1 – Bem-aventurados os que choram, porque serão
consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão
fartos. Bem-aventurados os que padecem perseguição por amor da justiça, porque
deles é o Reino dos Céus. (Mateus, V: 5, 6 e 10).
2 – Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o
Reino de Deus. Bem-aventurados os que agora tendes fome, porque sereis fartos.
Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque rireis. (Lucas, VI: 20 e 21)
Mas ai de vós, ricos, porque tendes no fundo a vossa
consolação. Ai de vós, os que estais fartos, porque tereis fome. Ai de vós, os
que agora rides, porque gemereis e chorareis. (Lucas, VI: 24 e 25).
TEXTOS DE APOIO
AFLITOS, BEM...
AVENTURADOS
Provavelmente, no cotidiano, terás encontrado companheiros que te
pareceram marginalizados perante a estrada justa;
os que se
supunham demasiados virtuosos para sobrestar as paixões humanas, a escarnecerem
os fracos, e caíram nelas, à feição de pássaros engodados pela merenda na
armadilha que os recolheu;
os que
censuravam erros do próximo, na base da ignorância, e se arrojaram depois nos
despenhadeiros de enganos piores;
os que
empreenderam jornadas redentoras, colocando-te pesada carga nos ombros,
afastando-se das obrigações que prometeram honrar;
e quantos
outros que ainda, incapazes de vencer a própria insegurança, desceram de
eminências do serviço espiritual para aventuras turbulentas, chegando até mesmo
a negação da fé que afirmavam acalentar.
Diante de
todos eles, os que desconsideraram os outros, colhendo por fim a
desconsideração alheia, à face das situações complexas em que intimamente se
reconhecem prejudicados e infelizes, recorda as dificuldades da própria
sustentação espiritual; e examinando as provações e empeços de quem deseja
acatar as responsabilidades próprias, endereça a todos os amigos, talvez em
lutas mais graves que as tuas, os teus melhores pensamentos de paz e bom ânimo,
a fim de que se restaurem.
Espíritos
egressos de experiências vinagrosas em existências outras que o tempo arquivou
para balanço oportuno, todos ainda carregamos na próprias tendências o risco de
retorno a quedas passadas, reclamando a bondade e a tolerância dos outros, de
modo a demandarmos os caminhos da frente.
Partilhando a jornada humana, compreendamos que os companheiros
julgados caídos estão desafiados por obstáculos e crises difíceis de
atravessar.
E, ao
invés de agravar-lhes os problemas, que amanhã talvez se façam nossos, saibamos
ofertar-lhes a bênção da prece quando de todo não lhes possamos estender os
braços, lembrando o Divino Amigo quando asseverou, convincente:
-“Em
verdade não vim ao mundo para curar os sãos.”
Emmanuel - Do livro Nascer e Renascer - Psicografia de Francisco Cândido Xavier
ESTÁS AFLITO?
Está alguém entre vós aflito? Ore. TIAGO, 5:13.
A maioria das pessoas inquietas pede alívio,
apressadamente, como se a consolação real fosse obra de improviso, a impor-se
de fora para dentro.
Se tens fé, meu amigo, aprende a orar nas situações
difíceis. Toda aflição tem uma causa, não é preciso, porém, que o médico ou o
sacerdote venha indicá-la ao teus olhos.
Geralmente, nossas angústias se radicam em nossa própria
leviandade no trato com a vida, quando não procede de reprováveis deslizes nas
inexistências anteriores. Se o erro é de hoje, reparemo-lo, enquanto respiramos
no caminho daqueles que ofendemos; se as sombras chegam de ontem, demostremos
coragem e valor moral, desfazendo-as, através do trabalho perseverante no bem.
Se a inquietação te bate à porta, busca a prece e medita.
Amigos espirituais, benfeitores da tua paz íntima, acudirão em teu socorro,
inspirando-te o roteiro a seguir, com palavras consoladoras e reconstrutivas,
em forma de pensamentos santificantes.
Humilhaste alguém? Solicita desculpas e corrige o erro
impensado.
Credores atormentam-te? Habitua-te a comer e vestir, de
acordo com as tuas possibilidades e paga os teus débitos com paciência.
O desânimo absorve-te o coração? Lembra-te de que o tédio
é um insulto à fraternidade humana, porque a dor e a necessidade, a tristeza e
a doença, a pobreza e a morte não se acham longe de tí.
Há muito trabalho por fazer, além dos teus muros felizes.
Ajusta-te ao ideal de servir por amor, sem espírito de recompensa e as tuas
horas estarão repletas de abençoado serviço aos semelhantes. De qualquer modo,
nas aflições, não atires a tua cruz sobre os companheiros de tarefa. Ora, com
serenidade, examina-te à claridade da verdadeira justiça e busca solucionar os
problemas que te inquietam, usando os recursos divinos que o Senhor confiou a
tí mesmo.
Emmanuel - Francisco Cândido Xavier por Espíritos
Diversos. in: Nosso Livro
BEM AVENTURADOS
Bem-aventurados os aflitos
Que, chorando – não se desanimam,
Que, ofendidos – não revidam,
Que, esquecidos pelos outros – não olvidam os deveres que
lhes são próprios,
Que, dilacerados – não ferem,
Que, caluniados – não caluniam,
Que, desamparados – não desamparam,
Que, acoitados – não praguejam,
Que, injustiçados – não se justificam,
Que, traídos – não atraiçoam,
Que, perseguidos – não perseguem,
Que, desprezados – não desprezam,
Que, ridicularizados – não ironizam,
Que, sofrendo – não fazem sofrer...
Até agora, raros aflitos da Terra conseguiram merecer as
bem-aventuranças do Céu, porque, realmente, com amor puro somente o Grande
Aflito da Cruz se entregou ao sacrifício total pelos próprios verdugos, rogando
perdão para a ignorância deles e voltando das trevas do túmulo para socorrer e
salvar, com sua ressurreição e com o seu devotamento, a Humanidade inteira.
André Luiz -Do Livro Através do Tempo de Francisco Cândido
Xavier -
AFLIÇÕES
E' inegável que em vosso aprendizado terrestre
atravessareis dias de inverno ríspido, em que será indispensável recorrer as
provisões armazenadas no íntimo, nas colheitas dos dias de equilíbrio e
abundância.
Contemplareis o mundo, na desilusão de amigos muito
amados, como templo em ruínas, sob os embates de tormenta cruel.
As esperanças feneceram distantes, os sonhos permanecem
pisados pelos ingratos. Os afeiçoados desapareceram, uns pela indiferença,
outros porque preferiram a integração no quando dos interesses fugitivos do
plano material.
Quando surgir um dia assim em vossos horizontes,
compelindo-vos à inquietação e à amargura, certo não vos será' proibido chorar.
Entretanto, é necessário não esquecerdes a divina companhia do Senhor Jesus.
Supondes, acaso, que o Mestre dos Mestres habita uma
esfera inacessível ao pensamento dos homens? Julgais, porventura, não receba o
Salvador ingratidões e apodos, por parte das criaturas humanas, diariamente?
Antes de conhecermos o alheio mal que nos aflige, Ele conhecia o nosso e sofria
pelos nossos erros.
Não olvidemos, portanto, que, nas aflições, é
imprescindível tomar-lhe a sublime companhia e prosseguir avante com a sua
serenidade e seu bom animo.
Emmanuel - Psicografado por Francisco C. Xavier, no livro
Caminho, Verdade e Vida
ELES VIVERÃO
Onze anos após a
crucificação do Mestre, Tiago, o pregador, filho de Zebedeu, foi violentamente
arrebatado por esbirros do Sinédrio, em Jerusalém, a fim de responder a processo
infamante.
Arrancado ao pouso simples, depois de ordem sumária, ei-lo
posto em algemas, sob o sol causticante.
Avançando ao pé do grande templo, na mesma praga enorme
em que Estevão achara o extremo sacrifício, imensa multidão entrava-lhe a
jornada.
Tiago, brando e mudo, padece, escarnecido. Declaram-no embusteiro,
malfeitor e ladrão. Há quem lhe cuspa no rosto e lhe estraçalhe a veste.
– “A morte! à morte!...”
Centenas de vazes gritam inesperada condenação, e Pedro,
que de longe o segue, estarrecido, fita o irmão desditoso, a entregar-se
humilhado.
O antigo pescador e aprendiz de Jesus é atado a grande
poste e, ali mesmo, sob a alegação de que Herodes lhe decretara a pena,
legionários do povo passam-no pela espada, enquanto a turba estranha lhe
apedreja os despojos.
Simão chora, sozinho, ao contemplar-lhe os restos,
voltando, logo após, para o seu humilde refúgio.
Depois de algumas horas, veio a noite envolvente
acalentar-lhe o pranto.
De rústica janela, o condutor da casa inquire o céu imenso,
orando com fervor.
Porque a tempestade? porque a infâmia soez?
O pobre amigo morto era justo e leal...
Incapaz de banir a ideia de vingança, Pedro lembra os
algozes em revolta suprema.
Como desejaria ouvir o Mestre agora!... que diria Jesus
do terrível sucesso?!...
Neste instante, levanta os olhos lacrimosos, e observa
que o Cristo lhe surge, doce, à frente.
É o mesmo companheiro de semblante divino.
Ajoelha-se Pedro e grita-lhe:
– Senhor! somos todos contados entre os vermes do mundo!...
porque tanta miséria a desfazer-se em lama? Nosso nome é pisado e o nosso sangue
verte em homicídio impune... A calúnia feroz espia-nos o passo...
E talvez porque o mísero soluçasse de angústia, o Mestre
aproximou-se e disse com carinho, a afagar-lhe os cabelos :
– Esqueceste, Simão? Quem quiser vir a mim carregue a
própria cruz...
– Senhor! – retrucou, em lágrimas, o apóstolo abatido – não
renego o madeiro, mas clamo contra os maus... Que fazer de Joreb, o falsário
infeliz, que mentiu sobre nós, de modo a enriquecer-se? que castigo terá esse
inimigo atroz da verdade divina?
E Jesus respondeu, sereno, como outrora :
– Jamais amaldiçoes... Joreb vai viver...
– E Amenab, Senhor? que punição a dele, se armou escuro
laço, tramando-nos a perda?
– Esqueçamo-la em prece, porque o pobre Amenab vai viver
igualmente...
E Joachib Ben Mad? não foi ele, talvez, o inspirador do
crime? o carrasco sem fé que a todos atraiçoa? Com que horrenda aflição pagará
seus delitos?
– Foge de condenar, Joachim vai viver...
– E Amós, o falso Amós, que ganhou por vender-nos?
– Olvidemos Amós, porque Amós vai viver...
– E Herodes, o rei vil, que nos condena a morte, fingindo
ignorar que servimos a Deus?
Mas Jesus, sem turvar os olhos generosos, explicou
simplesmente :
– Repito-te, outra vez, que quem fere, ante a lei será
também ferido...
A quem pratica o mal, chega o horror do remorso... E o
remorso voraz possui bastante fel para amargar a vida...
Nunca te vingues, Pedro, porque os maus viverão e basta-lhes
viver para se alçarem à dor da sentença cruel que lavram contra eles mesmos...
Simão baixou a face banhada de pranto, mas ergueu-a em
seguida, para nova indagação...
O Senhor, entretanto, já não mais ali estava. Na laje do
chão só havia o silêncio que o luar renascente adornava de luz...
Livro: Contos Desta E De Outra
Vida – Humberto De Campos – Irmão X
NÃO TE
AFLIJAS
Não te
aflijas, diante do quadro de lutas que te arrebata ao torvelinho das
inevitáveis, porque a inquietação destrutiva nada constrói em benefícios dos
semelhantes.
Por
ocasião do incêndio, não é a precipitação que salva ou retifica e nem
apagaremos o fogo crepitante, atirando-lhe combustível.
De
qualquer modo, numa esfera de ação, qual a terrena, em que os bons sentimentos
são luzes vacilantes e obras incompletas, seremos defrontados, diariamente,
pelos raios mortíferos da desarmonia, da cólera, da intemperança e da
crueldade; entretanto, a fim de que nos convertamos em recursos vivos de
educação para os elementos que nos rodeiam, é imprescindível o aprendizado da
serenidade e do silêncio, de modo a reajustarmos, com calma, as inseguras
edificações humanas que a tempestade prejudicou.
Ante a convulsão do verbo desvairado, cala-te
e espera.
Ante a
violência arrasadora, emudece-te e aguarda a passagem das horas.
Ante o
movimento inesperado das intenções menos dignas ou do ataque indébito, cala-te
ainda e conta com o tempo.
Se
aproveitas a dificuldade e a dor, a sombra e a deficiência, por valiosas
oportunidades de auxiliar os teus irmãos, encontrarás no desdobramento de tua
cooperação a resposta a todos os problemas que te atormentam a alma.
Quando
Jesus proclamou a bem aventurança aos aflitos, não se reportava aos espíritos
insubordinados e impacientes, que elegem o desespero e a indisciplina por
normas regulares de reação; referia-se, antes de tudo, aos que se acham aflitos
por auxiliarem o engrandecimento coletivo, por se converterem realmente à luz
eterna, por se consagrarem à caridade e, acima de tudo, por se dominarem,
transformando-se em veículos de manifestação da Vontade do Senhor.
Assim,
pois, se te inquietas pelas construções do Bem Eterno, permaneces credenciado à
bem-aventurança divina que, efetivamente, é muito difícil de alcançar.
Do livro: Reconforto Psicografia: Francisco Cândido
Xavier Pelo espírito: Emmanuel
NEM TODOS
OS AFLITOS
A
provação é um desafio que poucos suportam, lição que raros aprendem.
Depois
de regulares períodos de paz e ordem, a alma é visitada pela provação que, em
nome da Sabedoria Divina, lhe afere os valores e conquistas.
Raros,
porém, são aqueles que a recebem dignamente.
O
impulsivo, quase sempre, converte-a em falta grave.
O impaciente faz dela a escura paisagem
do desespero, onde perde as melhores oportunidades de servir.
O
triste desvaloriza-lhe as sugestões e dorme sobre as probabilidades de
auto-superação, em longas e pesadas horas de choro e desalento.
O
ingrato transforma-a em calhau com que apedreja o nome e o serviço de
companheiros e vizinhos.
O
indiferente foge-lhe aos avisos como quem escapa impensadamente da orientadora
que lhe renovaria os destinos.
O
leviano esquece-lhe os ensinamentos e perde o ensejo de elevar-se, por sua
influência, a planos mais altos.
O
espírito prudente, entretanto, recebe a provação qual o oleiro que encontra no
fogo o único recurso para imprimir solidez e beleza ao vaso que o gênio
idealiza.
Se a
tempestade purifica a atmosfera e se o fel, por vezes, é o exclusivo
medicamento da cura, a provação é a porta de acesso ao engrandecimento
espiritual.
Só
aqueles que a recebem por esmeril renovador conseguem extrair-lhe as
preciosidades.
É por
isso que nem todos os aflitos podem ser bem-aventurados, de vez que, somente
aproveitando a dor para a materialização consistente de nossos ideais e de
nossos sonhos, é que se nos fará possível encontrar a alegria triunfante do
aprimoramento em nós mesmos, a que somos todos chamados pela vida comum, nas
lutas de cada dia.
Do livro: Reconforto Psicografia: Francisco Cândido
Xavier Pelo espírito: Emmanuel
NO ESTUDO DA
AFLIÇÃO
Em toda a parte, vemos a aflição
que se
arroja ao crime;
que se
confia à revolta;
que se
rende ao desânimo;
que se
desfaz em desespero;
que se
transubstancia em ofensas aos semelhantes;
que alardeias intimidade com Jesus, ferindo
os homens, nossos irmãos;
que, a pretexto de exercer a justiça, mobiliza tribunais
e prisões;
que clama sem piedade contra a miséria dos outros;
que chora sem proveito;
que se demora nas apreciações infelizes;
que se mantém nas trevas, azorragando os que buscam a
luz;
que se irrita;
que maltrata;
que vergasta e maldiz....
Entretanto, os bem aventurados do Evangelho são os
aflitos que não provocam novas aflições.
São aqueles que aceitam a dor e nela acatam os Divinos
Desígnios.
Recebamos no espinho que nos lacera ou no flagelo que nos
humilha, a lição que a Providência nos envia e teremos chegado à Celeste
Compreensão, para guardar, em espírito e verdade, o tesouro do Amor que o
Divino Mestre nos legou.
Do livro:
Reconforto Psicografia: Francisco Cândido Xavier Pelo espírito: Emmanuel
LÁGRIMAS
Lágrimas são emoções materializadas que romperam as barreiras
do corpo físico. Em realidade, representam os excessos de energia que
necessitamos extravasar.
Nem sempre são as mesmas
fontes que determinam as lágrimas, pois variadas são as nascentes geradoras que
as
expelem através dos olhos.
Lágrimas nascidas
do amor materno são vistas quase que corriqueiramente nos olhos das mães
apaixonadas pelos filhos.
Lágrimas de
alegria marejam nos olhos dos enamorados, pelas emoções com que traçam planos
de felicidade no amor.
Lágrimas geradas
pela dor de quem vê o ente querido partir nos braços da morte física, entre as
esperanças de reencontrá-lo logo mais, na vida eterna.
Lágrimas de amigos
que apertam mãos nas realizações e uniões prósperas são sempre nascentes puras
de emotividade sadia oriundas do coração.
Há, porém,
lágrimas criadas pelos centros de desequilíbrio, que mais se assemelham a gotas
de fel, pois, quando jorram, congestionam os olhos, tornando-os de aspecto
agressivo, de cor carmim, entre energias danosas que embrutecem a vida.
Lágrimas de inveja
e revolta que brotam nos olhares dos orgulhosos e despeitados, quando identificam
criaturas que vencem obstáculos, alcançando metas e exaltando as realizações
ditosas que se propuseram edificar.
Lágrimas de angústia e desconforto que umedecem as pálpebras
dos inconformados e rebeldes, os quais, por não respeitarem a si mesmos e aos outros,
sofrem como consequência todos os tipos de desencontros nos caminhos onde
transitam desesperados.
Lágrimas de pavor e devassidão, em uma análise mais profunda,
são tóxicos destilados pela fisionomia dos corruptos, que lesam velhos,
crianças e famílias inteiras na busca desenfreada de ouro e poder.
Lágrimas dissimuladas que gotejam da face dos hipócritas
e sedutores, os quais, por fraudarem emoções, acreditam sair ilesos perante as
leis naturais da vida.
Conta-se que lágrimas espessas rolaram dos olhos dos ladrões
crucificados entre o Senhor Jesus, no Gólgota.
As gotas de lágrima do mau ladrão fecundaram, no terreno dos
sentimentos, as raízes da reflexão e do discernimento, que permitiram entender
o porque dos corações rígidos e inflexíveis. A humanidade aprendeu que há hora
de plantar e tempo de ceifar e que nem todos estão ainda aptos a compreender a
essência espiritual, nascendo, portanto, dessa percepção o “perdão incondicional”.
Mas dos olhos do bom ladrão deslizaram as lágrimas dos
que já admitiram seus próprios erros, vitalizando o solo abundantemente e
fazendo germinar as sementes poderosas que permitem às consciências em culpa
usar sempre “amor incondicional” para si mesmas e para os outros, como forma de
restaurar sua vida para melhor.
Isso fez com que os seres humanos se aproximassem cada vez
mais do patamar da reparação e do enorme poder de transformação que existem
neles mesmos, reformulando e reorganizando gradativamente suas vidas. Estabeleceu-se
assim, na Terra, o “arrependimento” - sentimento verdadeiro de remorso pelas
faltas cometidas e que serve para renovação de conceitos e atitudes.
No teu mergulho interior, pondera tuas lágrimas,
analisa-as e certifica-te dos sentimentos que lhes deram origem.
Que sejam sadias tuas fontes geradoras de emoções e que esse
líquido cristalino que escorre sobre tuas faces te levem ao encontro da paz
interior, entre alicerces de uma vida plena.
Hammed – Livro: Renovando Atitudes – cap. 22
AFLITOS
“Bem-aventurados os aflitos!” –disse Jesus.
Felizes, sim, de todos os que carregam seus fardos com
diligência e serenidade, mas estejamos convictos de que toda aflição excedente
complica o itinerário da vida e corre por nossa conta.
... Detenhamo-nos a pensar nisso e lembrando,
reconhecidamente, quantos se nos fazem samaritanos do auxílio e da bondade, nas
estradas da existência, recordemos a lição de Jesus e, diante dos outros, sejam
eles quem sejam, façamos nós o mesmo.
Perdão pode ser comparado a luz que o ofendido acende no
caminho do ofensor. Por isso mesmo, perdoar, em qualquer situação, será sempre
colaborar na vitória do amor, em apoio de nossa própria libertação para a vida
imperecível.
Emmanuel - Livro Agenda de Luz - Francisco Cândido Xavier
CONFLITOS
PSICOLÓGICOS
A QUESTÃO 202
“Em nossa reunião pública, entre os visitantes amigos que
procediam de cidades diversas, predominavam as perguntas sobre os conflitos
psicológicos que estão merecendo longos estudos em toda parte. Os comentários
em torno do assunto eram os mais animados. Quando as nossas tarefas tiveram
início O Livro dos Espíritos nos ofereceu a questão 202 e as explanações
prosseguiram.
No fim das atividades programadas o nosso caro Benfeitor
Espiritual escreveu a página “Conflitos Psicológicos” que lhe envio para os
seus oportunos estudos.” Chico Xavier
Tão fácil julgar os conflitos sentimentais que surjam nos
outros!
Habitualmente, a opinião pública na Terra quase que até
agora, em assuntos de sexo, se restringia a entender e aprovar os que se davam
ao casamento e a estranhar ou reprovar os que se mantinham em celibato.
A evolução, no entanto, descortinou as ciências
psicológicas da atualidade e as ciências psicológicas empreenderam o estudo das
complexidades da alma, quase a lhe operarem o desnudamento.
E os problemas do sexo vão sobrando em escala crescente.
Casados e solteiros, jovens e adultos, quando em lutas
emocionais apresentam distúrbios afetivos e impulsos ambivalentes, insatisfação
e carência de ordem sentimental, dificuldades através de condições inversivas e
fenômenos diversos da bissexualidade.
Sempre valiosa a contribuição da psicologia em socorro de
quantos se identificam no mundo em situação paranormal, nos domínios do afeto,
particularmente quando ensina aos pacientes a conquista da auto aceitação.
Entretanto, sem os princípios reencarnacionistas, definindo a posição de cada
espírito segundo as leis ele causa e efeito, qualquer tipo de assistência às
vítimas de desajustes psicológicos resultará incompleto.
Nesse sentido é preciso recordar que todas as lesões
afetivas que tenhamos imposto a alguém repercutem sobre nós, criando lesões
consequentes e análogas em nosso campo espiritual.
Esse terá traumatizado almas queridas com os assaltos da
ingratidão e se corporificou de novo no Plano Terrestre suportando os chamados
desequilíbrios congênitos; aquele provavelmente haverá precipitado corações
sensíveis em despenhadeiros do sentimento e renasceu carregando frustrações
sexuais irreversíveis para todo o curso da própria existência; outro perseguiu
criaturas irmãs do sexo oposto, mergulhando-as em desespero e delinquência e
terá voltado à Terra em condições inversivas; outros terão solicitado a própria
internação em celas morfológicas de formação contraria aos seus impulsos mais
íntimos, de modo a se isolarem transitoriamente para o desempenho de tarefas
determinadas e nem sempre toleram as provas e empeços da própria escolha; e
outros muitos ainda, que impuseram suicídios e crimes, traições e deserções a
pessoas que lhes hipotecavam integral confiança, retornam à experiência física
sofrendo tribulações complexas que variam conforme o grau da culpa com que
dilapidaram a harmonia de si mesmos.
Diante dos nossos irmãos de Humanidade em problemas
sexuais, saibamos administrar-lhes amor e esclarecimento ao invés de menosprezo
ou condenação.
Normalidade física não quer dizer no mundo que os nossos
débitos das existências passadas fiquem extintos. Em razão disso, muitas vezes,
é possível que amanhã estejamos rogando amparo justamente àqueles aos quais
hoje estendamos auxílio.
Encerrando os nossos apontamentos, lembremo-nos de que
Allan Kardec formulou a questão número 202, em O Livro dos Espíritos, indagando
da Espiritualidade Superior quanto à preferência dos amigos desencarnados, ante
o renascimento no mundo, a perguntar para que setor da vida
humana mais se inclinavam: se para o campo de trabalho do
homem ou da mulher. E os mentores da Codificação Kardequiana responderam
convincentes:
– Isso, na essência, não lhes importa. Vale, sim, para
eles, acima de tudo, a prova que lhes compete experimentar.
Emmanuel
ACÚSTICA PSICOLÓGICA
No sentido orgânico, bio-fisiológico, os espíritos não
têm sexo, pois não possuem o corpo material e não se reproduzem. Mas o sexo
vegetal, animal e humano é simples manifestação de polaridade. Há, portanto, um
problema espiritual de polaridade, semelhante ao das correntes ele energias que
conhecemos, determinando a condição íntima do espírito e sua posição masculina
ou feminina. Por isso, nos planos inferiores da espiritualidade, nas regiões de
transição do plano físico para o metafísico, as regiões infernais das religiões
clássicas ou as regiões umbralinas da concepção espírita, o corpo espiritual
das entidades reproduz as condições sexuais que tiveram na vida terrena. Os
íncubos e súcubos da Idade Média são exemplos dessas formas grosseiras de
espíritos inferiores.
As manifestações desses seres inferiores confundem muitos
estudiosos e médiuns-videntes que não aceitam a tese espírita de que os
espíritos não têm sexo. Simples falta de melhor discernimento doutrinário. Mas,
como ensina Emmanuel em sua mensagem, as lesões afetivas que produzimos nos
outros repercutem em nós “criando lesões conseqüentes e análogas em nosso campo
espiritual”. É um fenômeno de acústica psicológica, semelhante aos da acústica
física e fisiológica das teorias de Helmholtz.
Os problemas sexuais, portanto, fazem parte da lei geral
de ação e reação que determina as nossas provas e expiações. Essa a razão por
que as vítimas de desequilíbrios nesse campo não devem ser encaradas e tratadas
com a repulsa brutal e hipócrita do passado. Os que assim procedem, faltando
com a caridade, podem estar preparando para si mesmos situações semelhantes no
futuro.
Mas isso não justifica a aceitação em termos de
normalidade, como hoje se pretende, pois então estaríamos endossando e
estimulando o desequilíbrio e sua propagação, ao invés de ajudar as suas
vítimas a se reequilibrarem. Emmanuel recomenda a aceitação caridosa do doente,
mas recomenda que lhe apliquemos a terapêutica de “amor e esclarecimento, ao
invés de menosprezo ou condenação” Porque foi assim que Jesus procedeu com os
desequilibrados do seu tempo, desde o endemoninhado geraseno até a mulher
adúltera. Irmão Saulo
Do livro Na Era do Espírito. Francisco
C. Xavier e Herculano Pires. Espíritos Diversos
O REMÉDIO JUSTO
-Bem-aventurados
os que choram porque serão consolados.” - JESUS - MATEUS, 5: 4.
“Por estas
palavras: “Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados, Jesus aponta
a compensação que hão de ter os que sofrem e a resignação que leva o padecente
a bendizer do sofrimento, come prelúdio da cura.” Cap. V, 12.
Perguntas, muitas
vezes, pela presença dos espíritos guardiões, quando tudo indica, que forças
contrárias às tuas noções de segurança e conforto, comparecem, terríveis, nos
caminhos terrestres.
Desastres,
provações, enfermidades e flagelos inesperados arrancam-te indagações aflitivas.
Onde os amigos
desencarnados que protegem as criaturas? Como não puderam prevenir certos
transes que te parecem desoladoras calamidades? Se aspiras, no entanto, a
conhecer a atitude moral dos espíritos benfeitores, diante dos padecimentos
desse matiz, consulta os corações que amam verdadeiramente na Terra.
Ausculta o
sentimento das mães devotadas que bendizem com lágrimas as grades do manicômio
para os filhos que se desvairaram no vicio, de modo a que não se transfiram da
loucura à criminalidade confessa.
Ouve os gemidos de
amargura suprema dos pais amorosos que entregam os rebentos, do próprio sangue
no hospital, para que lhes seja amputado esse ou aquele membro do corpo, a fim
de que a moléstia corruptora, a que fizeram jus pelos erros do passado, não
lhes abrevie a existência.
Escuta as esposas
abnegadas, quando compelidas a concordarem chorando com os suplícios do cárcere
para os companheiros queridos, evitando –se -lhes a queda, em fossas mais
profundas de delinquência.
Perquire o
pensamento dos filhos afetuosos, ao carregarem, esmagados de dor, os pais
endividados em doenças infecto –contagiosas, na direção.
o das casas de isolamento, a fim de que não se convertam
em perigo para a comunidade.
Todos eles trocam
as frases de as frases de carinho e os dedos veludosos pelas palavras e pelas
mãos de guardas e enfermeiros, algumas vezes desapiedados e frios, embora
continuem mentalmente jungidos aos seres que mais amam, orando e trabalhando
para que lhes retornem ao seio.
Quando vejas
alguém submetido aos mais duros entraves, não suponhas que esse alguém
permaneça no olvido, por parte dos benfeitores espirituais que lhe seguem a
marcha.
O amor brilha e
paira sobre todas as dificuldades, à maneira do sol que paira e brilha sobre
todas as nuvens.
Ao invés de
revolta e desalento, oferece paz e esperança ao companheiro que chora, para
que, à frente de todo mal, todo o bem prevaleça.
Isso porque onde
existem almas sinceras, à procura do bem, o sofrimento é sempre o remédio justo
da vida para que, junto delas, não suceda o pior.
Emmanuel - livro O
Livro da Esperança - Psicografado por FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
AFLIÇÃO E TRANQÜILIDADE
"Bem-aventurados os que choram..." - JESUS. (Mateus, 5:4.).
"Bem-aventurados os que choram" - disse-nos o Senhor -,
contudo, é importante lembrar que, se existe aflição gerando tranquilidade, há
muita tranquilidade gerando aflição.
No liminar do
berço pede a alma dificuldades e chagas, amargores e cicatrizes, entretanto,
recapitulando de novos as próprias experiências no plano físico, torna à concha
obscura do egoísmo e da vaidade, enquistando-se na mentira e na delinquência.
Aprendiz
recusando a lição ou doente abominando o remédio, em quase todas as
circunstâncias, o homem persegue a fuga que lhe adiará indefinidamente as realizações
planejadas.
É por isso que na
escola da luta vulgar vemos tantas criaturas em trincheiras de ouro, cavando
abismos de insânia e flagelação, nos quais se desempenham, além do campo
material, e tantas inteligências primorosas engodadas na auréola fugaz do poder
humano, erguendo para si próprias masmorras de pranto e envilecimento, que as
esperam, inflexíveis, transposto o limite traçado na morte.
E é por essa
razão que vemos tantos lares, fugindo à bênção do trabalho e do sacrifício, à
feição de oásis sedutores de imaginária alegria para se converterem amanhã em
cubículos de desespero e desilusão, aprisionando os descuidados companheiros
que os povoam em teias de loucura e desequilíbrio, na Vida Espiritual.
Valoriza a
aflição de hoje, aprendendo com ela a crescer para o bem, que nos burila para a
união com Deus, porque o Mestre que te propões a escutar e seguir, ao invés de
facilidades no imediatismo da terra, preferiu, para ensinar-nos a verdadeira
ascensão, a humildade da Manjedoura, o imposto constante do serviço aos
necessitados, a incompreensão dos contemporâneos, a indiferença dos corações
mais queridos e o supremo testemunho do amor em plena cruz da morte.
Francisco Cândido
Xavier - Livro Ceifa de Luz - Pelo Espírito Emmanuel
NA CONSTRUÇÃO DA VIRTUDE
“Bem-aventurados
os que sofrem perseguição por amor a justiça, porque deles é o reina dos Céus”.
JESUS - MATEUS, 5:10.
“A virtude, no mais alto grau, é o conjunto de todas as
qualidades essenciais que constituem o homem de bem. Ser bom, caritativo, laborioso, sóbrio, modesto, são
qualidades do homem virtuoso.” - Cap. XVII.
Toleras descabidas injúrias e calas a justificação que te
pende da boca, esperando, a preço de lágrimas, que o tempo te mostre a isenção
de culpa, no entanto, com isso, promoves o reconhecimento e a renovação dos
teus próprios perseguidores.
Podes apropriar-te da felicidade alheia, através de pleno
domínio no lar de outrem, à custa do infortúnio de alguém, e, embora padecendo
agoniada fome de afeto, ensinas a prática do dever a quem te pede convivência e
carinho, todavia, com semelhante procedimento, acendes na própria alma a chama
do amor puro com que, um dia, aquecerás os entes queridos, nos planos da vida
eterna.
Tens razão de sobejo para falar a reprimenda esmagadora
aos irmãos caldos em erro, pela ascendência moral que já conquistaste, e
pronuncias a frase de estímulo e indulgência, muitas vezes sob a crítica dos
que te não compreendem os gestos, mas consegues, assim, reerguer o ânimo dos
companheiros desanimados, recuperando- lhes as energias para levantamento das
boas. Guardas o direito de repousar, pelo merecimento obtido em longas tarefas
nobremente cumpridas, e prossegues em atividade laboriosa, no progresso e na
paz de todos, quase sempre com o desgaste acelerado das próprias forças,
entretanto, nesse abençoado serviço extra, lanças o seguro alicerce dos
apostolados santificantes que te clarearão o grande futuro.
Sob o assalto da calúnia, ora em favor dos que te ferem.
Quando vantagens humanas te sorriam com prejuízo dos
outros, prefere o sacrifício das mais belas aspirações.
Com autoridade suficiente para a censura, semeia a
benevolência onde estiveres.
Retendo a possibilidade do descanso, abraça o maior
esforço e trabalha sempre.
Quem suporta serenamente o mal que atraiu para si mesmo,
trilha a estrada bendita da resignação, contudo quem pratica o bem quando pode
fazer o mal vive por antecipação no iluminado país da virtude.
Emmanuel – livro: O Livro da Esperança - Psicografado por
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
FILHOS DE DEUS
"Na vossa paciência, possui as nossas almas." -
Jesus, (Lucas, 21:19)
Afinal de contas, ter paciência será sorrir para as maldades
humanas, nem coonestar suas atividades indignas sobre a face do mundo.
Concordar alguém com todos os males da senda terrestre, a
pretexto de revelar essa virtude, seria um contra-senso absurdo.
Ter paciência, então, será resistir aos impulsos
inferiores que nos cerquem na estrada evolutiva, conduzindo todo o bem que nos
seja possível aos seres e coisas que se achem diante de nós, como a
representação desses mesmos impulsos.
Jesus foi o modelo da paciência suprema e resistiu à
nossa inferioridade, amando-nos.
Não se nivelou com as nossas fraquezas, mas valeu-se de
todas as ocasiões para nos melhorar e conduzir ao bem.
Sua misericórdia tomou os nossos pecados e transformou
cada um em profunda lição para a reforma de nós mesmos.
Não aplaudiu as nossas misérias, nem sorriu para os
nossos erros, mas compreendeu-nos as deficiências e amparou-nos.
Embora tudo isso, resistiu sempre, dentro de seu amor,
até a cruz do martírio.
A paciência do Cristo é um livro aberto para todos os
corações inclinados ao bem e à verdade.
Somente pela sincera resistência ao mal, com a disposição
fiel de transformá-lo no bem, conseguireis possuir as vossas almas.
Ao contrário disso, ainda que vos sintais autônomos e fortes,
vós mesmos é que sereis possuídos por tendências indignas ou sentimentos
inferiores.
Portanto, justo é que busqueis saber, hoje mesmo, se já
possuís os vossos corações ou se estais ocupados pelas forças estranhas ao
vosso título de filho de Deus.
Emmanuel - livro Segue-me - FCXavier
BEM-AVENTURANÇAS
“Bem-aventurados
sereis quando os homens vos aborrecerem, e quando vos separarem, vos injuriarem
e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do Filho do homem.” – Jesus.
(Lucas, 6:22).
O problema das bem-aventuranças exige sérias reflexões,
antes de interpretado por questão líquida, nos bastidores do conhecimento.
Confere Jesus a credencial de bem-aventurados aos
seguidores que lhe partilham as aflições e trabalhos; todavia, cabe-nos salientar
que o Mestre categoriza sacrifícios e sofrimentos à conta de benções educativas
e redentoras.
Surge, então, o imperativo de saber aceitá-los.
Esse ou aquele homem serão bem-aventurados por haver
edificado o bem, na pobreza material, por encontrarem alegria na simplicidade e
na paz, por saberem guardar no coração longa e divina esperança.
Mas... e a adesão sincera às sagradas obrigações do
título?
O Mestre, na supervisão que lhe assinala os ensinamentos,
reporta-se às bem-aventuranças eternas; entretanto, são raros os que se
aproximam delas, com a perfeita compreensão de quem se avizinha de tesouro
imenso. A maioria dos menos favorecidos no plano terrestre, se visitados pela
dor, preferem a lamentação e o desespero; se convidados ao testemunho de renúncia,
resvalam para a exigência descabida e, quase sempre, lançam-se às aventuras
indignas de quantos se perdem na desmesurada ambição.
Ofereceu Jesus muitas bem-aventuranças. Raros, porém,
desejam-nas. É por isto que existem muitos pobres e muitos aflitos que podem
ser grandes necessitados no mundo, mas que ainda não são benditos no Céu.
Emmanuel – Livro: Pão Nosso - FCXavier
DIANTE DA MULTIDÃO
“E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte...” -
(MATEUS, 5:1.)
O procedimento dos homens cultos para com o povo
experimentará elevação crescente à medida que o Evangelho se estenda nos
corações.
Infelizmente, até agora, raramente a multidão tem
encontrado, por parte das grandes personalidades humanas, o tratamento a que
faz jus.
Muitos sobem ao monte da autoridade e da fortuna, da
inteligência e do poder, mas simplesmente para humilhá-la ou esquecê-la depois.
Sacerdotes inúmeros enriquecem-se de saber e buscam
subjugá-la a seu talante. Políticos astuciosos exploram-lhe as paixões em
proveito próprio.
Tiranos disfarçados em condutores envenenam-lhe a alma e
arrojam-na ao despenhadeiro da destruição, à maneira dos algozes de rebanho que
apartam as reses para o matadouro.
Juízes menos preparados para a dignidade das funções que
exercem, confundem-lhe o raciocínio.
Administradores menos escrupulosos arregimentam-lhe as
expressões numéricas para a criação de efeitos contrários ao progresso.
Em todos os tempos, vemos o trabalho dos legítimos
missionários do bem prejudicado pela ignorância que estabelece perturbações e
espantalhos para a massa popular.
Entretanto, para a comunidade dos aprendizes do
Evangelho, em qualquer clima de fé, o padrão de Jesus brilha soberano.
Vendo a multidão, o Mestre sobe a um monte e começa a
ensinar... É imprescindível empenhar as nossas energias, a serviço da educação.
Ajudemos o povo apensar, a crescer e a aprimorar-se.
Auxiliar a todos para que todos se beneficiem e se
elevem, tanto quanto nós desejamos melhoria e prosperidade para nós mesmos, constitui
para nós a felicidade real e indiscutível.
Ao leste e ao oeste, ao norte e ao sul da nossa
individualidade, movimentam-se milhares de criaturas, em posição inferior à
nossa.
Estendamos os braços, alonguemos o coração e irradiemos
entendimento, fraternidade e simpatia, ajudando-as sem condições.
Quando o cristão pronuncia as sagradas palavras “Pai
Nosso”, está reconhecendo não somente a Paternidade de Deus, mas aceitando
também por sua família a Humanidade inteira.
Emmanuel - Do livro Fonte Viva, psicografado pelo médium
Francisco Cândido Xavier,
A PROCURA DA FÉ
Enquanto dolorosos fenômenos políticos e sociais afligem
os povos do mundo, a alma humana procura ansiosamente a fé.
Angustiado, desiludido, o homem do século vertiginoso,
busca a solução do mistério do destino e do se¿. Ele sabe que as civilizações
vieram e passaram, que as guerras se sucederam às promessas de paz, que
numerosos códigos surgiram e desapareceram, que as afirmações científicas e
filosóficas nao são as mesmas do passado próximo.
Onde a estabilidade?
Na dominação política? Não desconhece que Alexandre e
Napoleão brilharam, como pirilampos, através de algumas noites.
Na cultura intelectual, pura e simplesmente? A
inteligência disvirtuada fortalece os monstros bélicos.
No império dos sentidos? As emoções transitórias não
resolvem o problema fundamental da vida.
Na satisfação egoística dos interesses individuais? É
possível que a morte física se verifique para cada lutador terrestre em minuto
inesperado.
Aflito, o transviado do País Divino recorre às religiões
antigas, mas o culto externo, aparatoso e convencional, dificulta a visão da
consciência.
O por isto que o Espiritismo, em sua feição de
cristianismo restaurado, provoca os interesses de todos os trabalhadores do
pensamento, sequiosos de libertação espiritual. Acorrem todos aos seus estudos,
experiências e benefícios.
Urge compreender, todavia, que não se arrebata a luz
divina, através dos aparelhos materiais, com que se observam os médiuns
humanos, nem se olhe o trigo eterno da verdade, à força de interrogatórios e
imposições.
A aquisição de qualquer utilidade terrestre exige
pagamento ou compromisso. A obtenção da fé reclama, por sua vez, determinados
valores da natureza espiritual. Buscar-lhe o valor positivo, exibindo um
coração carregado de forças negativas das convenções terrestres é o mesmo que
reclamar água cristalina da fonte, trazendo um cântaro cheio de vinagre e
detritos.
Não vale experimentar sem entendimento, responsabilidade,
sinceridade e consciência. A fé, ciosa de suas dádivas, não se interessa pelos
insensatos, já de si mesmos recomendados à piedade do bem.
É por este motivo que Espiritismo sem edificação do homem
interior é simples fenômeno e de fenômenos estão repletos todos os recantos da
vida. O por isto que a procura da fé, sem a reforma íntima dos interessados, em
Jesus Cristo, costuma representar mera aventura da vaidade humana, impermeável
à revelação superior, nas densas trevas dos abismos do “eu”.
Emmanuel - Do livro Coletâneas do Além Psicografia de
Francisco Cândido Xavier
AFLIÇÕES EXCEDENTES
Diante da orientação espírita que te esclarece, não te
afastes da lógica, a fim de que não te gastes sem proveito, embaraçando o
orçamento das próprias forças com aborrecimentos inúteis.
Diariamente, batem às portas do Além aqueles que
abreviaram a quota do tempo que poderiam desfrutar na Terra, adquirindo problemas
da desencarnação prematura.
É que, por toda parte, transitam portadores de aflições
excedentes.
Não satisfeitos com as responsabilidades que a existência
lhes impõe, amontoam cargas de sofrimentos imaginários.
Há os que percebem salário compensador e desregram-se na
revolta, porque determinado companheiro lhes tomou a frente no destaque
convencional, muitas vezes para sofrer o peso de compromissos que seriam incapazes
de suportar.
Há os que dispõem de excelente saúde, com atividades
leves nos deveres comuns, arrepelando-se, desgostosos, por verem adiado o
período de férias, quando, com isso, estão sendo desviados de experiências
impróprias e que seriam fatalmente impelidos pelo repouso inoportuno.
Há os que possuem recursos materiais suficientes ao
próprio conforto e se lastimam, insones, por haverem perdido certo negócio que
lhes conferiria maiores vantagens, dentro das quais talvez viessem a conhecer a
criminalidade e a loucura.
Há os que colecionam gavetas superlotadas de adornos
caros e caem no desespero com a perda de uma jóia de uso pessoal, cujo
desaparecimento é o meio de situá-los a cavaleiro de possíveis assaltos da
cobiça e da violência.
E existem, ainda, aqueles outros que se abastecem no
guarda-raupa recheado e gritam contra o costureiro que se desviou do modelo
encomendado; os que são donos ele casa sólida e adoecem por não conseguirem
abatê-la, de pronto, a fim de reconstruí-la segundo novos caprichos; os que se
aboletam em automóvel acolhedor, mas inquietam-se por não poderem trocá-la, de
imediato, pelo carro de último tipo; e os que se sentam à mesa provida de cinco
pratos diferentes e encolerizam-se por não encontrarem o quitute predileto.
“Bem-aventurados os aflitos!” – disse Jesus.
Felizes, sim, de todos os que carregam seus fardos com
diligência e serenidade, mas estejamos convictos de que toda aflição excedente
complica o itinerário da vida e corre por nossa conta.
Emmanuel - Do
livro Aulas da Vida. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
QUANDO A DOR
REDIME
“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.”
(Mateus, 5:4.)
As lágrimas extravasam emoções intensas. Choramos quando estamos
muito felizes ou muito amargurados. Não obstante servirem à alegria e à
tristeza, convencionou-se que elas representam os males da existência.
E na Terra, planeta de expiação e provas, segundo a
definição de Kardec, choramos todos, desde o magnata ao miserável, desde o
palácio à choupana.
Jesus promete que seremos todos consolados. Essa
expressão soa quase vazia de significado. Afinal, é muito pouco, diante dos
males maiores, receber algo parecido com a iniciativa do amigo que toca de leve
em nossos ombros, afirmando: “Não é nada, meu velho! Coragem! Tudo passa!...”
Todavia, a expressão será bem mais significativa, de
alcance bem maior, se lhe emprestarmos o significado de compensação.
Poderíamos dizer, então, que bem-aventurados são os que
sofrem, porque seus males serão compensados por alegrias futuras.
É da própria Vida que após a tempestade surja a bonança.
Que a noite seja véspera do dia. Às horas de amargura
sucedem-se períodos de tranquilidade. E ainda que a existência inteira seja uma
noite escura de lutas e sofrimentos, experimentaremos a alvorada gloriosa da imortalidade,
ao cessar a existência humana com suas limitações.
Oferecendo o ensejo de despertamento e resgate, as dores da
existência representam o preço nunca demasiadamente alto que pagamos para o
ingresso nas bem-aventuranças celestes. Seja a dor física, que depura, seja a dor
moral, que amadurece, temos em suas manifestações o cuidado de um mestre
inflexível que nos disciplina e orienta, preparando-nos para assumir a condição
de filhos de Deus e herdeiros da Criação.
É preciso considerar, contudo, que não basta sofrer,
porquanto, se as lágrimas nos preparam para o Reino dos Céus, que, segundo
Jesus, é uma experiência íntima, uma construção interior, não podemos olvidar
que o próprio Mestre situa a humildade por alicerce fundamental.
Pouco aproveitaremos de nossas dores sem a consciência de
nossa pequenez diante de Deus, o Pai de sabedoria infinita, que conhece melhor
do que nós mesmos nossas necessidades essenciais e nos oferece experiências que
guardam relação não apenas com nosso merecimento, mas também com o preparo de uma
gloriosa destinação.
Os que vivem a murmurar, que clamam ao Alto por seus males,
que se revoltam, que não se conformam, que se rebelam, estão marcando passo.
Suas dores não edificam nem depuram.
Suas lágrimas são ácidas e amargas, gerando males não
programados, amarguras desnecessárias, infelicidade voluntária.
Os desajustes maiores que afligem a criatura humana não são
decorrentes dos débitos do passado, e sim da rebeldia do presente.
Não sofremos tanto pelo resgate. Afinal, isto deveria ser
motivo até de satisfação. A dor maior decorre do fato de pretendermos recusar o
sofrimento. É a lamentável situação do devedor que marca dia para o credor vir
receber seu dinheiro e quando isto acontece recusa-se terminantemente a pagar.
Seria de perguntar-se: Quando é que a nossa dor
representa resgate do passado sem complicações para o futuro? Quando é que, por
meio dela, estamos realmente preparando a felicidade futura?
Diríamos que é quando o nosso comportamento, diante da dor,
não gera sofrimento naqueles que nos rodeiam.
Quantas famílias atravessam amarguras intensas com alguém
doente em casa, não tanto pela enfermidade e, muito mais, pela inconformação e
agressividade do enfermo?!
Quantos pais derramam lágrimas abundantes em face dos desatinos
cometidos por seus filhos, que se mostram incapazes de suportar com dignidade
os embates da existência?!
Quantos homens e mulheres amargam anos de convivência com
cônjuges neurastênicos e agressivos porque a Vida não lhes atendeu as
solicitações?!
Os que assim se comportam, espalhando sofrimento porque não
sabem sofrer, estão castigados desde agora pela angústia, que é o clima
sufocante em que se debatem interiormente, adiando para um futuro incerto a
edificação de suas almas.
Mas, se formos tão humildes diante da dor, que jamais acrescentemos
naqueles que nos amam sofrimentos outros além dos decorrentes da convivência
com quem sofre, e o que é mais importante: se conseguirmos transformar nossas
experiências com o sofrimento em exemplos dignificantes de confiança e
serenidade, em plena aceitação da vontade de Deus, então nossos males trarão as
marcas abençoadas da redenção, preparando-nos o ingresso glorioso no Reino dos
Céus.
Em verdade, se tivermos tal disposição, estaremos nele desde
agora, ainda que o sofrimento seja nosso companheiro inseparável.
A Voz Do Monte – Richard Simonetti
MANSIDÃO E IRRITABILIDADE
“Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a Terra.” (Mateus,
V, 5.)
A delicadeza e a civilidade são filhas diletas da
mansidão.
Pela mansidão o homem conquista amizades na Terra e
bem-aventurança no Céu.
Inimiga da irritabilidade que gera a cólera, a mansidão
sempre triunfa nas lutas, vence as dificuldades, enfrenta os sacrifícios.
Os mansos e os humildes de coração possuirão a Terra,
porque se elevam na hierarquia espiritual e se constituem outros tantos
propugnadores invisíveis do progresso de seus irmãos, guiando-lhes os passos nas
veredas do Amor e da Ciência — nobres ideais que nos conduzem a Deus!
“Aprendei de mim, disse Jesus, que sou humilde e manso de
coração.”
É em Jesus que devemos buscar as lições de mansidão de
que tanto carecemos nas lutas da vida.
Embora enérgico, quando as circunstâncias o exigiam, o
Sublime Redentor sabia fazer prevalecer a sua Palavra pelo poder da verdade que
a embalsamava, e sem ódio, sem fel, combatia os vícios, os embustes que deprimiam
as almas.
Sempre bom, lhano, sincero, caritativo, prodigalizava a
seus ouvintes os meios de adquirirem o necessário à vida na Terra e à
felicidade no Céu.
“Não vos encolerizeis para que não sejais condenados.”
A irritabilidade produz a cólera e a cólera é uma das
causas predominantes de enfermidades físicas e males psíquicos.
A cólera engendra a neurastenia, as afecções nervosas, as
moléstias do coração: é um fogo abrasado r que corrompe o nosso organismo, é o
vírus peçonhento que macula nossa alma.
Filha do ódio, a cólera é um sentimento mesquinho das
almas baixas, dos Espíritos inferiores.
Sem mansidão não há piedade, sem piedade não há
paciência, sem paciência não há salvação!
A mansidão é uma das formas da caridade que deve ser
exercitada por todos os que buscam a Cristo.
É da cólera que nasce a selvageria que tantas vítimas tem
feito.
Da mansidão vem a indulgência, a simpatia, a bondade e o
cumprimento do amor ao próximo.
O homem prudente é sempre manso de coração: persuade seus
semelhantes sem se excitar; previne os males sem se apaixonar; extingue as
lutas com doçura, e grava nas almas progressistas as verdades que soube estudar
e compreender.
Os mansos e humildes possuirão a Terra, e serão felizes,
o quanto se pode ser no mundo em que se encontram.
Parábolas e Ensinos de Jesus - Cairbar Schutel
RESIGNAÇÃO E INDIFERENÇA
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,
porque serão fartos.” (Mateus, V, 6.)
Bem-aventurados os que se revoltam contra a injustiça,
mas são resignados e calmos.
Ai dos indiferentes, dos acomodatícios, dos covardes, dos
servis, que em proveito próprio aplaudem a injustiça!
Há muita diferença entre a resignação e a indiferença.
A resignação é a conformidade ativa nos inevitáveis
acontecimentos da vida.
A indiferença é a submissão passiva às injustiças
deprimentes.
A resignação é cheia de amor, de sentimentos nobres, de
elevadas paixões.
A indiferença nulifica o amor, aniquila a nobreza dalma,
destrói as virtudes e deprime a moral.
A resignação nas provas é obediência aos decretos de
Deus.
A indiferença nos sofrimentos é dureza de coração e
ausência de submissão à vontade divina.
O resignado é santo, porque a resignação nasce da paciência,
e a paciência é filha dileta da Caridade. O indiferente é um anormal: tem
cérebro e não pensa; tem coração e não sente; tem alma e não ama.
O resignado não aparenta sofrimento, porque conhece a Lei
de Deus e a ela se submete com humildade.
O indiferente também não mostra sentir a dor, mas,
orgulhoso e alheio aos ditames celestes, repele de si a idéia do sofrimento.
A resignação é excelente virtude, que precisamos
cultivar; a indiferença é manifestação do egoísmo, que precisamos extirpar.
A resignação é a coragem da virtude.
A indiferença é a covardia da paixão vil.
Aquela eleva, dignifica, enaltece, santifica.
Esta deprime, desmoraliza, deprava e mata.
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,
porque serão fartos.”
Bem-aventurados os que não se submetem às injustiças
da Terra, nem pactuam com os opressores, os vis turibulários das altas
posições!
Parábolas e Ensinos de Jesus - Cairbar Schutel
O PROVEITO COMUM
Dentro da noite muito clara, os companheiros reunidos em
casa de Pedro comentavam as dificuldades na divulgação das idéias redentoras.
Muita gente se valia do socorro de Jesus, buscando
vantagens próprias. Certo negociante provocava o ajuntamento popular em
determinada região da praia, a fim de estimular a venda de vinhos; carroceiros
vulgares intensificavam a propaganda do Reino Celeste, nas cercanias, não com o
objetivo de se tornarem melhores, mas para alugarem veiculos diversos a doentes
de longe, interessados na assistência do Mestre.
O parecer de quase todos os apóstolos era inquietante e
desalentador.
Foi quando o Divino Amigo, tomando a palavra, explanou:
- Certo filósofo, mergulhado nos estudos da Revelação
Divina, possuia um discípulo que nunca se conformava com a incompreensão do
povo quanto às verdades celestes. Inflamava-se, de minuto a minuto, contra os
maus, os ingratos ou os hipócritas, que abusavam dos elevados ensinamentos de
que se via portador.
O mestre ouvia-o e guardava silêncio, até que numa linda
manhã, vindo um aguaceiro rápido de estio, convidou-o para um breve passeio até
o campo próximo, depois de refeita a paisagem.
Não haviam andado meia-milha, avistaram vasta faixa de
pântano; e o dor, observando que o charco recebia da chuva, explicou:
- Eis que o lodaçal recolhe o liquido celeste e com ele
faz imundo caldo, mas existem batráquios que se beneficiarão com segurança e
eficiência, porquanto, se não chovesse, provàvelmente estas águas escuras se
transformariam em veneno mortal.
Depois de alguns passos, encontraram poças de enxurrada
nos recôncavos de terra dura, e o mentor, analisando-as, acrescentou:
- Aqui, a fonte jorrada do firmamento é agora lama
desagradável; entretanto, que seria deste chão estéril se a água divina o não
visitasse? Amanhã, talvez veremos neste solo perfumada floração de lírios
rústicos.
Marcharam adiante e detiveram-se na contemplação de
algumas árvores nuas. A água, nos galhos ressequidos, parecia cinzenta e
fétida, mas o instrutor esclareceu:
- Nestas árvores abandonadas, a bênção da chuva
cristalina se fêz pesada e sombria; no entanto, que lhes aconteceria se as
dádivas do Alto as não beneficiassem? Possivelmente, morreriam, em breve, até
às raizes. Em poucas semanas, porém, cobrir-se-ão de ramagens fartas, servindo
aos lares abençoados dos passarinhos.
Demandaram além e descobriram alguns pessegueiros, cujas
flores guardavam as gotas do céu, com tanta beleza, que mais se assemelhavam,
dentro delas, a diamantino orvalho, levemente irisado pela claridade solar, o
mestre, indicando-as, disse:
- Aqui, as pétalas puras conservaram o dom celeste com
absoluta fidelidade e, muito em breve, serão perfume e beleza em excelentes
frutos para o banquete da vida.
Logo após, espraiando o olhar pela paisagem enorme, falou
ao discípulo espantado:
- Jamais censures o manancial do socorro celeste. Cada
homem lhe recebe o valor no plano em que se encontra. Guardando-lhe os
princípios sublimes, o criminoso se faz menos cruel, o pior se mostra menos
mau, o imperfeito melhora, o infortunado encontra alivio e os bons se
engrandecem para maior amplitude no serviço ao Nosso Pai. Se possuis raciocínio
suficiente para discernir a realidade, não te percas em reprovações vazias.
Aprende com o Supremo Senhor que ajuda sempre, de acordo com a posição e a
necessidade de cada um, e distribui com todos os que te cercam os bens do Céu
que já podes reter com fidelidade e o Céu te abrirá o acesso a tesouros sem-fim
...
Terminada que foi a narrativa, Jesus calou-se.
Os apóstolos, como se houvessem recebido sublime lição em
tão poucas palavras, entreolharam-se, expressivamente, silenciosos e felizes.
O Senhor, então, abençoou-os e retirou-se para as margens
do lago, fitando, pensativo, as constelações que tremeluziam distantes ...
Néio Lúcio LIVRO: JESUS NO LAR – FCX.
BENFEITORA
Floresce, espontânea, em toda parte, independendo dos
fatores que lhe propiciam o desabrochar.
Inesperadamente aparece nos solos áridos, nos quais os
sentimentos não medram.
Nas terras encharcadas da emotividade abundante, também
surge sem qualquer programação...
Sua presença é percebida, logo de início, convidando à
atenção que nela se fixa, a partir desse momento.
Em todas as épocas, ei-la presente, estabelecendo
diretrizes e caracterizando pessoas, grupos e nações.
Detestada, não teme as reações, tornando o seu apelo mais
forte.
Aceita, diminui a agudeza dos seus efeitos,
suavizando-os.
Estudada por teóricos e práticos, todos se lhe referem de
maneira variada, sem chegarem a uma conclusão unânime.
A verdade, porém, é que se faz conhecida sempre, e
ninguém pode impedir-lhe a presença.
Depois que encerra um ciclo, prepara, para um novo
cometimento, a sua oportuna aparição.
Nenhum recurso a impede, porque, por enquanto, ela é a
única maneira de conduzir o homem na conquista dos Altos Cimos da Vida, desde
que o amor não logre fazê-lo.
Esta flor abençoada, que surge nos terrenos de todas as
vidas, é a dor.
Este homem padece de injunções sócio-econômicas e tem a
alma em desalinho.
Aquele experimenta a abundância de valores amoedados e
sofre a solidão afetiva que o dinheiro não pode comprar.
Esse arde nas brasas do desejo, insatisfeito, e, lasso,
entrega-se ao frenesi da promiscuidade.
Este outro esgrime o ódio e sofre-lhe a rebeldia
dilacerante nos tecidos íntimos do ser.
Aqueloutro caminha chancelado pelas etiquetas das
patologias cruéis.
Uns definham nas garras afiadas de enfermidades
irreversíveis.
Outros derrapam em alucinações inimagináveis...
Todos, porém, sofrendo a constrição das dores de variada
expressão, amargurando, lapidando, despertando para novos valores da vida, que
permanecem desprezados.
A dor é benfeitora anônima, que a todos visita.
Cessados os seus efeitos perturbadores, quantas
conquistas morais e espirituais!
Os prepotentes, que a desconsideram, não chegam ao termo
da jornada sem experimentar-lhe a companhia.
Os ingratos, que se supõem felizes, não lhe fogem à
presença.
Os orgulhosos, que a desprezam, considerando-se
inatingíveis, encontram-na adiante...
Ela verga toda cerviz e submete, sem exceção, todas as
criaturas.
O seu cerco é invencível e ela sai-se sempre vencedora.
É instrumento da Lei, que o próprio homem vitaliza e
necessita.
Tu, que conheces Jesus, recebe sem rebeldia essa
benfeitora.
Não se trata de masoquismo, mas, sim, da inevitabilidade
de sofrer, transformando esse estado em formosa aquisição de bênçãos.
Há os testemunhos à fé e os resgates que procedem do
passado.
Seja qual for o motivo, transforma-o em oportunidade
iluminativa, porque estás na Terra para crescer e evoluir, adquirindo
experiências de profundidade.
A dor, que a muitos amesquinha, envilece e atordoa, deve
constituir-te estímulo para a grande vitória sobre ti mesmo.
Não te preocupes com mais nada, e, sob o seu jugo,
confiante, avança com a dor até conseguires o teu momento de plena libertação.
FRANCO, Divaldo Pereira. Momentos de Felicidade. Pelo
Espírito Joanna de Ângelis. 4.ed. LEAL, 2011. Capítulo 4.
AFLIÇÃO VAZIA
Ante as dificuldades do cotidiano, exerçamos a paciência,
não apenas em auxílio aos outros, mas igualmente a favor de nós mesmos.
Desejamos referir-nos, sobretudo, ao sofrimento inútil da
tensão mental que nos inclina à enfermidade e nos aniquila valiosas
oportunidades de serviço.
No passado e no presente, instrutores do espírito e
médicos do corpo combatem a ansiedade como sendo um dos piores corrosivos da
alma.
De nossa parte, é justo colaboremos com eles, a benefício
próprio, imunizando-nos contra essa nuvem da imaginação que nos atormenta sem
proveito, ameaçando-nos a organização emotiva.
Aceitemos a hora difícil com a paz do aluno honesto, que
deu o melhor de si, no estudo da lição, de modo a comparecer diante da prova,
evidenciando consciência tranquila.
Se o nosso caminho tem as marcas do dever cumprido, a
inquietação nos visita a casa íntima na condição do malfeitor decidido a
subvertê-la ou dilapidá-la; e assim como é forçoso defender a atmosfera do lar
contra a invasão de agentes destrutivos, é indispensável policiar o âmbito de
nossos pensamentos, assegurando-lhes a serenidade necessária...
Tensão à face de possíveis acontecimentos lamentáveis é
facilitar-lhes a eclosão, de vez que a idéia voltada para o mal é contribuição
para que o mal aconteça; e tensão à frente de sucessos menos felizes é
dificultar a ação regenerativa do bem, necessário ao reajuste das energias que
desastres ou erros hajam desperdiçado.
Analisemos desapaixonadamente os prejuízos que as nossas
preocupações injustificáveis causam aos outros e a nós mesmos, e evitemos
semelhante desgaste empregando em trabalho nobilitante os minutos ou as horas
que, muita vez, inadvertidamente, reservamos à aflição vazia.
Lembremo-nos de que as Leis Divinas, através dos
processos de ação visível e invisível da natureza, a todos nos tratam em bases
de equilíbrio, entregando-nos a elas, entre as necessidades do aperfeiçoamento
e os desafios do progresso, com a lógica de quem sabe que tensão não substitui
esforço construtivo, ante os problemas naturais do caminho.
E façamos isso, não apenas por amor aos que nos cercam,
mas também a fim de proteger-nos contra a hora da ansiedade que nasce e cresce
de nossa invigilância para asfixiar-nos a alma ou arrasar-nos o tempo sem qualquer
razão de ser.
Emmanuel - Livro Encontro Marcado - Francisco Cândido
Xavier
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