejuízo das aflições comuns com que Deus castiga os servos
indignos e os corações endurecidos pelo orgulho e o egoísmo.
A mediunidade não implica necessariamente as relações
habituais com os Espíritos superiores. É simplesmente uma aptidão, para servir
de instrumento, mais ou menos dócil, aos Espíritos em geral. O bom médium não
é, portanto, aquele que tem facilidade de comunicação, mas o que é simpático
aos Bons Espíritos e só por eles é assistido. É neste sentido, unicamente, que
a excelência das qualidades morais é de importância absoluta para a
mediunidade.
TEXTOS DE APOIO
O BANQUETE DOS PUBLICANOS
“E os fariseus,
vendo isto, disseram aos seus discípulos: Por que come o vosso Mestre com os
publicanos e pecadores?” — (MATEUS, capítulo 9, versículo 11.)
De maneira geral, a comunidade cristã, em seus diversos
setores, ainda não percebeu toda a significação do banquete do Mestre, entre
publicanos e pecadores.
Não só a última ceia com os discípulos mais íntimos se
revestiu de singular importância. Nessa reunião de Jerusalém, ocorrida na
Páscoa, revela-nos Jesus o caráter sublime de suas relações com os amigos de
apostolado. Trata-se de ágape íntimo e familiar, solenizando despedida afetuosa
e divina lição ao mesmo tempo.
No entanto, é necessário recordar que o Mestre atendia a
esse círculo em derradeiro lugar, porquanto já se havia banqueteado
carinhosamente com os publicanos e pecadores. Partilhava a ceia com os
discípulos, num dia de alta vibração religiosa, mas comungara o júbilo
daqueles que viviam a distância da fé, reunindo-os, generoso, e conferindo-lhes
os mesmos bens nascidos de seu amor.
O banquete dos
publicanos tem especial significado na história do Cristianismo. Demonstra que
o Senhor abraça a todos os que desejem a excelência de sua alimentação
espiritual nos trabalhos de sua vinha, e que não só nas ocasiões de fé
permanece presente entre os que o amam; em qualquer tempo e situação, está
pronto a atender as almas que o buscam.
O banquete dos
pecadores foi oferecido antes da ceia aos discípulos. E não nos esqueçamos de
que a mesa divina prossegue em sublime serviço. Resta aos comensais o aproveitamento
da concessão.
Emmanuel - Do livro Caminho Verdade e Vida. Psicografia
de Francisco Cândido Xavier.
ABNEGAÇÃO DOS HERÓIS
A conversação entre os amigos desencarnados que nos
integram a equipe de viagem prosseguia, animada, ontem à noite, quando Luís
Garcia, um amigo espiritual procedente da Espanha, falou, excitado:
- O que estraga o movimento espírita, no mundo inteiro,
são os traidores da doutrina, os mercadores da mediunidade, os leitores de
fenômenos, os caixeiros das trevas, fantasiados de espíritos de luz...
Mas Pierre Bazin, um confrade francês, aproveitou as
reticências e opinou:
- Caro Garcia, você está certo, certíssimo. Os que
abusaram da faculdade e recursos sagrados, a detrimento do Espiritismo, nos
fizeram e nos fazem ainda imenso mal; no entanto, você e nós não podemos
esquecer os milhares de médiuns e companheiros outros de nossa Causa que
triunfaram, brilhantemente, nos seus deveres, perante a Espiritualidade Maior –
no último século – o primeiro de nossas atividades.
A sociedade humana não lhes enxergou o trabalho, o
devotamento, a humildade, o sacrifício...
Passaram, aos milhares, na arena física, criando
condições favoráveis ao progresso, impedindo desastres morais, educando
coletividades e erguendo corações para o futuro...
Diante desses heróis anônimos, os vendilhões do tempo são
pequena minoria...
Bazin fitou-nos de significativa maneira, indagando em
seguida:
- Sabem porquê?
E finalizou:
- Isso acontece, meus amigos, porque, de modo geral, o
mundo é míope para ver a abnegação, mas tudo o que se relaciona com a traição
atinge logo intensa publicidade, porque o mundo entende disso muito bem. (Paris,
França, 22, Julho, 1965.)
Hilário Silva - Livro “Entre Irmãos de Outras Terras” –
Psicografia Francisco C. Xavier e Waldo Vieira.
NA VINHA DO SENHOR
Instalado na casa modesta que seria, mais tarde, em Jerusalém,
o primeiro santuário dos apóstolos, Simão Pedro refletia...
Recordava Jesus, em torno de quem havia sempre abençoado
trabalho a fazer.
Queria ação, suspirava por tarefas a realizar e, por
isso, orava com fervor.
Quando mais ardentes se lhe derramavam as lágrimas, com
as quais suplicava do céu a graça de servir, eis que o Mestre lhe surge à
frente, tão compassivo e sereno como nos dias inolvidáveis em que se banhavam
juntos na mesma luz das margens do Tiberíades...
- Senhor! – implorou Simão – aspiro a estender-te as
bênçãos gloriosas!... Deixei o lago para seguir-te! Disseste que nos farias
pescadores de almas!... Quero testemunhar a divina missão do teu Evangelho de
amor e luz!...
E porque o celeste visitante estivesse a fitá-lo em
silêncio, Pedro acrescentou com a voz encharcada de pranto:
- Quando enviarás teu serviço às nossas mãos?
Entreabriram-se de manso os lábios divinos e o apóstolo
escutou, enquanto Jesus se fazia novamente invisível:
- Amanhã...amanhã...
O antigo pescador, mais encorajado, esperou o dia
seguinte.
Aguardando o mandato do Eterno Benfeitor,
Devotou-se à limpeza doméstica, desde o nascer do sol,
enfeitando a sala singela com rosas orvalhadas do amanhecer.
Enlevado em doce expectativa, justamente quando se
dispunha à refeição matutina, ensurdecedora algazarra atinge-lhe os ouvidos.
A porta singela, sob murros violentos, deixa passar um
homem seminu, de angustiada expressão, enquanto lá fora bramem soldados e
populares, sitiando o reduto.
O recém-chegado contempla Simão e roga-lhe socorro.
Tem lágrimas nos olhos e o coração lhe bate descompassado
no peito.
O anfitrião reconhece-o. É Joachaz, o malfeitor.
De longo tempo, vem sendo procurado pelos agentes da
ordem.
Exasperado, Pedro responde, firme:
- Socorrer-te porquê? Não passas de ladrão contumaz...
E, de ouvidos moucos à rogativa, convoca os varapaus,
entregando o infeliz, que, de imediato, foi posto a ferros, a caminho do cárcere.
Satisfeito consigo mesmo, o apóstolo colocava a esperança
na obra que seria concedido fazer, quando, logo após, perfumada liteira lhe
entregou à presença triste mulher de faces maceradas a contrastarem com a seda
custosa em que buscava luzir.
Pedro identificou-a.
Era Júlia, linda grego-romana que em Jerusalém se fazia
estranha flor de prazer. Estava doente, cansada.
Implorava remédio e roteiro espiritual.
O dono da casa, porém, gritou resoluto:
- Aqui, não! O teu lugar é na praça pública, onde todos te
possam lançar em rosto o desprezo e a ironia...
A infortunada criatura afastou-se, enxugando os olhos, e
Pedro, contente de si próprio, Continuou esperando a missão do dia.
Algo aflito, ao entardecer, notou que alguém batia,
insistente, à porta.
Abriu, pressuroso, caindo-lhe aos pés o corpo inchado de
Jarim, o bêbado sistemático, semi inconsciente, pedia refúgio contra a malta de
jovens cruéis que o apedrejavam.
Pedro não vacilou.
- Borracho! Infame! – vociferou, revoltado – não ofendas
o recinto do Mestre com o teu vômito!...
E, quase a pontapés, expulsou-o sem piedade.
Caiu a noite imensa sobre a cidade em extrema secura.
Desapontado, ao repetir as últimas preces, Simão meditava
diante de tocha bruxuleante, quando o Mestre querido se destacou da névoa...
- Ah! Senhor! – clamou Pedro, chorando – aguardei todo o
dia, sem que me enviasses a prometida tarefa!...
- Como não? – disse o Mestre, em tom de amargura. – Por
três vezes roguei-te hoje cooperação sem que me ouvisses...
E ante a memória do companheiro que recordava e compreendia
tardiamente, Jesus continuou:
De manhã, enviei-te Joachaz, desventurado irmão nosso
mergulhado no crime, que o ajudasses a renovar a própria existência, mas
devolveste-o à prisão...
Depois do meio-dia, entreguei-te Júnia, pobre irmã
dementada e doente, para que a medicasses e esclarecesses, em meu nome:
contudo, condenaste-a ao vilipêndio e ao sarcasmo...
À noitinha, mandei-te Jarim, desditoso companheiro que o
vício ensandece; no entanto, arremeteste contra ele os
próprios pés...
-Senhor! – soluçou o apóstolo – grande é a minha
ignorância e eu não sabia... Compadece-te de mim e ajuda-me com a tua
orientação!...
Jesus afagou-lhe a cabeça trêmula e falou, generoso:
- Pedro, quando
quiseres ouvir-me, lembra-te de que o Evangelho tem a minha palavra...
Simão estendeu-lhe os braços, desejando retê-lo junto do
coração, mas o Cristo Sublime como que se ocultava na sombra, escapando-lhe à
afetuosa carícia...
Foi então que o ex-pescador de Cafarnaum, cambaleando,
buscou os apontamentos que trazia consigo e, abrindo-os ao acaso, encontrou o Versículo
12, do Capítulo 9 das anotações de Mateus, em que o Mestre da Vida assevera,
convincente: -“Os sãos não precisam de médico, mas sim os doentes.”
Livro: Contos Desta E De Outra
Vida – Humberto De Campos – Irmão X
O PERDÃO
As primeiras peregrinações do Cristo e de seus
discípulos, em torno do lago, haviam alcançado inolvidáveis triunfos. Eram
doentes atribulados que agradeciam o alívio buscado ansiosamente; trabalhadores
humildes que se enchiam de santas consolações ante as promessas divinas da Boa
Nova.
Aquelas atividades, entretanto, começaram a despertar a
reação dos judeus rigoristas, que viam em Jesus um perigoso revolucionário. O
amor que o profeta nazareno pregava vinha quebrar antigos princípios da lei
judaica. Os senhores da terra observavam cuidadosamente as palestras dos
escravos, que permutavam imenso júbilo, proveniente das esperanças num novo
reino que não chegavam a compreender. Os mais egoístas pretendiam ver no
profeta generoso um conspirador vulgar, que desejava levantar as iras populares
contra a dominação de Herodes; outros presumiam na sua figura um feiticeiro
incomum, que era preciso evitar.
Foi assim que a viagem do Mestre a Nazaré redundou numa
excursão de grandes dificuldades, provocando de sua parte as observações quase
amargas que se encontram no Evangelho, com respeito ao berço daqueles que o
deveriam guardar no santuário do coração. Não foram poucos os adversários de
suas idéias renovadoras que o precederam na cidade minúscula, buscando
neutralizar-lhe a ação por meio de falsas notícias e desmoralizá-lo,
argumentando com informações mal alinhavadas de alguns nazarenos.
Jesus sentiu de perto a delicadeza a situação que se lhe
criara com a primeira investida dos inimigos gratuitos de sua doutrina; mas,
aproveitou todas as oportunidades para as melhores ilações na esfera do
ensinamento.
No entanto, o mesmo não aconteceu a seus discípulos.
Filipe e Simão Pedro chegaram a questionar seriamente com alguns senhores da
região, trocando palavras ásperas, em torno das edificações do Messias. As
gargalhadas irônicas, as apreciações menos dignas lhes acendiam no ânimo
propósitos impulsivos de defesas apaixonadas. Não faltavam os que viam no
Senhor um servo ativo do espírito do mal, um inimigo de Moisés, um assecla de
príncipes desconhecidos, ou de traidores ao poder político de Antipas. Tamanhas
foram as discussões em Nazaré, que os seus reflexos nocivos se faziam sentir fortemente
sobre toda a comunidade dos discípulos. Pedro e André advogavam a causa o
Mestre com expressões incisivas e sinceras. Tiago aborrecia-se com a análise
dos companheiros. Levi protestava, expressando o desejo de instituir debates
públicos, de maneira a evidenciar-se a superioridade dos ensinos do Messias, em
confronto com os velhos textos.
Jesus compreendeu os acontecimentos e, calmamente,
ordenou a retirada, afastando-se da cidade com tranqüilo sorriso.
Não obstante a determinação e apesar do regresso a
Cafarnaum, a maioria dos apóstolos prosseguiu em discussão, estranhando que o
Mestre nada fizesse, reagindo contra as envenenadas insinuações a seu respeito.
***
Daí a alguns dias, obedecendo às circunstâncias
ocorrentes naquela situação, Pedro e Filipe procuraram avistar-se com o Senhor,
ansiosos pela claridade dos seus ensinos.
– Mestre, chamaram-vos servo de Satanás e reagimos
prontamente! dizia Pedro, com
sinceridade ingênua.
– Observávamos que por vós mesmo nunca oporíeis a
contradita – ajuntava Filipe, convicto de haver prestado excelente serviço ao
Mestre bem-amado – e por isso revidamos aos ataques com a maior força de nossas
expressões.
Não obstante o calor daquelas afirmativas, Jesus meditava
com uma doce placidez no olhar profundo, enquanto os interlocutores o
contemplavam, ansiando pela sua palavra de franqueza e de amor.
Afinal, saindo de suas reflexões silenciosas, o Mestre
interrogou:
– Acaso poderemos colher uvas nos espinheiros? De modo
algum me empenharia em Nazaré numa contradita estéril aos meus opositores.
Contudo, procurei ensinar que a melhor réplica é sempre a do nosso próprio
trabalho, do esforço útil que nos seja possível. Nesse particular, não deixei
de operar na minha esfera de ação, de modo a produzir resultados a nossa
excursão à cidade vizinha, tornando-a proveitosa, sem desdenhar as palavras
construtivas no instante oportuno. De que serviriam as longas discussões
públicas, inçadas de doestos e zombarias? Ao termo de todas elas, teríamos
apenas menores probabilidades para o triunfo glorioso do amor e maiores motivos
para a separatividade e odiosas dissensões. Só devemos dizer aquilo que o
coração pode testificar mediante atos sinceros, porque, de outra forma, as
afirmações são simples ruído sonoro de uma caixa vazia.
– Mestre – atalhou Filipe, quase com mágoa –, a verdade é
que a maioria de quantos compareceram às pregações de Nazaré falava mal de vós!
– Mas, não será vaidade exigirmos que toda gente faça de
nossa personalidade elevado conceito? – interrogou Jesus com energia e
serenidade.
– Nas ilusões que as criaturas da Terra inventaram para a
sua própria vida, nem sempre constitui bom atestado da nossa conduta o falarem
todos bem de nós, indistintamente. Agradar a todos é marchar pelo caminho
largo, onde estão as mentiras da convenção. Servir a Deus é tarefa que deve
estar acima de tudo e, por vezes, nesse serviço divino, é natural que
desagrademos aos mesquinhos interesses humanos. Filipe, sabes de algum
emissário de Deus que fosse bem apreciado no seu tempo? Todos os portadores da
verdade do céu são incompreendidos de seus contemporâneos. Portanto, é
indispensável consideremos que o conceito justo é respeitável, mas, antes dele,
necessitamos obter a aprovação legítima da consciência, dentro de nossa
lealdade para com Deus.
– Mestre – obtemperou Simão Pedro, a quem as explicações
da hora calavam profundamente –, nos acontecimentos mais fortes da vida, não
deveremos, então, utilizar as palavras enérgicas e justas?
– Em toda circunstância, convém naturalmente que se diga
o necessário, porém, é também imprescindível que não se perca tempo.
Deixando transparecer que as elucidações não lhe
satisfaziam plenamente, perguntou Filipe:
– Senhor, vossos esclarecimentos são indiscutíveis;
entretanto, preciso acrescentar que alguns dos companheiros se revelaram
insuportáveis nessa viagem a Nazaré: uns me acusaram de brigão e desordeiro;
outros, de mau entendedor de vossos ensinamentos. Se os próprios irmãos da
comunidade apresentam essas falhas, como há de ser o futuro do Evangelho?
O Mestre refletiu um momento e retrucou:
– Estas são perguntas que cada discípulo deve fazer a si
mesmo. Mas, com respeito à comunidade, Filipe, pelo que me compete esclarecer,
cumpre-me perguntar-te se já edificaste o reino de Deus no íntimo do teu
espírito.
– É verdade que ainda não – respondeu, hesitante, o
apóstolo.
– De dentro dessa realidade, podes observar que, se o
nosso colégio fosse constituído de irmãos perfeitos, teria deixado de ser
irrepreensível pela adesão de um amigo que ainda não houvesse conquistado a
divina edificação.
Ambos os discípulos compreenderam e se puseram a meditar,
enquanto o Cristo continuava:
– O que é indispensável é nunca perdermos de vista o
nosso próprio trabalho, sabendo perdoar com verdadeira espontaneidade de
coração. Se nos labores da vida um companheiro nos parece insuportável, é
possível que também algumas vezes sejamos considerados assim. Temos que perdoar
aos adversários, trabalhar pelo bem dos nossos inimigos, auxiliar os que zombam
da nossa fé.
Nesse ponto de suas afirmativas, Pedro atalhou-o,
dizendo:
– Mas, para perdoar não deveremos aguardar que o inimigo
se arrependa? E que fazer, na hipótese de o malfeitor assumir a atitude dos
lobos sob a pele da ovelha?
– Pedro, o perdão não exclui a necessidade da vigilância,
como o amor não prescinde da verdade. A paz é um patrimônio que cada coração
está obrigado a defender, para bem trabalhar no serviço divino que lhe foi
confiado. Se o nosso irmão se arrepende e procura o nosso auxílio fraterno,
amparemo-lo com as energias que possamos despender; mas, em nenhuma
circunstância cogites de saber se o teu irmão está arrependido. Esquece o mal e
trabalha pelo bem. Quando ensinei que cada homem deve conciliar-se depressa com
o adversário, busquei salientar que ninguém pode ir a Deus com um sentimento de
odiosidade no coração. Não poderemos saber se o nosso adversário está disposto
à conciliação; todavia, podemos garantir que nada se fará sem a nossa boa
vontade e pleno esquecimento dos males recebidos. Se o irmão infeliz se
arrepender, estejamos sempre dispostos a ampará-lo e, a todo momento,
precisamos e devemos olvidar o mal.
Foi quando, então, fez Simão Pedro a sua célebre
pergunta:
– “Senhor, quantas vezes pecará meu irmão contra mim, que
lhe hei de perdoar? Será até sete vezes?”
Jesus respondeu-lhe, calmamente:
– Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes
sete.
***
Daí por diante, o Mestre sempre aproveitou as menores
oportunidades para ensinar a necessidade do perdão recíproco, entre os homens,
na obra sublime da redenção.
Acusado de feiticeiro, de servo de Satanás, de
conspirador, Jesus demonstrou, em todas as ocasiões, o máximo de boa vontade
para com os espíritos mais rasteiros de seu tempo. Sem desprezar a boa palavra,
no instante oportuno, trabalhou a todas as horas pela vitória do amor, com o
mais alto idealismo construtivo. E no dia inesquecível do Calvário, em frente
dos seus perseguidores e verdugos, revelando aos homens ser indispensável a
imediata conciliação entre o espírito e a harmonia da vida, foram estas as suas
últimas palavras:
– “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!...”
Irmão X - Humberto de Campos - Do livro “Boa Nova”.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
SEM MERECIMENTO
Chico Xavier
“Em nossa reunião falava-se a respeito das pessoas
consideradas sem merecimento para a execução de tarefas espirituais e a nossa
irmã de sempre, Maria Dolores, escreveu por nosso intermédio a mensagem que
intitulou “Pai Sempre”. O texto em estudo eram os itens 11 e 12 do capítulo
XXIV de O Evangelho Segundo o Espiritismo que se ajustava ao assunto, dando
motivo a edificantes comentários.”
Do livro Na Era do
Espírito. Psicografia de Francisco C. Xavier e Herculano Pires. Espíritos
Diversos
PAI SEMPRE
Maria Dolores
Alguém te disse, alma querida e boa,
Que os Espíritos Nobres
Nunca se valem de pessoa
Claramente imperfeita
Em tarefas de amor à Humanidade...
Por isso mesmo o escrúpulo te invade
E, receando a própria imperfeição,
Foges do privilégio de servir
Em que o Senhor te pede trabalhar
A fim de conquistar
O Celeste Porvir...
Reflitamos, no entanto,
Entre simples lições da Natureza:
A semente germina em lauréis de esperança,
Muita vez sob a lama asco rosa e indefesa;
A fonte não seria exemplo de bondade
Em que a vida enxameia,
Se recusasse deslizar
Sobre tratos de terra e lâminas de areia...
Olha as flores do charco
Embalsamando campos e caminhos,
A rosa não desdenha florescer
Entre punhais de espinhos...
Pensa ainda conosco
Nas fraquezas e lágrimas que levas.
O Sol seria o Sol
Se fugisse das trevas?
Esquece pessimismo, acusação, censura,
Nada te desanime, ergue-te e vem...
Conquanto enferma e rude, mesmo assim,
Se te encontras na sombra, avança para a luz,
Sem desertar, porém, de servir com Jesus!
Vem cooperar no amor que devemos ao mundo
E entenderás, por fim,
Que só se vence o mal pelo serviço ao Bem
E que a bênção de Deus jamais nos desampara
Nem despreza a ninguém.
Do livro Na Era do Espírito. Psicografia de Francisco C.
Xavier e Herculano Pires. Espíritos Diversos
O DOENTE E O
REMÉDIO
Irmão Saulo
Quando os fariseus censuraram Jesus por sentar-se à mesa
com publicanos e pecadores, Ele respondeu: “O sãos não precisam de médico, mas
sim os enfermos”. Essa é a lição evangélica tratada nos itens 11 e 12 do
capítulo XXIV de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Como vemos, os temas de
estudo nas reuniões públicas com Chico Xavier sempre concordam com os problemas
principais que os visitantes de várias cidades vão lá discutir. Os livros são
abertos ao acaso, de maneira que essa constância no acerto dos temas basta para
provar a ação dos Espíritos no desenrolar dos trabalhos.
As atividades espíritas são o meio certo para a cura dos
doentes da alma. A terapêutica ocupacional, que é a cura por meio do trabalho,
muito antes de ser descoberta pela Medicina era empregada no Cristianismo
primitivo. Todos os que lutaram pela implantação do Cristianismo encaminharam
os fracos, os doentes, os viciosos à cura através da execução de tarefas na
seara. Há um princípio pedagógico segundo a qual só se aprende fazendo. Como
aprender as lições da elevação espiritual sem praticá-las? A aptidão para o bem
se adquire na prática do bem.
As pessoas consideradas sem merecimento para a execução
de tarefas espirituais são as que mais necessitam de executá-las. Porque o
merecimento vem precisamente do esforço e da dedicação. Comentando que a
mediunidade e concedida sem distinção, sem escolha, Kardec lembra que ela é dada
“aos virtuosos para os fortalecer no bem e aos viciosos para os corrigir”. E
acrescenta: “Estes últimos são Os doentes Que precisam de médico”.
Maria Dolores, nas suas comparações poéticas, mostra-nos
o mesmo princípio ao afirmar: “... só se vence o mal pelo serviço ao bem”. Se o
serviço do bem é o remédio para o mal, como curar o doente que se recusa a
tomar o remédio? As pessoas que se sentem inúteis porque se reconhecem cheias
de imperfeições e defeitos deviam lembrar-se de que Jesus não procurou anjos nem
sábios para o serviço do Evangelho, mas homens rudes e imperfeitos que se
aprimoraram na execução de tarefas do seu ministério.
Do livro Na Era do Espírito. Psicografia de Francisco C.
Xavier e Herculano Pires. Espíritos Diversos
O BANQUETE DOS PUBLICANOS
“E os fariseus,
vendo isto, disseram aos seus discípulos: Por que come o vosso Mestre com os
publicanos e pecadores?” — (MATEUS, capítulo 9, versículo 11.)
De maneira geral, a comunidade cristã, em seus diversos
setores, ainda não percebeu toda a significação do banquete do Mestre, entre
publicanos e pecadores.
Não só a última ceia com os discípulos mais íntimos se
revestiu de singular importância. Nessa reunião de Jerusalém, ocorrida na
Páscoa, revela-nos Jesus o caráter sublime de suas relações com os amigos de
apostolado. Trata-se de ágape íntimo e familiar, solenizando despedida afetuosa
e divina lição ao mesmo tempo.
No entanto, é necessário recordar que o Mestre atendia a
esse círculo em derradeiro lugar, porquanto já se havia banqueteado
carinhosamente com os publicanos e pecadores. Partilhava a ceia com os
discípulos, num dia de alta vibração religiosa, mas comungara o júbilo
daqueles que viviam a distância da fé, reunindo-os, generoso, e conferindo-lhes
os mesmos bens nascidos de seu amor.
O banquete dos
publicanos tem especial significado na história do Cristianismo. Demonstra que
o Senhor abraça a todos os que desejem a excelência de sua alimentação
espiritual nos trabalhos de sua vinha, e que não só nas ocasiões de fé
permanece presente entre os que o amam; em qualquer tempo e situação, está
pronto a atender as almas que o buscam.
O banquete dos
pecadores foi oferecido antes da ceia aos discípulos. E não nos esqueçamos de
que a mesa divina prossegue em sublime serviço. Resta aos comensais o
aproveitamento da concessão.
Do livro Caminho
Verdade e Vida. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
ANTE O DIVINO MÉDICO
“Não são os que gozam de saúde que precisam de médico”.JESUS
- MATEUS, 9: 12.
“Jesus se acercava principalmente, dos pobres e das
deserdados, porque são os que mais necessitam de consolações; dos cegos dóceis
e de boa-fé, porque pedem se -lhes dê a vista e não dos orgulhosos que julgam
possuir toda a luz e de nada precisar. ” - Cap. 25, 12.
Milhões de nós outros, - os espíritos encarnados e
desencarnados em serviço na Terra, somos almas enfermas de muitos séculos.
Carregando débitos e inibições, contraídos em existências
passadas ou adquiridos agora, proclamamos em palavras sentidas que Jesus é o
nosso Divino Médico.
E basta ligeira reflexão para encontrar no Evangelho a
coleção de receitas articuladas por ele, com vistas à terapia da alma.
Todas as indicações do sublime formulário primam pela
segurança e concisão.
Nas perturbações do egoísmo: “faze aos outros o que
desejas que os outros te façam.
” Nas convulsões da cólera: “na paciência possuirás a ti
mesmo.”
” Nos acessos de revolta: “humilha-te e serás exaltado.”
” Na paranóia da vaidade: “não entrarás no Reino do Céu
sem a simplicidade de uma criança.”
” Na paralisia de espírito por falsa virtude “se aspiras
a ser o maior, sê no mundo o servo de todos.”
” Nos quistos mentais do ódio: “ama os teus inimigos.”
” Nos delírios da ignorância: “aprende com a verdade e a
verdade te libertará.”
” Nas dores por ofensas recebidas: “perdoa setenta vezes
sete.
” Nos desesperos provocados por alheias violências: “ora
pelos que te perseguem e caluniam.”
” Nas crises de incerteza, quanto à direção espiritual:
“se queres vir após mim, nega a ti mesmo,” toma a tua cruz e segue-me.”
” Nós, as consciências que nos reconhecemos endividadas,
regozijamo-nos com a declaração consoladora do Cristo: - “Não são os que gozam
de saúde os que precisam de m,médico.”
” Sim, somos espíritos enfermos com ficha especificada
nos gabinetes de tratamento, instalados nas Esferas Superiores, dos quais
instrutores e benfeitores da Vida Maior nos acompanham e analisam ações e
reações, mas é preciso considerar que o facultativo, mesmo sendo Nosso Senhor
Jesus Cristo, não pode salvar o doente e nem auxiliá-lo de todo, se o doente
persiste em fugir do remédio.”
Emmanuel do livro O Livro da Esperança - Psicografado por Francisco
Cândido Xavier
ENFERMOS DA ALMA
.. .Não são os que gozam saúde que precisam de médico.-
Jesus. (Mateus.9:12.)
Aqui e ali encontramos inúmeros doentes que se candidatam
ao auxílio da ciência médica, mas em toda parte, igualmente, existem aqueles
outros, portadores de moléstias da alma, para os quais há que se fazer o
socorro do espírito.
E nem sempre semelhantes necessitados são os viciados e
os malfeitores, que se definem de imediato por enfermos de ordem moral, quando
aparecem.
Vemos outros muitos para os quais é preciso descobrir o
remédio justo e, às vezes, difícil, de vez que se intoxicaram no próprio
excesso das atitudes respeitáveis em que desfiguraram os sentimentos, tais como
sejam:
os extremistas da corrigenda, tão apaixonados pelos
processos punitivos que se perturbam na dureza de coração pela ausência de
misericórdia;
os extremistas da gentileza, tão interessados em agradar
que descambam, um dia, para as deficiências da invigilância;
os extremistas da superioridade, tão agarrados à idéia de
altura pessoal que adquirem a cegueira do orgulho;
os extremistas da independência, tão ciosos da própria
emancipação que fogem ao dever, caindo nos desequilíbrios da licenciosidade;
os extremistas da poupança, tão receosos de perder alguns
centavos que acabam transformando o dinheiro, instrumento do bem e do
progresso, na paralisia da avareza em que se lhes arrasa a alegria de viver.
Há doentes do corpo e doentes da alma. .
É forçoso não esquecer isso, porque todos eles são
credores de entendimento e bondade, amparo e restauração.
Diante de quem quer que seja, em posição menos digna
perante as leis de harmonia que governam a Vida e o Universo, recordemos as
palavras do Cristo:-Não são os que gozam saúde que precisam de médico.
Emmanuel psicografia: Francisco Cândido Xavier. Do livro
Bênção de Paz
ESTUDO ÍNTIMO
“Ide, porém, e
aprendei o que significa: Misericórdia quero e não sacrifício.Porque eu não vim
a chamar justos mas os pecadores ao arrependimento.”JESUS - MATEUS, 9: 13.
“Se só aos mais dignos fosse concedida a faculdade de
comunicar com os Espíritos, quem ousaria pretendê-la?
Onde, ao demais, o limite entre a dignidade e a indignidade?
A mediunidade é conferida sem distinção, a fim de que os
Espíritos possam trazer a luz a todas as camadas, a todas as classes da
sociedade ao pobre como ao rico; aos retos para os fortificar no bem, aos
viciosos para os corrigir. ” - Cap.24, 12.
Na construção espiritual a que fomos trazidos pela
bondade do Cristo, surgem momentos ásperos, nos quais temos a impressão de
trazer fogo e fel nos escaninhos da alma.
Não mais entraves decorrentes de calúnia e perseguição,
mas sim desgosto e inconformidade a se levantarem de nós contra nós.
Insatisfação, arrependimento tardio, auto-piedade...
Em muitas ocasiões, desertamos do bem, quando se fazia
imprescindível demonstrá-lo.
Falhamos ou distraímo-nos, no momento preciso de vigiar
ou vencer.
E sentimo-nos deprimidos, arrasados...
Mesmo assim, urge não perder tempo com lamentações
improfícuas.
Claro que não nos compete descambar na
irresponsabilidade.
Mera obrigação analisar os nossos atos, examinar a
consciência, meditar, discernir...
Entretanto, é forçoso cultivar desassombro e serenidade
constantes para retificar-nos sempre, adestrando infatigável paciência até
mesmo para conosco, nas provações que nos corrijam ou humilhem, agradecendo-as
por lições.
Muitas vezes, perguntamo-nos porque teremos sido convocados
à obra do Evangelho se, por enquanto, somos portadores de numerosas fraquezas e
moléstias morais, contudo, vale considerar que assim sucede justamente por
isso, porquanto Jesus declarou francamente não ter vindo à Terra para
reabilitar os sãos.
Críticos do inundo indagarão, igualmente, que diferença
fazem para nós as teorias de cura espiritual e as diligências pela sublimação
íntima, se estamos estropiados da a’ma, tanto agora quanto ontem.
Podemos, ‘ entanto, responder, esperançosos e otimistas,
que há muita diferença, de vez que, no passado, éramos doentes insensatos,
agravand3, inconscientemente, os nossos males, enquanto que hoje conhecemos as
nossas enfermidades, tratando-as com atenção e empenhando-nos, incessantemente,
em fugir delas.
Emmanuel- do livro
O Livro da Esperança - Psicografado por Francisco Cândido Xavier
RECOMECEMOS
" Ninguém põe remendo de pano novo em vestido velho
" - Jesus. (Mateus, 9 : 16.)
Não conserves lembranças amargas.
Viste o sonho desfeito.
Escutaste a resposta de fel.
Suportaste a deserção dos que mais amas.
Fracassaste no empreendimento.
Colheste abandono.
Padeceste desilusão.
Entretanto, recomeçar é benção na Lei de Deus.
A possibilidade da espiga ressurge na sementeira.
A água, feita vapor, regressa da nuvem para a riqueza da
fonte.
Torna o calor da primavera, na primavera seguinte.
Inflama-se o horizonte, cada manhã, com o fulgor do Sol,
reformando o valor do dia.
Janeiro a Janeiro, renova-se o ano, oferecendo novo ciclo
ao trabalho.
É como se tudo estivesse a dizer : "Se quiseres,
podes recomeçar ".
Disse, porém , o Divino Amigo que ninguém aproveita
remendo novo em pano velho.
Desse modo, desfaze-te do imprestável.
Desvencilha-te do inútil.
Esquece os enganos que te assaltaram.
Deita fora as aflições improfícuas.
Recomecemos, pois, qualquer esforço com firmeza,
lembrando-nos , todavia, de que tudo volta, menos a oportunidade esquecida, que
será sempre uma perda real.
Emmanuel - Livro - Palavras de Vida eterna – Francisco C
Xavier
SOCORRE A TI MESMO
“Pregando o Evangelho do reino e curando todas as
enfermidades.” – Mateus, 9:35.
Cura a catarata e a conjuntivite, mas corrige a visão
espiritual de teus olhos.
Defende-te contra a surdez, entretanto, retifica o teu
modo de registrar as vozes e solicitações variadas que te procuram.
Medica a arritmia e a dispnéia, contudo, não entregues o
coração à impulsividade arrasadora.
Combate a neurastenia e o esgotamento, no entanto, cuida
de reajustar as emoções e tendências.
Persegue a gastralgia, mas educa teus apetites à mesa.
Melhora as condições do sangue, todavia, não o
sobrecarregues com os resíduos de prazeres inferiores.
Guerreira a hepatite, entretanto, livra o fígado dos
excessos em que te comprazes.
Remove os perigos da uremia, contudo, não sufoques os
rins com os venenos de taças brilhantes.
Desloca o reumatismo dos membros, reparando, porém, o que
fazes com teus pés, braços e mãos.
Sana os desacertos cerebrais que te ameaçam, todavia,
aprende a guardar a mente no idealismo superior e nos atos nobres.
Consagra-te à própria cura, mas não esqueças a pregação
do Reino Divino aos teus órgãos. Eles são vivos e educáveis. Sem que teu
pensamento se purifique e sem que a tua vontade comande o barco do organismo
para o bem, a intervenção dos remédios não passará de medida em trânsito para a
inutilidade.
Emmanuel - Pão
Nosso – Psicografia: Francisco Cândido Xavier
A CURA PRÓPRIA
"Pregando o Evangelho do Reino e curando todas as
enfermidades" bMATEUS, 9:35.
Cura a catarata e a conjuntivite, mas corrige a visão
espiritual de teus olhos.
Defende-te contra a surdez; entretanto retifica o teu
modo de registrar as vozes e solicitações variadas que te procuram.
Medica a arritmia e a dispnéia; contudo não entregues o
coração á impulsividade arrasadora.
Combate a neurastenia e o esgotamento; no entanto cuida
de reajustar as emoções e tendências.
Persegue a gastralgia, mas educa teus apetites á mesa.
Melhora as condições do sangue; todavia não o
sobrecarregues com os resíduos de prazeres inferiores.
Guerreia a hepatite; entretanto livra o fígado dos
excessos em que te comprazes,
Remove os perigos da uremia; contudo não sufoques os rins
com venenos de taças brilhantes.
Desloca o reumatismo dos membros, reparando, porém, o que
fazes com teus pés, braços e mãos.
Sana os desacertos cerebrais que te ameaçam; todavia
aprende a guardar a mente no idealismo superior e nos atos nobres.
Consagra-te á própria cura, mas não esqueças a pregação
do reino divino aos teus órgãos. eles são vivos e educáveis.
Sem que teu pensamento se purifique e sem que a tua
vontade comande o barco do organismo para o bem, a intervenção dos remédios
humanos não passará de medida em trânsito para a inutilidade.
Emmanuel - Livro: Segue-me. Psicografia de
Francisco Cândido Xavier
CEIFEIROS
“Então disse aos seus discípulos: a seara é realmente grande,
mas poucos os ceifeiros.”– Mateus, 9:37.
O ensinamento aqui não se refere à colheita espiritual
dos grandes períodos de renovação no tempo, mas sim à seara de consolações que
o Evangelho envolve a si mesmo.
Naquela hora permanecia em torno do Mestre a turba de
corações desalentados e errantes que, segundo a narrativa de Mateus, se
assemelhava a rebanho sem pastor. Eram fisionomias acabrunhadas e olhos
súplices em penoso abatimento.
Foi então que Jesus ergueu o símbolo da seara realmente
grande, ladeada porém de raros ceifeiros.
É que o Evangelho permanece no mundo por bendita messe
celestial destinada a enriquecer o espírito humano, entretanto, a percentagem
de criaturas dispostas ao trabalho da ceifa é muito reduzida. A maioria aguarda
o trigo beneficiado ou o pão completo para a alimentação própria. Raríssimos
são aqueles que enfrentam os temporais, o rigor do trabalho e as perigosas
surpresas que o esforço de colher reclama do trabalhador devotado e fiel.
Em razão disto, a multidão dos desesperados e desiludidos
continua passando no mundo, em fila crescente, através dos séculos.
Os abnegados operários do Cristo prosseguem onerados em
virtude de tantos famintos que cercam a seara, sem a precisa coragem de
buscarem por si o alimento da vida eterna. E esse quadro persistirá na Terra,
até que os bons consumidores aprendam a ser também bons ceifeiros.
Emmanuel - Livro: Pão Nosso. Psicografia de Francisco
Cândido Xavier.
PENSAMENTO ESPÍRITA
“... A seara é
realmente grande, mis poucos os ceifeiros.¨- JESUS - MATEUS, 9: 37.
“A justiça de Deus é como o sol! existe para todos, para
o pobre, como para o rico” - Cap. 26,4.
Se te propões colaborar no apostolado libertador do
Espiritismo, auxilia o pensamento espírita a transitar, dando-lhe passagem,
através de ti mesmo.
Prevalece-te dos títulos honrosos que o mundo te
reservou, agindo conforme as sugestões que o pensamento, espírita te oferece,
demonstrando que a ilustração acadêmica ou o mandato de autoridade são
instrumentos para benefício de todos e não recurso ao levantamento de qualquer
aristocracia da opressão pela inteligência.
Despende as possibilidades materiais, centralizadas em
tuas mãos, criando trabalho respeitável e estendendo a beneficência
confortadora e reconstrutiva, na pauta da abnegação com que o pensamento espírita
te norteia as atividades, provando que o dinheiro existe para ser disciplinado
e conduzido no bem geral e não para escravizar o espírito à loucura da ambição
desregrada.
Usa a independência digna que o pensamento espírita te
dá, por intermédio do dever reta mente cumprido, patenteando à frente dos
outros, que é possível pensar livremente, com o jugo dos preconceitos, embora
respeitando a condição dos semelhantes que ainda precisam desses mesmos
preconceitos para viver.
Mobiliza a influência de que dispões, na sociedade ou na
família, para edificar o conhecimento e garantir a consolação, segundo a
tolerância que o pensamento espírita te inspira, denotando que, diante da
Providência Divina, todos somos irmãos, com esperanças e dores, lutas e
aspirações, imperfeições e faltas, igualmente irmãs uma das outras, e que, por
isso mesmo, a confissão de fé representa instituto de aperfeiçoamento com
serviço permanente ao próximo, sem que tenhamos qualquer direito a privilégios
que recordem essa ou aquela expressão de profissionalismo religioso.
Fala e escreve, age e trabalha, quanto possível, pela
expansão do pensamento espírita, no entanto, para que o pensamento espírita
produza frutos de alegria e concórdia, renovação e esclarecimento, é necessário
vivas de acordo com as verdades que ele te ensina.
A cada minuto, surge alguém que te pede socorro para o
frio da própria alma, contudo, para que transmitas o calor do pensamento
espírita é imperioso estejas vibrando dentro dele.
Diante da sombra, não adianta ligar o fio na tomada sem
força, nem pedir luz em candeia morta.
Emmanuel do livro
O Livro da Esperança - Psicografado por Francisco Cândido Xavier
BILHETE FRATERNO
“Qualquer que vos der a beber um copo d’água em meu nome,
em verdade vos digo que não perderá o seu galardão”. JESUS, MATEUS, 9:41
MEU AMIGO, ninguém te pede a santidade dum dia para
outro.
Ninguém reclama de tua alma espetáculos de grandeza.
Todos sabemos que a jornada humana é inçada de sombras e
aflições criadas por nós mesmos.
Lembra-te, porém, de que o Céu nos pede solidariedade,
compreensão, amor...
Planta uma árvore benfeitora, à beira do caminho.
Escreve algumas frases amigas que consolem o irmão
infortunado.
Traça pequenina explicação para a ignorância.
Oferece a roupa que se fez inútil agora ao teu corpo ao
companheiro necessitado, que segue à retaguarda.
Divide, sem alarde, as sobras de teu pão com o faminto.
Sorri para os infelizes.
Dá uma prece ao agonizante.
Acende a luz de um bom pensamento para aquele que te
precedeu na longa viagem da morte.
Estende o braço à criancinha enferma.
Leva um remédio ou uma flor ao doente.
Improvisa um pouco de entusiasmo para os que trabalham
contigo.
Emite uma palavra amorosa e consoladora onde a candeia do
bem estiver apagada.
Conduze uma xícara de leite ao recém-nascido que o mundo
acolheu sem um berço enfeitado.
Concede alguns minutos de palestra reconfortante ao
colega abatido.
O rio é um conjunto de gotas preciosas.
A fraternidade é um sol composto de raios divinos,
emitidos por nossa capacidade de amar e servir.
Quantos raios libertaste hoje do astro vivo que é teu
próprio ser imortal?
Recorda o Divino mestre que teceu lições inesquecíveis,
em torno do vintém de uma viúva pobre, de uma semente de mostarda, de uma
dracma perdida...
Faze o bem que puderes.
Ninguém espera que apagues sozinho o incêndio da maldade.
Dá o teu copo de água fria.
Emmanuel - Do livro Segue-me. Psicografia de Francisco
Cândido Xavier.
SIMPLESMENTE UM
SENTIDO
"...Admira-se, por vezes, que a mediunidade seja
concedida a pessoas indignas e capazes de fazer mau uso dela..." "...
a mediunidade se prende a um disposição orgânica da qual todo homem pode estar
dotado, como a de ver, de ouvir, de falar..." (Cap. XXIV, ítem 12)
Mediunidade é uma percepção mental por meio da qual a
alma sutiliza, estimula e aguça seus sentidos, a fim de penetrar na essência
das coisas e das pessoas. É uma das formas que possuímos para sentir a vida, é
o "poder de sensibilização" para ver e ouvir melhor a excelência da
criação divina.
Faculdade comum a todos, é nosso sexto sentido, ou seja,
o sentido que capta, interpreta, organiza, percebe e sintetiza os outros cincos
sentidos conhecidos. Nossa humanidade, à medida que aprende a desenvolver suas
impressões sensoriais básicas, automaticamente desenvolve também a mediunidade,
como consequência.
Também conhecida como intuição ou inspiração, é ela que
define nossa interação com o mundo físico-espiritual. As reflexões direcionadas
para as áreas morais e intelectuais são muito importantes, pois abrem contatos
com o "perceber" ou com o "captar", o que nos permite ouvir
amplamente as "sonoridades espirituais" que existem nas faixas
etéreas, das diversas dimensões invisíveis do Universo.
Por outro lado, a mediunidade nunca deverá ser vista como
"láurea" ou "corretivo", mas unicamente como "receptor
sensório" - produto do processo de desenvolvimento da natureza humana.
Foram imensos os tempos da ignorância, em que a ela
atribuíam o epíteto de "dádiva dos deuses" ou "barganha
demoníaca"; na atualidade, porém, está cada vez mais sendo vista com maior
naturalidade, como um fenômeno espontâneo ligado a predisposições orgânicas dos
indivíduos.
Ver, todos nós vemos, a não ser que tenhamos obstrução
dos órgãos visuais; já as formas de ver são peculiares a cada sensitivo.
Escutar é fenômeno comum; no entanto, a capacidade de ouvir além das aparências
das coisas e das palavras articuladas é fator de lucidez para quem já
desenvolveu "auscultar" das profundezas do espírito.
Além do mais, a facilidade de comunicação com outras
dimensões espirituais não é dada somente aos chamados "agraciados" ou
"dignos", conforme nossa estreita maneira de ver. Como a Natureza
Divina tem uma visão igualitária, concedendo a seus filhos, sem distinção, as
mesmas oportunidades de progresso, é autêntica a sábia assertiva: "Deus
não quer a morte do ímpio", mas que ele cresça e amadureça dispondo da
multiplicidade das faculdades comuns a todos, herança divina do Criador para
suas criaturas.
Por isso, encontramo-la nos mais diferentes patamares
evolutivos, das classes sociais e intelectivas mais diferenciadas até as mais
variadas nacionalidades e credos religiosos. Embora com denominações
diferentes, a mediunidade sempre esteve presente entre as criaturas humanas desde
a mais remota primitividade.
A propósito, não precisamos ter a preocupação de
"desenvolver mediunidade", porque ela, por si só, se desenvolverá. E'
imprescindível, entretanto, aperfeiçoá-la e esmerá-la quando ela se manifestar
espontaneamente. Nunca forçá-la "acontecer", porque, ao invés de
deixarmos transcorrer o processo natural, nós iremos simplesmente "fazer
força", ou melhor, "agir improdutivamente".
Em vista disso, treinamentos desgastantes para despertar
em nós "dons naturais" é incoerente. Saber esperar o amadurecimento
dos órgãos infantis é o que nos possibilitou ver, falar, andar, ouvir, sentir,
saborear ou preferir. Por que então a mediunidade, considerada uma aptidão
ontogenética do organismo humano, necessitaria de tantas implicações e imposições
para atingir a plenitude?
Aprofundando nossas apreciações neste estudo,
encontramos, no "dia de Pentecostes", uma das maiores afirmações de
que são espontâneas as manifestações mediúnicas e de que é natural seu
despertar junto aos homens, quando foram desenvolvidas repentinamente as
possibilidades psicofònicas dos apóstolos ao pousar "línguas de
fogo", isto é, "mentes iluminadas" sobre suas cabeças, sem que
eles esperassem ou invocassem o fenômeno.
A sensibilização progressiva da humanidade é uma
realidade. Ela se processa, nos tempos atuais, de maneira indiscutível, pois,
em verdade, "o Espírito é derramado sobre toda a carne", tornando os
efeitos espirituais cada vez mais eloquentes, incontestáveis e generalizados.
Livro: Renovando Atitudes - Hammed – Francisco do
Espírito Santo Neto
O AMADURECIMENTO
EMOCIONAL DOS MÉDIUNS
"A mediunidade não implica necessariamente relações
habituais com os Espíritos superiores. E' apenas uma aptidão para servir de
instrumento mais ou menos dúctil aos Espíritos, em geral. O bom médium, pois,
não é aquele que comunica facilmente, mas aquele que é simpático aos bons
Espíritos e somente deles tem assistência. Unicamente neste sentido é que a
excelência das qualidades morais se torna onipotente sobre a
mediunidade."O evangelho segundo o espiritismo, capítulo 24, item 12.
O aeroporto estava repleto. Alexandre, médium e
palestrante, esperava um voo que o levaria a uma cidade do Sul do país para uma
apresentação.
Em dado momento, em meio a tanta agitação externa, ele
foi sendo tomado por um nível acentuado de concentração, fechou os olhos e foi
se abstraindo do ambiente até que ouviu uma voz rouca dizendo:
— Essa moça com vestes amarelas à sua frente é minha
sobrinha. Meu nome é Humberto e queria lhe dizer algumas palavras. Será que
posso contar com você?
Alexandre, que já estava em estado de transe profundo,
abriu os olhos, procurou e viu a moça de seus quinze anos aproximadamente, que
trazia um olhar triste e introspectivo. Fechando os olhos novamente, ele dirigiu-se
ao espírito dizendo:
— Posso saber do que se trata, Humberto?
— Essa moça foi tremendamente prejudicada por mim. Eu me
suicidei há quatro meses, depois de usar de forma indevida as economias de uma
herança que pertencia a ela até chegar à falência. Não suportei a culpa e os
desastres materiais. Deixei minha esposa, dois filhos e ela com problemas
graves para resolver. Diante de tantas perdas, ela está pensando em tomar a
mesma atitude e vir ao meu encontro. Quer suicidar-se.
Você a enganou?
Não, não se trata disso. Diante da morte de meu irmão, e
ela sendo menor de idade, fui nomeado como seu tutor e, portanto, administrador
de seus bens. Não fiz nada com más intenções, mas, agindo com imprevidência,
qual criança inexperiente, me embaracei com o usufruto da fortuna deixada pelo
pai dela. Administrei mal, fui perdendo dinheiro, envolvendo-me com ganhos
ilícitos e acabei mal.
0 que você gostaria de dizer a ela?
Ela se chama Sara. Apenas escreva essa pequena frase em
um papel: "A vida sempre tem caminhos que desconhecemos, e Deus jamais
deixará de nos apresentar aquele que será o melhor para nós." Era um
mantra que ensinei a ela e por várias vezes nós o repetimos em nossas conversas
no lar. Chegamos a pintar juntos essa frase em uma pequena tábua, que hoje se
encontra na sala de minha casa, a pedido dela. Depois de ler, por caridade diga
a ela que infelizmente o caminho que escolhi não é um desses caminhos de Deus.
— Só isso?
— Agradeço. Não posso dizer mais nada segundo o senhor
que me trouxe até aqui.
— Posso saber quem lhe trouxe?
— O nome dele é Cornélius.
Alexandre rogou ajuda espiritual e não vacilou. Sentindo
um pouco de mal estar devido à aproximação daquele espírito ainda tão enfermo,
resolveu verificar o que podia ser feito. Por acaso, havia um lugar vago ao
lado de Sara que parecia destinado ao médium, considerando a aglomeração
naquele local. Em clima de profunda convicção e ligando seu coração com a fé,
chegou perto da moça e disse:
— Seu nome é Sara?
— Sim. Você me conhece?
— Não, Sara, não conheço. Eu peço sua licença para lhe
relatar um fato, com todo respeito. Não peço que acredite, apenas que me ouça,
pode ser?
— Sobre o quê?
— Eu sou médium e percebi que você perdeu uma pessoa
querida recentemente, não foi?
— Sim, meu tio. Mas já tem quatro meses. Por quê?
-perguntou curiosa.
— Eu o percebi aqui no aeroporto e ele lhe mandou essa
frase por escrito. Faz algum sentido para você?
Alexandre apresentou a frase escrita às pressas em um
pedaço de papel. A moça leu a frase e seus olhos se encheram de lágrimas.
Passado algum tempo, perguntou:
— Ele está aqui? Quem é você?
— Meu nome é Alexandre. Seu tio esteve comigo há alguns
minutos e já se foi para o além. Ele pediu o favor de lhe enviar essa frase e
que eu afirmasse para você que o caminho que ele escolheu não é um desses
caminhos de Deus que o mantra de vocês indica.
Repitamos um trecho da frase de apoio anterior:
"Unicamente neste sentido é que a excelência das qualidades morais se
torna onipotente sobre a mediunidade.".
Não é a mediunidade que qualifica o médium, e sim suas qualidades
morais e emocionais.
Os médiuns com Jesus são chamados a todo instante para o
serviço do bem incondicional. Não há lugar, não há hora, não há circunstância
na qual esse bem não possa ser feito. Uma singela oração em qualquer instante
ou ambiente é um facho de luz abrindo frestas para que a bondade celeste
penetre espalhando bênçãos.
Com relação à disponibilidade de servir junto aos amigos
espirituais, Allan Kardec nos diz:
"Acrescentemos, todavia, que, se bem os Espíritos
prefiram a regularidade, os de ordem verdadeiramente superior não se mostram
meticulosos a esse extremo. [...] Mesmo fora das horas predeterminadas, podem
eles, sem dúvida, comparecer e se apresentam de boa vontade, se é útil o fim
objetivado."11 O livro dos médiuns, capítulo 29, item 333.
Os chamados do mundo espiritual para fins úteis obedecem
a uma lógica distinta à dos homens que se encontram reencarnados. Os médiuns
afeiçoados ao serviço iluminativo com Jesus, conscientes dessa verdade, se
propõem a apresentar as condições morais que lhes permitam ser canais de paz e
orientação, amor e consolo.
O desejo de servir, sem dúvida, é a qualidade moral
indispensável a essa realização superior nas lições sagradas da mediunidade. E
o desejo de servir consiste em ter o coração aberto à dor e às necessidades,
facultando, por efeito, o estado de disponibilidade psíquica, que podemos
comparar à antena emissora e receptora possibilitando ao médium uma contínua
interação com o mundo astral que o rodeia.
Nos Atos dos Apóstolos, capítulo nove, versículo dez,
encontramos esse exemplo de prontidão em Ananias ao dizer: "E havia em
Damasco um certo discípulo chamado Ananias; e disse-lhe o Senhor em visão:
Ananias! E ele respondeu: Eis-me aqui, Senhor."
"Eis-me aqui, Senhor" é a disponibilidade para
ser útil. Médiuns em estado íntimo de quietude interior oferecem esse solo
mental fértil sobre o qual são plantadas as sementes enriquecedoras que
multiplicarão os frutos dos planos superiores. Sem quietude não existe
disponibilidade mental, sem disponibilidade mental, não existe sintonia, e sem
sintonia, não há plantação mediúnica.
Essa quietude na vida mental é o resultado do
amadurecimento psíquico e emocional dos medianeiros. Ela não pode ser atingida
apenas com conhecimento e atividade doutrinária, mas, à medida que o servidor
da mediunidade avança na solução de suas lutas interiores, adquirindo a
habilidade de manter seu foco espiritual na luz, da qual todos somos portadores
como filhos de Deus, seu poder de percepção e sua força de atuação na vida que
o rodeia se dilatam, sem lhe causar danos ou alterações prejudiciais.
A exemplo do samaritano narrado na parábola evangélica,
ele, o médium, desce a estrada de Jerusalém para Jericó sem ser assaltado por
suas próprias mazelas. Desce, como diz o texto, "em viagem", com
propósitos definidos de voltar ao seu lugar de origem, Jerusalém, que
representa a cidade dos valores nobres, ao contrário de Jericó, a cidade do
comércio e dos bens perecíveis. 0 samaritano foi em viagem, enquanto o homem
assaltado, o Levita, e também o Sacerdote "desciam", ou seja, perdiam
sua condição interior na derrapada para os interesses sombrios.
Para que os médiuns consigam essa condição de descida
"em viagem", com propósitos elevados e sincronizados com as esferas
da luz e da libertação, torna-se indispensável os cuidados com sua jornada de
amadurecimento emocional. Esta pode ser resumida em três etapas distintas e que
se integram entre si formando o estado interior de quietude:
1 – auto conhecimento,
2 - auto-transformação e
3 – auto amor.
Pelo autoconhecimento, o médium descobre e examina o mapa
de suas sombras interiores e da sua luz ofuscada à espera de uma abertura para
irradiar paz, cura e libertação.
Pela autotransformação, o médium se aplica a explorar o
território de seu próprio aprimoramento, escalando novos hábitos, desbravando
os terrenos da riqueza emocional e aplainando novas conquistas na direção de
sua consciência.
Pelo autoamor, o médium encontra-se consigo próprio, preenchendo-se
de estima, alegria, entusiasmo e discernimento, o que lhe permite um novo olhar
sobre a vida e sobre as pessoas que o rodeiam seja onde for.
Livro: Emoções que Curam – Ermance Dufaux – Wanderley S.
Oliveira
VISITA AO PRESÍDIO
Francisco C. Xavier
A convite do Núcleo Espírita Semeador do Evangelho,
estivemos em visita fraternal aos companheiros reeducandos da Penitenciária do
Estado de São Paulo, no dia 27 últimos*. A reunião constou de preces e
comentários doutrinários.
Ao termino dos trabalhos, nossa irmã e benfeitora
espiritual Maria Dolores escreveu o poema Sublimação.
*27 de dezembro de
1975 – Nota da Editora.
Do livro Amanhece.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
SUBLIMAÇÃO
Maria Dolores
Não te digas sem paz, sem esperança...
Nem afirmes que o mundo é triste e vão...
A existência na Terra é ascensão incontida
E a própria Natureza é um hino à luz da vida,
Promovendo alegria e elevação.
Olha a foice cortando o mato inculto...
Depois, rasga-se a gleba, a golpes de trator.
Logo após, eis o exílio da semente ;
Depois ainda, é o quadro viridente
Do solo aprimorado a esmaltar-se de flor.
A dinamite explode, a pleno campo,
Estremece a pedreira a gritar, a rugir...
Desunem-se calhaus, fugindo, salto em salto.
Surge, porém, depois, o caminho de asfalto,
Apontando a beleza e o fulgor do porvir.
Cai o tronco a gemer no próprio berço,
Parecendo um gigante a protestar;
Em seguida, levado ao corte em que se apura,
Faz-se viga, portal, segurança e 'estrutura,
Oferecendo à vida
a proteção do lar.
O trigo baila ao sol, em cachos de ouro,
Alteando o valor do solo que o bendiz,
Mas vem o segador que o deixa em queda e chaga...
Depois, ei-lo na mesa... É o pão em que se apaga
Para que a refeição seja farta e feliz.
Assim também, alma querida e boa,
Sofrimento é poder renovador...
Sacrifício, aflição, angústia, disciplina
São Processos de Deus com que Deus nos ensina
A conquista da Luz e a construção do Amor.
Do livro Amanhece. Psicografia de Francisco Cândido
Xavier.
IMPERFEIÇÃO E SERVIÇO
Francisco Cândido Xavier
Nossa reunião para os deveres da assistência foi
precedida de comentários sobre os problemas da imperfeição humana em relação ao
serviço espiritual. Explanávamos sobre erros e lutas, esforços e fracassos em
nossos caminhos de tarefeiros da Doutrina Espírita, quando fomos convidados aos
estudos e preces programados.
O Evangelho Segundo o Espiritismo nos trouxe a exame o
item 12 do capítulo XXIV. E após a preleção, com a cooperação dos amigos
presentes, foi o nosso Cornélio Pires, o mensageiro espiritual que nas deu a
página da noite. Trata-se de resposta a jovem consulente que lhe pedia, em
carta, alguma a diretriz sobre o seu ingresso em tarefa espírita cristã.
Livro: Caminhos de Volta - Psicografia: Francisco C.
Xavier - Espíritos diversos
SERIA PIOR
Cornélio Pires
Diz você, Maria Clara,
Que receia compromisso.
Teme abraçar o Evangelho
E ser errada em serviço.
“Que fazer, Cornélio amigo?”
– Diz você, humildemente.
“Humana assim tal qual sou,
Não posso ser diferente.”
Se cooperar com Jesus,
Realmente fosse assim,
Neste caso já não sei
O que seria de mim.
Posso afirmar-lhe, no entanto,
Se a minha visão não erra:
Jesus estando entre nós
Veio amparar-nos na Terra.
Veio acolher as criaturas.
E, procurando entendê-las,
Não nos consta houvesse andado
Num carro feito de estrelas.
Tarefa somente aos sábios?
Não admita esta história...
O Céu não traça exigência
De grandeza obrigatória.
Observe as gradações
Em que a planta se mantém:
Semente, ramos e flores...
Depois é que o fruto vem.
Todo serviço, que implique
Em luz espiritual,
Reclama que se comece
Fugindo à força do mal
Quem foge ao mal acha o bem.
O bem reforma a pessoa.
Quem permanece em serviço
O serviço aperfeiçoa.
Decerto temos irmãos
Além de nódoas e crises;
São eles os companheiros
Melhores e mais felizes.
Entretanto, esses mentores,
Em extensa maioria,
Passaram na provação
Que hoje nos desafia.
Eles, porém, ante os Céus,
Não se elevaram em vão;
São agora os Benfeitores
Que nos estendem a mão.
Trabalhe, não esmoreça.
Trabalho é a nossa oficina;
Oficina de progresso
Na paz da Bênção Divina.
Quanto a mim, prosseguirei,
Por servo errado e menor...
Se com trabalho estou fraco,
Sem ele estarei pior.
Livro: Caminhos de Volta - Psicografia: Francisco C.
Xavier - Espíritos diversos
A MENSAGEM DA
COMPAIXÃO
Dentro da noite clara, a assembléia familiar em casa de
Pedro centralizara-se no exame das dificuldades no trato com as pessoas.
Como estender os valores da Boa Nova? Como instalar o
mesmo dom e a mesma bênção em mentalidades diversas entre si? Findo o longo
debate fraternal, em que Jesus se mantivera em pesado silêncio, João perguntou-
lhe, preocupado:
— Senhor, que fazer diante da calúnia que nos dilacera o
coração? — Tem piedade do caluniador e trabalha no bem de todos — respondeu o
Celeste Mentor, sorrindo —, porque o amor desfaz as trevas do mal e o serviço
destrói a idéia desrespeitosa.
— Mestre — ajuntou Tiago, filho de Zebedeu —, e como agir
perante aquele que nos ataca, brutalmente? — Um homem que se conduz pela
violência — acentuou o Cristo, bondoso —, deve estar louco ou envenenado.
Auxiliemo-lo a refazer-se.
— Senhor — aduziu Judas, mostrando os olhos esfogueados
—, e quando o homem que nos ofende se reveste de autoridade respeitável, qual
seja a dum príncipe ou dum sacerdote, com todas as aparências do ordenador
consciente e normal?
— A serpente pode ocultar-se num ramo de flores e há
vermes que se habituam nos frutos de bela apresentação.
O homem de elevada categoria que se revele violento e
cruel é enfermo, ainda assim.
Compadece-te dele, porque dorme num pesadelo de escuras
ilusões, do qual será constrangido a despertar, um dia.
Ampara-o como puderes e marcha em teu caminho, agindo na
felicidade comum.
— Mestre, e quando a nossa casa é atormentada por um
crime? Como procederei diante daquele que me atraiçoa a confiança, que me
desonra o nome ou me ensangüenta o lar?
— Apiada-te do delinqüente de qualquer classe — elucidou
Jesus — e não desejes violar a Lei que o próximo desrespeitou, porque o
perseguidor e o criminoso de todas as situações carrega consigo abrasadora
fogueira.
Uma falta não resgata outra falta e o sangue não lava
sangue.
Perdoa e ajuda.
O tempo está encarregado de retribuir a cada criatura, de
acordo com o seu esforço.
— Mestre — atalhou Bartolomeu —, que fazer do juiz que
nos condena com parcialidade? — Tem compaixão dele e continua cooperando no bem
de todos os que te cercam.
Há sempre um juiz mais alto, analisando aqueles que
censuram ou amaldiçoam e, além de um horizonte, outros horizontes se desdobram,
mais dilatados e luminosos.
— Senhor — indagou Tadeu —, como proceder diante da
mulher que amamos, quando se entrega às quedas morais?
— Jesus fitou-o com brandura, e inquiriu, por sua vez: —
Os sofrimentos íntimos que a dilaceram, dia e noite, não constituirão, por si
só, aflitiva punição? Fez-se balsâmico silêncio no círculo doméstico e, logo ao
perceber que os aprendizes haviam cessado as interrogações, o Senhor concluiu:
— Se pretendemos banir os males do mundo, cultivemos o amor que se compadece no
serviço que constrói para a felicidade de todos.
Ninguém se engane.
As horas são inflexíveis instrumentos da Lei que
distribui a cada um, segundo as suas obras.
Ninguém procure sanar um crime, praticando outros crimes,
porque o tempo tudo transforma na Terra, operando com as labaredas do
sofrimento ou com o gelo da morte.
Neio Lúcio - Do Livro Jesus no Lar - Francisco C. Xavier
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