6 – A benevolência para com os semelhantes, fruto do amor
ao próximo, produz a afabilidade e a doçura, que são a sua manifestação.
Entretanto, nem sempre se deve fiar nas aparências, pois a educação e o
traquejo do mundo podem dar o verniz dessas qualidades. Quantos há, cuja
fingida bonomia é apenas uma máscara para uso externo, uma roupagem cujo corte
bem calculado disfarça as deformidades ocultas! O mundo está cheio de pessoas
que trazem o sorriso nos lábios e o veneno no coração; que são doces, contanto que
ninguém as moleste, mas que mordem à menor contrariedade; cuja língua, doirada
quando falam face a face, se transforma em dardo venenoso, quando falam por
trás.
A essa classe pertencem ainda esses homens que são
benignos fora de casa, mas tiranos domésticos, que fazem a família e os
subordinados suportarem o peso do seu orgulho e do seu despotismo, como para
compensar o constrangimento a que se submetem lá fora. Não ousando impor sua
autoridade aos estranhos, que os colocariam no seu lugar, querem pelo menos ser
temidos pelos que não podem resistir-lhes. Sua vaidade se satisfaz com o
poderem dizer: “Aqui eu mando e sou obedecido”, sem pensar que poderiam
acrescentar, com mais razão: “E sou detestado”.
Não basta que os lábios destilem leite e mel, pois se o
coração nada tem com isso, trata-se de hipocrisia. Aquele cuja afabilidade e
doçura não são fingidas, jamais se desmente. É o mesmo para o mundo ou na
intimidade, e sabe que se podem enganar os homens pelas aparências, não podem
enganar a Deus.
TEXTOS DE APOIO
A VELHA ILUSÃO DAS
APARÊNCIAS
"Não basta que dos lábios manem leite e mel. Se o
coração de modo algum lhes está associado, só há hipocrisia. Aquele cuja
afabilidade e doçura não são fingidas nunca se desmente: é o mesmo, tanto em
sociedade, como na intimidade. Esse, aos demais, sabe que se, pelas aparências,
se consegue enganar os homens, a deus ninguém engana." E.S.E. cap.9.
Os adeptos sinceros do Espiritismo mais que nunca carecem
de abordar com franqueza o velho problema da hipocrisia humana. Nesse
particular, seria muito proveitoso que as agremiações doutrinárias promovessem
debates grupais acerca dos caminhos e desafios que enfrentamos todos nós, os
que decidimos por uma melhoria moral no reino do coração.
O chamado "vício de santificação" continua
escravizando o mundo psicológico do homem a noções primárias e inconsistentes
sobre como desenvolver o sagrado patrimônio das virtudes, que se encontra
adormecido na vida superconsciente do ser.
Hipocrisia é o hábito humano adquirido de aparentar o que
não somos, em razão da necessidade de aprovação do grupo social em que
convivemos. Intencional ou não, é um fenômeno profundo nas suas raízes emocionais
e psíquicas, que envolve particularidades específicas a cada criatura, mas que
podemos conceituar como a atitude de simular, antes de tudo para nós mesmos,
uma "imagem ideal" daquilo que gostaríamos de ser. Difícil definir os
limites entre o desejo sincero de aperfeiçoar-se em direção a esse "eu
ideal", e o comportamento artificial que nos leva a acreditar no fato de
estarmos nos transformando, considerando a esteira de reflexos que criamos nas
fileiras da mentira.
Aliás, para muitos corações sinceros que efetivamente
anelam por aprimoramento e mudança, detectar uma atitude falsa e uma ação que
corresponda aos novos ideais costuma desenvolver um estado psicológico de
insatisfação consigo mesmo, que pode ativar a culpa e a cobrança impiedosa. Instala-se
assim um cruel sistema mental de inaceitação de si mesmo, que ruma para a mais
habitual das camuflagens da hipocrisia: a negação, a fuga.
Não podemos asseverar que todo processo de defesa
psíquica que vise negar a autêntica realidade humana seja algo patológico e
nocivo. Muitas almas não teriam a mínima saúde mental não fossem semelhantes
recursos que, em muitas ocasiões, funcionam como um "escudo protetor"
que vai levando a criatura, pouco a pouco, ao conhecimento doloroso da
verdadeira intimidade, até ter melhores e mais seguros recursos de libertação e
equilíbrio. No entanto, quando nesse processo existe a participação intencional
de ações que visem impressionar os outros com qualidades ainda não
conquistadas, principalmente para auferir vantagens pessoais, então se
estabelece a hipocrisia, uma ação deliberada de demonstrar atitudes que não
correspondem à natureza dos sentimentos que constituem a rotina de sua vida
afetiva .
As vivências sociais humanas com suas exigências
materialistas conduziram o homem à aprendizagem da hipocrisia. A substituição
de sentimentos foi um fenômeno adquirido. O hábito de camuflar o que se sente
tornou-se uma necessidade perante os grupos, e certas concepções foram
desenvolvidas nesse contexto que estimulam a falsidade. Convencionou-se por
exemplo que homens não devam chorar, criando a imagem da insensibilidade
masculina, em torno da qual bilhões de almas trafegam em papéis hipócritas e
doentios. Certas profissões como a de educador, durante séculos aprisionadas
nas sombras do mito, levaram à criação de um abismo entre educador e educando,
que eram ambos obrigados a disfarçar emoções para respeitarem seus limites,
impostos pela perversa institucionalização dos "super-heróis da
cultura". Naturalmente todos esses convencionalismos vêm sofrendo
drásticas reformulações para um progresso das comunidades em direção a um dia
mais feliz e pleno de autenticidade nas atividades humanas.
Acompanhando essas renovações de mentalidade na cultura,
é imperioso que os líderes e condutores espíritas tenham a coragem de sair de
seus papéis, perante a coletividade doutrinária, e erguerem a bandeira do
diálogo franco e construtivo acerca das reais necessidades que todos
carregamos, rompendo com um ciclo de "faz de conta". Ciclo esse que
somos infelizmente obrigados a afirmar, tem feito parte da vida de muitos
adeptos espíritas e até mesmo de grupos inteiros. Sem qualquer reprimenda,
vejamos esse quadro como sendo inevitável em se tratando de almas como nós, mal
saídas do primarismo evolutivo. Nada mais fizemos que caminhar para a nossa
hominização, ou seja, largar a selvageria instintiva e galgar os degraus da
humanização - o núcleo central do aprendizado na fase hominal, a qual estamos
apenas penetrando.
Adquirir essa consciência de que a evolução não se faz
aos saltos, e sim etapa a etapa, é um valoroso passo na libertação desse
"vício de santificação", essa necessidade neurótica que incutimos ao
longo de eras sem fim, especialmente nas leiras religiosas, com o qual queremos
passar por aquilo que ainda não somos. Disso resulta o conflito, a dor, a
cobrança, o perfeccionismo e todo um complexo de atitudes de auto desamor.
Sejamos nós mesmos e não nos sintamos menores por isso.
Aparentar santificação para o mundo não nos exonera da equânime realidade dos
princípios universais, Ninguém escapa das leis criadas pelo Criador. A elas
todos estamos submetidos. Que nos adiantará demonstrar santificação para os
outros, se a vida dos espíritos e um espelho da Verdade que mostrará, a cada um
de nós particularmente, como somos?
Se acreditamos, portanto, na imortalidade e sabemos da
existência dessas "leis-espelho", deveríamos então concluir que o
quanto antes, para aqueles que se encontram na carne, tratarmos nossa realidade
sem medos e culpas, maior será o bem que fazemos a nós mesmos.
Recordemos, nesse ínterim, que a caridade para com o
outro, conquanto seja extenso tributo de ajuste aos Estatutos Divinos, não é
"passaporte de garantia" para a movimentação nas experiências da
autoridade e do equilíbrio nos planos imortais. Aprendamos o quanto antes a
cultivar essa "sensação de salvação", experimentada nos serviços de
doação, também em nossos momentos de auto-encontro. Essa conquista realmente
nos pertence e ninguém nos pode tirar em tempo algum.
Viver distante da hipocrisia necessariamente não
significa expor a vida íntima e as lutas que carregamos a qualquer pessoa, mas
expô-las antes de tudo a nós mesmos, assumindo o que sentimos, os desejos que
nutrimos, os sonhos que ainda trazemos, os sentimentos que nos incendeiam de
paixões, os pensamentos que nos consomem as horas, esforçando-se por analisar
nossas más condutas. Por outro ângulo, esse mesmo processo de "detecção
consciente" precisa ser realizado com nossos valores, as decisões
infelizes que deixamos de tomar, o sacrifício de construir uma atividade
espiritual, os novos costumes que estamos talhando na personalidade, os
sentimentos sublimes que começam a ensaiar projetos de luz na nossa mente, as
escolhas que temos feito no bem comum.
Reforma Íntima, como a própria expressão comunica, quer
dizer a mudança que fazemos por dentro. E jamais, em caso algum, ela se dará
repentinamente, num salto. A santificação é um processo lento e gradativo.
Cuidemos com atenção das velhas ilusões que nos fazem acreditar na
"angelitude por osmose", ou seja, de que a simples presença ou
participação nos ofícios doutrinários é garantia de aperfeiçoamento.
Temos recebido na vida espiritual inúmeros companheiros
de ideal, cuja revolta consigo próprios leva-os a tormentos patológicos de
graves proporções, quando percebem o equívoco em acreditar que tão somente suas
adesões às atividades de amor lhes renderiam o "reino dos céus". A
ilusão é tão intensa que requer tratamentos especializados e longos em nosso
plano. E vejam, os meus amigos na carne, o que a mente é capaz, pois muitos
desses corações poderiam intensamente se beneficiar das realizações a que se
entregaram, podendo mesmo alguns obter um trespasse tranqüilo, todavia, sem
exceção, estão esperando mais do que merecem; é quando surge a inconformação
diante das expectativas de honrarias e glórias injustificáveis na
espiritualidade. Então esbravejam ao perceberem que são tratados com muito
carinho e amor, a fim de assumirem sua verdadeira realidade de doentes com
baixo aproveitamento na reencarnação, colhendo espinhoso resultado de seu
auto-engano.
Espíritas amigos e irmãos, lembrai-vos de que todos estamos
na Terra, planeta de testes infindáveis ao nosse aperfeiçoamento. Mesmo os que
nos encontramos fora de corpo ajustamo-nos a essa conotação evolutiva. E nessa
conjuntura o caminho da santificação se amolda à realidade do homem que nela
habita. Se, por agora, estivermos pelo menos nos esforçando para sair do mal
que fazemos a nós e ao próximo, dirigimo-nos para essa proposta sagrada.
Todavia, se ansiamos por concretizar em mais larga escala
as luzes de nossa santificação, lancemo-nos com louvor a outra etapa do
processo e aprendamos como criar todo o bem que pudermos em torno de nossos
passos, soltando-nos definitivamente de todos os grilhões do terrível
sentimento do fingimento, o qual ainda nos faz sentir que somos aquilo que
supomos ser.
Espírito Ermance Dufaux – Livro Reforma Intima sem
Martirio - Wanderley de Oliveira
ESPIRITISMO POR
DENTRO
"A benevolência para com os seus semelhantes, fruto
do amor ao próximo, produz a afabilidade e a doçura, que lhe são as formas de
manifestar-se. Entretanto, nem sempre há que fiar nas aparências. A educação e
a frequentação do mundo podem dar ao homem o verniz dessas qualidades. Quantos
há cuja fingida bonomia não passa de máscara para o exterior, de uma roupagem
cujo talhe primoroso dissimula as deformidades interiores! O mundo está cheio
dessas criaturas que têm nos lábios o sorriso e no coração o veneno; que são
brandas, desde que nada as agaste, mas que mordem à menor contrariedade; cuja
língua, de ouro quando falam pela frente, se muda em dardo peçonhento, quando
estão por detrás." Lázaro, (Paris, 1861) O Evangelho Segundo Espiritismo
-cap. 9 - item 6
O casal Andrade e seus filhos eram integrantes ativos da
organização doutrinária que patrocinava um grande evento espírita naquela
pequena cidade. O esplanador da ocasião havia sido recebido naquele lar com
muita gentileza por parte de seus anfitriões. Durante o almoço, o marido
esmerava-se em gestos e posturas de cordialidade buscando atender
convenientemente o visitante, no entanto, sua esposa mantinha-se taciturna, com
um olhar de revolta.
O orador, porque era médium de faculdades educadas,
aguçou suas antenas psíquicas na verificação do que passava com Dona Anastácia,
captando intensa dor e tristeza nos sentimentos da sua anfitriã.
O evento realizou-se durante a tarde e parte da noite. No
retorno ao lar, novamente a cena instalava-se à hora do repasto noturno, sendo
que desta feita a esposa conturbada sai aos prantos da mesa, em crise
inesperada. O palestrante, preocupado com o ocorrido, indaga ao esposo se algo
poderia fazer e recebe queixas e deboches insensíveis do marido. Resolve,
então, por solicitar um diálogo com Anastácia e que, sem pestanejar, desabafou
dizendo: "eu gostaria que meu marido tratasse-me com um centésimo da
finura com a qual ele tem tratado o senhor como nosso visitante!"
"Espiritismo de aparências". "Espiritismo
de superfície".
A assimilação das propostas éticas da doutrina seguem uma
sequência natural e paulatina de maturidade. Primeiro atinge as idéias,
posteriormente penetra os sentimentos e, por fim, renova as atitudes.
Evidentemente, não será possível estipular uma separação
perceptível entre essas etapas, porque elas se complementam e interagem sem que
haja uma nitidez sobre seus efeitos.
Na pequena historieta acima, nota-se que o esposo de Dona
Anastácia apresentava uma fachada para os que são de fora do lar, mas na
intimidade era um homem rude com sua companheira. Durante um estágio do
processo de renovação espiritual essa conduta, inevitavelmente, fará parte do
contexto do aperfeiçoamento. O incômodo decorrente dessa situação levará o
aprendiz da espiritualização a buscar uma coerência entre suas forças
interiores na aquisição de sua própria paz. Todavia, se o aprendiz não se
devotar o suficiente, poderá permanecer demasiadamente no "Espiritismo de
adorno"...
Pensamento, sentimento e ação são vivências que a
princípio se contrapõem nessa escala do crescimento moral. Pensa-se algo,
sente-se diversamente e age-se em dissonância com ambos. Uma desamornia existe
entre as três potências da alma. O esclarecimento espírita atinge o campo do
pensar permitindo que a reflexão conduza o homem a novas formas de entendimento
e avaliação da sua existência, no entanto, a transformação do sentir e os
cuidados com as atitudes são os verdadeiros indicadores de que essa informação
intelectiva está sofrendo uma metamorfose na intimidade, através do acionamento
da vontade e do esforço na mudança de hábitos e reações perante os fatos da
vida.
Espíritas que se aplicam na reforma interior não são
identificados por suas ações no campo das aparências, que podem não passar de
verniz ou máscara para dissimular suas imperfeições e impressionar com
qualidades que não adquiriu, mas são reconhecidos por suas reações aos testes
de cada hora onde estiver. A forma de reagir a uma ofensa, a uma perda, a uma
traição, aferem a qualidade das mudanças que realmente temos operado no
sentimento e se temos o Espiritismo de aparências ou por dentro. Como diz
Lázaro: "(...) são brandas, desde que nada as agaste, mas que mordem à
menor contrariedade", isso é uma reação.
As poses religiosas sempre fizeram parte das atitudes
humanas no intuito de convencer o outro daquilo que não convencemos a nós
próprios. Essa atitude é reflexo do orgulho em querer parecer o que ainda não
somos para fruir das sensações de que estamos sendo admirados e prezados pelos
outros.
Além de orgulho, é também escassez de auto-estima, é a
mendicância da consideração alheia apresentando "falsos dotes" para
chamar a atenção e conquistar o apreço. Genuflexões, voz mansa, abraços
calorosos, sorrisos de alegria são bons modos que podem, algumas vezes,
esconder propósitos falsos ou interesses escusos de prestígio.
Essa "santidade de superfície" pode ser
considerada natural nos primeiros tempos do contato com as Revelações Novas na
vida da criatura até que ela se ajuste a uma conduta que melhor expresse a sua
realidade. Mas para aqueles que passam os anos detendo-se nesses "chavões
de puritanismo", podem estar sofrendo de "negação psicológica",
ou seja, a manutenção de algum mecanismo de defesa que impeça de analisar-se
com sinceridade e construir a auto-aceitação. O orgulho, como doença da alma, é
habilidoso o bastante para gerar uma "capa de ofuscamento" das nossas
imperfeições e criar uma "miragem encantadora", com virtudes que
ainda não desenvolvemos, nas quais ele nos faz acreditar. Até certo ponto é uma
forma natural de se proteger da angústia e da aflição provocadas pelo
autoconhecimento que produz o esclarecimento espírita, angústia decorrente do
contato com a nossa inferioridade. É muito doloroso reconhecer nossa verdadeira
condição espiritual...
Aprender a sermos nós mesmos, aprender a conviver
pacificamente com nossos conflitos, aprender a dividir nossas angústias com
alguém na busca de caminhos, aprender a lidar com autenticidade, essas são
algumas das lições do Espiritismo por dentro.
Ardilosos adversários espirituais da nossa causa têm
explorado habilmente a fragilidade do "psiquismo místico" de várias
criaturas que aderiram aos princípios renovadores da imortalidade. Não
conseguindo desanimá-las da frequência às atividades, optam então por
incentivar as celeumas e atenções de amigos queridos com assuntos de
exterioridade, insuflando sofismas de toda espécie que formam crenças e crentes
em assuntos de menor importância para nossas fileiras, dilatando o grupo
daqueles que se tornam oponentes em discussões estéreis que perturbam o clima
vibratório dos ambientes. Além disso, é dessas discussões estéreis e
precipitadas que costumam surgir as teses que fortalecem o institucionalismo
nas práticas e conceitos doutrinários, através do rigorismo que enaltece a
pureza por fora, mas que não cogita da pureza por dentro, nos recessos do
coração.
Na lista dos temas preferidos, estão as fórmulas de
desenvolvimento das práticas doutrinárias, distraindo-se com opiniões
personalistas e que pouco acrescem ao bem das realizações das quais fazem
parte. Enquanto se discute sobre questões de fora, esquece-se das questões
íntimas, que são mais difíceis de serem tratadas e pensadas quando em um grupo
de trabalho. Usa-se ou não luzes coloridas, come-se ou não a carne, bebe-se ou
não os alcoólicos, dá-se ou não o passe com olhos fechados, coloca-se ou não
uma placa com o nome do centro na via pública, lê-se ou não a obra de tal autor
não considerado espírita, coloca-se ou não as garrafas destampadas para
fluidificar a água, permite-se ou não a incorporação mediúnica, ora-se ou não
de olhos abertos. A lista não pára, é interminável.
Outras vezes, a sutil interferência obsessiva opera-se na
velha tradição ético-religiosa de estipular padrões de conduta na forma:
"espírita faz isso e não pode fazer aquilo". Assuntos, todos eles,
que podem até ser interessantes discutir, mas que têm provocado um movimento de
inutilidade e obsessão em razão da forma infantil como são tratados, dando-lhes
exagerada importância e priorizando o exterior em detrimento da essência - um
reflexo natural dos mecanismos de defesa com os quais grande maioria dos homens
encarnados lidam na atualidade.
Seria mais interessante, embora penoso, discutir o que
faremos para perdoar um inimigo, como vencer um hábito sexual, como vencer
impulsos menos dignos para com alguém, como ser uma criatura agradável onde
vivemos, porque nos ofendemos com uma determinada forma de agir, qual a razão
de nos irritarmos perante um fato específico, qual a origem de certas fantasias
que nos acompanham compulsivamente, porque determinada tarefa é trabalhosa para
nós, onde as causas da preguiça para estudar, como se sentir motivado para a
leitura edificante, o que podemos fazer para ajudar alguém que todos querem
excluir, qual a causa dos pensamentos de vingança que costumam surgir em nossa
tela mental, quais os traumas da infância que ainda nos influenciam na
adultidade, o motivo da atração ou rejeição por uma pessoa em particular... São
muitas perguntas e incursões das quais, costumeiramente, afastamo-nos . Nisso
reside os embriões para a instauração do Espiritismo por dentro!
Deixemos claro a esse respeito que não foram os ritos de
fé e nem os sacramentos nas idéias que desviaram a sublime missão da mensagem
da Boa Nova, e sim os sentimentos com os quais os homens se trataram mutuamente
perante o entendimento de tais caminhos, nas trilhas sombrias da fé exterior.
Se os costumes e posturas humanas tivessem sido burilados no caráter nobre e na
ação correta criando relações de amor, mesmo com castiçais e velas, missas e
igrejismo, conduziríamos a fé aos patamares da maturidade e da elevação
espiritual. Contudo, todos os paramentos e sistemas da ecclésia constituíram
graves problemas para a humanidade, porque atrás dos regimes religiosos havia
acendrado orgulho sustentando a sede do homem pela supremacia da verdade, assim
como hoje existem muitos espíritas repetindo essa malfadada lição...
Sem temor algum, concluímos que ritos e poses em momento
algum são os problemas que pesam sobre o futuro espiritual que espera os homens
espíritas, mas, acima de tudo, a luz que não souberam ou não quiseram dilatar
nos reinos do coração, perante os luminosos raios da Verdade entregues
gratuitamente a todos os adeptos, nos seus caminhos de cada dia.
Ermance Dufaux – livro – Mereça Ser Feliz – Wanderley de
Oliveira
VERNIZ SOCIAL
" A benevolência para com os semelhantes, fruto do
amor ao próximo, produz a afabilidade ea doçura, que lhe são a manifestação.
Entretanto, não é preciso fiar-se sempre nas aparências; a educação e o hábito
do mundo podem dar o verniz dessas qualidades..." ( Cap. IX, item 6)
Nem sempre conseguimos mascarar por muito tempo nossas
verdadeiras intenções e planos matreiros. Não dá para enganar as pessoas por
tempo indeterminado. Após vestirmos as roupagens da afabilidade e doçura para
encobrir rudeza e desrespeito, vem a realidade dura e cruel que desnuda aqueles
lobos que vestiram a "pele de ovelha".
Realmente, é no lar que descortinamos quem somos. É no
lar que escorre o verniz da bonança e da caridade que passamos sobre a face e
que nos revela tal como somos aos nossos familiares.
Trazemos gestos meigos e voz doce para desempenhar
tarefas na vida pública, no contato com chefes de serviço e amigos, com
companheiros de ideal e recém-conhecidos, mas também trazemos "pedras nas
mãos" ou punhos cerrados no trato com aqueles com quem desfrutamos
familiaridade.
Por querer aparentar alguém que não somos, ou
impressionar criaturas a fim de conquistá-las por interesses imediatistas, é
que incorporamos personagens de ficção no palco da vida. Ou seja, é como se
cumpríssemos um "script" numa representação teatral. Nada mais do que
isso.
Em várias ocasiões, integramos em nós mesmos não só a
sociedade visivelmente "externa", com suas construções, praças, casas
e cidades, mas também a sociedade em seu contexto "invisível", que,
na realidade, se compõe de regras e ordens sociais, bem como dos modelos de
instituições criadas arbitrariamente.
Captamos, através de nossos sentidos espiritual todos os
tipos de energia oriunda da população. Através nossos radares sensíveis e
intuitivos, passamos a representar de forma inconsciente e automática um
procedimento dissimulado sob a ação dessas forças poderosas.
Maquilagens impecáveis, jóias reluzentes, perfumes caros,
roupas da moda e óculos charmosos fazem parte do nosso arsenal de guerra para
ludibriar e corromper, para avançar sinais e para comprar consciências. Não nos
referimos aqui à alegria de estar bem-trajado e asseado, mas à maquiavélica intenção
dos "túmulos caiados".
Por não nos conhecermos em profundidade é que temos medo
de nos mostrar como realmente somos.
Num fenômeno psicológico interessante, denominado
"introjeçao", que é um mecanismo de defesa por meio do qual
atribuímos a nós as qualidades dos outros, fazemos o papel do artista famoso,
dos modelos de beleza, das personagens políticas e religiosas, das figuras em
destaque, dos parentes importantes e indivíduos de sucesso, e por muito tempo
alimentamos a ilusão de que somos eles, vivenciando tudo isso num processo
inconsciente.
Desse modo, nós nos portamos, vestimos, gesticulamos,
escrevemos e damos nossa opinião como se fôssemos eles realmente, representando,
porém, uma farsa psicológica.
Ter duas ou mais faces resulta gradativamente em uma
psicose da vida mental, porque, de tanto representar, um dia perdemos a
consciência de quem somos e do que queremos na vida.
Quanto mais notarmos os estímulos externos, influências
culturais, físicas, espirituais e sociais em nós mesmos, nossas possibilidades
de relacionamento com outras pessoas serão cada vez mais autênticas e sinceras.
A comunicação efetiva de criatura para criatura acontecerá se não levarmos em
consideração sexo, idade e nível socioeconômico.
Ela se efetivará ainda mais seguramente sempre que
abandonarmos por completo toda e qualquer obediência neurótica aos modelos
aprendidos e preestabelecidos.
Abandonemos o "verniz social" que nos impusemos
no transcorrer da vida. Sejamos, pois, autênticos. Descubramos nossas reais
potencialidades interiores, que herdamos da Divina Paternidade.
Desenvolvendo-as, agiremos com maior naturalidade e, conseqüentemente, estaremos
em paz conosco e com o mundo.
Hammed – Livro Renovando Atitudes – Francisco de Espírito
Santo Neto
AMENIDADE
“Bem-aventurados
os mansos porque eles herdarão a Terra.” - JESUS - MATEUS, 5: 5.
“A benevolência
para com as seus semelhantes, fruto do amor ao próximo, produz a afabilidade e
a doçura, que lhe são as formas de manifestar-se.” Cap. 9: 6.
Surgem, sim, as
ocasiões em que todas as forças da alma se fazem tensas, semelhando cargas de
explosivos, prestes a serem detonadas pelo gatilho da boca...
Momentos de
reação, diante do mal, em que a fagulha da, mágoa, assoma do intimo, aviventada
pelo sopro do desespero, Entretanto, mesmo que a indignação se te afigure
justificada, reflete para falar.
A palavra, não foi
criada, para converter-se em raio da morte.
Imagina-te no
lugar do interlocutor.
Se houve
deficiência no concurso de outrem, recorda os acontecimentos em que o erro
impensado te marcou a presença; se algum companheiro falhou, involuntariamente,
na obrigação, pensa nas horas difíceis, em que não pudeste guardar felicidade
ao dever.
Em qualquer
obstáculo, pondera que a cólera é bomba de rastilho curto, comprometendo a
estabilidade e a elevação da, vida onde estoura.
Indiscutivelmente,
o verbo foi estabelecido para que nos utilizemos dele.
O silêncio é o
guardião, da serenidade, todavia, nem sempre consegue tomar-lhe as funções.
Isso, porém, não
nos induz a transfigurar a cabeça num vulcão em movimento, arremessando lavas
de azedume e inquietação.
Conquanto se nos
imponha dias de franqueza e esclarecimento, é possível equacionar,
harmoniosamente, os mais intrincados problemas sem adicionar o fogo da
violência As parcelas da lógica.
Dominemo-nos para
que possamos controlar circunstâncias, chefiemos as nossas emoções,
alinhando-as na estrada do equilíbrio e do discernimento, de modo a que nossa
frase não resvale na intemperança.
Guardar o
silêncio, quando preciso, mas falar sempre que necessário, a desfazer enganos e
a limpar raciocínios, entendendo, por6m, que Jesus não nos confiou a verdade
para transformá-la numa pedra sobre o crânio alheio e sim num clarão que
oriente aos outros e alumie a nós.
Emmanuel - Extraído do livro O Livro da Esperança - Psicografado por
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
SE VOCÊ PENSAR
Cap. IX - Item 6 - ESE
Diz você que a palavra do companheiro é agressiva demais;
no entanto, se você pensar nas frases contundentes que lhe saem da boca, nem de
leve passará sobre o assunto.
Diz você que o amigo praticou erro grave; contudo, se
você pensar nos delitos maiores que deixou de cometer, simplesmente por
fugir-lhe a oportunidade, não encontrará motivo de acusação.
Diz você haver sofrido pesada ofensa; entretanto, se você
pensar quantas vezes tem ferido os outros, olvidará, incontinenti, as falhas
alheias.
Diz você que não suporta mais os trabalhos com que os
familiares lhe tributam as horas, mas, se você pensar nos incômodos que a sua
existência tem exigido de todos eles, não terá gosto de reclamar.
Diz você que os seus sacrifícios são muito grandes, em
favor do próximo; no entanto, se você pensar nas vidas que morrem diariamente,
para que você tenha a mesa farta, decerto não falará mais nisso.
Diz você que as suas necessidades são invencíveis;
contudo, se você pensar nas privações daqueles que seriam infinitamente felizes
com as sobras de sua casa, não tropeçaria na queixa.
Diz você que não pode ajudar na beneficência, em razão de
velha enxaqueca; contudo, se você pensar naqueles que jazem no leito dos
hospitais, implorando um momento de alívio, não adiará seu concurso.
Diz você que não dispõe de tempo para o cultivo da
caridade, mas, se você pensar nos mil e quatrocentos e quarenta minutos que
você possui, cada dia, para viver na Terra, não se esconderá em semelhante
desculpa.
Em todo assunto de falta e perdão, não nos demoremos
visando os outros.
Pensemos em nós próprios e preferiremos fazer silêncio,
extinguindo o mal.
André Luiz - Do livro O Espírito da Verdade.
Psicografia de Waldo Vieira.
TEMPO DE AGITAÇÃO
Iniciada a nossa reunião pública, O Evangelho Segundo o
Espiritismo nos deu o item 6 do seu capítulo IX, que provocou os melhores
comentários. Reportaram-se os comentaristas aos traços dominantes da agitação
que se observa em nosso tempo. Desentendimentos e antagonismos sem razão,
gerando dificuldades no relacionamento comum, foram comentados, trazendo-se à
baila casos lamentáveis em que, de simples desacordos de opiniões, surgem atos de
selvageria e delinqüência.
Encerrando as tarefas, Emmanuel trouxe-nos à meditação o
seu “Diálogo Curativo”.
DIÁLOGO CURATIVO
Emmanuel
Observa a extensão do sofrimento humano e faze do verbo
um instrumento de alívio de paz.
Em torno dos próprios passos, encontrarás os doentes da
alma a surgirem de todas as direções: os que trouxeram desajustes psicológicos
de outras existências apresentando traumas obscuros no campo da mente; os que
não puderam atender aos compromissos assumidos e jornadeiam no mundo,
desgostosos consigo mesmos; os desesperados, que caminham nas orlas da
delinqüência e os aflitos, quase todos eles vinculados a processos de angústia.
Todos são enfermos da alma que devem ser medicados, acima
de tudo, pelo diálogo curativo.
Em casa, compadece-te dos familiares e procura irradiar a
luz do entendimento que estabeleça tranqüilidade e segurança; no grupo de
trabalho, quanto possível, transforma-te em exaustor das confidências amargas,
trocando incompreensão por bondade ou
azedume por bênção; nas manifestações de caráter público, seleciona os
conceitos que te vistam idéias e pareceres a fim de que não venhas a estimular
violência ou discórdia; e, nas vias públicas, mobiliza solidariedade e
gentileza, diminuindo o cansaço e a solidão naqueles companheiros que suportam
conflitos e provações que talvez desconheças.
Não carregues a voz com vibrações fulminantes, diante da
intemperança que surpreendas em vozes alheias, de vez que não curarás um
doente, fazendo-te mais doente, especialmente no caso em que te vejas diante de
determinado adversário ou de suposto agressor.
Coloca-te no lugar do próximo e imagina como seriam as
tuas reações se alguém te falasse com desconsideração ou vinagre.
Quanto maior a turvação ambiente, maior o desequilíbrio
mental em derredor de nós.
E quanto mais a desarmonia nos envolva, mais imperiosa se
revela a necessidade da conversação curativa, capaz de suprir moléstias e
obsessões no nascedouro.
Seja qual for a circunstância em que te encontres,
condimenta o que digas com bondade e compreensão.
Todos sabemos que, na Terra, sobram incêndios de rebeldia
e tribulações, sofrimentos e lágrimas.
O Senhor, porém, não espera de nós outros, qualquer
fórmula milagrosa que venha a extinguir, de imediato, as labaredas da
perturbação; entretanto, onde estivermos e com quem estivermos, pede o nosso
copo de água fria.
Livro Caminhos de Volta – Psicografia Francisco Cândido
Xavier
A EXALTAÇÃO DA CORTESIA
À frente da multidão de sofredores e desalentados,
relacionou o Mestre as bemaventuranças, destacando, com ênfase, a declaração de
que os mansos herdariam a Terra.
A afirmativa, porém, soou entre os discípulos de maneira
menos agradável.
Tal asserção não seria encorajamento à ociosidade mental?
Se o Evangelho reclamava espíritos valorosos na sementeira das verdades
renovadoras, como acomodar a promessa com a necessidade do destemor? Se o mal
era atrevido e contundente, em todos os climas e posições, como estabelecer o
triunfo inadiável do bem através da incapacidade de reagir, embora
pacificamente? Nessas interrogações imprecisas, reuniu-se a assembléia familiar
no domicílio de Pedro.
Iniciados os comentários edificantes da noite,
entreolhavam-se os discípulos entre a indagação e a curiosidade.
O Divino Amigo parecia perceber os motivos da expectação,
em torno, mas esperava, sereno, que os seguidores se pronunciassem.
Foi então que Judas, rompendo o véu de respeito que
aureolava a presença do Mestre, inquiriu, loquaz: — Senhor, por que atribuíste
aos mansos a posse final da Terra? Os corações acovardados gozarão de
semelhante bênção? Os incapazes de testemunhar a fé, nos momentos graves de
luta e sacrifício, serão igualmente bem-aventurados? Jesus não respondeu, de
imediato.
Vagueou o olhar, através dos circunstantes, como a
pedir-lhes a exposição de quaisquer dúvidas que lhes povoassem a alma.
Pedro cobrou ânimo e perguntou: — Sim, Mestre: se um
malfeitor visitar-me a casa, não devo recordar-lhe os imperativos do acatamento
recíproco? Entregar-me-ei sem qualquer admoestação fraternal aos seus
delituosos caprichos, a pretexto de guardar a mansidão a que te referiste? O
Cristo sorriu, como tantas vezes, e enunciou, calmo: — Enganaram-se todos,
naturalmente.
Eu não fiz o elogio da preguiça, que se mascara de
humildade, nem da covardia que se veste de cordura para melhor acomodar-se às
conveniências humanas.
As criaturas que se afeiçoam a semelhantes artifícios
sofrerão duramente os instrumentos espirituais de que o mundo se utiliza para
reajustar os caracteres tortuosos e indecisos.
Exaltei, na realidade, a cortesia de que somos credores
uns dos outros.
Bem-aventurados os homens de trato ameno que sabem usar a
energia construtiva entre o gesto de bondade e o verbo da compreensão!
Bem-aventurados os filhos do equilíbrio e da gentileza que aprendem a negar o
mal, sem ferir o irmão ignorante que os solicita sem saber o que pede!
Abençoados os que repetem mil vezes a mesma lição, sem alarde, para que o
próximo lhes aproveite a influenciação na felicidade justa de todos!
Bem-aventurados aqueles que sabem tratar o rico e o
pobre, o sábio e o inculto, o bom e o mau, com espírito de serviço e
entendimento, dando a cada um, de conformidade com os seus méritos e necessidades
e deixando os sinais de melhoria, de elevação, bem-estar e contentamento por
onde cruzam! Em verdade vos digo que a eles pertencerá o domínio espiritual da
Terra, porque todo aquele que acolhe os semelhantes, dentro das normas do amor
e do respeito, é senhor dos corações que se aperfeiçoam no mundo! Alívio e
alegria transbordaram do ânimo geral e, de olhos fitos, agora, nas águas
imensas do grande lago, o Senhor pediu a Mateus encerrasse o fraterno
entendimento da noite, pronunciando uma prece.
Neio Lúcio - Do Livro Jesus no Lar - Francisco C. Xavier
CIZÂNIA
Os lexicógrafos definem a cizânia como sendo "rixa,
desarmonia, discórdia entre pessoas de amizade".
A cizânia constitui, pela sua própria estrutura,
adversário ferino da obra de edificação do bem, onde quer que se manifeste.
Parte integrante da personalidade humana, o espírito da cizânia facilmente se
instala onde o homem se encontra. Estimulada pelo egoísmo, distende com muitas
possibilidades as suas tenazes, surpreendendo quantos incautos se permitem, por
invigilância, trucidar.
Soez, persistente, contínua, a cizânia, ao manifestar-se,
divide o corpo coletivo em falsos grupos de eleição, que logo se entredisputam
primazia, estabelecendo o combate aguerrido e franco sob os disfarces da
pusilanimidade ou da simulação.
A cizânia deve ser combatida frontalmente onde quer que o
bem instaure o seu reinado.
Para tanto, faz-se mister que cada membro ativo do grupo
da ação nobilitante compreenda o impositivo da humildade. Como a característica
essencial da humildade é fazer-se identificar sempre carecente de
aprimoramento, enquanto se luta por adquiri-la, as farpas da inveja não se
cravam no seu corpo o as disputas infelizes não vicejam.
Ante o esforço para a fixação da humildade legítima, a
cizânia não consegue proliferar, isto porque é muito mais produtivo ser taxado
de ingênuo ou tolo, porém pacífico e cordato, a dúctil e lúcido, no entanto,
combativo e promovedor da discórdia.
Não esqueças que mesmo no Colégio Galileu, não poucas
vezes esse tóxico letal foi identificado, pernicioso, pelo Incomparável Senhor,
que, não obstante o alto patrimônio da Sua elevação, teve que enfrentá-la com
energia e humildade.
Vigia, espírito dedicado, nas nascentes do labor que
desdobras, na tarefa empreendida, e sê daqueles cujo serviço pode prosseguir
sem tua cooperação, embora não possas marchar sem ele, por indispensável à tua
elevação.
Oferece a quota do teu trabalho, compreendendo que no
cômputo geral a importância de cada um está na medida do esforço despendido,
nunca em relação à função exercida.
Impossível fulgir a jóia não houvesse sido esse brilho
precedido pelo esforço do garimpeiro ignorado, que se adentrou pela mina
perigosa a buscá-la.
A pérola pálida a refulgir ostenta sua beleza graças ao
estoicismo do mergulhador que desceu às águas abissais para arrancá-la da ostra
ergastulada nas rochas submarinas -
No trabalho renovador ao qual te afervoras, não te
olvides dos que atuam nas funções modestas, todavia indispensáveis ao serviço
que desdobras. O rei não poderia rodear-se de conforto e grandeza sem o
concurso do operário humilde que lhe ergueu o trono ou a cozinheira que lhe
sustenta a manutenção do equilíbrio orgânico.
E a estabilidade do seu império estaria sempre ameaçada
não fosse a fidelidade dos que o mantêm, vigilantes, e muitas vezes ignorados.
A cizânia nasce sempre no seio da vaidade que se faz nutrir pela presunção.
Esquece, portanto, os títulos e valores a que te apegas,
pois que eles nada valem diante dAquele a quem serves ou a quem procuras
servir.
A obra do bem tem passado sem ti e depois que passes ela
prosseguirá passando.
Reage à cizânia, impedindo que ela te domine no pensar,
no falar, a fim de que não se desdobre através do agir.
Examina o íntimo do espírito para que as mentes
geratrizes da cizânia, vitalizadas pelo pretérito infeliz e corporificadas em
grupos de perturbadores do Mundo Espiritual, não encontrem na tua mente açulada
o campo para as cogitações da censura injustificada aos que não podem ser
iguais a ti, quer estejam abaixo ou acima do teu nível de produtividade. Não
olvides que ao mais esclarecido é exigida maior dose de tolerância, de
compreensão e de misericórdia.
Quantas vezes o amigo, habitualmente fiel, em se voltando
para agredir não se encontra enfermo? Neste momento, não há outras alternativas
senão piedade e socorro para êle.
Se desejas realmente, como apregoas, que cresça o
trabalho do Cristo, não faças perniciosa distinção entre os servidores, não
sugiras separativismos, não confrontes mediante opiniões que criam ciumes ou
açulam vaidades vãs pelo elogio gratuito, indiscriminado e improcedente, porque
todo coração é maleável à palavra da bajulação dourada como todo espírito é
acessível à referência azeda da impiedade, ao licor embriagante da perversão.
Mantém, por tua vez, o compromisso da doação da palavra
amiga e estimulante, quanto da advertência gentil, a fim de que possas
prosseguir, seguro, na diretriz do equilíbrio.
Recorda que foi a cizânia dos homens que levou Jesus à
cruz, através da invigilância de um companheiro enganado.
"Eu, porém, vos digo que quem quer que se puser em
cólera contra seu irmão merecerá ser condenado no juízo". Mateus: capítulo
5º, versículo 22.
"A benevolência para com os seus semelhantes, fruto
do amor ao próximo, produz a afabilidade e a doçura que lhe são as formas de
manifestar-se". Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 9º - Item 6.3
FRANCO, Divaldo Pereira. Florações Evangélicas. Pelo
Espírito Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 35.
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