6 – Mas se há males, nesta vida, de que o homem é a
própria causa, há também outros que, pelo menos em aparência, são estranhos à
sua vontade e parecem golpeá-lo por fatalidade. Assim, por exemplo, a perda de
entes queridos e dos que sustentam a família. Assim também os acidentes que
nenhuma previdência pode evitar; os revezes da fortuna, que frustram todas as
medidas de prudência; os flagelos naturais; e ainda as doenças de nascença,
sobretudo aquelas que tiram aos infelizes a possibilidade de ganhar a vida pelo
trabalho: as deformidades, a idiota, a imbecilidade etc.
Os que nascem nessas condições, nada fizeram,
seguramente, nesta vida, para merecer uma sorte triste, sem possibilidade de
compensação, e que eles não puderam evitar, sendo impotentes para modificá-las
e ficando à mercê da comiseração pública. Por que, pois, esses seres tão
desgraçados, enquanto ao seu lado, sob o mesmo teto e na mesma família, outros
se apresentam favorecidos em todos os sentidos?
Que dizer, por fim, das crianças que morrem em tenra
idade e só conheceram da vida o sofrimento? Problemas, todos esses, que nenhuma
filosofia resolveu até agora, anomalias que nenhuma religião pode justificar, e
que seriam a negação da bondade, da justiça e da providência de Deus, segundo a
hipótese da criação da alma ao mesmo tempo em que o corpo, e da fixação
irrevogável da sua sorte após a permanência de alguns instantes na Terra. Que
fizeram elas, essas almas que acabam de sair das mãos do Criador, para sofrerem
tantas misérias no mundo, e receberem, no futuro, uma recompensa ou uma punição
qualquer, se não puderam seguir nem o bem nem o mal?
Entretanto, em virtude do axioma de que todo efeito tem
uma causa, essas misérias são efeitos que devem ter a sua causa, e desde que se
admita a existência de um Deus justo, essa causa deve ser justa. Ora a causa
sendo sempre anterior ao efeito, e desde que não se encontra na vida atual, é
que pertence a uma existência precedente. Por outro lado, Deus não podendo
punir pelo bem o que se fez, nem pelo mal que não se fez, se somos punidos, é
que fizemos o mal. E se não fizemos o mal nesta vida, é que o fizemos em outra.
Esta é uma alternativa a que não podemos escapar, e na qual a lógica nos diz de
que lado está à justiça de Deus.
O homem não é, portanto, punido sempre, ou completamente
punido, na sua existência presente, mas jamais escapa às conseqüências de suas
faltas. A prosperidade do mau é apenas momentânea, e se ele não expia hoje,
expiará amanhã, pois aquele que sofre está sendo submetido à expiação do seu
próprio passado. A desgraça que, à primeira vista, parece imerecida, tem
portanto a sua razão de ser, e aquele que sofre pode sempre dizer: “Perdoai-me,
Senhor, porque eu pequei”.
7 – Os sofrimentos produzidos por causas anteriores são
sempre, como os decorrentes de causas atuais, uma conseqüência natural da
própria falta cometida. Quer dizer que, em virtude de uma rigorosa justiça
distributiva, o homem sofre aquilo que fez os outros sofrerem. Se ele foi duro
e desumano, poderá ser, por sua vez, tratado com dureza e desumanidade; se foi
orgulhoso, poderá nascer numa condição humilhante; se foi avarento, egoísta, ou
se empregou mal a sua fortuna, poderá ver-se privado do necessário; se foi mau
filho, poderá sofrer com os próprios filhos; e assim por diante.
É dessa maneira que se explicam, pela pluralidade das
existências e pelo destino da Terra, como mundo expiatório que é, as anomalias
da distribuição da felicidade e da desgraça, entre os bons e os maus neste
mundo. Essa anomalia é apenas aparente, porque só encaramos o problema em
relação à vida presente; mas quando nos elevamos, pelo pensamento, de maneira a
abranger uma série de existências, compreendemos que a cada um é dado o que
merece, sem prejuízo do que lhe cabe no Mundo dos Espíritos, e que a justiça de
Deus nunca falha.
O homem não deve esquecer-se jamais de que está num mundo
inferior, onde só é retido pelas suas imperfeições. A cada vicissitude, deve
lembrar que,se estivesse num mundo mais avançado, não teria de sofrê-la, e que
dele depende não voltar a este mundo, desde que trabalhe para se melhorar.
8 – As tribulações da vida podem ser impostas aos
Espíritos endurecidos, ou demasiado ignorantes para fazerem uma escolha
consciente, mas são livremente escolhidos e aceitas pelos Espíritos
arrependidos, que querem reparar o mal que fizeram e tentar fazer melhor. Assim
é aquele que, tendo feito mal a sua tarefa, pede para recomeçá-la, a fim de não
perder as vantagens do seu trabalho. Essas tribulações, portanto, são ao mesmo
tempo expiações do passado, que castigam, e provas para o futuro, que preparam.
Rendamos graças a Deus que, na sua bondade, concede aos homens a faculdade da
reparação, e não o condena irremediavelmente pela primeira falta.
9 – Não se deve crer, entretanto, que todo sofrimento por
que se passa neste mundo seja necessariamente o indício de uma determinada
falta; trata-se freqüentemente de simples provas escolhidas pelo Espírito, para
acabar a sua purificação e acelerar o seu adiantamento. Assim, a expiação serve
sempre de prova, mas a prova nem sempre é uma expiação. Mas provas e expiações
são sempre sinais de uma inferioridade relativa, pois aquele que é perfeito não
precisa ser provado. Um Espírito pode, portanto, ter conquistado um certo grau
de elevação, mas querendo avançar mais, solicita uma missão, uma tarefa, pela
qual será tanto mais recompensado, se sair vitorioso quanto mais penosa tiver
sido a sua luta. Esses são, mais especialmente, os casos das pessoas de
tendência naturalmente boas, de alma elevada, de sentimentos nobres inatos, que
parecem nada trazer de mal de sua precedente existência, e que sofrem com
resignação cristã as maiores dores, pedindo forças a Deus para suportá-las sem
reclamar. Podem-se, ao contrário, considerar como expiações as aflições que
provocam reclamações e levam à revolta contra Deus.
O sofrimento que não provoca murmurações pode ser, sem dúvida,
uma expiação, mas indica que foi antes escolhido voluntariamente do que
imposto; é a prova de uma firme resolução, o que constitui sinal de progresso.
10 – Os Espíritos não podem aspirar à perfeita felicidade
enquanto não estão puros; toda mancha
lhes impede a entrada nos mundos felizes. Assim acontece com os passageiros de
um navio tomado pela peste, aos quais fica impedida a entrada numa cidade, até
que estejam purificados. É nas diversas existências corpóreas que os Espíritos
se livram, pouco a pouco, de suas imperfeições. As provas da vida fazem
progredir, quando bem suportadas; como expiações, apagam as faltas e purificam;
são o remédio que limpa a ferida e cura o doente, e quanto mais grave o mal,
mais enérgico deve ser o remédio. Aquele, portanto, que muito sofre, deve dizer
que tinha muito a expiar e alegrar-se de ser curado logo. Dele depende, por
meio da resignação, tornar proveitoso o seu sofrimento e não perder os seus
resultados por causa de reclamações, sem o que teria de recomeçar.
TEXTOS DE APOIO
DOENÇAS ESCOLHIDAS
Convictos de que o Espírito escolhe as provações que
experimentará na Terra, quando se mostre na posição moral de resolver quanto ao
próprio destino, é justo recordar que a criatura, durante a reencarnação,
elege, automaticamente, para si mesma, grande parte das doenças que se lhe
incorporam às preocupações.
Não precisamos lembrar, nesse capítulo, as grandes
calamidades particulares, quais sejam o homicídio, de que o autor arrasta as
conseqüências na forma de extrema perturbação espiritual, ou o suicídio
frustrado, que assinala o corpo daquele que o perpetra com dolorosos e
aflitivos remanescentes.
Deter-nos-emos, de modo ligeiro, no exame das decisões
lamentáveis, que assumimos quando enleados no carro físico, se saber que lhe
martelamos ou desagregamos as peças.
Sempre que já tenhamos deixado as constrições do
primitivismo, todos sabemos que a prática do bem é simples dever e que a
prática do bem é o único antídoto eficiente contra o império do mal em nós
próprios.
Entretanto, rendemo-nos, habitualmente, às sugestões do
mal, criando em nós não apenas condições favoráveis à instalação de
determinadas moléstias no cosmo orgânico, mas também ligações fluídicas aptas a
funcionarem como pontos de apoio para as influências perniciosas interessadas
em vampirizar-nos a vida.
Seja na ingestão de alimento inadequado, por
extravagâncias à mesa, seja no uso de entorpecentes, no alcoolismo mesmo
brando, no aborto criminoso e nos abusos sexuais, estabelecemos em nosso
prejuízo as síndromes abdominais de caráter urgente, as úlceras
gastrintestinais, as afecções hepáticas, as dispepsias crônicas, as
pancreatites, as desordens renais, as irritações do cólon, os desastres circulatórios,
as moléstias neoplásicas, a neurastenia, o traumatismo do cérebro, as
enfermidades degenerativas do sistema nervoso, além de todo um largo cortejo de
sintomas outros, enquanto que na crítica inveterada, na inconformação, na
inveja, no ciúme, no despeito, na desesperação e na avareza, engendramos
variados tipos de crueldade silenciosa com que, viciando o próprio pensamento,
atraímos o pensamento viciado das Inteligências menos felizes, encarnadas ou
desencarnadas, que nos rodeiam.
Exteriorizando idéias conturbadas, assimilamos as idéias
conturbadas que se agitam em torno de nosso passo, elementos esses que se nos
ajustam ao desequilíbrio emotivo, agravando-nos as potencialidades alérgicas ou
pesando nas estruturas nervosas que conduzem a dor.
Mantidas tais conexões, surgem freqüentemente os
processos obsessivos que, muitas vezes, sem afetarem a razão, nos mantêm no
domínio das enfermidades – fantasmas que nos esterilizam as forças e, pouco a
pouco, nos corroem a existência.
Guardemo-nos, assim, contra a perturbação, procurando o
equilíbrio e compreendendo no bem – expressando bondade e educação – a mais
alta fórmula para a solução de nossos problemas.
E ainda mesmo em nos sentindo enfermos, arrastando-nos
embora, aperfeiçoemo-nos ajudando aos outros, na certeza de que, servindo ao
próximo, serviremos a nós mesmos, esquecendo, por fim, o mercado da
invigilância onde cada um adquire as doenças que deseja para tormento próprio.
De "Religião
dos Espíritos", de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel
RAÍZES DO MELINDRE
"Quantas dissensões e funesta disputas se teria
evitado com um pouco de moderação e menos suscetibilidade !" - O ESE, cap.
V, ítem 4
Melindre pode ser considerado um estado afetivo de
sensibilidade exacerbada para sentir-se ofendido. No estudo das doenças
psíquicas, vamos encontrar o quadro da fragmentação, que significa a
"quebra do pensamento", ou seja, a ausência de harmonia e conexão nos
raciocínios. Algumas situações emocionais no quadro dos transtornos afetivos
são causadoras desse processo. Quando a mente se fixa nas experiências que já
aconteceram, desenvolvendo sentimentos de culpa, estado de remorso, mágoa e
saudosismo, estabelece um circuito de recordações no qual se aprisiona em
regime de repetição, flagelando-se com pensamentos enfermiços acerca do que já
aconteceu no passado.
Por outro prisma, quando se fazem projeções para o
futuro, criam-se as expectativas, os medos e a ansiedade. Temos um deslocamento
mental decorrente da insegurança vivida pela criatura, em forma de imaginações
e fantasias. Nesses estados, vive-se o passado, vive-se o futuro, mas não se
vive o único momento que nos foi divinamente concedido para existir, que é o
presente, o agora. Os pensamentos alternam-se entre o saudosismo e a idealização,
podendo alterar o comportamento a caminho de doenças graves da mente, cuja
característica é o bloqueio do afeto em relação aos fatos da vida presente.
Essa fragmentação da vida mental é responsável por uma
série de desordens no dinamismo dos sentimentos, porque passamos a analisá-los
como se olhássemos para um retrato de nós mesmos cortado em inúmeras partes,
esparramado no chão. Olhamos para aqueles pedaços e identificamos nossa imagem,
todavia, ficamos com o desejo de remontá-la sem saber como começar.
Essa é a mesma sensação que experimenta quem deseja
remontar sua vida emocional. Uma sensação de impotência e ausência de
referência sobre como conduzir o dinamismo do sentir. Consideremos nessa
metáfora da foto que muitos retalhos dessa imagem pessoal se encontram em
escaninhos muito profundos da subconsciência, conquanto estejam plenamente em
atividade, espalhando sobre o campo da vida mental consciente todo o seu
contingente de forças influentes.
Melindre é campo adubado para semeadura da mágoa; e mágoa
é o sentimento de revolta perante o inesperado, mantendo a mente aprisionada a
lembranças enfermiças ou a fantasias de revide.
Quase sempre essa enfermidade da alma tem raízes
decisivas na infância, embora possamos encontrá-las em etapas diversas nas
reencarnações, pelo desenvolvimento de vários hábitos que tornam o ser
intensamente suscetível. Esses hábitos têm, por sua vez, matriz no egoísmo.
Podemos, ainda, encontrar causas extemporâneas do
melindre na vida presente, quando da existência de traumas ou pequenos
incidentes em vivências específicas da vida que nos tornam muito sensíveis para
aquelas questões.
Crianças excessivamente cobradas na infância tornam-se
adultos perfeccionistas, que não querem conviver com a frustração e a crítica,
que se lhes tornaram dolorosas e enfadonhas. Para elas, errar e ser criticado é
sinônimo de ser menos amadas, porque nessa relação repressora com os pais
aprenderam que só eram queridas quando cumpriam com as exigências e
expectativas dos genitores ou, então, porque desenvolveram a crença de que
somente sendo impecáveis poderiam ser aprovadas por alguém. Fragmentaram, nessa
etapa, o seu pensamento. Passaram a estabelecer conexões imprecisas de suas
reações com aquilo que lhes ensinaram. Infelizmente, em variados casos, as
crianças são humilhadas e agredidas com emoções fortes e traumáticas por parte
de muitos pais que, em vez de corrigi-las, as ofendem.
Hoje, já adulta, quando criticada ou chamada à atenção,
reage conforme o que aprendeu. Mesmo que as advertências sejam de boa fonte e
para o seu bem, tende a recebê-las como desaprovação, inimizade, traição,
cobrança e exigência descabida. A partir de então, os sentimentos apresentam-se
como em um caleidoscópio: uma fragmentação de cores que não se entrecruzam -
uma diversidade de sentimentos indefinidos em comoção.
Quem vive centrado no momento presente não tem medo de
seus sentimentos, sabe revelá-los a si e aos outros sem constrangimento, porque
aprendeu a lidar com suas imperfeições em clima pacífico, tolerante.
Consequentemente, quando se sente ofendido, logo reage com naturalidade e
sabendo que atitude tomar. Por que me ofendi? Essa intrigante interrogação é o
roteiro de autoexame nas leiras reeducativas.
Eis uma questão educativa às lides do intercâmbio entre
homens e Espíritos: por que tanto melindre na atitude dos médiuns perante as
corrigendas a eles aplicadas para seu crescimento?
Nas origens de muitas atitudes de melindre desenvolvem-se
interesses ofendidos."(...) se mostram o que obtêm, é para que seja
admirado, e não para que se lhes dê um parecer", conforme ressalta O livro
dos médiuns, capítulo xvi, item 196, "Médiuns imperfeitos".
A análise de Erasto é perfeita para muitos casos de
médiuns. Na multiplicidade das causas do melindre encontramos também aqueles
que usam a mediunidade como um palanque pessoal, para o cultivo do vício de
prestígio.
Nesse mesmo trecho de O livro dos médiuns, diz:
"Geralmente, tomam aversão às pessoas que os não
aplaudem sem restrições e fogem das reuniões onde não possam se impor e
dominar".
Se são advertidos ou chamados a integrar a tarefa com
consciência e discrição, agastam-se e criam todo um conjunto de medidas para se
defenderem, podendo desequilibrar todo um grupamento em razão de suas
pretensões individualistas.
Apesar das análises psicológicas da suscetibilidade, não
nos iludamos em acreditar que somente a poder de esforço autoeducativo poderá
ser vencida essa mazela.
Será muito oportuna a criação de relações sadias, ricas
ae afeto e sinceridade, para que se formem ambientes de confiança nos quais o
portador do melindre resgatará a confiança em si mesmo, nos seus valores,
adquirindo melhor nível de autoestima que, em muitos casos, foi subtraído no
período infantil. Passará, então, a desejar a crítica, a avaliação e a
corrigenda em suas atitudes, estabelecendo uma reprogramação no seu
subconsciente, pela qual perceberá mais claramente que podem ser aferidas suas
atitudes sem que os outros a amem menos.
Médiuns, em qualquer etapa de sua tarefa, aceitem de bom
grado as apreciações sobre sua produção mediúnica e, mesmo no caso dos juízos
apressados ou interesseiros, tenham muita calma para receber as idéias alheias
sobre sua tarefa. Quaisquer reações intempestivas de indisposição ou revide
podem ser sinais da presença sutil das insinuações melindrosas.
Não é a qualidade da crítica que pode ajudar ou
desajudar, e sim a capacidade de lidar com as reações emotivas pessoais. Com
autoamor sempre encontraremos caminhos ricos de opção para a atitude sadia que
edificar a plenitude e a alegria.
Experiência, cargo, tempo de exercício, cultura pessoal,
ser espírita de berço ou ainda ter o aplauso da maioria não são, em tempo
algum, garantia de infalibilidade ou critério de segurança que credencie
qualquer pessoa a uma tarefa límpida e isenta das interferências inferiores em
seu desempenho.
Somente a qualidade imbatível do desejo de aprender,
seguido da incansável disposição afetiva de servir incondicionalmente são os
louros com os quais as almas imortais podem contar para criar o campo mínimo de
segurança e bem-estar para ser melhores. Contudo, não devemos nunca perder de
vista o conceito dos Sábios Orientadores:
"O melhor é aquele que, simpatizando somente com os
bons Espíritos, tem sido o menos enganado"1212. O livro dos médiuns,
capítulo XX, item 226, 9a pergunta.
Livro: O Prazer de Viver - Ermance Dufaux - Wanderlei de Oliveira
OLHANDO PARA TRÁS
“... Tal é aquele que tendo feito mal sua tarefa, pede
para recomeçá-la afim de não perder o benefício do seu trabalho...”
“... Rendamos graças
a Deus que, na sua bondade, concede ao homem a faculdade da reparação e não o
condena
irrevogavelmente pela primeira falta.” (Capítulo 5, item
8.)
Culpa quer dizer
paralisação das nossas oportunidades de crescimento no presente em consequência
da nossa fixação doentia em comportamentos do passado.
Quem se sente
culpado se julga em “peccatum”, palavra latina que quer dizer “pecado ou culpa”.
Logo, todos nós vestimos a densa capa da culpa desde a mais tenra infância.
Certas religiões
utilizam-se frequentemente da culpa como meio de explorar a submissão de seus
fiéis. Usam o nome de Deus e suas leis como provedores do mecanismo de punição
e repressão, afirmando que garantem a salvação para todos aqueles que forem
“tementes a Deus”.
Esquecem-se, no
entanto, de que o Criador da Vida é infinita
Bondade e Compreensão e que sempre vê com os “olhos do
amor”, nunca punindo suas criaturas; na realidade, são elas mesmas que se
autopenalizam. por não se renovarem nas oportunidades do livre-arbítrio e por
ficarem, no presente, agarradas aos erros do passado.
Nossa atual
cultura ainda é a mais grave geradora de culpa na formação educacional dos
relacionamentos, seja no social, seja no familiar. No recinto do lar encontramos
muitos pais induzindo os filhos à culpa: “Você ainda me mata do coração!”,
tática muito comum para manter sob controle uma pessoa rebelde; ou dos filhos
que aprenderam a tramóia da culpa, para obter aquilo que desejam:
“Os pais de minhas amigas deixam elas fazer isso”.
Culpar não é um método educativo, nem tampouco gerador de
crescimento, mas um meio de induzir as pessoas a não se responsabilizar por
seus atos e atitudes.
Em muitas oportunidades encontramos indivíduos que teimam
em culpar os outros, acreditando ser muito cômodo representar o papel de
injustiçados e perseguidos. Colocam seus erros sobre os ombros das pessoas, da
sociedade, da religião, dos obsessores, do mundo enfim.
No entanto, só eles poderão decidir se reconhecem ou não suas
próprias falhas, porque apenas dessa forma se libertarão da prisão mental a que
eles mesmos se confinaram.
Dar importância às culpas é focalizar fatos passados com certa
regularidade, sempre nos fazendo lembrar de alguma coisa que sentimos, ou
deixamos de sentir, falamos ou deixamos de falar, permitimos ou deixamos de permitir,
desperdiçando momentos valiosos do agora, quando poderíamos operar as
verdadeiras bases para nosso
desenvolvimento intelecto-moral.
“Ninguém que lança mão ao arado e olha para trás é apto para
o reino de Deus”. (1)
Olhando para trás, a alma não caminha resoluta e, consequentemente,
não se liberta dos grilhões do passado.
Todos nós fomos criados com possibilidades de acertar e errar;
por isso, temos necessidade de exercitar para aprender as coisas, de colocar as
aptidões em treino, de repeti-las várias vezes entre ensaios e erros.
A culpa se estrutura nos alicerces do perfeccionismo.
Alimentamos a ideia de que não seremos suficientemente bons se não fizermos
tudo com perfeição. Esquecemo-nos, porém, de que todo o nosso comportamento é
decorrente de nossa idade evolutiva e de que somos tão bons quanto nos permite
nosso grau de evolução. A todo momento, fazemos o melhor que podemos fazer, por
estarmos agindo e reagindo de acordo com nosso “senso de realidade”. O
“arrependimento” resulta do quanto sabíamos fazer melhor
e não o fizemos, enquanto que a culpa é, invariavelmente, a exigência de que
deveríamos ter feito algo, porém não o fizemos por ignorância ou impotência.
A Divina Providência sempre “concede ao homem a faculdade
da reparação e não o condena irrevogavelmente”. Não há, razão, portanto, para
culpar-se sistematicamente, pois ele será cobrado pelo “muito” ou pelo “pouco”
que lhe foi dado, ou mesmo, “muito se pedirá àquele que muito recebeu”. (2)
Assevera Paulo de Tarso: “a mim, que fui antes blasfemo, perseguidor
e injuriador, mas alcancei misericórdia de Deus, porque o fiz por ignorância, e
por ser incrédulo”. (3)
Tem-se, dessa forma, um ensinamento claro: a culpa é
sempre proporcional ao grau de lucidez que se possui, isto é, nossa ignorância
sempre nos protege.
Não guardemos culpa. Optemos pelo melhor, modificando nossa
conduta. Reconheçamos o erro e não olhemos para trás, e sim, para frente, dando
continuidade à nossa tarefa na Terra.
(1) Lucas 9:62.
(2) Lucas 12:48.
(3) 1º Timóteo 1:13.
Hammed – Livro: Renovando Atitudes – cap 11
EXAMINANDO A
SERENIDADE
Em face das dificuldades inadiáveis que surgem e
ressurgem, senda afora por onde avanças, reveste-te de serenidade para
prosseguir.
Surpreendido pelas contingências afligentes que chegam a
cada instante ao país do teu coração, envolve-te na serenidade para discernir.
Diante das informações malsãs que te são endereçadas com
o sal da impiedade ou a pimenta do despeito, examina a serenidade para acertar.
Conquanto inquietudes te assaltem produzindo sulcos de
dor e agonia na tua alma, não te situes a distância da serenidade, para atingir
o êxito que te propões, na tarefa do equilíbrio.
Serenidade é também medida que resulta de uma atitude
reflexiva!
A serenidade não é uma posição estática que transcorre
entre dias parados e atitudes indefinidas em volta da tua existência.
O rio singelo, que passa modulando entre seixos e
pedregulhos, eriçando pequeninas ondas e espraiando-as pelas margens, transmite
agradável sensação de serenidade sobre o leito conquistado.
Serenidade é atitude rítmica de ação que não atinge
altissonâncias nem reflui em pianíssimos que logo desaparecem. A serenidade
resulta de uma vida metódica, postulada nas ações dinâmicas do bem e na austera
disciplina da vontade.
O espírito pacificado pode ser comparado ao solo que foi
trabalhado demoradamente, arrancando escalracho e urze, drenando cursos
violentos d’águas e semeando, em derredor, sebes protetoras para que as plantas
do seminário novo possam desenvolver-se com harmonia em direção do alto.
Diante da turbamulta que rogava, esfomeada, pães e
peixes, Jesus, imperturbável, examinou as possibilidades de que dispunha no
momento e multiplicou o repasto...
Surpreendido em colóquio afetivo com os párias
encontrados na sua rota se manteve tranqüilo, sem anuir às acusações indébitas
de que Ele tratava com gente de má vida e sem jactar-se de ser o salvador dos
infelizes...
Exaltado pelo entusiasmo transitório dos que Lhe
receberam o carinho salutar, conservou-se sereno, na direção do bem sem limite
de que se fizera o instrumento excelente do Pai...
Aclamado pelo delírio popular na entrada de Jerusalém,
refletiu, no semblante contristado, a dor que o aguardava após o torvelinho da
exaltação da massa em desassossego.
Inquirido pelos condutores de varapaus, após o beijo de
Judas, se era Ele o buscado, não titubeou em assentir, afirmando: - "Eu o
sou".
Experimentando as mais cruas acusações sem uma palavra de
defesa, na mais dura soledade, sem uma só exigência, Jesus deu o testemunho
mais pesado através da agonia pelo amor, e, sem qualquer constrangimento, se
manteve em serenidade admirável, para ensinar que a dinâmica da vitória sobre
si mesmo é resultante do auto descobrimento e da aplicação das próprias forças
no exercício do perdão incondicional a situações, pessoas e coisas da rota
evolutiva.
Em qualquer situação em que te vejas colocado impostergavelmente,
considera a serenidade dinâmica que produz equilíbrio e que resulta da
ponderação demorada, para agires com acerto e atingires o ápice da tua
integração no apostolado do amor verdadeiro.
"Vai-te em paz". Lucas: capítulo 7º, versículo
50.
"Aquele, pois, que muito sofre deve reconhecer que
muito tinha a expiar e deve regozijar-se à ideia da sua próxima cura. Dele
depende, pela resignação, tornar proveitoso o seu sofrimento e não lhe estragar
o fruto com as suas impaciências, visto que, do contrário, terá de
recomeçar". Evangelho Segundo Espiritismo. Capítulo 5º - Item 10.
FRANCO, Divaldo Pereira. Florações Evangélicas. Pelo
Espírito Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 19.
TESTEMUNHO
Que se dirá do médico que teme o contato com a
enfermidade que desfigura o semblante do doente; do advogado que receia a
convivência com os malfeitores; do mestre que abomina ensinar a crianças
difíceis; do juiz que se poupa a examinar contendas e desdenha enfrentá-las; do
amigo que foge aos ensejos de ser útil; do servidor que ressona em pleno
serviço; do aprendiz que desrespeita o ensino; do cristão que, no exercício da
caridade, zelando pelo equilíbrio pessoal, se furta ao trabalho eficiente ao
lado de infelizes e desajustados?
Qual o homem que se pode dizer realizado sem se conhecer
a si mesmo; que se pode considerar vitorioso sem haver saído triunfador da luta
íntima; que espera o deleite da paz sem haver modificado as disposições bélicas
do espírito; que aspira a amplos horizontes e não é capaz de caminhar através
de pequenas rotas com segurança; que espera triunfos e não se permite ajudar;
que aguarda Jesus e ainda não sabe descobrir o Cristo nos corações atribulados
que defronta pelo caminho?
Que se pode pensar de um crente que se debate,
amargurado, quando afligido por naturais problemas; que se revolta ante as
dificuldades que todos defrontam na jornada; que se afaga nos vasilhames da
queixa improdutiva; que se desespera ante as oportunidades do aprendizado e que
se deixa vencer pela cólera, quando no exercício do socorro ao próximo?
O Evangelho, como sempre, apresenta no Excelso Mestre a
resposta transparente e nobre!
Instado ao desespero por dificuldades de toda natureza e
acoimado por famanazes do poder temporal, a situações difíceis, perseguido pela
inveja e desconsiderado pelos que O não podiam entender, conduzido ao sarcasmo
e à zombaria, vez alguma se deixou descoroçoar no ministério de amor
empreendido ou se permitiu isolar-se da comunhão com os aflitos. Em toda e
qualquer circunstância esteve ao lado dos sofridos e desamparados, conquanto
reconhecesse que isto lhe custaria a vida - Não temeu, não se evadiu...
Mesmo quando injustamente foi arrastado à infame punição
indébita pela Crucificação, dignificou as traves de madeira, transformando-as,
desde então, no símbolo perfeito da redenção e do martírio para quantos tenham
os olhos postos na glória da Imortalidade.
"As obras que eu faço em nome de meu Pai, dão
testemunho de mim". João: capítulo 10º, versículo 25.
"Não há crer, no entanto, que todo sofrimento
suportado neste mundo denote a existência de uma determinada falta. Muitas
vêzes são simples provas buscadas pelo Espírito, para concluir a sua depuração
e ativar o seu progresso". Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 5º -
Item 9.
FRANCO, Divaldo Pereira. Florações Evangélicas. Pelo
Espírito Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 18.
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