12 – Pelas palavras: Bem-aventurados os aflitos, porque
eles serão consolados, Jesus indica, ao mesmo tempo, a compensação que espera
os que sofrem e a resignação que nos faz bendizer o sofrimento, como o prelúdio
da cura.
Essas palavras podem, também, ser traduzidas assim:
deveis considerar-vos felizes por sofrer, porque as vossas dores neste mundo
são as dívidas de vossas faltas passadas, e essas dores, suportadas
pacientemente na Terra, vos poupam séculos de sofrimento na vida futura.
Deveis, portanto, estar felizes por Deus ter reduzido vossa dívida,
permitindo-vos quitá-las no presente, o que vos assegura a tranqüilidade para o
futuro.
O homem que sofre é semelhante a um devedor de grande
soma, a quem o credor dissesse: “Se me pagares hoje mesmo a centésima parte,
darei quitação do resto e ficarás livre; se não, vou perseguir-te até que
pagues o último centavo”. O devedor não ficaria feliz de submeter-se a todas as
privações, para se livrar da dívida, pagando somente a centésima parte da
mesma? Em vez de queixar-se do credor, não lhe agradeceria?
É esse o sentido das palavras: “Bem-aventurados os
aflitos, porque eles serão consolados”. Eles são felizes porque pagam suas
dívidas, e porque, após a quitação, estarão livres. Mas se, ao procurar
quitá-las de um lado, de outro se endividarem, nunca se tornarão livres. Ora,
cada nova falta aumenta a dívida, pois não existe uma única falta, qualquer que
seja, que não traga consigo a própria punição, necessária e inevitável. Se não
for hoje, será amanhã; se não for nesta vida, será na outra. Entre essas
faltas, devemos colocar em primeiro lugar a falta de submissão à vontade de
Deus, de maneira que, se reclamamos das aflições, se não as aceitamos com
resignação, como alguma coisa que merecemos, se acusamos a Deus de injusto,
contraímos uma nova dívida, que nos faz perder os benefícios do sofrimento. Eis
por que precisamos recomeçar, exatamente como se, a um credor que nos
atormenta, enquanto pagamos as contas, vamos pedindo novos empréstimos.
Ao entrar no Mundo dos Espíritos, o homem é semelhante ao
trabalhador que comparece no dia de pagamento. A uns, dirá o patrão: “Eis a
paga do teu dia de trabalho”. A outros, aos felizes da Terra, aos que viveram
na ociosidade, que puseram a sua felicidade na satisfação do amor próprio e dos
prazeres mundanos, dirá: “Nada tendes a receber, porque já recebestes o vosso
salário na Terra. Ide, e recomeçai a vossa tarefa”.
13 – O homem pode abrandar ou aumentar o amargor das suas
provas, pela maneira de encarar a vida terrena. Maior é o eu sofrimento, quando
o considera mais longo. Ora, aquele que se coloca no ponto de vista da vida
espiritual, abrange na sua visão a vida corpórea, como um ponto no infinito,
compreendendo a sua brevidade, sabendo que esse momento penoso passa bem
depressa. A certeza de um futuro próximo e mais feliz o sustenta encoraja, e em
vez de lamentar-se, ele agradece ao céu as dores que o fazem avançar. Para
aquele que, ao contrário, só vê a vida corpórea, esta parece interminável, e a
dor pesa sobre ele com todo o seu peso. O resultado da maneira espiritual de
encarar a vida é a diminuição de importância das coisas mundanas, a moderação
dos desejos humanos, fazendo o homem contentar-se com a sua posição, sem
invejar a dos outros, e sentir menos os seus revezes e decepções. Ele adquire,
assim, uma calma e uma resignação tão úteis à saúde do corpo como à da alma,
enquanto com a inveja, o ciúme e a ambição, entregam-se voluntariamente à
tortura, aumentando as misérias e as angústias de sua curta existência.
TEXTOS DE APOIO
O REMÉDIO
JUSTO
-Bem-aventurados
os que choram porque serão consolados.” - JESUS - MATEUS, 5: 4.
“Por estas
palavras: “Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados, Jesus aponta
a compensação que hão de ter os que sofrem e a resignação que leva o padecente
a bendizer do sofrimento, como prelúdio da cura.” Cap. V, 12.
Perguntas, muitas
vezes, pela presença dos espíritos guardiões, quando tudo indica, que forças
contrárias às tuas noções de segurança e conforto, comparecem, terríveis, nos
caminhos terrestres.
Desastres,
provações, enfermidades e flagelos inesperados arrancam-te indagações aflitivas.
Onde os amigos
desencarnados que protegem as criaturas? Como não puderam prevenir certos
transes que te parecem desoladoras calamidades? Se aspiras, no entanto, a
conhecer a atitude moral dos espíritos benfeitores, diante dos padecimentos
desse matiz, consulta os corações que amam verdadeiramente na Terra.
Ausculta o
sentimento das mães devotadas que bendizem com lágrimas as grades do manicômio
para os filhos que se desvairaram no vicio, de modo a que não se transfiram da
loucura à criminalidade confessa.
Ouve os gemidos de
amargura suprema dos pais amorosos que entregam os rebentos, do próprio sangue
no hospital, para que lhes seja amputado esse ou aquele membro do corpo, a fim
de que a moléstia corruptora, a que fizeram jus pelos erros do passado, não
lhes abrevie a existência.
Escuta as esposas
abnegadas, quando compelidas a concordarem chorando com os suplícios do cárcere
para os companheiros queridos, evitando –se -lhes a queda, em fossas mais
profundas de delinquência.
Perquire o
pensamento dos filhos afetuosos, ao carregarem, esmagados de dor, os pais
endividados em doenças infecto –contagiosas, na direção.
o das casas de isolamento, a fim de que não se convertam
em perigo para a comunidade.
Todos eles trocam
as frases de as frases de carinho e os dedos veludosos pelas palavras e pelas
mãos de guardas e enfermeiros, algumas vezes desapiedados e frios, embora
continuem mentalmente jungidos aos seres que mais amam, orando e trabalhando
para que lhes retornem ao seio.
Quando vejas
alguém submetido aos mais duros entraves, não suponhas que esse alguém
permaneça no olvido, por parte dos benfeitores espirituais que lhe seguem a
marcha.
O amor brilha e
paira sobre todas as dificuldades, à maneira do sol que paira e brilha sobre
todas as nuvens.
Ao invés de
revolta e desalento, oferece paz e esperança ao companheiro que chora, para
que, à frente de todo mal, todo o bem prevaleça.
Isso porque onde
existem almas sinceras, à procura do bem, o sofrimento é sempre o remédio justo
da vida para que, junto delas, não suceda o pior.
Emmanuel - livro:
O Livro da Esperança - Psicografado por FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
RENASCER E REMORRER
Usufruímos na Espiritualidade o continente sem limites de
onde viemos; no Universo Físico, o mar sem praias em que navegamos de quando em
quando, e, na Vida Eterna, o abismo sem fundo em que desfrutamos as
magnificências divinas.
No trajeto multimilenário de nossas experiências,
aprendemos, entre sucessivos transes de nascimento e desencarnação, a alegria
de viver, descobrindo e reconhecendo a necessidade e a compensação do
sofrimento, sempre forjado por nossas próprias faltas.
Já renascemos e remorremos milhões de vezes, contraindo e
saldando obrigações, assinalando a excelsitude da Providência e o valor
inapreciável da humildade, para saber, enfim, que toda revolta humana é absurda
e impotente.
Se as lutas do burilamento moral não têm unidade de
medida, a ação do amor é infinita na solução de todos os problemas e na
medicação de todas as dores.
Tolera com paciência as inevitáveis, mas breves provas de
agora, para que te rejubiles depois.
Nos compromissos espirituais, todos encontramos
solvibilidade através do esforço próprio, aproveitemos a bênção da dor na
amortização dos débitos seculares que nos ferreteiam as almas, perseverando
resignadamente no posto de sentinelas do bem, até que o Senhor mande render-nos
com a transformação pela morte.
Sempre trazemos dívidas de lágrimas uns para com os
outros.
Vive, assim, em paz com todos, principalmente junto aos
irmãos com os quais a tua vida se entrecomunica a cada instante, legando, por
testamento e fortuna, atos de amor e exemplos de fé, no fortalecimento dos
espíritos de amigos e descendentes.
Se há facilidade para remorrer, há dificuldades para
renascer. As portas dos cemitérios jamais se fecham; contudo, as portas da
reencarnação só se abrem com a senha do mérito haurido nas edificações
incessantes da caridade.
As dores iguais criam os ideais semelhantes.
Auxiliemo-nos mutuamente.
O Evangelho - o livro luz da evolução - é o nosso apoio.
Busquemos a Jesus, lembrando-nos de que o lamento maior, o desesperado clamor
dos clamores, que poderia ter partido de seus lábios, na potência de mil ecos
dolorosos, jamais chegou a existir.
Lins de Vasconcelos – livro: O Espírito da Verdade.
Psicografia de Waldo Vieira.
AMOR ONIPOTENTE
Na hora atribulada de crise, em que as circunstâncias te
prostraram a alma na provação, muitos acreditaram que não mais te levantarias,
no entanto quando as trevas se adensavam, em torno, descobriste ignoto clarão
que te impeliu à trilha da esperança, laureada de sol.
Na cela da enfermidade, muitos admitiram que nada mais te
faltava senão aceitar o lance da morte, contudo, nos instantes extremos, mãos
intangíveis te afagaram as células fatigadas, renovando-lhes o calor, para que
não deixasses em meio o serviço que te assinala a presença na Terra.
No clima da tentação, muitos concordaram em que apenas te
restava a decadência definitiva, todavia, nos derradeiros centímetros da margem
barrenta que te inclinava ao despenhadeiro, manifestou-se em braço oculto que
te deteve.
Na vala da queda a que te arrojaste, irrefletidamente,
muitos te julgaram para sempre em desprezo público, entretanto, ao respirares,
no cairel da loucura, recolheste íntimo apoio, que te guardou o coração,
refazendo-te a vida.
Na tapera da solidão a que te relegaram os entes mais
queridos, muitos te supuseram em supremo abandono, mas no último sorvo do
pranto que te parecia inestancável, experimentaste inexplicável arrimo,
induzindo-te a buscar outros afetos que passaram a enobrecer-te.
No turbilhão das dificuldades que te envolvam o dia,
pensa em Deus, o Amor Onipresente, que não nos desampara.
Por mais aflitiva seja a dor, trará Ele bálsamo que
consola; por mais obscuro o problema, dará caminho certo à justa solução.
Ainda assim, não te afoites em personalizá-lo ou
defini-lo. Baste-nos a palavra de Jesus que nô-lo revelou como sendo Nosso Pai.
Sobretudo, não te importe se alguém lhe nega a existência
enquanto se lhe abrilhantam as palavras nas aparências do mundo, quando pudeste
encontrá-lo, dentro do coração, nos momentos de angústia.
É natural seja assim. Quando a noite aparece, é que os
olhos dos homens conseguem divisar o esplendor das estrelas.
Opinião Espírita,
de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, pelos Espíritos Emmanuel e André
Luiz
A ARTE DA
ACEITAÇÃO
“O homem pode abrandar
ou aumentar a amargura das suas provas pela maneira que encara a vida
terrestre...”
“... contentar-se
com sua posição sem invejar a dos
Outros, de atenuar a impressão moral dos reveses e das decepções
que experimenta; ele haure nisso uma calma e uma resignação...” (Capítulo 5,
item 13.)
Aceitar nossa
realidade tal qual é representa um ato benéfico em nossa vida. Aceitação traz paz
e lucidez mental, o que nos permite visualizar o ponto principal da partida e
realizar satisfatoriamente nossa transformação interior.
Só conseguimos modificar
aquilo que admitimos e que vemos claramente em nós mesmos, isto é, se nos imaginarmos
outra pessoa, vivendo em outro ambiente, não teremos um bom contato com o
presente e, consequentemente, não depararemos com a realidade.
A propósito,
muitos de nós fantasiamos o que poderíamos ser, não convivendo, porém, com
nossa pessoa real. Desgastamos dessa forma uma enorme energia, por carregarmos
constantemente uma série de máscaras como se fossem utilitários permanentes.
A atitude de
aceitação é quase sempre característica dos adultos serenos, firmes e equilibrados,
à qual se soma o estímulo que possuem de senso de justiça, pois enxergam a vida
através do prisma da eternidade. Esses indivíduos retêm um considerável “coeficiente
evolutivo”, do qual se deduz que já possuem um potencial de aceitação, porquanto
aprenderam a respeitar os mecanismos da vida, acumulando pacificamente as
experiências necessárias a seu amadurecimento e desenvolvimento espiritual.
Quando não enfrentamos os fatos existenciais com plena aceitação,
criamos quase sempre uma estrutura mental de defesa.
Somos levados a reagir com “atitudes de negação”, que são
em verdade molas que abrandam os golpes contra nossa alma. São consideradas fenômeno
psicológico de “reação natural e instintiva” às dores, conflitos, mudanças,
perdas e deserções e que, por algum tempo, nos alivia dos abalos da vida, até
que possamos reunir mais forças, para enfrentá-los e aceitá-los verdadeiramente
no futuro.
Não negamos por ser turrões ou teimosos, como pensam alguns;
não estamos nem mesmo mentindo a nós próprios. Aliás, “negar não é mentir”, mas
não se permitir “tomar consciência” da realidade.
Talvez esse mecanismo de defesa nos sirva durante algum tempo;
depois passa a nos impedir o crescimento e a nos danificar profundamente os
anseios de elevação e progresso.
Auto-aceitação é aceitar o que somos e como somos. Não a confundamos
como uma “rendição conformada”, e que nada mais importa. De fato, acontece que,
ao aceitar-nos, inicia-se o fim da nossa rivalidade com nós mesmos. A partir
disso, ficamos do lado da nossa realidade em vez de combatê-la.
Diz o texto: “O homem pode abrandar ou aumentar a amargura
das suas provas pela maneira que encara a vida terrestre”.
Aceitação é bem uma maneira nova de “encarar” as circunstâncias
da vida, para que a “força do progresso” encontre espaços e não mais limites na
alma até então restrita, pois a “vida terrestre” nada mais é do que o relacionar-se
consigo mesmo e com os outros no contexto social em que se vive.
Aceitar-se é ouvir calmamente as sugestões do mundo, prestando
atenção nos “donos da verdade” e admitindo o modo de ser dos outros, mas
permanecer respeitando a nós mesmos, sendo o que realmente somos e fazendo o
que achamos adequado para nós próprios.
Em vista disso, concluímos que aceitação não é adaptar-se
a um modo conformista e triste de como tudo vem acontecendo, nem suportar e
permitir qualquer tipo de desrespeito ou abuso à nossa pessoa; antes, é ter a
habilidade necessária para admitir realidades, avaliar acontecimentos e promover
mudanças, solucionando assim os conflitos existenciais. E sempre caminhar com
autonomia para poder atingir os objetivos pretendidos.
Hammed – livro: Renovando Atitudes
PEDAGOGIA DA FELICIDADE
"O homem pode suavizar ou aumentar o amargor de suas
provas, conforme o modo por que encare a vida terrena."
O Evangelho Segundo o Espiritismo - capítulo V - ítem 13
Nunca a humanidade mendigou tanta atenção e afeto. Uma
crise de auto desvalor, sem precedentes, assola multidões. O sentimento de indignidade
é o piso emocional das feridas seculares que causam a sensação de inferioridade,
abandono e falência. Não se sentindo amadas, almas sem conta não conseguem
superar os dramas da rejeição e os tormentos da solidão. Optam pela falência não
assumida. Uma existência sem sentido, vazia de significados, sem metas; a
caminho da derrocada moral e espiritual.
Somente o tratamento lento e perseverante de tecer o
manto protetor da segurança íntima, utilizando o fio do auto-amor, poderá renovar
essa condição interior do ser humano.
Agrilhoado pela ilusão do menor esforço, o homem busca a
ilusão como sinônimo de paz. Anseia-se pela felicidade como se tal estado de
alma pudesse ser fruto da aquisição de facilidades e privilégios.
Contudo, a felicidade é uma conquista que se faz através
da educação de si mesmo.
Buscá-la no exterior é dar prosseguimento a uma procura
recheada de decepções e dor.
Educar para ser feliz é dar sentido à existência. O homem
contemporâneo padece a doença do sentido. O vazio existencial é o corrosivo de
seu mundo íntimo.
Reflitamos! Como a doutrina pode nos ajudar a construir
sentido para a existência?
Que passos dar para estabelecer significado educativo ao
nosso sofrimento?
O Doutor Viktor E. Frank foi um homem extraordinário.
Viveu a dor dos campos de concentração nazistas e sobreviveu, graças à sua habilidade
em gestar um sentimento para sua dor em plena provação. Criador da logoterapia,
Viktor Frankl auxiliou multidões a ter uma vida mais digna e promissora. Em sua
obra prima ele afirmou:
"Quando um homem descobre que seu destino lhe reservou
um sofrimento, tem que ver neste sofrimento também uma tarefa sua, única e original.
Mesmo diante do sofrimento, a pessoa precisa conquistar a consciência de que ela
é única e exclusiva em todo o cosmo dentro desse destino sofrido. Ninguém pode
dela o destino, e ninguém pode substituir a pessoa no sofrimento. Mas na
maneira como ela própria suporta este sofrimento está também a possibilidade de
uma realização única e singular." (Em Busca de Sentido - página 76 -
Perguntar pelo Sentido da Vida - editora Vozes)
A primeira condição para se estabelecer um sentido à vida
é o exercício da singularidade. Descobrir seus próprios caminhos, lutar por
seus sonhos, celebrar sua diversidade aceitando suas particularidades,
participar da vida como se é, sentir o gosto de se desligar de uma vida
centrada no ideal e realizar-se no real.
A vida em si mesma não tem sentido, algo que se possa
definir através de padrões ou princípios filosóficos. Esse sentido é construído
pelas percepções individuais sob as lentes da singularidade humana que, a
partir de diretrizes gerais, capacita-se a seguir sua "rota
intuitiva" na direção da perfeição.
"O homem pode suavizar ou aumentar o amargor de suas
provas, conforme o modo por que encare a vida terrena." O modo de encarar
ou perceber a vida terrena é a leitura pessoal de ser no mundo.
A felicidade resulta da habilidade de consolidar esse
sentido a partir do "olhar de impermanência". O enfoque de
transitoriedade e do desprendimento.
Quase sempre sentimo-nos mais seguros adotando o parecer
da maioria, um sentimento natural até certa etapa da jornada de crescimento. Chegará,
porém, o instante em que a vida convidar-nos-á ao processo inevitável das
descobertas singulares. Isto não significa estar alheio à convivência, ao processo
de interação grupal. É apenas ter mais consciência do que convém ou não ao
desenvolvimento individual na interação social.
Nas nossas frentes de serviços doutrinários somos
convocados a urgente autoavaliação nesse tema para erguimento da felicidade
pessoal. Com um movimento acentuadamente dirigido para a "coletivização",
a uniformidade de conceitos e práticas escasseia o estímulo ou a aceitação para
a diversidade. Nesse contexto, frequentemente, ideias criativas e condutas
diferentes são acolhidas com desdém, esfriam relações e ensejam a indiferença.
São tachadas de personalismo e vaidade. Mais uma razão para tecer o auto-amor e
investigar a forma pessoal de caminhar.
Personalismo ou singularidade? Individualismo ou
individuação? Em quais experiências nos enquadramos?
Sem medo do individualismo, que é muito diferente da
individuação, é imperioso aprendermos a investigar o coração em busca do
"mapa singular" do Pai à nossa jornada de aprimoramento. Quem se ama
vive a maravilhosa experiência de sentir brotar em sua alma, espontaneamente, uma
cumplicidade poderosa com a vida, o próximo e a
Obra Divina. Quanto mais amor a quem somos, mais amamos a
vida. O sentimento da existência está no ato d e percebermos o que significamos
na Obra Paternal.
O segundo ponto essencial na construção do sentido é
desenvolver a habilidade de superar o sofrimento. O prazer de viver surge quando,
efetivamente entendemos as razões de nossas dores e como superá-las. Sofrer e não
saber o que fazer para sair dessa "roda de dores": nisso consiste o
carma, a "roda da vida". Possuir valores e não saber como utilizá-los
para o bem: nisso reside o carma sutil da nobreza das intenções em conflito com
a conduta que adotamos.
Quando desenvolvemos a arte de abrir o cadeado de nossas
mazelas, soltamo-nos para novas vivências. Desprendemos das velhas amarras mentais,
os complexos afetivos, dos condicionamentos. Quando aprendemos a lidar com
nossos valores, a vida se plenifica.
A dor existe para incitar a inteligência na descoberta de
soluções em nós mesmos. A grande lição nesse passo é descobrir as causas das aflições.
O sentido da existência não está fora, mas dentro de nós. Podemos compartilhá-lo
com o outro, entretanto, ele não depende do outro.
Como temos dificuldade em assumir a nossa fragilidade!
Quanta dificuldade demonstramos para admitir nossa falibilidade! Sentimo-nos
pequenos, incompetentes ao nos depararmos com as batalhas não vencidas ou com
as imperfeições não superadas, agravando ainda mais as provações. "O homem
pode suavizar ou aumentar o amargor
de suas provas, (...)"
Fénelon Assinala: "Que de tormentos, ao contrário,
se poupa aquele que sabe contentar-se com o que tem, que nota sem inveja o que
não possui, que não procura parecer mais do que é." (O Evangelho Segundo o
Espiritismo - capítulo V - ítem 23)
Ser feliz é contentar-se com o que se é sem que isso signifique
estacionar. É o amor a si. A frase de Fénelon é uma autêntica proposta de paz
interior. Contente, sem inveja e feliz com o que se é. Quem pode querer mais?
Portanto, nisto resume-se a consolidação do sentido da
vida:
1) Saber quem somos, o que a vida espera de nós, a missão
particular, única e intransferível. É o exercício da singularidade.
2) 2) Zelar pela manutenção desse processo de individuação
através da superação das mensagens inconscientes do desvalor e incapacidade,
diante de nossos sofrimentos, integrando-as ao self translúcido, que se
encontra o nosso inteiro dispor.
Uma pedagogia de felicidade deve assentar-se no auto-amor
em busca do self reluzente. Desenvolver as habilidades da "inteligência
espiritual", tais como autoconsciência, resiliência, visão holística,
alteridade, autoconfiança, curiosidade, criatividade, disciplina no adiamento
das gratificações, sensibilidade, compaixão, naturalidade.
Eis alguns caminhos da pedagogia para a sanidade humana
que poderão ser experimentados pelas nossas agremiações de amor em seus
programas de consolo e esclarecimento:
Exercer dinâmicas de autoconhecimento.
Compreender os mecanismos punitivos da culpa e como
superá-los.
Desenvolver técnicas de sensibilidade do afeto.
Fazer o uso dos recursos psicoterapêuticos bem orientados
pelos mentores espirituais.
Meditar.
Orar.
Implantação de pequenos círculos de diálogo sobre valores
humanos.
Participar de atividades de cooperação social, criando
espaço para estudar os sentimentos decorrentes dessa prática.
Cultivar a crença de que todos somos dignos da Bondade
Celeste em quaisquer circunstâncias.
Desenvolver a autonomia.
Quem ama a si mesmo sente-se rico. É excelente companhia
para si mesmo.
Descobriu seu valor pessoal na Obra da Criação e tem
consciência plena da Bondade do Pai em favor de sua caminhada individual. Todas
essas sensações, é bom destacar, operam-se no reinado do coração, são
sentimentos e não formas de pensar. Nisso reside o sentimento de merecimento
ou, como costumamos nomear, a maior conquista
espiritual para ser feliz. Não foi fruto de instrução, mas
serviço de renovação efetiva nas matrizes da vida mental profunda, nas
"células afetivas".
Quem se ama dispensa a imponência das máscaras. É feliz
por ser quem é. Aprendeu que "Dele, porém, depende a suavização de seus
males e o ser tão feliz quanto possível na Terra." (O Livro dos Espíritos
- Questão 920)
Ermance Dufaux - Livro: Escutando os Sentimentos
QUEIXAS DE INSEGURANÇA
A nossa reunião se formava, em grande parte, de amigos
procedentes de outros campos de idéias, apenas simpatizantes, em maioria, da
Doutrina Espírita. E quase todos a se queixarem de insegurança. Muitos
apresentavam problemas de desarmonia doméstica, desajustes psicológicos,
temores e angústias. Alguns traziam familiares recentemente saídos de
sanatórios e outros se mostravam em profundo desânimo, com a perda, por
desencarnação, de pessoas amadas.
O Evangelho Segundo o Espiritismo ofereceu-nos o item 13
do seu capítulo V. E depois dos comentários habituais sobre a leitura, nosso
caro Emmanuel escreveu a página "Dispositivos de Segurança".
Francisco Cândido Xavier
DISPOSITIVOS DE
SEGURANÇA
Procuras segurança e paz.
Preservando, porém, o próprio equilíbrio, não deixes de
auxiliar-te, proporcionando aos outros auxílio que podes doar de ti mesmo.
Nunca te admitas em tamanho cansaço que não possas
trabalhar, um tanto mais, em benefício daqueles que te compartilham a vida.
Irradia compreensão e serenidade, nobres palavras e
notícias edificantes.
Onde te sintas com o direito de reclamar, ao invés disso,
busca extinguir os obstáculos existentes, para que os problemas e conflitos se
façam diminuídos ou superados.
Se algo deves esclarecer em determinada situação
nebulosa, aguarda o momento justo, em que te expliques sem o fogo da discussão.
Nas áreas de atrito, nas quais te envolvas, quanto se te
faça possível, transfigura-te na escora da harmonização, imunizando a ti mesmo
e aos demais contra discórdia e ressentimento.
Coloca vida e alegria nas menores manifestações, seja num
simples sorriso ou num aperto de mão.
Cultiva o hábito de servir sempre, fazendo o melhor na
faixa de experiência em que te vejas.
E mesmo que a desencarnação de um ente amado te ensombre
o mundo íntimo, quanto puderes, converte a saudade em oração de esperança
porque a dor não apenas te desgasta o coração, mas espanca igualmente a
criatura querida, conduzida a outras dimensões.
Aflição habitualmente se define por excesso de carga
inútil – nos mecanismos de nossas resistências, determinando o curto-circuito
em nossas melhores forças.
O equilíbrio geral é a soma do esforço conjugado de
quantos lhe desfrutam as vantagens e os benefícios.
Doemos a cooperação que os outros esperam de nós, na
garantia do sistema de segurança e paz, em que se nos levantam os alicerces da
felicidade comum e guardemos a certeza de que a nossa omissão será sempre um
ponto de ruptura em nós mesmos, agravando as nossas próprias inquietações.
Emmanuel
Livro: Caminhos de Volta - Psicografia: Francisco C.
Xavier - Espíritos diversos
RESIGNAÇÃO E
INDIFERENÇA
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,
porque serão fartos.” (Mateus, V, 6.)
Bem-aventurados os que se revoltam contra a injustiça,
mas são resignados e calmos.
Ai dos indiferentes, dos acomodatícios, dos covardes, dos
servis, que em proveito próprio aplaudem a injustiça!
Há muita diferença entre a resignação e a indiferença.
A resignação é a conformidade ativa nos inevitáveis
acontecimentos da vida.
A indiferença é a submissão passiva às injustiças deprimentes.
A resignação é cheia de amor, de sentimentos nobres, de
elevadas paixões.
A indiferença nulifica o amor, aniquila a nobreza d’alma,
destrói as virtudes e deprime a moral.
A resignação nas provas é obediência aos decretos de
Deus.
A indiferença nos sofrimentos é dureza de coração e
ausência de submissão à vontade divina.
O resignado é santo, porque a resignação nasce da
paciência, e a paciência é filha dileta da Caridade. O indiferente é um anormal:
tem cérebro e não pensa; tem coração e não sente; tem alma e não ama.
O resignado não aparenta sofrimento, porque conhece a Lei
de Deus e a ela se submete com humildade.
O indiferente também não mostra sentir a dor, mas,
orgulhoso e alheio aos ditames celestes, repele de si a idéia do sofrimento.
A resignação é excelente virtude, que precisamos
cultivar; a indiferença é manifestação do egoísmo, que precisamos extirpar.
A resignação é a coragem da virtude.
A indiferença é a covardia da paixão vil.
Aquela eleva, dignifica, enaltece, santifica.
Esta deprime, desmoraliza, deprava e mata.
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,
porque serão fartos.”
Bem-aventurados os que não se submetem às injustiças da
Terra, nem pactuam com os opressores, os vis turibulários das altas posições!
CAIRBAR SCHUTEL – PARÁBOLAS E ENSINOS DE JESUS
A HISTÓRIA DE
PAULINHO
Paulinho, um menino de 7 anos, pensava que viver com sua
família era muito chato. E consigo pensava:
Mamãe está sempre pedindo para eu guardar a roupa e os
sapatos; papai não para de dizer que é
importante estudar; minha irmã mais velha está sempre a me chamar para fazer a
tarefa escolar; meus irmãos querem jogar bola e eu só gosto de brincar com a
pipa. Acho melhor viver sozinho. Vou-me embora desta casa! Só assim posso fazer
o que eu quero, na hora que eu quiser.
Assim, Paulinho fez a sua trouxa – uma camisa e uma calça
– e resolveu procurar um local para viver sozinho.
O menino chegou à cozinha e disse para sua mãe:
– Vou embora, quero viver sozinho.
– Filho, viver sozinho não é fácil!… disse a mamãe.
– Não se preocupe, mamãe, vou saber como me cuidar.
Adeus!
A mãe deixou que ele fosse, pois só assim ele entenderia
como é importante ter uma família e além disso, ela sabia que antes do
anoitecer ele estaria de volta.
Paulinho começou a andar… andar em busca de um local para
ficar, mas nenhum lhe parecia confortável. Mesmo assim ele continuou
procurando.
Depois de muito andar, começou a sentir fome. Lembrou-se
do leite quentinho e do pão que sua mãe lhe oferecia pela manhã.
Mas dizia consigo mesmo:
– Vou encontrar meu lugar… e andou… andou.
De repente, tropeçou em uma pedra e machucou os joelhos.
Quis chorar, mas lembrou que estava sozinho e não tinha
ali o papai para cuidar do seu ferimento. Mas,
mesmo com fome e os joelhos machucados, achava que poderia morar
sozinho, longe de todos.
Andou mais um pouco e avistou meninos brincando.
Aproximou-se e perguntou:
– Posso brincar com vocês?
Os meninos pareciam não enxerga-lo, pois sequer
responderam à sua pergunta. Paulinho, nesse momento, lembrou-se dos irmãos que
o tratavam com carinho e até faziam pipas coloridas para ele brincar. Sentado
numa pedra, sentiu sede, lembrou-se então, de sua irmã, pois ela quem lhe dava
água fresquinha quando tinha sede. Precisava fazer algo!
Avistou uma casa e resolveu ir até lá pedir um copo
d’água. Bateu palmas…
Uma senhora veio atendê-lo.
– O que você quer, menino? Perguntou-lhe.
– Pode me dar um copo d’água, por favor?
A senhora chegou bem perto de Paulinho, para observá-lo
melhor e disse:
– Pobre menino, tão novo e sem família! Você vive nas
ruas? Perguntou curiosa.
Paulinho não soube responder.
Gaguejou… gaguejou, mas não sabia o que falar, pois ele
não queria viver nas ruas, já que tinha uma família.
De seus olhos começaram a escorrer duas lágrimas, que
anunciavam o desejo de voltar para casa e a saudade de seus familiares.
Nesse momento, notou que a noite se aproximava, e além da
fome e da dor nos joelhos machucados, sentiu medo de passa-la sozinho, ao
relento.
Num grande esforço, andou… andou bem depressa… até
alcançar sua casa.
Lá chegando, surpreendeu a todos, quando os abraçou e
disse:
– Este é o melhor lugar para se morar e esta é a melhor
família!…
Depois, foi tomar banho, vestir roupas limpas, cuidar dos
joelhos machucados e saborear a deliciosa sopa que mamãe acabara de servir.
Paulinho não cansava de repetir:
– Como é boa a nossa casa! Como é boa a nossa família!
ACEITA A CORREÇÃO
"E, na verdade, toda correção, no presente, não
parece ser de gozo, senão de tristeza, mas, depois, produz um fruto pacífico de
justiça nos exercitados por ela." Paulo (Hebreus, 12:11)
A terra, sob a pressão do arado, rasga-se e dilacera-se,
no entanto, a breve tempo, de suas leiras retificadas brotam flores e frutos
deliciosos.
A árvore, em regime de poda, perde vastas reservas de
seiva, desnutrindo se e afeando-se, todavia, em semanas rápidas, cobre-se de
nova robustez, habilitando-se à beleza e à fartura.
A água humilde abandona o aconchego da fonte, sofre os
impositivos do movimento, alcança o grande rio e, depois, partilha a grandeza
do mar.
Qual ocorre na esfera simples da Natureza, acontece no
reino complexo da alma.
A corrigenda é sempre rude, desagradável, amargurosa mas,
naqueles que lhe aceitam a luz, resulta sempre em frutos abençoados de
experiência, conhecimento, compreensão e justiça.
A terra, a árvore e a água suportam-na, através de
constrangimento, mas o Homem, campeão da inteligência no Planeta, é livre para
recebê-la e ambientá-la no próprio coração.
O problema da felicidade pessoal, por isso mesmo, nunca
será resolvido pela fuga ao processo reparador.
Exterioriza-se a correção celeste em todos os ângulos da
Terra.
Raros, contudo, lhe aceitam a bênção, porque semelhante
dádiva, na maior parte das vezes, não chega envolvida em arminho, e, quando
levada aos lábios, não se assemelha a saboroso confeito. Surge, revestida de
acúleos ou misturada de fel, à guisa de remédio curativo e salutar.
Não percas, portanto, a tua preciosa oportunidade de
aperfeiçoamento.
A dor e o obstáculo, o trabalho e a luta são recursos de
sublimação que nos compete aproveitar.
XAVIER, Francisco Cândido. Fonte Viva. Pelo Espírito
Emmanuel.
SEMENTEIRA E COLHEITA
Irmão X
Certo homem, enredado no vício da embriaguez, era
frequentemente visitado por generoso amigo espiritual que lhe amparava a
existência.
- Arrepende-te e recorre à Bondade Divina! – rogava o
benfeitor quando o alcóolatra se desprendia parcialmente do campo físico, nas
asas do sono. – Vale-te do tempo e não adies a própria renovação! Um corpo
terrestre é ferramenta preciosa com que a alma deve servir na oficina do
progresso. Não menosprezes as próprias forças!...
O infeliz acordava, impressionado. Rememorava as palavras
ouvidas, tentava mentalizar a formosura do enviado sublime e, intimamente,
formulava o propósito de regenerar-se.
Todavia, sobrevindo a noite, sucumbia de novo à tentação.
Embebedando-se, arrojava-se a longo período de inconsciência,
tornando ao relaxamento e à preguiça.
Borracho, empenhava-se tão-somente em afogar as melhores
oportunidades da vida em copinho sobre copinho.
Entretanto, logo surgia alguma faixa de consciência
naquela cabeça conturbada, o mensageiro requisitava-o, solícito, recomendando:
- Atende! Não fujas à responsabilidade. A passagem pela
Terra é valioso recurso para a ascensão de espírito... O tempo é um crédito de
que daremos conta! Apela para a compaixão do senhor! Modifica-te!
modifica-te!...
O mísero despertava na carne, lembrava a confortadora
entrevista e dispunha-se ao reajustamento preciso: no entanto, depois de
algumas horas, engodado pelos próprios desejos, caía novamente na zona escura.
Ébrio, demorava-se meses e meses na volúpia do
auto-esquecimento.
Contudo, sempre aparecia um instante de lucidez em que o
companheiro vigilante interferia.
Novo socorro do Céu, novas promessas de transformação e
nova queda espetacular.
Anos e anos foram desfiados no milagroso novelo do tempo,
quando o infortunado, de corpo gasto, se reconheceu enfermo e abatido.
A moléstia instalara-se, desapiedada, na fortaleza
orgânica, inclinando-lhe os passos para o desfiladeiro da morte.
Incapaz de soerguer-se, o doente orou, modificado.
Queria viver no mundo e, para isso, faria tudo por
recuperar-se.
Em breves segundos de afastamento do estragado veículo,
encontrou o divino mensageiro e, ajoelhando-se, comunicou:
- Anjo abnegado, transformei-me! sou outro homem... Estou
arrependido! Reconheço meus erros e tudo farei para redimir-me... Recorro à
piedade de nosso Pai Todo-Compassivo, de vez que pretendo alcançar o futuro na
feição do servidor desperto para as elevadas obrigações que a vida nos
conferiu...
O protetor abraçou-o, comovidamente, e, enxugando-lhe as
lágrimas, rejubilou-se, exclamando:
- Bem-aventurado sejas! Doravante, estarás liberto da
perniciosa influência que até agora te obscureceu a visão. Abençoado porvir
sorrirá ao teu destino. Rendamos graças a Deus!
O doente retomou o corpo, de coração aliviado, com a luz
da esperança a clarear-lhe a alma.
Mas os padecimentos orgânicos recrudesciam.
A assistência médica, aliada aos melhores recursos de
enfermagem, revelava insuficiência para subtrair-lhe o mal-estar.
Findos vários dias de angustiosa dor, entregou-se à prece
com sentida compunção e, amparado pelo benfeitor invisível, achou-se fora da
carne, em ligeiro momento de alívio.
- Anjo amigo – implorou -, acaso o Todo-Bondoso não se
compadece de mim? estou renovado!... alterei meus rumos! porque tamanhas
provas?
O guardião afagou-o, benevolente e esclareceu:
- Acalma-te! o sincero reconhecimento de nossas faltas é
força de limitação do mal em nós e fora de nós, qual medida que circunscreve o
raio de um incêndio, para extinguí-lo pouco a pouco, mas não opera reviravoltas
na Lei. O amor infinito de Deus nos descerra fulgurantes caminhos à própria
elevação; todavia, a justiça d’Ele determina venhamos a receber,
invariavelmente, segundo as nossas obras. Vale-te do perdão divino que, por
resposta do Senhor às tuas rogativas, é agora em tua alma anseio de reajuste e
com renovador, mas não olvides o dever de destruir os espinhos que ajuntaste. O
arrependimento não cura as afecções do fígado, assim como o remorso edificante
do homicida não remedeia a chaga aberta pelo golpe da lâmina insensata!...
Aproveita a enfermidade que te purifica o sentimento e usa a tolerância do Céu
como novo compromisso de trabalho em favor de ti mesmo!...
O doente desejou continuar ouvindo a palavra balsamizante
do amigo celeste... A carne enfermiça, porém, exigiu-lhe a volta.
Contudo, recompondo-se mentalmente no corpo fatigado,
embora gemesse sob a flagelação regeneradora, chorava e ria, feliz.
Livro Estante
da Vida – Pelo
Espírito “Irmão X” - Psicografia Francisco C. Xavier
EM AGONIA
"A certeza de um próximo futuro mais ditoso o
sustenta e anima e, longe de se queixar, agradece ao Céu as dores que o fazem
avançar. Contrariamente, para aquele que apenas vê a vida corpórea,
interminável lhe parece esta e a dor o oprime com todo o seu peso." O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO Capítulo 5º - Item 13.
Onde vás, onde te encontres, defrontarás a agonia.
Anseias pela paz, buscas segurança, no entanto és
surpreendido a cada instante pelo esboroar dos teus sonhos.
Programas elaborados por anos-a-fio, quando postos em
execução, não resistem aos testes mais humildes, e aflições sem nome te povoam
a casa mental, arruinando a esperança que anelavas.
Aspirações agasalhadas nas mãos da ternura se ensombram
de augúrios pessimistas, quando supõe chegado o momento de corporificá-las. Aqui
surpreendes o erro como língua de fogo purificador cremando a iniquidade do
pretérito.
Ali defrontas a ofensa transformada em chaga viva,
reparando a loucura ultriz de ontem.
Além encontras a desdita aguardando, qual lição
necessária, a bênção reparadora.
E concluis, ao fim, que a soma dos dias apresenta mais
inquietação do que serenidade. Ê que todos somos espíritos endividados com as
Leis Divinas em processos renovadores, pelo cadinho das reencarnações
sucessivas
Enquanto o espírito jornadeia na Terra, em programas
disciplinantes, não pode prever a experiência com que o amanhã lhe cobrará o
tributo da evolução.
Quantos, porém, possam atravessar as dificuldades com ô
coração dorido mas alçado ao amor, embora opresso, avançam na direção da
liberdade.
Não te revoltes com as rudes provações.
O que hoje te falta significa desperdício de ontem.
O de que tens necessidade, malbarataste.
A limitação que te oprime, corrige-te o excesso mal
aplicado.
O que te detém, detinhas.
Alonga os olhos na direção dos horizontes infinitos e
agradece a Deus a agonia que experimentas, mas em cuja trilha haurirás paz.
Reúne as forças da coragem e liga-te de todo o coração
aos heróis silenciosos que sofrem e trabalham infatigavelmente, seguindo com
eles em busca da verdadeira vida, porquanto ninguém há, na Terra, abastado ou
mendigo, que desfrute de paz integral, felicidade plena ou desgraça total, no
atual estado evolutivo. Apesar das dores que assinalas e das aflições que te
aprimoram, as Excelsas Mãos estão modelando em teu íntimo, para mais tarde, a
lira sublime que tangirás em harmoniosas vibrações, passado o estágio na
abençoada escola terrena de agonias.
FRANCO, Divaldo Pereira. Espírito e Vida. Pelo Espírito
Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 27.
RETORNO
Retornarás!
Por mais longos sejam os teus dias na Terra, durante a
abençoada jornada corpórea, dia luze em que retornarás à Pátria espiritual que
é o teu berço de origem e a sagrada morada onde permanecerás nas empresas do
porvir...
Medita!
Absorvida pela atmosfera, a linfa cantante flutua na
nuvem ligeira para retornar ao seio gentil da terra que a conduzirá logo mais
aos imensos lençois d’água do subsolo, que afloram em correnteza cantante, mais
além.
A semente exuberante enclausurada no fruto que balouça
nos dedos da árvore retorna ao âmago do solo generoso donde prevejo.
Também o homem.
Afastado do círculo donde procede em excursão de lazer ou
refazimento, de trabalho ou produtividade, de estudo ou repouso sente o chamado
longínquo dos amores da retaguarda, retornando logo para o labor em que as
emoções se renovam e as esperanças se realizam.
Muitos cantam a Pátria com o seu magnetismo e as suas
tradições, explicando as evocações e os impulsos heroicos dos homens, seus
sonhos de glória e suas lutas de sacrifício. Assim, também, a Pátria do
Espírito sempre presente nos painéis mentais como paisagens etéreas, porém
vivas, longínquas, no entanto latejantes, murmurejando salmodias, que se
transmudam, às vezes, em melancolias longas e tormentosas ou excitantes
expectativas que exaltam o ser a providências sublimantes...
Considera a lição necessária do retorno.
Como organizas equipagem, mimos e lembranças, arquivas
roteiros e assinalas fatos para futuras narrações e imediatos aprestos, prepara
a bagagem com apuro e justeza, demorando-te em vigília para quando chegue o
esperado momento da volta
Retornarás, sim! Vive, pois, de tal modo, na laboriosa
escola do corpo disciplinado e em equilíbrio, que facultem uma valiosa colheita
de bênçãos a se transformarem em luzeiro clarificante para o caminho espiritual
por onde retornarás.
"Nós sabemos que já passamos da morte para a vida".
1ª Epístola de João: capítulo 3º, versículo 14.
"Ao entrar no mundo dos Espíritos, o homem ainda
está como o operário que comparece no dia do pagamento. A uns dirá o Senhor:
"Aqui tens a paga dos teus dias de trabalho"; a outros, aos
venturosos da Terra, aos que hajam vivido na ociosidade, que tiverem feito
consistir a sua felicidade nas satisfações do amor próprio e nos gozos
mundanos: "Nada vos toca, pois que recebestes na Terra o vosso salário.
Ide e recomeçai a tarefa". Evangelho Segundo Espiritismo. Capítulo 5º -
Item 12, parágrafo 5.
FRANCO, Divaldo Pereira. Florações Evangélicas. Pelo
Espírito Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 20.
VALORES ÍNTIMOS
Muita gente julga ingênuo qualquer interesse pela
aquisição dos valores íntimos.
Supõe-se, de modo geral, que a bolsa farta e o celeiro
rico resolvem os problemas da vida.
Entretanto binômio corpo-alma reclama atenções idênticas,
tanto para um quanto para o outro.
Para a sustentação do corpo bastam as previsões
necessárias, na formação de recursos básicos de manutenção, como sejam o
tratamento conveniente das fontes, a alimentação balanceada, a roupa nas
condições precisas, o ambiente higiênico e a medicina segura.
Para isso, a evolução do comércio criou facilidades
ideais, desde o pequeno empório aos grandes supermercados em que se pode
adquirir qualquer recurso imprescindível à garantia da existência física.
Nos domínios da alma, porém, outros são os poderes
aquisitivos.
Ninguém compra paciência em pratos de balança, nem
encomenda compreensão aos metros.
Não fá financiamento que consiga efetuar leilões de paz e
nem existe fortuna suscetível de pagar a posse da felicidade, embora o dinheiro
seja sempre respeitável pelas condições de trabalho e reconforto que é capaz de
criar.
Observemos isso despretensiosamente, e atingiremos
considerações importantes.
As liberalidades do sexo não constroem o amor.
As máquinas ganham tempo, mas nem sempre oferecem
tranqüilidade e segurança.
As maravilhas do rádio e da televisão reúnem povos, de
imediato, no campo informativo, contudo, não irmanam os corações na
fraternidade, conquanto as criaturas, em maioria, estejam fatigadas de guerra e
ódio.
A ciência realiza prodígios, em benefício do próprio
corpo, mas nada pode fazer para erradicar o complexo de culpa na consciência do
homem, embora, em muitas ocasiões, possa transitoriamente dopá-la com agentes
químicos de efeito superficial.
Anotemos tudo isso e reconheçamos que para a estruturação
dos valores íntimos não existem câmbio ou sistema monetário, capazes de
favorecê-la, de vez que a edificação de semelhantes bênçãos no espírito nascem
da sublimação interior que é fruto do trabalho laborioso de cada um.
Emmanuel - Do
livro Momentos de Ouro. Psicografia de Frâncico Cândido Xavier.
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