14 – A calma e a resignação adquiridas na maneira de
encarar a vida terrena, e a fé no futuro, dão ao Espírito uma serenidade que é
o melhor preservativo da loucura e do suicídio. Com efeito, a maior parte dos
casos de loucura são provocados pelas vicissitudes que o homem não tem forças
de suportar. Se, portanto, graças à maneira por que o Espiritismo o faz encarar
as coisas mundanas, ele recebe com indiferença, e até mesmo com alegria, os
revezes e as decepções que em outras circunstâncias o levariam ao desespero, é
evidente que essa força, que o eleva acima dos acontecimentos, preserva a sua
razão dos abalos que o poderiam perturbar.
15 – O mesmo se dá com o suicídio. Se excetuarmos os que
se verificam por força da embriaguez e da loucura, e que podemos chamar de
inconscientes, é certo que, sejam quais forem os motivos particulares, a causa
geral é sempre o descontentamento. Ora, aquele que está certo de ser infeliz
apenas um dia, e de se encontrar melhor nos dias seguintes, facilmente adquire
paciência. Ele só se desespera se não ver um termo para os seus sofrimentos. E
o que é a vida humana, em relação à eternidade, senão bem menos que um dia? Mas
aquele que não crê na eternidade, que pensa tudo acabar com a vida, que se
deixa abater pelo desgosto e o infortúnio, só vê na morte o fim dos seus
pesares. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico mesmo, abreviar as suas
misérias pelo suicídio.
16 – A incredulidade, a simples dúvida quanto ao futuro,
as ideias materialistas, em uma palavra, são os maiores incentivadores do
suicídio: elas produzem a frouxidão moral. Quando vemos, pois, homens de
ciência, que se apoiam na autoridade do seu saber, esforçarem-se para provar
aos seus ouvintes ou aos seus leitores, que eles nada têm a esperar depois da
morte, não o vemos tentando convencê-los de que, se são infelizes, o melhor que
podem fazer é matar-se? Que poderiam dizer para afastá-los dessa ideia? Que
compensação poderão oferecer-lhes? Que esperanças poderão propor-lhes? Nada
além do nada! De onde é forçoso concluir que, se o nada é o único remédio
heróico, a única perspectiva possível, mais vale atirar-se logo a ele, do que
deixar para mais tarde, aumentando
A propagação das ideias materialistas é, portanto, o veneno
que inocula em muitos a ideia do suicídio, e os que se fazem seus apóstolos
assumem uma terrível responsabilidade. Com o Espiritismo, a dúvida não sendo
mais permitida, modifica-se a visão da vida. O crente sabe que a vida se
prolonga indefinidamente para além do túmulo, mas em condições inteiramente
novas. Daí a paciência e a resignação, que muito naturalmente afastam a ideia
do suicídio. Daí, numa palavra, a coragem moral.
17 – O Espiritismo tem ainda, a esse respeito, outro
resultado igualmente positivo, e talvez mais decisivo. Ele nos mostra os
próprios suicidas revelando a sua situação infeliz, e prova que ninguém pode
violar impunemente a lei de Deus, que proíbe ao homem abreviar a sua vida.
Entre os suicidas, o sofrimento temporário, em lugar do eterno, nem por isso é
menos terrível, e sua natureza dá o que pensar a quem quer que seja tentado a
deixar este mundo antes da ordem de Deus. O espírita tem, portanto, para opor à
idéia do suicídio, muitas razões: a certeza de uma vida futura, na qual ele
sabe que será tanto mais feliz quanto mais infeliz e mais resignado tiver sido
na Terra; a certeza de que, abreviando sua vida, chega a um resultado
inteiramente contrário ao que esperava; que foge de um mal para cair noutro
ainda pior, mais demorado e mais terrível; que se engana ao pensar que, ao se
matar, irá mais depressa para o céu; que o suicídio é um obstáculo à reunião,
no outro mundo, com as pessoas de sua afeição, que lá espera encontrar. De tudo
isso resulta que o suicídio, só lhe oferecendo decepções, é contrário aos seus
próprios interesses. Por isso, o número de suicídios que o Espiritismo impede é
considerável, e podemos concluir que, quando todos forem espíritas, não haverá
mais suicídios conscientes. Comparando, pois, os resultados das doutrinas
materialistas e espírita, sob o ponto de vista do suicídio, vemos que a lógica
de uma conduz a ele, enquanto a lógica de outra o evita, o que é confirmado
pela experiência.
TEXTOS DE APOIO
O PODER DA
RESIGNAÇÃO
"O homem pode suavizar ou aumentar o amargor de suas
provas conforme o modo por que encare a vida terrena.", O ESE, cap. V,
ítem 13
Quanto desespero e amargura, tristeza e desistência,
martírio e revolta, fantasia e aflição tem cultivado a esmagadora maioria dos
homens reencarnados, por não saberem construir sentidos espirituais elevados às
suas provações?
Qual conquista será maior para a alma na Terra do que a
compreensão sagrada dos objetivos de todos os reveses e experiências?
Somente quem saiba dar significado santificado a cada
lance de dor ou a cada benefício do-caminho pode aquilatar a importância dessa
vitória.
A forma de encarar a vida terrena, por isso mesmo,
deveria ser tema de urgente aprofundamento dos trabalhadores espíritas. Com
todo carinho e respeito, sugerimos aos nossos parceiros de ideal uma urgente
revisão de conceitos, quando afirmam imperativamente que o espírita possui uma
fé racional. Se assim o fosse, teríamos mais amplos vôos de conscientização e
comprometimento com a causa que abraçamos, e melhores reações perante os
testemunhos e sofrimentos diante da vida no corpo.
Temos ainda uma fé embrionária e sufocada por conceitos
ancestrais do religiosismo, com forte inclinação para o dogmatismo.
A fé racional se inicia quando passamos a encontrar no
campo mental alguns subsídios gestados na arte de meditar sobre nós mesmos.
Compreendendo melhor o que ocorre com a própria vida interior, capacitamo-nos
em maior escala para avaliar os desígnios divinos nas ocorrências que nos
cercam.
Outro traço marcante de que a fé racional começa a se
desenvolver em nossos sentimentos se dá quando começamos a abdicar de
colecionar certezas sobre a vida. Mais que nunca, na etapa evolutiva que
assinala nosso progresso, somos convocados a revisar, reciclar, analisar por
outro ângulo, repensar idéias, reavaliar métodos, renovar posturas perante
pessoas e fatos. Certeza instituída é, quase sempre, acesso à zona de conforto.
O momento de vida da Terra, a cada dia mais, nos convida
a aprender como conviver com as incertezas acerca de tudo à nossa volta. Uma
parte do sentimento de segurança vai surgir dessa forma de conduzir nossas
ações; e, então, as palavras controle, disciplina e planejamento serão usadas
dentro da ótica de relatividade constante. Quando necessário, a fim de que haja
dinamismo em nossos projetos de vida, seremos chamados a repensá-las.
Assim se expressou Allan Kardec sobre o assunto:
"A fé necessita de uma base, base que é a
inteligência perfeita daquilo em que se deve crer. E, para crer, não basta ver;
é preciso, sobretudo, compreender".7 O ESE, cap. XIX, ítem 7
A aquisição dessa fé conduz o Espírito ao estado de
resignação, que lhe permite a harmonia perante a dor e os testes existenciais.
Resignação é o conjunto de habilidades que nos
possibilitam uma visão otimista da vida, por meio de escolhas conscientes e de
uma conduta de autoamor; distante da postura de vítimas e do sentimentalismo.
Crenças sadias, capacidade de adiar gratificações pessoais e sentimento de
gratidão são as principais habilidades que conduzem o homem a ser resignado.
O homem que se contenta ante os desafios e
contrariedades, capacidade decorrente do hábito de se pensar sobre a vida, é
alguém dotado de uma força propulsora e calmante. Essa condição lhe permite
escolher com inteligência e equilíbrio a forma adequada de agir e reagir nas
turbulências, imprevistos e provas. Essa força realizadora, independentemente
das condições adversas, é o resultado do desapego de seus próprios conceitos, é
o espírito de prontidão da alma que sabe que a todo instante, na vida corporal,
estará sendo chamada a novos aprendizados que vão abalar suas certezas,
convocando-a a rever muitas de suas convicções.
Os resignados, por isso, possuem mais saúde e resistência
às dores da vida, são mais desprendidos e encontram sempre boas soluções para
seus trâmites provacionais. Possuem metas, mas sabem lhes dar cursos maleáveis,
conforme a necessidade. Sofrem, todavia procuram a utilidade sagrada do
sofrimento e dão significado e sentido educativo e libertador aos mais
dolorosos dramas. Dessa forma, podem experimentar o cansaço, a raiva, a perda,
a ansiedade, o medo, entretanto, jamais cruzam os braços e continuam firmes nas
aferições, sempre em busca das soluções. Essa é a chamada resignação ativa,
dinâmica, educativa, pródiga de resiliência.88. resiliência = capacidade de superar
adversidades aprendendo com elas; poder de superação; o termo vem de uma
propriedade da Física sobre a capacidade que os corpos têm de voltar à sua
forma original, depois de submetidos a um esforço intenso.
Bem diferente é aquele que entende resignação como
tolerar sofrimento em silêncio, chamado "aguentador da vida". Ele
aguenta a dor, resiste a ela, briga com ela, quando deveria se entender com
ela. Em verdade, eles obedecem aos imperativos da dor, razão pela qual
asseverou o Espírito Lázaro: "A obediência é o consentimento da razão; a
resignação é o consentimento do coração (...)"9 9. O evangelho segundo o
espiritismo, capítulo íx, item 8.Na obediência cumprimos o dever imposto pela
consciência, no amor vamos muito além e transformamos o dever em degrau de
ascensão nas profundezas do coração, livrando-nos do amargor e da crueza das
expiações.
Hoje, além das provas adicionais ou voluntárias, que
poderiam ser evitadas, temos de considerar o tema "ônus voluntário de
sofrimento nas provas necessárias", ou seja, o acréscimo dispensável de
dor pela ausência da resignação. Em razão do apego a coisas e pessoas, negócios
e pontos de vista, os testes humanos são ampliados pela forma rebelde de
reagir.
Cada problema de nossa vida tem objetivos bem definidos pela
Sábia Providência de Deus. Vivê-los sem entender esses fins é o mesmo que
sofrer por sofrer. Eis a razão da oportuna advertência de Lacordaire, quando
diz:
"Mas, ah! Poucos sofrem bem; poucos compreendem que
somente as provas bem suportadas podem conduzi-los ao reino de Deus. O desânimo
é uma falta. Deus vos recusa consolações, desde que vos falte coragem".
Ser resignado não significa viver sem sofrer, negando o
sofrimento. Essa atitude, quase sempre, é a recusa inconsciente dos
sentimentos, uma defesa perante as agressões da dor. Mecanismos defensivos que
aliviam a angústia de nosso sofrer. Contudo, os que verdadeiramente são
resignados vão mais além e colocam-se imunes à mágoa e à revolta em razão do
amplo poder de aceitação e compreensão decorrente da análise positiva que fazem
sobre suas experiências, valores e imperfeições.
Aldous Huxley afirmou: "Experiência não é o que
acontece a você. É o que você faz com o que acontece a você".
Sem dúvida, a resignação é o caminho para ser feliz,
porque felicidade é uma questão de construção íntima da visão iluminada sobre o
existir, e quem aprende a existir adquire a sabedoria de compreender e aceitar.
Ser resignado não significa viver sem sofrer, negando o
sofrimento. Sem dúvida, a resignação é o caminho para ser feliz, porque
felicidade é uma questão de construção íntima da visão iluminada sobre o
existir, e quem aprende a existir adquire a sabedoria de compreender e aceitar.
Ermance Dufaux – Livro: Prazer de Viver – cap 3
PSICOLOGIA DA
ALEGRIA NA TRANSFORMAÇÃO INTERIOR
"Ora, se encarando as coisas deste mundo da maneira
por que o Espiritismo faz que ele as considere, o homem recebe com indiferença,
mesmo com alegria, os reveses e as decepções que o houveram desesperado noutras
circunstâncias, evidente se torna que essa força, que o coloca acima dos
acontecimentos, lhe preserva de abalos a razão, os quais, se não fora isso, a
conturbariam."
O evangelho segundo o espiritismo, capítulo 5, item 14.
Alegria não é ausência de problemas ou a certeza de ter
todos os sonhos realizados. Essas definições estão conectadas com uma visão
materialista do mundo, que define o prazer e o bem-estar como satisfação plena
de interesses pessoais. Essa conduta é responsável pela cultura do menor
esforço, cuja proposta central é a eliminação do sofrimento, das frustrações e
das contrariedades da nossa vida, como se essa fosse a única condição para a conquista
da felicidade e da paz.
0 que não se percebe nessa ação de evitar a dor e os
dissabores é que a paixão por uma vida idealizada, sem tropeços ou desafios,
aumenta ainda mais o sofrimento através do medo que incendeia a mente com
acontecimentos infelizes e imaginários. Sem notar, a criatura se torna refém de
condições elaboradas pela vida mental a fim de permitir-se a alegria que
depende das circunstâncias e expectativas a respeito das pessoas que ama ou da
forma como os acontecimentos devem se desenrolar. Essas miragens exigem uma
enorme quantidade de energia para serem controladas de acordo com os modelos de
satisfação que foram idealizados.
Imaginar um modelo de felicidade para as pessoas que
amamos e para o modo como a vida deve acontecer causa sofreguidão e nos
distancia da realidade.
E nesse esforço sobre-humano para alcançar os modelos de
felicidade, a criatura se abandona para atender exigências ou suportar
situações que ela acredita serem necessárias para merecer algo melhor, gerando
frequentemente as mais amargas experiências de desamor, como a depressão, a
solidão, a mágoa, a inveja tóxica, o derrotismo e a revolta.
Alegria não é ausência de frustração. Alegria legítima
também pode florir no campo das frustrações e decepções da vida, sendo o lírio
que surge no pântano, exuberante, enriquecendo a paisagem de beleza e fulgor. A
alegria é aquela certeza interior que a criatura conquista depois de
desenvolver algumas habilidades afetivas na escola das provas diárias,
insculpindo uma reação consciente e lúcida diante das dores e desafios.
A gratidão, a resiliência, a compreensão e a serenidade
são algumas dessas habilidades que pavimentam o caminho de harmonia interior no
clima do humor sadio.
A alegria nos preenche, revitaliza e produz abundância
energética, levando-nos a agir com contínua resistência diante das dificuldades
e com reações mais saudáveis aos desapontamentos. É um sentimento que promove
naturalmente a leveza, a proteção espiritual e energética. Pessoas alegres se
imunizam das ondas vibratórias do pessimismo e da maldade. O clima emocional
dos que buscam o hábito de ser alegre forma uma couraça de energias
imunizadoras de autoamor.
Essa é também a emoção de quem tem conseguido um melhor
nível de aceitação da realidade. Aceitar é uma forma terapêutica de viver,
porque quem aceita vive com mais otimismo diante dos acontecimentos da vida.
Esse clima interior de acolhimento à realidade produz a resignação e evita
fixações nos aspectos sombrios da vida mental.
Diante dessas reflexões sobre a alegria, observemos a
relação deste tema com a reforma íntima.
Nosso lado sombrio não existe para ser eliminado, e sim
para ser transformado. A primeira condição para essa transformação é a construção
de uma convivência pacífica com nós mesmos e da expressão do acolhimento
amoroso a nós mesmos. O vetor emocional da alegria de se renovar é o amor.
Pessoas que se amam e que amam a vida sentem-se preenchidas, e quem se preenche
de amor só tem razões para se expressar em jubilo e prazer.
Diante da proposta libertadora da reforma íntima, quase
sempre assumimos uma atitude de desamor diante dos esforços nem sempre bem
sucedidos do nosso ideal de melhora, aprisionando-nos aos climas da culpa, da
mágoa, da raiva e da infelicidade, que frequentemente formam a atmosfera
psíquica do desânimo e do mau humor. É a psicologia do perfeccionismo.
A maioria de nós não foi preparada para acolher e ser
indulgente, nem para ter uma atitude amorosa com nossas imperfeições. Fomos
educados para cobrar e pensar que damos conta de ser quem gostaríamos de ser ou
quem achamos que deveríamos ser.
A ilusão da perfeição é uma doença severa e que nos
afasta da saudável alegria de ter o que aprender todos os dias. Sem essa
alegria, os nossos erros se transformam em fontes de remorso e martírio.
Não existe nada para aprender com o perfeccionismo.
Aceitação da realidade espiritual e ternura no trato com
nós mesmos são comportamentos que ainda estão bem distantes de muitos de nós e
que nos convidam a desenvolver limites mais toleráveis para atingirmos a
sanidade e a paz no coração.
Tomados desse desamor, caminhamos na reforma íntima como
se subíssemos uma ladeira íngreme carregando um peso desproporcional às nossas
forças. 0 resultado é o cansaço, a tristeza, a apatia e, por fim, em casos
diversos, a desistência dos ideais de renovação e melhora.
Reforma íntima com alegria é uma condição de quem decidiu
se aceitar, compreender-se e acolher-se com ternura e carinho. É uma postura de
autoamor legítimo que estimula, educa e cura.
Alegria não é ausência de dor e muito menos de deslizes
morais. A verdadeira alegria, ao contrário, é um sintoma claro de que seu
portador aprendeu a driblar a dor e a ter paciência construtiva com suas
imperfeições, de que seu portador aprendeu o sentido terapêutico das provas.
Reforma íntima com alegria é a escola de Jesus que
convida seus discípulos a ser alguém melhor, e não o melhor de todos. Na escola
do Mestre, os discípulos são convocados a acreditar que merecem também o
melhor. Seguir a Jesus é carregar sobre os ombros a cruz das dores necessárias
sem que isso signifique que teremos de sofrer indefinidamente com esse
movimento. A dor é necessária, o sofrimento é uma escolha. Jesus espera uma
atitude corajosa dos seus aprendizes diante das dores. A alegria pode ser uma
delas. Aliás, o Evangelho do Cristo é uma mensagem de alegria.
0 corpo de todos os seres humanos é construído com um DNA
da alegria, uma emoção básica da evolução humana. Buscá-la é um instinto
natural, pois essa é uma emoção estrutural, básica para a sanidade. Não fomos
criados para a tristeza, e nem mesmo os espíritos em dolorosas provas são
privados dessa condição orgânica, podendo ativar esse recurso quando desejarem
ou quando escolherem o caminho do autoaprimoramento em clima de celebração da
vida e do bem.
Como diz o trecho de apoio anterior: "[...] o homem
recebe com indiferença, mesmo com alegria, os reveses e as decepções que o
houveram desesperado noutras circunstâncias, [...]".
Uma atitude alegre diante das dificuldades da vida é o
termômetro mais fiel do quanto os conceitos doutrinários fizeram o percurso
vitorioso descendo dos raciocínios brilhantes, e muitas vezes estéreis, para o
coração, onde são gestadas as habilidades genuínas que promovem a libertação
consciencial do ser, por meio da aquisição de sublimes conquistas afetivas e
morais.
Ermance Dufaux – livro: Emoções que Curam
ANTE OS DESAJUSTES
ATUAIS
Como ajudar aos que não compreendem
Francisco Cândido
Xavier
Vários grupos de amigos e simpatizantes da Doutrina
Espírita nos honravam com sua presença e participação em nossa reunião
habitual. Antecedendo as tarefas programadas, o assunto central das
conversações era a necessidade de encontrarmos recursos que nos ajudem, na
atualidade, a aliviar ou socorrer os companheiros de humanidade que nos
procuram, tantos deles em desarmonia e sofrimento espiritual. Falávamos sobre
as problemas da obsessão, do desencanto, da descrença e do desequilíbrio,
quando a reunião foi iniciada. O Evangelho Segundo o Espiritismo nos ofereceu a
exame o item 14 do capítulo V, referente à loucura e ao suicídio. Diversos
comentaristas falaram sobre o tema. E o nosso Emmanuel nos deu a mensagem
Presidiários da Alma, que tornamos a liberdade de enviar-lhe, no desejo de
vê-la publicada com as suas elucidações doutrinárias.
PRESIDIÁRIOS DA ALMA
Quando os companheiros em aflição se aproximem de ti,
compadece-te deles, antes de ouvi-los.
Acolhe-os na condição de presidiários da alma, a
suportarem conflitos íntimos que talvez desconheças.
Prisioneiros do sofrimento: será essa designação
provavelmente a mais adequada para definir a condição dos que buscam socorro,
situados nas últimas raias da resistência ao desespero!...
*
Este enlaçou-se aos problemas da culpa quando se supunha
conquistando a felicidade e ignora como reaver a tranquilidade perdida; aquele
recusou a provação em que se redimiria e algemou-se a compromissos difíceis de
resgatar; outro desperdiçou força e tempo, caindo nas malhas do desgaste
orgânico que lhe exige cuidado e conformação; aquele outro tem o espírito
encadeado ao frio de um túmulo em que se lhe guardam as derradeiras lembranças
de um ente amado!...
Encontrarás os desencorajados e os tristes, os
encarcerados em desânimo e azedume e ainda aqueles outros que a rebeldia
trancafiou em celas de angústia, a te pedirem amparo e libertação!...
A nenhum desconsideres nem firas com advertências
inoportunas.
Recordemos que ninguém se arroja em vulcões de pranto
simplesmente porque o deseje.
Os que te cercam, implorando socorro, habitual-mente já
lutaram o bastante para se conscientizarem quanto à própria situação.
Constrói a ponte da misericórdia entre a fé que te
ilumina e a dor dos irmãos que te apresentam o co-ração ferido e dá-lhes o
braço salvador a fim de que se transfiram da treva para a luz.
Quantos se tresmalharam nas estradas do mundo, tantas
vezes ludibriados por eles mesmos, não precisam tanto da interferência baseada
em nossos recursos de austeridade e conhecimento.
Eles todos esperam de nós, acima de tudo, um gesto de
simpatia e urna bênção de amor. Emmanuel
A REBELIÃO DOS PEDINTES
Assistimos hoje, no mundo, à rebelião dos pedintes.
Milhões de criaturas que pediram reencarnações de provação, vindo à Terra para
descarregar suas consciências atormentadas, rebelam-se contra as condições que
elas mesmas solicitaram. Ao mergulhar no plano da matéria densa, em seus
escafandros carnais, esses espíritos sofredores reencontram o clima de suas
antigas paixões, de seus anseios frustrados, de suas ilusões desfeitas e
desejam repetir as tentativas do passado. Mas a verdade é que agora estão atrelados
ao carro das provas, com a finalidade de se libertarem dos anseios egoístas,
preparando-se para a civilização do altruísmo que já começa a alvorecer no
planeta.
Estamos numa hora de transição. Temos de deixar os nossos
erros no passado e avançar corajosamente para o futuro. Não é fácil alijar na
estrada o fardo das velhas pretensões. Por outro lado, a vida de hoje oferece
facilidades novas, perspectivas que no passado eram impossíveis e que agora
fazem renascer as tentações antigas com maior violência. São os juros da dívida
antiga, exigindo maior esforço dos devedores que, embriagados com a volta à
condição corporal, esquecem-se dos compromissos espirituais assumidos para essa
experiência.
Falta-lhes a capacidade de compreender de pronto a nova
situação. Não obstante, todos eles trazem no íntimo as advertências do plano
superior, prontas a brotar do inconsciente quando ajudados pelos companheiros
terrenos que possuem a mente iluminada pelos princípios renovadores do
Espiritismo. É por isso que procuram intuitivamente o socorro espírita. Mas, se
ao invés de compreensão encontrarem em nosso meio a rejeição e a reprimenda,
sentirão aumentar a revolta e o desespero que os afligem.
Daí a recomendação de Emmanuel no sentido de os
recebermos com atenção e carinho, compadecendo-nos deles, antes mesmo de
ouvi-los. Temos de ter compreensão para ajudar os que não compreendem. Se
formos capazes de amá-los, ao invés de censurá-los, poderemos dar-lhes a ajuda
que nos pedem. E o Alto secundará os nossos esforços de fraternidade.
Suportemos a galhofa, a ironia, a zombaria com que nos desafiam. Toleremos as
suas impertinências, como outros já nos toleraram. Encaremos todos eles como
irmãos que nos pedem amor, atenção e carinho, pois só assim os ajudaremos,
ajudando-nos a nós mesmos.
É claro que não devemos acolhê-los para incentivar-lhes o
apego às velhas paixões. Todos necessitamos – sem exceção – na vida terrena, de
apoio afetivo e corrigenda. A ação dupla do freio e da espora, como ensina
Lázaro, é que nos leva a saltar os obstáculos da prova.
A rebelião dos pedintes exige dos pais, dos educadores,
dos orientadores religiosos – e sobretudo dos espíritas – uma atitude de
permanente disponibilidade afetiva, de coração aberto, e ao mesmo tempo de
mente vigilante. Não podemos, por amor sem controle, auxiliá-los na rebelião.
Essa atitude não é fácil de ser mantida, pois os pedintes
rebeldes nos acusarão de crueldade e atraso, sempre que nos opusermos aos seus
abusos. E, terão ao seu lado familiares que os apóiam. Mas se tivermos amor em
nossos corações, venceremos, pois nosso amor despertará na consciência rebelada
a lembrança dos compromissos assumidos no mundo espiritual. Irmão Saulo
Do livro Diálogo dos Vivos. Espíritos Diversos. Psicografia
de Francisco Cândido Xavier e J. Herculano Pires.
IMPERATIVO DA
PACIÊNCIA
Provável que raros amigos pensem nisto: paciência por
imunização contra o suicídio.
Nas áreas da atividade humana, bastas vezes, surgem para
a criatura determinados topos de provação para cuja travessia, nem sempre
bastará o conhecimento superior. É necessário que a alma se apóie no bastão
invisível da paciência, a fim de não resvalar em sofri mentos maiores.
Eis porque nos permitimos endereçar reiterados apelos aos
irmãos domiciliados no Plano Físico a fim de que se dediquem ao coletivo da
compreensão.
Se te encontras sob o empato de conflitos domésticos,
ante aqueles que se façam campo de vibrações negativas, usa a tolerância,
quanto possível, em auxílio à segurança da equipe familiar a que te vinculas.
Nas decepções, sejam quais forem, reflete no valor da
ponderação em teu próprio benefício.
Diante de golpes que te sejam desfechados, esquece
injúrias e agravos e pensa nas oportunidades do trabalho que se te farão apoio
defensivo contra o desespero.
Sob acusações que reconhece imerecidas, olvida o mal e
não alimentes o fogo da discórdia.
Quando te falte atividade profissional, continua agindo,
tanto quanto puderes, nas tarefas de auxilio espontâneo aos outros, aprendendo
que atividade nobre atrai atividades nobres e, com isso, para breve, te
reconhecerás em novos posicionamentos de serviço, segundo as tuas necessidades.
Se o desânimo te ameaça por esse ou aquele motivo,
recorda a importância de teu concurso raptá-lo, em apoio de alguém, e não te
dês ao luxo de paradas improdutivas.
Em qualquer obstáculo a transpor no caminho, conserva a
paciência por escora e guia e, de pensamento confiante na Divina Providência,
seguirás adiante, afastando para longe a tentação da fuga e reconhecendo, em
tempo estreito, que há sempre um futuro melhor para cada um de nós e que, em
todas as tribulações da existência, vale a pena esperar pelo socorro de Deus.
Emmanuel - Do livro Atenção. Psicografia de Francisco
Candido Xavier.
MEDO
Esmagadora maioria das criaturas padece a rigorosa
constrição do medo. Adversário dos mais cruéis, o medo é responsável por
tragédias inomináveis que varrem a Terra em todas as direções, gerando clima
nefando de atrocidades de classificação muito complexa.
Sob o comando do medo, homens e mulheres se atiram a
dissipações venenosas, entregando-se a paulatino aniquilamento, do qual
dificilmente se libertam.
Jovens em todos os hemisférios do planeta sofrem na
atualidade os miasmas do medo, que os intoxicam, enlouquecendo-os de surpresa.
Não obstante as superiores conquistas do pensamento, as largas expressões da
comunicação os debates francos e livres, as liberdades dos costumes, as
realizações tecnológicas preciosas para o contexto humano, nos dias modernos,
falecem os ideais do enobrecimento e as linhas da sóbria razão, graças às
tenazes do medo dominante em todos os campos da ação.
A fuga espetacular dos deveres e os desregramentos
sexuais são portas falsas pelas quais enveredam as hodiernas comunidades
subitamente transformadas em manicômios de largas proporções, permitindo-se os
jovens, em razão disso, encontros periódicos e maciços para se sentirem uns aos
outros e, ao impacto da música selvagem como dos entorpecentes, esquecer,
sonhar, embalar aspirações para eles irrealizáveis na sociedade chamada de
consumo...
O medo de enfrentar problemas e solvê-los, como consequência
do falso paternalismo do passado, empurra as mentes novas a formas diversas de
expressão, muitas delas inspiradas por outras mentes desencarnadas que
intercambiam psiquicamente em clima obsidente de longo curso entre as duas
esferas: aquém e além da morte.
Alimentado ou esmagado nos painéis da alma, raramente
vencido nos combates face a face de cada dia, o mêdo se alonga e prossegue,
mesmo quando o espírito desencarna, permanecendo atado às reminiscências
infelizes, anestesiado pela hipnose do pavor.
Dizimando em largas faixas da experiência humana, o mêdo
não tem recebido o necessário investimento do estudo psicológico na Terra,
quanto às suas raízes, que se encontram cravadas nos recessos íntimos do
espírito, bem como não tem merecido a justa apreciação para combatê-lo com os
hábeis recursos, específicos, capazes de o vencer e destruir.
O criminoso inqualificável que mata com requintes de
sadismo e o suicida melancólico que investe, cobarde, contra a própria vida,
sofrem a psicose do mêdo.
O grupo anarquista que consuma agressões revoltantes em
nefastas maquinações da crueldade e o pai de família insensível no lar,
ocultam-se nos rebordos do mêdo, buscando ignorar a enfermidade que os
desequilibra.
Na quase totalidade dos crimes que explodem, opressivos,
encontram-se os rastros do mêdo sempre presente.
As constrições morais pungentes, econômicas apavorantes,
sociais caóticas, educacionais de solução difícil, das enfermidades de caráter
irreversível, se fazem fatôres preponderantes para que grasse o mêdo, soberano.
Em tal particular, desempenharam relevante papel as normas religiosas do
passado que ensinavam o "temor" em detrimento do amor" a Deus,
os preconceitos exacerbados ante os quais a gravidade do êrro era ser êste
conhecido e não apenas praticado, desde que se demorasse ignorado, contribuíram
expressivamente para a atmosfera que hoje se espalha célere e morbífica.
Contudo, as informações espíritas responsáveis pela
natural realidade do além-túmulo, desvelando os falsos "mistérios" e
elucidando os enigmas ontológicos, são portadoras do antídoto ao mêdo, mediante
a confiança que ministra aos que se abeberam da sua água lustral, penetrando de
paz quantos se comprazam em meditar e agir com segurança nas diretrizes de
fácil aplicação.
O labor fraternal, o culto doméstico do Evangelho, o
pensamento de otimismo frequente e o recolhimento da oração, a par do uso da
água magnetizada e do passe, produzem expressiva terapêutica valiosa e de
imediatos resultados para a aquisição da saúde e da renovação, combatendo o
mêdo.
Retornando da sepultura vazia, disse Jesus aos discípulos
amedrontados: "Sou eu, não temais".
Todo o Evangelho é lição viva de sadia tranquilidade e
elevado otimismo.
Ora reeditado através do Espiritismo, é o mais eficaz
processo psicológico atuante, capaz de edificar nos corações e nos espíritos
conturbados do presente a consubstanciação das promessas de Jesus:
"Eu vos dou a minha paz.
"Eu ficarei convosco por todo o sempre.
"Vinde a mim os cansados e oprimidos.
"Tende bom ânimo: eu venci o mundo!"
Reflitamos, e, sem receio, avancemos construindo com o
amor a fim de que o amor nos responda à sementeira de esperança, com a floração
da paz e da alegria a benefício de todos.
"Não temais: ide avisar a meus irmãos que se dirijam
à Galiléia e lá me hão de ver". Mateus: capítulo 28º, versículo 10.
"A calma e a resignação hauridas da maneira de
considerar a vida terrestre e da confiança no futuro dão ao espírito uma
serenidade, que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio".
Evangelho Segundo Espiritismo. Capítulo 5º - Item 14.
FRANCO, Divaldo Pereira. Florações Evangélicas. Pelo
Espírito Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 21.
RENOVEMOS HOJE
Apesar da Misericórdia Divina em seus fundamentos, não
esperes pela reencarnação para renovar o próprio caminho.
Constitui-se o corpo físico de milhões de células
aparente sem importância.
O corpo é o vaso de nossa manifestação.
E a existência bem traçada e bem vivida pode
sublimar-lhes as características.
Não esperes pela morte para consertar a própria vida.
Hoje mesmo podes iniciar o roteiro de ascensão.
Para isso, dá nova forma ao teu modo de ser.
Os atos operam transformações na esfera em que evoluímos.
Aprende a desprezar as velhas fórmulas de sentir, com as
quais apenas recolhes o desespero e a desolação.
Regenera as próprias atitudes.
Recompõe a confiança no Alto.
Faze reviver as esperanças perdidas.
Restaura a bondade em teus métodos de intercâmbio com o
próximo.
Renova os teus hábitos e adapta-te ao otimismo e à
alegria.
Renasce da sombra para a luz.
Restabelece a tua boa vontade, servindo ao próximo,
incessantemente.
Se procuras, em verdade, a estrada para o Mais Alto, não
te detenhas no desejo ruinoso de morrer e sim vale-te da oportunidade de lutar,
replantando o campo de teus ideais e aspirações, porque se cada existência no
corpo é senda para o sepulcro, a fim de tudo reajustar-mos, cada dia é tempo de
dar novas maneiras às nossas resoluções e aos nossos gestos, tudo renovando e
tudo redimindo para exaltação do Infinito Bem.
Emmanuel - Livro
Moradas de Luz – Francisco Cândido Xavier – Espíritos Diversos
Nenhum comentário:
Postar um comentário