11 – O que escandalizar, porém, a um destes pequeninos
que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de
atafona, e o lançassem ao fundo do mar. Ai do mundo, por causa dos escândalos.
Porque é necessário que sucedam escândalos, mas ai daquele homem por quem vem o
escândalo. Ora, se a tua mão, ou o teu pé, te escandaliza, corta-o e lança-o
fora de ti. Melhor te é entrar na vida manco ou aleijado, do que, tendo duas
mãos ou dois pés, ser lançado no fogo do inferno. E se o teu olho te
escandaliza, tira-o, e lança-o fora de ti. Melhor te é entrar na vida com um só
olho, do que, tendo dois, seres lançado no fogo do inferno. Vede, não
desprezeis algum destes pequeninos, porque eu vos declaro que os seus anjos no
céu incessantemente estão vendo a face de meu Pai, que está nos céus. Porque o
Filho do Homem veio a salvar o que havia perecido. (Mateus, XVIII: 6-11).
E se o teu olho direito te serve de escândalo, arranca-o
e lança-o fora de ti; porque melhor te é que se perca um de teus membros, do
que todo o teu corpo ser lançado no inferno. E se a tua mão direita te serve de
escândalo, corta-a e lança-a fora de ti; porque melhor te é que se perca um dos
teus membros, do que todo o teu corpo ir para o inferno. (Mateus, V: 29-30).
12 – Em seu sentido vulgar, escândalo é tudo aquilo que
choca a moral ou as conveniências, de maneira ostensiva. O escândalo não está
propriamente na ação, mas nas repercussões que ela pode ter. A palavra
escândalo implica sempre a idéia de um certo estrépito. Muitas pessoas se
contentam com evitar o escândalo, porque o seu orgulho sofreria com ele e a sua
consideração diminuiria entre os homens, procurando ocultar as suas torpezas, o
que lhes basta para tranqüilizar a consciência. Esses são, segundo as palavras
de Jesus: “sepulcros brancos por fora, mas cheios de podridão por dentro; vasos
limpos por fora, mas sujos por dentro”.
No sentido evangélico, a acepção da palavra escândalo,
tão freqüentemente empregada, é muito mais ampla, motivo por que não é
compreendida em certos casos. Escândalo não é somente o que choca a consciência
alheia, mas tudo o que resulta dos vícios e das imperfeições humanas, todas as
más ações de indivíduo para indivíduo, com ou sem repercussões. O escândalo,
nesse caso, é o resultado efetivo do mal moral.
13 – É necessário que sucedem escândalos no mundo, disse
Jesus, porque os homens, sendo ainda imperfeitos, têm inclinação para o mal, e
porque as más árvores dão maus frutos. Devemos pois entender, por essas
palavras, que o mal é uma conseqüência da imperfeição humana, e não que os
homens tenham obrigação de praticá-lo.
14 – É necessário que venha o escândalo, para que os
homens, em expiação na Terra, se punam a si mesmos, pelo contato de seus
próprios vícios, dos quais são as primeiras vítimas, e cujos inconvenientes acabam
por compreender. Depois que tiverem sofrido o mal, procurarão o remédio no bem.
A reação desses vícios serve, portanto, ao mesmo tempo de castigo para uns e de
prova para outros. É assim que Deus faz sair o bem do mal, e que os próprios
homens aproveitam as coisas más ou desagradáveis.
15 – Se assim é, dir-se-á, o mal é necessário e durará
sempre, pois se viesse a desaparecer, Deus ficaria privado de um poderoso meio
de castigar os culpados. É inútil, portanto, procurar melhorar os homens. Mas,
se não houvesse culpados, não haveria necessidade de castigos. Suponhamos a
humanidade transformada numa comunhão de homens de bem: nenhum procuraria fazer
mal ao próximo, e todos seriam felizes, porque seriam bons. Tal é o estado dos
mundos adiantados, dos quais o mal foi excluído. Tal será o estado da Terra,
quando houver progredido suficientemente. Mas enquanto certos mundos avançam,
outros se formam, povoados por Espíritos primitivos, e que servem ainda de
morada, de exílio e de lugar de expiação para os Espíritos imperfeitos, rebeldes,
obstinados no mal, rejeitados pelos mundos que se tornam felizes.
16 – Mas ai
daquele por quem vem o escândalo: quer dizer que o mal sendo sempre o mal,
aquele que serviu, sem o saber, de instrumento para a justiça divina, sendo
utilizados os seus maus instintos, nem por isso deixou de fazer o mal, e deve
ser punido. É assim, por exemplo,que um filho ingrato é uma punição ou uma
prova para o pai que o suporta, porque esse pai talvez tenha sido um mau filho,
que fez sofrer o seu pai, e agora sofre a pena de talião. Mas o filho não terá
desculpas por isso, e deverá ser castigado por sua vez, através dos seus
próprios filhos ou de outra maneira.
17 – Se tua mão te serve de causa de escândalo, corta-a:
figura enérgica, que seria absurdo tomar-se ao pé da letra, e que significa
simplesmente a necessidade de destruirmos em nós todas as causas de escândalo,
ou seja, do mal. É necessário arrancar do coração todo sentimento impuro e toda
tendência viciosa. Quer dizer ainda que mais vale para o homem ter a mão
cortada, do que esta ser para ele o instrumento de uma ação má; ser privado da
vista, do que os seus olhos lhe servirem para maus pensamentos. Jesus nada
disse de absurdo, para quem souber compreender o sentido alegórico e profundo das
suas palavras; mas muitas coisas não podem ser compreendidas, sem a chave
oferecida pelo Espiritismo.
TEXTOS DE APOIO
A ÚLTIMA CEIA
Reunidos os discípulos em companhia de Jesus, no primeiro
dia das festas da Páscoa, como de outras vezes, o Mestre partiu o pão com a
costumeira ternura. Seu olhar, contudo, embora sem trair a serenidade de todos
os momentos, apresentava misterioso fulgor, como se sua alma, naquele instante,
vibrasse ainda mais com os altos planos do invisível.
Os companheiros comentavam com simplicidade e alegria os
sentimentos do povo, enquanto o Mestre meditava silencioso.
Em dado instante, tendo-se feito longa pausa entre os
amigos palradores, o messias acentuou com firmeza impressionante.
– Amados, é chegada a hora em que se cumprirá a profecia
da Escritura. Humilhado e ferido, terei de ensinar em Jerusalém a necessidade
do sacrifício próprio, para que triunfe apenas uma espécie de vitória, tão
passageira quanto as edificações do egoísmo ou do orgulho humano. Os homens têm
aplaudido, em todos os tempos, as tribunas douradas, as marchas retumbantes dos
exércitos que se glorificaram com despojos sangrentos, os grandes ambiciosos
que dominaram à força o espírito inquieto das multidões ; entretanto, eu vim de
meu Pai afim de ensinar como triunfam os que tombam no mundo, cumprindo um
sagrado dever de amor, como mensageiros de um mundo melhor, onde reinam o bem e
a verdade. Minha vitória é a dos que sabem ser derrotados entre os homens, para
triunfarem com Deus, na divina construção de suas obras, imolando-se, com
alegria, para glória de uma vida maior.
Ante a resolução expressa naquelas palavras firmes, os
companheiros se entreolharam, ansiosos.
O Messias continuou :
– Não vos perturbeis com as minhas afirmativas, porque,
em verdade, um de vós outros me há de trair!....As mãos, que eu acariciei,
voltam-se agora contra mim. Todavia, minhalma está pronta para a execução dos
desígnios de meu Pai.
A pequena assembléia fez-se lívida. Com exceção de Judas,
que entabulara negociações particulares com os doutores do Templo, faltando
apenas o ato do beijo, afim de consumar-se a sua defecção, ninguém poderia
contar com as palavras amargas do Messias. Penosa sensação de mal-estar se
estabelecera entre todos. O filho de Iscariote fazia o possível por dissimular
as suas angustiosas impressões, guardado os companheiros se dirigiam ao Cristo
com perguntas angustiadas. – Quem serão o traidor? – Disse Felipe, com estranho
fulgor nos olhos.
– Serei eu? – Exclamou André, ingenuamente.
– Mas, afinal – objetou Tiago, filho de Alfeu, em voz
alta – onde está Deus que não conjura semelhante perigo?
Jesus, que se mantivera em silêncio ante as primeiras interrogações,
ergueu o olhar para o filho de Cléofas e advertiu:
– Tiago, faze calar a voz de tua pouca confiança na
sabedoria que nos rege os destinos. Uma das maiores virtudes do discípulo do
Evangelho é a de estar sempre pronto ao chamado da Providência Divina. Não
importa onde e como seja o testemunho de nossa fé. O essencial é revelarmos a
nossa união com Deus, em tôdas as circunstâncias, É indispensável não esquecer
a nossa condição de servos de Deus, para bem lhe atendermos ao chamado, nas
horas de tranqüilidade ou de sofrimento.
A êsse tempo, havendo-se o Messias calado de novo, João
interveio, perguntando:
– Senhor, compreendo a vossa exortação e rogo ao Pai
necessária fortaleza de ânimo; mas, por que motivo será justamente um dos
vossos discípulos o traidor de vossa causa? Já nos ensinastes que, para se
eliminarem do mundo os escândalos, outros escândalos se tornam necessários;
contudo, ainda não pude atinar com a razão de um possível traidor, em nosso
próprio colégio de edificação e de amizade.
Jesus pousou no interlocutor os olhos serenos e acentuou
:
– Em verdade, cumpre-me afirmar que não me será possível
dizer-vos tudo agora; entretanto, mais tarde, enviarei o Consolador, que vos
esclarecerá em meu nome, como agora vos falo em nome de meu Pai.
E, detendo-se um pouco a refletir, continuou para o
discípulo em particular :
– Ouve, João. Os desígnios de Deus, se são insondáveis,
também são invariàvelmente justos e sábios. O escândalo desabrochará em nosso
próprio círculo bem-amado, mas servirá de lição a todos aqueles que vierem
depois de nossos passos, no divino serviço do Evangelho. Eles compreenderão que
para atingirem a porta estreita da renúncia redentora hão de encontrar, muitas
vezes, o abandono, a ingratidão e o desentendimento dos seres mais queridos.
Isso revelará a necessidade de cada qual firmar-se no seu caminho para Deus,
por mais espinhoso e sombrio que ele seja.
O apóstolo impressionara-se vivamente com as derradeiras
palavras do Mestre e passou a meditar sobre seus ensinos.
***
As sensações de estranheza perduravam em toda a
assembléia. Jesus, então, levantou-se e, oferecendo a cada companheiro um
pedaço de pão, exclamou :
– Tornai e comei! Este é o meu corpo.
Em seguida, servindo a todos de uma pequena bilha de
vinho, acrescentou :
– Bebei! Porque este é o meu sangue, dentro do
Novo-Testamento, a confirmar as verdades de Deus.
Os discípulos lhe acolheram a suave recomendação,
naturalmente surpreendidos, e Simão Pedro, sem dissimular a sua incompreensão
do símbolo, interrogou :
– Mestre, que vem a ser isso?
– Amados – disse Jesus, com emoção – está muito próximo o
nosso último instante de trabalho em conjunto e quero reiterar-vos as minhas
recomendações de amor, feitas desde o primeiro dia do apostolado. Este pão
significa o do banquete do Evangelho, este vinho é o sinal do espírito
renovador dos meus ensinamentos. Constituirão o símbolo de nossa comunhão
perene, no sagrado idealismo do amor, com que operaremos no mundo até o último
dia. Todos os que partilharem conosco, através do tempo, desse pão eterno e
desse vinho sagrado da alma, terão o espírito fecundado pela luz gloriosa do
Reino de Deus que representa o objetivo santo dos nossos destinos.
Ponderando a intensidade do esforço a ser empregado e
aludindo às multidões espirituais que se conservam sob a sua amorosa direção
fora dos círculos da carne, nas esferas mais próximas da Terra, o Cristo
acrescentou :
– Imenso é o trabalho da redenção, mesmo porque tenho
outras ovelhas que não são deste aprisco; mas, o Reino nos espera com sua
eternidade luminosa!...
Altamente tocados pelas suas exortações solenes, porém,
maravilhados ainda mais com as promessas daquele reinado venturoso e sem fim,
que ainda não podiam compreender claramente, a maioria dos discípulos começou a
discutir as aspirações e conquistas do futuro.
Enquanto Jesus se entretinha com João, em observações
afetuosas, os filhos de Alfeu examinavam com Tiago as possíveis realizações dos
tempos vindouros, antecipando opiniões sobre qual dos companheiros poderia ser
o maior de todos, quando chegasse o Reino com as suas inauditas grandiosidades.
Felipe afirmava a Simão Pedro que, depois do triunfo, todos deveriam entrar em
Nazaré para revelar aos doutores e aos ricos da cidade a sua superioridade
espiritual. Levi dirigia-se a Tomé e lhe fazia sentir que, verificada a
vitória, se lhes constituía uma obrigação a marcha para o Templo ilustre, onde
exigiriam seus poderes supremos. Tadeu esclarecia que o seu intento era dominar
os mais fortes e impenitentes do mundo, para que aceitassem, de qualquer modo,
a lição de Jesus.
O Mestre interrompera a sua palestra íntima com João, e
os observava. As discussões iam acirradas. As palavras “maior de todos” soavam
insistentemente aos seus ouvidos. Parecia que os componentes do sagrado colégio
estavam na véspera da divisão de uma conquista material e, como os triunfadores
do mundo, cada qual desejava a maior parte da presa. Com exceção de Judas, que
se fechava num silêncio sombrio, quase todos discutiam com veemência.
Sentindo-lhes a incompreensão, o Mestre pareceu contemplá-los com entristecida
piedade.
***
Nesse instante, os apóstolos observaram que ele se
erguia, Com espanto de todos, despiu a túnica singela e cingiu-se com uma
toalha em torno dos rins, à moda dos escravos mais íntimos, a serviço dos seus
senhores. E, como se fossem dispensáveis as palavras naquela hora decisiva de
exemplificação, tomou de um vaso de água perfumada e, ajoelhando-se, começou a
lavar os pés dos discípulos. Ante o protesto geral em face daquele ato de
suprema humildade, Jesus repetiu o seu imorredouro ensinamento:
– Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, porque eu
o. sou. Se eu, Senhor e Mestre, vos lavo os pés, deveis igualmente lavar os pés
uns dos outros no caminho da vida, porque no Reino do Bem e da Verdade o maior
será sempre aquele que se fez sinceramente o menor de todos.
Irmão X - Humberto de Campos - Do livro “Boa Nova”.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
PURITANISMO DO
ESPÍRITA
"0 objetivo da religião é conduzir a Deus o homem.
Ora, este não chega a Deus senão quando se torna perfeito. Logo, toda religião
que não torna melhor o homem, não alcança o seu objetivo. Toda aquela em que o
homem julgue poder apoiar-se para fazer o mal, ou é falsa, ou está falseada em
seu princípio. Tal o resultado que dão as em que a forma sobreleva ao fundo. Nula
é a crença na eficácia dos sinais exteriores, se não obsta a que se cometam
assassínios, adultérios, espoliações, que se levantem calúnias, que se causem
danos ao próximo, seja no que for. Semelhantes religiões fazem supersticiosos,
hipócritas, fanáticos; não, porém, homens de bem." "Não basta se
tenham as aparências da pureza; acima de tudo, épreciso ter a do coração."
0 Evangelho Segundo Espiritismo -cap. 8- item 10
O puritanismo de alguns espíritas, nada mais é que a
vivência exterior do Espiritismo, a criação de "prototipos de
conduta" através de hábitos e costumes padronizados do tipo "espírita
faz isso ou não faz aquilo".
O puritano é aquele que tem "códigos de
identificação exterior", verdadeiros ritos e chavôes doutrinários que
esquecem automaticamente tão logo se afastem dos locais de pregação e devoção.
Necessariamente o puritano não é um hipócrita, pode estar
apenas vivendo um estágio de elaboração íntima na sua melhoria pessoal e
necessita de "escoras" e "imitações" para, pouco a pouco,
internalizar o que ainda permanece somente na órbita de seus pensamentos sem
atingir seu modo de sentir. O problema surge quando há uma preferência por
fazer amostragens de conduta espírita, teatralizando comportamentos e discursos
com a única intenção de impressionar ou convencer, permanecendo nessa atitude
anos após anos sem autenticidade e sinceridade.
A vivência real dos postulados espíritas é íntima no
reino dos pensamentos e das tendências, dos sentimentos e dos ideais.
Ser puro é uma questão íntima. Foi Jesus quem disse que o
Reino de Deus não viria com aparências exteriores. Lc 17:20.Ele também disse
que os puros de coração veriam a Deus.(2)Mt 5:8.
Ser puro é a aspiração evolutiva mais elevada que se pode
conceber em nosso estágio de vivências. O puritanismo, ao contrário, é algo
exterior, uma "fachada" da atitude que não corresponde a valores
autênticos. O rigorismo, o ascetismo, o moralismo são algumas de suas
manifestações. No excesso de rigor aplicado ao comportamento próprio e das
demais pessoas, é o radicalismo; na recriminação sistemática às questões
mundanas é o ascetismo; na adoção constante de procedimentos artificiais
aceitos como linhas comportamentais de um determinado grupo, é o moralismo.
Entre convivas espíritas são as ações e costumes tidos
como coerentes com aquilo que a comunidade elegeu no seu padrão, criando
estereótipos de "religiosos Kardecistas". Algo muito melindroso essa
questão do estereótipo! Primeiramente porque pode constituir apenas um comportamento
exterior, e depois porque incentiva exclusões e sectarismo para quem não esteja
rigidamente de acordo com os perfis socialmente aceitos pela comunidade
doutrinária.
O princípio das boas relações com o outro é estar bem
consigo e o puritanismo é indício de uma má relação com a vida interior. Quase
sempre as atitudes puritanas escondem imperfeições com as quais não se deseja
fazer o auto-encontro. Como esse enfrentamento é difícil, através de mecanismos
de defesa faz-se uma transferência para o outro, nascendo a postura que denota
moralismo ou desajuste com o mundo externo.
Esse moralismo e desajuste podem ser percebidos em ações
de recriminação, preconceito e reclusão, inclusive em nossos círculos
espiritistas. Evidentemente, o homem agraciado com a luz do conhecimento
espírita deverá ter um perfil adequado às propostas morais e sociais que o
Espiritismo concita, conquanto devamos reconhecer que a má interpretação desse
conhecimento enseja a presença de ostensivo desvirtuamento acerca daquilo que seja
ou não essencial e educativo em matéria de conduta espírita.
Algumas temáticas pertinentes ávida no corpo físico
demonstram com realismo a tese que estamos defendendo. Basta que façamos
algumas interrogações e deixemos o debate ao sabor dos amigos espíritas que se
encontram na experiência física: Como tem sido o relacionamento com o dinheiro?
Qual tem sido o posicionamento diante das questões da sensualidade e afeto? Que
se tem realizado no campo político social? Que contribuições são oferecidas na
comunidade do bairro? Como andam as relações com os vizinhos que partilham
ritmos de vida diversos? Que contributos se tem oferecido ao progresso do
ambiente profissional de sua atuação? Os impostos são pagos com honestidade?
Que cuidados são oferecidos ao corpo físico relativamente à sua beleza e saúde?
Que ambientes e hábitos são escolhidos para diversão?
Notem que as indagações são bem pertinentes à sociedade
terrena, a escola dos reencarnados. A razão desse enfoque é a de aferir a
relação íntima com as questões do vosso mundo, porque a relação perturbada com
essas e outras questões pode ensejar um puritanismo, um frágil e artificial
relacionamento com as vivências necessárias ao progresso do espírito no mundo
corporal.
Puritanismo é passar-se por puro sem o ser.
A pureza na Terra é relativa ao grau de aperfeiçoamento
do estágio ainda inferior em que se encontra.
Os grandes homens puros da humanidade viveram no mundo
sem ser do mundo, eis a nossa reflexão.
A soma do puritanismo de vários espíritas redunda em
fazer do centro espírita ou do movimento uma "ilha paradisíaca"
distante das problemáticas da sociedade, criando uma reclusão obstinada e
confortável. Porém, espera-se o oposto de todos os homens laureados com a
espiritualização de si mesmos. Espera-se aproximá-los o quanto possível, de
forma justa e útil, dos assuntos humanos, cooperando com a purificação
paulatina da humanidade. Não serão "modelos puritanos",
inconsistentes e conversionistas, que promoverão a regeneração. Referimo-nos à
participação pró-ativa, não necessariamente em partidos políticos, mas no
ambiente onde se vive. Que adiantará para a libertação do passado ignominioso
que acompanha a maioria de nós, se não lograrmos ser alguém melhor e mais
solidário dentro do próprio lar? Que avaliação fazer de uma convivência
"santificada" nas organizações espíritas, mantendo uma personalidade
mutável e submissa aos hábitos deseducativos que nutrem os grupos de atuação
social onde se movimenta?
Os "Guias da Verdade" apontaram excelente
diretriz acerca desse insulamento quando afirmaram: "Fazer maior soma de
bem do que de mal constitui a melhor expiação. Evitando um mal, aquele que por
tal motivo se insula cai noutro, pois esquece a lei de amor e de caridade.
O puritanismo é exterminado com coerência, adequação
interior, assumindo o intransferível compromisso de enfrentar nossas mazelas.
Ser puritano é "fazer de conta", e isso é um
péssimo caminho para quem deseja ser feliz.
Que os grupos doutrinários trabalhem para que haja mais
lealdade ao que se aprende e diz entre as suas "quatro paredes".
Cultivar sólida fraternidade, a fim de formar um ambiente que se permita
"ser quem é", onde haja campo para discutir: como parar de teatralizar
quem gostaria de ser? Como atingir a meta de ser quem devemos e temos condições
de ser?
Essa será uma importante discussão para os destinos da
causa. 'O Livro dos Espíritos - questão 770A.
Estudemos com afinco e verificaremos que o orgulho é o grande
patrocinador das atitudes puritanas, levando a criatura a imaginar ser alguém
que, de fato, ela ainda não é. Via de regra essa imaginação especula em cima de
uma auto-imagem super elevada, melíflua, tênue, "sagrada"...
Coloquemos os "pés no chão", a Terra pode contar
com a contribuição espírita.
Ao invés de se tomar a iniciativa de querer levar essa
"pureza artificial" adotadaem muitos centros doutrinários para a
sociedade, tome-se a rota inversa e busque as lutas pessoais que se tem no
mundo para tornar-se material de estudo e debate dentro dos centros,
solidificando, posteriormente, uma conexão realista e eminentemente
colaborativa com a abençoada sociedade acolhedora em que se renasceu.
Puritanismo, em muitos casos, é a outra face da
hipocrisia. Talvez essa a razão da afirmativa do sábio Codificador:
-"Não basta se tenham as aparências da pureza; acima
de tudo, é preciso ter a do coração ".
Ermance Dufaux - livro: Mereça Ser Feliz
NO DOMÍNIO DAS PROVAS
“Ai do mundo par
causa dos escândalos, porque é necessário que venham escândalos mas ai daquele
por quem o escândalo vier. ” - JESUS - MATEUS, 18: 7 “
É preciso que haja escândalo no mundo, disse Jesus,
porque imperfeitos como são na Terra, os homens se mostram propensos a praticar
o mal, e porque, árvores más, só maus frutos dão.
Deve-se, pois,
entender por essas palavras que o mal é uma conseqüência da imperfeição dos
homens e não que haja, para estes, a obrigação de praticá-lo”. Cap.8,13.
Imaginemos um pai
que, a pretexto de amor, decidisse furtar um filho querido de toda.
relação com os
revezes do mundo.
Semelhante rebento
de tal devoção afetiva seria mantido em sistema de exceção.
Para evitar
acidentes climáticos inevitáveis, descansaria exclusivamente na estufa, durante
a fase de berço e, posto a cavaleiro, de perigos e vicissitudes, mal terminada
a infância, encerrar-se ia numa cidadela inexpugnável, onde somente
prevalecesse a ternura paterna, a empolgá-lo de mimos.
Não freqüentaria
qualquer educandário, a fim de não aturar professores austeros ou sofrer a
influência de colegas que não lhe respirassem o mesmo nível; alfabetizado,
assim, no reduto doméstico, apreciaria unicamente os assuntos e heróis de
ficção que o genitor lhe escolhesse.
Isolar-se-ia de
todo o contacto humano para não arrostar problemas e desconheceria todo o
noticiário ambiente para não recolher informações que lhe desfigurassem a
suavidade interior.
Candura inviolável
e ignorância completa.
Santa inocência e
inaptidão absoluta.
Chega, porém, o
dia em que o genitor, naturalmente vinculado a interesses outros, se ausenta
compulsoriamente do lar e, tangido pela necessidade, o moço é obrigado a entrar
na corrente da vida comum.
Homem feito, sofre o conflito da readaptação , que
lhe rasga a carne e a alma, para que se lhe recupere o tempo perdido, e o filho
acaba, enxergando insânia e crueldade onde o pai supunha cultivar preservação e
carinho.
A imagem ilustra claramente a necessidade da
encarnação e da reencarnação do espírito nos mundos; inumeráveis da imensidade
cósmica, de maneira a que se lhe apurem as qualidades e se lhe institua a
responsabilidade na consciência.
Dificuldades e
lutas semelham materiais didáticos na escola ou andaimes na construção;
amealhada a cultura, ou levantado o edifício, desaparecem uns e outros.
Abençoemos, pois,
as disciplinas e as provas com que a Infinita Sabedoria nos acrisolam as
forças, enrijando-nos o caráter.
Ingenuidade é
predicado encantador na personalidade, mas se o trabalho não a transfigura em
tesouro de experiência, laboriosamente adquirido, não passará de flor preciosa
a confundir-se no pó da terra, ao primeiro golpe de vento.
Emmanuel - Do Livro: O Livro Da Esperança - Psicografado Por
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
REENCARNAÇÃO
"Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizar,
corta-o e atira-o para longe de ti; melhor te é entrar na vida, coxo ou
aleijado, do que tende duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo
eterno." - Jesus. (MATEUS, 18:8.)
Unicamente a reencarnação esclarece as questões do ser,
do sofrimento e do destino. Em muitas ocasiões, falou-nos Jesus de seus belos e
sábios princípios.
Esta passagem de Mateus é sumamente expressiva.
É indispensável considerar que o Mestre se dirigia a uma
sociedade estagnada, quase morta.
No concerto das lições divinas que recebe, o cristão, a
rigor, apenas conhece, de fato, um gênero de morte, a que sobrevém à
consciência culpada pelo desvio das Lei; e os contemporâneos do Cristo, na
maioria, eram criaturas sem atividade espiritual edificante, de alma endurecida
e coração paralítico. A expressão "melhor te é entrar na vida"
representa solução fundamental. Acaso, não eram os ouvintes pessoas humanas?
Referia-se, porém, o Senhor à existência contínua, à vida de sempre, dentro da
qual todo o espírito despertará para a sua gloriosa destinação de eternidade.
Na elevada simbologia de suas palavras, apresenta-nos
Jesus o motivo determinante dos renascimentos dolorosos, em que observamos
aleijados, cegos e paralíticos de berço, que pedem semelhantes provas como
períodos de refazimento e regeneração indispensáveis à felicidade porvindoura.
Quanto à imagem do "fogo eterno", inserta nas
letras evangélicas, é recurso muito adequado a lição porque, enquanto não se
dispuser a criatura a viver com o Cristo, será impelida a fazê-lo, através de
mil meios diferentes; se a rebeldia perdurar por infinidade de séculos, os
processos purificadores permanecerão igualmente como o fogo material, que
existirá na Terra enquanto o seu concurso perdurar no tempo como utilidade
indispensável à vida física.
Emmanuel - Do livro Caminho, Verdade e Vida de Chico
Xavier
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