1 – Nem os que acendem uma luzerna a metem debaixo do
alqueire, mas põem-na sobre o candeeiro, a fim de que ela dê luz a todos os que
estão na casa. (Mateus, V: 15).
2 – Ninguém, pois, acende uma luzerna e a cobre com
alguma vasilha, ou a põe debaixo da cama; põe-na, sim, sobre um candeeiro, para
que vejam a luz os que entram. Porque não há coisa encoberta, que não haja de
ser manifestada; nem escondida, que não haja de saber-se e fazer-se pública.
(Lucas, VIII: 16-17).
3 – E chegando-se a ele os discípulos lhe disseram: Por
que razão lhes falas tu por parábola? Ele, respondendo, lhes disse: Porque a
vós outro vos é dado saber os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não lhes
é concedido. Porque ao que tem, se lhe dará, e terá em abundância; mas ao que
não tem, até o que tem lhe será tirado. Por isso é que eu lhes falo em
parábolas; porque eles vendo, não vêem, e ouvindo não ouvem, nem entendem. De
sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Vós ouvireis com os
ouvidos, e não escutareis; e olhareis com os olhos, e não vereis. Porque o
coração deste povo se fez pesado, e os seus ouvidos se fizeram tardos, e eles
fecharam os seus olhos; para não suceder que vejam com os olhos, e ouçam com os
ouvidos, e entendam no coração, e se convertam, e eu os sare. (Mateus, XIII:
10-15)
4 – Causa estranheza ouvir Jesus dizer que não se deve
por a luz debaixo do alqueire, ao mesmo tempo em que esconde a toda hora o
sentido das suas palavras sob o véu da alegoria, que nem todos podem
compreender. Ele se explica, entretanto, dizendo aos apóstolos: Eu lhes falo em
parábolas, porque eles não estão em condições de compreender certas coisas;
eles vêem, olham, ouvem e não compreendem; assim, dizer-lhes tudo, ao menos
agora seria inútil; mas a vós o digo, porque já vos é dado compreender esses
mistérios. Ele procedia, portanto, para com o povo, como se faz com as
crianças, cujas idéias ainda não se encontram desenvolvidas. Dessa maneira,
indica-nos o verdadeiro sentido da máxima: “Não se deve por a candeia debaixo
do alqueire, mas sobre o candeeiro, a fim de que todos os que entram possam
vê-la”. Ela não diz que tenhamos de revelar inconsideravelmente todas as
coisas, pois, todo ensinamento deve ser proporcional à inteligência de quem o
recebe, e porque há pessoas que uma luz muito viva pode ofuscar sem esclarecer.
Acontece com os homens, em geral, o mesmo que com os
indivíduos. As gerações passam também pela infância, pela juventude e pela
madureza. Cada coisa deve vir a seu tempo, pois a sementeira lançada a terra,
fora de tempo, não produz. Mas aquilo que a prudência manda calar
momentaneamente, cedo ou tarde deve ser descoberto, porque chegando a certo
grau de desenvolvimento, os homens procuram por si mesmos a luz viva; a
obscuridade lhes pesa. Como Deus lhes deu a inteligência para compreenderem e
se guiarem, entre as coisas da Terra e do céu, eles querem racionalizar a sua
fé. É então que não se deve por a candeia debaixo do alqueire, pois sem a luz
da razão, a fé se enfraquece. (Ver cap. XIX, nº 7).
5 – Se a Providência, portanto, na sua prudente
sabedoria, não revela a verdade senão gradualmente,é que a vai sempre
desvelando, à medida que a Humanidade amadurece para recebê-la. Ela mantém a
luz em reserva, e não debaixo do alqueire. Mas os homens que a possuem, em
geral, só a ocultam do vulgo com a intenção de dominá-lo. São esses os que põem
verdadeiramente a luz debaixo do alqueire. É assim que todas as religiões
sempre tiveram os seus mistérios, cujo exame proíbem. Mas enquanto essas religiões
se atrasavam, a ciência e a inteligência avançaram e romperam o véu misterioso.
O povo que se tornou adulto pode assim penetrar o fundo das coisas, e então
rejeitou na sua fé o que se mostrava contrário à observação.
Não podem substituir mistérios absolutos nesse terreno, e
Jesus está com a razão quando afirma que não há nada secreto que não deva ser
conhecido. Tudo o que está oculto será descoberto um dia, e o que o homem ainda
não pode compreender sobre a Terra, lhe será progressivamente revelado nos
mundos mais adiantados, na proporção em que ele se purificar. Aqui na Terra,
ainda se perde no nevoeiro.
6 – Pergunta-se que proveito o povo poderia tirar dessa
infinidade de parábolas,cujo sentido estava oculto para ele. Deve notar-se que
Jesus só se exprimiu em parábolas sobre as questões, de alguma maneira
abstrata, da sua doutrina. Mas, tendo feito da caridade e da humildade a
condição expressa da salvação, tudo o que disse a esse respeito é perfeitamente
claro, explícito e sem nenhuma ambigüidade. Assim, devia ser, porque se tratava
de regra de conduta, regra que todos deviam compreender, para poderem observar.
Era isso o essencial para a multidão ignorante, à qual se limitava a dizer: Eis
o que é necessário para se ganhar o Reino dos Céus. Sobre outras questões, só
desenvolvia os seus pensamentos para os discípulos. Estando eles mais
adiantado, moral e intelectualmente, Jesus podia iniciá-los nos princípios mais
abstratos. Foi por isso que disse: Ao que já tem, ainda mais se dará, e terá em
abundância. (Ver cap. XVIII, nº 15).
Não obstante, mesmo com os apóstolos, tratou de modo vago
sobre muitos pontos, cuja inteligência completa estava reservada aos tempos
futuros. Foram esses os pontos que deram lugar a diversas interpretações, até
que a Ciência, de um lado, e o Espiritismo, de outro, vieram revelar as novas
leis da natureza, que tornaram compreensível o seu verdadeiro sentido.
7 – O Espiritismo vem atualmente lançar a sua luz sobre
uma porção de pontos obscuros, mas não o faz inconsideravelmente. Os Espíritos procedem, nas suas instruções,
com admirável prudência. É sucessiva e gradualmente que eles têm abordado as
diversas partes já conhecidas da doutrina, e é assim que as demais partes serão
reveladas no futuro, à medida que chegue o momento de fazê-las sair da
obscuridade. Se a houvessem apresentado completa desde o início, ela não teria
sido acessível senão a um pequeno número e teria mesmo assustado aqueles que
não se achavam preparados, o que seria prejudicial à sua propagação. Se os
Espíritos, portanto, ainda não dizem tudo ostensivamente, não é porque a
doutrina possua mistérios reservados aos privilegiados, nem que eles ponham a
candeia debaixo do alqueire, mas por que cada coisa deve vir no tempo oportuno.
Eles dão a cada idéia o tempo de amadurecer e se propagar, antes de
apresentarem outra, e aos acontecimentos, o tempo de lhes preparar a aceitação.
TEXTOS DE APOIO
A CANDEIA
A candeia
luminosa, acima do velador, não é somente um problema de verbalismo
doutrinário.
Claro que
as nossas convicções públicas revelam pensamento aberto e coração arejado, na
sincera demonstração de nossas concepções mais íntimas. O ensinamento do
Cristo, porém, lançou raízes mais profundas no solo do nosso entendimento.
A lâmpada
acesa da lição divina é, antes de tudo, o símbolo da nossa atitude positiva,
nos variados ângulos da existência.
O
discípulo do Evangelho é convidado a afirmar-se, no mundo, a cada instante.
Se fortes
ofendido, não conserves a luz do perdão nas dobras obscuras dos melindres
enfermiços.
Se
encontraste a dificuldade, não escondas a coragem nos resvaladouros da fuga.
Se fostes
surpreendido pela provação, não enterres o talento da fé no deserto do
desânimo.
Se fostes
tocados pela dor, não arremesses a esperança ao despenhadeiro da indiferença.
Se sofres
perseguição e calúnia, não arrojes a oração no precipício do desespero.
Se a luta
te impôs a marcha entre espinheiros, oferecendo-te fel e vinagre, não ocultes o
teu valor espiritual, sob os detritos da informação ou desalento.
Faze a
tua viagem na Terra, em companhia do Amigo Celestial, de coração elevado à
Vontade Divina, de cabeça erguida na fidelidade à religião do dever bem
cumprido, de consciência edificada no bem invariável e de braços ativos e
dirigentes na plantação das boas obras.
Não
disfarces os teus conhecimentos de ordem superior aprende a usá-los, em
benefício dos semelhantes e em favor de ti mesmo, porque assim, ainda mesmo que
o sacrifício supremo da cruz se te faça prêmio entre os homens, adquirirás na
Vida Maior a felicidade de haver buscado a luz da própria sublimação.
Emmanuel - Do livro Nascer e Renascer - Psicografia de Francisco Cândido Xavier
DIVULGAÇÃO ESPÍRITA
E - Cap. XXIV -
Item 1
Há companheiros que se dizem contrários à divulgação
espírita.
Julgam vaidade o propósito de se lhe exaltar os méritos e
agradecer os benefícios nas iniciativas de caráter público.
Para eles, o Espiritismo fala por si e caminhará por si.
Estão certos nessa convicção mas isso não nos invalida o dever
de colaborar na extensão do conhecimento espírita com o devotamento que a boa
semente merece do lavrador.
O ensino exige recintos para o magistério.
O Espiritismo deve ser apresentado por seus profitentes
em sessões públicas.
A cultura reclama publicações.
O Espiritismo tem a sua alavanca de expansão no livro que
lhe expões os postulados.
A arte pede representações.
O Espiritismo não dispensa as obras que lhe exponham a
grandeza.
A indústria requisita produção que lhe demonstre o valor.
O Espiritismo possui a sua maior força nas realizações e
no exemplo dos seus seguidores, em cujo rendimento para o bem comum se lhe
define a excelência.
Não podemos relaxar a educação espírita, desprezando os
instrumentos da divulgação de que dispomos a fim de estendê-la e honorificá-la.
Allan Kardec começou o trabalho doutrinário publicando as
obras da Codificação e instituindo uma sociedade promotora de reuniões e
palestras públicas, uma revista e uma livraria para a difusão inicial da
Revelação Nova.
Mas não é só.
Que Jesus estimou a publicidade, não para si mesmo, mas
para o Evangelho, é afirmação que não sofre dúvida.
Para isso, encetou a sua obra aliciando doze agentes
respeitáveis para lhe veicularem os ensinamentos e ele próprio fundou o
cristianismo através de assembléias públicas.
O "ide e pregai" nasceu-lhe da palavra recamada
de luz.
E compreendendo que a Boa Nova estava ameaçada pela
influência judaizante em vista da comunidade apostólica confinar-se de modo
extremo aos preceitos do Velho Testamento, após regressar às Esferas
Superiores, comunicou-se numa estrada vulgar, chamando Paulo de Tarso para
publicar-lhe os princípios junto à gentilidade a que Jerusalém jamais se abria.
Visto isso, não sabemos como estar no Espiritismo sem
falar nele ou, em outras palavras, se quisermos preservar o Espiritismo e
renovar-lhe as energias, a benefício do mundo, é necessário compreender-lhe as
finalidades de escola e toda escola para cumprir o seu papel precisa divulgar.
De Opinião
Espírita, de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, pelos Espíritos Emmanuel
e André Luiz)
A CANDEIA VIVA
"Ninguém acende a candeia e a coloca debaixo do
módio, mas no velador, e assim alumia a todos os que estão na casa."
Jesus. (Mateus,5,15)
Muitos aprendizes interpretaram semelhantes palavras do
Mestre como apelo à pregação sistemática, e desvairaram-se através de veementes
discursos em toda a parte.
Outros admitiram que o Senhor lhes impunha a obrigação de
violentar os vizinhos, através de propaganda compulsória da crença, segundo o
ponto de vista que lhes é particular.
Em verdade o sermão edificante e o auxílio fraterno são indispensáveis
na extensão dos benefícios divinos da fé.
Sem palavra, é quase impossível a distribuição do
conhecimento.
Sem o amparo irmão, a fraternidade não se concretizará no
mundo.
A assertiva de Jesus, todavia, atinge mais além.
Atentemos para o símbolo da candeia.
A claridade da lâmpada consome força ou combustível.
Sem sacrifícios da energia ou do óleo não há luz.
Para nós, aqui, o material de manutenção é a
possibilidade, o recurso, a vida.
Nossa existência é a candeia viva.
É um erro lamentável despender nossas forças, sem
proveito para ninguém, sob a medida de nosso egoísmo, de nossa vaidade ou de
nossa limitação pessoal.
Coloquemos nossas possibilidades ao dispor dos
semelhantes.
Ninguém deve amealhar as vantagens da experiência
terrestre somente para si.
Cada Espírito provisoriamente encarnado, no círculo
humano, goza de imensas prerrogativas, quanto à difusão do bem, se persevera na
observância do Amor Universal.
Prega, pois, as revelações do Alto, fazendo-as mais
formosas e brilhantes em teus lábios: insta com parentes e amigos para que
aceitem as verdades imperecíveis; mas, não olvides que a candeia viva da
iluminação espiritual é a perfeita imagem de ti mesmo.
Transforma as tuas energias em bondade e compreensão
redentoras para toda gente, gastando, para isso, o óleo de tua boa vontade, na
renúncia e no sacrifício, e a tua vida, em Cristo, passará realmente a brilhar.
Livro Fonte Viva.
Pelo Espírito Emmanuel. Psicografia Francisco C. Xavier
VÊ, POIS
"Vê, pois, que a luz que há em ti não sejam
trevas." - Jesus. (LUCAS, 11:35.)
Há ciência e há sabedoria, inteligência e conhecimento,
intelectualidade e luz espiritual.
Geralmente, todo homem de raciocínio fácil é interpretado
à conta de mais sábio, no entanto, há que distinguir.
O homem não possui ainda qualidades para registrar a
verdadeira luz. Daí, a necessidade de prudência e vigilância.
Em todos os lugares, há industriosos e entendidos,
conhecedores e psicólogos.
Muitas vezes, porém, não passam de oportunistas prontos
para o golpe do interesse inferior. Quantos escrevem livros abomináveis,
espalhando veneno nos corações?
Quantos se aproveitam do rótulo da própria caridade
visando extrair vantagens à ambição?
Não bastam o engenho e a habilidade. Não satisfaz a
simples visão psicológica. É preciso luz divina.
Há homens que, num instante, apreendem toda a extensão
dum campo, conhecem-lhe a terra, identificam-lhe o valor. Há, todavia, poucos
homens que se apercebem de tudo isso e se disponham a suar por ele, amando-o
antes de explorá-lo, dando-lhe compreensão antes da exigência.
Nem sempre a luz reside onde a opinião comum pretende
observá-la.
Sagacidade não chega a ser elevação, e o poder expressivo
apenas é respeitável e sagrado quando se torna ação construtiva com a luz
divina.
Raciocina, pois, sobre a própria vida.
Vê, com clareza, se a pretensa claridade que há em ti não
é sombra de cegueira espiritual.
Livro: Vinhas de Luz - Emmanuel - Psicografia de Chico X
SOMBRA AMIGÁVEL
"Pois nada há secreto que não haja de ser
descoberto, nem nada oculto que não haja de ser conhecido e de aparecer
publicamente. (S. LUCAS, cap. VIII, w. lóell.) O Evangelho Segundo o
Espiritismo - capítulo XXIV- item 2
A sombra designa "o outro lado" do ser humano,
aquele em que vige a escuridão.
Comumente destacamos a sombra negativa nos ambientes
educativos da doutrina. Convém, porém, uma atenção à sombra positiva, que são
nossos potenciais e talentos ainda não expressados ou descobertos. Em meio a
essa escuridão da vida inconsciente existe muita sabedoria e riqueza ainda não
exploradas.
- Escutando nossos sentimentos e o que eles têm a nos
ensinar sobre nós mesmos, estaremos entrando em contato com esse
"material" reprimido no inconsciente, com todas as habilidades
instintivas que nos asseguram a Herança Inalienável de Filhos do Altíssimo em
Sua Obra magnânima.
Escutar sentimentos é aceitá-los. Aceitação quer dizer
pensar sobre eles. Habitualmente exaramos a colocação: "não quero nem
pensar nisso!", referindo-nos a questões desagradáveis do mundo íntimo. Os
sentimentos são os principais canais de conexão emitindo constantes mensagens
do inconsciente.
Quando usamos a expressão sentimentos mal resolvidos,
estamos tratando de sentimentos não aceitos ou negados pela consciência e
reprimidos para o inconsciente por alguma razão particular. A sombra
originou-se basicamente em função dessa relação insatisfatória com nosso poder
de sentir e os arquivou em forma de culpas, desejos estagnados, bloqueios,
traumas, medos, criando todo um complexo psíquico que, em muitos lances, são
fatores geradores das psicopatologias, desde as mais toleráveis até às mais
severas.
Ao longo dos últimos milênios (aproximadamente quarenta
mil anos, dependendo da história individual), o que mais fizemos foi negar e
temer nossos sentimentos - um fato natural na trajetória evolutiva da
animalidade para a hominilidade. O medo de sentir e do que sentimos
acompanha-nos desde o momento em que começamos a tomar consciência desse
mecanismo bio-psíquico-emocional-espiritual. Ainda hoje, esconder o que se
sente, é uma conduta social comum e até necessária para a maioria das pessoas.
O mundo, no entanto, prepara-se para o século do amor
vivido e sentido. A pergunta mais formulada em todas as latitudes neste momento
é: como está você? E o interesse por uma resposta que fale de sentimentos é
eminente; tende a tornar-se um hábito. Estamos com enorme necessidade de falar
do que sentimos e saber com mais clareza sobre o mundo das emoções, embora
ainda temerosos de suas consequências.
Quando digo "sou minha sombra" não significa
que tenha que viver conforme sua orientação. Apenas admiti-la, entender suas
mensagens.
A sombra só é ameaça quando não é reconhecida. Só pode
ser prejudicial quando negligenciamos identificá-la com atenção, respeito e
afabilidade.
"E' importante para a meta da individuação, isto é,
da realização do si-mesmo, que o indivíduo aprenda a distinguir entre o que
parece ser para si mesmo e o que é para os outros. E' igualmente necessário que
conscientize seu invisível sistema de relações com o inconsciente, ou seja, com
anima, a fim de poder diferenciar-se dela. No entanto, é impossível que alguém
se diferencie de algo que não conheça."(1) The Collected Works of CG Jung
- 17 vol. VII, par. 28
Essa colocação do Doutor Jung é clara. Escutar
sentimentos é a primeira lição na nossa educação espiritual para o auto-amor.
Amaremos a nós mesmos somente quando deixarmos de culpar os outros pelas nossas
dores e desacertos e tivermos a coragem de perscrutar o íntimo, interrompendo o
fluxo das projeções e fugas ainda ignoradas nas nossas atitudes.
Recebemos contínuos "chamados" do inconsciente
através do que sentimos. Uma análise atenta de nossos impulsos emotivos e da
nossa "reação afetiva" a tudo que nos cerca levar-nos-á a entender
com exatidão as "reclamações" do psiquismo profundo. Nessa
investigação da alma encontraremos indicativas seguras no entendimento das mais
ocultas raízes de nossos conflitos. Percorreremos caminhos mentais até então
incognoscíveis. Igualmente, descobriremos valores adormecidos que solicitam
nossa criatividade para desenvolvê-los a contento.
Entretanto, somente daremos importância às mensagens da
sombra quando nos relacionarmos amigavelmente com ela. O processo de ouvir a
voz do inconsciente através dos sentimentos passa por algumas etapas na
alfabetização do sentir:
• Imprescindível o auto-respeito. O que sentimos é
indiscutível, individual, é a nossa forma de viver a vida. Com isso não devemos
admitir que os apelos do coração devam ser seguidos como brotam. Muito menos
supô-los a expressão da Verdade. Apenas tenhamos respeito por nós sem
reprimendas e condenações, procurando compreender os recados do coração.
• Havendo respeito, instaura-se o clima da serenidade, da
ausência de conflitos e ' atalhas interiores. Somente serenos vamos conseguir
uma comunicação sem interferências. E' o silencio interior. O fio que nos leva
ao intercâmbio produtivo.
• Aprender a linguagem dos sentimentos exige meditação,
atenção. Separar a "imagem programada" pela educação social da
"imagem idealizada" é um trabalho lento. Diferenciar o que pensam que
sou daquilo que penso que sou é o caminho para se chegar ao que sou
verdadeiramente.
• Utilizar indagações. A sombra adora dar respostas.
Nossa tarefa será discernir no tempo a natureza dessas
respostas. No início elas serão confusas, enganosas, talvez decepcionantes.
Na medida que se dilata esse exercício, a intuição vai
aclarando a capacidade de perceber e sentir o que nos convém. Teremos a
sensação do melhor caminho, das melhores escolhas, do que queremos. E o início
da identificação com o projeto singular do Criador a nosso respeito.
O Doutor Jung estipulou: "As pessoas, quando educadas
para enxergarem claramente o lado sombrio de sua própria natureza, aprendem ao
mesmo tempo a compreender e amar seus semelhantes."(2)
Ao conquistarmos a sombra de maneira amigável, criaremos
uma relação de paz com a vida íntima e, nesse ponto, as projeções não serão
mecanismos defensivos contra nossas imperfeições, mas reflexos da bondade e
harmonia que habitarão a vida mental. Nessa postura mental amaremos a vida com
mais ardor. Será muito mais interessante olhar o nosso próximo, sentí-lo e
perceber a grandeza da vida que nos cerca.
A Lei Divina contida na fala de Jesus é determinante:
Pois nada há secreto que não haja de ser descoberto.
O crescimento pessoal e a felicidade incluem a missão de
explorar as riquezas do inconsciente.
Escutar sentimentos é a arte de mergulhar na vida
profunda e descobrir o manancial de força e beleza que possuímos.
Amigo querido das lides espiritistas,
Nos instantes de tormenta ocasionados pelos efeitos de
tuas imperfeições, busca Deus na oração e escuta tua alma.
Ouve os ditames suaves que ela te envia. Não os julgue
agora enquanto meditas.
Indaga-te: que fazer ante os impulsos menos felizes? Como
agir para mudar?
Ouve! Ouve a resposta em ti mesmo! Escuta teus
sentimentos!
Ora novamente, aquieta os raciocínios e escuta os
"sons" dos sentimentos nobres que te arrimam.
Estás agora em estado alterado de consciência. Tua sombra
avizinha. Teu self permanece em vigília. Tonifíca-te com as energias revigorantes.
Agora agradece o dom da vida... O corpo... A beleza de
pertencer a ti mesmo.
A presente existência é a tua oportunidade. E' a tua
ocasião de libertar. Recomeça quantas vezes se fizerem necessárias. Perdoa-te
pelos insucessos.
Recorda as muitas vitórias e preenche-te com o labor.
Algumas respostas para serem compreendidas solicitam o
concurso do tempo.
Prossegue sem ilusões de conforto. Deseja o sossego
interior e acredita merecê-lo, mas não o confunda com facilidades transitórias.
Teus sentimentos: a realidade de tua posição espiritual.
Por eles sabes de teu valor e de tuas necessidades.
Não te agrida quando sentires o que não gostarias.
Ama-te ainda mais nesses momentos. Aceita-te.
Diz: eu aceito minha imperfeição. Sentí-la não quer dizer
que eu seja menor. Eu aceito minhas particularidades. Eu me amo como sou e não
me abandonarei porque somente eu posso me resgatar.
Agora vai cumprir teu dever - esse sublime
"analgésico mental".
Em outro instante, fora da tormenta mental, medita sobre
aquilo que te incomodou.
Medita sempre sobre tuas imperfeições e Teu Pai,
secretamente, na acústica do ser, providenciar-te-á os recursos abundantes para
tua cura.
Deus jamais te esquece. Acredite nisso e sente o amparo
em teu favor. O universo está a teu favor. Acredita.
Livro: Escutando Sentimentos - Ermance Dufaux - Wanderley
S. Oliveira
PALAVRA FALADA
“Porque não há coisa oculta que não haja de
manifestar-se, nem escondida que não haja de saber-se e vir à luz. Vede, pois,
como ouvis.”– Jesus. (LUCAS, 8:17-18.)
A palavra é vigoroso fio da sugestão.
É por ela que recolhemos o ensinamento dos grandes
orientadores da Humanidade, na tradição oral, mas igualmente com ela recebemos
toda espécie de informações no plano evolutivo em que se nos apresenta a luta
diária.
Por isso mesmo, se é importante saber como falas, é mais
importante saber como ouves, porquanto segundo ouvimos, nossa frase semeará,
bálsamo ou veneno, paz ou discórdia, treva ou luz.
No templo doméstico ou fora dele, escutarás os mais
variados apontamentos.
Apreciações acerca da Natureza...
Críticas em torno da autoridade constituída... Notas
alusivas à conduta dos outros...
Opiniões diferentes nesse ou naquele acém...
Cada registro falado traz consigo o impacto da ação.
Contudo, a reação mora em ti mesmo, solucionando os problemas ou agravando-lhes
a estrutura.
Por tua resposta, converter-se-á o bem na lição ou na
alegria dos que te comungam a experiência ou transformar-se-á o mal no açoite
ou no sofrimento daqueles que te acompanham.
Saibamos, assim, lubrificar as engrenagens da audição com
o óleo do amor puro, a fim de que a nossa língua traduza o idioma da
compreensão e da paciência, do otimismo e da caridade, porque nem sempre o
nosso julgamento é o julgamento da Lei Divina e, conforme asseverou o Cristo de
Deus, não há propósito oculto ou atividade transitoriamente escondida que não
hajam de vir à luz,
Do livro Palavras de Vida Eterna. Espírito Emmanuel.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
NADA FICARÁ OCULTO
EM NOSSAS VIDAS
"Pois nada há secreto que não haja de ser
descoberto, nem nada oculto que não haja de ser conhecido e de aparecer
publicamente." S.Lucas, 8:16 e 17. ESE, cap. XXIV, item 2.
Jesus, o cuidador de almas por excelência, teve ensejo de
indagar-nos: "Sois Deuses?"1 1. João, 10:34.
Que indagação mais educativa pode pronunciar alguém
dirigida ao reino consciencial de cada um de nós? Eis algumas interpretações
para a pergunta do Mestre: Sentimo-nos capazes? Queremos a vitória? Estamos
usando nossos potenciais divinos? Acreditamos na força pessoal de
transformação? Quando nos apropriaremos do patrimônio celeste em nossa
intimidade? *
Indagando sobre nossa divindade potencial, em verdade,
Ele recorda outro de Seus belíssimos ensinos sobre o inconsciente, anotado em
Marcos, capítulo 4, versículo 22: "Porque nada há encoberto que não haja
de ser manifesto; e nada se faz para ficar oculto, mas para ser
descoberto".
É da Lei Divina o processo revelador de nossa
individualidade. Queiramos ou não, a vida submersa no inconsciente é um constante
clamor em direção à luz da perfeição. Nada pode, pois, permanecer eternamente
en¬coberto, como pontua Jesus.
Retomamos o patrimônio das vidas anteriores em plena
infância, depois de alguns anos de hipnose cerebral. Na juventude fazemos os
primeiros contatos com a sombra estruturada em vidas sucessivas.
É o período das turbulências e instabilidades. Muitas
vezes, à custa de elevada dose de recalques diante de frustrações e
desapontamentos, construímos a fortaleza defensiva do ego.
Assim, o Espírito, com raríssimas variações, entrega-se
aos deveres da reencarnação trazendo a alma oprimida por velhas bagagens morais
de sua trajetória. E somente na metade da vida carnal, a criatura retoma de
forma mais incisiva e amadurecida o contato com todas as suas pendências
eternas. A meia-idade, estudada com atenção por Jung, constitui mais um ciclo
revelador da vida mental.
Para muitos, será a última estação de parada antes da
morte, a fim de que os conteúdos do inconsciente possam sacudir as mais
enraizadas crenças e concepções da existência. Sem dúvida, tal etapa da vida
vem acompanhada de severas ameaças à nossa "zona de conforto" e
segurança. Tomar contato com os conteúdos velados da vida íntima é um desafio
doloroso de desilusão. É o momento da ousadia que pede paciência para não
tombar na irresponsabilidade. É o instante da coragem que vai solicitar o
desapego da vida ideal - aquela do jeito que queríamos - para assumirmos a vida
real.
Como atravessar a ponte das concepções e projetos pessoais?
Como fazer essa caminhada tornar-se um passo decisivo para a verdadeira
felicidade? Como reconstruir nossas crenças? Que ações tomar para que o nosso
querer não seja apenas mais uma ilusão? Que decisões tomar para que as escolhas
não sejam apenas uma rota de fuga? Aliás, como distinguir o que é fuga, quando
brota do inconsciente o convite para o contato com todo o conjunto de
expressões afetivas? A infelicidade, a depressão, o vazio existencial e tantas
outras manifestações de tédio interior não serão, igualmente, mensagens da vida
íntima atestando fugas de nossas necessidades mais esquecidas no aprimoramento
espiritual?
Companheiros queridos, iluminados com o conhecimento
doutrinário, assumiram para si mesmos o sublime compromisso de erguimento consciencial.
Todavia, um rastro de descuido tem permeado as lições de muitos aprendizes
neste tema. O primeiro deles é a aceitação da dor como único instrumento de
redenção. O segundo é a nociva negação do dinamismo de nossa vida interior. No
primeiro temos a crença derrotista, um ato de desamor. No segundo o medo do
confronto, uma manifestação sutil da rebeldia em não aceitar quem somos. No
primeiro deles, a ausência de auto amor. No segundo, um efeito do orgulho.
É necessário elevado discernimento para distinguir o ato
responsável da fuga orgulhosa.
O foco do prazer de viver é este: A perda de quem
achávamos que éramos, o falso eu, e o encontro com o eu real. A busca da
autenticidade. A identidade psicológica do Ser.
Cuidemos, com vigilância, para que o espiritismo, essa
ferramenta de evolução, não se torne mais um instrumento de tortura em nossa
vida. Em nossas casas de amparo na erraticidade, muitos corações sinceros e
exemplares no desprendimento e na ação do bem encontraram pela frente a aflição
e a angústia, tombando em lamentáveis crises de descrença e revolta. A razão?
Descuidaram de si próprios.
Negaram o contato com sua realidade interior. Deixaram de
pedir ajuda. Acreditaram em uma personalidade mentalmente projetada e perderam
o contato com suas emoções mais profundas. Alguns deles se renderam confiantes
a conceitos e estruturas organizacionais reconhecidas e consagradas na
comunidade, e somente aqui puderam aferir a extensão da ilusão que cultivaram.
Hipnotizaram-se com cargos, mediunidades, talentos
verbais, ações beneficentes e outras tantas iniciativas abençoadas.
Esqueceram-se do mais importante, esqueceram a humanidade da qual somos
portadores. Negaram a condição de criaturas simplesmente humanas.
No fundo de suas mais espinhosas decepções estava um
sentimento nuclear em assuntos de aprimoramento espiritual, o medo. O medo do
confronto com os próprios sentimentos.
O espiritismo é um convite à vida consciente e
responsável. Conhecer a sombra não significa adotá-la. Entretanto, a título de
responsabilidade, muitos amigos da caminhada de espiritualização equivocam-se
em relação ao ensino oportuno de Jesus que recomenda negar a si mesmo, conforme
se lê em Lucas, capítulo 9, versículo 23. Adotam a fuga silenciosa, postergando
para o desencarne a incursão no seu mundo interior.
Cuidemos melhor de nossas vidas. Olhar para os pendores e
tendências, entrar em contato com o que sentimos, admitir o que gostaríamos da
vida, essas são três das muitas ações a que somos chamados na trilha solitária
do autodescobrimento. Após essas iniciativas, perguntemos a nós mesmos: o que
fazer com todo o patrimônio que identifica meu ser espiritual? Logo a seguir,
adote um projeto de vida que contenha os seguintes ingredientes morais:
paciência, humildade para pedir ajuda, oração para visualizar o futuro, coragem
para fazer escolhas.
A tormenta na vida espiritual depois da morte não tem
raízes apenas nas ações que são registradas nos sagrados fóruns da consciência,
mas, igualmente, na sensação infeliz de vazio em razão de não fazer o que já
tínhamos condições para fazer, de descobrir o que já estamos prontos para
descobrir e de sondar o lado oculto de nós mesmos que, inevitavelmente, há de
ser revelado algum dia.
Coragem! O Pai não permitirá carregarmos fardos mais pesados
do que possamos suportar.
A esperança de meu coração repousa na intenção de ser
útil e consolidar ainda mais a amizade sincera com os amigos e leitores na vida
física.
Que as anotações contidas neste livro sejam quais
pequenos lampejos de luz que auxiliem no erguimento de um mundo melhor e dias
mais venturosos e ricos de prazer de viver.
Pelo carinho que tenho recebido de todos, recebam a minha
bênção de gratidão e amor eterno.
Ermance Dufaux, 1º de agosto de 2008
O foco do prazer de viver é este: A perda de quem
achávamos que éramos, o falso eu, e o encontro com o eu real. A busca da
autenticidade. A identidade psicológica do Ser.
Livro: Prazer de Viver - Ermance Dufaux – Wanderley S. Oliveira
EQUILÍBRIO SEMPRE
E - Cap. XXIV - Item 7
Todos somos chamados, de vez em vez, a administrar a
verdade, aqui e ali, entretanto, a verdade, no fundo, é conhecimento e
conhecimento solicita dosagem para servir.
Necessário instituir a civilização, entre os companheiros
ainda empenachados na selva.
Para isso, não começaremos por trazê-los à discussão, em
torno da relatividade, mas também, a pretexto de angariar-lhe a confiança, não
nos cabe exalçar a antropofagia que nos caracterizava os avós.
Indispensável estender instrução à criança.
Não encetaremos, porém, semelhante trabalho, sentando-a
num anfiteatro, destinado ao ensino superior, mas também, sob a alegação de
conquistar-lhe o interesse, ao lhe permitiremos um bisturi nas mãos frágeis.
Contemplando a paisagem na qual se estruturou a
organização da Doutrina Espírita, com a serenidade de quem examina um quadro
admirável, após a formação de todas as minudências que o integram, reconhecemos
a superioridade dos espíritos sábios e magnânimos que orientaram a Codificação
do Espiritismo, estudando-lhes a presença na obra de Allan Kardec.
Eles induzem o inesquecível missionário à observação das
mesas girantes e à pesquisa dos fenômenos magnéticos, entretanto, em momento
algum, fogem de salientar as finalidades morais do intercâmbio entre encarnados
e desencarnados.
Permitem-lhe aceitar o apoio de amigos prestigiosos para
o rápido lançamento dos volumes que lhe competia editar, em tempo reduzido,
todavia, em tópico nenhum, arrastam o ensinamento espírita às inclinações e
paixões de natureza política.
Concordam em que se recorra a certas imagens da teologia
em voga, contudo, em nenhum lugar, preconiza ritualismo e superstição, em nome
da fé.
Inspiram-lhe carinhoso respeito e profunda gratidão por
todos os médiuns que lhe prestaram concurso, no entanto, a título de
auxiliá-los ou de garantir-lhes a subsistência, não endossam qualquer aprovação
à mediunidade remunerada.
Todos encontramos aqueles que se valem das nossas
possibilidades de informação e esclarecimento, no tocante às verdades dos
espíritos, entretanto, para agir acertadamente, recordemos o exemplo dos
instrutores da Vida Maior, nos primeiros dias do Espiritismo.
Tolerar acessórios, sem transigir com o essencial.
Dosear a verdade, sem estimular a mentira.
Amparar o bem sem encorajar o mal.
Compreensão nobre, mas equilíbrio, sempre.
De Opinião
Espírita, de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, pelos Espíritos Emmanuel
e André Luiz
OS PROCESSOS OBSESSIVOS
Francisco C. Xavier
Depois de longo entendimento, num grupo de amigos, sobre
mediunidade, fomos à reunião de estudos no Grupo Espírita da Prece. As
indagações eram muitas, em torno da mediunidade de provação. A maioria se
fixava nos casos de processos obsessivos.
Qual a melhor forma de se lidar com eles P Os protetores
espirituais poderiam livrar os médiuns de suas dificuldades, sem o esforço
destes? Não conseguiriam encaminhar os espíritos em sofrimento a escolas
renovadoras da Vida Maior, mesmo sem o conhecimento das pessoas afetadas por
eles? Teria o médium renascido no mundo em estreita ligação com as entidades
sofredoras que o assediam, ate o ponto de precisarem ambos de trabalho e estudo
em conjunto?
O Evangelho Segundo o Espiritismo nos deu para estudo o
item 7 do capítulo XXIV. Depois dos comentários gerais ao texto, foi o nosso
Cornélio Pires quem nos trouxe, através da psicografia, o soneto Caso Como
Tantos.
Do livro Amanhece.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
CASO COMO TANTOS
Cornélio Pires
No Centro, a mesma história aparecia...
Clamava Dona Cora da Pedreira:
Tinha dor de garganta, batedeira,
Revolta, obsessão, melancolia...
– Minha querida irmã – falou o Guia.
O trabalho do bem tira canseira,
A caridade é a doce mensageira
Do socorro, da paz e da alegria.
Escutando os conselhos, Dona Cora
Explicou que viria noutra hora.
Orou com fé, mostrando-se otimista...
No Centro da Bondade, onde estivera,
O pessoal esteve sempre à espera,
Mas Dona Cora nunca mais foi vista.
Do livro Amanhece. Psicografia de Francisco Cândido
Xavier.
PARÁBOLA DA
CANDEIA
“Ninguém, depois de acender uma candeia, a cobre com um
raso ou a põe debaixo de uma cama; pelo contrário, coloca-a obre um velador, a
fim de que os que entram vejam a luz. Porque não há coisa oculta que não venha
a ser manifesta; nem coisa secreta que se não haja de saber e vir à luz. Vede,
pois, como ouvis; porque ao que tiver, ser-lhe-á dado; e ao que não tiver, até
aquilo que pensa ter, ser-lhe-á tirado.” (Lucas, VIII, 16-18.)
“E continuou Jesus: Porventura vem a candeia para se pôr
debaixo do módio ou debaixo da cama? Não é antes para se colocar no velador?
Porque nada está oculto senão para ser manifesto; e nada
foi escondido senão para ser divulgado. Se alguém tem ouvidos de ouvir, ouça.
Também lhes disse: Atenta! no que ouvis. A medida de que usais, dessa usarão convosco:
e ainda se vos acrescentará. Pois ao que tem, ser-lhe-á dado; e ao que não tem,
até aquilo que pensa ter, ser-lhe-á tirado.” (Marcos, IV, 21-25.)
A Luz é indispensável à vida material e à vida
espiritual. Sem luz não há vida; a vida é luz quer na esfera física, quer na
esfera psíquica. Apague-se o Sol, fonte das luzes materiais e o mundo deixará,
incontinente, de existir. Esconda-se a luz da sabedoria e da Religião sob o
módio da má fé ou do preconceito, e a Humanidade não dará mais um passo, ficará
estatelada debatendo-se em trevas.
Assim, pois, tão ridículo é acender uma candeia e
colocá-la debaixo da cama, como conceber ou receber um novo conhecimento, uma
verdade nova e ocultá-los aos nossos semelhantes.
Acresce ainda que não é tão difícil encontrar o que se
escondeu porque “não há coisa oculta que não venha a ser manifesta”. Mais hoje,
mais amanhã, um vislumbre de claridade denunciará a existência da candeia que
está sob o leito ou sob o módio, e que desapontamento sofrerá o insensato que
aí a colocou!
A recomendação feita na parábola é que a luz deve ser
posta no velador a fim de que todos a vejam, por ela se iluminem, ou, então,
para que essa luz seja julgada de acordo com a sua claridade.
“Uma árvore má não pode dar bons frutos”; e o combustível
inferior não dá, pela mesma razão, boa luz. Julga-se a árvore pelos frutos e o combustível
pela claridade; pela pureza da luz que dá.
A luz do azeite não se compara com a do petróleo, nem
esta com a do acetileno; mas todas juntas não se equiparam à eletricidade.
Seja como for, é preciso que a luz esteja no velador,
para se distinguir uma da outra. Dar a necessidade do velador.
No sentido espiritual, que é justamente o em que Jesus
falava, todos os que receberam a Luz da sua Doutrina precisam mostrá-la, não a esconderem
sob o módio do interesse, nem sob o leito da hipocrisia. Quer seja fraca, média
ou forte; ilumine na proporção do azeite, do petróleo, do acetileno ou da
eletricidade, o mandamento é: “Que a vossa luz brilhe diante dos homens, para
que, vendo as vossas boas obras (que são as irradiações dessa luz) glorifiquem o
vosso Pai que está nos Céus.” Ter luz e não fazê-la iluminar, é colocá-la sob o
módio; é o mesmo que não a ter; e aquele que não a tem e pensa ter, até o que
parece ter ser-lhe-á tirado. Ao contrário, “aquele que tem, mais lhe será
dado”, isto é, aquele que usa o que tem em proveito próprio e de seus
semelhantes, mais lhe será dado. A chama de uma vela não diminui, nem se gasta
o seu combustível por acender cem velas; ao passo que estando apagada é preciso
que alguém a acenda para aproveitar e fazer aproveitar sua luz.
Uma vela acendendo cem velas, aumenta a claridade, ao
passo que, apagada, mantém as trevas. E como temos obrigação de zelar, não só
por nós como pelos nossos semelhantes, incorremos em grande responsabilidade
pelo uso da “medida” que fizemos; se damos um dedal não podemos receber um
alqueire; se uma oitava, não podemos contar com um quilo em restituição, e, se
nada damos o que havemos de receber?
A luz não pode permanecer sob o módio, nem debaixo da
cama. A candeia, embora matéria inerte, nos ensina o que devemos fazer, para
que a Palavra do Cristo permaneça em nós, possamos dar muitos frutos e sejamos
seus discípulos.
Assim, o fim da luz é iluminar e o do sal é conservar e
dar sabor.
Sendo os discípulos de Jesus luz e sal, mister se faz que
ensinem, esclareçam, iluminem, ao mesmo tempo que lhes cumpre conservar no ânimo
de seus ouvintes, de seus próximos, a santa doutrina do Meigo
Rabino, valendo-se para isso do espírito que lhe dá o
sabor moral para ingerirem esse pão da vida que verdadeiramente alimenta e
sacia.
Assim como a luz que não ilumina e o sal que não
conserva, para nada prestam, assim, também, os que se dizem discípulos do
Cristo e não cumprem os seus preceitos nem desempenham a tarefa que lhes está confiada,
só servem para serem lançados fora da comunhão espiritual e serem pisados pelos
homens.
A candeia sob o módio não ilumina; o sal insípido não
salga, não conserva, nem dá sabor.
CAIRBAR SCHUTEL – PARÁBOLAS E ENSINOS DE JESUS
AS PARÁBOLAS E A SUA INTERPRETAÇÃO
Na acepção geral do termo, parábola é uma narrativa que
tem por fim transmitir verdades indispensáveis de serem compreendidas.
As Parábolas dos Evangelhos são alegorias que contêm
preceitos de moral.
O emprego contínuo, que durante o seu ministério Jesus
fez das parábolas, tinha por fim esclarecer melhor seus ensinos, mediante comparações
do que pretendia dizer com o que ocorre na vida comum e com os interesses
terrenos. Sugeria, assim, o Mestre, figuras e quadros das ocorrências
cotidianas, para facilitar mais aos seus discípulos, por esse método
comparativo, a compreensão das coisas espirituais.
Aos que o ouviam ansiosamente, procurando compreender seus
discursos, a parábola tornava-se-lhes excelente meio elucidativo dos temas e
das dissertações do Grande Pregador.
Mas os que não buscavam na parábola a figura que compara,
a alegoria que representa a idéia espiritual, e se prendiam à forma, desprezando
o fundo, para estes a Doutrina nem sequer aparecia, mas conservava-se oculta,
como a noz dentro da casca.
Daí a resposta de Jesus aos discípulos que lhe inquiriram
a razão de Ele falar por parábolas: “Porque a vós é dado conhecer os mistérios
do
Reino dos Céus, mas a eles não lhes é isso dado. Pois ao
que tem, dar-selhe-á e terá em abundância; mas ao que não tem; até aquilo que
tem serlhe-á tirado.”
“Por isso lhes falo por parábolas, porque vendo não vêem;
e ouvindo não ouvem, nem entendem. E neles se está cumprindo a profecia de
Isaías, que diz: Certamente ouvireis, e de nenhum modo entendereis. Porque o coração
deste povo se fez pesado, e os seus ouvidos se fizeram tardos, e eles fecharam
os olhos; para não suceder que vendo com os olhos e ouvindo com os ouvidos,
entendam no coração e se convertam e eu os cure.”
Pelo trecho se observa claramente que os fariseus e a
maioria dos judeus, em ouvindo a exposição da parábola, só viam a figura
alegórica que lhes era mostrada, assim como, quem não quebra a noz, só lhe vê a
casca.
Ao passo que com seus discípulos não acontecia à mesma
coisa; eles viam e ouviam o ensino, o sentido espiritual que permanece para
sempre; não se prendiam à figura ou a palavra sonora, que se extingue
desvanece.
De modo que os fariseus ouviam, mas não ouviam; viam, mas
não viam (*); porque uma coisa é ver e ouvir com os olhos e ouvidos do corpo, outra
coisa é ver e ouvir com os olhos e ouvidos do Espírito.
(*) Em outros termos: ouviam, mas não escutavam; viam,
mas não enxergavam.
A condição que Jesus expõe, como sendo indispensável
“para nos ser dado e possuirmos em abundância” é como diz o texto, de “nós
termos” — Mas “termos” o quê? Certamente algum princípio doutrinário unido à
boa vontade para recebermos a Verdade — “Aquele que tem ser-lhe-á dado e terá em abundância.”
E o obstáculo à recepção da sua Doutrina é o indivíduo
“não ter” — não ter a mais ligeira iniciação espiritual e não ter boa vontade
para receber a Nova da Salvação.
De modo que a Parábola Evangélica é uma instrução alegórica,
exposta sempre com um fim moral, como um meio fácil de fazer compreender uma lição espiritual, pelo menos,
a opinião do evangelista
Mateus quando diz: “Todas estas coisas falou Jesus ao
povo em parábolas, e nada lhes falava sem parábolas; para que se cumprisse o que
foi dito pelo profeta: Abrirei em Parábolas a minha boca, e publicarei coisas
escondidas desde a criação.” (Mateus, XIII, 34-35).
Finalmente, as Parábolas têm pouca importância para os
que as tomam como foram escritas; demais, o sentido nunca deve ser desnaturado
ou transviado, sob pena de prejudicar a Idéia Cristã. Por exemplo, ao que vê na
parábola do “tesouro escondido” um meio de enriquecer materialmente, ou na
parábola do “administrador infiel” uma lição de infidelidade, lhe será preferível
fechar os Evangelhos e continuar a tratar de seus negócios materiais.
A inteligência dos Evangelhos explica perfeitamente a
interpretação espiritual que Jesus dá aos seus ensinos. Se os Evangelhos fossem
um amontoado de alegorias sem significação espiritual, nenhum valor teriam.
CAIRBAR SCHUTEL – PARÁBOLAS E ENSINOS DE JESUS
OS SINAIS DE RENOVAÇÃO
Ante a assembléia familiar, o Mestre tomou a palavra e
falou, persuasivo: — E quando o Reino Divino estiver às portas dos homens, a
alma do mundo estará renovada.
O mais poderoso não será o mais desapiedado e, sim, o que
mais ame.
O vencedor não será aquele que guerrear o inimigo
exterior até à morte em rios de sangue, mas o que combater a iniquidade e a
ignorância, dentro de si mesmo, até à extinção do mal, nos círculos da própria
natureza.
O mais eloqüente não será o dono do mais belo discurso,
mas, sim, o que aliar as palavras santificantes aos próprios atos, elevando o
padrão da vida, no lugar onde estiver.
O mais nobre não será o detentor do maior número de
títulos que lhe conferem a transitória dominação em propriedades efêmeras da
Terra, mas aquele que acumular, mais intensamente, os créditos do amor e da
gratidão nos corações das mães e das crianças, dos velhos e dos enfermos, dos
homens leais e honestos, operosos e dignos, humildes e generosos.
O mais respeitável não será o dispensador de ouro e poder
armado e, sim, o de melhor coração.
O mais santo não será o que se isola em altares do
supremo orgulho espiritual, evitando o contacto dos que padecem, por temer a
degradação e a imundície, mas sim, aquele que descer da própria grandeza,
estendendo mãos fraternas aos miseráveis e sofredores, elevando-lhes a alma
dilacerada aos planos da alegria e do entendimento.
O mais puro não será o que foge ao intercâmbio com os
maus e criminosos confessos, mas aquele que se mergulha no lodo para salvar os
irmãos decaídos, sem contaminar-se.
O mais sábio não será o possuidor de mais livros e
teorias, mas justamente aquele que, embora saiba pouco, procura acender uma luz
nas sombras que ainda envolvem o irmão mais próximo...
O Amigo Divino pousou os olhos lúcidos na noite clara que
resplandecia, lá fora, em pleno coração da Natureza, fez longo intervalo e
acentuou:
— Nessa época sublime, os homens não se ausentarão do lar
em combate aos próprios irmãos, por exigências de conquista ou pelo ódio de
raça, em tempestades de lágrimas e sangue, porquanto estarão guerreando as
trevas da ignorância, as chagas da enfermidade, as angústias da fome e as
torturas morais de todos os matizes...
Quando o arado substituir o carro suntuoso dos
triunfadores, nas exibições públicas de grandeza coletiva; quando o livro
edificante absorver o lugar da espada no espírito do povo; quando a bondade e a
sabedoria presidirem às competições das criaturas para que os bons sejam
venerados; quando o sacrifício pessoal em proveito de todos constituir a honra
legítima da individualidade, a fim de que a paz e o amor não se percam, dentro
da vida — então uma Nova Humanidade estará no berço luminoso do Divino Reino...
Nesse ponto, a palavra doce e soberana fez branda pausa
e, lá fora, na tepidez da noite suave, as estrelas fulgentes, a cintilarem no
alto, pareciam saudar essa era distante...
Neio Lúcio - Do Livro Jesus no Lar - Francisco C. Xavier
O INCENTIVO SANTO
Aberta a sessão de fraternidade em casa de Pedro, Tadeu
clamou, irritado, contra as próprias fraquezas, asseverando perante o Mestre: —
Como ensinar a verdade se ainda me sinto inclinado à mentira? Com que títulos
transmitir o bem, quando ainda me reconheço arraigado ao mal? Como exaltar a
espiritualidade divina, se a animalidade grita mais alto em minha própria
natureza?
O companheiro não formulava semelhantes perguntas por
espírito de desespero ou desânimo, mas sim pela enorme paixão do bem que lhe
tomava o íntimo, a observar pela inflexão de amargura com que sublinhava as
palavras.
Entendendo-lhe a mágoa, Jesus falou, condescendente:
— Um santo aprendiz da Lei, desses que se consagram
fielmente à Verdade, chamado pelo Senhor aos trabalhos da profecia entre os
homens, mantinha-se na profissão de mercador de remédios, transportando ervas e
xaropes curativos, da cidade para os campos, utilizando-se para isso de um
jumento caprichoso e inconstante, quando, refletindo sobre os defeitos de que
se via portador, passou a entristecer-se profundamente.
Concluiu que não lhe cabia colaborar nas revelações do
Céu, pelo estado de impureza íntima, e fez-se mudo.
Atendia às obrigações de protetor dos doentes, mas
recusava-se a instruir as criaturas, na Divina Palavra, não obstante as
requisições do povo que já lhe conhecia os dotes de inteligência e inspiração.
Sentido, porém, que a Celeste Vontade o constrangia ao
desempenho da tarefa e reparando que os seus conflitos mentais se tornavam cada
vez mais esmagadores, certa noite, depois de abundantes lágrimas, suplicou
esclarecimento ao Todo-Poderoso.
Sonhou, então, que um anjo vinha encontrá-lo em suas
lides de mercador.
Viu-se cavalgando o voluntarioso jumento, vergado ao peso
de preciosa carga, em verdejante caminho, quando o emissário divino o
interpelou, com bondade, em seguida às saudações habituais:
— Meu amigo, sabes
quantos coices desferiu hoje este animal?
— Muitíssimos — respondeu sem vacilação.
— Quantas vezes terá mordido os companheiros de
estrebaria? — prosseguiu o enviado, sorridente — quantas vezes terá insultado o
asseio de tua casa e orneado despropositadamente? E porque o discípulo aturdido
não conseguisse responder, de pronto, o anjo considerou: — Entretanto, ele é um
auxiliar precioso e deve ser conservado.
Transporta medicamentos que salvam muitos enfermos,
distribuindo esperança, saúde e alegria.
E fitando os olhos lúcidos no pregador desalentado,
rematou:
— Se este jumento, a pretexto de ser rude e imperfeito,
se negasse a cooperar contigo, que seria dos enfermos a esperarem confiantes em
ti? Volta à missão luminosa que abandonaste, e, se te não é possível, por
agora, servir a Nosso Pai Supremo na condição de um homem purificado, atende
aos teus deveres, espalhando reconforto e bom ânimo, na posição do animal
valioso e útil.
nas bênçãos do serviço, serás mais facilmente encontrado
pelos mensageiros de Deus, os quais, reconhecendo-te a boa-vontade nas
realizações do amor, se compadecerão de ti, amparando-te a natureza e
aprimorando-a, tanto quanto domesticas e valorizas o teu rústico, mas
prestimoso auxiliar! Nesse instante, o pregador viu-se novamente no corpo,
acordado, e agora feliz em razão da resposta do Alto, que lhe reajustaria a
errada conduta.
Surgindo o silêncio, o discípulo agradeceu ao Mestre com um
olhar.
E Jesus, transcorridos alguns minutos de manifesta
consolação no semblante de todos, concluiu: — O trabalho no bem é o
incentivo santo da perfeição.
Através dele, a alma de um criminoso pode emergir para o
Céu, à maneira do lírio que desabrocha para a Luz, de raízes ainda presas no
charco.
Em seguida, o Mestre pôs-se a contemplar as estrelas que
faiscavam, dentro da noite, enquanto Tadeu, comovido, se aproximava, de manso,
para beijar-lhe as mãos com doçura reverente.
Neio Lúcio - Do Livro Jesus no Lar - Francisco C. Xavier
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