9 – Não julgueis que vim trazer paz a Terra; não vim
trazer-lhe paz, mas espada; porque vim separar o homem contra seu pai, e a
filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; e os inimigos do homem serão os seus mesmos domésticos. (Mateus, X:
34-36).
10 – Eu vim trazer fogo à Terra, e que quero eu, senão
que ele se acenda? Eu, pois, tenho de ser batizado num batismo, e quão grande
não é a minha angústia, até que ele se cumpra? Vós cuidais que eu vim trazer paz à Terra? Não, vos digo
eu, mas separação; porque de hoje em diante haverá, numa mesma casa, cinco
pessoas divididas, três contra duas e duas contra três. Estarão divididas: o
pai contra o filho, e o filho contra seu pai; a mãe contra a filha, e a filha
contra a mãe; a sogra contra sua nora, e a nora contra sua sogra. (Lucas, XII:
49-53)
11 – Foi mesmo Jesus, a personificação da doçura e da
bondade, ele que não cessava de pregar o amor do próximo, quem disse estas
palavras: Eu não vim trazer a paz, mas a espada; vim separar o filho do pai, o
marido da mulher, vim lançar fogo na Terra e tenho pressa que ele se acenda?
Essas palavras não estão em flagrante contradição com o seu ensino? Não é uma
blasfêmia atribuir-se a linguagem de um conquistador sanguinário e devastador?
Não, não há blasfêmia nem contradição nessas palavras, porque foi ele mesmo
quem as pronunciou, e elas atestam a sua elevada sabedoria. Somente a forma, um
tanto equívoca, não exprime exatamente o seu pensamento, o que provocou alguns
enganos quanto ao seu verdadeiro sentido. Tomadas ao pé da letra, elas
tenderiam a transformar a sua missão, inteiramente pacífica, numa missão de
turbulências e discórdias, conseqüência absurda, que o bom senso rejeita, pois
Jesus não podia contradizer-se. (Ver cap. XIV, nº 6).
12 – Toda idéia nova encontra forçosamente oposição, e
não houve uma única que se implantasse sem lutas. A resistência, nesses casos,
está sempre na razão da importância dos resultados previstos, pois quanto maior
ela for, maior será o número de interesses ameaçados. Se for uma idéia
notoriamente falsa, considerada sem conseqüências, ninguém se perturba com ela,
e a deixam passar, confiantes na sua falta de vitalidade. Mas se é verdadeira,
se está assentada em bases sólidas, se é possível entrever-lhe o futuro, um
secreto pressentimento adverte os seus antagonistas de que se trata de um
perigo para eles, para a ordem de coisas por cuja manutenção se interessam. E é
por isso que se lançam contra ela e os seus adeptos. A medida da importância e
das conseqüências de uma idéia nova nos é dada, portanto, pela emoção que o seu
aparecimento provoca, pela violência da oposição que desperta, e pela
intensidade e a persistência da cólera dos seus adversários.
13 – Jesus vinha proclamar uma doutrina que minava pelas
bases a situação de abusos em que viviam os fariseus, os escribas e os
sacerdotes do seu tempo. Por isso o fizeram morrer, julgando matar a idéia com a
morte do homem. Mas a idéia sobreviveu, porque era verdadeira; desenvolveu-se,
porque estava nos desígnios de Deus; e nascida numa pequena vila da Judéia, foi
plantar a sua bandeira na própria capital do mundo pagão, em face dos seus
inimigos mais encarniçados, daqueles que tinham o maior interesse em
combatê-la, porque ela subvertia as crenças seculares, a que muitos se
apegavam, mais por interesse do que por convicção. Era lá que as lutas mais
terríveis esperavam os seus apóstolos; as vítimas foram inumeráveis; mas a
idéia cresceu e saiu triunfante, porque superava, como verdade, as suas
antecessoras.
14 – Observe-se que o Cristianismo apareceu quando
Paganismo declinava, debatendo-se contra as luzes da razão. Convencionalmente
ainda o praticavam, mas a crença já havia desaparecido, de maneira que apenas o
interesse pessoal o sustinha. Ora, o interesse é tenaz, não cede nunca à
evidência, e irrita-se tanto mais, quanto mais peremptórios são os raciocínios
que se lhe opõem e que melhor demonstram o seu erro. Bem sabe que está errado,
mas isso pouco lhe importa, pois a verdadeira fé não lhe interessa; pelo
contrário, o que mais o amedronta é a luz que esclarece os cegos. O erro lhe é
proveitoso, e por isso a ele se aferra, e o defende.
Sócrates não formulara também uma doutrina, até certo
ponto, semelhante à do Cristo? Por que, então, não prevaleceu naquela época, no
seio de um dos povos mais inteligentes da Terra? Porque os tempos ainda não
haviam chegado. Ele semeou em terreno não preparado: o paganismo não estava
suficientemente gasto. Cristo recebeu a sua missão providencial no tempo
devido. Nem todos o homens do seu tempo estavam à altura das idéias cristãs,
mas havia um clima geral de aptidão para assimilá-las, porque já se fazia
sentir o vazio que as crenças vulgares deixavam na alma. Sócrates e Platão
abriram o caminho e prepararam os Espíritos. (Ver na Introdução, parágrafo IV:
Sócrates e Platão, precursores da idéia cristã e do Espiritismo).
15 – Os adeptos da nova doutrina, infelizmente, não se
entenderam sobre a interpretação das palavras do Mestre, na maioria veladas por
alegorias e expressões figuradas. Daí surgirem, desde o princípio, as numerosas
seitas que pretendiam, todas elas, a posse exclusiva da verdade, e que dezoito
séculos não conseguiram pôr de acordo. Esquecendo o mais importante dos
preceitos divinos, aquele de que Jesus havia feito a pedra angular do seu
edifício e a condição expressa da salvação: a caridade, a fraternidade e o amor
do próximo, essas seitas se anatematizaram reciprocamente, arremeteram-se umas
contra as outras, as mais fortes esmagando as mais fracas, afogando-as em
sangue, ou nas torturas e nas chamas das fogueiras. Os cristãos vencedores do
paganismo, passaram de perseguidos a perseguidores.
Foi a ferro e fogo que plantaram a cruz do cordeiro sem mácula nos dois mundos.
É um fato comprovado que as guerras de religião foram mais cruéis e fizeram
maior número de vítimas que as guerras políticas, e que em nenhuma outra se
cometeram tantos atos de atrocidade e de barbárie.
Seria a culpa da doutrina do Cristo? Não, por certo, pois
ela condena formalmente toda violência. Disse ele em algum momento aos seus
discípulos: Ide matar, queimar, massacrar os que não acreditarem como vós? Não,
pois que lhes disse o contrário: Todos os homens são irmãos, e Deus é
soberanamente misericordioso; amai o vosso próximo; amai os vossos inimigos;
fazei bem aos que vos perseguem. E lhes disse ainda: Quem matar com a espada
perecerá pela espada. A responsabilidade, portanto, não é da doutrina de Jesus,
mas daqueles que a interpretaram falsamente, transformando-a num instrumento a
serviço das suas paixões, daqueles que ignoram estas palavras: O meu Reino não
é deste mundo.
Jesus, na sua profunda sabedoria, previu o que devia
acontecer. Mas essas coisas eram inevitáveis, porque decorriam da própria
inferioridade da natureza humana, que não podia ser transformada subitamente.
Era necessário que o Cristianismo passasse por essa prova demorada e cruel, de
dezoito séculos, para demonstrar toda a sua pujança: porque, apesar de todo o
mal cometido em seu nome, ele saiu dela puro, e jamais esteve em causa. A
censura sempre caiu sobre os que dele abusaram, pois a cada ato de intolerância
sempre se disse: Se o Cristianismo fosse melhor compreendido e melhor
praticado, isso não teria acontecido.
16 Quando Jesus disse: Não penseis que vim trazer a paz,
mas a divisão – seu pensamento era o seguinte:
“Não penseis que a
minha doutrina se estabeleça pacificamente. Ela trará lutas sangrentas, para as
quais o meu nome servirá de pretexto. Porque os homens não me haverão
compreendido, ou não terão querido compreender-me. Os irmãos, separados pelas
suas crenças, lançarão a espada um contra o outro, e a divisão se fará entre os
membros de uma mesma família, que não terão a mesma fé. Vim lançar o fogo na
Terra, para consumir os erros e os preconceitos, como se põe fogo num campo
para destruir as ervas daninhas, e anseio porque se acenda, para que a
depuração se faça mais rapidamente, pois dela sairá triunfante a verdade. A
guerra sucederá a paz; ao ódio dos partidos, a fraternidade universal; às
trevas do fanatismo, a luz da fé esclarecida” .
“Então, quando o
campo estiver preparado, eu vos enviarei o Consolador, o Espírito da Verdade,
que virá restabelecer todas as coisas, ou seja, que dando a conhecer o
verdadeiro sentido das minhas palavras, que os homens mais esclarecidos poderão
enfim compreender, porá termo à luta fratricida que divide os filhos de um
mesmo Deus. Cansados, afinal, de um combate sem solução, que só acarreta
desolação e leva o distúrbio até mesmo ao seio das famílias, os homens
reconhecerão onde se encontram os seus verdadeiros interesses, no tocante a
este e ao outro mundo, e verão de que lado se acham os amigos e os inimigos da
sua tranqüilidade. Nesse momento, todos virão abrigar-se sob a mesma bandeira:
a da caridade, e as coisas serão restabelecidas na Terra, segundo a verdade e
os princípios que vos ensinei”.
17 – O Espiritismo vem realizar, no tempo determinado, as
promessas do Cristo. Não o pode fazer, entretanto, sem destruir os erros. Como
Jesus, ele se defronta com o orgulho, o egoísmo, a ambição, a cupidez, o
fanatismo cego, que, cercados nos seus últimos redutos, tenta ainda barrar-lhe
o caminho, e levantam contra ele entraves e perseguições. Eis por que ele
também é forçado a combater. Mas a época das lutas e perseguições sangrentas já
passou, e as que ele tem de suportar são todas de ordem moral, sendo que o fim
de todas elas se aproxima. As primeiras duraram séculos; as de agora durarão
apenas alguns anos, porque a luz não parte de um só foco, mas irrompe de todos
o ponto do globo, e abrirá mais depressa os olhos aos cegos.
18 – Aquelas palavras de Jesus devem ser entendidas,
portanto, como referentes à cólera que, segundo previa, a sua doutrina iria
suscitar; aos conflitos momentâneos, que surgiram como conseqüência; às lutas
que teria de sustentar, antes de se firmar, como aconteceu com os hebreus antes
de sua entrada na Terra Prometida; e não como um desígnio premeditado, de sua
parte, de semear a desordem e a confusão. O mal devia provir dos homens, e não
dele. A sua posição era a do médico que veio curar, mas cujos remédios provocam
uma crise salutar, revolvendo os humores malignos do enfermo.
TEXTOS DE APOIO
A ESPADA SIMBÓLICA
“Não cuideis que
vim trazer a paz à Terra; não vim trazer a paz, mas a espada.” — Jesus.
(MATEUS, capítulo 10, versículo 34.)
Inúmeros leitores do Evangelho perturbam-se ante essas
afirmativas do Mestre Divino, porqüanto o conceito de paz, entre os homens,
desde muitos séculos foi visceralmente viciado. Na expressão comum, ter paz
significa haver atingido garantias exteriores, dentro das quais possa o corpo
vegetar sem cuidados, rodeando-se o homem de servidores, apodrecendo na
ociosidade e ausentando-se dos movimentos da vida.
Jesus não poderia endossar tranqüilidade desse jaez, e,
em contraposição ao falso princípio estabelecido no mundo, trouxe consigo a
luta regeneradora, a espada simbólica do conhecimento interior pela revelação
divina, a fim de que o homem inicie a batalha do aperfeiçoamento em si mesmo. O
Mestre veio instalar o combate da redenção sobre a Terra. Desde o seu
ensinamento primeiro, foi formada a frente da batalha sem sangue, destinada à
iluminação do caminho humano. E Ele mesmo foi o primeiro a inaugurar o
testemunho pelos sacrifícios supremos.
Há quase vinte séculos vive a Terra sob esses impulsos
renovadores, e ai daqueles que dormem, estranhos ao processo santificante!
Buscar a mentirosa paz da ociosidade é desviar-se da luz,
fugindo à vida e precipitando a morte.
No entanto, Jesus é também chamado o Príncipe da Paz.
Sim, na verdade o Cristo trouxe ao mundo a espada
renovadora da guerra contra o mal, constituindo em si mesmo a divina fonte de
repouso aos corações que se unem ao seu amor; esses, nas mais perigosas
situações da Terra, encontram, n’Ele, a serenidade inalterável. É que Jesus
começou o combate de salvação para a Humanidade, representando, ao mesmo tempo,
o sustentáculo da paz sublime para todos os homens bons e sinceros.
Emmanuel - Do
livro Caminho Verdade e Vida. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
A LIÇÃO DA ESPADA
"Não cuideis
que vim trazer a paz a terra..." -
JESUS. (Mateus, 10:34.)
"Não vim
trazer a paz, mas a espada" - disse-nos o Senhor.
E muitos
aprendizes prevalecem-se da feição literal de Sua palavra, para entender a
sombra e a perturbação.
Valendo-se-lhe do
conceito, companheiros inúmeros consagram-se ao azedume no lar, conturbando os
próprios familiares, em razão de lhes imporem modos de crer e pontos de vista,
vergastando-lhes o entendimento, ao invés de ajudá-los na plantação da fé viva
quando não se desmandam em discussões e
conflitos, polemizando sem proveito ou acusando indebitamente a todos aqueles
que lhes não comunguem a cartilha de violência e de crueldade.
O mundo, até a
época do Cristo, legalizara a prepotência do ódio e da ignorância, mantendo-lhe
a terrível dominação, através da espada mortífera da guerra e do cativeiro, em
sanguinolentas devastações.
A realeza do homem
era a tirania revestida de ouro, arruinando e oprimindo onde estendesse as
garras destruidoras.
Com Jesus, no
entanto, a espada é diferente.
Voltada para o
seio da terra, representa a cruz em que Ele mesmo prestou o testemunho supremo
do sacrifício e da morte pelo bem de todos.
É por isso que seu
exemplo não justifica os instintos desenfreados de quantos pretendem ferir ou
guerrear em Seu nome.
A disciplina e a humildade, o amor e a renúncia marcam-lhe
as atitudes em todos os passos da senda.
Flagelado e
esquecido, entre o escárnio e a calúnia, o perdão espontâneo flui-lhe,
incessante, da alma, para somente retribuir benção por maldição, luz por treva,
bem por mal.
Assim, se
recebeste a espada simbólica que o Mestre nos trouxe à vida, lembra-te de que a
batalha instituída pela lição do Senhor permanece viva e rija, dentro de nós, a
fim de que, ensarilhando sobre o pretérito a espada de nossa antiga insensatez,
venhamos a convertê-la na cruz redentora, em que combateremos os
inimigos de nossa paz, ocultos em nosso próprio "eu", em forma de
orgulho e intemperança, egoísmo e
animalidade, consumindo-se ao preço de nossa própria consagração à felicidade
dos outros, única estrada suscetível de conduzir-nos ao império definitivo da
Grande Luz.
Francisco Cândido Xavier - Livro Ceifa de Luz
- Pelo Espírito Emmanuel
A FORÇA DO BEM
"Toda idéia nova forçosamente encontra oposição e
nenhuma há que se implante sem lutas. Ora, nesses casos, a resistência é sempre
proporcional à importância dos resultados previstos, porque, quanto maior ela
é, tanto mais numerosos são os interesses que fere." E.S.E. CAPÍTULO 23,
ÍTEM 12
A rotina dos nossos serviços no Hospital Esperança foi
interrompida naquele dia por um chamado para atendimento na crosta terrestre.
Tratava-se de Juarez, médium em regime de educação das
forças mentais, o qual rogou amparo frente a imprevista ocorrência em sua vida
profissional. Sua oração, conquanto carregada de desespero, foi registrada em
nossos "Núcleos Irradiadores" e o pedido, como de costume, chegou ao
pavilhão dirigido por Dona Maria Modesto Cravo, que nos conclamou ao trabalho.
Chegamos juntas ao ambiente comercial de Juarez, Dona
Modesta e nós.
Ele estava ansioso e compenetrado no episódio, o qual
assumiu proporções avassaladoras em sua mente. Providenciamos alguns fluidos
calmantes para que ele mantivesse o equilíbrio; era um homem de gênio explosivo
e pouco cordato, especialmente nos negócios.
Seu estabelecimento seria visitado por um fiscal de
impostos. Notamos que a mente do nosso amigo estava em franco
"delírio". Pensamentos de oposição espiritual tomavam conta de seu
cérebro. Dizia para consigo: "querem me derrotar porque estou no trabalho
do bem!", "tenho certeza que foi uma cilada espiritual em razão das
últimas palestras que fiz sobre temas evangélicos!". Sua fixação em idéias
de pressões espirituais de adversários vagueava pelo terreno do místico e
imponderável. Não pensou em alguma atitude juridicamente defensiva e nem na
própria incúria, com a qual tornou-se possível a ocorrência. Não constatávamos
a presença de nenhum ardil de obsessores contra ele naquele caso.
A dívida era vultosa. Infelizmente, apesar dos apelos de
amigos e parentes, Juarez preferiu a omissão.
A hora previamente determinada, chegou um homem maduro e
carrancudo, com ares de severidade. A visita foi rápida e cordial. Apenas mais
uma advertência, nada de execução judicial, por enquanto. O médium agora
aliviado mentalizava em seus pensamentos: "como os amigos espirituais são
bons e amparam quem está na tarefa! "
De nossa parte, o único amparo dispensado em verdade foi
a ele próprio, a fim de que não excedesse na conduta ...
Terminada nossa visita, Dona Modesta sintetizou em
pequena frase uma ampla experiência que merece estudo e aprofundamento nas relações
entre homens e espíritos:
- Veja só, Ermance ! Os homens costumam ver os espíritos
onde eles não estão, e onde eles estão não costumam ser vistos pelos homens!
...
Situações como a de nosso amigo comerciante têm sido
constantemente assinaladas no dia-a-dia do homem carnal, seja portador de
faculdades psíquicas mais evidentes ou não.
O ser humano é essencialmente místico, mas,
principalmente entre os cultores da fé espírita, essa tendência tem sido
acentuadamente empregada na construção da "realidade" individual.
atingindo algumas vezes as raias da insensatez. O exagero nesse tema tem ensejado
devaneios com conseqüências morais nocivas para a vida de muitos homens na
Terra. Menor esforço e irresponsabilidade em razão de fantasias provenientes do
pensamento mágico têm criado campo para a fuga e a ilusão.
Explorações psíquicas têm ocorrido em torno do tema.
Visitamos certa feita um médium de cura, em cidade
localizada no polígono magnético do planalto central, e constatamos um nível
acentuado e sutil de desequilíbrio que ilustra nossa tese. Nosso amigo já não
vivia mais o plano físico, uma "quase esquizofrenia" cingia-lhe o
pensamento. Não ouvia mais os amigos de convivência, guardava-se sob uma
análise exclusivamente da influência dos espíritos em todos os fatos que o
cercavam. Nos êxitos rendia homenagens aos benfeitores como forma inteligente
de "engrandecer sua suposta humildade", no entanto, encharcava-se na
vaidade pessoal de ter sido ele o intermediário do sucesso. Nos fracassos
imputava irrevogável responsabilidade às trevas e sua sanha perseguidora,
abdicando de incursionar no campo da auto-análise e verificar sua parcela
pessoal nos trâmites infelicitadores.
Inclusive uma questão merece urgente
avaliação.Convencionou-se entre alguns adeptos espíritas mensurar o valor
espiritual de uma tarefa pela "oposição trevosa" (conforme
denominação usual no plano físico) que lhe é imposta. Alguns companheiros,
inspirados nessa tese, interpretam todos os obstáculos em torno de seus passos
no serviço doutrinário como "ciladas" e "manobras" contra
seus ideais, como se tal critério constituísse um sistema de aferição exato e
universal. Apoiados nas palavras do codificador, que diz: "Assim, pois, a
medida da importância ( dos resultados de uma idéia nova se encontra na emoção
que o seu aparecimento causa, na violência da oposição que provoca, bem como no
grau e na persistência da ira de seus adversários. (E.S.E., cap. XXIII, ítem
12) Com esse excesso interpretativo, caminham para a escassez de discernimento,
perdendo de vista o exame que deveriam proceder em suas próprias atitudes ou
decisões na tarefa que, constantemente, são as únicas e verdadeiras
"brechas" com as quais os opositores do ideal laboraram.
Inquestionavelmente, e a literatura espírita é farta de
informes a esse respeito, não estamos fazendo um convite ao deboche sobre o
modus operandi dos inimigos desencarnados da causa do amor. Ingenuidade nessa
questão será mais uma porta aberta para o acesso dos maus espíritos,
parafraseando o lúcido Allan Kardec. (O Livro dos médiuns, cap. XX, ítem 226)
As trevas só tem a importância que nós lhes emprestamos -
palavras sábias de Dona Maria Modesto Cravo em oportuna paráfrase feita por ela
à codificação, nas palavras da Equipe Verdade: "A fraqueza, o descuido ou
o orgulho do homem são exclusivamente o que empresta força aos maus Espíritos,
cujo poder todo advêm do fato de lhes não opordes resistência, " (O Livro
dos Espíritos, q. 498)
Será que semelhantes reações ao nosso esforço não
poderiam também advir de descuidos e inexperiência? O sutil desejo de realce
pessoal ou a pretensão dos pontos de vista, tão difícil de ser percebida, não
poderiam ser a causa exclusiva de tanto burburinho e problemas nas frentes de
atuação que erguemos?
O enfoque excessivamente carregado de idéias místicas
subtrai-nos a possibilidade de tornar a relação entre as sociedades física e
espiritual uma escola de despertamento e crescimento para os valores da alma.
Utilizando a expressão do guia dos médiuns e evocadores, O Livro dos Médiuns, o
laboratório do mundo invisível cerca a natureza terrena com objetivos de
ascensão para quantos se encontrem em ambas as faixas de vida.
Quantas críticas e discordâncias, desavenças e tropeços
existem nas equipes espíritas com as quais as "trevas", sem muito esforço,
exploram assiduamente?
Mais que natural a luz acesa ser perseguida pelas
"sombras". Faz parte da Lei de Amor essa "atração
opositora". Por ela, quem está na luz se fortalece iluminando-se ainda
mais, e quem jaz nas penumbras encontra o "perdão de Deus" na
claridade da vitória do bem nos lampejos da conduta alheia.
As convicções pessoais intransigentes e a imprudência são
as armas mais poderosas daqueles que se posicionam contra o nosso esforço
auto-educativo, porque formam o campo mental propício para a sintonia e a
perturbação que decorrem do personalismo e da invigilância.
Nenhuma força é maior que o bem em todos os tempos.
Firmemos nossa crença nesse "brasão mental" e roguemos o acréscimo da
misericórdia, uma vez que sabemos da nossa fragilidade. Com essa fórmula
ninguém sucumbirá sob o peso das vigorosas forças contrárias, que existem para
dilatar-nos o poder de cooperação individual na obra do Todo Poderoso Criador
do Universo.
Livro: Reforma Intima Sem Martírio – Ermance Dufaux –
Wanderley S. Oliveira
ESPIRITISMO E NÓS
“Se me amardes,
guardareis os meus mandamentos”.JESUS - JOÃO, 14: 15.
“Espiritismo vem realizar, na época prevista, as
promessas do Cristo.
Entretanto, não o pode fazer sim destruir os abusos. ” -
Cap. 23, 17.
Todas as religiões garantem retiros e internatos,
organizações e hierarquias para a formação de orientadores condicionados, que
lhes exponham as instruções, segundo o controle que lhes parece conveniente.
A Doutrina Espírita, revivendo o Cristianismo puro, é a
religião do esclarecimento livre.
Mas se nós, os espíritas encarnados e desencarnados,
situamos nossas pequeninas pessoas, acima dos grandes princípios que a
expressam, estaremos muito distantes dela, confundid3s nos delírios do
personalismo deprimente, em nome da liberdade.
Todas as religiões amontoam riquezas terrestres, através
de templos suntuosos, declarando que assim procedem para render homenagem
condigna à Divina Bondade.
A Doutrina Espírita, revivendo o Cristianismo puro, é a
religião do desprendimento.
Entretanto, se nós, os espíritas encarnados e
desencarnados, encarcerarmos a própria mente nas hipnoses de adoração a pessoas
ou na ilusão de posses materiais passageiras, tombaremos em amargos processos
de obsessão mútua, descendo à condição de vampiros intelectualizados uns dos
outros,gravitando em torno de interesses sombrios e perdendo a visão dos Planos
Superiores.
Todas as religiões cultivam rigoroso sentido de seita,
mantendo a segregação dos profitentes.
A Doutrina Espírita, revivendo o Cristianismo puro, é a
religião da solidariedade.
Contudo, se nós, os espíritas encarnados e desencarnados
abraçarmos aventuras e distorções, em torno do ensino espírita, , ainda mesmo
quando inocentes e piedosas,.
na conta de fraternidade, levantaremos novas Inquisições
do fanatismo e da violência contra nós mesmos.
Todas as religiões sustentam claustros ou discriminações,
a pretexto de se resguardarem contra o vício.
A Doutrina Espírita, revi vendo o Cristianismo puro, é a
religião do pensamento reto.
Todavia, se nós, os espíritas encarnados e desencarnados,
convocados a servir no mundo desertarmos do concurso aos semelhantes, a título
de suposta humildade ou por temor de preconceitos, acabaremos inúteis, nos
círculos fechados da virtude de superfície.
Todas as religiões, de um modo ou de outro alimentam
representantes e ministérios remunerados.
A Doutrina Espírita, revivendo o Cristianismo puro, é a
religião da assistência gratuita.
No entanto, se nós, os espíritas encarnados e
desencarnados, fugirmos de agir, viver e aprender à custa do esforço próprio,
incentivando tarefeiros pagos e cooperações financiadas, cairemos, sem
perceber, nas sombras do profissionalismo religioso.
Todas as religiões são credoras de profundo respeito e de
imensa gratidão pelos serviços que prestam à Humanidade.
Nós, porém, os espíritas encarnados e desencarnados, não
podemos esquecer que somos chamados a reviver o Cristianismo puro, a fim de que
as leis do Bem Eterno funcionem na responsabilidade de cada consciência.
Exortou-nos o Cristo: “Amai-vos uns aos outros como eu
vos amei.¨
” E prometeu: “Conhecereis a verdade e a verdade vos fará
livres.¨
” Proclamou Kardec: “Fora da caridade não há salvação.¨
” E esclareceu: “Fé verdadeira é aquela que pode encarar
a razão face à face.¨
” Isso quer dizer que sem amor não haverá luz no caminho
e que sem caridade não existirá tranqüilidade para ninguém, mas estes mesmos
enunciados significam igualmente que sem justiça e sem lógica, os nossos
melhores sentimentos podem transfigurar- se em meros caprichos do coração.¨¨
Emmanuel - do livro " O Livro da Esperança" -
Psicografado por Francisco Cândido Xavier
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