4 – A reencarnação fazia parte dos dogmas judeus, sob o
nome de ressurreição. Somente os saduceus, que pensavam que tudo acabava com a
morte, não acreditavam nela. As idéias dos judeus sobre essa questão, como
sobre muitas outras, não estavam claramente definidas. Porque só tinham noções
vagas e incompletas sobre a alma e sua ligação com o corpo. Eles acreditavam
que um homem podia reviver, sem terem uma idéia precisa da maneira por que isso
se daria, e designavam pela palavra ressurreição o que o Espiritismo chama,
mais justamente, de reencarnação. Com efeito, a ressurreição supõe o retorno à
vida do próprio cadáver, o que a Ciência demonstra ser materialmente
impossível, sobretudo quando os elementos desse corpo já estão há muito
dispersos e consumidos. A reencarnação é à volta da alma ou Espírito à vida
corpórea, mas num outro corpo, novamente constituído, e que nada tem a ver com
o antigo. A palavra ressurreição podia, assim, aplicar-se a Lázaro, mas não a
Elias, nem aos demais profetas. Se, portanto, segundo sua crença, João Batista
era Elias, o corpo de João não podia ser o de Elias, pois que João tinha sido
visto criança e seus pais eram conhecidos. João podia ser, pois, Elias
reencarnado, mas não ressuscitado.
5 – E havia um homem dentre os fariseus, por nome
Nicodemos, senador dos judeus. Este, uma noite, veio buscar a Jesus, e
disse-lhe: Rabi, sabemos que és mestre, vindo da parte de Deus, porque ninguém
pode fazer estes milagres, que tu fazes, se Deus não estiver com ele. Jesus
respondeu e lhe disse: Na verdade, na verdade te digo que não pode ver o Reino
de Deus senão aquele que renascer de novo. Nicodemos lhe disse: Como pode um
homem nascer, sendo velho? Porventura pode entrar no ventre de sua mãe e nascer
outra vez? Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que quem não
nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus, o que é nascido
de carne é carne, e o que é nascido do Espírito é Espírito. Não te maravilhes
de eu te dizer que vos importa nascer de novo. O Espírito sopra onde quer, e tu
ouves a sua voz, mas não sabes de onde ele vem, nem para onde vai. Assim é todo
aquele que é nascido do Espírito. Perguntou Nicodemos: Como se pode fazer isto?
Respondeu Jesus: Tu és mestre em Israel, e não sabes estas coisas? Em verdade, em
verdade te digo: que nós dizemos o que sabemos, e damos testemunho do que
vimos, e vós, com tudo isso, não recebeis o nosso testemunho. Se quando eu vos
tenho falado das coisas terrenas, ainda assim me credes, como creríeis, se eu
vos falasse das celestiais? (João, III: 1-12)
6 – A ideia de que João Batista era Elias, e de que os
profetas podiam reviver na Terra, encontra-se em muitas passagens dos
Evangelhos, notadamente nas acima reproduzidas (nº 1 a 3). Se essa crença fosse
um erro, Jesus não deixaria de combatê-la, como fez com tantas outras. Longe
disso, porém, ele a sancionou com toda a sua autoridade, e a transformou num
princípio, fazendo-a condição necessária, quando disse: Ninguém pode ver o
Reino dos Céus, se não nascer de novo. E insistiu, acrescentando: Não te
maravilhes de eu ter dito que é necessário nascer de novo.
7 – Estas palavras: “Se não renascer da água e do
Espírito”, foram interpretadas no sentido da regeneração pela água do batismo.
Mas o texto primitivo diz simplesmente: Não renascer da água e do Espírito,
enquanto que, em algumas traduções, a expressão do Espírito foi substituída por
do Espírito Santo, o que não corresponde ao mesmo pensamento. Esse ponto
capital ressalta dos primeiros comentários feitos sobre o Evangelho, assim como
um dia será constatado sem equívoco possível.(1)
8 – Para compreender o verdadeiro sentido dessas
palavras, é necessário reportar à significação da palavra, que não foi
empregada no seu sentido específico. Os antigos tinham conhecimentos imperfeitos
sobre as ciências físicas, e acreditavam que a Terra havia saído das águas. Por
isso, consideravam a água como o elemento gerador absoluto. É assim que
encontramos no Gênesis: “O Espírito de Deus era levado sobre as águas”,
“flutuava sobre as águas”, “que o firmamento seja no meio das águas”, que as
águas que estão sob o céu se reúnam num só lugar, e que o elemento árido
apareça”, “que as águas produzam animais viventes, que nadem na água, e
pássaros que voem sobre a terra e debaixo do firmamento”.
Conforme essa crença, a água se transformara no símbolo
da natureza material, como o Espírito o era da natureza inteligente. Estas
palavras: “Se o homem renascer da água e do Espírito”, ou “na água e no
Espírito”, significam pois: “Se o homem não renascer com o corpo e a alma”.
Neste sentido é que foram compreendidas no princípio.
Esta interpretação se justifica, aliás, por estas outras
palavras: “O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é
Espírito”. Jesus faz aqui uma distinção positiva entre o Espírito e o corpo. “O
que é nascido da carne é carne”, indica claramente que o corpo procede apenas
do corpo, e que o Espírito é independente dele.
9 – “O Espírito sopra onde quer, e ouves a sua voz, mas
não sabes de onde vem nem para onde vai”, é uma passagem que se pode entender
pelo Espírito de Deus que dá a vida a quem quer, ou pela alma do homem. Nesta
última acepção, a sequência: “mas não sabes de onde vem nem para onde vai”,
significa que não se sabe o que foi nem o que será o Espírito. Se, pelo
contrário, o Espírito, ou alma, fosse criado com o corpo, saberíamos de onde
ele vem, pois conheceríamos o seu começo. Em todo caso, esta passagem é a
consagração do principio da preexistência da alma, e por conseguinte da
pluralidade das existências.
10 – Desde os tempos de João Batista até agora, o Reino
dos Céus é tomado pela força, e os que fazem violência são os que o arrebatam.
Porque todos os profetas e a lei, até João, profetizaram. E se vós o quereis
bem compreender, ele mesmo é o Elias que há de vir. O que tem ouvidos de ouvir,
ouça”. (Mateus, XI: 12-15)
11 – Se o princípio da reencarnação, expresso em São
João, podia, a rigor, ser interpretado num sentido puramente místico, já não
aconteceria o mesmo nesta passagem de São Mateus, onde não há equívoco
possível: “Ele mesmo é o Elias que há de vir”. Aqui não existe figura, em
alegoria; trata-se de uma afirmação positiva. “Desde o tempo de João Batista
até agora, o Reino dos Céus é tomado pela força”, que significam estas
palavras, pois João ainda vivia no momento em que foram ditas? Jesus as
explica, ao dizer: “E se vós o quereis bem compreender, ele mesmo é o Elias que
há de vir”. Ora, João tendo sido Elias, Jesus alude ao tempo em que João vivia
com o nome de Elias. “Até agora, o Reino dos Céus é tomado pela força”, é outra
alusão à violência da lei mosaica, que ordenava o extermínio dos infiéis, para
a conquista a Terra Prometida, Paraíso dos hebreus que, segundo a nova lei, o
céu é ganho pela caridade e pela brandura. A seguir, acrescenta: “O que tem
ouvidos de ouvir, ouça”. Essas palavras, tão frequentemente repetidas por
Jesus, exprimem claramente que nem todos estavam em condições de compreender
certas verdades.
12 – Os teus mortos viverão. Os meus, a quem tiraram a
vida, ressuscitarão. Despertai e cantai louvores, vós os que habitais no pó,
porque o orvalho que cai sobre vós é orvalho de luz, e arruinareis a terra e o
reino dos gigantes”. (Isaias, XXVI: 19)
13 – Esta passagem de Isaias é também bastante clara: “Os
teus mortos viverão”. Se o profeta tivesse querido falar da vida espiritual, se
tivesse querido dizer que os mortos não estavam mortos em Espírito, teria dito:
“ainda vivem”, e não: “viverão”. Do ponto de vista espiritual, essas palavras
seriam um contra senso, pois implicariam uma interrupção na vida da alma. No
sentido de regeneração moral, seriam as negações das penas eternas, pois
estabelecem o princípio de que todos os mortos reviverão.
14 – Quando o homem morre uma vez, e seu corpo, separado
do espírito, é consumido, em que se torna ele? Tendo o homem morrido uma vez,
poderia ele reviver de novo? Nesta guerra em que me encontro, todos os dias de
minha vida, estou esperando que chegue a minha mutação (Job, XIV: 10-14,
segundo a tradução de Sacy).
Quando o homem morre, perde toda a sua força e expira
depois, onde está ele? Se o homem morre, tornará a viver? Esperarei todos os
dias de meu combate, até que chegue a minha transformação? (Id. Tradução
protestante de Osterwald).
Quando o homem está morto, vive sempre; findando-se os
dias da minha existência terrestre, esperarei, porque a ela voltarei novamente.
(Id. Versão da Igreja Grega).
15 – O princípio da pluralidade das existências está
claramente expresso nessas três versões. Não se pode supor que Job quisesse
falar da regeneração pela água do batismo, que ele certamente não conhecia.
“Tendo o homem morrido uma vez, poderia ele reviver de novo?” A ideia de morrer
uma vez e reviver implicam a de morrer e reviver muitas vezes. A versão da
Igreja Grega é ainda mais explicita, se possível: “Findando-se os dias da minha
existência terrestre, esperarei, porque a ela voltarei novamente”. Quer dizer:
eu voltarei à existência terrena. Isto é tão claro como se alguém dissesse.
“Saio de casa, mas a ela voltarei.”
“Nesta guerra em que me encontro, todos os dias de minha
vida, estou esperando que chegue a minha mutação”. Job quer falar,
evidentemente, da luta que sustenta as misérias da vida. Ele espera a sua
mutação, ou seja, ele se resigna. Na versão grega, a expressão “esperarei”,
parece antes se aplicar à nova existência: “Findando-se os dias da minha
existência terrestre, esperarei, porque a ela voltarei novamente”, Job parece
colocar-se, após a morte, num intervalo que separa uma existência de outra, e
dizer que ali esperará o seu retorno.
16 – Não é, pois, duvidoso, que sob o nome de
ressurreição, o princípio da reencarnação fosse uma das crenças fundamentais
dos judeus, e que ela foi confirmada por Jesus e pelos profetas, de maneira
formal. Donde se segue que negar a reencarnação é renegar as palavras do
Cristo. Suas palavras, um dia, constituirão autoridade sobre este ponto, como
sobre muitos outros, quando forem meditadas sem partidarismo.
17 – A essa autoridade, de natureza religiosa, virá
juntar-se no plano filosófico, a das provas que resultam da observação dos
fatos. Quando dos efeitos se quer remontar às causas, a reencarnação aparece
como uma necessidade absoluta, uma condição inerente à humanidade, em uma
palavra, como uma lei da natureza. Ela se revela, pelos seus resultados, de
maneira por assim dizer material, como o motor oculto se revela pelo movimento
que produz. Somente ela pode dizer ao homem de onde ele vem, para onde vai, por
que se encontra na Terra, e justificar todas as anomalias e todas as injustiças
aparentes da vida.
Sem o princípio da preexistência da alma e da pluralidade
das existências, a maior parte das máximas do Evangelho são ininteligíveis, e
por isso tem dado motivo a interpretações tão contraditórias. Esse princípio é
a chave que deve restituir-lhes o verdadeiro sentido.
(1) A tradução de Osterwald está conforme o texto
primitivo, e traz: não renascer da água e do Espírito. A de Sacy diz do
Espírito Santo. A de Lamennais também diz: Espírito Santo.
(2) Para o desenvolvimento do dogma da reencarnação, ver
O Livro dos Espíritos, caps IV e V; O que é o Espiritismo, cap. II; ambos de
Allan Kardec; e a Pluralidade das Existências, de Pezzani. (Nota do Tradutor: A
palavra “dogma”, figura aqui no sentido racional e não fideísta, como
“princípio” e não como dogma de fé O Espiritismo não é dogmático, no sentido
religioso da palavra, mas têm princípios fundamentais, que filosoficamente são
chamados dogmas).
TEXTOS DE APOIO
RESSURREIÇÃO
Não aguardes o futuro para descerrar os olhos à própria
ressurreição.
O atalho do amor puro consegue reduzir as sinuosidades da
senda que nos cabe trilhar para a comunhão com o Senhor.
É possível o nosso renascimento ainda agora.
Para isso, porém, não guardes o coração na rígida
armadura das palavras, incapacitando-lhe a movimentação no infinito Bem.
O Evangelho não é um prontuário de formulas inexequíveis.
Não se reduz a museu de símbolos mortos, nem se resume a
ensinamentos que os séculos hajam sentenciado ao abandono.
Lembra-te de que Jesus não é um Mestre distante.
É o Amigo Divino e Eterno, em nossas atividades de cada
dia, convocando-nos à assimilação da Vida Superior.
Ouçamos-lhe a voz, no âmago da consciência.
Fujamos à intoxicação mental da cultura mal conduzida.
Apaguemos o fogo da crítica no altar de nossa vida de
relação.
Evitemos a imobilidade da lição redentora no leito das
frases brilhantes.
Indispensável reconstruir as causas para que os
resultados se modifiquem.
Uma renovação integral do nosso modo de ser se nos
reclama nos santuários da Nova Revelação, a fim de que a vida se reerga por
nosso intermédio.
É imprescindível recordar que o Nome de Jesus se encontra
empenhado em nossas mãos.
E, compreendendo que o tempo ser-nos-á sempre o juiz
sereno e justo, evitemos as longas curvas das reencarnações expiatórias em
nossa marcha para o Alto.
Façamos o melhor ao nosso alcance, refletindo o Cristo em
nossa própria consciência e, nessa diretriz salvadora, estejamos convictos de
que para nós a Divina Ressurreição começará desde hoje.
Extraído do livro Bênçãos de Amor. Autores Diversos Psicografia
de Francisco Cândido Xavier.
A LIÇÃO DE NICODEMUS
Em face dos novos ensinamentos de Jesus, todos os
fariseus do templo se tornavam de inexcedíveis cuidados, pelo seu extremado
apego aos textos antigos. O Mestre, porém, nunca perdeu ensejo de esclarecer as
situações reais difíceis com a luz da verdade que a sua palavra divina trazia
ao pensamento do mundo. Grande número de doutores não conseguia ocultar o seu
descontentamento, porque, não obstante suas atividades derrotistas, continuavam
as ações generosas de Jesus, beneficiando os aflitos e os sofredores. Discutiam-se
os novos princípios no grande templo de Jerusalém, nas suas praças públicas e
nas sinagogas. Os mais humildes e pobres viam no Messias o emissário de Deus,
cujas mãos repartiam em abundancia os bens da paz e da consolação. As
personalidades importantes temiam-no.
É que o profeta não se deixava seduzir pelas grandes
promessas que lhe faziam com referência ao seu futuro material. Jamais
temperava a sua palavra de verdade com as conveniências do comodismo da época.
Apesar de magnânimo para com tôdas as faltas alheias, combatia o mal com tão
intenso ardor, que para logo se fazia objeto de hostilidade para tôdas as
intenções inconfessáveis. Mormente, em Jerusalém que, com o seu cosmopolitismo,
era um expressivo retrato do mundo, as idéias do Senhor acendiam as mais
apaixonadas discussões. Eram populares que se entregavam à apologia franca da
doutrina de Jesus, servos que o sentiam com todo o calor do coração
reconhecido, sacerdotes que o combatiam abertamente, convencionalistas que não
o toleravam, indivíduos abastados que se insurgiam contra os seus ensinos.
Todavia, sem embargo das dissensões naturais que precedem
o estabelecimento definitivo das idéias novas, alguns espíritos acompanhavam o
Messias, tomados de vivo interesse pelos seus elevados princípios. Entre estes,
figurava Nicodemos, fariseu notável pelo coração bem formado e pelos dotes da
inteligência. Assim, uma noite, ao cabo de grandes preocupações e longos
raciocínios, procurou a Jesus, em particular, seduzido pela magnanimidade de
suas ações e pela grandeza de sua doutrina salvadora. O Messias estava
acompanhado apenas de dois dos seus discípulos e recebeu a visita com a sua
bondade costumeira.
Após a saudação habitual e revelando as suas ânsias de
conhecimento, depois de fundas meditações, Nicodemos dirigiu-se respeitoso:
– Mestre, bem sabemos que vindes de Deus, pois somente
com a luz da assistência divina poderíeis realizar o que tendes efetuado,
mostrando o sinal do céu em vossas mãos. Tenho empregado minha existência em
interpretar a lei, mas desejava receber a vossa palavra sobre os recursos de
que deverei lançar mão para conhecer o Reino de Deus!
O Mestre sorriu bondosamente e esclareceu:
– Primeiro que tudo, Nicodemos, não basta que tenhas
vivido a interpretar a lei. Antes de raciocinar sobre as suas disposições,
deverias ter-lhe sentido os textos. Mas, em verdade devo dizer-te que ninguém
conhecerá o reino do céu, sem nascer de novo.
– Como pode um homem nascer de novo, sendo velho? –
interrogou o fariseu altamente surpreendido – Poderá, porventura, regressar ao
ventre de sua mãe?
O Messias fixou nele os olhos calmos, consciente da
gravidade do assunto em foco e acrescentou :
– Em verdade, reafirma-te ser indispensável que o homem
nasça e renasça, para conhecer plenamente a luz do reino!...
– Entretanto, como pode isso ser? – Perguntou Nicodemos,
perturbado.
– És mestre em Israel e ignoras estas coisas?
– inquiriu Jesus, como surpreendido – É natural que cada um cimente testifique
daquilo que saiba; porém precisamos considerar que tu ensinas. Apesar disso,
não aceitas os nossos testemunhos. Se falando eu de coisas terrenas sentes
dificuldade em compreendê-las com os teus raciocínios sobre a lei, como poderás
aceitar as minhas afirmativas quando eu disser das coisas celestiais? Seria loucura
destinar os alimentos apropriados a um velho para o organismo frágil de uma
criança.
Extremamente confundido, retirou-se o fariseu, ficando
André e Tiago empenhados em obter do Messias o necessário esclarecimento,
acerca daquela lição nova.
***
Jerusalém quase dormia sob o véu espesso da noite alta.
Silêncio profundo se fizera sobre a paisagem. Jesus no entanto, e aqueles dois
discípulos continuavam presos à conversação particular que haviam entabulado.
Os dois desejavam ardentemente penetrar o sentido oculto das palavras do
Mestre. Como seria possível aquele renascimento?
Não obstante os seus conhecimentos, também partilhavam da
perplexidade que levara Nicodemos a se retirar fundamente surpreendido.
– Por que tamanha admiração, em face destas verdades? –
perguntou-lhe Jesus, bondosamente – As árvores não renascem depois de podadas?
Com respeito aos homens, o processo é diferente, mas o espírito de renovação é
sempre o mesmo. O corpo é uma veste. O homem é seu dono. Toda roupagem material
acaba rota, porém, o homem, Que é filho de Deus, encontra sempre em seu amor os
elementos necessários à mudança do vestuário. A morte do corpo é essa mudança
indispensável, porque a alma caminhará sempre, através de outras experiências,
até que consiga a imprescindível provisão de luz para a estrada definitiva no
reino de Deus, com toda a perfeição conquistada, ao longo dos rudes caminhos.
André sentiu que uma nova compreensão lhe felicitava o
espírito simples e perguntou :
– Mestre, já que o corpo é como a roupa material das
almas, por que não somos todos iguais no mundo? Vejo belos jovens, junto de
aleijados e paralíticos...
– Acaso não tenho ensinado – disse Jesus – que tem de
chorar todo aquele que se transforma em instrumento de escândalo? Cada alma
conduz consigo mesma o inferno ou o céu que edificou no âmago da consciência.
Seria justo conceder-se uma segunda veste mais perfeita e mais bela ao espírito
rebelde que estragou a primeira? Que diríamos da sabedoria de Nosso Pai, se
facultasse as possibilidades mais preciosas aos que às utilizaram na véspera
para o roubo, o assassínio, a destruição? Os que abusaram da túnica da riqueza
vestirão depois as dos fâmulos e escravos mais humildes, como as mãos que
feriram podem vir a ser cortadas.
– Senhor, compreendo agora o mecanismo do resgate. –
Murmurou Tiago, externando a alegria do seu entendimento. – Mas, observo que,
desse modo, o mundo precisará sempre do clima do escândalo e do sofrimento,
desde que o devedor, para saldar seu débito, não poderá fazê-lo sem que outro
lhe tome o lugar com a mesma dívida.
O Mestre apreendeu a amplitude da objeção e esclareceu os
discípulos, perguntando :
– Dentro da lei de Moisés, como se verifica o processo da
redenção?
Tiago meditou um instante e respondeu:
– Também na lei está escrito que o homem pagará “olho por
olho, dente por dente”.
– Também tu, Tiago, estás procedendo como Nicodemos. – -
Replicou Jesus com generoso sorriso.
– Como todos os homens, aliás, tens raciocinado, mas não
tens sentido. Ainda não ponderaste, talvez, que o primeiro mandamento da lei é
uma determinação de amor. Acima do “não adulterarás”, do “não cobiçarás”, está
o “amar a Deus sobre tôdas as coisas, de todo coração e de todo entendimento”. Como
poderá alguém amar ao Pai, aborrecendo-lhe a obra? Contudo, não estranho a
exigüidade de visão espiritual com que examinaste o texto dos profetas. Tôdas
as criaturas hão feito o mesmo. Investigando as revelações do céu com o egoísmo
que lhes é próprio, organizaram a justiça como o edifício mais alto do
idealismo humano. E, entretanto, coloco o amor acima da justiça do mundo e
tenho ensinado que só ele cobre a multidão dos pecados. Se nos prendemos à lei
de Talião, somos obrigados a reconhecer que onde existe um assassino haverá,
mais tarde, um homem que necessita ser assassinado ; com a lei do amor, porém,
compreendemos que o verdugo e a vítima são dois irmãos, filhos de um mesmo Pai.
Basta que ambos sigam isso para que a fraternidade divina afaste os fantasmas
do escândalo e do sofrimento.
***
Ante as elucidações do Mestre, os dois discípulos estavam
maravilhados. Aquela lição profunda esclarecia-os para sempre.
Tiago, então, aproximou-se e sugeriu a Jesus que
proclamasse aquelas verdades novas na pregação do dia seguinte. O Mestre dirigiu-lhe
um olhar de admiração e interrogou :
– Será que não compreendeste? Pois, se um doutor da lei
saiu daqui sem que eu lhe pudesse explicar toda a verdade, como queres que
proceda de modo contrario, para com a compreensão simplista do espírito
popular? Alguém constrói uma casa iniciando pelo teto o trabalho? Além disso,
mandarei mais tarde o Consolador, afim de esclarecer e dilatar os meus ensinos.
Eminentemente impressionados, André e Tiago calaram as
derradeiras interrogações. Aquela palestra particular, entre o Senhor e os
discípulos, permaneceria guardada na sombra leve da noite em Jerusalém; mas, a
lição a Nicodemos estava dada. A lei da reencarnação estava proclamada para
sempre, no Evangelho do Reino
Irmão X - Humberto de Campos - Do livro “Boa Nova”.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
RENASCE AGORA
"Aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino
de Deus." - Jesus. (João, 3:3)
A própria Natureza apresenta preciosas lições, nesse
particular. Sucedem-se os anos com matemática precisão, mas os dias são sempre
novos. Dispondo, assim, de trezentos e sessenta e cinco ocasiões de aprendizado
e recomeço, anualmente, quantas oportunidades de renovação moral encontrará a
criatura, no abençoado período de uma existência?
Conserva do passado o que for bom e justo, belo e nobre,
mas não guardes do pretérito os detritos e as sombras, ainda mesmo quando
mascarados de encantador revestimento.
Faze por ti mesmo, nos domínios da tua iniciativa pela
aplicação da fraternidade real, o trabalho que a tua negligência atirará
fatalmente sobre os ombros de teus benfeitores e amigos espirituais.
Cada hora que surge pode ser portadora de reajustamento.
Se é possível, não deixes para depois os laços de amor e
paz que podes criar agora, em substituição às pesadas algemas do desafeto.
Não é fácil quebrar antigos preceitos do mundo ou
desenovelar o coração, a favor daqueles que nos ferem. Entretanto, o melhor
antídoto contra os tóxicos da aversão é a nossa boa-vontade, a benefício
daqueles que nos odeiam ou que ainda não nos compreendem.
Enquanto nos demoramos na fortaleza defensiva, o adversário
cogita em enriquecer as munições, mas se descemos à praça, desassombrados e
serenos, mostrando novas disposições na luta, a ideia de acordo substitui, dentro
de nós e em torno de nossos passos, a escura fermentação de guerra.
Alguém te magoa? Reinicia o esforço da boa compreensão.
Alguém te não entende? Persevera em demonstrar intentos
mais nobres.
Deixa-te reviver, cada dia, na corrente cristalina e
incessante do bem.
Não olvides a assertiva do Mestre: - "Aquele que não
nascer de novo não pode ver o Reino de Deus."
Renasce agora em teus propósitos, deliberações e
atitudes, trabalhando para superar os obstáculos que te cercam a alcançando a
antecipação da vitória sobre a ti mesmo, no tempo...
Mais vale auxiliar, ainda hoje, que ser auxiliado amanhã.
(De “Fonte Viva”, de Francisco Cândido Xavier, pelo
Espírito Emmanuel)
EVOLUÇÃO E APRIMORAMENTO
Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade, digo-te:
Ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo. -JESUS - JOAO, 3: 3.
“A reencarnação é
a volta da alma ou Espírito à vida corpórea,
mas em outro corpo especialmente formado para ele e que nada
tem de comum com o antigo. Cap. IV, 4.
Decididamente, em
nome da Eterna Sabedoria, o homem é o senhor da evolução na Terra.
Todos os elementos
se lhe sujeitam à discrição.
Todos os reinos do
planeta rendem-lhe vassalagem.
Montanhas
ciclópicas sofrem-lhe a carga de explosivos, transfigurando-se em matéria-prima
destinada A edificação de cidades prestigiosas.
Minérios por ele
arrancados às entranhas do globo, suportam-lhe os fornos incandescentes, a fim
de lhe garantirem utilidade e conforto.
Rios e fontes
obedecem-lhe as determinações, transferindo-se de leito, com vistas à fertilização
da gleba sedenta.
Florestas
atendem-lhe a derrubada, favorecendo o progresso.
Animais, ainda
mesmo aqueles de mais pujança e volume, obedecem-lhe as ordens, quedando-se
integralmente domesticados.
A eletricidade e o
magnetismo plasma-lhe os desejos.
E o próprio átomo,
síntese de força cósmica, descerra-lhe os segredos, aceitando-lhe as rédeas.
Mas não é só no
domínio dos recursos materiais que o homem governa, soberano.
Ele pesquisa as
reações populares e comanda a política; investiga os fenômenos da natureza e
levanta a ciência; estuda as manifestações do pensamento e cria a instrução;
especializa o trabalho e faz a indústria; relaciona as imposições do comércio e
controla a economia.
Claramente, nós,
os espíritos em aperfeiçoamento, no aperfeiçoamento terrestre, conseguimos
alterar ou manobrar as energias e os seres inferiores do orbe a que transitoriamente,
nos ajustamos, e do qual nos é possível catalogar os impróprios da luz
infinita, estuantes no Universo.
A face disso, não
obstante sustentados pelo Apoio Divino, nas lides educativas que nos são necessárias,
o aprimoramento moral corre por nossa conta.
O professor
ensina, mas o aluno deve realizar-se.
Os espíritos
superiores nos amparam e esclarecem, no entanto, é disposição da.
Lei que cada
consciência responda pelo próprio destino.
Meditemos nisso,
valorizando as oportunidades em nossas mãos.
Por muito alta que
seja a quota de trabalho corretivo que tragas dos compromissos assumidos em
outras reencarnações, possuis determinadas sobras de tempo, -do tempo que é
patrimônio igual para todos, e, com o tempo de que dispões, basta usares
sabiamente a vontade, que tanta vez manejamos para agravar nossas dores, a fim
de te consagrares ao serviço do bem e ao estudo iluminativo, quando quiseres,
como quiseres, onde quiseres e quanto quiseres, melhorando-te sempre
Emmanuel - Psicografia : Francisco Cândido Xavier - Livro
: Livro da Esperança
INSTITUTO DE TRATAMENTO
“O que é nascido
da carne é carne e o que é nascido do Espírito é espírito.” JESUS - JOAO, 3: 6.
“Os laços de
família não sofrem destruição alguma com a reencarnação, como o pensam certas
pessoas. Ao contrário, tornam-se mais fortalecidos e apertados. O principio
oposto, sim, os destrói.’ - Cap. IV, 18.
Atingindo o Plano
Espiritual, depois da morte, sentimentos indefiníveis nos senhoreiam o coração.
Nos recessos do
espírito, rebentam mágoas e júbilos, poemas de ventura e gritos de aflição,
cânticos de louvor pontilhados de fel e brados de esperanças que se calam, de
súbito, no gelo do sofrimento.
Rimos e choramos,
livres e presos, triunfantes e derrotados, felizes e desditosos...
Bênçãos de
alegria, que nos clareiam.
pequeninas
vitórias alcançadas, desaparecem, de pronto, no fundo tenebroso das quedas que
nos marcaram a vida.
Suspiramos pela
ascensão sublime, sedentos de comunhão com as entidades heróicas que nos
induzem aos galardões fulgentes dos cimos, todavia, trazemos o desencanto das
aves cativas e mutiladas.
Ao invés de asas,
carregamos grilhões, na penosa condição de almas doentes...
Na concha da
saudade, ouvimos as melodias que irrompem das vanguardas de luz, entretecidas
na glória dos bem-aventurados. no entanto, austeras admoestações nos, chegam da
Terra pelo sem-fio da consciência...
Nas faixas do
mundo somos requisitados pelas obrigações não cumpridas.
Erros e deserções
clamam dentro de nós, pedindo reparos justos...
Longe das esferas
superiores que ainda não merecemos e distanciados das regiões positivamente
inferiores em que nossas modestas aquisições evolutivas encontraram inicio,
concede-nos, então, a Providência Divina,, o refúgio do lar, entre as sombras
da Terra e as rutilâncias do Céu, por instituto de tratamento, em que se nos
efetive a necessária restauração.
É assim que
reencarnados em nova armadura física, reencontramos perseguidores e
adversários, credores e cúmplices do pretérito, na forma de parentes e
companheiros para o resgate de velhas contas.
Nesse cadinho
esfervilhante de responsabilidades e inquietações, afetos renovados nos chamam
ao reconforto, enquanto que aversões redivivas nos pedem esquecimentos...
A vista disso, no
mundo, por mais atormentado nos seja o ninho familiar abracemos nele a escola
bendita do reajuste onde temporariamente exercemos o oficio da redenção.
Conquanto
crucificados em suplícios anônimos atados a postes de sacrifício ou
semi-asfixiado no pranto desconhecido das grandes humilhações, saibamos
sustentar-lhe a estrutura moral, entendendo e servindo, mesmo à custa de
lágrimas, porque é no lar, esteja ele dependurado na crista de arranha-céus, ou
na choça tosca de zinco, que as leis da vida nos oferecem, as ferramentas de
amor e da dor para a construção e reconstrução do próprio destino
entregando-nos, de berço em berço, ao carinho de Deus que verte inefável, pelo
colo das mães.
Emmanuel - Extraído do livro " O Livro da
Esperança" - Psicografado por FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
VIDAS SUCESSIVAS
"Não te maravilhes de te haver dito: Necessário vos
é nascer de novo. "Jesus. (JOÃO, 3:7.)
A palavra de Jesus a Nicodemos foi suficientemente clara.
Desviá-la para interpretações descabidas pode ser
compreensível no sacerdócio organizado, atento às injunções da luta humana, mas
nunca nos espíritos amantes da verdade legítima.
A reencarnação é lei universal.
Sem ela, a existência terrena representaria turbilhão de
desordem e injustiça; à luz de seus esclarecimentos, entendemos todos os
fenômenos dolorosos do caminho.
O homem ainda não percebeu toda a extensão da
misericórdia divina, nos processos de resgate e reajustamento.
Entre os homens, o criminoso é enviado a penas cruéis,
seja pela condenação à morte ou aos sofrimentos prolongados.
A Providência, todavia, corrige, amando...
Não encaminha os réus a prisões infectas e úmidas.
Determina somente que os comparsas de dramas nefastos troquem a vestimenta carnal
e voltem ao palco da atividade humana, de modo a se redimirem, uns à frente dos
outros.
Para a Sabedoria Magnânima nem sempre o que errou é um
celerado, como nem sempre a vítima é pura e sincera. Deus não vê apenas a
maldade que surge à superfície do escândalo; conhece o mecanismo sombrio de
todas as circunstâncias que provocaram um crime.
O algoz integral como a vítima integral são desconhecidos
do homem; o Pai, contudo, identifica as necessidades de seus filhos e reúne-os,
periodicamente, pelos laços de sangue ou na rede dos compromissos edificantes,
a fim de que aprendam a lei do amor, entre as dificuldades e as dores do
destino, com a bênção de temporário esquecimento.
Francisco Cândido Xavier: Caminho, Verdade e Vida. Emmanuel.
NA ESFERA DO REAJUSTE
“Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de
novo”– Jesus (JOÃO, 3:7)
Empeços e provações serão talvez os marcos que te
assinalem a estrada hoje.
Diligenciemos, porém, com a reencarnação a retificar os
erros e a ressarcir os débitos de ontem, para que a luz da verdade e o apoio da
harmonia nos felicitem o caminho, amanhã...
A questão intrincada que te apoquenta agora, quase
sempre, é o problema que abandonaste sem solução entre os amigos que, em outro
tempo, se rendiam, confiantes, ao teu arbítrio.
O parente complicado que julgas carregar, por espírito de
heroísmo, via de regra, é a mesma criatura que, em outra época, arrojaste ao
desespero e à perturbação.
Ideais nobilitantes pelos quais toleras agressões e
zombarias, considerando-te incompreendido seareiro do progresso, em muitas
ocasiões, são aqueles mesmos princípios que outrora espezinhaste, insultando a
sinceridade dos companheiros que a eles se associavam.
Calúnias que arrostas, crendo-te guindado aos píncaros da
virtude pela paciência que evidencias, habitualmente nada mais são que o
retorno das injúrias que assacaste, noutras eras, contra irmãos indefesos.
Falhas do passado procuram-te responsável, no corpo, na
família, na sociedade ou na profissão, pedindo-te reajuste.
“Necessário vos é nascer de novo” – disse-nos Jesus.
Bendizendo, pois, a reencarnação, empenhemo-nos a
trabalhar e aprender, de novo, com atenção e sinceridade, para que venhamos a
construir e acertar em definitivo.
Livro Palavras de Vida Eterna –Francisco Cândido Xavier –
Espírito Emmanuel.
ANTE O LIVRE ARBÍTRIO
“Nada te admires
de que eu te haja dito ser preciso que nasças de novo.” JESUS JOAO, 3:7.
“Não há, pois, duvidar
de que sob o nome de ressurreição o princípio da reencarnação era ponto de uma
dos crenças fundamentais dos judeus, ponto que Jesus e as profetas confirmaram
de modo formal; donde se segue que negar a reencarnação é negar as palavras do
Cristo.” Cap. IV, 16.
Surgem, aqui e ali, aqueles que negam o livre arbítrio,
alegando que a pessoa no mundo é tão independente, quanto o pássaro no alçapão.
E, justificando a
assertiva, mencionam a junção compulsória do espírito ao veículo carnal, os
constrangimentos da parentela, as convenções sociais, as preocupações
incessantes na preservação da energia corpórea, as imposições do trabalho e a
obediência natural aos regulamentos constituídos para a garantia da ordem
terrestre, esquecendo-se de que não há escola sem disciplina Certamente, todos
os patrimônios da civilização foram erigidos pelas criaturas que usaram a
própria liberdade na exaltação do bem, no entanto, para fixar as realidades do
livre arbítrio examinemos o reverso do quadro.
Reflitamos, ainda
que superficialmente, em nossos irmãos menos felizes, para recolher- lhes a
dolorosa lição.
Pensemos no
desencanto daqueles que amontoaram moedas, por longo tempo, acumulando o suor
dos semelhantes, em louvor da própria avareza, e sentem a aproximação da morte,
sem migalha de luz que lhes mitigue as aflições nas trevas...
Imaginemos o suplício
dos que trocaram veneráveis encargos por fantasiosos enganos, a despertarem no
crepúsculo da existência, qual se fossem arremessados, sem perceber à secura
asfixiante de escabroso deserto.
Ponderemos a
tortura dos que abusaram da inteligência, reconhecendo, à margem da sepultura,
os deprimentes resultados do desprezo com que espezinharam, a dignidade
humana...
Consideremos o
martírio dos que desvirtuaram a fé religiosa, anulando-se no isolamento
improdutivo, ao repararem, no término da estância terrestre, que apenas
disputaram a esterilidade do coração.
Meditemos no
remorso dos que se renderam it delinquência, hipnotizados pela falsa adoração a
si mesmos, acordando abatidos e segregados no fundo das penitenciárias de
sofrimento.
Ninguém pode negar
que todos eles, imanizados ao cativeiro da angústia, eram livres...
Conquanto os
empeços do aprendizado na experiência física, eram livres para construir e
educar, entender e servir.
Eis porque a
Doutrina Espírita fulge, da atualidade, diante da mente humana, auxiliando-nos
a descobrir os Estatutos Divinos, funcionando em nós próprios, no foro da
consciência, a fim de aprendermos, que a liberdade de fazer o que se quer está
condicionada, à liberdade de fazer o que se deve.
Estudemos os
princípios da reencarnação, na lei de causa e efeito, A luz da justiça e da
misericórdia de Deus e perceberemos que mesmo encarcerados agora em
constringentes obrigações, estamos intimamente livres para aceitar com respeito
e humildade as determinações da vida, edificando o espírito de trabalho e
compreensão naqueles que nos observam e nos rodeiam, marchando, gradativamente,
para a nossa emancipação integral, desde hoje.
Emmanuel - Psicografia : Francisco Cândido Xavier - Livro
: Livro da Esperança
ORIENTADORES DO MUNDO
"Respondeu-lhe Jesus: És mestre em Israel e não
sabes isto?" - (JOÃO, 3:10.)
É muito comum nos círculos religiosos, notadamente nos
arraiais espiritistas, o aparecimento de orientadores do mundo, reclamando
provas da existência da alma.
Tempo virá em que semelhantes inquirições serão
consideradas pueris, porque, afinal, esses mentores da política, da educação,
da ciência, estão perguntando, no fundo, se eles próprios existem.
A resposta de Jesus a Nicodemos, embora se refira ao
problema da reencarnação, enquadra-se perfeitamente ao assunto, de vez que os
condutores da atualidade prosseguem indagando sobre realidades essenciais da
vida.
Peçamos a Deus auxilie o homem para que não continue
tentando penetrar a casa do progresso pelo telhado.
O médico leviano, até que verifique a verdade espiritual,
será defrontado por experiências dolorosas no campo das realizações que lhe
dizem respeito. O professor, apenas teórico, precipitar-se-á muitas vezes nas
ilusões. O administrador improvisado permanecerá exposto a erros tremendos, até
que se ajuste à responsabilidade que lhe é própria.
Por esse motivo, a resposta de Jesus aplica-se, com
acerto, às interrogações dos instrutores modernos. Transformados em
investigadores, dirigem-se a nós outros, muita vez com ironia, reclamando a
certeza sobre a existência do espírito; entretanto, eles orientam os outros e
se introduzem na vida dos nossos irmãos em humanidade. Considerando essa
circunstância e em se tratando de problema tão essencial para si próprios, e
razoável que não perguntem, porque devem saber.
Emmanuel - Do livro "Caminho, Verdade e Vida", de
Chico Xavier
COLÓQUIO DE JESUS COM NICODEMOS
“Havia um homem dentre os fariseus, chamado Nicodemos,
principal entre os judeus; este foi ter com Jesus à noite e disse-lhe: Rabi,
sabemos que és mestre vindo da parte de Deus; pois ninguém pode fazer estes
milagres que tu fazes, se Deus não estiver com ele, Jesus respondeu-lhe: Em
verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o
Reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer sendo velho?
pode porventura; entrar novamente no ventre de sua mãe e nascer? Respondeu
Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer da água e do
Espírito, não pode entrar no Reino de Deus; O que é nascido da carne é carne, o
que é nascido do Espírito é Espírito. É-vos necessário nascer de novo. O vento
sopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai:
assim é todo aquele Que é nascido do Espírito. Como pode ser isso?
perguntou-lhe Nicodemos. Respondeu-lhe Jesus: Tu és mestre em Israel e não
entendes estas coisas? Em verdade, em verdade te digo que falamos o que sabemos
e testificamos o que temos visto e não recebeis o nosso testemunho. Se vos tenho
falado das coisas terrenas, e não me credes, como me crereis, se vos falar das celestiais?
Ninguém subiu ao Céu, se não aquele que desceu do Céu, a saber, o Filho do
Homem. Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do
Homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna.”(João,
III, 1-15.)
Este Evangelho prega o encontro de Jesus com Nicodemos:
ou por outra, a visita que Nicodemos fez ao Nazareno, à noite.
Vamos estudá-lo em sua simplicidade edificante e procuremos
compreendê-lo, porque do seu conhecimento nos vem uma soma considerável de
luzes e verdades.
Diz o trecho que: “Havia um homem dentre os fariseus,
chamado Nicodemos, principal entre os judeus e este foi ter, à noite, com
Jesus.”
Os fariseus eram, como foi descrito no capítulo,
“Fermento dos Fariseus e Saduceus”, um grupo muito grande indivíduos, que
formavam uma Religião, como atua mente é grande o número de pessoas que compõem
a Religião de Roma.
Entretanto, quanto à pessoa deste chefe do farisaísmo,
não era um homem mau, ao contrário, dentre todos os sacerdotes dessa religião, dois
salienta o Evangelho que se mostraram tolerantes para com a palavra de Jesus Cristo.
Um era Gamaliel, que foi mestre de Paulo, antes que este apóstolo se tornasse
cristão; e o outro foi Nicodemos.
Mas vós sabeis que o orgulho, o respeito humano o preconceito
constituem embaraços muito grandes para a nossa espiritualização, para nos
aproximarmos de Jesus.
Nicodemos era, pois, um homem bom, e, por esse motivo,
desejava imensamente encontrar-se com Jesus, para conversar com o Mestre sobre
assunto religioso, porque tivera notícias das pregações do Nazareno e das curas
que ele fazia.
Mas como era rico, principal entre os judeus, era “mestre
da religião farisaica”e não queria que o povo os outros sacerdotes da sua seita
soubessem dos seus desejos mais íntimos; e para que tudo ficasse escondido, em
reserva, resolveu procurar Jesus à noite, porque assim ninguém ficaria sabendo
da visita.
Por isso diz o Evangelista João: Nicodemos “foi ter com
Jesus à noite.
Em chegando à casa onde o Mestre estava hospedado, que
era na cidade de Jerusalém, por ocasião de uma festa de Páscoa, que os Judeus
celebravam, o “principal fariseu” entabulou conversação com Jesus, dizendo-lhe:
“Rabi, sabemos que és mestre, vindo da parte de Deus, pois ninguém pode fazer
estes milagres que fazes, se Deus não estiver com ele.”
Por esta saudação, vós podeis perfeitamente compreender
que Nicodemos não era um descrente, ou inimigo de Jesus; ao contrário, era um
crente nos milagres operados por Jesus, que consistiam, quase que totalmente,
em curas de enfermos diversos.
Quanto, pois, a essa parte que se relaciona com os fatos
produzidos pelo
Nazareno, Nicodemos neles acreditava, portanto em
desacordo com os demais sacerdotes da sua “religião”; enquanto estes diziam que
Jesus agia sob a influência do Diabo, Nicodemos cria piamente que a influência
que assistia o Nazareno era divina; tanto assim que ele diz: Ninguém pode fazer
estes milagres que tu fazes, se Deus não estiver com ele. O que faltava pois a
Nicodemos para se tornar cristão, para seguir a Jesus? Desde que ele acreditava
nos fatos, nos fenômenos, como os chamamos hoje; desde que achava que esses
fatos eram autorizados por Deus, não os atribuindo à origem diabólica, por que
não se apresentou logo como um dos discípulos do
Nazareno?
Isto quer dizer que não basta crer nos milagres, nos
fatos, nas curas que assinalam, por certa forma, o Cristianismo, para sermos
cristãos.
Precisamos também crer na palavra, na doutrina que Jesus
pregava.
Em nosso tempo, como vemos, a maioria do povo também crê
nos fenômenos, nas curas, e muitos são os que pedem remédios para a cura de
suas enfermidades; são milhares os Nicodemos que, às ocultas, desejam conversar
sobre Espíritos, sobre as almas, e que procuram saber a razão das causas que os
determinam, mas, também como Nicodemos, continuam filiados às suas religiões,
que amaldiçoam a legítima doutrina de Jesus, hoje, como os fariseus
amaldiçoavam a mesma doutrina, ontem.
Não basta crer nos fatos; é preciso compreendê-los depois
de os haver estudado.
Não basta dizer que os fatos vêm de Deus, é preciso saber
como eles vêm de Deus. E para chegar ao conhecimento desses fatos, temos de
estudar justamente o que Jesus fazia questão que fosse estudado, ou seja, a
Vida Eterna.
O ponto principal das pregações de Jesus era a Vida
Eterna.
Em torno da Vida Eterna é que sempre giravam os
maravilhosos conceitos da sua filosofia, da sua doutrina de verdadeira fé, de
amor puro e imaculado.
Todas as sentenças de Jesus eram luzes, iluminando a Vida
Eterna, a Vida Imortal.
No Sermão do Monte, o Mestre, para consolar os
sofredores, os humildes, os perseguidores, os mansos de coração, nada lhes dá,
presentemente, senão a certeza da felicidade na Imortalidade, e, por certa
forma, se esforça para que todos esses que
choravam e viviam coagidos e famintos tivessem certeza absoluta da
Imortalidade, dessa vida do além que é a Vida Eterna, na qual seriam todos
fartos e providos de tudo o que necessitassem se ouvissem e cressem na sua
Palavra.
Nicodemos, como se vê no texto do Evangelho, embora não
fosse mau homem, estava tão impregnado dos ensinamentos da Religião Farisaica,
consistentes quase que só em cultos e práticas exteriores, que vacilava a respeito
da outra vida, duvidava que o homem, depois de morto o corpo, pudesse continuar
a viver, e que houvesse, de
fato, uma vida real além do túmulo.
Jesus conhecia essa parte fraca de Nicodemos, e foi por
isso que, logo após a saudação do “primaz dos judeus”, disse: Em verdade, em
verdade te digo, que se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de
Deus.
Estas primeiras palavras, ditas assim de supetão ao
sacerdote de uma religião que se dizia a única verdadeira, tem profunda significação
para aqueles que desejam estudar, conhecer e seguir a Religião de Jesus Cristo.
Assim como a criança recém-nascida não tem religião
alguma, não está presa a nenhuma doutrina e nenhum conhecimento tem de coisa
alguma, assim também devem colocar-se aqueles que querem estudar a Religião de
Jesus Cristo, porque a alma, estando cheia de religião antiga, que foi obrigada
a receber por doação dos ascendentes, não pode receber a Religião do Cristo,
assim como uma casa que está habitada por uma família não tem lugar para receber
outra família ou outros moradores.
Jesus, dizendo a Nicodemos: Se alguém não nascer de novo,
não pode ver o Reino de Deus, disse antecipadamente ao “primaz dos judeus” que,
fosse quem fosse, não alcançaria a graça do Reino de Deus se continuasse preso
ao Reino do mundo, no qual prevalecem as doutrinas dos sacerdotes, as doutrinas
e religiões de invenção
humana.
Precisava, primeiro de tudo, sair desse reinado, deixar
essa obediência, pôr de lado todos esses dogmas, todos esses sacramentos, todos
esses cultos, todos esses falsos ensinos, e tornar-se ignorante como uma
criança que nasce de novo.
Assim como uma criança nasce para este mundo, tendo vindo
do outro e nada se lembrando desse outro mundo donde veio, assim também o homem
deve deixar aquela religião arcaica, na qual vive sem conhecer a verdade e sem
ter consolação de espécie alguma, para depois aprender o que o Cristo Jesus
está ensinando.
Por outras palavras: pôr de lado todo espírito
preconcebido, todo orgulho de saber, todo egoísmo de virtudes, toda presunção
de estar de posse da verdade; porque o “camelo” assim carregado não pode entrar
no Reino do Céu.
Acresce ainda outra circunstância: ninguém pode carregar
dois pesos; embora a doutrina de Jesus seja leve o “camelo” sobrecarregado e quase
sem poder andar com tanta carga, não a suportará; assim como não se podem impor
a quem quer que seja dois jugos. O boi, que tem um jugo que já lhe molesta
muito o pescoço, que sangra e caleja, não admitirá mais outro jugo, embora seja
suave como a palavra do Mestre, pois em última hipótese, ele não ficará sabendo
qual o jugo que lhe pesa; por isso, assim como o camelo precisa alijar uma
carga, para tomar a si outro fardo; assim como o boi precisa libertar-se do jugo
que o oprime, para atrelar-se a outro jugo, assim também o homem precisa atirar
para longe de si todas as crenças velhas que lhe pesam na consciência e lhe
oprimem a alma, para receber a Religião amorosa de Jesus, que, como disse o
Mestre, não pesa, é suave e agradável de ser carregada.
É este o primeiro nascimento que Jesus proclamou como
condição de Salvação para todas as criaturas humanas, e especialmente para os
sacerdotes de todas as religiões humanas, mesmo porque Jesus falava naquela
ocasião a um religioso que era sacerdote e principal representante de
religiosos e sacerdotes dessas religiões.
Pelo que se depreende da nova pergunta de Nicodemos a
Jesus, já se pode concluir: ele, não lhe convindo nascer de novo por esta forma
— abandonar sua seita, seus dogmas, seus cultos, suas honras, suas vaidades,
seus preconceitos — fingiu não entender a palavra, a ordem expressa do Redentor
do Mundo.
E então muito admirado por haver o Mestre proferido tal
sentença, perguntou:
“Como pode o homem nascer, sendo velho? Pode, porventura,
entrar novamente no ventre materno e renascer?”
Ao que Jesus lhe respondeu: “Em verdade, em verdade te
digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino
de Deus; o que é nascido da carne é carne; o que é nascido do Espírito é Espírito.
Não te maravilhes de eu te dizer: necessário vos é nascer de novo.”
Por este trecho vemos, bem claro, que as condições de
salvação impostas por Jesus são duas: “nascer da água e nascer do Espírito”.
Vamos analisar a primeira proposição: “nascer da água”
Que pretende o Mestre dizer com isto: “nascer da água?”
Não pode ser outra coisa senão: nascer neste mundo, com
um corpo carnal; pois todos os corpos orgânicos e inorgânicos são, em última
análise, produtos da água.
Sem água em nosso mundo não haveria nascimento,
crescimento e vida.
Tudo nasce da água, tudo vive da água; os peixes nos
mares, nos lagos e nos rios, donde vem? Da água. Os animais nos campos e nas
matas, donde vêm, senão da água?
Os pássaros que perambulam na Terra e voam nos ares, não
é da água que vêm?
Até as ervas nascem da água!
Plantai uma semente ou um galho, uma muda; deixai-os sem
água e eles não nascerão. Tirai os peixes das águas e eles morrerão. Os animais
dos campos, das matas; os pássaros rasteiros e dos ares; os homens das roças e
das cidades, todos eles, sem água, não nasceriam, não cresceriam, não viveriam
porque a água é condição de vida para os corpos, e até nosso próprio corpo contém
três quartas partes de água, com a qual se alimenta, vive, cresce e se nutre.
Água por dentro, água por fora; e até a própria criança
no ventre materno não dispensa a água que a envolve e lhe dá vida.
É da água que vem tudo; portanto, “nascer da água” não
quer dizer outra coisa, senão nascer neste mundo com corpo da natureza que é
peculiar ao gênero humano.
Notai! o trecho do Evangelho é bem claro: “nascer da
água”.
Explicação mais clara do que esta, nem mesmo a água, por
mais límpida e cristalina que seja.
Não é preciso pedir emprestado o dogma do batismo das
Igrejas, para explicar uma coisa que o próprio Evangelho, que é a Palavra de
Jesus, ensina e explica com toda a clareza.
Aqueles que vêm a este mundo e ficam imbuídos dessas
crenças irrisórias, crenças que nada ensinam, que nada explicam, e que, tendo
empanados os olhos por esses cultos e sacramentos sacerdotais chegam a ponto de
só crerem nesta vida; descreem completamente da Vida Eterna, da Vida do Espírito,
da Vida no Espaço, da
Imortalidade, como aconteceu com Nicodemos, que não
compreendia a Palavra do Mestre; só poderão salvar-se e entrar no Reino de Deus
morrendo, para verem face a face a Vida Eterna, a Imortalidade, e depois
voltarem a este mundo, “nascendo da água com um corpo de carne”, fazendo-se
crianças para então, sem preconceitos, sem vaidades, sem orgulho, estudarem a
doutrina de Jesus e receberem essa chave com a qual se abre a porta do Reino do
Céu.
Vamos passar agora à segunda condição de salvamento:
“nascer do Espírito”.
Como atrás ficou explicado, segundo os dizeres de Jesus,
há necessidade de nascer da água, para entrar no Reino de Deus isto é, é preciso
entrar na vida material, na vida carnal, justamente esta vida em que vivemos
com um corpo de carne.
Mas como esta vida não é bastante para efetuarmos a nossa
ascensão para a felicidade, mesmo neste mundo, Deus nos facultou, como premissa
da Vida Eterna, a Espiritual, a Vida Moral, porque o homem não vive só do
corpo, não vive só de pão.
Esta Vida Espiritual não é uma coisa visível, pois afeta
somente o nosso Eu íntimo, o nosso Espírito que também é invisível.
É uma vida interior que sentimos, proclamada por todos os
povos, por todos os códigos de Moral e esboçada maravilhosamente por Jesus
Cristo no seu Evangelho.
É nesta vida que se manifestam os prazeres e os
sofrimentos, também invisíveis. De um lado: as virtudes, a santidade, a paz de
consciência, a alegria de coração; de outro: as paixões más, o remorso, a
tristeza.
Dizendo Jesus: “forçoso é nascer do Espírito”, chamou a
atenção de Nicodemos para esta Vida interior, a fim de que ele ficasse sabendo
que, sendo ele, Jesus, portador de um Espírito novo, que deve normalizar em
todas almas a Vida do Espírito, todos os que quiserem entrar no Reino de Deus
precisam nascer desse Espírito, viver nesse Espírito; assim como os que entram
na vida carnal, nascem da água e vivem da água.
O nascimento, tanto da água como do Espírito, é
indispensável. Não é bastante nascer da água, não basta tomar , corpo de carne
neste mundo e nascer aqui, não basta s encarnarmos aqui nesta Terra,
precisamos, principalmente,
“nascer do Espírito”; por isso o Mestre acrescentou no
versículo 6: O que é nascido da carne é carne; o e é nascido do Espírito é
Espírito.
Quando visitou o Mestre, Nicodemos já havia “nascido da
água”, mas não havia nascido do Espírito; por isso Jesus lhe disse: “0 que é
nascido da carne, é carne”, ler dizer: “aquele que só no mundo terreno vê meio
de nascimento e de vida”, é material, porque ainda não percebeu que o homem não
é somente carne, é também Espírito; e assim como o homem tem corpo material e
espiritual, existe também Mundo Material e Mundo Espiritual.
Nicodemos permanecia boquiaberto e admirado diante de
Jesus, pois não compreendia a Doutrina Nova que o Nazareno lhe pregava; Jesus
insiste, afirmando: “Não te maravilhes de eu te dizer, necessário vos é nascer
de novo. O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde ele vem,
nem para onde vai: assim é todo aquele que é nascido do Espírito.”
Esta lição vem confirmar mais uma vez a primeira sentença
pronunciada pelo Mestre, logo que Nicodemos o saudou: Em verdade te digo que se
alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
Jesus insiste com Nicodemos para que ele se torne como
uma criança, que não sabe donde veio, nem para onde vai; e fez uma comparação
do conhecimento que temos sobre o vento: “Sabemos que o vento existe porque
ouvimos a sua voz, seu ruído, seu sussurro; mas não sabemos donde ele vem, nem
para onde vai.”
Nicodemos acreditava que o Espírito vinha de Adão e Eva e
que de lá todos descendiam; e que, ao sair deste mundo, iria para o Seio de
Abraão ou para a Geena.
Acreditava assim, porque assim eram os artigos de fé da
Religião Farisaica, da qual era sacerdote; mas Jesus afirmou não ser verdadeira
essa crença, quando disse: “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não
sabes donde ele vem, nem para onde vai”: assim é aquele que é nascido, que
acaba de nascer do Espirito; abjura essas crenças falsas, caducas, e fica
crendo só no Espírito, embora não saibas donde vem, nem para onde vai; porque
depois, com vagar, aprenderás; o camelo estando descarregado e o boi sem jugo,
fácil lhes será receber o fardo leve e o jugo suave, prometido e oferecido por
Jesus a todos os que se acham prontos para o trabalho.
Mas Nicodemos, por mais que Jesus explicasse, não
encontrava meios de compreender; ou então fingia não compreender; porque lhe
era preciso abandonar as crenças velhas de sua religião, que lhe tentavam dizer
donde ele vinha e para onde ia, embora o próprio Nicodemos não cresse nas
afirmativas falsas da Religião de que era sacerdote.
E continuando a manifestar admiração, vira-se para Jesus
e pergunta: “Como pode ser isto?”, ao que o Mestre lhe respondeu: “Tu és Mestre
em Israel e não entendes estas coisas? Se vos falei de coisas terrestres, e não
restes, como crereis, se vos falar das celestiais?”
Por sua vez, Jesus se mostra admirado por não compreender
Nicodemos a sua Palavra tão clara. “Tu és Mestre, tu ensinas os outros e não
entendes isto que te estou ensinando? Se eu somente estou falando daquilo que
podes ver com teus olhos, e que todos podem observar todos os dias — Se eu te mostro
os Espíritos nascendo em corpos, e os corpos nascendo da água: falo-te de coisas
que qualquer pessoa pode saber, porque são coisas que se vêem sempre, bastando
só prestar atenção, e tu não entendes; como poderei falar-te das coisas
celestiais., que ninguém pode ver com os olhos da carne, e que se acham ocultas
ao homem que só é nascido da carne? Jesus prosseguiu: Nós falamos o que sabemos
e testificamos o que temos visto; assim acontece com o que acabo de dizer-te; e
não recebes meu testemunho; esse próprio testemunho que está diante de tuas
vistas; como poderei falar-te daquilo que
não está ao alcance de tua vista?
Terminou Jesus lembrando a Nicodemos uma passagem das
Escrituras, que diz haver Moisés levantado uma serpente, no deserto, por
ocasião em que os israelitas atravessaram certa região, depois da saída do Egito,
onde proliferavam víboras peçonhentas, cujas picadas matavam instantaneamente.
Todos aqueles que olhavam a
Serpente de Bronze não sofriam mal, embora fossem picados
pelas víboras.
É que a Ele, Jesus, importava também sofrer todas as
injustiças, todo o repúdio dos homens, ser levantado, ser crucificado; porque
assim a sua vida seria um exemplo luminoso da doutrina que Ele pregava, e todos
aqueles que e tornassem crentes nas suas palavras, teriam a Vida Eterna, ou
seja, não ficariam limitados, como estão os demais homens, à vida terrena, como
o próprio Nicodemos estava.
Livro: Parábolas e Ensinos de Jesus -Cairbar Schutel
“AS TRAVESSURAS DE
POMPOM”
Pompom era um lindo pintinho, mas causava muita
preocupação à mamãe Pena Branca. Sabem por quê?… Porque era muito travesso! E
pior ainda, esquecia-se dos conselhos da mãezinha rapidamente. Por isso mesmo,
aconteciam-lhe muitas coisas.
Certa vez, caiu numa valeta recém-aberta, molhando-se até
os ossos. Outra vez, quase ficou nas unhas afiadas de Dona Gata Brava, por ter
ido implicar com os seus gatinhos.
Dona Pena Branca andava muito triste com Pompom. E dizia
sempre:
– Meu filho, por que não escuta meus conselhos. Você não
me atende… Um dia você vai se arrepender por não escutar os conselhos de quem
te quer tão bem.
De fato, mamãe tinha razão, pois esse dia chegou. Sabem
quando?
Foi numa tarde muito quente, logo depois do meio dia.
– Cloc, cloc… – falou, dona Pena Branca – vamos dormir um
pouco. Está muito calor… Ninguém vai sair.
E, assim dizendo, aninhou-se logo, cercada de seus
pintinhos.
Dentro de poucos segundos, toda família dormia. Aliás,
quase toda! Porque Pompom estava bem acordado, embora estivesse com os olhinhos
fechados. O travesso pintinho pensava:
Não gosto de dormir… Só de passear… Por que mamãe não
quer que a gente saia?… Apenas uma voltinha… Não há mal nenhum…
Pompom não aguentou mais. Levantou-se e saiu a passear.
Os bichinhos estavam todos dormindo…
“Por essa eu não
esperava – pensou – também, está fazendo tanto sol”…
Pompom já estava muito cansado, quando avistou uma
árvore. Mais que depressa, correu para ela.
– Uff! Que calor!… Encontrei bem a tempo esta sombrinha!
E aninhou-se embaixo da árvore, bem junto ao tronco.
Estava tão cansado que, não demorou muito, começou a piscar, a piscar… até que
adormeceu profundamente.
Mas aí aconteceu o pior: Pompom foi aninhar-se justamente
sobre a saída do reino de Dona Formiga Amarela.
Ora, as formigas tinham de sair para o trabalho do dia e
lá estava o pintinho bem na abertura do túnel.
Que fez então Dona Formiga Amarela?… Nada mais do que
isto: reuniu todas as formigas e deu ordem:
– Atenção, pelotão! Marchar! Atacar! Já!
Pompom acordou com uma dor aguda em todo o corpo…
Sonolento, ainda, abriu os olhos e logo saiu às pressas, piando, piando,
piando, tal a quantidade de picadas que recebeu.
Pompom chegou correndo em casa assustando a todos. Mas
mamãe Pena Branca logo viu que a dor horrível de que ele se queixava era
consequência das picadas das formigas.
Resultado: Pompom inchou tanto, tanto, que não podia
andar direito. Tinha de ficar horas e horas de molho numa salmoura… E durante
muito tempo escondeu-se de todos, tão feinho que estava.
Mas a lição foi boa, pois parece que Pompom está mais
atento aos conselhos de mamãe Pena Branca que anda agora mais despreocupada e
mais feliz.
http://www.dij.febnet.org.br/crianca/
O PROBLEMA DA TENTAÇÃO
O educador, em aula, tentava explicar aos meninos que o
móvel das tentações reside em nós mesmos; contudo, como os aprendizes mostravam
muita dificuldade para compreender, ele se fez acompanhar pelos alunos até ao
grande pátio do colégio.
Aí chegando, mandou trazer uma bela espiga de milho e
perguntou aos rapazes:
- Qual de vocês desejaria devorar esta espiga tal como
está?
Os jovens sorriram, zombeteiramente, e um deles exclamou:
- Ora vejam!... quem se animaria à comer milho cru?
O professor então mandou vir a presença deles um dos
cavalos que serviam à escola, instalou alguns obstáculos à frente do animal e
colocou a espiga ao dispor dele, sobre pequena mesa.
O grande eqüino saltou, lépido, os impedimentos e
avançou, guloso, para o bocado.
O professor benevolente e amigo esclareceu, então,
bondosamente, ante os alunos surpreendidos:
- A tentação nos procura, segundo os sentimentos que
trazemos no campo íntimo. Quando cedemos a alguma fascinação indigna, é que a
nossa vontade permanece fraca, diante dos nossos desejos inferiores. As forças
que nos tentam correspondem aos nossos próprios impulsos. Não podemos imaginar
ou querer aquilo que desconhecemos. Por esse motivo, necessitamos vigiar o
cérebro e o coração, a fim de selecionarmos as sugestões que nos visitam o
pensamento.
E, terminando, afirmou:
- As situações boas ou más, fora de nós, são iguais aos
propósitos bons ou maus que trazemos conosco.
Francisco Cândido Xavier. Da obra: Pai Nosso. Ditado pelo
Espírito Meimei.
A HISTÓRIA DE
PAULINHO
Paulinho, um menino de 7 anos, pensava que viver com sua
família era muito chato. E consigo pensava:
Mamãe está sempre pedindo para eu guardar a roupa e os
sapatos; papai não para de dizer que é
importante estudar; minha irmã mais velha está sempre a me chamar para fazer a
tarefa escolar; meus irmãos querem jogar bola e eu só gosto de brincar com a
pipa. Acho melhor viver sozinho. Vou-me embora desta casa! Só assim posso fazer
o que eu quero, na hora que eu quiser.
Assim, Paulinho fez a sua trouxa – uma camisa e uma calça
– e resolveu procurar um local para viver sozinho.
O menino chegou à cozinha e disse para sua mãe:
– Vou embora, quero viver sozinho.
– Filho, viver sozinho não é fácil!… disse a mamãe.
– Não se preocupe, mamãe, vou saber como me cuidar.
Adeus!
A mãe deixou que ele fosse, pois só assim ele entenderia
como é importante ter uma família e além disso, ela sabia que antes do
anoitecer ele estaria de volta.
Paulinho começou a andar… andar em busca de um local para
ficar, mas nenhum lhe parecia confortável. Mesmo assim ele continuou
procurando.
Depois de muito andar, começou a sentir fome. Lembrou-se
do leite quentinho e do pão que sua mãe lhe oferecia pela manhã.
Mas dizia consigo mesmo:
– Vou encontrar meu lugar… e andou… andou.
De repente, tropeçou em uma pedra e machucou os joelhos.
Quis chorar, mas lembrou que estava sozinho e não tinha
ali o papai para cuidar do seu ferimento. Mas,
mesmo com fome e os joelhos machucados, achava que poderia morar
sozinho, longe de todos.
Andou mais um pouco e avistou meninos brincando.
Aproximou-se e perguntou:
– Posso brincar com vocês?
Os meninos pareciam não enxerga-lo, pois sequer
responderam à sua pergunta. Paulinho, nesse momento, lembrou-se dos irmãos que
o tratavam com carinho e até faziam pipas coloridas para ele brincar. Sentado
numa pedra, sentiu sede, lembrou-se então, de sua irmã, pois ela quem lhe dava
água fresquinha quando tinha sede. Precisava fazer algo!
Avistou uma casa e resolveu ir até lá pedir um copo
d’água. Bateu palmas…
Uma senhora veio atendê-lo.
– O que você quer, menino? Perguntou-lhe.
– Pode me dar um copo d’água, por favor?
A senhora chegou bem perto de Paulinho, para observá-lo
melhor e disse:
– Pobre menino, tão novo e sem família! Você vive nas
ruas? Perguntou curiosa.
Paulinho não soube responder.
Gaguejou… gaguejou, mas não sabia o que falar, pois ele
não queria viver nas ruas, já que tinha uma família.
De seus olhos começaram a escorrer duas lágrimas, que
anunciavam o desejo de voltar para casa e a saudade de seus familiares.
Nesse momento, notou que a noite se aproximava, e além da
fome e da dor nos joelhos machucados, sentiu medo de passa-la sozinho, ao
relento.
Num grande esforço, andou… andou bem depressa… até
alcançar sua casa.
Lá chegando, surpreendeu a todos, quando os abraçou e
disse:
– Este é o melhor lugar para se morar e esta é a melhor
família!…
Depois, foi tomar banho, vestir roupas limpas, cuidar dos
joelhos machucados e saborear a deliciosa sopa que mamãe acabara de servir.
Paulinho não cansava de repetir:
– Como é boa a nossa casa! Como é boa a nossa família!
Nenhum comentário:
Postar um comentário