8 – Então chegaram a ele uns escribas e fariseus de
Jerusalém, dizendo: Por que violam os teus discípulos a tradição dos antigos?
Pois não lavam as mãos quando comem o pão. E ele, respondendo, lhes disse: E
vós também, por que transgredis o mandamento de Deus, pela vossa tradição?
Porque Deus disse: Honra a teu pai e a tua mãe, e o que amaldiçoar a seu pai ou
a sua mãe, morra de morte. Vós outros, porém, dizeis: Qualquer que disser a seu
pai ou a sua mãe: Toda a oferta que faço a Deus te aproveitará a ti, está
cumprindo a lei. Pois é certo que o tal não honrará a seu pai ou a sua mãe.
Assim é que vós tendes feito vão os mandamentos de Deus, pela vossa tradição.
Hipócritas, bem profetizou de vós outros Isaías, quando diz: Este povo honra-me
com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão, pois, me honram,
ensinando doutrinas e mandamentos que vêm dos homens. E chamando a si as turbas,
lhes disse: Ouvi e entendei. Não é o que entra pela boca o que faz imundo o
homem, mas o que sai da boca, isso é o que faz imundo o homem. Então,
chegando-se a ele os discípulos, lhe disseram: Sabes que os fariseus, depois
que ouviram o que disseste, ficaram escandalizados? Mas ele, respondendo, lhes
disse: Toda a planta que meu Pai não plantou será arrancada pela raiz.
Deixai-os; cegos são, e condutores de cegos. E se um cego guia a outro cego,
ambos vêm a cair no barranco. E respondendo Pedro, lhe disse: Explica-nos essa
parábola. E respondeu Jesus: Também vós outros estais ainda sem inteligência?
Não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce ao ventre, e se lança
depois num lugar escuso? Mas as coisas que saem da boca vêm do coração, e estas
são as que fazem o homem imundo; porque do coração é que saem os maus
pensamentos, os homicídios, os adultérios, as fornicações, os furtos, os falsos
testemunhos, as blasfêmias. Estas coisas são as que fazem imundo o homem. O
comer, porém, com as mãos por lavar, isso não faz imundo o homem. (Mateus, XV:
1-20).
9 – E quando Jesus estava falando, pediu-lhe um fariseu
que fosse jantar com ele, e havendo entrado, sentou-se à mesa. E o fariseu
começou a discorrer lá consigo mesmo sobre o motivo por que não se tinha lavado
antes de comer. E o Senhor lhe disse: Agora vós outros, os fariseus, limpais o
que está por fora do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de rapina
e de maldade. Néscios, quem fez tudo o que está de fora não fez também o que
está de dentro? (Lucas, XI: 37-40).
10 – Os Judeus haviam negligenciado os verdadeiros
mandamentos de Deus, apegando-se à prática de regras estabelecidas pelos
homens, e das quais os rígidos observadores faziam casos de consciência. O
fundo, muito simples, acabara por desaparecer sob a complicação da forma. Como
era mais fácil observar a prática dos atos exteriores, do que se reformar
moralmente, de lavar as mãos do que limpar o coração, os homens se iludiam a si
mesmos, acreditando-se quites com a justiça de Deus, porque se habituavam a
essas práticas e continuavam como eram, sem se modificarem, pois lhes ensinavam
que Deus não exigia nada mais. Eis porque o profeta dizia: “É em vão que esse
povo me honra com os lábios, ensinando máximas e mandamentos dos homens”.
Assim também aconteceu com a doutrina moral do Cristo,
que acabou por ser deixada em segundo plano, o que faz que muitos cristãos, à
semelhança dos antigos judeus, creiam que a sua salvação está mais assegurada pelas
práticas exteriores do que pelas da moral. É a esses acréscimos que os homens
fizeram à lei de Deus, que Jesus se refere, quando diz: “Toda a planta que meu
Pai não plantou, será arrancada pela raiz”.
A finalidade da religião é conduzir o homem a Deus. Mas o
homem não chega a Deus enquanto não se fizer perfeito. Toda religião, portanto,
que não melhorar o homem, não atinge a sua finalidade. Aquela em que ele pensa
poder apoiar-se para fazer o mal, é falsa ou foi falseada no seu início. Esse é
o resultado a que chegam todas aquelas em que a forma supera o fundo. A crença
na eficácia dos símbolos exteriores é nula, quando não impede os assassínios,
os adultérios, as espoliações, as calúnias e a prática do mal ao próximo, seja
qual for. Ela faz supersticiosos, hipócritas e fanáticos, mas não faz homens de
bem.
Não é suficiente ter as aparências da pureza, é
necessário antes de tudo ter a pureza de coração.
TEXTOS DE APOIO
IMPOSIÇÕES
“... Não é o que entra na boca que enlameia o homem, mas o
que sai da boca do homem. O que sai da boca parte do
coração, e é o que torna o homem impuro...”
“... mas comer sem
ter lavado as mãos não é o que torna um homem impuro...” (Capítulo 8, item 8.)
Os costumes de uma
época refletem de tal maneira sobre os indivíduos que eles passam a vê-los
primeiramente como “normas sociais”, depois como “valores morais”, culminando
finalmente como “ordens divinas”.
A liberdade de
pensar e agir é um dos direitos mais sagrados do homem e, portanto, asas poderosas
para o seu adiantamento espiritual. Liberdade da qual ele nunca deverá abrir
mão, em hipótese alguma. Pessoas amarradas por normas opressoras mal podem
respirar o ar de suas próprias idéias e mal podem se locomover para o
crescimento interior, porque aspirações são anuladas, gestos são vigiados,
anseios são negados constantemente.
“Não é o que entra
na boca que enlameia o homem, mas o que sai da boca do homem.” - adverte Jesus
de Nazaré às criaturas de seu tempo, que se apegaram às práticas e regulamentos
preestabelecidos pelos homens e dos quais eles mesmos, por ser pessoas ortodoxas
e intolerantes, faziam “casos de consciência.
Os judeus, por
confundirem freqüentemente leis divinas com leis civis, atribuíam ao costume de
lavar as mãos antes das refeições, à circuncisão, às questões do sábado e a
outras tantas situações sociais, motivos geradores de polêmicas religiosas,
porque se prestavam mais às práticas exteriores do que aos verdadeiros anseios
de renovação das almas.
As pessoas de bem, no início do século, declaravam que os
senhores dignos e respeitáveis deveriam somente sair à rua de chapéu, paletó e
gravata, bem como, as honradas senhoras, de forma alguma, andariam
desacompanhadas da família, devendo vestir também toda uma “toilette” impecável
com imprescindíveis luvas, chapéus, leques e lenços perfumados, como elementos
de “bem se compor” das elites da época.
No tempo de Jesus não poderia ser diferente. Ele, vivendo
entre criaturas radicais, fanáticas pelas crenças religiosas do passado, que
cultuavam “normas” e “regras” dadas pelos antigos profetas, haveria de não ser
compreendido por sua postura de relacionamento livre de preconceitos e por
ensinar sempre novos aspectos de ver e sentir a vida.
O Mestre tinha “senso de alma”, ou seja, bom senso,
porque usava sua sensibilidade e lógica para orientar a si mesmo e aos outros
que lhe escutavam as lições de sabedoria, pois era contrário à superstição e à
hipocrisia dos que “honravam com os lábios, mas não com o coração”.
O que é moral ou imoral é relativo, em se tratando de
costumes e regras sociais, porque em cada tempo, em cada era e em cada povo
mudam-se as leis sociais, mudam-se os valores, muda-se a moral social.
No entanto, a moral à qual se reportava o Cristo de Deus
não era aquela estabelecida pelos padrões imperfeitos do conhecimento humano,
nem a que faz comparações do que é adequado ou inadequado, nem a que faz
estatística e rotula coisas e pessoas.
Entende-se que nossa alma tem sua própria história de
vida, que somos totalmente individualizados por termos sido expostos a diversos
estímulos e experiências diferentes ao longo da nossa jornada, na
multiplicidade das vidas, e, portanto, devemos ser vistos de conformidade com a
nossa vida interior.
Ele sabia que grande parte do nosso sofrimento ou
conflitos internos provinha do fato de nos considerarmos errados, por não estarmos
dentro dos moldes convencionados pela sociedade em que vivemos.
Matar será sempre imoral perante as Leis Divinas, apesar
de que, dentro dos padrões da “moral social”, matar na guerra é motivo de
condecorações com medalhas e honrarias.
Dessa forma, analisemos, raciocinando com discernimento: a
que moral nós estamos nos prendendo? A das leis passageiras da elite de uma
época, ou a das leis eternas e verdadeiras de todos os tempos?
Pesquisemos atentamente os alicerces de nossa conduta moral.
Eles podem ser os frutos de nossa dor, por permanecermos presos ao conflito de
“lavarmos ou não as mãos”; ou podem ser as
raízes de nossa felicidade, por seguirmos Jesus escutando
a voz do nosso coração.
Hammed – Renovando Atitudes
O QUE PROCEDE DO
CORAÇÃO
“Escutai e compreendei bem isto: – Não é
o que entra na boca que macula o homem; o que sai da boca
do homem é que o macula. – O que sai da boca procede
do coração e é o que torna impuro o homem”.
(Mateus, 15:11)
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO –
Cap. VIII, Item 8
Dentre os velhos inimigos a burilar na caminhada
educativa, as tendências que assinalam nosso estágio de aprendizado
espiritual constituem fortes impulsos da alma que desviam o ser de
seu trajeto natural na aquisição das virtudes. Tendências são inclinações,
pendores que determinam algumas características comportamentais da personalidade.
Muitas delas foram adquiridas em várias etapas reencarnatórias e sedimentam o sistema
de valores, com o qual a criatura faz suas escolhas na rotina da existência.
Entre essas inclinações, vamos encontrar a adoração exterior como
sendo hábito profundamente arraigado na mente determinando forte
vocação para a ritualização, o místico e a valorização de tradições religiosas,
através da qual o homem faz seu encontro com Deus. Muito natural que
nos dias atuais as manifestações exteriores em relação à divindade prevaleçam
na humanidade terrena, considerando que o seu trajeto espiritual se
encontra bem mais perto da animalidade que da angelitude. Nesse sentido, é
interessante analisar que, mesmo nas fileiras da doutrina da fé raciocinada,
encontrase a maioria de seus adeptos engalfinhados em vigorosas reminiscências
que fizeram parte das movimentações da alma nas vivências das religiões
tradicionais. Atrofiamento do raciocínio, supervalorização dos valores institucionais,
engessamento de conceitos, sensação de missionarismo religioso, atitude de
supremacia da verdade, idolatria a seres “superiores”, submissão de conveniência
a líderes, relação de absolvição ou penitência com práticas espíritas,
desvalorização de si mesmo em razão da condição de pecador, condutas puritanas perante
a sociedade e seus costumes, cultivo de comportamentos moralistas, confusão
entre pureza exterior e renovação íntima, essas são algumas tendências que se
apresentam junto aos nossos celeiros espíritas, remanescentes de fortes condicionamentos
psíquicos.
Semelhantes caracteres imprimiram um padrão de práticas e
conceitos no movimento espírita que, de alguma forma, estipulam
referências a serem adotadas pelos seus seguidores. Com todo respeito a
fraternidade, necessitamos urgentemente ter a coragem de avaliar com
sinceridade as influências “éticas” perniciosas dessas tendências no quadro
de nossas vivências espiritistas. São reflexos inevitáveis do crescimento evolutivo
que ninguém pode negar, mas daí a aceitálas sem quaisquer esforços de melhoria,
é conivência e pusilanimidade. Tornálas uma referência religiosa pela qual se
deva reconhecer o verdadeiro seguidor do Espiritismo é uma atitude recheada de
ancestralismo e hipocrisia. A comunidade espírita, que tantas benfeitorias tem
prestado ao mundo, carece de uma reavaliação global em sua estrutura no que
tange à noção de comprometimento. Convém que os líderes mais sensibilizados
instiguem a formação da cultura da franqueza com fraternidade e clareza,
no intuito de estabelecer uma oxigenação na sementeira para obtenção de mais
qualidades nos frutos. Muitos companheiros, os quais merecem nossa compreensão,
costumam disseminar a concepção de que tudo deve correr conforme os
acontecimentos, e justificamse com a frase: “se fazendo assim está dando
certo, porque mudar?” Em verdade, o que deveríamos pensar é: se fazendo
assim estamos colhendo algo, então quanto não colheríamos se fizéssemos melhor,
se nos abríssemos às renovações que a hora reclama?!!
Há uma acomodação lamentável que precisa ser
aferida. A noção espírita de comprometimento foi acintosamente assaltada pelas
velhas tendências de conseguir o máximo fazendo o mínimo. É a devoção exterior,
a influência marcante da personalidade impregnada de religiosismo estéril
querendo tomar conta da cabeça e do coração daqueles que estão sendo chamados a
novos e mais altaneiros compromissos, na espiritualização de si mesmo e da
comunidade onde floresceram. Frágil padrão de validação da conduta espírita tem
tomado conta dos costumes entre os idealistas. Enraizouse o axioma “espírita
faz isso e não faz aquilo” que tenta enquadrar o valor das ações em estereótipos
de insustentável bom senso. Estereótipos, como seria óbvio, que sofrem as
fantasias do “homemvelho” habituado a sempre rechear com facilidades os seus
caminhos em direção ao Pai, a fim de não ter que se enfrentar e assumir a árdua
batalha contra suas ilusões enfermiças. É assim que vamos notando uma supervalorização
das coisas, como a não adoção de alimentação carnívora, a impropriedade
de não frequentar certos ambientes sociais, a fuga da ação política, a análise
da vida dissociada das ciências e conquistas humanas, a interminável procura do
passe como instrumento de melhoria espiritual ao longo de anos a fio, não
chorar em velórios, distanciamento da riqueza como se fosse um mal em si mesma,
cenho carregado como sinônimo de
32 – Ermance Dufaux
responsabilidade, silêncio tumular nos ambientes
espíritas. Se fumar, não é espírita;
se separar matrimonialmente, tem a reencarnação
fracassada; se ingerir alcoólicos, não pode ser considerado alguém em reforma;
se for homossexual, não pode entrar
no centro; e assim prosseguem as idiossincrasias que são
estipuladas uma aqui, outras acolá. Absolutamente não devemos desprezar o valor
de todas essas questões, quando bem orientadas para o bem senso e a lógica.
Entretanto, nenhuma dessas posturas é referência segura sobre a qualidade de
nossos sentimentos, o que parte do coração. O que sai do coração e passa pela
boca é o critério de validação de nossa realidade espiritual. Por ele se
conhece a verdadeira pureza, a pureza interior que é determinada pela forma
como sentimos a vida que nos rodeia. E sobre esse assunto só temos
condições de avaliar o que se passa no nosso íntimo, jamais o que “sai”
no coração do outro. Sem dúvida alguma a pureza exterior pode ser um
ensaio, um primeiro passo para o ingresso definitivo da Verdade em nosso
coração. Todavia, amigos de ideal, pensemos se não estamos passando tempo
demais na confortável zona do desculpismo, desejosos de
facilitar para a consciência nossa noção sobre o que é “ser espírita”.Quem
muito recebeu, muito será pedido 10. Em conclusão, comentamos que há
muitos companheiros queridos do nosso ideário satisfeitos com o fato de
apenas evitarem o mal, entretanto, estejamos alerta para a única
referência ética que servirá a cada um de nós no reino da
alma liberta da vida física: fazer todo o bem que pudermos no alcance de nossas
forças 11. Fora isso, somente trabalhando por uma imensa metamorfose nos reinos
do coração de onde procedem todos os males.
10 LUCAS, 12:4748.
11 O LIVRO DOS ESPÍRITOS –
Questão 770a.
Livro: REFORMA ÍNTIMA SEM MARTIRIO –
Ermance Dufaux
O FILHO EXCEPCIONAL
Chico Xavier
“O poema “Romance na Vida” foi recebido em nossa reunião
pública. O Evangelho Segundo o Espiritismo nos deu o item 8 do seu capítulo XIV
e O Livro dos Espíritos a questão 372 para estudo.
Feitos os comentários por companheiros presentes, quem se
comunicou foi o poeta Alphonsus de Guimaraens, doando-nos a peça poética que
passo às suas mãos. Consideramo-la adequada e comovente.
Com surpresa, porém, na manhã seguinte à reunião, ao sair
de casa, fomos procurados por uma senhora que nos trouxe o filhinho excepcional
para conhecermos, solicitando o amparo do Dr. Bezerra de Menezes em seu favor.
Essa senhora, em quase penúria, disse-nos haver estado
presente na reunião pública da véspera; só não trouxera o pequeno enfermo por
ter chegado já muito tarde, procedente de Ouro Preto. Deixara o doentinho em
descanso numa pensão.
Conquanto muito sofredora, prestara atenção à mensagem e
viera pedir uma cópia.
Comovi-me muito e fiquei meditando no assunto.”
NOTA – O item 8 do capítulo XIV de O Evangelho Segundo o
Espiritismo trata do parentesco corporal e espiritual, mostrando que os
espíritos não se ligam pelos chamados laços de sangue, mas por afinidades
espirituais. O item 372 de O livro dos Espíritos consiste na seguinte pergunta
de Kardec: “Qual o objetivo da Providência ao criar seres desgraçados como os
cretinos e os idiotas?”. A resposta dos espíritos é a seguinte: “São os
espíritos em punição que vivem em corpos de idiotas. Esses espíritos sofrem com
o constrangimento a que estão sujeitos e pela impossibilidade de manifestar-se
através de órgãos não desenvolvidos ou defeituosos”.
ROMANCE NA VIDA
Aphonsus de Guimaraens
No campo, em que o luar engrinalda a escumilha,
O par freme de amor, a noite dorme e brilha.
Ele, o poeta aldeão, era humilde pastor;
Ela, a fidalga, expunha a mocidade em flor.
Ao longe da mansão, quantos beijos ao vento!...
Quantas juras de afeto à luz do firmamento!
Em certa noite, a eleita envia antigo pajem
Que entrega ao moço ansioso imprevista mensagem.
“Perdoe – a carta diz – se não lhe fui sincera
Desposarei agora o homem que me espera.
Nunca deslustrarei o nome de meus pais.
Nosso amor foi um sonho... Um sonho. Nada mais.”
Chora o moço infeliz, sem ninguém que o conforte,
Surdo à razão, anseia arrojar-se na morte.
Corre à choça de taipa. A gesto subitâneo,
Arma-se em desespero e arrasa o próprio crânio.
Foi-se o tempo... E, no Além, o menestrel suicida
Era um louco implorando um novo corpo à vida.
Um dia, a castelã, no refúgio dourado,
Morre amargando, aflita, as lições do passado.
Pendem alvos jasmins do féretro suspenso,
Filhos clamam adeus em volutas de incenso.
Largando-se, por fim, dos enfeites de prata,
Sente-se agora a dama envilecida e ingrata.
Lembra o campo de outrora e o pobre moço aldeão,
Pede para revê-lo e rogar-lhe perdão.
Encontra-o, finalmente, em vasta enfermaria,
Demente, cego e mudo em angústia sombria.
Ela suporta em pranto a culpa que a reprova,
Quer voltar para a Terra e dar-lhe vida nova.
A eterna Lei de Amor no amor se lhe revela,
Retorna ao corpo denso em aldeia singela.
Hoje, mãe a sofrer, fina-se, pouco a pouco,
Carregando no colo um filho mudo e louco...
E enquanto o enfermo espraia o olhar triste e sem brilho,
Ela vive a rogar: “Não me deixes, meu filho!...”
O romance prossegue e os momentos se vão...
Bendita seja a dor que talha a perfeição.
NAS MONTANHAS DE
MINAS
Irmão Saulo
Cabe reproduzir aqui estas palavras de Fernando Góes
sobre o poeta comunicante: “Alphonsus de Guimaraens foi sempre um tímido que
nunca ambicionou outra coisa senão compor seus versos místicos e de amores
tristes, na solidão das montanhas de Minas”.
A solidão das montanhas de Minas está mais cheia de
assombros do que pode supor o ensaísta e historiador do nosso Simbolismo, no
volume IV de “Panorama da Poesia Brasileira”. Alphonsus de Guimaraens continua
a vagar por ali, onde agora descobre histórias mais tristes de amor para
cantá-las através da harpa mediúnica de Chico Xavier. O estilo e a temática do
poeta o identificam nesse poema que nos envia inesperadamente do Além.
Diz o médium que ficou “meditando no assunto” ao ser
abordado pela pobre mãe que lhe pedia cópia do poema. Na sua modéstia e na sua
humildade, Chico não quis chegar por si mesmo às conclusões que vamos tirar
desse episódio mediúnico. As aparentes coincidências que o marcam revelam a
verdade oculta. São o que hoje se chama em Parapsicologia de coincidências
significativas, mas num sentido mais amplo.
Os dois livros de Kardec citados por Chico Xavier são
sempre abertos ao acaso e os dois ofereceram trechos coincidentes para a
leitura e o estudo da noite. O poema de Alphonsus de Guimaraens, após os
diversos comentários – cada comentarista encarando o tema a seu modo –
restabeleceu o fio das coincidências ao contar uma história antiga, de amor
triste frustrado, ao gosto do poeta quando em vida.
Chico não sabia da presença da mãe infeliz na sessão. A
mãe, entretanto, apesar de sua situação de miséria e aparente ignorância,
captou no poema a sua própria história, vivida em encarnação anterior, nos
tempos medievais. É assim que a verdade oculta se revela para os que têm, como
ensinava Jesus, olhos de ver e ouvidos de ouvir. Na solidão das montanhas de
Minas uma tragédia européia veio ter o seu desfecho em nossos dias. E o poeta
dos amores tristes, que nasceu, viveu e morreu em Ouro Preto, incumbiu-se de
revelá-la em seus versos límpidos, perfeitos, carregados da mesma melancolia
que impregna toda a sua musa, usando agora a psicografia de Chico Xavier.
Do livro “Na Era do Espírito”. Psicografia de Francisco
C. Xavier e Herculano Pires. Espíritos Diversos
A TRADIÇÃO E O
MANDAMENTO
“Então vieram de Jerusalém a Jesus alguns fariseus e
escribas e perguntaram-lhe: Por que transgridem os teus discípulos a tradição
dos anciãos? pois não lavam as mãos quando comem pão. Respondeu-lhes: E vós,
por que transgredis o mandamento de Deus por causa da vossa tradição: Pois Deus
disse: Honra a teu pai e a tua mãe, e também: Quem maldisser a seu pai ou a sua
mãe, seja morto; mas vós ensinais: Aquilo que eu te poderia dar já ofereci a
Deus; o tal não precisará mais honrar a seu pai nem a sua mãe. Assim invalidais
a Palavra de Deus por causa da vossa tradição.” (Mateus, XV, 1-6.)
A pretensão e o orgulho religioso se têm revoltado em
todos os tempos contra os princípios fundamentais da Religião, substituindo o
mandamento pela tradição.
Essa obra nefasta do farisaísmo se vai eternizando a
ponto de chegarmos ao esquecimento das coisas divinas, como acontece em nosso século.
O homem tradicionalista não conhece absolutamente a
Religião. Preso aos dogmas e preceitos humanos, limita-se ao culto exterior,
deixando o interior cheio de rapina e podridão.
Eis o maior dos pecados: comer o pão sem lavar as mãos.
Ontem, como hoje, não era pecado comer o pão com o suor alheio, mas quem chegasse
a comê-lo sem “lavar as mãos”, cometia crime de lesa divindade!
Estando de mãos limpas, bem lavadas com sabonete fino,
todos podem tomar parte na “mesa da comunhão”, certos de que dali sairão limpos
de pecados.
Os figurões já sabem disso: lavam as mãos, ornam as
igrejas com imagens e lanternetas; e os pobres que passem fome, os enfermos que
se lamentem, os desprotegidos da sorte que chorem!
Desde que as capelas estejam ornadas, as imagens bem
vestidas, os altares dourados e os sinos bimbalhando, apresentando-se o culto
com vida, pereçam os pobres na sua nudez, gritem os sofredores, conserve-se frio
e sem lume o fogão dos infelizes!
Obedecida a tradição, que importa o mandamento!
O mandamento é de Deus e Deus não se vê; a tradição é dos
homens e ai estão os homens guardando a tradição, “tesouro” que lhes legaram
seus pais e avós!
Não é isso o que se observa em toda parte! Onde estão os
hospitais, os asilos, as escolas para as crianças órfãs?
E aqueles que ainda se vêem, com que descaso são
mantidos, e como são dirigidos!
Não há dúvidas de que há absoluta paridade entre a época
atual e aquela em que Jesus veio ao mundo.
Os mesmos escribas e fariseus de outrora se manifestam
hoje, e de modo, parece, ainda mais impreterito que os de então.
Em todas as classes sociais a perversão de caráter se
salienta de maneira tão nojenta que é preciso andar no mundo sem ser do mundo,
para se poder fazer alguma coisa em proveito próprio.
Fariseus surgem de todos os lados com perguntas
insidiosas; escribas pervertidos desnaturam a missão da Imprensa; falsos
profetas e obreiros fraudulentos especulam com as coisas mais santas, levando a
confusão aos lares e às sociedades)
Decididamente não se vê mais que tradição — mãos lavadas!
A Misericórdia não mais alimenta os corações e a Fé há
muito não aquece as almas com a sua chama vivificadora. Atualmente, o que se vê
são holocaustos e sacrifícios, e a palavra de Deus invalidada por causa da tradição.
Os ensinos de Jesus permanecem encerrados por aqueles que
se dizem seus representantes, para que a tradição continue a vigorar e os mandamentos
das Igrejas não sejam absorvidos pelos mandamentos de Deus.
O culto não é dado ao Criador, como o Espírito ensinou a
Abraão, a Moisés e pelos lábios de Jesus, mas à criatura, contra os preceitos
do Decálogo e os ensinos cristãos, tão esquecidos em nossa época.
Entretanto, tenhamos fé, nem tudo está perdido. Quando o
Sol se esconde no poente e a Terra é envolvida no manto de trevas, tudo parece caos,
confusão, mas, daí a pouco surge a alvorada e o mesmo Sol ilumina o mundo e
dá-lhe vida.
Tenhamos fé: a uma época de miséria sucede outra de
fartura, assim como às seis vacas gordas sucederam as magras, e as espigas bem granadas
vieram substituir as chochas.
Parábolas e ensinos de Jesus – Cairbar Schutel
PROJETOS DE RELIGIOSIDADE NA PROMOÇÃO HUMANA
"O objetivo da religião é conduzir a Deus o homem.
Ora, este não chega a Deus senão quando se torna perfeito. Logo, toda religião
que não torna melhor o homem não alcança o seu o objetivo." O ESE, cap.
VIII, ítem 10.
Religiosidade é o conjunto das atitudes, idéias e
sentimentos afinados com as diretrizes das Leis Divinas ou Naturais.
Por analogia, assinalemos o sentimento como sendo o
templo interno de nossa busca a Deus pelo coração, e as atitudes como o altar
sagrado de nossa comunhão com o Pai. Para o encontro com o Pai não nos bastará
a permanência no templo sem a genuflexão no altar. Se os bons sentimentos são
fonte de equilíbrio, somente as atitudes são chaves libertadoras aos mais
amplos vôos no rumo da conscientização.
Imprescindível resgatar essa conotação de religiosidade
em detrimento de nosso indesejável religiosismo milenar, isto é, as atitudes
que decorrem do apego a rígidas estruturas religiosas arquivadas nos profundos
porões da mente. A adesão voluntária à religião universal da caridade é a fonte
de permanente revitalização do afeto e do amor. Com ela adquirimos o espírito
renovador que resgatará os ambientes de simplicidade e júbilos incontáveis para
nossas casas espíritas, sob o influxo da convivência educativa.
O psiquismo religioso como natural formação cultural
ainda é ostensivo no que tange a delinear as plataformas de ação do Centro
Espírita. Todavia, nossas casas de consolo são convocadas a se promover a
centros educativos da alma. A prolongada fixação no consolo sem descortinar os
roteiros de libertação oferece campo para a estagnação e o fanatismo. A tarefa
do Centro Espírita não deve se circunscrever a amenizar as lutas humanas. A
humanidade precisa de educação tanto quanto de conforto afetuoso.
Não basta aliviar as dores, é indispensável ensinar a
construir a felicidade.
Utilizando a advertência de Bezerra de Menezes, perguntemos:
"Como assumir esse compromisso de tornar a casa doutrinária uma escola
capacitadora de virtudes e formadora do homem de bem?"
O benfeitor propõe um caminho:
"Elaboremos um programa educacional centrado em
valores humanos para dirigentes, trabalhadores, médiuns, pais, mães, jovens,
velhos e o apliquemos consentaneamente com as bases da Doutrina".1717.
Seara bendita, diversos Espíritos, introdução, DUFAUX.
Em todos os tempos, os projetos de religião sempre
compareceram organizando as comunidades e propondo metas, e foi por falta de
projetos de religiosidade que as organizações se desviaram de seus sagrados
objetivos educativos. Igualmente, nossas agremiações espíritas, ainda que
contabilizando conquistas apreciáveis no terreno da orientação e da promoção
humana, podem avançar muito mais por meio da edificação de ambientes
regenerativos ricos de humanismo e distante da padronização.
O contexto social da modernidade apela para diretrizes
mais claras de significado, com linguagem apropriada ao contexto e com práticas
que sintonizem o homem com seus sentimentos. Nenhum projeto educacional pode
desconsiderar a singularidade humana, sendo, portanto, sob análise
construtivista, contraproducente aderir a convenções que raiam para rigidez e
estrangulam a criatividade, a alteridade.
Os núcleos doutrinários da atualidade têm como urgente e
indeclinável tarefa auxiliar o ser humano na matriz de todas as suas doenças, a
doença-mãe chamada doença do sentido, ou seja, a incapacidade de dar um
significado útil e prazeroso a sua vida. O tema fé deve constituir o centro
desse curso de autoamor e despertamento da sensibilidade.
A propósito, o que é a fé? Como desenvolver a fé? Fé é
algo inato ou passível de desenvolvimento? Por que a fé é tão importante para
dar um sentido à existência? O que tem impedido o homem de utilizar sua fé? Até
onde a religião é útil para a fé? Qual a relação entre fé e religiosidade? Como
entender a colocação: *
"Inspiração divina, a fé desperta todos os instintos
nobres que encaminham o homem para o bem?"1818. O evangelho segundo o espiritismo,
capítulo XIX, item II.
O prazer de viver está intrinsecamente conectado a esse
tema. E' o prazer de viver é a maior conquista das pessoas livres, felizes e
conscientes. Muitos corações queridos do espiritismo estão exemplarmente
integrados aos projetos religiosos sob enfoque da doutrina, entretanto, ainda
não amealharam a alegria de existir, o prazer de ser o que são, o sorriso de
ternura e a vibração da paz.
O tempo passa. A reencarnação se esvai. Ainda assim
permanece a proposta de fazer de cada um de nós o roteiro de luz e felicidade
que irradiará para os homens a mensagem excelsa da imortalidade e do amor.
Ergamos as trincheiras do desapego de conceitos e pontos de vista. Acompanhemos
a lufada renovadora de bênçãos que atinge a nossa seara, e vigiemos para não
cair nas malhas do imobilismo.
Mais que purismo filosófico, atitudes humanizadoras.
Mais que amor à doutrina, laços de afeto com o próximo.
Nossas reflexões podem parecer um tanto fora da realidade
para alguns, mas foram todas inspiradas na palavra e na ação de homens e
mulheres que souberam materializá-las, em reencarnações vitoriosas, na história
do espiritismo brasileiro, e que, segundo eles, constituirão o núcleo da
plataforma do movimento espírita do século XXI, na preparação do milênio da
regeneração humana. Devemos lembrar que esse engano do coração, de fantasiar
onde existe a Verdade, foi o que nos levou a dois mil anos de desprezo à
proposta de Jesus, a qual somente agora começamos a sentir o valor. Portanto,
não será demais afirmar que quando não conseguimos plenificar o amor em
atitudes, a tendência é escravizá-lo a belos raciocínios no intuito de aliviar
nossa consciência e adiar um tanto mais nosso tempo de amar...
Nossa causa é o bem vivido e sentido. Injustificável
qualquer receio em inverter esta ordem e priorizar a defesa aos princípios
doutrinários, que cada dia mais estão consolidados no inconsciente coletivo da
humanidade.
Infelizmente, muitos substituíram a fraternidade em favor
das convenções. Eles próprios, contudo, pagam por si mesmos um severo preço. Na
intimidade amargam o frio das rudes provas por meio dos sentimentos de dúvida e
adiam as suas chances pessoais de romper com as envelhecidas barreiras entre o
que pensam que são e aquilo que realmente os espera no país da Verdade Imortal.
Teremos de mencionar sempre o amor, já que ainda não o
conseguimos plenificar em nossas atitudes, porque, se deixarmos de falar sobre
ele, o esqueceremos de vez.
Recordemos com a própria doutrina espírita que o
conhecimento será instrumento disciplinador do coração, mas somente a
convivência edificada em legítimos gestos de amor será a nossa alforria perante
a vida futura, que nos aguarda logo mais.
Trabalhemos todos pela vitalidade de nossos ideais de
aproximação e convivência salutar, ajustando-nos à transformação pelos
princípios do Homem de Bem. Laborar em atitudes Cristãs pelos ofícios da seara
espírita é angariar créditos na expansão da luz da Boa Nova para toda a
humanidade.
Edifiquemos espaços de legítima unificação nos núcleos
espiritistas pelos vínculos sacrossantos de amizade e interesse renovador.
Deixemos definidos novos parâmetros que nos inspirem o
projeto de religiosidade no carinho espontâneo, e que essas sejam as metas a
serem perseguidas nos dias vindouros de nossa faina espiritual:
Unidade? Somente de sentimentos elevados.
Pureza? Sobretudo nas intenções. Supremacia? Por via do
consenso. Coesão? Apenas nas atitudes.
Sem isso, será fazer do espiritismo mais uma religião que
poderá terminar enquadrada na alertiva do codificador: "(...) toda
religião que não torna melhor o homem, não alcança o seu objetivo".
LIVRO: Prazer De Viver - Ermance Dufaux - Wanderley
Oliveira
ESMOLA
"Dai antes esmola do que tiverdes." - Jesus.
(LUCAS, 11:41.)
A palavra
do Senhor está sempre estruturada em luminosa beleza que não podemos perder de
vista.
No
capítulo da esmola, a recomendação do Mestre, dentro da narrativa de Lucas,
merece apontamentos especiais.
"Dai
antes esmola do que tiverdes,"
Dar o que
temos é diferente de dar o que detemos,
A caridade
é sublime em todos os aspectos sob os quais se nos revele e em circunstância
alguma devemos esquecer a abnegação admirável daqueles que distribuem pão e
agasalho, remédio e socorro para o corpo, aprendendo a solidariedade e
ensinando-a.
É justo,
porém, salientar que a fortuna ou a autoridade são bens que detemos
provisoriamente na marcha comum e que, nos fundamentos substanciais da vida,
não nos pertencem.
O Dono de
todo o poder e de toda a riqueza no Universo é Deus, nosso Criador e Pai, que
empresta recursos aos homens, segundo os méritos ou as necessidades de cada um.
Não
olvidemos, assim, as doações de nossa esfera íntima e perguntemos a nós mesmos:
Que temos
de nós próprios para dar?
Que
espécie de emoção estamos comunicando aos outros?
Que
reações provocamos no próximo?
Que
distribuímos com os nossos companheiros de luta diária?
Qual é o
estoque de nossos sentimentos?
Que tipo
de vibrações espalhamos?
Para
difundir a bondade, ninguém precisa cultivar riso estridente ou sorrisos
baratos, mas, para não darmos pedras de indiferença aos corações famintos de
pão da fraternidade, é indispensável amealhar em nosso espírito as reservas da
boa compreensão, emitindo o tesouro de amizade e entendimento que o Mestre nos
confiou em serviço ao bem de quantos nos rodeiam, perto ou longe.
É sempre
reduzida a caridade que alimenta o estômago, mas que não esquece a ofensa, que
não se dispõe a servir diretamente ou que não acende luz para a ignorância.
O aviso do
Instrutor Divino nas anotações de Lucas significa: - daí esmola de vossa vida
íntima, ajudai por vós mesmos, espalhai alegria e bom ânimo, oportunidade de
crescimento e elevação com os vossos semelhantes, sede irmãos dedicados ao
próximo, porque, em verdade, o amor que se irradia em bênçãos de felicidade e
trabalho, paz e confiança, é sempre a dádiva maior de todas.
Livro Fonte Viva.
Pelo Espírito Emmanuel. Psicografia Francisco C. Xavier
O TESOURO MAIOR
"Porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará
também o vosso coração." - Jesus. (LUCAS, 12:34.)
No mundo, os templos de fé religiosa, desde que
consagrados à Divindade do Pai, são departamentos da casa infinita de Deus,
onde Jesus ministra os seus bens aos corações da Terra, independentemente da
escola de crença a que se filiam.
A essas subdivisões do eterno santuário comparecem os
tutelados do Cristo, em seus diferentes graus de compreensão. Cada qual,
instintivamente, revela ao Senhor onde coloca seu tesouro.
Muitas vezes, por isso mesmo, nos recintos diversos de
sua casa, Jesus recebe, sem resposta, as súplicas de inúmeros crentes de
mentalidade infantil, contraditórias ou contraproducentes.
O egoísta fala de seu tesouro, exaltando as posses
precárias; o avarento refere-se a mesquinhas preocupações; o gozador demonstra
apetites insaciáveis; o fanático repete pedidos loucos.
Cada qual apresenta seu capricho ferido como sendo a dor
maior.
Cristo ouve-lhes as solicitações e espera a oportunidade
de dar-lhes a conhecer o tesouro imperecível. Ouve em silêncio, porque a erva
tenra pede tempo destinado ao processo evolutivo, e espera, confiante,
porquanto não prescinde da colaboração dos discípulos resolutos e sinceros para
a extensão do divino apostolado. No momento adequado, surgem esses, ao seu
influxo sublime, e a paisagem dos templos se modifica. Não são apenas crentes
que comparecem para a rogativa, são trabalhadores decididos que chegam para o
trabalho. Cheios de coragem, dispostos a morrer para que outros alcancem a
vida, exemplificam a renúncia e o desinteresse, revelam a Vontade do Pai em si
próprios e, com isso, ampliam no mundo a compreensão do tesouro maior,
sintetizado na conquista da luz eterna e do amor universal, que já lhes
enriquece o espírito engrandecido.
Emmanuel - Do livro "Caminho, Verdade e
Vida", de Chico Xavier
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