TEXTOS PARA GRUPOS DO WATZAP
CAP I – 27/12
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP I – NÃO VIM DESTRUIR A LEI
CULTO ESPÍRITA
“Não penseis que eu tenha vindo destruir a lei ou os
profetas: não os vim destruir, mas cumpri-los.” Jesus (Mt, 5:11)
Assim como o Cristo disse: “Não vim destruir a lei, porém
cumpri-la”, também o Espiritismo diz: “Não venho destruir a lei cristã, mas
dar-lhe execução.” (Cap. 1, item: 7)
O Culto Espírita, expressando veneração aos princípios
evangélicos que ele mesmo restaura, apela para o íntimo de cada um, a fim de
patentear-se.
Ninguém precisa inquirir o modo de nobilitá-lo com mais
grandeza, porque reverenciá-lo é conferir-lhe força e substância na própria
vida.
Mãe, aceitarás os encargos e os sacrifícios do lar amando
e auxiliando a Humanidade, no esposo e nos filhos que a Sabedoria Divina te
confiou.
Dirigente, honrarás os dirigidos. Legislador, não farás
da autoridade instrumento de opressão.
Administrador, respeitarás a posse e o dinheiro,
empregando-lhes os recursos no bem de todos, com o devido discernimento.
Mestre, ensinarás construindo. Pensador, não torcerás as
convicções que te enobrecem.
Cientista, descortinarás caminhos novos, sem degradar a
inteligência.
Médico, viverás na dignidade da profissão sem negociar
com as dores dos semelhantes.
Magistrado, sustentarás a justiça.
Advogado, preservarás o direito.
Escritor, não molharás a pena no lodo do viciado, nem no
veneno da injúria.
Poeta, converterás a inspiração em fonte de luz.
Orador, cultivarás a verdade.
Artista, exaltarás o gênio e a sensibilidade sem
corrompe-los.
Chefe, serás humano e generoso, sem fugir à
imparcialidade e à razão.
Operário, não furtarás o tempo, envilecendo a tarefa.
Lavrador, protegerás a terra.
Comerciante, não incentivarás a fome ou o desconforto, a
pretexto de lucro.
Cobrador de impostos, aplicarás os regulamentos com
equidade.
Médium, serás sincero e leal aos compromissos que
abraças, evitando perverter os talentos do plano espiritual no profissionalismo
religioso.
O culto espírita possui um templo vivo em cada
consciência na esfera de todos aqueles que lhe esposam as instruções, de
conformidade com o ensino de Jesus: “O reino de Deus está dentro de vós” e toda
a sua teologia se resume na definição do Evangelho: “a cada um por suas obras”.
A vista disso, prescindindo de convenção pragmática,
temos nele o caminho libertador alma, educando-nos raciocínio e sentimento,
para que possamos servir na construção do mundo melhor.
LIVRO DA ESPERANÇA – EMMANUEL – FCX
ESTUDO DA PARÁBOLA
Comentávamos a necessidade da divulgação da Doutrina
Espírita, quando o rabí Zoan ben Ozias, distinto orientador israelita, hoje
consagrado às verdades do Evangelho no Mundo Espiritual, pediu licença a fim de
parafrasear a parábola dos talentos, contada por Jesus, e falou, simples:
- Meus amigos, o Senhor da Terra, partindo, em caráter
temporário, para fora do mundo, chamou três dos seus servos e, considerando a
capacidade de cada um, confiou-lhes alguns dos seus próprios bens, a título de
empréstimo, participando-lhes que os reencontraria, mais tarde, na Vida
Superior...
Ao primeiro transmitiu o Dinheiro, o Poder, o Conforto, a
Habilidade e o Prestígio; ao segundo concedeu a Inteligência e a Autoridade, e
ao terceiro entregou o Conhecimento Espírita.
Depois de longo tempo, os três servidores, assustados e
vacilantes, compareceram diante do Senhor para as contas necessárias.
O primeiro avançou e disse: - Senhor, cometi muitos
disparates e não consegui realizar-te a vontade, que determina o
bem para todos os teus súditos, mas, com os cinco
talentos que me puseste nas mãos, comecei a cultivar, pelo menos com pequeninos
resultados, outros cinco, que são o Trabalho, o Progresso, a Amizade, a Esperança
e a Gratidão, em alguns dos companheiros que ficaram no mundo... Perdoa-me, ó
Divino Amigo, se não pude fazer mais!...
O Senhor respondeu tranquilo: - Bem está, servo fiel,
pois não erraste por intenção... Volta ao campo terrestre e reinicia a obra
interrompida, renascendo sob o amparo das afeições que ajudaste.
Veio o segundo e alegou: - Senhor, digna-te desculpar-me
a incapacidade... Não te pude compreender claramente
os desígnios que preceituam a felicidade igual para todas
as criaturas e perpetrei lastimáveis enganos... Ainda assim, mobilizei os dois
valores que me deste e, com eles, angariei outros dois que são a Cultura e a
Experiência para muitos dos irmãos que permanecem na retaguarda...
O Excelso Benfeitor replicou, satisfeito: - Bem está, servo
fiel, pois não erraste por intenção... Volta ao campo terrestre e reinicia a
obra interrompida, renascendo sob o amparo das afeições que ajuntaste.
O terceiro adiantou-se e explicou: - Senhor, devolvo-te o
Conhecimento Espírita, intocado e puro, qual o recebi de tua
munificência... O Conhecimento Espírita é Luz, Senhor, e,
com ele, aprendi que a tua Lei é obra dura demais, atribuindo a cada um
conforme as próprias obras. De que modo usar uma lâmpada assim, brilhante e
viva, se os homens na Terra estão divididos por pesadelos de inveja e ciúme,
crueldade e ilusão? Como empregar o clarão de tua verdade sem ferir ou
incomodar? e como incomodar ou ferir, sem trazer deploráveis consequências para
mim próprio? Sabes que a Verdade, entre os homens, cria problemas onde
aparece... Em vista disso, tive medo de tua Lei e julguei como sendo a medida
mais razoável para mim o acomodar-me com o sossego de minha casa... Assim
pensando, ocultei o dom que me recomendaste aplicar e restituo-te semelhante
riqueza, sem o mínimo toque de minha parte!...
O Sublime Credor, porém, entre austero e triste, ordenou
que o tesouro do Conhecimento Espírita lhe fosse arrancado e entregou, de
imediato, aos dois colaboradores diligentes que se encaminhariam para a Terra,
de novo, declarando, incisivo: - Servo infiel, não existe para a tua
negligência outra alternativa senão a de recomeçares toda a tua obra pelos mais
obscuros entraves do princípio...
- Senhor!... Senhor!... – chorou o servo displicente. –
Onde a tua equidade? Deste aos meus companheiros o Dinheiro, o Poder, o
Conforto, a Habilidade, o Prestígio, a Inteligência e a Autoridade, e a mim
concedeste tão-só o Conhecimento Espírita... Como fazes cair sobre mim todo o
peso de tua severidade?
O Senhor, entretanto, explicou, brandamente: - Não
desconheces que te atribuí a luz da Verdade como sendo o bem maior de todos. Se
a ambos lhes faltava o discernimento que lhes podias ter ministrado, através do
exemplo, de que fugiste por medo da responsabilidade de corrigir amando e
trabalhar instruindo...
Escondendo a riqueza que te emprestei, não só te perdeste
pelo temor de sofrer e auxiliar, como também prejudicaste a obra deficitária de
teus irmãos, cujos dias no mundo teriam alcançado maior rendimento no Bem
Eterno, se houvessem recebido o quinhão de amor e serviço, humildade e
paciência que lhes negaste!...
- Senhor!... Senhor!... porque? – soluçou o infeliz –
porque tamanho rigor, se a tua Lei é de Misericórdia e Justiça.
Então, os assessores do Senhor conduziam o servo desleal
para as sombras do recomeço, esclarecendo a ele que a Lei, realmente, é
disciplina de Misericórdia e Justiça, mas com uma diferença: para os ignorantes
do dever. A Justiça chega pelo alvará da Misericórdia; mas, para as criaturas
conscientes das próprias obrigações, a Misericórdia chega pelo cárcere da
Justiça.
Do livro: Estante da Vida, Médium: Francisco Cândido
Xavier
CAP II – 28/12
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP II – MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO
VINDA DO REINO
“O reino de Deus não vem com aparência exterior.” —
Jesus. (LUCAS, capítulo 17, versículo 20.)
Os agrupamentos religiosos no mundo permanecem, quase
sempre, preocupados pelas conversões alheias. Os crentes mais entusiastas
anseiam por transformar as concepções dos amigos.
Em vista disso, em toda parte somos defrontados por
irmãos aflitos pela dilatação do proselitismo em seus círculos de estudo.
Semelhante atividade nem sempre é útil, porquanto, em
muitas ocasiões, pode perturbar elevados projetos em realização.
Afirma Jesus que o Reino de Deus não vem com aparência
exterior.
É sempre ruinosa a preocupação por demonstrar pompas e
números vaidosamente, nos grupos da fé. Expressões transitórias de poder humano
não atestam o Reino de Deus.
A realização divina começará do íntimo das criaturas,
constituindo gloriosa luz do templo interno.
Não surge à comum apreciação, porque a maioria dos homens
transitam semicegos, através do túnel da carne, sepultando os erros do passado
culposo.
A carne é digna e venerável, pois é vaso de purificação,
recebendo-nos para o resgate preciso; entretanto, para os espíritos redimidos
significa “morte” ou “transformação permanente”.
O homem carnal, em vista das circunstâncias que lhe
governam o esforço, pode ver somente o que está “morto” ou aquilo que “vai
morrer”.
O Reino de Deus, porém, divino e imortal, escapa
naturalmente à visão dos humanos.
CAMINHO VERDADE E VIDA – EMMANUEL FCX
O CRISTÃO QUE VOLTOU
Conta-se que certo cristão de recuados tempos, após
reconhecer a grandeza do Evangelho, tomou-se de profunda ansiedade pela
completa integração com o Senhor.
Ouvia, seguidos de paz celeste, as preleções dos
missionários da Revelação Divina e, embora tropeçasse nos caminhos
ásperos da Terra, permanecia em perene contemplação do
Céu, repetindo: Jamais serei como os outros homens, arruinados e falidos na fé!
Oh! Meu Salvador, suspiro pela eterna união contigo!
De fato, conquanto não guardasse o fingimento do fariseu,
em pronunciando semelhantes palavras, fixava as lutas e fraquezas do próximo,
com indisfarçável horror.
Assombravam-no os conflitos humanos e as experiências
alheias repercutiam-lhe na alma angustiosamente. Não seria razoável refugiar-se
na oração e aguardar o encontro divino? Figurava-se-lhe o mundo velho campo
lodoso, ao qual era indispensável fugir.
Concentrado em si mesmo, adotou o isolamento como norma a
seguir no trato com os semelhantes. Desligado de todos os interesses do
trabalho humano, vivia em prece contínua, na expectativa de absoluta
identificação com o Mestre. Se alguma pessoa lhe dirigia a palavra, respondia
receoso, utilizando monossílabos apressados. Pesados tributos de sofrimento
exigia a vida de bocas levianas e insensatas e, por isso, temia oferecer
opiniões e pareceres.
Nas assembleias de oração, quase nunca era visto em
companhia de outrem. Desviara-se de tudo e de todos na sua sede de Jesus
Cristo.
À noite, sonhava com a sublime união e, durante o dia,
consagrava-se a longos exercícios espirituais, absorvidos na preparação do dia
glorioso. Nem por isso, contudo, a vida deixada de acenar-lhe ao espírito,
convidando-lhe
o coração ao esforço ativo.
No lar, no templo, na via pública, o mundo chamava-o a
pronunciamento em setores diversos. Entretanto, mantinha-se inflexível.
Detestava as uniões terrestres, desdenhava os laços afetivos que unem os seres
e, zombava de todas as realizações planetárias e punha toda a sua esperança na
rápida integração com o Salvador. Se encontrava companheiros cogitando de
serviços políticos, recordava os tiranos e os exploradores da confiança
pública, asseverando que semelhantes atividades constituíam um crime. À frente
de obrigações administrativas, afirmava que a secura e a
dureza caracterizam a atitude dos que dirigem as obras
terrenas e, perante os servidores leais em ação, classificava-os à conta de
bajuladores e escravos inúteis. Examinando a arte e a beleza, desfazia-se em
acusações gratuitas, definindo-as por elemento de exaltação condenável da carne
transitória e, observando-a ciência, menoscabava-lhe as edificações.
Unir-se-ia a Jesus, - ponderava sempre – e jamais
entraria em acordo com a existência no mundo.
Se companheiros abnegados lhe pediam colaboração em
serviços terrestres, perguntava: Para quê? E acrescentava:
Os felizes são bastante endurecidos para se aproveitarem
de meu concurso, e os infelizes bastante desesperados, merecendo, por isso
mesmo, a purificação pela dor. Não perturbarei meu trabalho, seguirei ao
encontro de meu Senhor.
E de tal modo viveu apaixonado pela glória do encontro
celeste que se retirou, um dia, do corpo, pela influência da morte, revestido
de pureza singular. Na leveza das almas tranquilas, subiu, orgulhoso de sua
vitória, para ter com o Senhor e com Ele identificar-se para sempre.
No esforço de ascensão, passou por velhos desiludidos,
mães atormentadas, pois sofredores, jovens sem rumo e espíritos informados de
todas sorte... Não lhes deu atenção, todavia. Suspirava por Cristo,
pretendia-lhe a convivência para a eternidade. Peregrinou dias e noites,
procurando ansiosamente, até que, em dado instante, lhe surgiu aos olhos
maravilhados um palácio deslumbrante. Luzes sublimes banhavam-no todo e, lá
dentro harmonias celestes se fazem ouvir em deliciosa surdina.
O crente ajoelhou-se e chorou de júbilo intenso.
Palpita-lhe descompassado o coração amante. Ia, enfim, concretizar o longo
sonho.
Contudo, antes que se dispusesse a bater junto à portaria
resplandecente, apareceu-lhe um anjo, diante do qual se prosterna, extasiado e
feliz. Quis falar, mas não pôde. A emoção embargava-lhe a voz., todavia, o
mensageiro afagou-lhe a fronte e exclamou compassivo:
Jesus compadeceu-se de ti e mandou-me ao teu encontro.
Estamos no Reino do Senhor? – inquiriu, afinal, o crente
venturoso.
Sim, respondeu o emissário angélico, - temos à frente o
início de vasta região bem-aventurada do Reino.
Posso entrar? – indagou o cristão contente.
O anjo fixou nele o olhar melancólico e informou. - Ainda
não meu amigo.
E ante o interlocutor, profundamente decepcionado,
continuou: - Realizaste a fiel adoração do Mestre, mas não executaste o
trabalho do Pai. Teu coração em verdade palpitou pelo Cristo, entretanto, Jesus
não se enfeita de admiradores apaixonados como as árvores que se adornam de
orquídeas. Não pede cortejadores para a sua glória e sim espera que todos os
seus aprendizes sejam também glorificados. Por isso, em sua passagem pela Terra
nunca se afirmou proprietário do mundo ou doador das bênçãos. Antes, atendeu a
todos os sublimes deveres do serviço comum e convidou os homens a cumprir os
superiores desígnios do nosso Eterno Pai. Não deixou os discípulos diretos, aos
quais chamou amigos, na qualidade de flores ornamentais de sua doutrina e sim
na categoria de sal da Terra destinado à glorificação do gosto de viver.
Estabelecera-se longa pausa que o mísero desencarnado não
ousou interromper. O mensageiro, porém, acariciando-o, com bondade, observou
ainda: - Volta, meu amigo, e completa a realização espiritual! Não procures
Jesus como
admirador apaixonado, mas inútil... Torna ao plano
terrestre, luta, chora, sofre e ajuda no círculo dos outros homens! A dor
conferir-te-á dons divinos, o trabalho abrir-te-á portas benditas de elevação,
a experiência encher-te-á o caminho de infinita luz e a cooperação
entregar-te-á tesouros de valor imortal! Não necessitarás, então, procurar o
Senhor, como quem busca um ídolo, porque o Senhor te procurará como amigo fiel!
Volta e não temas!
Nesse momento, algo aconteceu de inesperado e doloroso.
Desapareceram o palácio, o anjo e a paisagem de luz... Estranha escuridão pesou
no ambiente e, quando o pobre desencarnado tornou a sentir o beijo da luz nos
olhos lacrimosos, encontrava-se, no mesmo lar modesto de onde havia saído,
ansioso agora por retomar o trabalho da
realização divina noutra forma carnal.
Irmão X - Livro “Coletânea do Além” Psicografia de Chico
Xavier – Autores Diversos
CAP III – 29/12
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP III – HÁ MUITAS MORADAS NA CASA DE MEU
PAI
PERANTE O MUNDO
“Não se turbe o vosso coração. Credes em Deus, crede
também em mim.” Jesus (João, 14:1)
“A casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas São os
Mundos que circulam no espaço infinito e oferecem aos Espíritos que neles
encarnam, moradas correspondentes ao adiantamento dos mesmos Espíritos.” (Cap.
111, Item 2)
Clamas que não encontraste a felicidade no mundo, quando
o mundo — bendita universidade do espírito —, dilapidado por inúmeras gerações,
te inclui entre aqueles de quem espera cooperação para construir a própria
felicidade.
Quando atingiste o diminuto porto do berço, com a fadiga
da ave que tomba inerme, depois de haver planado longo tempo sobre mares
enormes, conquanto chorasses, argamassavas com teus vagidos, a alegria e a
esperança dos pais que te acolhiam, entusiasmados e jubilosos, para seres em
casa o esteio da segurança.
Alcançaste o verde refúgio da meninice embora mostrasses
a inconsciência afável da infância, foste para os mestres que te afagaram na
escola a promessa viva de luz e realização que lhes emblemava o porvir.
Chegaste ao róseo distrito da juventude e apesar da
inexperiência em que se te esfloravam todos os sonhos, os dirigentes de
serviço, na profissão que abraçaste, contavam contigo para dignificar o
trabalho e clarear os caminhos.
Constituíste o lar próprio e, não obstante tateasses os
domínios da responsabilidade, em meio de flores e aspirações, espíritos,
afeiçoados e amigos te aguardavam generoso concurso para se corporificarem na
condição de teus filhos através da reencarnação.
Penetraste os círculos da fé renovadora que te honra os
anseios de perfeição espiritual e se bem que externasses imediata necessidade
de esclarecimento e socorro, companheiros de ideal saudaram-te a presença, na
certeza de teu apoio ao levantamento das iniciativas mais nobres.
Casa que habitas, campo que lavras, plano que arquitetas
e obras que edificas, solicitam-te paz e trabalho.
Amigos que te ouvem rogam-te bom amimo.
Doentes que te buscam suspiram por melhoras.
Criaturas que te rodeiam pedem-te amparo e compreensão
para que lhes acrescentes a coragem.
Cousas que te cercam requisitam-te proteção e
entendimento para que se lhes aprimore o dom de servir.
Tudo é ansiosa expectativa, ao redor de teus passos.
Não maldigais a Terra que te abençoa.
Afirmas que esperas, em vão, pelo auxílio do mundo...
Entretanto é o mundo que espera confiantemente por ti.
LIVRO DA ESPERANÇA – EMMANUEL – FCX
ELES VIVERÃO
Onze anos após a
crucificação do Mestre, Tiago, o pregador, filho de Zebedeu, foi violentamente
arrebatado por esbirros do Sinédrio, em Jerusalém, a fim de responder a processo
infamante.
Arrancado ao pouso simples, depois de ordem sumária,
ei-lo posto em algemas, sob o sol causticante.
Avançando ao pé do grande templo, na mesma praga enorme
em que Estevão achara o extremo sacrifício, imensa multidão entrava-lhe a jornada.
Tiago, brando e mudo, padece, escarnecido. Declaram-no
embusteiro, malfeitor e ladrão. Há quem lhe cuspa no rosto e lhe estraçalhe a
veste.
– “A morte! à morte!...”
Centenas de vazes gritam inesperada condenação, e Pedro,
que de longe o segue, estarrecido, fita o irmão desditoso, a entregar-se
humilhado.
O antigo pescador e aprendiz de Jesus é atado a grande
poste e, ali mesmo, sob a alegação de que Herodes lhe decretara a pena,
legionários do povo passam-no pela espada, enquanto a turba estranha lhe
apedreja os despojos.
Simão chora, sozinho, ao contemplar-lhe os restos,
voltando, logo após, para o seu humilde refúgio.
Depois de algumas horas, veio a noite envolvente
acalentar-lhe o pranto.
De rústica janela, o condutor da casa inquire o céu
imenso, orando com fervor.
Porque a tempestade? porque a infâmia soez?
O pobre amigo morto era justo e leal...
Incapaz de banir a ideia de vingança, Pedro lembra os
algozes em revolta suprema.
Como desejaria ouvir o Mestre agora!... que diria Jesus
do terrível sucesso?!...
Neste instante, levanta os olhos lacrimosos, e observa
que o Cristo lhe surge, doce, à frente.
É o mesmo companheiro de semblante divino.
Ajoelha-se Pedro e grita-lhe:
– Senhor! somos todos contados entre os vermes do
mundo!... porque tanta miséria a desfazer-se em lama? Nosso nome é pisado e o
nosso sangue verte em homicídio impune... A calúnia feroz espia-nos o passo...
E talvez porque o mísero soluçasse de angústia, o Mestre
aproximou-se e disse com carinho, a afagar-lhe os cabelos:
– Esqueceste, Simão? Quem quiser vir a mim carregue a
própria cruz...
– Senhor! – retrucou, em lágrimas, o apóstolo abatido –
não renego o madeiro, mas clamo contra os maus... Que fazer de Joreb, o
falsário infeliz, que mentiu sobre nós, de modo a enriquecer-se? que castigo
terá esse inimigo atroz da verdade divina?
E Jesus respondeu, sereno, como outrora:
– Jamais amaldiçoes... Joreb vai viver...
– E Amenab, Senhor? que punição a dele, se armou escuro
laço, tramando-nos a perda?
– Esqueçamo-la em prece, porque o pobre Amenab vai viver
igualmente...
E Joachib Ben Mad? não foi ele, talvez, o inspirador do
crime? o carrasco sem fé que a todos atraiçoa? Com que horrenda aflição pagará
seus delitos?
– Foge de condenar, Joachim vai viver...
– E Amós, o falso Amós, que ganhou por vender-nos?
– Olvidemos Amós, porque Amós vai viver...
– E Herodes, o rei vil, que nos condena a morte, fingindo
ignorar que servimos a Deus?
Mas Jesus, sem turvar os olhos generosos, explicou
simplesmente:
– Repito-te, outra vez, que quem fere, ante a lei será
também ferido... A quem pratica o mal, chega o horror do remorso... E o remorso
voraz possui bastante fel para amargar a vida...
Nunca te vingues, Pedro, porque os maus viverão e
basta-lhes viver para se alçarem à dor da sentença cruel que lavram contra eles
mesmos... Simão baixou a face banhada de pranto, mas ergueu-a em seguida, para
nova indagação...
O Senhor, entretanto, já não mais ali estava. Na laje do
chão só havia o silêncio que o luar renascente adornava de luz...
LIVRO: CONTOS DESTA E DE OUTRA VIDA
CAP IV – 30/12
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP IV – NINGUÉM PODERÁ VER O REINO DE DEUS
SE NÃO NASCER DE NOVO
ANTE O LIVRE ARBÍTRIO
“Nada te admires de que eu te haja dito ser preciso que
nasças de novo.” Jesus (João, 3:7)
“Não há, pois, duvidar de que sob o nome de ressurreição
o principio do reencarnação era ponto de uma dos crenças fundamentais dos
judeus, ponto que Jesus e as profetas confirmaram de modo formal; donde se
segue que negar a reencarnação é negar as palavras do Cristo.” (Cap. IV, Item
16)
Surgem, aqui e ali, aqueles que negam o livre arbítrio,
alegando que a pessoa no mundo é tão independente quanto o pássaro no alçapão.
E, justificando a assertiva, mencionam a junção
compulsória do espírito ao veículo carnal, os constrangimentos da parentela, as
convenções sociais, as preocupações incessantes na preservação da energia
corpórea, as imposições do trabalho e a obediência natural aos regulamentos
constituídos para a garantia da ordem terrestre, esquecendo-se de que não há
escola sem disciplina.
Certamente, todos os patrimônios da civilização foram
erigidos pelas criaturas que usaram a própria liberdade na exaltação do bem, no
entanto, para fixar as realidades do livre arbítrio examinemos o reverso do
quadro.
Reflitamos, ainda que superficialmente, em nossos irmãos
menos felizes, para recolher-lhes a dolorosa lição.
Pensemos no desencanto daqueles que amontoaram moedas,
por longo tempo, acumulando o suor dos semelhantes, em louvor da própria
avareza, e sentem a aproximação da morte, sem migalha de luz que lhes mitigue
as aflições nas trevas...
Imaginemos o suplício dos que trocaram veneráveis
encargos por fantasiosos enganos, a despertarem no crepúsculo da existência,
qual se fossem arremessados, sem perceber a secura asfixiante de escabroso
deserto.
Ponderemos a tortura dos que abusaram da inteligência,
reconhecendo, à margem da sepultura, os deprimentes resultados do desprezo com
que espezinharam, a dignidade humana...
Consideremos o martírio dos que desvirtuaram a fé
religiosa, anulando-se no isolamento improdutivo, ao repararem, no término da
estância terrestre, que apenas disputaram a esterilidade do coração.
Meditemos no
remorso dos que se renderam à delinquência, hipnotizados pela falsa adoração a
si mesmos, acordando abatidos e segregados no fundo das penitenciárias de
sofrimento.
Ninguém pode negar que todos eles, imanizados ao
cativeiro da angústia, eram livres...
Conquanto os empeços do aprendizado na experiência física
eram livres para construir e educar, entender e servir.
Eis porque a Doutrina Espírita fulge, da atualidade,
diante da mente humana, auxiliando-nos a descobrir os Estatutos Divinos,
funcionando em nós próprios, no foro da consciência, a fim de aprendermos que a
liberdade de fazer o que se quer está condicionada à liberdade de fazer o que
se deve.
Estudemos os princípios da reencarnação, na lei de causa
e efeito, à luz da justiça e da misericórdia de Deus e perceberemos que mesmo encarcerados
agora em constringentes obrigações, estamos intimamente livres para aceitar com
respeito e humildade as determinações da vida, edificando o espírito de
trabalho e compreensão naqueles que nos observam e nos rodeiam, marchando,
gradativamente, para a nossa emancipação integral, desde hoje.
LIVRO DA ESPERANÇA – EMMANUEL - FCX
A ESMOLA DA COMPAIXÃO
De portas abertas ao serviço da caridade, a casa dos
Apóstolos em Jerusalém vivia repleta, em rumoroso tumulto.
Eram doentes desiludidos que vinham rogar esperança,
velhinhos sem consolo que suplicavam abrigo.
Mulheres de lívido semblante traziam nos braços crianças
aleijadas, que o duro guante do sofrimento mutilara ao nascer, e, de quando em
quando, grupos de irmãos generosos chegavam da via pública, acompanhando
alienados mentais para que ali recolhessem o benefício da prece.
Numa sala pequena, Simão Pedro atendia, prestimoso.
Fosse, porém, pelo cansaço físico ou pelas desilusões
hauridas ao contacto com as hipocrisias do mundo, o antigo pescador acusava
irritação e fadiga, a se expressarem nas exclamações de amargura que não mais
podia conter.
- Observa aquele homem que vem lá, de braços secos e
distendidos? - gritava para Zenon, o companheiro humilde que lhe prestava
concurso - aquele é Roboão, o miserável que espancou a própria mãe, numa noite
de embriaguez...
Não é justo sofra, agora, as consequências?
E pedia para que o enfermo não lhe ocupasse a atenção.
Logo após, indicando feridenta mulher que se arrasava,
buscando-o, exclamou, encolerizado:
- Que procuras, infeliz? Gozaste no orgulho e na
crueldade, durante longos anos... Muitas vezes, ouvi-te o riso imundo à frente
dos escravos agonizantes que espancavas até à morte... Fora daqui! Fora
daqui!...
E a desmandar-se nas indisposições de que se via tocado,
em seguida bradou para um velho paralítico que lhe implorava socorro:
- Como não te envergonhas de comparecer no pouso do
Senhor, quando sempre devoraste o ceitil das viúvas e dos órfãos? Tuas arcas
transbordam de maldições e de lágrimas. . . O pranto das vítimas é grilhão nos
teus pés. . .
E, por muitas horas, fustigou as desventuras alheias,
colocando à mostra, com palavras candentes e incisivas, as deficiências e os
erros de quantos lhe vinham suplicar reconforto.
Todavia, quando o Sol desaparecera distante e a névoa
crepuscular invadira o suave refúgio, modesto viajante penetrou o estreito
cenáculo, exibindo nas mãos largas nódoas sanguinolentas.
No compartimento, agora vazio, apenas o velho pescador se
dispunha à retirada, suarento é abatido.
O recém-vindo, silencioso, aproximou-se, sutil, e tocou-o
docemente.
O conturbado discípulo do Evangelho só assim lhe deu
atenção, clamando, porém, impulsivo:
- Quem és tu, que chegas a estas horas, quando o dia de
trabalho já terminou?
E porque o desconhecido não respondesse, insistiu com
inflexão de censura:
- Avia-te sem demora! Dize depressa a que vens...
Nesse instante, porém, deteve-se' a contemplar as rosas
de sangue que desabotoavam naquelas mãos belas e finas. Fitou os pés descalços,
dos quais transpareciam, ainda vivos, os rubros sinais dos cravos da cruz e,
ansioso, encontrou no estranho peregrino o olhar que refletia o fulgor das
estrelas...
Perplexo e desfalecente, compreendeu que se achava diante
do Mestre, e, ajoelhando-se, em lágrimas, gemeu, aflito:
- Senhor! Senhor! Que pretendes de teu servo? Foi então
que Jesus redivivo afagou-lhe a atormentada cabeça e falou em voz triste:
- Pedro, lembra-te de que não fomos chamados para
socorrer as almas puras... Venho rogar-te a caridade do silêncio quando não
possas auxiliar! Suplico-te para os filhos de minha esperança a esmola da
compaixão...
O rude, mas amoroso pescador de Cafarnaum, mergulhou a
face nas mãos calosas para enxugar o pranto copioso e sincero, e quando ergueu,
de novo, os olhos para abraçar o visitante querido, no aposento isolado somente
havia a sombra da noite que avançava de leve.
LIVRO: CONTOS E APÓLOGOS – HUMBERTO DE CAMPOS - FCX
CAP V – 31/12
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP V – BEM AVENTURADOS OS AFLITOS
EM LOUVOR DA ALEGRIA
“Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque rireis.”
Jesus (Lucas, 6: 21)
“Lembrai-vos de que, durante a vosso degredo na Terra,
tendes que desempenhar uma missão de que não suspeitas, quer dedicando-vos à
vossa família, quer cumprindo as diversas obrigações que Deus vos confiou.”
(Cap. V, Item 25)
Nos dias em que a experiência terrestre se faça amargosa
e difícil, não convertas a depressão em veneno.
Quando a aflição te ronda o caminho, anuncias trazer o
espírito carregado de sombra como quem se encontra ausente do lar, ansiando,
regresso, entretanto, isso não é motivo para que te precipites no desânimo
arrasador.
Acusaste em trevas e podes mentalizar com a própria
cabeça luminosos pensamentos de otimismo e fraternidade ou retratar nas pupilas
o fulgor do sol e a beleza das flores.
Entregaste à mudez, proclamando não suportar os
conflitos que te rodeiam e nada te impede abrir a boca, a fim de pronunciar a
frase de reconforto e apaziguamento.
Asseveras que o mundo é imenso vale de lágrimas, cruzando
os braços para chorar os infortúnios da Terra e possuis duas mãos por antenas
de amor capazes de improvisar canções de felicidade e esperança no trabalho
pessoal em favor dos que sofrem.
Trancaste em aposento solitário para a cultura da
irritação alegando que os melhores amigos te não entendem e perdes horas
inteiras de pranto inútil e senhorias dois pés, à maneira de alavancas
preciosas prontas a te transportarem na direção dos que atravessam provações
muito mais dolorosas que as tuas, junto dos quais um minuto de tua conversação
ou leve migalha do que te sobra te granjeariam a compreensão e a simpatia de
enorme família espiritual.
Em verdade, existe a melancolia edificante, expressando
saudade da Vida Superior, contudo aqueles que a registram no âmago do próprio
ser, consagram-se com redobrado fervor ao serviço do bem, preparando no próprio
coração a nesga de céu, suscetível de identifica-los ao plano celestial que
esperam, ansiosos, suspirando pelo reencontro com os entes que mais amam. Ainda
assim, é imperioso arredar de nós o hábito da tristeza destrutiva, como quem
guerreia o culto do entorpecente.
Espíritos vinculados às diretrizes do Cristo não podemos
olvidar que o Evangelho, considerado em todos os tempos como sendo um livro de
dor, por descrever obstáculos e perseguições, dificuldades e martírios sem
conta, começa exalçando a grandeza de Deus e a boa vontade entre os homens,
através de cânticos jubilosos e termina com a sublime visão da Humanidade
futura, na Jerusalém assentando-se, gloriosa, na alegria sem fim.
Livro da Esperança – Emmanuel - FCX
O BENDITO AGUILHÃO
Atendendo a certas
interrogações de Simão Pedro, no singelo agrupamento apostólico de Cafarnaum,
Jesus explicava solícito:
-Destina-se a
Boa-Nova, sobretudo, à vitória da fraternidade. Nosso Pai espera que os povos
do mundo se aproximem uns dos outros e que a maldade seja esquecida para
sempre.
Não é justo
combatam as criaturas reciprocamente, a pretexto de exercerem domínio indébito
sobre os patrimônios da vida, dos quais somos todos simples usufrutuários.
Operemos, assim,
contra a inveja que ateia o incêndio da cobiça, contra a vaidade que improvisa
a loucura e contra o egoísmo que isola as almas entre si....
Naturalmente, a
grande transformação não surgirá do inesperado.
Santifiquemos o
verbo que antecipa a realização.
No pensamento bem
conduzido e na prece fervorosa, receberemos as energias imprescindíveis à ação
que nos cabe desenvolver.
A paciência no
ensino garantirá êxito à sementeira, a esperança fiel alcançará o Reino divino,
e a nossa palavra, aliada ao amor que auxilia, estabelecerá o império da
infinita Bondade sobre o mundo inteiro.
Há sombras e
moléstias por toda a parte, como se a existência na Terra fosse uma corrente de
águas viciadas. É imperioso reconhecer, porém, que, se regenerarmos a fonte,
aparece adequada solução ao grande problema.
Restaurado o
espírito, em suas linhas de pureza, sublimam-se-lhe as manifestações.
Em face da pausa
natural que se fizera, espontânea, na exposição do Mestre, Pedro interferiu,
perguntando:
-Senhor, as tuas
afirmativas são sempre imagens da verdade. Compreendo que o ensino da Boa Nova
estenderá a felicidade sobre toda a Terra... No entanto, não concordas que as
enfermidades são terríveis flagelos para a criatura? E se curássemos todas as
doenças? Se proporcionássemos duradouro alívio a quantos padecem aflições do
corpo? Não acreditas que, assim instalaríamos bases mais seguras ao Reino de
Deus?
E Filipe, ajuntou
algo tímido?
-Grande
realidade!... Não é fácil concentrar ideias no Alto, quando o sofrimento físico
nos incomoda.
É quase impossível
meditar nos problemas da alma, se a carne permanece abatida de achaques...
Outros
companheiros se exprimiram, apoiando o plano de proteção integral aos
sofredores.
Jesus deixou que a
serenidade reinasse de novo, e, louvando a piedade, comunicou aos amigos que,
no dia imediato, a título de experiência, todos os enfermos seriam curados,
antes da pregação.
Com efeito, no
outro dia, desde manhãzinha, o Médico Celeste, acolitado pelos apóstolos, impôs
suas milagrosas mãos sobre os doentes de todos os matizes.
No curso de
algumas horas, foram libertados mais de cem prisioneiros da sarna, do cancro,
do reumatismo, da paralisia, da cegueira, da obsessão...
Os enfermos
penetravam o gabinete improvisado ao ar livre, com manifesta expressão de
abatimento, e voltavam jubilosos.
Tão logo
reapareciam, de olhar fulgurante, restituídos à alegria, à tranquilidade e ao
movimento, formulava Pedro o convite fraterno para o banquete da verdade e luz.
O Mestre, em
breves instantes, falaria com respeito à beleza da Eternidade e à glória do
Infinito; demonstraria o amor e a sabedoria do Pai e descortinaria horizontes
divinos da renovação, desvendando segredos do Céu para que o povo traçasse
luminoso caminho de elevação e aperfeiçoamento na Terra.
Os alegres
beneficiados, contudo, se afastavam céleres, entre frases apressadas de
agradecimento e desculpa. Declaravam-se alguns ansiosamente esperados no
ambiente doméstico e outros se afirmavam interessados em retomar certas
ocupações vulgares, com urgência.
Com a cura da
última feridenta, a vasta margem do lago contava apenas com a presença do
Senhor e dos doze aprendizes.
Desagradável
silêncio baixou sobre a reduzida assembleia.
O pescador de
Cafarnaum endereçou significativo olhar de tristeza e desapontamento ao Mestre,
mas o Cristo falou compassivo:
-Pedro, estuda a
experiência e aguarda a lição. Aliviemos a dor, mas não nos esqueçamos de que o
sofrimento é criação do próprio homem, ajudando-o a esclarecer-se para a vida
mais alta.
E sorrindo,
expressivamente, rematou:
-A carne enfermiça
é remédio salvador para o espírito envenenado. Se o bendito aguilhão da
enfermidade corporal é quase impossível tanger o rebanho humano do lodaçal da
Terra para as culminâncias do Paraíso.
LIVRO: CONTOS E APÓLOGOS – HUMBERTO DE CAMPOS - FCX
CAP VI – 01/01
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP VI - O CRISTO CONSOLADOR
ESPÍRITAS, INSTRUIVOS!
“Mas aquele Consolador, o Santo Espírito que o Pai
enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as cousas e vos fará lembrar de
tudo quanto vos tenho dito.” Jesus (João, 14:26)
“Espíritas, amaivos! Este o primeiro ensino! Instrui
vos, este o segundo.” (Cap. V1, Item 5)
Prevenir e recuperar são atitudes que se ampliam entre os
homens, à medida que se acentua o progresso da Humanidade.
Aparecem noções de civilização e responsabilidade e
levantam-se ideias de burilamento e defesa.
Quanto pudermos, porém, não os restrinjamos ao amparo de
superfície. Imperioso tratar as águas da fonte, no entanto, cansar-nos-emos
debalde, se não lhe resguardarmos a limpeza no nascedouro.
Educação e reeducação constituem a síntese de toda obra
consagrada ao aprimoramento do mundo.
Gastam-se verbas fabulosas em apetrechos bélicos e raro
surge alguém com bastante abnegação para despender a1gum dinheiro na
assistência gratuita aos semelhantes, para que se lhes pacifique o raciocínio
conflagrado.
Espantamo-nos, diante do desajustamento juvenil, a
desbordar-se em tragédias de todos os tipos, e pouco realizamos, a fim de que a
criança encontre no lar o necessário desenvolvimento com segurança de espírito.
Monumentalizamos instituições destinadas à cura dos
desequilíbrios mentais e quase nada fazemos por afastar de nós mesmos os vícios
do pensamento, com que nos candidatamos ao controle da obsessão.
Clamamos contra os desregramentos de muitos, afirmando
que a Terra está em vias de desintegração pela ausência de valores morais e, na
maioria das circunstâncias, somos dos primeiros a exigir lugar na carruagem do
excesso, reclamando direitos e privilégios, com absoluto esquecimento de
comezinhos deveres que a vida nos preceitua.
Combatamos, sim, o câncer e a poliomielite, a ulceração e
a verminose, mas busquemos igualmente extinguir o aborto e a toxicomania, a
preguiça e a
intemperança que, muitas vezes, preparam a delinquência e
a enfermidade por crises agudas de ignorância.
Para isso e para que nos disponhamos à conquista da vida
vitoriosa é que o Espírito de Verdade, nos primórdios da Codificação
Kardequiana, nos advertiu claramente: “Espíritas, instruí-vos”.
LIVRO DA ESPERANÇA – EMMANUEL – FCX
O CANDIDATO INTELECTUAL
Conta-se que Jesus, depois de infrutíferos
desentendimentos com doutores da lei, em Jerusalém, acerca dos serviços da Boa
Nova, foi procurado por um candidato ao novo Reino, que se caracterizava pela
profunda capacidade intelectual.
Recebeu-o o Mestre, cordialmente, e, em seguida às
interpelações do futuro aprendiz, passou a explicar os objetivos do
empreendimento.
O Evangelho seria a luz das nações e consolidar-se-ia à
custa da renúncia e do devotamento dos discípulos. Ensinaria aos homens a
retribuição do mal com o bem, o perdão infinito com a infinita esperança.
A Paternidade Celeste resplandeceria para todos. Judeus e
gentios converter-se-iam em irmãos, filhos do mesmo Pai.
O candidato inteligente, fixando no Senhor os olhos
arguciosos, indagou:
-A que escola
filosófica obedecerá?
-A escola do céu
respondeu complacente, o Divino Amigo.
E outras perguntas
choveram, improvisadas.
-Quem nos
presidirá à organização?
-Nosso Pai Celestial.
-Em que base
aceitará a dominação política dos romanos?
-Nas do respeito e
do auxílio mútuos.
-Na hipótese de
sermos perseguidos pelo Cinéreo, em nossas atividades, como proceder?
-Desculparemos a
ignorância, quantas vezes for preciso.
-Qual o direito
que competirá aos adeptos da Revelação Nova?
-O direito de
servir sem exigências.
O rapaz arregalou
os olhos aflitos e prosseguiu indagando: -Em que consistirá desse modo, o
salário do discípulo?
-Na alegria de
praticar a bondade.
-Estaremos
arregimentados num grande partido?
-Seremos, em todos
os lugares, uma assembleia de trabalhadores atenta à Vontade Divina.
-O programa?
-Permanecerá nos
ensinamentos novos de amor, trabalho, esperança, concórdia e perdão.
-Onde a voz
imediata de comando?
-Na consciência.
-E os cofres
mantenedores do movimento?
-Situar-se-ão em
nossa capacidade de produzir o bem.
-Com quem
contaremos de imediatos?
-Acima de tudo com
o Pai e, na estrada comum, com as nossas próprias forças.
-Quem reterá a
melhor posição no ministério?
-Aquele que mais
servir.
O candidato coçou
a cabeça, francamente desorientado, e continuou, finda a pausa:
-Que objetivo
fundamental será o nosso?
Respondeu Jesus,
sem se irritar: -O mundo regenerado, enobrecido e feliz.
-Quanto tempo
gastará?
-O tempo
necessário.
-De quantos
companheiros seguros dispomos para início da obra?
-Dos que puderem
compreender-nos e quiserem ajudar-nos.
-Mas não teremos
recursos de constranger os seguidores à colaboração ativa?
-No Reino Divino
não há violência.
-Quantos
filósofos, sacerdotes e políticos nos acompanharão?
-Em nosso
apostolado, a condição transitória não interessa e a qualidade permanece acima
do número.
-A missão
abrangerá quantos países?
-Todas as nações.
-Fará diferença
entre senhores e escravos?
-Todos os homens
são filhos de Deus.
-Em que sítio se
levanta as construções de começo? Aqui em Jerusalém?
-No coração dos
aprendizes.
-Os livros de
apontamento estão prontos?
-Sim.
-Quais são?
-Nossas vidas...
O talentoso
adventício continuou a indagar, mas Jesus silenciou sorridente e calmo.
Após longa série
de interrogativas sem resposta, o afoito rapaz inquiriu ansioso:
-Senhor, por que não
esclareces?
O Cristo
afagou-lhe os ombros inquietos e afirmou:
-Busca-me quando estiveres disposto a cooperar.
E, assim dizendo,
abandonou Jerusalém na direção da Galiléia, onde procurou os pescadores
rústicos e humildes que, realmente nada sabiam da cultura grega ou do Direito
Romano, mantendo-se, contudo, perfeitamente prontos a trabalhar com alegria e
servir por amor, sem perguntar.
LIVRO: CONTOS E APÓLOGOS – HUMBERTO DE CAMPOS - FCX
CAP VII – 02/01
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA. PREPARAÇÃO PARA AS VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP VII – BEM AVENTURADOS OS POBRES DE
ESPÍRITO
NINGUÉM É INÚTIL
“...e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado.” Jesus
(Lucas, 14:11)
“Será o maior no reino dos Céus aquele que se humilhar e
se fizer pequeno como uma criança, isto é, que nenhuma pretensão alimentar à
superioridade ou à infalibilidade.”
(cap. 7, Item 6)
Não aguardes aparente grandeza para ser útil.
Missão quer dizer incumbência.
E ninguém existe aos ventos do acaso.
Buscando entender os mandatos de trabalho que nos
competem, estudemos, de leve, algumas lições de cousas da natureza.
A usina poderosa ilumina qualquer lugar, à longa
distância, contudo, para isso, não age por si só.
Usa transformadores de um circuito a outro, alterando em
geral a tensão, e a intensidade da corrente.
Os transformadores requisitam fios de condução.
Os fios recorrem à tomada de força.
Isso, porém, ainda não resolve.
Para que a luz se faça, é indispensável a presença da
lâmpada, que se forma de componentes diversos.
O rio, de muito longe, fornece água limpa à atividade
caseira, mas não se projeta, desordenado, a serviço das criaturas. Cede os
próprios recursos à rede de encanamento.
A rede pede tubos de formação variada.
Os tubos exigem a torneira de controle.
Isso, porém, ainda não é tudo.
Para que o líquido se mostre purificado, requer o
concurso do filtro.
O avião transporta o homem, de um lado para o outro da
Terra, mas não é um gigante auto suficiente.
A fim de elevar-se precisa combustível.
O combustível solicita motores que o aproveitem.
Os motores reclamam os elementos de que se constituem.
Isso, porém, ainda não chega.
Para que a máquina voadora satisfaça aos próprios fins, é
indispensável se lhe construa adequado campo de pouso.
No dicionário das leis divinas, as nossas tarefas têm o
sinônimo do dever.
Atendamos à obrigação para que fomos chamados no clima do
bem.
Não te digas inútil, nem te asseveres incompetente.
Para cumprir a missão que nos cabe, não são necessários
um cargo diretivo, uma tribuna brilhante, um nome preclaro ou uma fortuna de
milhões.
Basta estimemos a disciplina no lugar que nos é próprio,
com o prazer de servir.
LIVRO DA ESPERANÇA – EMMANUEL - FCX
(LIVRO) VIDA FELIZ
Em Ecbátana, cidade antiga da Pérsia, havia uma Academia
onde se reuniam os sábios da época, então chamada Silenciosa, porque os seus
membros deveriam manter-se calados quanto possível, em meditação, resolvendo os
problemas que lhes eram apresentados.
Certo dia, em que todos estavam reunidos, apresentou-se
um eminente pensador chamado Dr. Zeb, que foi ali propor a sua candidatura a um
daqueles lugares disputados.
O presidente da entidade atendeu-o em silêncio, e, diante
dos diversos acadêmicos, escreveu o número mil no quadro de giz, colocando um
zero à sua esquerda, fazendo-o entender que este era o seu significado para os
presentes.
Dr. Zeb, sem qualquer enfado, apagou o zero e o
transferiu para o lado direito do número, tornando-o dez vezes maior.
Surpreendido, o sábio tomou de uma taça de cristal e
repletou-a com água de tal forma, que toda gota acrescentada resultava numa
gota a exceder e perde-se...
O candidato, sem perturbar-se, tirou uma pétala de bela
rosa que adornava o recinto e a depôs sobre a água da taça, que se manteve sem
nenhuma perturbação, tomando-se mais bela.
Diante da excelente resposta, Dr. Zeb foi então admitido
como membro do Colégio de sábios.
Joanna de Ângelis - Salvador, 20 de fevereiro de 1988.
-PREFÁCIO DO LIVRO
A grandeza da vida está na singeleza descrita na própria
natureza.
Estuda os movimentos naturais ao teu redor, percebe que
tudo está sob o controle dos mecanismos perfeitos do Universo.
CAP VIII – 03/01
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP VIII – BEM AVENTURADOS OS QUE TEM O
CORAÇÃO PURO
COMPANHEIROS MUDOS
“Deixai vir a mim os pequeninos” Jesus (Marcos, 1O: 14)
“O Espírito, pois, enverga, temporariamente, a túnica da
inocência e, assim, Jesus está com a verdade, quando, sem embargo da
anterioridade da alma, toma a criança por símbolo da pureza e da simplicidade.”
(Cap. VIII, Item 4)
Com excelentes razões, mobilizas os talentos da palavra,
a cada instante, permutando impressões com os outros.
Selecionas os melhores conceitos para os ouvidos de
assembleias atentas. Aconselhas o bem, plasmando terminologia adequada para a
exaltação da virtude.
Estudas filologia e gramática, no culto à linguagem
nobre.
Encontras a frase exata, no momento certo, em que
externas determinado ponto de vista.
Sabes manejar o apontamento edificante, em família.
Lecionas disciplinas diversas.
Debates problemas sociais.
Analisas os sucessos diários.
Questionas serviços públicos.
Indiscutivelmente, o verbo é luz da vida, de que o
próprio Jesus se valeu para legar-nos o Evangelho Renovador.
Entretanto, nesta nota simples, vimos rogar-te apoio e
consolação para aqueles companheiros a quem a nossa destreza vocabular consegue
servir em sentido direto.
Comparecem, às centenas; aqui e ali...
Jazem famintos e não comentam a carência de pão.
Amargam dolorosa nudez e não reclamam contra o frio.
Experimentam agoniadas depressões morais, sem pedirem
qualquer reconforto à ideia religiosa.
Sofrem prolongados suplícios orgânicos, incapazes de
recorrer voluntariamente ao amparo da medicina.
Pensa, neles e, de coração enternecido, quanto puderes,
oferece-lhes algo de teu amor, através da peça de roupa ou da xícara de leite,
do poço medicamentosa ou do minuto de atenção e carinho, porque esses
companheiros mudos e expectantes e padecentes que não podem falar.
LIVRO DA ESPERANÇA – EMMANUEL - FCX
PARÁBOLA SIMPLES
Diversos aprendizes rodeavam o Senhor, em Cafarnaum, em
discussão acesa, com respeito ao poder da palavra, acentuando-lhes os bens e os
males.
Propunham alguns o verbo contundente para a regeneração
do mundo, enquanto outros preconizavam a frase branda e compreensiva.
Reparando o tom de azedia nos companheiros irritadiços, o
Mestre interferiu e contou uma parábola simples.
― Certa feita ― narrou, com doçura ―, o Gênio do Bem,
atendente à prece de um lavrador de vida singela, emitiu um raio de luz e
insuflou-o sobre o coração dele, em forma de pequenina observação carinhosa e
estimulante, através de uma boca otimista.
No peito do modesto homem do campo, a fagulha
acentuou-se, inflamando-lhe os sentimentos mais elevados numa chama sublime de
ideal do Bem, derramando-se para todas as pessoas que povoavam a paisagem.
Em breve tempo, o raio minúsculo era uma fonte de
claridade a criar serviço edificante em todos os círculos do sítio abençoado;
sob a sua atuação permanente, os trigais cresceram com promessas mais amplas e
a vinha robusta anunciava abundância e alegria.
Converteu-se o raio de luz em esperança e felicidade na
alma dos lavradores e a seara bem provida avançou, triunfal, do campo venturoso
para todas as regiões que o cercavam, à maneira de mensagem sublime de paz e
fartura.
Muita gente ocorreu aquele recanto risonho e calmo,
tentando aprender a ciência da produção fácil e primorosa e conduziu para as
zonas mais distantes os processos pacíficos de esforço e colaboração, que o
lume da boa vontade ali instalara no ânimo geral.
Ao fim de alguns poucos anos, o raio de luz
transformara-se numa época de colheitas sadias para a tranquilidade popular.
O Mestre fez ligeiro intervalo e continuou:
―Veio, porém, um dia em que o povo afortunado,
orgulhando-se agora do poderio obtido com o auxílio oculto da gratidão que
devia à magnanimidade celeste e pretendeu humilhar uma nação vizinha.
Isso bastou para que grande brecha se abrisse à
influência do Gênio do Mal, que emitiu um estilete de treva sobre ao coração de
uma pobre mulher do povo, por intermédio de uma boca maldizente.
A infortunada criatura não mais sentiu a claridade
interior da harmonia e deixou que o traço de sombra se multiplicasse
indefinidamente em seu íntimo de mãe enceguecida...
Logo após, despejou a sua provisão de trevas, já
transbordante, na alma de dois filhos que trabalhavam num extenso vinhedo e
ambos, envenenados por pensamentos escuros de revolta, facilmente encontraram
companheiros dispostos a absorver-lhes os espinhos invisíveis de indisciplina e
maldade, incendiando vasta propriedade e empobrecendo vários senhores de
rebanhos e terras, dantes prósperos.
A perversa iniciativa encontrou vários imitadores e, em
tempo curto, estabeleceram-se estéreis conflitos em todo o reino.
Administradores e servos confiaram-se, desvairados, a
duelo mortal, trazendo o domínio da miséria que passou a imperar, detestada e
cruel para todos.
O Divino amigo silenciou por minutos longos e
acrescentou:
― Nesta parábola humilde, temos o símbolo da palavra
preciosa e da palavra infeliz.
Uma frase de incentivo e bondade é um raio de luz,
suscetível de erguer uma nação inteira, mas uma sentença perturbadora pode
transportar todo um povo à ruína...
Pensou, pensou e concluiu:
― Estejamos certos de que se lhe oferece à paisagem, a
treva rola também, enegrecendo o que vai encontrando.
Em verdade, a ação é dos braços, mas a direção vem sempre
do pensamento, através da língua.
E sendo todo homem filho de Deus e herdeiro d’Ele, na
criação e na extensão da vida, ouça quem tiver “ouvidos de ouvir”.
LIVRO: CONTOS E APÓLOGOS – HUMBERTO DE CAMPOS - FCX
CAP IX – 04/01
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP IX – BEM AVENTURADOS OS MANSOS E
PACÍFICOS
PACIFICAÇÃO
“Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados
filhos de Deus.” Jesus (Mateus, 5: 9)
“Mas que queria Jesus dizer por estas palavras: ‘Bem
aventurados os que são brandos porque possuirão a Terra’, tendo recomendado aos
homens que renunciassem aos bens deste mundo e havendo-lhes prometido os do
Céu? Enquanto aguarda os bens do Céu, tem o homem necessidade dos da Terra para
viver. Apenas, o que ele lhe recomenda é que não ligue a estes últimos mais
importância que aos primeiros.” (Cap. 9, Item 5)
Escutaste interrogações condenatórias, em torno do amigo
ausente. Informaste algo, com discrição e bondade, salientando a parte boa que
o distingue, e, sem colocar o assunto no prato da intriga, edificaste em
silêncio, a harmonia possível.
Surpreendeste pequeninos deveres a cumprir, na esfera de
obrigações que te não competem.
Sem qualquer impulso de reprimenda, atendeste a
semelhantes tarefas, por ti mesmo, na certeza de que todos temos distrações
lamentáveis.
Anotaste a falta do companheiro.
Esqueceste toda preocupação de censura, diligenciando
substitui-o em serviço, sem alardear, superioridade.
Assinalaste o erro do vizinho.
Foges de divulgar-lhe a infelicidade e dispões-te a auxiliá-lo
no momento preciso, sem exibição de virtude.
Recebeste queixas amargas a te ferirem injustamente.
Sabes ouvi-las com paciência, abstendo-te de impelir os
irmãos do caminho às teias da sombra, trabalhando sinceramente por desfazê-las.
Caluniaram-te abertamente, incendiando-te a vida.
Toleras serenamente todos os golpes, sem animosidade ou
revide e, respondendo com mais ampla abnegação, no exercício das boas obras,
dissipas a conceituação infeliz dos teus detratores.
Descobriste a existência de companheiros iludidos ou
obsedados que se fazem motivos de perturbação ou de escândalo, no plantio do
bem ou na seara da luz.
Decerto, não lhes aplaudes a inconsciência, mas não lhes
agravas o desequilíbrio, através do sarcasmo, e oras por eles, amparando-lhes o
reajuste, pelo pensamento renovador.
Se assim procedes, classificaste, em verdade, entre os
pacificadores abençoados pelo Divino Mestre, compreendendo, afinal, que a
criatura humana, isoladamente, não consegue garantir a paz do mundo, no entanto,
cada um de nós pode e deve manter a paz dentro de si.
LIVRO DA ESPERANÇA (pelo Espírito Emmanuel) - FCX
O APRENDIZ DESAPONTADO
Um menino que desejava ardentemente residir no Céu, numa
bonita manhã, quando se encontrava no campo, em companhia de um burro, recebeu
a visita de um anjo.
Reconheceu, depressa, o emissário de Cima, pelo sorriso
bondoso e pela veste resplandecente.
Alucinado de júbilo, o rapazelho gritou: — Mensageiro de
Jesus, quero o paraíso! que fazer para chegar até lá?!
O anjo respondeu com gentileza: — O primeiro caminho para
o Céu é a obediência e, o segundo, é o trabalho.
O pequeno, que não parecia muito diligente, ficou
pensativo.
O enviado de Deus então disse: — Venho a este campo, a
fim de auxiliar a Natureza que tanto nos dá.
Fixou o olhar mais docemente na criança e rogou: — Queres
ajudar-me a limpar o chão, carregando estas pedras para o fosso vizinho?
O menino respondeu: — Não posso.
Todavia, quando o emissário celeste se dirigiu ao burro,
o animal prontificou-se a transportar os calhaus, pacientemente, deixando a
terra livre e agradável.
Em seguida, o anjo passou a dar ordens de serviço em voz
alta, mas o menino recusava-se a contribuir, enquanto o burro ia obedecendo.
No instante de mover o arado, o rapazinho desfez-se em
palavras feias, fugindo à colaboração.
O muar disciplinado, contudo, ajudou quanto pôde, em
silêncio.
No momento de preparar a sementeira, verificou-se o mesmo
quadro: o pequeno repousava e o burro trabalhava.
Em todas as medidas iniciais da lavoura, o pesado animal
agia cuidadoso, colaborando eficientemente com o lavrador celeste; entretanto,
o jovem, cheio de saúde e leveza, permaneceu amuado, a um canto, choramingando
sem saber porque e acusando não se sabe a quem.
No fim do dia, o campo estava lindo.
Canteiros bem desenhados surgiam ao centro. ladeados por
fios de água benfeitora.
As árvores, em derredor, pareciam orgulhosas de
protegê-los. O vento deslizava tão manso que mais se assemelhava a um sopro
divino cantando nas campânulas do matagal.
A Lua apareceu espalhando intensa claridade.
O anjo abraçou o obediente animal, agradecendo-lhe a
contribuição.
Vendo o menino que o mensageiro se punha de volta,
gritou, ansioso: — Anjo querido, quero seguir contigo, quero ir para o Céu!...
O emissário divino respondeu, porém: — O paraíso não foi
feito para gente preguiçosa. Se desejas encontrá-lo, aprende primeiramente a
obedecer com o burro que soube receber a bênção da disciplina e o valor da
educação.
E assim esclarecendo subiu para as estrelas, deixando o
rapazinho desapontado. mas disposto a mudar de vida.
ALVORADA CRISTÃ – NEIO LUCIO - FCX
CAP X – 05/01
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP X – BEM AVENTURADOS OS MISERICORDIOSOS
VERBO NOSSO
“Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se
encolerizar contra seu Irmão será réu de juízo” Jesus (Mateus, 5:22)
“O corpo não dá cólera àquele que não na tem, do mesmo
modo que não dá os outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são
inerentes ao Espírito.” (Cap. 1O, Item 1O)
Ainda as palavras.
Velho tema, dirás.
E sempre novo, repetiremos.
A que existem palavras e palavras.
Conhecemos aquelas que a filologia reúne, as que a
gramática disciplina, as que a praxe entretece e as que a imprensa enfileira...
Referir-nos-emos, contudo, ao verbo arroja de nós,
temperado na boca com os ingredientes da emoção, junto ao paladar daqueles que
nos rodeiam.
Verbo que nos transporta o calor do sangue e a vibração
dos nervos, o açúcar do entendimento e o sal do raciocínio. Indispensável
articulá-lo, em moldes de firmeza e compreensão, a fim de não resvale fora do
objetivo.
No trabalho cotidiano, seja ele natural quanto o pão
simples no serviço da mesa; no intercâmbio afetivo, usemo-lo à feição de água
pura; nos instantes graves, façamo-lo igual ao bisturi do cirurgião que se
limita, prudente, à incisão na zona enfermiça, sem golpes desnecessários; nos
dias tristes, tomemo-lo por remédio eficiente sem fugir à dosagem.
Palavras são agentes na construção de todos os edifícios
da vida.
Lancemo-las na direção dos outros, com o equilíbrio e a
tolerância com que desejamos venham elas até nós.
Sobretudo, evitemos a ironia.
Todo sarcasmo é tiro a esmo.
E sempre que irritação nos visite, guardemo-nos em
silêncio, de vez que a cólera é tempestade magnética, no mundo da alma, e
qualquer palavra que arremessamos no momento da cólera, é semelhante ao raio
fulminatório que ninguém sabe onde vai cair.
LIVRO DA ESPERANÇA - EMMANUEL FCX
O BARRO DESOBEDIENTE
Houve um oleiro que chegou ao pátio de serviço e reparou
com alegria em pequeno bloco de barro. Contemplou-o, enlevado, em face da cor
viva com que se apresentava e falou: — Vamos! Farei de ti delicado pote de
laboratório. O analista alegrar-se-á com teu concurso valioso.
Imensamente surpreendido, porém, notou que o barro
retrucava: — Oh! não, não quero! Eu, num laboratório, tolerando precipitações
químicas? por favor, não me toques para semelhante fim!
O oleiro, espantado, considerou: — Desejo dar-te forma
por amor, não por ódio. Sofrerás o calor de forno para que te faças belo e
útil... Entretanto, porque te recusas ao que proponho, transformar-te-ei numa
caprichosa ânfora destinada a depósito de perfumes.
— Oh! nunca! nunca!... — exclamou o barro — isto não!
Estaria exposto ao prazer dos inconscientes. Não estou inclinado a suportar
essências, através de peregrinações pelos móveis de luxo.
O dono do serviço meditou muito na desobediência da lama
orgulhosa, mas, entendendo que tudo devia fazer por não trair a confiança do
Céu, ponderou: — Bem, converter-te-ei, então, num prato honrado e robusto.
Comparecerás à mesa de meu lar. Ficarás conosco e serás companheiro de meus
filhinhos.
— Jamais! — bradou o barro, na indisciplina — isto seria
pesada humilhação... Transportar arroz cozido e aguentar caldos gordurosos na
face? assistir, inerme, às cenas de glutonaria em tua casa? não, não me
submetas!...
O trabalhador dedicado perdoou-lhe a ofensa e
acrescentou: — Modificaremos o programa ainda uma vez. Serás um vaso amigo, em
que a límpida água repouse. Ajudarás aos sedentos que se aproximarem de ti.
Muita gente abençoar-te-á a cooperação. Despertarás o contentamento e a
gratidão nas criaturas!...
— Não, não! — protestou a argila — não quero! Seria
condenar-me a tempo indefinido nas cantoneiras poeirentas ou nas salas escuras
de pessoas desclassificadas. Por favor, poupa-me! poupa-me!...
O oleiro cuidadoso considerou, preocupado: — Que será de
ti quando te conduzirem ao forno? Não passarás de matéria endurecida e informe,
sem qualquer utilidade ou beleza. Sem sacrifício e sem disciplina, ninguém se
eleva aos planos da vida superior.
O barro, todavia, recusou a advertência, bradando: — Não
aceito sacrifício, nem disciplina...
Antes que pudesse prosseguir, passou o enfornador
arrebanhando a argila pronta, e o barro desobediente foi também conduzido ao
forno em brasa.
Decorrido algum tempo, a lama vaidosa foi retirada e — ó
surpresa! — não era pote de laboratório, nem ânfora de perfume, nem prato de
refeição, nem vaso para água e, sim, feio pedaço de terra requeimada e morta,
sem qualquer significação, sendo imediatamente atirada ao pântano.
Assim acontece a muitas criaturas no mundo. Revoltam-se
contra a vontade soberana do Senhor que as convida ao trabalho de aperfeiçoamento,
mas, depois de levadas pela experiência ao forno da morte, se transformam em
verdadeiros fantasmas de desilusão e sofrimento, necessitando de longo tempo
para retornarem às bênçãos da vida mais nobre.
ALVORADA CRISTÃ – NEIO LUCIO - FCX
CAP XI – 06/01
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP XI – AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO
MEIOBEM
“E porque estreita é a porta e apertado o caminho que
leva à vida, poucos há que a encontrem.” Jesus (Mateus, 7:14)
“Amados irmãos, aproveitai dessas lições; é difícil o
praticá-las, porém, a alma colhe delas imenso bem. Crede-me, fazei o sublime
esforço que vos peço: ‘Amai-vos’ e vereis a Terra em breve transformada em
paraíso, onde as almas dos justos virão repousar.” (Cap. 11, Item 9)
Frequentemente, somos defrontados por aqueles que admiram
o amor aos semelhantes e que, sem coragem para cortar as raízes do apego si
próprios, se afeiçoam às atividades do meio-bem, continuando envolvidos no
movimento do mal.
Emprestam valioso concurso a quem administra, mas
requisitam favores e privilégios, suscitando dificuldades.
Financiam tarefas beneficentes, distendendo reais
beneficentes, no entanto, cobram tributos de gratidão, multiplicando problemas.
Entram em lares sofredores, fazendo-se necessários pelo
carinho que demonstram, mas solicitam concessões que ferem, quais rijos golpes.
Oferecem cooperação preciosa em socorrendo as aflições
alheias, no entanto, exigem atenções especiais, criando constrangimentos.
Alimentam necessitados e põem-lhes cargas nos ombros.
Acolhem crianças menos felizes, reservando-lhes o jugo da
servidão no abrigo familiar.
Elogiam companheiros para que esses mesmos companheiros
lhes erijam um trono.
Protegem amigos diligenciando convertê-los em joguetes e
escravos.
Não desconhecemos que todo cultivador espera resultados
da lavoura a que se dedica e nem ignoramos que semear e colher conforme a
plantação, constituem operações matemáticas no mecanismo da Lei.
Examinamos aqui tão-somente a estranha atitude daqueles
que não negam a eficácia da abnegação, entregando-se, porém, ao desvairado
egoísmo de quem costuma distribuir cinco moedas, no auxílio aos outros, com a
intenção de obter cinco mil.
Efetivamente, o mínimo bem vale por luz divina, mas se
levado a efeito sem propósitos secundários, como no caso da humilde viúva do
Evangelho que se destacou, nos ensinamentos do Cristo por haver cedido de si
mesma a singela importância de dois vinténs sem qualquer condição.
Precatemo-nos desse modo, contra o sistema do meio-bem,
por onde o mal se insinua, envenenando a fonte das boas obras.
Estrada construída pela metade patrocina acidentes.
Víboras penetram em casa, varando brechas.
O bem pede doação total para que se realize no mundo o
bem de todos.
É por isso que a Doutrina Espírita nos esclarece que o
bem deve ser praticado com absoluto desinteresse e infatigável devotamento, sem
que nos seja lícito, em se tratando de nossa pessoa, reclamar bem algum.
LIVRO DA ESPERANÇA - EMMANUEL FCX
A AMIZADE REAL
Um grande senhor que soubera amontoar sabedoria, além da
riqueza, auxiliava diversos amigos pobres, na manutenção do bom ânimo, na luta
pela vida.
Sentindo-se mais velho, chamou o filho à cooperação.
O rapaz deveria aprender com ele a distribuir gentilezas
e bens.
Para começar, enviou-o à residência de um companheiro de
muitos anos, ao qual destinava trezentos cruzeiros mensais.
O jovem seguiu-lhe as instruções.
Viajou seis quilômetros e encontrou a casa indicada.
Contrariando-lhe a expectativa, porém, não encontrou um pardieiro em ruínas.
O domicílio, apesar de modesto, mostrava encanto e
conforto.
Flores perfumavam o ambiente e alvo linho vestia os
móveis com beleza e decência.
O beneficiário de seu pai cumprimentou-o, com alegria efusiva,
e, depois de inteligente palestra, mandou trazer o café num serviço agradável e
distinto.
Apresentou-lhe familiares e amigos que se envolviam,
felizes, num halo enorme de saúde e contentamento.
Reparando a tranquilidade e a fartura, ali reinantes, o
portador regressou ao lar, sem entregar a dádiva.
— Para quê? — confabulava consigo mesmo — aquele homem
não era um pedinte. Não parecia guardar problemas que merecessem compaixão e
caridade. Certo, o genitor se enganara.
De volta, explicou ao velho pai, particularizadamente,
quanto vira, restituindo-lhe a importância de que fora emissário.
O ancião, contudo, após ouvi-lo calmamente, retirou mais
dinheiro da bolsa, dobrou a quantia e considerou: — Fizeste bem, tornando até
aqui. Ignorava que o nosso amigo estivesse sob mais amplos compromissos.
Volta à residência dele e, ao invés de trezentos,
entrega-lhe seiscentos cruzeiros, mensalmente, em meu nome, de ora em diante. A
sua nova situação reclama recursos duplicados.
— Mas, meu pai — acentuou o moço —, não se trata de
pessoa em posição miserável. Ao que suponho, o lar dele possui tanto conforto,
quanto o nosso.
Folgo bastante com a notícia — exclamou o velho.
E, imprimindo terna censura à voz conselheiral,
acrescentou: — Meu filho, se não é lícito dar remédio aos sãos e esmolas aos
que não precisam delas, semelhante regra não se aplica aos companheiros que
Deus nos confiou.
Quem socorre o amigo, apenas nos dias de extremo
infortúnio, pode exercer a piedade que humilha ao invés do amor que santifica.
Quem espera o dia do sofrimento para prestar o favor,
muita vez não encontrará senão silêncio e morte, perdendo a melhor oportunidade
de ser útil.
Não devemos exigir que o irmão de jornada se converta em
mendigo, a fim de parecermos superiores a ele, em todas as circunstâncias.
Tal atitude de nossa parte representaria crueldade e
dureza.
Estendamos-lhe nossas mãos e façamo-lo subir até nós,
para que nosso concurso não seja orgulho vão.
Toda gente no mundo pode consolar a miséria e partilhar
as aflições, mas raros aprendem a acentuar a alegria dos entes amados,
multiplicando-a para eles, sem egoísmo e sem inveja no coração.
O amigo verdadeiro, porém, sabe fazer isto.
Volta, pois, e atende ao meu conselho para que nossa
afeição constitua sementeira de amor para a eternidade.
Nunca desejei improvisar necessitados, em torno de nossa
porta e, sim, criar companheiros para sempre.
Foi então que o rapaz, envolvido na sabedoria paterna,
cumpriu quanto lhe fora determinado, compreendendo a sublime lição de amizade real.
ALVORADA CRISTÃ - Francisco Cândido Xavier - DITADO PELO
ESPÍRITO NEIO LÚCIO
CAP XII – 07/01
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP XII – AMAI OS VOSSOS INIMIGOS
COMPAIXÃO SEMPRE
“Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não
sereis condenados; soltai e soltar-vos-ão.” Jesus (Lucas, 6:37)
“Não esqueçais, meus queridos filhos, que o amor aproxima
de Deus a criatura e o ódio a distancia dele.” (Cap. 12, Item 10)
Perante o companheiro que te parece malfeitor, silencia e
ampara sempre.
Assim como existem pessoas, aparentemente sadias,
carregando enfermidades que apenas no futuro se fardo evidentes para a
intervenção necessária, há criaturas supostamente normais, portadoras de estranhos
desequilíbrios, aos quais se lhes debitam os gestos menos edificantes.
Compadece-te, pois, e estende os braços; para a obra do
auxílio.
Muitos daqueles que tombaram na indisciplina e na
violência, acabando segregados; nas casas de tratamento moral, guardam consigo
os braseiros de angústia que lhes foram impostos, em dolorosos processos
obsessivos, pelas mãos imponderáveis dos adversários desencarnados de outras
existências...
E quase todos os que esmoreceram, no caminho das próprias
obrigações, rendendo-se ao assalto da crueldade e do desespero, sustentaram,
por tempo enorme, na intimidade do próprio ser, a agoniada tensão da
resistência às forças do mal, sucumbindo, muitas vezes, à míngua de compreensão
e de amor...
Para todos eles, os nossos irmãos caídos em delinquência,
volvamos, assim, pensamento e ação tocados de simpatia, recordando Jesus, que
não cogita de nossas imperfeições para sustentar-nos, e certos de que também
nós, pela extensão das próprias fraquezas, não conseguimos, em verdade, saber
em que obstáculos do caminho os nossos pés tropeçarão.
LIVRO DA ESPERANÇA - EMMANUEL FCX
APRENDIZES E ADVERSÁRIOS
Jonathan, Jessé e
Eliakim, funcionários do Templo de Jerusalém, passando por Cafarnaum,
procuraram Jesus no singelo domicílio de Simão Pedro.
Recebidos pelo Senhor, entregaram-se, de imediato, à
conversação.
― Mestre ― disse o primeiro ―, soubemos que a tua palavra
traz ao mundo as Boas Novas do Reino de Deus e, entusiasmados com as tuas
concepções, hipotecamos ao teu ministério o nosso aplauso irrestrito.
Aspiramos, Senhor, à posição de discípulos teus...
Não obstante as
obrigações que nos prendem ao sagrado Tabernáculo de Israel, anelamos
servir-te, aceitando-te as ideias e lições, com as quais seremos colunas de tua
causa na cidade eleita do Povo Escolhido... Contudo, antes de solenizar nossos
votos, desejamos ouvir-te quanto à conduta que nos compete à frente dos
inimigos...
― Messias, somos hostilizados por terríveis desafetos, no
Santuário ― exclamou o segundo ―, e, extasiados com os teus ensinamentos,
estimaríamos acolher-te a orientação.
― Filho de Deus ― pediu o terceiro ―, ensina-nos como
agir...
Jesus meditou alguns instantes, e respondeu:
― Primeiramente, é justo considerar nossos adversários
como instrutores. O inimigo vê junto de nós a sombra que o amigo não deseja ver
e pode ajudar-nos a fazer mais luz no caminho que nos é próprio. Cabe-nos,
desse modo, tolerar-lhe as admoestações, com nobreza e serenidade, tal qual o
ferro, que após sofrer, paciente, o calor da forja, ainda suporta os golpes do
malho com dignidade humilde, a fim de se adaptar à utilidade e à beleza.
Os visitantes entreolharam-se, perplexos, e Jonathan
retomou a palavra, perguntando:
― Senhor, e se somos injuriados?
― Adotemos o perdão e o silêncio ― disse Jesus. ― Muita
gente que insulta é vítima de perturbação e enfermidade.
― E se formos perseguidos? ― indagou Jessé.
― Utilizemos a oração em favor daqueles que nos afligem,
para que não venhamos a cair no escuro nível da ignorância a que se acolhem.
― Mestre, e se nos baterem, esmurrarem? ― interrogou
Eliakim. ― que fazer se a violência nos avilta e confunde?
―Ainda assim ―esclareceu o brando interpelado ―, a paz
íntima deve ser nosso asilo e o amor fraterno a nossa atitude, porquanto, quem
procura seviciar o próximo e dilacerá-lo está louco e merece compaixão.
― Senhor ― insistiu Jonathan ―, que resposta oferecer,
então, à maledicência, à calúnia e à perversidade?
O Cristo sorriu e precisou:
― O maledicente guarda consigo o infortúnio de descer à
condição do verme que se alimenta
com o lixo do mundo, o caluniador traz no coração largas
doses de fel e veneno que lhe flagelam a vida, e o perverso tem a infelicidade
de cair nas armadilhas que tece para os outros. O perdão é a única resposta que
merecem, porque são bastante desditosos por si mesmos.
― E que reação assumir perante os que perseguem? ―
inquiriu Jessé, preocupado.
― Quem persegue os semelhantes tem o espírito em densas
trevas e mais se assemelha ao cego desesperado que investe contra os fantasmas
da própria imaginação, arrojando-se ao fosso do sofrimento.
Por esse motivo, o socorro espiritual é o melhor remédio
para os que nos atormentam...
― E que punição reservar aos que nos ferem o corpo,
assaltando-nos o brio? ― perguntou Eliakim espantado. ― Refiro-me àqueles que
nos vergastam a face e fazem sangrar o peito...
― Quem golpeia pela espada, pela espada será golpeado
também, até que reine o Amor Puro na Terra ― explicou o Mestre, sem pestanejar.
― Quem se rende às sugestões do crime é um doente perigoso que devemos corrigir
com a reclusão e com o tratamento indispensável. O sangue não apaga o sangue e
o mal não retifica o mal...
E, espraiando o olhar doce e lúcido pelos circunstantes,
continuou:
― É imperioso saibamos amar e educar os semelhantes com a
força de nossas convicções e conhecimentos, a fim de que o Reino de Deus se
estenda no mundo... As Boas Novas de Salvação esperam que o santo ampare o
pecador, que o são ajude o enfermo, que a vítima auxilie o verdugo...
Para isso, é imprescindível que o perdão incondicional,
com o olvido de todas as ofensas, assegure a paz e a renovação de tudo...
Nesse ínterim, uma
criança doente chorou em alta voz num aposento contíguo.
O Mestre pediu alguns instantes de espera e saiu para
socorrê-la, ao regressar, debalde buscou a presença dos aprendizes fervorosos e
entusiastas.
Na sala modesta de Pedro não havia ninguém.
LIVRO: CONTOS DESTA E DE OUTRA VIDA - HUMBERTO DE CAMPOS
- FCX
CAP XIII – 08/01
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP XIII – QUE A MÃO ESQUERDA NÃO SAIBA O
QUE FAZ A DIREITA
NA HORA DA ASSISTÊNCIA
“Mas quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados,
coxos e cegos.” Jesus (Lucas, 14: 13)
“Auxiliai os infelizes o melhor que puderdes.” (cap. 13,
Item 9)
Nas obras de assistência aos irmãos que nos felicitam com
as oportunidades do serviço fraterno, em nome do Senhor, vale salientar a
autoridade amorosa do Cristo que no-los recomendou.
Ao recebe-los à porta, intentemos ofertar-lhes algumas
frases de conforto e bom ânimo, sem ferir-lhes o coração, ainda mesmo quando
não lhes possamos ser úteis.
Visitando-lhes o lar, diligenciemos respirar-lhes o
ambiente doméstico, afetuosamente, reconhecendo-nos, na intimidade da própria
família, que nos merece respeito natural e cooperação espontânea, sem tragos de
censura.
Em lhes servindo à mesa, fujamos de reprovar-lhes os
modos ou expressões, diferentes dos nossos, calando apontamentos deselegantes e
manifestações de azedume, o que lhes agravaria a subalternidade e a desventura.
Socorrendo-lhes o corpo enfermo ou dolorido, reflitamos
nos seres que nos são particularmente amados e imaginemos a gratidão de que
seríamos possuídos, diante daqueles que os amparassem nos constrangimentos
orgânicos.
Se aceitamos a incumbência de prova-los nas filas
organizadas para a distribuição de favores diminutos, preservemos o regulamento
estabelecido, com lhaneza e bondade, sem fomentar impaciência ou tumulto; e, se
alguns deles, depois de atendidos, voltarem a nova solicitação, recordemos os
filhos queridos, quando nos pedem repetição do prato, e procuremos
satisfazê-los, dentro das possibilidades em mão, sem desmerece-los com qualquer
reprimenda.
Na ocasião em que estivermos reunidos, em equipes de
trabalho, a fim de supri-los, estejamos de bom-humor, resguardando a disciplina
sem intolerância e cultivando a generosidade sem relaxamento, na convicção de
que, usando a gentileza, no veículo da ordem, é sempre possível situar os
tarefeiros do bem, no lugar próprio, sem desperdiçar-lhes o concurso valioso.
Nós que sabemos acatar com apreço e solicitude a todos os
representantes dos poderes transitórios do mundo e que treinamos boas maneiras
para comportamento digno nos salões aristocráticos da Terra, saibamos também
ser afáveis e amigos, junto dos nossos companheiros em dificuldades maiores.
Eles não são apenas nossos irmãos. São convidados de
Cristo, em nossa casa, pelos quais encontramos ensejo de demonstrar carinho e
consideração para com Ele o Divino Mestre, em pequeninos, gestos de amor.
LIVRO DA ESPERANÇA (pelo Espírito Emmanuel) - FCX
LOUVORES RECUSADOS
Conta-se no plano espiritual que Vicente de Paulo
oficiava num templo aristocrático da França, em cerimônia de grande gala, à
frente de ricos senhores coloniais, capitães do mar, guerreiros condecorados,
políticos ociosos e avarentos sórdidos, quando, a certa altura da solenidade,
se verificou à frente do altar inesperado louvor público.
Velho corsário abeirou-se da sagrada mesa eucarística e
bradou, contrito: – Senhor, agradeço-te os navios preciosos que colocaste em
meu roteiro. Meus negócios estão prósperos, graças a ti, que me designaste boa
presa. Não permitas, ó Senhor, que teu servo fiel se perca de miséria.
Dar-te-ei valiosos dízimos. Erguerei uma nova igreja em tua honra e tomo os
presentes por testemunhas de meu voto espontâneo.
Outro devoto adiantou-se e falou em voz alta: – Senhor,
minha alma freme de júbilo pela herança que enviaste à minha casa pela morte de
meu avô que, em outro tempo, te serviu gloriosamente no campo de batalha. Agora
podemos, enfim, descansar sob a tua proteção, olvidando o trabalho e a fadiga.
Seja louvado o teu nome para sempre.
Um cavalheiro maduro, exibindo o rosto caprichosamente
enrugado, agradeceu: – Mestre Divino, trago-te a minha gratidão ardente pela
vitória na demanda provincial. Eu sabia que a tua bondade não me desprezaria.
Graças ao teu poder, minhas terras foram dilatadas. Construirei por isso um
santuário em tua memória bendita, para comemorar o triunfo que me conferiste
por justiça.
Adornada senhora tomou posição e exclamou: – Divino
Salvador, meus campos da colônia distante, com o teu auxílio, estão agora
produzindo satisfatoriamente. Agradeço os negros sadios e submissos que me
mandaste e, em sinal de minha sincera contrição, cederei à tua igreja boa parte
dos meus rendimentos.
Um homem antigo, de uniforme agaloado, acercou-se do
altar e clamou estentórico : – A ti, Mestre da Infinita Bondade, o meu regozijo
pelas gratificações com que fui quinhoado. Os meus latifúndios procedem de tua
bênção. É verdade que para preservá-los sustentei a luta e alguns miseráveis
foram mortos, mas quem senão tu mesmo colocaria a força em minhas mãos para a
defesa indispensável? Doravante, não precisarei cogitar do futuro... De minha
poltrona calma, farei orações fervorosas, fugindo ao imundo intercâmbio com
os pecadores. Para retribuir-te, ó
Eterno Redentor, farei edificar, no burgo onde a minha fortuna domina, um
templo digno de tua invocação, recordando-te os sacrifícios na cruz!
Os agradecimentos continuavam, quando Vicente de Paulo,
assombrado, reparou que a imagem do Nazareno adquiria vida e movimento...
Extático, viu-se à frente do próprio Senhor, que desceu
do altar florido, em pranto.
O abnegado sacerdote observou que Jesus se afastava a
passo rápido; contudo, em se sentindo junto dele, em se, sentindo e
perguntou-lhe, igualmente em lágrimas: – Senhor, por que te afastas de nós?
O Celeste Amigo ergueu para o clérigo a face melancólica
e explicou: – Vicente, sinto-me envergonhado de receber o louvor dos poderosos
que desprezam os fracos dos homens válidos que não trabalham, dos felizes que
abandonam os infortunados...
O interlocutor sensível nada mais ouviu. Cérebro turbilhão
desmaiou, ali mesmo, diante da assembleia intrigada, sendo imediatamente
substituído, e, febril, delirou alguns dias, prisioneiro de visões que ninguém
entendeu.
Quando se levantou da incompreendida enfermidade
vestiu-se com a túnica da pobreza, trabalhando incessantemente na caridade, até
ao fim de seus dias.
Os adoradores do templo, entretanto, continuaram
agradecendo os troféus de sangue, ouro e mentira, diante do mesmo altar e
afirmaram que Vicente de Paulo havia enlouquecido.
LIVRO: CONTOS E APÓLOGOS – HUMBERTO DE CAMPOS - FCX
CAP XIV – 09/01
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP XIV – HONRA TEU PAI E TUA MÃE
FAMILIARES
“Porquanto qualquer que fizer a vontade de Deus esse é
meu irmão, minha irmã e minha mãe” Jesus (Marcos, 3, 35)
“Há, pois, duas espécies de famílias: as famílias pelos
laços espirituais e as famílias pelo.laços corporais. Duráveis, as Primeiras se
fortalecem pela purificação e se perpetuam no mundo dos Espíritos através das
varias migrações da alma; as segundas, frágeis como a matéria, se extinguem com
o tempo e, muitas vezes, se dissolvem moralmente já na existência atual.” (cap.
14, Item 8)
Parentela — instituto primário de caridade.
Fora do lar, é possível o sossego na consciência,
distribuindo as sobras do dinheiro ou do tempo, aliás, com o mérito de quem
sabe entesourar a beneficência.
Nada difícil suportar o agressor desconhecido que
raramente conseguiremos rever.
Nenhum sacrifício em amparar o doente, largado na rua, a
quem não nos vinculamos compromisso direto. Em casa, porém, somos constrangidos
ao exercício da assistência constante.
É aí, no reduto doméstico, por trás das paredes que nos
isolam do aplauso público, que a vidência Divina nos experimenta a madureza tal
ou o proveito dos bons conselhos que ministramos.
Nós que, de vez em vez, desembolsamos sorrindo pequena
parcela de recursos em benefício dos outros, estamos incessantemente convocados
a sustentar os familiares que precisam de nós, não apenas mobilizando
possibilidades materiais, mas também apoio e compreensão, disciplina e exemplo,
resguardando as forças que nos asseguram felicidade.
Anseias por encargos sublimes queres a convivência das
entidades superiores, sonhas com posse de dons luminescentes, suspiras pela
ascensão espiritual!...
Contempla, no entanto, o espaço estreito que serve de
moradia e lembra-te da criança na escola.
Em cada companheiro que partilha a consanguinidade, temos
um livro de lições que, às vezes, nos detém o passo por tempo enorme, no
esforço da repetência.
Cada um deles nos impele a desenvolver determinadas
virtudes; num, a paciência, noutro, a lealdade, e ainda em outros, o equilíbrio
e a abnegação, a firmeza e a brandura!
A pretexto de auxiliar a Humanidade, não fujas do cadinho
fervente de lutas em que a vida te colocou sob o telhado em que respiras.
Ainda mesmo ao preço de todos os valores da existência
física, refaze milhares de vezes, as tuas demonstrações de humildade e serviço,
perante as criaturas que te cercam, ostentando os títulos de pai ou mãe, esposo
ou esposa, filhos ou irmãos, porque é de tua vitória moral junto deles que
depende a tua admissão definitiva, entre os amados que te esperam, nas
vanguardas de luz, em perpetuidade de regozijo na Família Maior.
LIVRO DA ESPERANÇA (pelo Espírito Emmanuel) - FCX
MÃE
Quando Jesus ressurgiu do túmulo, a negação e a dúvida
imperavam no círculo dos companheiros.
Voltaria Ele? perguntavam, perplexos. Quase impossível.
Seria Senhor da Vida Eterna quem se entregara na cruz, expirando entre
malfeitores?
Maria Madalena, porém, a renovada, vai ao sepulcro de
manhãzinha. E, maravilhosamente surpreendida, vê o Mestre, ajoelhando-se-lhe
aos pés. Ouve-lhe a voz repassada de ternura, fixa-lhe o olhar sereno e
magnânimo. Entretanto, para que a visão se lhe fizesse mais nítida, foi
necessário organizar o quadro exterior. O jardim reacendia perfumes para a sua
sensibilidade feminina, a sepultura estava aberta, compelindo-a a, raciocinar.
Para que a gravação das imagens se tornasse bem clara, lavando-lhe todas as
dúvidas da imaginação, Maria julgou a princípio que via o jardineiro. Antes da
certeza, a perquirição da mente precedendo a consolidação da fé. Embriagada de
júbilo, a convertida de Magdala transmite a boa-nova aos discípulos confundidos.
Os olhos sombrios de quase todos se enchem de novo brilho.
Outras mulheres, como Joana de Khouza e Maria, mãe de
Tiago, dirigem-se, ansiosas, para, o mesmo local, conduzindo perfumes e preces
gratulatórias.
Não enxergam o Messias, mas entidades resplandecentes
lhes falam do Mestre que partiu. Pedro e João acorrem, pressurosos, e ainda
vêem a pedra removida, o sepulcro vazio e apalpam os lençóis abandonados.
No colégio dos seguidores, travam-se polêmicas discretas.
Seria? não seria?
Contudo, Jesus, o Amigo Fiel, mostra-se aos aprendizes no
caminho de Emaús, que lhe reconhecem a presença ao partir do pão e, depois,
aparece aos onze cooperadores, num salão de Jerusalém. As portas permanecem
fechadas e, no entanto, o Senhor demora-se, junto deles, plenamente
materializado. Os discípulos estão deslumbrados, mas o olhar do Messias é
melancólico. Diz-nos João Marcos que o Mestre lançou-lhes em rosto a
incredulidade e a dureza de coração. Exorta-os a que o vejam, que o apalpem.
Tomé chega a consultar-lhe as chagas para adquirir a certeza do que observa. O
Celeste Mensageiro faz-se ouvir para todos. E, mais tarde, para que se
convençam os companheiros de sua
presença e da continuidade de seu amor, segue-os, em
espírito, no labor da pesca. Simão Pedro registra-lhe carinhosas recomendações,
ao lançar as redes, e encontra-o nas preces solitárias da noite.
Em seguida, para que os velhos amigos se certifiquem da
ressurreição, materializa-se num monte, aparecendo a quinhentas pessoas da
Galiléia.
No Pentecostes, a fim de que os homens lhe recebam o
Evangelho do Reino, organiza fenômenos luminosos e linguísticos, valendo-se da
colaboração dos companheiros, ante judeus e romanos, partos e medas, gregos e
elamitas, cretenses e árabes. Maravilha-se o povo. Habitantes da Panfília e da
Líbia, do Egito e da Capadócia ouvem a Boa-Nova no idioma que lhes é familiar.
Decorrido algum tempo, Jesus resolve modificar o ambiente
farisaico e busca Saulo de Tarso para o seu ministério; entretanto, para isso,
é compelido a materializar-se no caminho de Damasco, à plena luz do dia. O
perseguidor implacável, para convencer-se, precisa experimentar a cegueira
temporária, após a claridade sublime; e para que Ananias, o servo leal, dissipe
o temor e vá socorrer o ex-verdugo, é imprescindível que Jesus o visite, em
pessoa, lembrando-lhe o obséquio fraternal.
Todos os companheiros, aprendizes, seguidores e
beneficiários solicitaram a cooperação dos sentidos físicos para sentir a
presença do Divino Ressuscitado. Utilizaram-se dos olhos mortais, manejaram o
tato, aguçaram os olvidos...
Houve, contudo, alguém que dispensou todos os toques e
associações mentais, vozes e visões.
Foi Maria, sua Divina Mãe.
O Filho Bem-Amado vivia eternamente, no infinito mundo de
seu coração. Seu olhar contemplava-o, através de todas as estrela do Céu e
encontrava-lhe o hálito perfumado em todas as flores da Terra.
A voz d’Ele vibrava em sua alma e para compreender-lhe a
sobrevivência bastava penetrar o iluminado santuário de si mesma, Seu Filho –
seu amor e sua vida – poderia, acaso, morrer?
E embora a saudade angustiosa, consagrou-se à fé no
reencontro espiritual, no plano divino, sem lágrimas, sem sombras esem
morte!...
Homens e mulheres do mundo, que haveis de afrontar, um
dia, a esfinge do sepulcro, é possível que estejais esquecidos plenamente, no
dia imediato ao de vossa partida, a caminho do Mais Além.
Familiares e amigos, chamados ao imediatismo da luta
humana, passarão a desconhecer-vos, talvez, por completo. Mas, se tiverdes um
coração de mãe pulsando na Terra, regozijar-vos-eis, além da escura fronteira
de cinzas, porque aí vivereis amados e felizes para, sempre!
LIVRO: LAZARO REDIVIVO – HUMBERTO DE CAMPOS - FCX
CAP XV – 10/01
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP XV – FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO
NA INTIMIDADE DOMÉSTICA
“Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes
meus pequeninos irmãos a mim o fizestes.” Jesus (Mateus, 25: 40)
“Toda a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade,
isto é, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho.” (cap. 15, Item
3)
A história do bom samaritano, repetidamente estudada,
oferece conclusões sempre novas.
O viajante compassivo encontra o ferido anônimo na
estrada.
Não hesita em auxiliá-lo.
Estende-lhe as mãos.
Pensa-lhe as feridas.
Recolhe-o nos braços sem qualquer ideia de preconceito.
Conduz-lo ao albergue mais próximo.
Garante-lhe a pousada.
Olvida conveniências e permanece junto dele, enquanto
necessário.
Abstém se de indagações.
Parte ao encontro do dever, assegurando-lhe a assistência
com os recursos da própria bolsa, sem prescrever-lhe obrigações.
Jesus transmitiu-nos à parábola, ensinando-nos o
exercício de caridade real, mas, até agora, transcorridos quase dois milênios,
aplicam-la, via, de regra, às pessoas que não nos comungam o quadro
particular.
Quase sempre, todavia, temos os caídos do reduto
doméstico.
Não descem de Jerusalém para Jericó, mas tombam da fé
para a desilusão e da alegria para dor, espoliados nas melhores esperanças, em
rudes experiências.
Quantas vezes, surpreendemos as vítimas da obsessão e do
erro, da tristeza e da provação, dentro de casa!
Julgamos, assim, que a parábola do bom Samaritano
produzirá também efeitos admiráveis, toda vez que nos decidirmos a usá-la, na
vida íntima, compreendendo e auxiliando aos vizinhos e companheiros, parentes e
amigos sem nada exigir e sem nada perguntar.
LIVRO DA ESPERANÇA (pelo Espírito Emmanuel) - FCX
DA RENÚNCIA: A ÚNICA DÁDIVA
Conta-se que Simão Pedro estava cansado, depois de vinte
dias junto do povo.
Banhara ferimentos, alimentara mulheres e crianças
esquálidas, e, em vez de receber a aprovação do povo, recolhia insultos
velados, aqui e ali...
Após três semanas consecutivas de luta, fatigara-se e
preferira isolar-se entre alcaparreiras amigas.
Por isso mesmo, no crepúsculo anilado, estava, ele só,
diante das águas, a refletir...
Aproxima-se alguém, contudo...
Por mais busque esconder-se, sente-se procurado.
É o próprio Cristo.
- Que fazeis, Pedro? – diz-lhe o Senhor.
- Penso, Mestre.
E o diálogo prolongou-se.
- Estás triste?
- Muito triste.
- Por quê?
- Chamam-me ladrão.
- Mas se a consciência te não acusa, que tem isso?
- Sinto-me desditoso: Em nome do amor que me ensinas,
alivio os enfermos e ajudo aos necessitados. Entretanto, injuriam-me. Dizem por
aí que furto, que exploro a confiança do povo... Ainda ontem, distribuía os
velhos mantos que nos foram cedidos pela casa de Carpo, entre os doentes
chegados de Jope. Alegou alguém, inconsideradamente, que surrupiei a maior
parte. Estou exausto, Mestre. Vinte dias de multidão pesam muito mais que vinte
anos de serviço na barca.
- Pedro, que deste aos necessitados nestes últimos vintes
dias?
- Moedas, túnicas, mantos, unguentos, trigo, peixe...
- De onde chegaram as moedas?
- Das mãos de Joana, a mulher de Cusa.
- As "túnicas"?
- Da casa de Zobalan, o curtidor.
- Os mantos?
- Da residência de Carpo, o romano que decidiu amparar-nos.
- Os unguentos?
- Do lar de Zebebeu, que os fabrica.
- O trigo?
- Da seara de Zaqueu, que se lembra de nós.
- E os peixes?
- Da nossa pesca.
- Então, Pedro?
- Que devo entender, Senhor?
- Que apenas entregamos aquilo que nos foi ofertado para
distribuirmos, em favor dos que necessitam. A Divina Bondade conjuga as
circunstâncias e confia-nos de um modo ou de outro os elementos que devamos
movimentar nas obras do bem... Disseste servir em nome do amor...
- Sim, Mestre...
- Recorda, então, que o amor não relaciona calúnias, nem
conta sarcasmos.
O discípulo, entremostrando súbita renovação mental, não
respondeu.
Jesus abraçou-o e disse: - Pedro, todos os bens da vida
podem ser transmitidos de sítio a sítio e de mão em mão... Ninguém pode dar, em
essência, esse ou aquele patrimônio do mundo, senão o próprio Criador, que nos
empresta os recursos por Ele gerados na Criação... E, se algo podemos dar de
nós, o amor é a única dádiva que podemos fazer, sofrendo e renunciando por
amor...
O apóstolo compreendeu e beijou as mãos que o tocavam de
leve.
Em seguida, puseram-se ambos a falar alegremente sobre as
tarefas esperadas para o dia seguinte.
LIVRO: IDEIAS E
ILUSTRAÇÕES – HUMBERTODE CAMPOS- IRMÃO X - FCX
CAP XVI – 11/01
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP XVI – SERVIR A DEUS E A MAMON
BÊNÇÃO DE DEUS
“Assim toda árvore boa produz bons frutos” Jesus (Mateus,
7: 17)
“Venho, meus irmãos e meus amigos, trazer-vos o meu
óbolo, a fim de vos ajudar a avançar, desassombradamente, pela senda do
aperfeiçoamento em que entrastes. Nós nos devemos uns aos outros; somente pela
união sincera e fraternal entre os Espíritos e os encarnados será possível a
regeneração.” (Cap. XVI, Item 14)
Muitas vezes, criticamos o dinheiro, malsinando-lhe a
existência, no entanto, é lícito observá-lo através da justiça.
O dinheiro não compra a harmonia, contudo, nas mãos da
caridade, restaura o equilíbrio do pai de família, onerado em dívidas
escabrosas.
Não compra o sol, mas nas mãos da caridade, obtém o
cobertor, destinado a aquecer o corpo enregelado dos que tremem de frio.
Não compra a saúde, entretanto, nas mãos da caridade,
assegura proteção ao enfermo desamparado.
Não compra a visão, todavia, nas mãos da caridade,
oferece óculos aos olhos deficientes do trabalhador de parcos recursos.
Não compra a euforia, contudo, nas mãos da caridade,
improvisa a refeição devida aos companheiros que enlanguescem de tome.
Não compra a luz espiritual, mas, nas mãos da caridade,
propaga a página edificante que reajusta o pensamento a tresmalhar-se nas
sombras.
Não compra a fé, entretanto, nas mãos da caridade, ergue
a esperança junto de corações tombados em sofrimento e penúria.
Não compra a alegria, no entanto, nas mãos da caridade,
garante a consolação para aqueles que choram, suspirando por migalha de
reconforto.
Dinheiro em si e por si é moeda seca ou papel insensível
que, nas garras da sovinice ou da crueldade é capaz de criar o infortúnio ou
acobertar o vício.
Mas o dinheiro do trabalho e da honestidade, da paz e da
beneficência, que pode ser creditado no banco da consciência tranquila, toda
vez que surja unido ao serviço e à caridade, será sempre bênção de Deus,
fazendo prodígios.
LIVRO DA ESPERANÇA (pelo Espírito Emmanuel) - FCX
SUBLIME RENOVAÇÃO
Conta-se que Tiago, filho de Alfeu, o discípulo de Jesus
extremamente ligado à Lei Antiga, alguns meses depois da crucificação tomou-se
de profunda saudade do Redentor e, suspirando por receber-lhe a visita divina,
afastou-se dos companheiros de apostolado, demandando deleitoso retiro, nas
adjacências de Nazaré.
Ele, que pretendia conciliar os princípios do Cristo com
os ensinamentos de Moisés, não tolerava os distúrbios da multidão.
Não seria mais justo – pensava – aguardar o Senhor na
quietude do campo e na bênção da prece? Porque misturar-se com os gentios
irreverentes? Simão e os demais cooperadores haviam permanecido em Jerusalém,
confundindo-se com meretrizes e malfeitores.
Vira-lhes o sacrifício em favor dos leprosos e dos
loucos, das mães desditosas e das crianças abandonadas, mas não desconhecia
que, entre os sofredores que os cercavam, surgiam oportunistas e ladrões.
Conhecera, de perto, os que iam orar em nome da Boa Nova,
com o intuito de roubar e matar.
Acompanhara o martírio de muitas jovens da família
apostólica miseravelmente traídas por homens de má fé que lhes sufocavam os
sonhos, copiando textos do Evangelho renovador.
Observara bocas numerosas glorificando o Santo Nome para,
em seguida, extorquirem dinheiro aos necessitados, sem que ninguém lhes punisse
a desfaçatez.
Na grande casa em que se propunha continuar a obra do
Cristo, entravam alimentos condenados e pipas de vinho com que se intoxicavam
doentes, tanto quanto bêbados e vagabundos que fomentavam a balbúrdia e a
perturbação.
Desgostoso, queixara-se a Pedro, mas o rijo pescador que
lutava na chefia do santuário nascente rogara-lhe serenidade e abnegação.
Poderia, contudo, sustentar excessos de tolerância,
quando o Senhor lhes recomendara pureza?
Em razão disso, crendo guardar-se isento da corrupção,
abandonara a grande cidade e confinara-se em ninho agreste na deliciosa planura
que se eleva acima do burgo alegre em que Jesus passou a infância.
Ali, contemplando a paisagem que se desdobra em perspectiva
surpreendente, consolava-se com a visão dos lugares santos a lhe recordarem as
tradições patriarcais.
Diante dele destacavam-se as linhas notáveis do Carmelo,
as montanhas do país de Siquém, o monte Gelboé e a figura dominante do Tabor...
Tiago, habituado ao jejum, comprazia-se em prece
constante.
Envergando a veste limpa, erguia-se de leito alpestre,
cada dia, para meditar as revelações divinas e louvar o Celeste Orientador,
aguardando-Lhe a vinda.
Extasiava-se, ouvindo as aves canoras que lhe secundavam
as orações, e acariciava, contente, as flores silvestres que lhe balsamizavam o
calmoso refúgio.
Por mais de duzentos dias demorava-se em semelhante
adoração, ansiando ouvir o Salvador, quando, em certo crepúsculo doce e longo,
reparou que um ponto minúsculo crescia, em pleno céu.
De joelhos, interrompeu a oração e acompanhou a pequenina
esfera luminosa, até que a viu transformada na figura de um homem, que avançava
em sua direção...
Daí a minutos, mal sopitando a emotividade, reconheceu-se
à frente do Mestre.
Oh! era Ele! A mesma túnica simples, os mesmos cabelos
fartos a se Lhe derramarem nos ombros, o mesmo semblante marcado de amor e
melancolia...
Tiago esperou, mas Jesus, como se lhe não assinalasse a
presença, caminhou adiante, deixando-o à retarguada...
O discípulo solitário não suportou semelhante silêncio e,
erguendo-se, presto, correu até o
Divino Amigo e interpelou-o:
- Senhor, Senhor! aonde vais?
O Messias voltou-se e respondeu, generoso:
- Devo estar ainda hoje em Jerusalém, onde os nossos
companheiros necessitam de meu concurso para o trabalho...
- E eu, Mestre? – perguntou o apóstolo, aflito – acaso
não precisarei de Ti no carinho que Te consagro à memória?
- Tiago – disse Jesus, abençoando-o com o olhar -, o
soldado que se retira deliberadamente do combate não precisa do suprimento
indispensável à extensão da luta... Deixei aos meus discípulos os infortunados
da Terra como herança. O Evangelho é a construção sublime da alegria e do
amor... E enquanto houver no mundo um só coração desfalecente, o descanso
ser-me-á de todo impraticável...
- Mas, Senhor, disseste que devíamos conservar a elevação
e a pureza.
- Sim – tornou o Excelso Amigo -, e não te recrimino por
guardá-las. Devo apenas dizer-te que é fácil ser santo, à distância dos pecadores.
- Não nos classificaste também como sendo a luz do mundo?
O Visitante Divino sorriu triste e falou: - Entretanto, onde estará o mérito da luz que
foge da sombra? Nas trevas da crueldade e da calúnia, da mistificação e da
ignorância, do sofrimento e do crime, acenderemos a
Glória de Deus, na exaltação do Bem Eterno.
Tiago desejaria continuar a sublime conversação, mas a
voz extinguiu-se-lhe na garganta, asfixiada de lágrimas; e como quem tinha
pressa de chegar ao destino, Jesus afastou-se, após afagar-lhe o rosto em
pranto.
Na mesma noite, porém, o apóstolo renovado desceu para
Nazaré e, durante longas horas, avançou devagar para Jerusalém, parando aqui e
ali para essa ou aquela tarefa de caridade e de reconforto. E na ensolarada
manhã do sétimo dia da jornada de volta, quando Simão Pedro veio à sala modesta
de socorro aos enfermos encontrou Tiago, filho de Alfeu, debruçado sobre velha
bacia de barro, lavando um feridento e conversando, bondoso, ao pé dos
infelizes.
LIVRO: ESTANTE DA VIDA – HUMBERTO DE CAMPOS – IRMÃO X -
FCX
CAP XVII – 12/01
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP XVII – SEDE PERFEITOS
NA CONSTRUÇÃO DA VIRTUDE
“Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor a
justiça, porque deles é o reina dos Céus” Jesus (Mateus, 5:10)
“A virtude, no mais alto grau, é o conjunto de todas as
qualidades essenciais que constituem o homem de bem. Ser bom, caritativo,
laborioso, sóbrio, modesto, são qualidades do homem virtuoso.” (Cap. XVII)
Toleras descabidas injúrias e calas a justificação que te
pende da boca, esperando, a preço de lágrimas, que o tempo te mostre a isenção
de culpa, no entanto, com isso, promoves o reconhecimento e a renovação dos
teus próprios perseguidores.
Podes apropriar-te da felicidade alheia, através de pleno
domínio no lar de outrem, à custa do infortúnio de alguém, e, embora padecendo
agoniada fome de afeto, ensinas a prática do dever a quem te pede convivência e
carinho, todavia, com semelhante procedimento, acendes na própria alma a chama
do amor puro com que, um dia, aquecerás os entes queridos nos planos da vida
eterna.
Tens razão de sobejo para falar a reprimenda esmagadora
aos irmãos caldos em erro, pela ascendência moral que já conquistaste, e
pronuncias a frase de estímulo e indulgência, muitas vezes sob a crítica dos
que te não compreendem os gestos, mas consegues, assim, reerguer o ânimo dos
companheiros desanimados, recuperandolhes as energias para levantamento das
boas guardas o direito de repousar pelo merecimento obtido em longas tarefas
nobremente cumpridas, e prossegues em atividade laboriosa, no progresso e na
paz de todos, quase sempre com o desgaste acelerado das próprias forças,
entretanto, nesse abençoado serviço extra, lanças o seguro alicerce dos
apostolados santificantes que te clarearão o grande futuro.
Sob o assalto da calúnia, ora em favor dos que te ferem.
Quando vantagens humanas te sorriam com prejuízo dos
outros, prefere o sacrifício das mais belas aspirações.
Com autoridade suficiente para a censura, semeia a
benevolência onde estiveres.
Retendo a possibilidade do descanso, abraça o maior
esforço e trabalha sempre.
Quem suporta serenamente o mal que atraiu para si mesmo,
trilha a estrada bendita da resignação, contudo quem pratica o bem quando pode
fazer o mal vive por antecipação no iluminado país da virtude.
LIVRO DA ESPERANÇA (pelo Espírito Emmanuel) FCX
PEDRO, O APÓSTOLO
Enquanto a Capital dos mineiros, dirigida pelos seus
elementos eclesiásticos, se prepara, esperando as grandes manifestações de fé
do segundo Congresso Eucarístico Nacional, chegam os turistas elegantes e os
peregrinos invisíveis. Também eu quis conhecer de perto as atividades
religiosas dos conterrâneos de Augusto de Lima.
Na Praça Raul Soares, espaçosa e ornamentada, vi o
monumento dos congressistas, elevando-se em forma de altar, onde os altos
religiosos serão celebrados. No topo, a custódia, rodeada de arcanjos
petrificados, guardando o símbolo suave e branco da eucaristia, e, cá embaixo,
nas linhas irregulares da terra, as acomodações largas e fartas, de onde o povo
assistirá, comovido, às manifestações de Minas católica.
Foi nesse ambiente que a figura de um homem trajado à
israelita, lembrando alguns tipos que em Jerusalém se dirigem, frequentemente,
para o lugar sagrado das lamentações, aguçou a minha curiosidade incorrigível
de jornalista.
- Um judeu?! – exclamei, aguardando as novidades de uma
entrevista.
- Sim, fui judeu, há algumas centenas de anos – respondeu
laconicamente o interpelado.
Sua réplica exaltou a minha bisbilhotice e procurei
atrair a atenção da singular personagem.
- Vosso nome? – continuei.
- Simão Pedro.
- O Apóstolo?
E a veneranda figura respondeu afirmativamente, colando
ao peito os cabelos respeitáveis da barba encanecida.
Surpreso e sedento da sua palavra, contemplei aquela
figura hebraica, cheia de simplicidade e simpatia. Ao meu cérebro afluíam
centenas de perguntas, sem que pudesse coordená-las devidamente.
- Mestre – disse-lhe, por fim - Vossa palavra tem para o
mundo um valor inestimável. A cristandade nunca vos julgou acessível na face da
Terra, acreditando que vos conserváveis no Céu, de cujas portas resplandecentes
guardáveis a chave maravilhosa. Não teríeis algumas mensagens do Senhor para
transmitir à Humanidade, neste momento angustioso que as criaturas estão
vivendo?
E o Apóstolo venerável, dentro da sua expressão resignada
e humilde, começou a falar: - Ignoro a
razão por que revestiram a minha figura, na Terra, de semelhantes honrarias.
Como homem, não fui mais que um obscuro pescador da Galiléia e, como discípulo
do Divino Mestre, não tive a fé necessária nos momentos oportunos. O Senhor não
poderia, portanto, conferir-me privilégios, quando amava todos os seus
apóstolos com igual amor.
- É conhecida, na história das origens do Cristianismo, a
vossa desinteligência com Paulo de Tarso. Tudo isso é verdadeiro?
- De alguma forma, tudo isso é verdade – declarou
bondosamente o Apóstolo. – Mas, Paulo tinha razão. Sua palavra enérgica evitou
que se criasse uma aristocracia injustificável, que, sem ele, teria que
desenvolver-se fatalmente entre os amigos de Jesus, que se haviam retirado de
Jerusalém para as regiões da Batanéia.
- Nada desejais dizer ao mundo sobre a autenticidade dos
Evangelhos?
- Expressão autêntica da biografia e dos atos do Divino
Mestre, não seria possível acrescentar qualquer coisa a esse livro sagrado.
Muita iniquidade se tem verificado no mundo em nome do estatuto divino, quando
todas as hipocrisias e injustiças estão nele sumariamente condenadas.
- E no capítulo dos milagres?
- Não é propriamente milagre o que caracterizou as ações
práticas do Senhor. Todos os seus atos foram resultantes do seu imenso poder
espiritual. Todas as obras a que se referem os Evangelistas são profundamente
verdadeiras.
E, como quem retrocede no tempo, o Apóstolo monologou: -
Em Carfanaum, perto de Genesaré, e em Betsaida, muitas vezes acompanhei o
Senhor nas suas abençoadas peregrinações. Na Samaria, ao lado de Cesaréia de
Felipe, vi suas mãos carinhosas dar vistas aos cegos e consolação aos
desesperados. Aquele sol claro e ardente da Galiléia ainda hoje ilumina toda a
minha alma e, tantos séculos depois de minhas lutas no mundo, ao lado de alguns
companheiros procuro reivindicar para os homens a vida perfeita do
Cristianismo, com o advento do Reino de Deus, que Jesus desejou fundar, com o
seu exemplo, em cada coração...
- Os filósofos terrenos são quase unânimes em afirmar que
o Cristo não conhecia a evolução da ciência grega, naquela época, e que as suas
parábolas fazem supor a sua ignorância acerca da organização política do
Império Romano: seus apóstolos falam de reis e príncipes que não poderiam ter
existido.
- A ação do Cristo – retrucou o Apóstolo – vai mais além
que todas as atividades e investigações das filosofias humanas. Cada século que
passa imprime um brilho novo à sua figura e um novo fulgor ao seu ensinamento.
Ele não foi alheio aos trabalhos do pensamento dos seus contemporâneos. Naquele
tempo, as teorias de Lucrécio, expandidas alguns anos antes da obra do Senhor, e
as lições de Filon em Alexandria, eram muito inferiores às
verdades celestes que Ele vinha trazer à Humanidade
atormentada e sofredora...
E, quando a figura venerada de Simão parecia prestes a
prosseguir na sua jornada, inquiri, abruptamente:
- Qual o vosso objetivo, atualmente, no Brasil?
- Venho visitar a obra do Evangelho aqui instituída por
Ismael, filho de Abraão e de Agar, e dirigida dos espaços por abnegados
apóstolos da fraternidade cristã.
- E estais igualmente associado às festas do segundo Congresso
Eucarístico Nacional? – perguntei.
Mas, o bondoso Apóstolo expressou uma atitude de profunda
incompreensão, ao ouvir as minhas derradeiras palavras. Foi quando, então, lhe
mostrei o rico monumento festivo, as igrejas enfeitadas de ouro, os movimentos
de recepção aos prelados, exclamando ele, afinal:
- Não, meu filho!... Esperam-me longe destas ostentações
mentirosas os humildes e os desconsolados. O Reino de Deus ainda é a promessa
para todos os pobres e para todos os aflitos da Terra. A Igreja romana, cujo
chefe se diz possuidor de um trono que me pertence, está condenada no próprio
Evangelho, com todas as suas grandezas bem tristes e bem miseráveis. A cadeira
de São Pedro é para mim uma ironia muito amarga... Nestes templos faustosos não
há lugares para Jesus, nem para os seus continuadores...
- E que sugeris, Mestre, para esclarecer a verdade?
Mas, nesse momento, o Apóstolo venerando enviou-me um
gesto compassivo e piedoso, continuando o seu caminho, depois de amarrar,
resignadamente, o cordão das sandálias.
LIVRO: CRONICAS DE ALEM TUMULO – HUMBERTO DE CAMPOS – FCX
- 25 de agosto de 1936
CAP XVIII – 13/01
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP XVIII – MUITOS OS CHAMADOS E POUCOS OS
ESCOLHIDOS
NA FORJA DA VIDA
“Entrai pela porta estreita porque larga é a porta da
perdição e espaçoso o caminho que a ela conduz e muitos são os que entram por
ela.” Jesus (Mateus, 7:13)
“Larga é a porta da perdição porque são numerosas as
paixões más e porque o maior número envereda pelo caminho do mal.” (Cap. 18;
Item 5)
Trazes contigo a flama do ideal superior e anelas
concretizar os grandes sonhos de que te nutres, mas, diante da realidade
terrestre, costumas dizer que a dificuldade é invencível.
Afirmas haver encontrado incompreensões e revezes,
entraves e dissabores, por toda parte, no entanto...
O pão que consomes é o resumo de numerosas obrigações que
começaram no cultivo do solo;
a vestimenta que te agasalha é o remate de longas tarefas
iniciadas de longe com o preparo do fio;
o lar que te acolhe foi argamassado com o suor dos que se
uniram ao levantá-lo;
a escola que te revela a cultura guarda a renunciação de
quantos se consagram ao ministério do ensino;
o livro que te instrui custou a vigília dos que sofreram
para fixar, em caracteres humanos, o clarão das ideias nobres;
a oficina que te assegura a subsistência encerra o
concurso dos seareiros do bem, a favor do progresso;
o remédio que te alivia é o produto das atividades
conjugadas de muita gente.
Animais que te auxiliam, fontes que te refrigeram,
vegetais que te abençoam e objetos que te atendem, submetem-se a constantes
adaptações e readaptações para que te possam servir.
Se aspiras, desse modo, à realização do teu alto destino,
não desdenhes lutar, a fim de obtê-lo.
Na forja da vida, nada se faz sem trabalho e nada se
consegue de bom sem apoio no próprio sacrifício.
Se queres, na sombra do vale, exaltar o tope do monte,
basta contemplar-lhe a grandeza, mas se te dispões a comungar-lhe o fulgor
solar na beleza do cimo, será preciso usar a cabeça que carregas nos ombros,
sentir com a própria alma, mover os pés em que te susténs e agir com as
próprias mãos.
LIVRO DA ESPERANÇA (pelo Espírito Emmanuel) FCX
O DISCÍPULO AMBICIOSO
Quando Judas, obcecado pela ambição, procurou avistar-se
com Caifás, no Sinédrio, trazia a cabeça incendiada de sonhos fantásticos.
Amava o Mestre – pensava, presunçoso –, entretanto,
competia-lhe cuidar dos interesses d’Ele.
A vaidade absorvia-o. A paixão pelas riquezas transitórias empolgava-lhe
o espírito. Despreocupado das necessidades próprias, intentava resolver os
problemas do Senhor, perante as forças políticas do templo. Valer-se-ia da
influência prestigiosa dos sacerdotes, movimentaria Jerusalém, tomaria o cetro
do povo israelita, em obediência às tradições dos reis e juízes do passado e,
logo que fosse consolidado o poder, restituiria a Jesus a direção, a honra, a
chefia... O Mestre ensinava a concórdia, a tolerância, a paciência e a
esperança, mas, como efetuar as reformas necessárias, através de simples
atitudes idealistas?
E o discípulo, em atitude de homem escravizado à ilusão, aguardava
Caifás, que não se fez esperar muito tempo.
Na sala enorme, iniciaram discreta conversação. O
sumo-sacerdote, após abraçá-lo com fingida simpatia, observou, em tom cordial:
– Com que então o Templo tem a felicidade de contar com a sua valiosa colaboração!
– Ah! sim, é verdade – exclamou o leviano aprendiz,
sentindo-se envaidecido.
Caifás, consciente da própria importância na
administrarão de Jerusalém, voltou a dizer: – Precisávamos de alguém, com
bastante coragem, para salvar o Messias Nazareno.
– Oh! sim – disse Judas, contente –, compreendo a
situação.
– De fato – prosseguiu o chefe do Templo – necessitamos
de um rei que nos restaure a liberdade política e, em boa hora, os galileus nos
oferecem tal oportunidade. Aliás, tenho muito prazer em tratar com a sua
pessoa, homem providencial na realização, que não perde tempo com palavras
ociosas. Tentei abordar indiretamente outros homens daqueles que acompanham o
Nazareno, porém, todos eles, ao que me pareceu, são esquivos e indecisos.
Creia, no entanto – e elevou muito o diapasão de voz, impressionando o
interlocutor pela,
segurança verbal –, creia, porém, que o seu gesto,
anuindo aos nossos propósitos, apressará a vitória do Messias, conferindo
elevados títulos aos seus companheiros. Terão eles destacada posição de domínio
e sentar-se-ão na assembleia mais alta do povo escolhido. É tempo de libertação
e, certo, Jesus é o rei que Jeová nos envia.
Judas não cabia em si mesmo, tal o contentamento que lhe
tornava o coração. Preocupado, no entanto, com a situação do Profeta, a quem
tanto devia, perguntou, humilde: – E o Mestre?
Dissimulou Caifás os sentimentos sinistros que lhe
vagavam na alma e respondeu em voz quase doce:
-Compreenderá, certamente, a necessidade das medidas aparentemente
rigorosas. O Mestre, por exemplo, segundo o plano estabelecido, será preso, por
uma questão de segurança pessoal. Será detido, a fim de que se coloque a salvo
de qualquer incidente desagradável, enquanto nos valeremos da grande
aglomeração de patriotas na cidade para proclamar a nossa independência.
Liquidada a vitória inicial, com a submissão das autoridades romanas,
coroaremos o Messias, que ostentará o cetro do poder.
O discípulo exultava. Conhecedor antigo dos efeitos da
lisonja nos corações indisciplinados e invigilantes, Caifás continuou: – O meu
prestimoso amigo, até que se resolva a situação em definitivo, chefiará os
companheiros e receberá as homenagens que lhe são devidas. Tornará o lugar do
Messias, provisoriamente, e ditará ordens, até que ele próprio, com a garantia
desejável, possa assumir o poder.
Satisfeitíssimo, o visitante indagou: – E que devo fazer
inicialmente?
O sacerdote perspicaz respondeu com naturalidade: – Não
temos tempo a perder. Formaremos a documentação necessária.
– Como devo fazer? – perguntou ainda o aprendiz enganado.
– Chamarei as testemunhas – esclareceu o sumo-sacerdote –
e, perante nós, responderá afirmativa ente a todas as interrogações que lhe
forem dirigidas. Não precisará informar-se quanto a particularidade alguma.
Bastará responder “sim” a todas as perguntas formuladas.
Posso dispor de sua lealdade?
Judas não hesitou. Estava decidido a seguir as
instruções, de modo incondicional.
Mais alguns minutos e organizou-se pequena assembleia,
com juízes e testemunhas. Dois escribas perfilaram-se para fixar as
declarações. Formada a reunião, o sumo-sacerdote chamou o denunciante e iniciou
o interrogatório: – É discípulo de Jesus, o Nazareno? Confiante, Judas
respondeu: – Sim.
– Vem fazer declarações ao Sinédrio, como judeu convicto
da santidade da lei? – Sim.
– Afirma que o Messias Nazareno pretende ser o rei de
Israel? – Sim.
– Assegura que ele promete a revolução contra o poder de
César e a autoridade de Antipas? – Sim.
– É verdade que ele odeia os romanos? – Sim.
– Deseja, de fato, aproveitar a Páscoa, para começar a
rebelião? – Sim.
– Declarará a emancipação política de Israel,
imediatamente? – Sim.
– Promete lutar contra quaisquer obstáculos para derrubar
as combinações políticas existentes entre Roma e esta província, no sentido de
coroar-se rei? – Sim.
De posse das declarações comprometedoras, Caifás
interrompeu o inquérito, mandou que Judas esperasse na ante-sala e iniciou
providências junto de romanos e judeus, para que Jesus fosse preso,
imediatamente, como agitador político e explorador da confiança pública.
Em breves horas, um grupo de soldados postava-se nas
vizinhanças do Templo, à espera da ordem final, e Caifás, compensando Judas com
algum dinheiro, fez sentir a necessidade de sua orientação na prisão inicial do
Messias, assegurando que, em breve tempo, se cumpriria a redenção de Israel.
O discípulo invigilante foi à frente de todos e
encaminhou a triste ocorrência.
E, quando os fatos marcharam noutro rumo, debalde o
Iscariote procurou avistar-se com as autoridades, tão pródigas em promessas de
poderes fascinantes. Findo o processo de humilhações, encarceramento, martírio
e condenação de Jesus, o aprendiz infiel conseguiu encontrar o sumo-sacerdote e
alguns intérpretes da lei antiga, em animada conversação no Sinédrio. Em lagrimas,
Judas rogou que fosse interrompida a tragédia angustiosa da cruz, e
sentindo, tarde embora, que fora vítima da própria
ambição, devolveu as moedas de prata, exclamando, de joelhos:
– Socorrei-me! Cometi um crime, traindo o sangue
inocente!... A vaidade perdeu-me, tende compaixão de mim!...
Os interpelados, porém, como velhos representantes da
ironia humana, responderam simplesmente : – Que nos importa? Isso é contigo...
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CAP XIX – 14/01
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP XIX – A FÉ TRANSPORTA MONTANHAS
COM O AUXÍLIO DE DEUS
“Em verdade vos digo que se tiverdes fé como um grão de
mostarda, direis a este monte: ‘Transporta-te daí para ali’ e ele se
transportaria e nada vos seria impossível.” Jesus (Mateus, 17: 20)
“A fé verdadeira é sempre calma; faculta a paciência que
sabe esperar, porque, tenda seu ponto de apoio na inteligência e na compreensão
das causas, tem a certeza de chegar ao objetivo visado.” (Cap. 19, Item 3)
Há quem diga que a discórdia e a ignorância, a penúria e
a carência são chagas crônicas no corpo da Humanidade, apelando simplesmente
para o auxílio de Deus, qual se Deus estivesse escravizado aos nossos
caprichos, com a obrigação de resolver-nos os problemas, a golpe de mágica.
Indubitavelmente, nada de bom se efetua sem o auxílio de
Deus, no entanto, vale destacar que o Infinito Amor age na Terra, nas questões
propriamente humanas, pela capacidade do homem, atendendo à vontade do próprio
homem.
As criaturas terrestres, através de milênios, vêm
realizando as mais belas empresas da evolução com o Amparo Divino.
Quando se decidiram a conhecer o que havia, para além dos
mares enormes, com o auxílio de Deus, construíram as naves que as sustentam
sobre as ondas.
Venciam penosamente as longas distâncias...
Quando se dispuseram a buscar mais largas dotações de
movimento, com o auxílio de Deus, fabricaram veículos a motor, que deslizam no
solo ou planam no espaço.
Jaziam submetidas às manufaturas, que lhes mantinham
todas as faculdades na sombra da insipiência.
Quando resolveram conquistar o tempo preciso para o
cultivo mais amplo da inteligência, com o auxílio de Deus, estruturaram as
máquinas que lhes descansam a mente e as mãos, por toda parte, desde o cérebro
eletrônico à enceradeira.
Padeciam visão limitada...
Quando diligenciaram obter novos meios de análise, com o
auxílio de Deus, passaram a deter lentes e raios que lhes facultam observações
minuciosas, tanto nos astros, quanto nas peças mais ínfimas do mundo orgânico.
Experimentavam manifesta insuficiência de comunhão
espiritual...
Quando se afadigaram por estabelecer contacto entre si,
com o auxílio de Deus, atingiram as comunicações sem fio, que lhes permitem o
mútuo entendimento, de um lado a outro da Terra, em fração de segundos.
Tudo isso conseguiram aprendendo, trabalhando, sofrendo e
aperfeiçoando...
E para desfrutarem semelhantes benefícios, pagam
naturalmente a aquisição de passagens e utensílios, engenhos e serviços.
Assim também, os males que atormentam a vida humana podem
ser extirpados da Terra, se procurarmos construir o bem, à custa do próprio
esforço, com o auxílio de Deus.
Tesouros de tempo, orientação, entendimento e recursos
outros não nos faltam.
Urge, porém, reconhecer que somos responsáveis pelas
próprias obras.
Desse modo, com o auxílio de Deus, será possível
transformar o mundo em radioso paraíso, a começar de nós mesmos, no entanto,
isso apenas acontecerá se nós quisermos.
LIVRO DA ESPERANÇA (pelo Espírito Emmanuel) - FCX
DEPOIS DA RESSURREIÇÃO
Contou-nos um amigo que, logo após a ressurreição do
Cristo, houve grande movimentação popular em Jerusalém.
O fato corria de boca em boca. Sacerdotes e patriarcas,
negociantes e pastores, sapateiros e tecelões discutiam o acontecimento. Em
algumas sinagogas, fizeram-se ouvir inflamados oradores, denunciando a “invasão
galiléia”.
– Imaginem – exclamava um deles da tribuna, diante das
tábuas da lei –, imaginem que a mulher mais importante do grupo, a que se
encarregou da chamada mensagem de ressurreição, e uma criatura que já foi
possuída por sete demônios. Em Magdala, todos a conhecem. Seu nome rasteja no
chão. Como aceitar um acontecimento espiritual, através de pessoa desse jaez?
Os galileus são velhacos e impostores. Naturalmente cansados da pesca, que lhes
rende parcos recursos, atiram-se, em Jerusalém, a uma aventura de imprevisíveis
consequências. É indispensável reajustar impressões. Moisés, o maior de todos
os profetas, o salvador de nosso povo, morreu no monte sebo, contemplando a
Terra da Promissão sem poder penetrá-la... Por que motivo um filho de
carpinteiro, que não foi um doutor da lei, alcançaria semelhante glorificação?
acaso, não foi punido na cruz como vulgar malfeitor? Se os grandes profetas da
raça, que se mantêm sepultados em túmulos honrosos, não se fazem ver nos céus,
como esperar a divina demonstração de um homem comum, crucificado entre
ladrões, na qualidade de embusteiro e mistificador?
A argumentação era sempre ardente e apaixonada.
Na sinagoga em que se congregavam os judeus da Batanéia,
outro orador tornava a palavra e criticava, acerbamente:
– Onde chegaremos com a ilusão do regresso dos mortos?
Estamos seguramente informados de que o caso do carpinteiro nazareno não passa
dum embuste de mau gosto. Soldados e populares viram os pescadores galileus
subtraindo o corpo ao túmulo, depois da meia-noite. Em seguida, como é de
presumir-se, mandaram uma certa mulher sem classificação começar a farsa no
jardim.
E, cerrando os punhos, bradava: – Os criminosos, porém,
pagarão! Serão perseguidos e exterminados! Sofrerão o suplício dos traidores,
no átrio do Templo! Apenas lamentamos que José de Arimateia, ilustre homem do Sinédrio, esteja envolvido no desprezível
assunto. Infelizmente, o túmulo execrável situa-se em terreno que lhe pertence.
Não fora isso, iniciaríamos, hoje mesmo, a lapidação de
todos os culpados. Lutaremos contra a mentira, puniremos os que insultam nossas
tradições veneráveis, honraremos a lei de Israel!
E as opiniões chocavam-se, em toda parte, como fogos
acesos.
Os discípulos, para receberem as visitas espirituais do
Mestre e anotar-lhe as sugestões, reuniam-se, secretamente, a portas fechadas.
Por vezes, escutavam as chufas e zombarias que vinham de fora; de outras, percebiam
o apedrejamento do telhado, circunstâncias que os obrigaram a continuadas
modificações. Não fixavam o ponto de serviço. Ora encontravam-se em casa de
parentes de Filipe, ora agrupavam-se na choupana de uma velha tia de
Zebedeu, o pai de João e Tiago. Num meio tão vasto de
intrigas e vaidades sem conta, era necessário esconder a alegria de que se
sentiam possuídos, cultivando a verdade ao calor da esperança em épocas
melhores.
Simão Pedro e os demais voltaram à Galiléia, para “vender
o campo e seguir o Mestre”, como diziam na intimidade. Estavam tocados de
fervor santo. A ressurreição enchera-lhes a alma de energias sublimes e até
então desconhecidas. Que não fariam pelo Mestre ressuscitado? Iriam ao fim do
mundo ensinar a Boa-Nova, venceriam trevas e espinhos,
pertenceriam a Ele para sempre. Reorganizaram, pois, as
atividades materiais e regressaram a Jerusalém, a fim de darem início à nova
missão.
Instalados na cidade, graças à generosa acolhida de
alguns amigos que ofereceram a Simão Pedro o edifício destinado ao começo da
obra, consolidou-se o movimento de evangelização.
Os aprendizes, depois do Pentecostes, haviam criado novo
ânimo. Suas reuniões intimas prosseguiam regulares e as assembleias de caráter
público efetuavam-se sem impedimento. As fileiras intermináveis de pobres e
infelizes, procedentes dos “vales de imundos”, lhes batiam à porta, recebendo
carinhosa atenção e esse espírito de serviço aos filhos do desamparo
conquistou-lhes, pouco a pouco, valiosos títulos de respeitabilidade, reduzindo-se,
de algum modo, o número dos escarnecedores, compelidos então a silenciar, pelo
menos até quando as autoridades favorecessem novas perseguições.
Todavia, continuava o problema da ressurreição. Teria
voltado o Cristo? não teria voltado?
Prosseguiam os atritos da opinião pública, quando algumas
pessoas respeitáveis lembraram ao Sinédrio que fosse designada uma comissão de
três homens versados na lei, para solucionar a questão junto dos discípulos.
Efetuariam um interrogatório e exigiriam provas cabais.
Aprazada a ocasião, houve reboliço geral. Agravaram-se as
divergências e surgiram os mais estranhos pareceres. Por isso, no momento
determinado, grande massa popular reunia-se à frente da modesta casa, onde os
apóstolos galileus atendiam os sofredores e ensinavam a nova doutrina.
Os três notáveis varões, todos filiados ao farisaísmo
intransigente, penetraram a residência humilde, com extrema petulância.
E Simão Pedro, humilde, simples e digno, veio recebê-los.
Efetuado o preâmbulo das apresentações, começou o
inquérito verbal, observado por dois escribas do Templo.
Jacob, filho de Berseba, o chefe do trio, começou a
interrogar: – É verdade que Jesus, o Nazareno, ressuscitou?
– É verdade – confirmou Pedro, em voz firme.
– Quem testemunhou?
– Nós, que o vimos várias vezes, depois da morte.
- Podem provar?
– Sim. Com a nossa dignidade pessoal, na afirmação do que
presenciamos.
– Isso não basta – falou rudemente Jacob, sob forte
irritação. – Exigimos que o ressuscitado nos apareça.
Pedro sorriu e replicou: – O inferior não pode determinar
ao superior. Somos simples subordinados do Mestre, a
serviço de sua infinita bondade.
– Mas não podem provar o fenômeno da ressurreição?
– A fé, a confiança, a certeza, são predicados
intransferíveis da alma – aduziu o apóstolo, com humildade. – Somos
trabalhadores terrestres e estamos longe de atingir o convívio dos anjos.
Entreolharam-se os três fariseus, com expressão de ira, e
Jacob exclamou, trovejante: – Que recurso nos sugere, então, miserável
pescador? Como solucionar o problema que provocaram no espírito do povo?
Simão Pedro, dando mostras de grande tolerância
evangélica, manteve imperturbável serenidade e respondeu: – Apenas conheço um
recurso: morram os senhores como o Mestre morreu e vão procurá-lo no outro
mundo e ouvir-lhe as explicações. Não sei se possuem bastante dignidade
espiritual para merecerem o encontro divino, mas, sem dúvida, é o único meio
que posso sugerir.
Calaram-se os notáveis do Sinédrio, sob enorme
estupefação.
No silêncio da sala, começaram a ecoar os gemidos dos
tuberculosos e loucos mantidos lá dentro. Alguém chamava Pedro, com angústia.
O amoroso pescador fitou sem medo os interlocutores e
pediu: – Dêem-me licença. Tenho mais que fazer.
Voltou a comissão sem resultado alguma, e a discussão
continua há quase vinte séculos...
LIVRO: LAZARO REDIVIVO – IRMÃ X – HUMBERTO DE CAMPOS -
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CAP XX – 15/01
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP XX – OS TRABALHADORES DA ÚLTIMA HORA
TEMPO DE HOJE
“Andai enquanto tendes luz”. Jesus (João, 12:35)
“Chamado a prestar contas do seu mandato terreno, o
Espírito se apercebe da continuidade da tarefa interrompida, mas sempre
retomada. Ele vê, sente que apanhou de passagem, o pensamento dos que o precederam.
Entra de novo na liça, amadurecido pela experiência, para avançar mais.” (Cap.
20, Item 3)
Hoje é o tema fundamental nas proposições do tempo.
Ontem, retaguarda. Amanhã, porvir.
Hoje, no entanto, é a oportunidade adequada a corrigir
falhas havidas e executar o serviço à frente...
Dia de começar experiências que nos melhorem ou
reajustem; de consultar essa ou aquela página edificante que nos iluminem a
rota; de escrever a mensagem ao coração amigo que nos aguarda a palavra a fim
de reconfortarse ou assumir uma decisão; de promover o encontro que nos
valorize as esperanças; de estender as mãos aos que se nos fizeram adversários
ou de orar por eles se a consciência não nos permite ainda a reaproximação!...
Quantas mágoas se converteram em crimes por não havermos
dado um minuto de amor para extinguir o braseiro do ódio.
Quantos pequeninos ressentimentos se transfiguraram em
separações seculares, nos domínios da reencarnação por não termos tido coragem
de exercer a humildade por meia hora!
Analisa a planta que se elevou nos poucos dias em que
estiveste ausente, reflete no prato que se corrompeu durante os momentos breves
em que te distanciaste da mesa!
Tudo se transforma no tempo.
No trecho de instantes, deslocam-se mundos, proliferam
micróbios.
O tempo, como a luz solar, é concedido a nós todos em
parcelas iguais; as obras é que diferem, dentro dele por partirem de nós.
Observa o tempo que se chama hoje.
Relaciona os recursos de que dispões: olhos que veem,
ouvidos que escutam, verbo claro, braços e pernas úteis sob controle do cérebro
livre!...
Ninguém te impede fazer do tempo consolação e
tranquilidade, exemplo digno e conhecimento superior.
O próprio Jesus atribuía tamanha importância ao tempo que
não se esqueceu de glorificar a última hora dos seareiros da verdade que se
decidem a trabalhar.
Aproveita o dia corrente e faze algo melhor.
Hoje consegues agir e pensar, comandar e seguir, sem
obstáculos. Valete, assim, do momento que passa e toma a iniciativa do bem,
porque o tempo é concessão do Senhor e amanhã a bondade do Senhor poderá
modificar-te o caminho ou renovar-te os programas,
LIVRO DA ESPERANÇA (pelo Espírito Emmanuel) - FCX
LEMBRANDO ALLAN KARDEC
Depois de se dirigir aos numerosos missionários da
Ciência e da Filosofia, destinados à renovação do pensamento do mundo no século
XIX; o Mestre aproximou-se do abnegado João Huss e falou, generosamente: -Não serás portador de invenções novas, não
te deterás no problema de comodidade material à civilização, nem receberás a
mordomia do dinheiro ou da autoridade temporal, mas deponho-te nas mãos a
tarefa sublime de levantar corações e consciências.
A assembleia de
orientadores das atividades terrestres estava comovida.
E ao passo que o antigo campeão da verdade e do bem se
sentia alarmado de santas comoções, Jesus continuava.
- Preparam-se os
círculos da vida planetária a grandes transformações nos domínios do
pensamento.
Imenso número de trabalhadores no mundo, desprezando o
sentido evolucionário da vida, crê na revolução e nos seus princípios
destruidores, organizando-lhe movimentos homicidas.
Em breve, não obstante nossa assistência desvelada, que
neutralizará os desastres maiores, a miséria e o morticínio se
levantarão no seio de coletividades invigilantes.
A tirania campeará na Terra, em nome da liberdade,
cabeças rolarão nas praças públicas em nome da paz, como se o direito e a
independência fossem frutos da opressão e da morte.
Alguns condutores do pensamento, desvairados de
personalismo destruidor, convertem a época de transição do orbe em turbilhão
revolucionário, envenenando o espírito dos povos.
O sacerdócio organizado em bases econômicas não pode
impedir catástrofe.
A Filosofia e a Ciência intoxicaram as próprias fontes de
ação e conhecimento!...
É indispensável estabelecer providências que amparem a
fé, preservando os tesouros religiosos da criatura.
Confiante a sublime tarefa de reacender as lâmpadas da
esperança no coração da humanidade.
O Evangelho do Amor permanece eclipsado no jogo de
ambições desmedidas dos homens viciosos!...
Vai, meu amigo. Abrirás novos caminhos à sagrada
aspiração das almas, descerrando a pesada cortina de sombras que vem absorvendo
a mente humana.
Na restauração da verdade, no entanto, não esperes os
louros do mundo, nem a compreensão de teus contemporâneos.
Meus enviados não nascem na Terra para serem servidos,
mas por atenderem às necessidades das criaturas.
Não recebem palmas e homenagens, facilidades e vantagens
terrestres, contudo, minha paz os fortalece e levanta-os, cada dia...
Muitas vezes, não conhecem senão a dificuldade, o
obstáculo, o infortúnio, e não encontram outro refúgio além do deserto.
É preciso, porém, erigir o santuário da fé e caminhar sem
repouso, apesar de perseguições, perdidas, cruzes e lágrimas!...
Ante a emoção dos trabalhadores do progresso cultural do
orbe terrestre, o abnegado João Huss recebeu, a elevada missão que lhe era
conferida, revelando a nobreza do servo fiel, entre júbilos de reconhecimento.
Daí a algum tempo, no albor do século XIX, nascia Allan Kardec
em Lyon, por trazer a divina mensagem.
Espírito devotado, jamais olvidou o compromisso sublime.
Não encontrou escolas de preparação espiritual, mas nunca
menosprezou o manancial de recursos que trazia em si mesmo.
E, como se quisera demonstrar que as fontes do profetismo
devem manar de todas as regiões da vida para sustentáculo e iluminação do
espírito eterno, embora no quadro dos grandes homens do pensamento, estimou
desferir os primeiros vôos de sua missão divina na zona comum onde permanece a
generalidade das criaturas.
Consoante a previsão do Cristo, a Revolução Francesa
preparara com sangue o império das guerras napoleônicas.
Enquanto os operários da cultura moderna lançavam novas
bases ao edifício do progresso mundial, o grande missionário, sem qualquer
preocupação de recompensa ou exibicionismo, dá cumprimento à tarefa sublime.
E foi assim que o século XIX, que recebeu a navegação a
vapor, a locomotiva, a eletrotipia, o telégrafo, o telefone, a
fotografia, o cabo submarino, a anestesia, a turbina a
vapor, o fonógrafo, a máquina de escrever, a luz elétrica, o sismógrafo, a
linotipo, o radium, o cinematógrafo e o automóvel, tornou-se receptor da Divina
Luz da revivescência do Evangelho.
O discípulo dedicado rasgou os horizontes estreitos do
ceticismo e o plano invisível encontrou novo canal a fim de projetar-se no
mundo, atenuando-lhe as sombras densas e renovando as bases da fé.
Alguns dos companheiros de luta espiritual, embora em
seguida às hostilidades do meio, recebiam aplausos do mundo e proteção de
governos prestigiosos, mas emissário de Jesus, no deserto das grandes cidades,
trabalhava em silêncio,
suportando calúnias e zombarias, vencendo dificuldades e
incompreensões.
Ao fim da laboriosa tarefa, o trabalhador fiel triunfara.
Em breve, a doutrina consoladora dos Espíritos iluminava
corações e consciências, nos mais diversos pontos do globo.
É que Allan Kardec, se viera dos círculos mais elevados
dos processos educativos do mundo, não esquecera a necessidade de sabedoria
espiritual.
Discípulo eminente de professores consagrados, como
Pestalozzi, não esqueceu a ascendência do Cristo.
Trabalhador no serviço da redenção, compreendeu que não
viera à Terra por atender a caprichos individuais e sim aos poderes superiores
da vida.
Sua exemplificação é um programa e um símbolo.
Conquistando a auréola dos missionários vitoriosos, não
se incorporou à galeria dos grandes do mundo, por que
apenas indicasse o caminho salvador à humanidade
terrestre.
Allan Kardec não somente pregou a doutrina consoladora;
viveu-a.
Não foi um simples codificador de princípios, mas um fiel
servidor de Jesus e dos homens.
IRMÃO X - Livro “DOUTRINA-ESCOLA” ESPIRÍTOS DIVERSOS – FRANCISCO
CÂNDIDO XAVIER
CAP XXI – 16/01
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP XXI – FALSOS CRISTOS E FALSOS PROFETAS
EXTERIOR E CONTEÚDO
“Acautelai-vos, que ninguém vos engane.” Jesus (Mateus,
24:4)
“Os fenômenos espíritas, longe de abonarem os falsos
Cristos e os falsos profetas, como a algumas pessoas apraz dizer, golpe mortal
desferem neles. Não peçais ao Espiritismo prodígios, nem milagres, porquanto
ele formalmente declara que os não o não opera.” (Cap.21, Item 7)
Forçoso distinguir sempre o exterior do conteúdo.
Exterior atende à informação e ao revestimento.
Conteúdo, porém, é substância e vida.
Exterior, em muitas ocasiões afeta unicamente os olhos.
Conteúdo alcança a reflexão.
Simples lições de cousas aclaram-nos o propósito.
A casa impressiona pelo feitio. O interior, contudo, é
que lhe decide o aproveitamento. A máquina atrai pelo tipo. A engrenagem,
todavia, é que lhe revela a função.
Exterior consegue enganar.
Um frasco indicando medicamento é capaz de trazer
corrosivo.
Uma bolsa aparentemente inofensiva pode encerrar uma
bomba.
Conteúdo, entretanto, fala por si,
A essência disso ou daquilo é ou não é.
Imperioso considerar ainda que todas as aquisições,
conhecidas por fora, somente denotam valor real se filtradas por dentro.
Cultura é patrimônio incorrutível, no entanto apenas vale
para a vida, no exemplo de trabalho daquele que a possui.
Título profissional tem o crédito apreciado pelo bem que
realiza.
Teoria de elevação não vai sem a prática.
Música é avaliada na execução.
Atendamos, pois, às definições espíritas, que nos traçam
deveres imprescritíveis, confessandonos espíritas e abraçando atitudes
espíritas, mas sem esquecer que Espiritismo, na esfera de nos,,as vidas, em
tudo e por tudo, é renovação moral.
LIVRO DA ESPERANÇA (pelo Espírito Emmanuel) - FCX
A LIÇÃO DO DISCERNIMENTO
Finda a cena brutal, em que o povo pretendia lapidar a
mulher infeliz, na raça pública, Pedro, que seguia o Senhor, de perto,
interpelou-o, zelosamente: - Mestre, desculpando os erros das mulheres que
fogem ao ministério do lar, não estaremos oferecendo apoio à devassidão? Abrir
os braços no espetáculo deprimente que acabamos de ver não será proteger o
pecado?
Jesus meditou, meditou... e respondeu: - Simão, seremos
sempre julgados pela medida com que julgarmos os nossos semelhantes.
- Sim - clamou o apóstolo, irritado -, compreendo a
caridade que nos deve afastar dos juízos errôneos, mas porventura conseguiremos
viver sem discernir? Uma pecadora, trazida ao apedrejamento, não perturbará a
tranquilidade das famílias? Não representará um quadro de lama para as crianças
e para os jovens? Não será uma excitação à prática do mal?
Ante as duras interrogações, o Messias observou, sereno: -
Quem poderá examinar agora o acontecimento, em toda a extensão dele?
Sabemos, acaso, quantas lágrimas terá vertido essa
desventurada mulher até à queda fatal no grande infortúnio? Quem terá dado a
esse pobre coração feminino o primeiro impulso para o despenhadeiro? E quem
sabe, Pedro, essa desditosa irmã terá sido arrastada à loucura, atendendo a
desesperadoras necessidades?
O discípulo, contudo, no propósito de exalçar a justiça,
acrescentou: - De qualquer modo, a corrigenda é inadiável imperativo. Se ela
nos merece compaixão e bondade, há então, noutros setores, o culpado ou os
culpados que precisamos punir. Quem terá provocado a cena desagradável a que
assistimos?
Geralmente, as mulheres desse naipe são reservadas e
fogem à multidão... Que motivos teriam trazido essa infeliz ao clamor da praça?
Jesus sorriu, complacente e tornou: - Quem sabe a
pobrezinha andaria à procura de assistência?
O pescador de Cafarnaum acentuou, contrariado: - O responsável devia expiar semelhante
delito. Sou contra a desordem e na gritaria que presenciamos estou convencido
de que o cárcere e os açoites deveriam funcionar...
Nesse ponto de entendimento, velha mendiga que ouvia a
conversação, caminhando vagarosamente, quase junto deles, exclamou para Simão,
surpreendido: - Galileu bondoso, herdeiro da fé vitoriosa de nossos pais,
graças sejam dadas a Deus nosso Poderoso Senhor! A mulher apedrejada é filha de
minha irmã paralítica e cega.
Moramos nas vizinhanças e vínhamos ao mercado em busca de
alimento. Abeirávamo-nos daqui, quando fomos assaltadas por um rapaz que,
depois de repelido por ela, em luta corpo a corpo, saiu indicá-la ao povo para
a lapidação, simplesmente porque minha infeliz sobrinha, digna de melhor sorte,
não tem tido até hoje uma vida regular... Ambas estamos feridas e, com
dificuldade, tornaremos para a casa... Se é possível, galileu generoso,
restabelece a verdade e faze a justiça!
- E onde está o miserável? - gritou Simão, enérgico,
diante do Mestre, que o seguia, bondoso.
- Ali!... Ali!... - informou a velhinha, com júbilo de
uma criança reconduzida repentinamente à alegria. E apontou uma casa de
peregrinos, para onde o apóstolo se dirigiu, acompanhado de Jesus que o
observava, sereno.
Por trás da antiga porta, escondia-se um homem, trêmulo
de vergonha.
Pedro avançou de punhos cerrados, mas, a breves segundos,
estacou, pálido e abatido.
O autor da cena triste era Efraim, filho de Jafar, pupilo
de sua sogra e comensal de sua própria mesa.
Seguira o Messias com piedosa atitude, mas Pedro bem
reconhecia agora que o irmão adotivo de sua mulher guardava intenção diferente.
Angustiado, em lágrimas de cólera e amargura, Simão
adiantou-se para o Cristo, à maneira do menino necessitado de proteção, e
bradou:
- Mestre, Mestre!... Que fazer?!...
Jesus, porém, acolheu-o amorosamente nos braços e murmurou:
- Pedro, não julguemos para não sermos julgados. Aprendamos, contudo, a
discernir.
HUMBERTO DE CAMPOS - LIVRO: CONTOS E APÓLOGOS - FCX
CAP XXII – 17/01
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP XXII – O QUE DEUS UNIU O HOMEM NÃO
SEPARA
UNIÕES DE PROVA
“Não separe o homem o que Deus ajuntou.” Jesus (Mateus,
19: 6)
“Quando Jesus disse: ‘Não separe o homem o que Deus
ajuntou’, essas palavras se devem entender com referência à união, segundo a
lei imutável de Deus e não segundo a lei mutável dos homens.” (Cap. 22, Item 3)
Aspiras a convivência dos espíritos de eleição com os
quais te harmonizas agora, no entanto, trazes ainda na vida social e doméstica,
o vínculo das uniões menos agradáveis que te compelem a frear impulsos e a
sufocar os mais belos sonhos.
Não violentes, contudo, a lei que te preceitua
semelhantes deveres.
Arrastamos, do passado ao presente, os débitos que as
circunstâncias de hoje nos constrangem a revisar.
O esposo arbitrário e rude que te pede heroísmo constante
é o mesmo homem de outras existências de cuja lealdade escarneceste, acentuando-lhe
a feição agressiva e cruel.
Os filhinhos doentes que te desfalecem nos braços,
cancerosos ou insanos, idiotizados ou paralíticos são as almas confiantes e
ingênuas de anteriores experiências terrestres, que impeliste friamente às
pavorosas quedas morais.
A companheira intransigente e obsedada, a envolver-te em
farpas magnéticas de ciúme, não é outra senão a jovem que outrora embaiste com
falsos juramentos de amor, enredando-lhe os pés em degradação e loucura.
Os pais e chefes tirânicos, sempre dispostos a te ferirem
o coração, revelam a presença daqueles que te foram filhos em outras épocas,
nos quais plantaste o espinheiral do despotismo e do orgulho, hoje contigo para
que lhes renoves o sentimento, ao preço de bondade e perdão sem limites.
Espíritos enfermos, passamos pelo educandário da
reencarnação, qual se o mundo, transfigurado em sábio anestesista, nos
retivesse no lar para que o tempo, à feição de professor devotado, de prova em
prova, efetue a cirurgia das lesões psíquicas de egoísmo e vaidade, viciação e
intolerância que nos comprometem a alma.
À frente, pois, das uniões menos simpáticas, saibamos
suportá-las, de ânimo firme.
Divórcio, retirada, a rejeição e demissão, às vezes,
constituem medidas justificáveis nas convenções humanas, mas quase sempre não
passam de moratórias para resgate em condições mais difíceis, com juros de
escorchar.
Ouçamos o íntimo de nós mesmos.
Enquanto a consciência se nos aflige, na expectativa de
afastar-nos da obrigação, perante alguém, vibra em nós o sinal de que a dívida
permanece.
LIVRO DA ESPERANÇA (pelo Espírito Emmanuel) - FCX
LENDA SIOUX – AMOR ENTRE TOURO BRAVO E NUVEM AZUL
Conta uma velha lenda que, uma vez, Touro Bravo, o mais
valente e honrado de todos os jovens guerreiros, e Nuvem Azul, a filha do
cacique, uma das mais formosas mulheres da tribo, chegaram de mãos dadas até a
tenda do velho feiticeiro da tribo.
– Nós nos amamos e vamos nos casar, disso o jovem. E nos
amamos tanto que queremos um feitiço, um conselho, ou um talismã… Alguma coisa
que nos garanta que poderemos ficar sempre juntos… Que nos assegure quer
estaremos um ao lado do outro até encontrarmos a morte. Há algo que possamos
fazer?
E o velho emocionado ao vê-los tão jovens, tão
apaixonados e tão ansiosos por uma palavra, disse:
– Tem uma coisa a ser feita, mas é uma tarefa muito
difícil e sacrificada…Tu, Nuvem Azul, deves escalar o monte ao norte dessa
aldeia e apenas com uma rede e tuas mãos, deves caçar o falcão mais vigoroso do
monte… e trazê-lo aqui com vida, até o terceiro dia depois da lua cheia. E tu,
Touro Bravo, continuou o feiticeiro, deves escalar a montanha do trono, e lá em
cima, encontrarás a mais brava de todas as águias, e somente com as tuas mãos e
uma rede, deverás apanhá-la trazendo-a para mim, viva!
Os jovens abraçaram-se com ternura, e logo partiram para
cumprir a missão recomendada…
No dia estabelecido, à frente da tenda do feiticeiro, os
dois esperavam com as aves dentro de um saco. O velho pediu, que, com cuidado,
as tirassem dos sacos… E viu que eram verdadeiramente formosos exemplares…
– E agora o que faremos? Perguntou o jovem. Nós as
matamos e depois bebemos a honra de seu sangue? Ou cozinhamos e depois comemos
o valor da sua carne? – Perguntou a jovem.
– Não! – Disse o feiticeiro. Apanhem as aves e
amarrem-nas entre si pelas patas com essas fitas de couro… Quando as tiverem
amarradas, soltem-nas, para que voem livres…
O guerreiro e a jovem fizeram o que lhes foi ordenado e
soltaram os pássaros. A águia e o falcão tentaram voar mas apenas conseguiram
saltar pelo terreno. Minutos depois, irritadas pela incapacidade do vôo, as
aves arremessavam-se entre si, bicando-se até se machucar.
E o velho disse:
– Jamais esqueçam o que estão vendo… Este é o meu
conselho. Vocês são como a águia e o falcão… Se estiverem amarrados um ao
outro, ainda que por amor, não só viverão arrastando-se, como também, cedo ou
tarde, começarão a machucar-se um ao outro… Se quiserem que o amor entre vocês
perdure, voem juntos,mas jamais amarrados…
Desconheço o autor
CAP XXIII – 18/01
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP XXIII – MORAL ESTRANHA
A ESPADA SIMBÓLICA
“Não cuideis que vim trazer a paz à Terra; não vim trazer
a paz, mas a espada.” — Jesus. (MATEUS, capítulo 10, versículo 34.)
Inúmeros leitores do Evangelho perturbam-se ante essas
afirmativas do Mestre Divino, porquanto o conceito de paz, entre os homens,
desde muitos séculos foi visceralmente viciado.
Na expressão comum, ter paz significa haver atingido
garantias exteriores, dentro das quais possa o corpo vegetar sem cuidados,
rodeando-se o homem de servidores, apodrecendo na ociosidade e ausentando-se
dos movimentos da vida.
Jesus não poderia endossar tranquilidade desse jaez, e,
em contraposição ao falso princípio estabelecido no mundo, trouxe consigo a
luta regeneradora, a espada simbólica do conhecimento interior pela revelação
divina, a fim de que o homem inicie a batalha do aperfeiçoamento em si mesmo.
O Mestre veio instalar o combate da redenção sobre a
Terra.
Desde o seu ensinamento primeiro, foi formada a frente da
batalha sem sangue, destinada à iluminação do caminho humano.
E Ele mesmo foi o primeiro a inaugurar o testemunho pelos
sacrifícios supremos.
Há quase vinte séculos vive a Terra sob esses impulsos renovadores,
e ai daqueles que dormem, estranhos ao processo santificante!
Buscar a mentirosa paz da ociosidade é desviar-se da luz,
fugindo à vida e precipitando a morte.
No entanto, Jesus é também chamado o Príncipe da Paz.
Sim, na verdade o Cristo trouxe ao mundo a espada
renovadora da guerra contra o mal, constituindo em si mesmo a divina fonte de
repouso aos corações que se unem ao seu amor; esses, nas mais perigosas
situações da Terra, encontram, n’Ele, a serenidade inalterável.
É que Jesus começou o combate de salvação para a
Humanidade, representando, ao mesmo tempo, o sustentáculo da paz sublime para
todos os homens bons e sinceros.
CAMINHO VERDADE E VIDA – EMMANUEL - FCX
JESUS E SIMÃO
Retirava-se Jesus do lar de Jeroboão, filho de Acaz, em
Corazim, para atender a um pedido de socorro em casa próxima, quando quatro
velhos publicanos apareceram, de chofre, buscando-lhe o verbo reconfortante.
Haviam recebido as notícias do Evangelho do Reino, tinham
fome de esclarecimento e tranquilidade, suplicavam palavras que os auxiliassem
na aquisição de paz e esperança.
O Mestre contemplou-lhes a veste distinta e os rostos
vincados de funda inquietação, e compadeceu-se.
Instado, porém, por mensageiros que lhe requisitavam a
presença à Excelso Benfeitor chamou Simão Pedro e pediu-lhe, ante os
consulentes amigos: - Pedro, nossos irmãos chegam à procura de renovação e de
afeto... Rogo sejas, junto deles, o portador do Bem Eterno!... Ampara-os com a
verdade, prossigamos em nossa tarefa de amor...
O apóstolo relanceou o olhar pelos circunstantes e, tão
logo se viu a sós com eles, fêz-se arredio e casmurro, esperando-lhes a
manifestação.
Foi Eliúde, o joalheiro e mais velho dos quatro, que se
ergueu e solicitou com modéstia: - Discípulo do Senhor, ouvimos a Nova Revelação
e temos o espírito repleto de júbilo!... Compreendemos que o Messias Nazareno
vem da parte do Todo-Poderoso arrancar-nos da sombra para a luz, da morte para
a vida... Que instruções e bênçãos nos dás, oh!
dileto companheiro das Boa Novas? Temos sede do reino de
Deus que o Mestre anuncia! Aclara-nos a inteligência, guia-nos o coração para
os caminhos que devemos trilhar!...
Simão, contudo, de olhar coruscante, qual se fora austero
zelador de consciências alheias, brandiu violentamente o punho fechado sobre a
mesa, e falou, ríspido: - Conheço-vos a todos, oh! víboras de Coramim!...
E, apontando o dedo em riste para Eliúde, aquele mesmo
que tomara a iniciativa do entendimento, acusou-o, severamente: - Que pretendes
aqui, ladrão das viúvas e dos órfãos? Sei que ajuntaste imensa fortuna à custa
de aflições alheias. Tuas pedras, teus colares, teus anéis!... que são eles
senão as lágrimas cristalizadas de tuas vítimas? Como consegues pronunciar o
nome de Deus?...
Voltando-se para o segundo, na escala das idades,
esbravejou: - Tu, Moabe? A que viestes? Ignoras, porventura, que não te
desconheço a miséria moral? Como te encorajaste a vir até aqui, após extorquir
os dois irmãos, de quem furtaste os bens deixados por teu pai? Esqueces de que
um deles morreu consumido de penúria e de que o outro enlouqueceu por tua
causa, sem qualquer recurso para a própria manutenção?
Em seguida, dirigiu-se ao terceiro dos circunstantes: -
Que buscas, Zacarias? Não te envergonhas de haver provocado a morte de
Zorobatel, o sapateiro, comprando-lhe as dívidas e atormentando-o, através de
execráveis cobranças, no só intuito de roubar-lhe a mulher? Já tens o fruto de
tua caça. Aniquilaste um homem e tomaste-lhe a viúva... Que mais queres,
infeliz?
E, virando-se para o último, gritou: - Que te posso
dizer, Ananias? Há muitos anos, sei que fazes o comércio da fome,
exigindo que a hortaliça e o leite subam constantemente
de preço, em louvor de tua cupidez... Jamais te incomodaste com as
desventuradas crianças de teu bairro, que falecem na indigência, à espera de
tua caridade, que nunca apareceu!...
Simão alçou os braços para o teto, como quem se propunha
irradiar a própria indignação, e rugiu: - Súcia de ladrões, bando de
malfeitores!... O Reino de Deus não é para vós!...
Nesse justo momento, Jesus reentrou na sala, acompanhado
de alguns amigos, e, entendendo o que se passava, contemplou, enternecidamente,
os quatro publicanos arrasados de lágrimas, ao mesmo tempo que se abeirou do
pescador amigo, indagando: - Pedro, que fizeste?
Simão, desapontado à frente daqueles olhos cuja linguagem
muda tão bem conhecia, tentou justificar-se: - Senhor, tu disseste que eu
deveria amparar estes homens com a verdade...
- Sim, eu falei “amparar”, nunca te recomendaria
aniquilar alguém com ela...
Assim dizendo, Jesus aceitou o convite que Jeroboão lhe
fazia para sentar-se à mesa e, sorrindo, insistiu com Eliúde, Moabe, Zacarias e
Ananias para que lhe partilhassem a ceia.
Organizou-se, para logo, bela reunião, na qual o verbo se
mostrou reconfortante e enobrecido.
Conversando, o Mestre exaltou a Divina Providência de tal
modo e se referiu ao Reino de Deus com tanta beleza, que todos os comensais
guardavam a impressão de viver no futuro, em prodigiosa comunhão de interesse e
ideais.
Quando os quatro publicanos se despediram, sentiam-se
diferentes, transformados, felizes...
Jesus e Simão retiraram-se igualmente e, quando se
acharam sozinhos, passo a passo, ante as estrelas da noite calma, o rude
pescador exprobrou o comportamento do Divino Amigo, formulando perguntas,
através de longos arrazoados.
Se era necessário demonstrar tanto carinho para com os
maus, como estender auxílio aos bons? Se os homens errados mereciam tanto amor,
que lhes competia fazer, abenefício dos homens retos?
O Cristo escutou as objurgações em silêncio e, quando o
aprendiz calou as derradeiras reclamações, respondeu numa frase breve: - Pedro,
eu não vim à Terra para curar os sãos.
LIVRO: ESTANTE DA VIDA – HUMBERTO DE CAMPOS - FCX
CAP XXIV – 19/01
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP XXIV – NÃO COLOCAR A CANDEIA DEBAIXO DO
ALQUEIRE
ESFORÇO E ORAÇÃO
“E, despedida a multidão, subiu ao monte a fim de orar, à
parte. E, chegada já a tarde, estava ali só.” — (MATEUS, capítulo 14, versículo
23.)
De vez em quando, surgem grupos religiosos que preconizam
o absoluto retiro das lutas humanas para os serviços da oração.
Nesse particular, entretanto, o Mestre é sempre a fonte
dos ensinamentos vivos. O trabalho e a prece são duas características de sua
atividade divina.
Jesus nunca se encerrou a distância das criaturas, com o
fim de permanecer em contemplação absoluta dos quadros divinos que lhe
iluminavam o coração, mas também cultivou a prece em sua altura celestial.
Despedida a multidão, terminado o esforço diário,
estabelecia a pausa necessária para meditar, à parte, comungando com o Pai, na
oração solitária e sublime.
Se alguém permanece na Terra, é com o objetivo de
alcançar um ponto mais alto, nas expressões evolutivas, pelo trabalho que foi
convocado a fazer.
E, pela oração, o homem recebe de Deus o auxílio
indispensável à santificação da tarefa.
Esforço e prece completam-se no todo da atividade
espiritual.
A criatura que apenas trabalhasse, sem método e sem
descanso, acabaria desesperada, em horrível secura do coração; aquela que
apenas se mantivesse genuflexa, estaria ameaçada de sucumbir pela paralisia e
ociosidade.
A oração ilumina o trabalho, e a ação é como um livro de
luz na vida espiritualizada.
Cuida de teus deveres porque para isso permaneces no
mundo, mas nunca te esqueças desse monte, localizado em teus sentimentos mais
nobres, a fim de orares “à parte”, recordando o Senhor.
CAMINHO VERDADE E VIDA – EMMANUEL - FCX
NA SUBIDA CRISTÃ
Filipe, o velho pescador fiel ao profeta Nazareno,
meditando bastas vezes na grandeza do Evangelho, punha-se a monologar para
dentro da própria alma.
“A Boa-Nova – dizia consigo mesmo – era indiscutivelmente
um monte divino, alto demais, porém, considerando-se as vulgaridades da
existência comum. O Mestre era, sem dúvida, o Embaixador do Céu. Entretanto, os
princípios de que era portador mostravam-se transcendentes em demasia. Como
enfrentar as dificuldades e resolvê-las?
Ele, que acompanhava o Senhor, passo a passo, atravessava
obstáculos imensos, de modo a segui-lo com fidelidade e pureza.
Momentos surgiam em que, de súbito, via esfaceladas as
promessas de melhoria íntima que formulava a si próprio. É quase impraticável a
ascensão evangélica. Os ideais, as esperanças e objetivos do Salvador
permaneciam excessivamente longínquos ao seu olhar... Se os óbices da jornada
espiritual lhe estorvavam sadios propósitos do coração, que não ocorreria aos
homens inscientes da verdade e mais frágeis que ele mesmo?”
Em razão disso, de quando em quando interpelava o Amigo
Celeste, desfechando-lhe indagações.
Jesus, persuasivo e doce, esclarecia: – Filipe, não te
deixes subjugar por semelhantes pensamentos. É indispensável instituir padrões
superiores com a revelação dos cimos, inspirando os viajores da viela e
estimulando-os, quanto for necessário... Se não descerrarmos a beleza do
píncaro, como educar o espírito que rasteja no pântano?
Não menosprezes, impensadamente, a claridade que refulge,
além...
– Mas, Senhor – obtemperava o companheiro sincero –, não
será mais justo graduar as visões? o amor que pleiteamos é universal e
infinito. A maioria das criaturas, porém, sofre estreiteza e incompreensão.
Muitos homens chegam a odiar e perseguir como se praticassem excelentes virtudes.
Filósofos existem que consomem a vida e o tempo entronizando os que sabem
tiranizar. É razoável, portanto, diminuir a luz da revelação, para que se não
ofusque o entendimento do povo. No transcurso do tempo, nossos continuadores se
encarregariam de mais amplas informações...
O Cristo sorria, benevolente e acrescentava: – Se as
ideias redentoras de nossos ensinamentos são focos brilhantes de cima,
reconheçam que a mente do mundo está perfeitamente habilitada a compreendê-las
e materializá-las. Não é a coroa da montanha que perturba a planície. E se
obstáculos aparecem, impedindo-nos a subida, estas dificuldades pertencera a
nós mesmos. Uma estrela beneficia sempre, convida ao raciocínio elevado; no
entanto, jamais incomoda. Não maldigas, pois a luz, porque todo impedimento na
edificação do Reino Celeste está situado em nós mesmos.
O velho irmão penetrava o terreno das longas perquirições
interiores e concluía, afirmando: – Senhor, como eu desejava compreender claro
tudo isto!
Silenciava Jesus na habitual meditarão.
Certo dia, ambos se preparavam para alcançar os cimos do
Hermon, em jornada comprida e laboriosa, quando o apóstolo, ainda em baixa
altitude, se pôs a admirar, deslumbrado, os resplendores que fluíam da
cordilheira.
Terminara o lençol verdoengo e florido.
Atacaram a marcha no carreiro íngreme. Agora, era a
paisagem ressequida e nua. Pequeninos seixos pontiagudos recheavam o caminho.
Não obstante subirem devagar, Filipe, de momento a
momento, rogava pausa e, suarento e inquieto, sentava-se à margem, a fim de
alijar pedras minúsculas que, sorrateiras, lhe penetravam as sandálias. Gastava
tempo e paciência para localizá-las entre os dedos feridos. Dezenas de vezes,
pararam, de súbito, repetindo Filipe a operação e, ao
conquistarem as eminências da serra, banhados de sol, na
prodigiosa visão da natureza em torno, o Mestre, que sempre se valia das
observações diretas para fixar as lições, explicou-lhe, brandamente:
– Como reconheces, Filipe, não foi a claridade do alto
que nos dificultou a marcha e, sim, a pedrinha modesta do chão. O dia radioso
nunca fez mal entretanto, muitas vezes, as questões pequeninas do mundo
interrompem a viagem dos homens para Deus, Nosso Pai. Quase sempre, a fim de
prosseguirmos na direção do dever elevado e soberano, nossa alma requisita a
cooperação dos outros, tanto quanto os pés necessitam da sandália protetora
nestes caminhos escabrosos... Toda dificuldade na ascensão reside nos problemas
insignificantes da senda... Assim também, na caminhada humana, as questões mais
ínfimas, se conduzidas pela imprudência, podem golpear duramente o coração.
Observa o minuto de palestra, a opinião erradia, o gesto impensado... Podem
converter-se em venenosas pedrinhas que cortam os pés, ameaçando-nos a
estabilidade espiritual. Entendes, agora, a importância das bagatelas em nosso
esforço diário?
O pescador galileu meneou a cabeça, significativamente, e
respondeu, satisfeito: – Sim, Mestre, agora compreendi.
LIVRO: LUZ ACIMA – HUMBERTO DE CAMPOS M- FCX
CAP XXV – 20/01
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP XXV – BUSCAI E ACHAREIS
ANTE O DIVINO MÉDICO
“Não são os que gozam de saúde que precisam de médico”. Jesus
(Mateus, 9: 12)
“Jesus se acercava. principalmente, dos pobres e dos
deserdados, porque são os que mais necessitam de consolações; dos cegos dóceis
e de boa fé, porque pedem se lhes dê a vista e não dos orgulhosos que julgam
possuir toda a luz e de nada precisar.” (Cap. 25, Item 12)
Milhões de nós outros, os espíritos encarnados e
desencarnados em serviço na Terra, somos almas enfermas de muitos séculos.
Carregando débitos e inibições, contraídos em existências
passadas ou adquiridos agora, proclamamos em palavras sentidas que Jesus é o
nosso Divino Médico.
E basta ligeira reflexão para encontrar no Evangelho a
coleção de receitas articuladas por ele, com vistas à terapia da alma.
Todas as indicações do sublime formulário primam pela
segurança e concisão.
Nas perturbações do egoísmo: “faze aos outros o que
desejas que os outros te façam.”
Nas convulsões da cólera: “na paciência possuirás a ti
mesmo.”
Nos acessos de revolta: “humilha-te e serás exaltado.”
Na paranoia da vaidade: “não entrarás no Reino do Céu sem
a simplicidade de uma criança.”
Na paralisia de espírito por falsa virtude “se aspiras a
ser o maior, sê no mundo o servo de todos.”
Nos quistos mentais do ódio: “ama os teus inimigos.”
Nos delírios da ignorância: “aprende com a verdade e a
verdade te libertará.”
Nas dores por ofensas recebidas: “perdoa setenta vezes sete.”
Nos desesperos provocados por alheias violências: “ora
pelos que te perseguem e caluniam.”
Nas crises de incerteza, quanto à direção espiritual: “se
queres vir após mim, nega a ti mesmo, toma a tua cruz e segue-me.”
Nós, as consciências que nos reconhecemos endividadas,
regozijamo-nos com a declaração consoladora do Cristo: “Não são os que gozam de
saúde os que precisam de médico.”
Sim, somos espíritos enfermos com ficha especificada nos
gabinetes de tratamento, instalados nas Esferas Superiores, dos quais
instrutores e benfeitores da Vida Maior nos acompanham e analisam ações e
reações, mas é preciso considerar que o facultativo, mesmo sendo Nosso Senhor
Jesus Cristo, não pode salvar o doente e nem auxiliá-lo de todo, se o doente
persiste em fugir do remédio.
LIVRO DA ESPERANÇA (pelo Espírito Emmanuel) - FCX
PORQUE, SENHOR ?
... E Nicodemos, o grande Nicodemos dos dias primeiros do
Evangelho, passou a contar-nos;
- Depois da aparição do Senhor aos quinhentos da
Galiléia, certo dia, ao entardecer, detive-me à beira do lago de suas
pregações, rogando a Ele me dissipasse as dívidas.
Ante os ensinamentos divinos, eu experimentava o
entrechoque em torno das ideias de justiça e misericórdia, responsabilidade e
perdão...
De que maneira conciliar o bem e o mal? como estabelecer
a diferença entre prêmio e castigo?
Atormentado, perante as exigências da Lei de que eu era
intérprete, supliquei-lhe a palavra e eis que, de súbito, o Excelso Benfeitor
apareceu junto de mim... Prostrei-me na areia e Jesus, aproximando-se,
tocou-me, de leve, a cabeça fatigada, e inquiriu:
- Nicodemos, que pretendes de mim?
- Senhor – explique -, tenho o pensamento em fogo,
tentando discernir sobre retidão e delinquência, bondade e correção... Porque
te banqueteaste com pecadores e tanta vez te referiste, quase rudemente, aos
fariseus, leais seguidores de Moisés? Acaso, estão certas as pessoas de vida
impura, e erradas aquelas outras que se mostram fiéis à Lei?
Jesus respondeu com inflexão de brandura inesquecível: -
Nunca disse que os pecadores estão no caminho justo, mas afirmei que não vim ao
mundo socorrer os sãos, e sim os enfermos. Quanto aos princípios de santidade,
que dizer dos bons que detestam os maus, dos felizes que desprezam os
infelizes, se todos somos filhos de Deus? de que serve o tesouro enterrado ou o
livro escondido no deserto?
- Messias – prosseguiu -, porque dispensaste tanta
atenção a Zaqueu, o rico, a ponto de lhe compartilhares a mesa, sem visitar os
lares pobres que lhe circundam a moradia?
- Estive com a multidão, desde as notícias iniciais do
novo Reino!... Relativamente a Zaqueu, é ele um rico que desejava instruir-se,
e furtar a lição, àqueles amigos a quem o mundo apelida de avaros, é o mesmo
que recusar remédio ao doente...
- E as meretrizes, Senhor? porque as defendeste?
- Nicodemos, na hora do Juízo Divino, muitas dessas
mesmas desventuradas mulheres, que censuras, ressurgirão do lodo da angústia,
limpas e brilhantes, lavadas pelo pranto e pelo suor que derramarem, enquanto
que aparecerão pejados de sobra e lama aquelas que lhes prostituíram a
existência, depois de lhes abusarem da confiança, lançando-as à condenação e à
enfermidades.
- Senhor, ouvi dizer que deste a Pedro o papel de
condutor dos teus discípulos... Porquê? não é ele o colaborador que te negou
três vezes?!
- Exatamente por isso... Na dor do remorso pelas próprias
fraquezas, Simão ganhará mais força para ser fiel... Mais que os outros
companheiros, ele sabe agora quanto custa o sofrimento da deserção...
- Mestre, e os ladrões do último dia? porque te deixaste
imolar entre dois malfeitores? E porque asseguraste a um deles o ingresso no
paraíso, junto de ti?
- Como podes julgar apressadamente a tragédia de
criaturas cuja história não conheces desde o princípio? Não acoberto os que
praticam o mal; no entanto, é preciso saber até que ponto terá alguém resistido
à tentação e ao infortúnio para que se transformam em vítimas do próprio
desequilíbrio e há empreiteiros da fome que responderão pela crueldade com que
sonegam o pão... Com referência ao amigo a quem prometi a entrada imediata na
Vida Superior, é verdade que assim o fiz, mas não disse para quê... Ele
realmente foi conduzido ao Mundo Maior para ser reeducado e atendido em suas
necessidades de erguimento e transformação!...
- Senhor – insistiu -, e a responsabilidade com que nos
cabe tratar da justiça? Porque pediste perdão ao Todo-Poderoso para os próprios
carrascos, quando dependurado na crus do martírio, inocentando os que te
espancavam?
- Não anulei a responsabilidade em tempo algum... Roguei,
algemado à cruz: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem...” Com isso,
não asseverei que os nossos adversários gratuitos estivessem fazendo o que
deviam fazer... Esclareci, tão-só, que eles não sabiam o que estavam fazendo e,
por isso mesmo, se revelavam dignos da maior
compaixão!...
Ante as palavras do Senhor – concluiu o antigo mestre de
Israel -, as lágrimas me subiram das entranhas da lama para os olhos... Nada
mais vi que não fosse o véu diáfano do pranto, a refletir as sombras que
anunciavam a noite... Ainda assim, ouvi, como se o Senhor me falasse longe,
muito de longe: - Misericórdia quero, não sacrifício...
Nesse ponto da narrativa, Nicodemos calou-se. A emoção
sufoca a voz do grande instrutor, cuja presença nos honrava a mansão
espiritual. E, quanto a nós, velhos julgadores do mundo, que o ouvíramos
atentos, entramos todos em meditação e silêncio, de vez que ninguém apareceu em
nossa tertúlia íntima com bastante disposição para acrescentar palavra.
LIVRO: ESTANTE DA VIDA – HUMBERTO DE CAMPOS - FCX
CAP XXVI – 21/01
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP XXVI – DAR DE GRAÇA O QUE DE GRAÇA
RECEBER
ANTE A MEDIUNIDADE
“Dai gratuitamente o que gratuitamente recebestes.” Jesus
(Mateus, 10:8)
“Procure, pois, aquele que carece do que viver, recursos
em qualquer parte, menos na mediunidade; não lhe consagre, se assim for
preciso, senão o tempo de que materialmente possa dispor. Os Espíritos lhe
levarão em conta o devotamento e os sacrifícios, ao passo que se afastam dos
que esperam fazer deles uma escada por onde subam.”
(Cap. 26, Item 10)
Mediunidade na bênção do auxílio é semelhante à luz em
louvor do bem.
Toda luz é providencial.
Toda mediunidade é importante.
Reflitamos na divina missão da luz, a expressar-se de
maneiras diversas. Temo-la no alto de torres, mostrando rota segura aos
navegantes; nos postes
da via pública, a benefício de todos; no recinto
doméstico, em uso particular; nos sinais de trânsito, prevenindo desastres; nos
educandários, garantindo a instrução; nas enfermarias em socorro aos doentes;
nas lanternas humildes, que ajudam o viajor, à distância do lar; nas câmaras do
subsolo, alentando o operário suarento, na conquista do pão.
Todo núcleo de energia luminosa se caracteriza por
utilidade específica.
Nenhum deles ineficiente, nenhum desprezível.
A vela bruxuleante que salva um barco, posto à deriva, é
tão indispensável quanto o lustre aristocrático que se erige na escola, no
amparo as inteligências transviadas na ignorância.
A candeia frágil que indica as letras de um livro, numa
choça esquecida no campo, é irmã do foco vigoroso que assegura o êxito do salão
cultural.
No que tange à luz, o espetáculo é acessório.
Vale o proveito.
Em matéria de mediunidade, o fenômeno é suplemento.
Importa o serviço.
Em qualquer tarefa das boas obras, deixa, pois, que a
mediunidade te brilhe nas mãos.
Entre a lâmpada apagada e a força das trevas não há
diferença.
LIVRO DA ESPERANÇA – EMMANUEL – FCX
NAS HESITAÇÕES DE PEDRO
Logo depois de se
estabelecerem os apóstolos em Jerusalém, em seguida às revelações do
Pentecostes, ia o serviço de assistência social maravilhosamente organizado,
não obstante as perseguições que se esboçavam, quando a casa acolhedora,
dirigida por Simão Pedro, foi procurada por infeliz mulher. Trazia consigo
todos os estigmas das pecadoras. Fora lapidada e exibia manchas sanguinolentas
na roupa em frangalhos.
Pronunciava palavras torpes. Revelava-se semilouca e
doente.
As senhoras do reduto cristão retraíram-se, alarmadas. E
o próprio Pedro, que recebera preciosas lições do Senhor, vacilou quanto à
atitude que lhe seria adequada.
Como haver-se nas circunstâncias? Destinava-se aquele
abrigo ao recolhimento de criaturas desventuradas; entretanto, como classificar
a triste posição daquela mulher que, naturalmente, buscara o vaso da angústia
nos excessivos gozos da vida? Não estaria a sofredora resgatando os próprios
débitos? Se bebera com loucura na taça dos prazeres, não lhe caberia o fel da
aflição?
Dispunha-se a rogar-lhe que se afastasse do asilo, quando
recordou a necessidade de orar. Se o caso era omisso nas disposições que regiam
o instituto fraterno, tornava-se imperioso consultar a inspiração do Messias.
O Mestre lhe ditaria o recurso. Buscar-lhe-ia, por isso,
o conselho na prece ardente.
Enquanto a infortunada aguardava resposta, sob o apupo de
pequena multidão que lhe contemplava as feridas, o apostolo buscou a solidão do
santuário doméstico, e exorou a proteção do Amigo Divino, que fora crucificado.
Em breves instantes viu Jesus, nimbado de claridade
resplandecente, não longe de suas mãos, que se estenderam suplicantes:
- Mestre - rogou Pedro, atacando diretamente o assunto,
como quem sabia da brevidade daqueles momentos inesquecíveis -, temos à entrada
uma pecadora reconhecidamente entregue ao mal! Ajuda-me, inspira-me!... que
farei?!...
O Salvador entreabriu os lábios sublimes e falou: -
Pedro, eu não vim curar os sãos...
O discípulo entendeu a referência, mas, ponderando a
grave responsabilidade de quem administra, acentuou:
- Senhor, estamos agora sem tua orientação direta e
visível. Recebê-la-emos neste lar, para que? A fim de julgá-la?
Com o mesmo olhar sereno, Jesus replicou: - Nesse mister
permanecem na Terra numerosos juízes.
- Para fazer-lhe sentir a extensão dos erros? - indagou
Simão, em lágrimas.
- Não, Pedro - tornou o Mestre -, para dar-lhe
conhecimento da penúria em que vive, conta nossa irmã, nas vias públicas,
milhares de bocas que amaldiçoam e outras tantas mãos que apedrejam.
- Para conferir-lhe a noção do padecimento em que se
mergulhou por si mesma?
- Também não. Em tarefa ingrata como essa, vivem aqueles
que a exploram, dando-lhe fome e sede, pranto e aflição...
- Para dizer-lhe das penas que a esperam neste e no
“outro mundo”?
- Ainda não. Nesse labor terrível respiram os espíritos
acusadores, que não hesitam na condenação em nome do Pai, olvidando as próprias
faltas...
O ex-pescador de Cafarnaum, então, chorou, súplice,
porque no íntimo desejava conformar-se com os ditames da justiça,
exemplificando, simultaneamente, com o amor que o Cristo lhe havia legado.
Arquejava, soluçante, ignorando como prosseguir nas indagações, mas Jesus dele
se acercou, iluminado e benevolente... Enxugou-lhe as
lagrimas que corriam abundantes e esclareceu: - Pedro,
para ferir e amaldiçoar, sentenciar e punir, a cidade e o campo estão cheios de
maus servidores. Nosso ministério ultrapassa a própria justiça. O Evangelho,
para ser
realizado, reclama o concurso de quem ampara e educa,
edifica e salva, consola e renuncia, ama e perdoa... Abre acesso à nossa irmã
transviada e auxilia-a no reerguimento. Não a precipites em despenhadeiros mais
fundos... Arranca-a da morte e traze-a para a vida... Não te esqueças de que
somos portadores da Boa Nova da Salvação!...
Logo após, entrou em silêncio, diluindo-se-lhe a figura
irradiante na claridade evanescente da hora vespertina...
O apóstolo levantou-se, deu alguns passos, atravessou
extensa fileira de irmãos espantados, abriu, de manso, a porta e dirigiu-se à
mulher, acolhedor: - Entre, a casa é sua!
- Quem sois? - interrogou a infeliz, assombrada.
-Eu? - falou Pedro, com os olhos empapuçados de chorar. E
concluiu: - Sou seu irmão.
LIVRO: LUZ ACIMA – HUMBERTO DE CAMPOS - FCX
CAP XXVII – 22/01
TEXTO PARA INSPIRAÇÃO DA NOSSA PREPARAÇÃO PARA AS
VIBRAÇÕES DA NOITE
BASEADO NO CAP XXVII – PEDI E OBTEREIS
EM LOUVOR DA PRECE
“Quando quiserdes orar entrai para o vosso quarto e
fechada a poria, oral ao Pai, no intimo; e o Pai que vê: no intimo, vos
recompensará.” Jesus (Mateus, 6:6)
“Orai, enfim, com humildade, como o publicano e não com
orgulho, como o fariseu. Examinai os vossos defeitos, não as vossas qualidades
e, se vos comparardes aos outros, procurai o que há em vós de mau.” (Cap. 27,
Item 4)
Pediste em oração a cura de doentes amados e a morte
apagou-lhes as pupilas, regelando-te o coração;
solicitaste o afastamento da prova e o acidente ocorreu,
esmagando-te as esperanças;
suplicaste n sustação da moléstia e a doença chegou a
infligir-te deformidade completa;
imploraste suprimentos materiais e a carência te bate à
porta.
Mas se não abandonares a prece, aliada ao exercício das
boas obras, granjearás paciência e serenidade, entendendo, por fim, que a
desencarnação foi socorro providencial, impedindo sofrimentos insuportáveis:
que o desastre se constitui em medida de emergência para
evitar a calamidades maiores;
que a mutilação física é a defesa da própria alma contra
quedas morais de soerguimento difícil e que as dificuldades da penúria são
lições da vida, a fim de que a finança demasiada não se faça veneno ou
explosivo nas tuas mãos.
Da mesma forma, quando suplicamos perdão das próprias
faltas à Eterna Justiça, não bastam o pranto de compunção e a postura de
reverência.
Após o reconhecimento dos compromissos que nos são
debitados no livro do espírito, continuamos tão aflitos e tão desditosos quanto
antes.
Contudo, se perseveramos na prece, com o serviço das boas
ações que nos atestam a corrigenda, a breve trecho, perceberemos que a Lei nos
restitui a tranquilidade e a libertação, com o ensejo de apagar as consequências
de nossos erros, reintegrando-nos no respeito e na estima de todos aqueles que
erigimos à condição de credores e adversários.
Se guardas esse ou aquele problema de consciência, depois
de haver rogado perdão à Divina Bondade, sob o pretexto de continuar no fogo
invisível da inquietação, não te afastes da prece mesmo assim.
Prossegue orando, fiel ao bem que te revele o espírito
renovado.
A prece forma o campo do pensamento puro e toda
construção respeitável começa na ideia nobre.
Realmente, sem trabalho que o efetive, o mais belo plano
é sempre um belo plano a perder-se.
Não vale prometer sem cumprir.
A oração, dentro da alma comprometida em lutas na sombra,
assemelha-se à lâmpada que se acende numa casa desarranjada; a presença da luz
não altera a situação do ambiente desajustado e nem remove os detritos
acumulados no recinto doméstico, entretanto, mostra sem alarde o serviço que se
deve fazer.
LIVRO DA ESPERANÇA (pelo Espírito Emmanuel) FCX
O ESCRIBA INCRÉDULO
Descansava Jesus em casa de Igorin, o curtidor, no
vilarejo de Dalmanuta, quando Joab, escriba em Cesareia, partiu à procura dele,
em companhia de Zebedeu, pai de Tiago e João, que lhe devotava imensa estima.
Enquanto caminhava, depois de largada a barca, o amigo da
cidade, que jamais contemplara o Doce Nazareno, falava compungido de mágoas que
sofrera.
Sentia-se doente, em suprema revolta. Desejava escutar o
verbo do Senhor para certificar-se quanto à própria conduta.
Dizia-se crivado de injustiça e calúnia.
Permutavam, assim, impressões espontâneas e afetuosas quando
o lar de Igorin lhes surgiu pela frente, ao longe.
Ao redor do tugúrio, congregavam-se enfermos, avultando,
entre eles, um homem maduro e esbelto a gritar, estentórico, e que, guardado à
pressa, excluiu-se do quadro, desafiando, assim, a curiosidade de ambos os
viajores.
No átrio da casa pobre, indaga Zebedeu de uma velha
aleijada quem era aquele mísero, e informa-lhe a anciã que se tratava de um
louco infeliz à procura do Mestre.
Nisso, Tiago e Pedro aparecem de chofre e dizem que Jesus
pretendia ausentar-se para a prece nos montes.
Joab, ouvindo isto, penetra sozinho pela casa, e encontra
em quarto humilde o Cristo generoso, meditando em silêncio.
-Mestre! –clama, chorando, depois de confortado às
saudações primeiras – tenho o peito dorido e o pensamento em fogo, humilhado
que estou por injúrias atrozes. Feriram-me, Senhor, enodoando-me o nome e
furtando-me o pão... Que fazer ante o mal que me ataca, insolente? de que modo
portar-me, perante os inimigos que me cobrem de lodo?
-Perdoa, filho meu! –disse o Amigo Celeste.
-Senhor, como esquecer malfeitores e ingratos?
-Anotando-lhes sempre a condição de enfermos.
-Enfermos? como assim, se perseguem matando?
-Não procederiam desse modo se não fossem dementes.
-Mestre – insistiu Joab -, convém esclarecer que os meus
adversários são ladrões perigosos...
-São, pois, mais infelizes...
-Infelizes porque? se tem casas faustosas e terras
florescentes?
-Todavia, amanhã descerão ao sepulcro, abandonando o
furto à mãos que desconhecem...
-Entretanto, Senhor, sem qualquer razão justa, eles
querem prender-me.
-Não importa, meu filho, pois todo delinquente está preso
em si mesmo às algemas da treva.
-Mestre! Mestre! Ainda assim, espreitam-me igualmente em
tocaia sinistra, prelibando-me a morte, todos eles armados de punhais
assassinos!...
-Perdoa e ora por eles – disse o Cristo, sereno -, porque
é da Eterna Lei que a justiça se faça... Todo aquele que fere será também
ferido...
O escriba, em desespero, ajuntou lacrimoso: -Senhor,
estou sozinho, despojado de tudo... Iludiram-me a esposa e roubaram-me os
filhos...
Acusado sem culpa, o cárcere me espera; venerei sempre as
leis, guardando-lhes os princípios e toda a minha dor nasce da sombra hostil da
infâmia que me cerca! Que fazer Benfeitor ante as garras da lama?
-Filho, perdoa sempre, olvida todo mal e faze todo o bem,
porque somente o bem é luz que não se apaga...
Incapaz de conter o assombro que o traía, Joab
esgueirou-se de soslaio, perguntando lá fora aos amigos surpresos:
-Dizei-me, por favor, onde acharei o Mestre Jesus? quero
Jesus para ouvir-lhe a palavra!...
O escriba renitente conservava a impressão de ter ouvido
o louco que avistara ao chegar àquela casa, e não o próprio
Cristo...
LIVRO: CONTOS DESTA E DE OUTRA VIDA – HUMBERTO DE CAMPOS -
FCX
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