11 – Que a paz do senhor esteja convosco, meus queridos
amigos! Venho até vós para encorajar-vos a seguir o bom caminho.
Aos pobres de Espíritos que outrora viveram na Terra,
Deus concede a missão de vir esclarecer-vos. Bendito seja pela graça que nos
dá, de podermos ajudar o vosso adiantamento. Que o Espírito Santo me ilumine,
me ajude a tornar compreensível a minha palavra, e me conceda a graça de pô-la
ao alcance de todos. Todos vós, encarnados, que estais sob a pena e procurais a
luz, que à vontade de Deus venha em minha ajuda, para fazê-la brilhar aos
vossos olhos!
A humildade é uma virtude bem esquecida, entre vós. Os
grandes exemplos que vos foram dados são tão poucos seguidos. E, no entanto,
sem humildade, podeis ser caridosos para o vosso próximo? Oh!, não, porque esse
sentimento nivela os homens, mostra-lhes que são irmãos, que devem ajudar-se
mutuamente, e os encaminha ao bem. Sem a humildade, enfeitai-vos de virtudes
que não possuis, como se vestísseis um hábito para ocultar as deformidades do
corpo. Lembrai-vos daquele que nos salva; lembrai-vos da sua humildade, que o fez
tão grande e o elevou acima de todos os profetas.
O orgulho é o terrível adversário da humildade. Se o
Cristo prometeu o Reino dos Céus aos mais pobres, foi porque os grandes da
Terra imaginavam que os títulos e as riquezas eram a recompensa de seus méritos,
e que a sua essência era mais pura que a do pobre. Acreditavam que essas coisas
lhes eram devidas, e por isso, quando Deus as retira, acusam-no de injustiça.
Oh, irrisão e cegueira! Deus, acaso, estabeleceu entre vós alguma distinção
pelos corpos? O invólucro do pobre não é o mesmo do rico? O Criador fez duas
espécies de homens? Tudo quanto Deus fez é grande e sábio. Não lhe atribuais as
idéias concebidas por vossos cérebros orgulhosos.
Oh!, rico! Enquanto dormes em teus aposentos suntuosos,
ao abrigo do frio, não sabes quantos milhares de irmãos, iguais a ti, jazem na
miséria? O desgraçado faminto não é teu igual? Bem sei que o teu orgulho se
revolta com estas palavras. Concordarás em lhe dar uma esmola; nunca, porém, em
lhe apertar fraternalmente a mão. Que! exclamarás: Eu, nascido de sangue nobre,
um dos grandes da Terra, ser igual a esse miserável estropiado? Vã utopia de
pretensos filósofos! Se fôssemos iguais, porque Deus o teria colocado tão baixo
e a mim tão alto? É verdade que vossas roupas não são nada iguais, mas, se vos
despirdes a ambos, qual a diferença que então haverá entre vós? A nobreza do
sangue, dirás. Mas a química não encontrou diferenças entre o sangue do nobre e
do plebeu, entre o do senhor e o do escravo. Quem te diz que também não foste
miserável como ele? Que não pediste esmolas? Que não a pedirás um dia a esse
mesmo que hoje desprezas? As riquezas são por acaso eternas? Não acabam com o
corpo, invólucro perecível do Espírito? Oh, debruça-te humildemente sobre ti
mesmo! Lança enfim os olhos sobre a realidade das coisas desse mundo, sobre o
que constitui a grandeza e a humilhação no outro; pensa que a morte não te
poupará mais do que aos outros; que os teus títulos não te preservarão dela;
que te pode ferir amanhã, hoje, dentro de uma hora; e se ainda te sepultas no
teu orgulho, oh! Então, eu te lamento, porque serás digno de piedade!
Orgulhosos! Que fostes, antes de serdes nobres e
poderosos? Talvez mais humildes que o último de vossos servos. Curvai,
portanto, vossas frontes altivas, que Deus as pode rebaixar, no momento mesmo
em que as elevais mais alto. Todos os homens são iguais na balança divina;
somente as virtudes os distinguem aos olhos de Deus. Todos os Espíritos são da
mesma essência, e todos os corpos foram feitos da mesma massa. Vossos títulos e
vossos nomes em nada a modificam; ficam no túmulo; não são eles que dão a felicidade
prometida aos eleitos; a caridade e a humildade são os seus títulos de nobreza.
Pobre criatura! És mãe, e teus filhos sofrem. Estão com
frio. Têm fome. Vais, curvada ao peso da tua cruz, humilhar-te para conseguir
um pedaço de pão. Oh, eu me inclino diante de ti! Como és nobre, santa e grande
aos meus olhos! Espera e ora: a felicidade ainda não é deste mundo. Aos pobres
oprimidos, que nele confiam, Deus concede o Reino dos Céus.
E tu, que és moça, pobre filha devotada ao trabalho,
entregue às privações, por que esses tristes pensamentos? Por que chorar? Que
teus olhos se voltem, piedosos e serenos, para Deus: às aves do céu ele dá o
alimento. Confia nele, que não te abandonará. O ruído das festas, dos prazeres
mundanos, te faz bater o coração. Querias também enfeitar de flores a fronte e
misturar-te aos felizes da Terra, dizes que poderias, como as mulheres que vês
passar, estouvadas e alegres, ser rica também. Oh, cala-te, filha! Se soubesses
quantas lágrimas e dores sem conta se ocultam sob esses vestidos bordados,
quantos suspiros se asfixiam sob o ruído dessa orquestra feliz, preferirias teu
humilde retiro e tua pobreza. Conserva-te pura aos olhos de Deus, se não queres
que o teu anjo da guarda volte para Ele, escondendo o rosto sob as asas brancas,
e te deixe com os teus remorsos, sem guia, sem apoio, neste mundo em que
estarias perdida, esperando a punição no outro. E todos vós que sofreis as
injustiças dos homens, sede indulgentes para as faltas dos vossos irmãos,
lembrando que vós mesmos não estais sem manchas: isso é caridade, mas é também
humildade. Se suportais calúnias, curvai a fronte diante da prova. Que vos
importam as calúnias do mundo? Se vossa conduta é pura, Deus não pode vos
recompensar? Suportar corajosamente as humilhações dos homens, é ser humilde e
reconhecer que só Deus é grande e todo-poderoso.
Oh!, meu Deus, será preciso que o Cristo volte novamente
a Terra, para ensinar aos homens as tuas leis, que eles esquecem? Deverá ele
ainda expulsar os vendilhões do templo, que maculam tua casa, esse recinto de
orações? E, quem sabe?, oh, homens, se Deus vos concedesse essa graça, se não o
renegaríeis de novo, como outrora? Se não o acusaríeis de blasfemo, por vir
abater o orgulho dos fariseus modernos? Talvez, mesmo, se não o faríeis seguir
de novo o caminho do Gólgota?
Quando Moisés subiu ao Monte Sinai, para receber os
mandamentos da Lei de Deus, o povo de Israel, entregue a si mesmo, abandonou o
verdadeiro Deus. Homens e mulheres entregaram seu ouro, para a fabricação de um
ídolo que abandonaram. Homens civilizados fazeis, entretanto, como eles. O
Cristo vos deixou a sua doutrina, vos deu o exemplo de todas as virtudes, mas
abandonastes exemplos e preceitos. Cada um de vós, carregando as suas paixões,
fabricou um deus de acordo com a sua vontade: para uns terrível e sanguinário;
para outros, indiferente aos interesses do mundo. O deus que fizestes é ainda o
bezerro de ouro, que cada qual apropria aos seus gostos e às suas idéias.
Despertai, meus irmãos, meus amigos! Que a voz dos Espíritos
vos toque o coração. Sede generosos e caridosos, sem ostentação. Quer dizer:
fazei o bem com humildade. Que cada um vá demolindo aos poucos os altares
elevados ao orgulho. Numa palavra: sede verdadeiros cristãos, e atingireis o
reino da verdade. Não duvideis mais da bondade de Deus, agora que Ele vos envia
tantas provas. Viemos preparar o caminho para o cumprimento das profecias.
Quando o Senhor vos der uma manifestação mais esplendente da sua clemência, que
o enviado celeste vos encontre reunidos numa grande família; que os vossos
corações, brandos e humildes, sejam dignos de receber a palavra divina que Ele
vos trará; que o eleito não encontre em seu caminho senão as palmas dispostas
pelo vosso retorno ao bem, à caridade, à fraternidade; e então o vosso mundo se
tornará um paraíso terreno. Mas se permanecerdes insensíveis à voz dos
Espíritos, enviados para purificar e renovar as vossas sociedades civilizadas,
ricas em conhecimentos e não obstante tão pobre de bons sentimentos, ah! nada
mais nos restarás do que chorar e gemer pela vossa sorte. Mas, não, assim não
acontecerá. Voltai-vos para Deus, vosso pai, e então nós todos, que trabalhamos
para o cumprimento da sua vontade, entoaremos o cântico de agradecimento ao
Senhor, por sua inesgotável bondade, e para o glorificar por todos os séculos.
Assim seja.
ADOLFO - Bispo de Alger, Marmande, 1862
12 – Homens, por que lamentais as calamidades que vós
mesmos amontoastes sobre a vossa cabeça? Desprezastes a santa e divina moral do
Cristo; não vos admireis de que a taça da iniqüidade tenha transbordado por
toda parte.
O mal-estar se torna geral. A quem se deve, senão a vós
mesmos, que incessantemente procurais aniquilar-vos uns aos outros? Não podeis
ser felizes, sem mútua benevolência, e como poderá esta existir juntamente com
o orgulho? O orgulho, eis a fonte de todos os vossos males. Dedicai-vos, pois,
à tarefa de destruí-lo, se não quiserdes perpetuar as suas funestas
conseqüências. Um só meio tendes para isso, mas infalível: tomai a lei do
Cristo por regra invariável de vossa conduta, essa lei que haveis rejeitado ou
falseado na sua interpretação.
Por que tendes em tão grande estima o que brilha e
encanta os vossos olhos, em lugar do que vos toca o coração? Por que o vício
que se desenvolve na opulência é o objeto da vossa reverência, enquanto só
tendes um olhar de desdém para o verdadeiro mérito, que se oculta na
obscuridade? Que um rico libertino, perdido de corpo e alma, se apresente em
qualquer lugar, e todas as portas lhe são abertas, todas as honras lhe são
dispensadas, enquanto dificilmente se concede um gesto de proteção ao homem de
bem que vive do seu trabalho. Quando a consideração que se dispensa às pessoas
é medida pelo peso do ouro que elas possuem, ou pelo nome que trazem, que
interesse podem ter elas em se corrigem de seu defeito?
Bem diferente seria, entretanto, se o vício doirado fosse
fustigado pela opinião pública, como o é o vício andrajoso. Mas o orgulho é
indulgente para tudo quanto o agrada. Século de concupiscência e de dinheiro,
dizeis vós. Sem dúvida; mas por que deixastes as necessidades materiais se
sobreporem ao bom-senso e à razão? Por que cada qual deseja se elevar sobre o
seu irmão? Agora, a sociedade sofre as conseqüências.
Não esqueçais que um tal estado de coisa é sempre o sinal
da decadência moral. Quando o orgulho atinge o seu extremo, é indício de uma
próxima queda, pois Deus pune sempre os soberbos. Se às vezes os deixa subir, é
para lhes dar tempo de refletir e de emendar-se, sob os golpes que, de tempos a
tempos, desfere no seu orgulho como advertência. Entretanto, em vez de se
humilharem, eles se revoltam. Então, quando a medida está cheia. Ele a vira de
repente, e a queda é tanto mais terrível, quanto mais alto tiverem se elevado.
Pobre raça humana, cujos caminhos foram todos corrompidos
pelo egoísmo, reanimai-te, apesar disso! Na sua infinita misericórdia, Deus
envia um poderoso remédio aos teus males, um socorro inesperado à tua aflição.
Abre os olhos à luz: eis que as almas dos que se foram estão de volta, para te
recordar os verdadeiros deveres. Elas te dirão, com a autoridade da
experiência, quanto às vaidades e as grandezas da vossa passageira existência
são pequeninas, diante da eternidade. Dirão deste mundo; que nesta, será maior
o que foi menor entre os pequenos deste mundo; que o que mais amou os seus
irmãos será o mais amado no céu; que os poderosos da Terra, se abusaram da
autoridade, serão obrigados a obedecer aos seus servos; que a caridade e a
humildade, enfim, essas duas irmãs que se dão às mãos, são os títulos mais
eficazes para obter-se a graça diante do Eterno.
TEXTOS DE APOIO
HUMILDE
Alguém houve na Terra que nascido na palha não desesperou
da pobreza a que o mundo lhe relegara a existência, transformando o berço
apagado em poema inesquecível.
Assinalado por uma estrela em sua primeira hora humana,
nunca se lembrou disso em meio das criaturas.
Com a sabedoria dos anjos, falava a linguagem dos homens,
entretendo-se à beira de um lago em desconforto, com as criancinhas
desamparadas.
Trazendo os tesouros da imortalidade no espírito, vivia
sem disputar uma pedra onde repousar a cabeça e dispondo da autoridade maior
escolhia servir, ao invés de mandar, levantando os doentes e amparando aos
aflitos.
Em permanente contato com o Céu, ninguém lhe ouviu
qualquer palavra em torno dessa prerrogativa e podendo deslumbrar o cérebro de
seu tempo, preferia buscar o coração dos simples para esculpir na alma do povo
as virtudes do amor no apoio recíproco.
Esquecido, não se descurava do dever de auxiliar sempre;
insultado, perdoava; traído, socorria aos verdugos, soerguendo-lhes o espírito
através da própria humildade.
Golpeado em suas esperanças mais belas, desculpava sem
condições a quantos lhe feriam a alma Angélica.
Amparando sem paga, ninguém lhe escutou a mais leve
queixa contra os beneficiários sem memória a lhe zurzirem a vida e o nome com
as farpas da ingratidão.
Vendido por um dos companheiros que mais amava,
recebeu-lhe, sereno, o beijo suspeitoso.
Encarcerado e sentenciado, à morte sem culpa, não
recorreu à justiça por amor àqueles que lhe escarravam na face, deixando-se
sacrificar com o silêncio da paz e o verbo do perdão.
E ainda mesmo depois do túmulo, ei-lo que volta à Terra
estendendo as mãos aos amigos que o mal segregara na deserção, reunindo-os de
novo em seus braços de luz.
Esse alguém era humilde.
Esse alguém é Jesus.
Emmanuel - Psicografia de Francisco Cândido Xavier do
livro Abrigo
SUPERCULTURA
“Graças te rendo, ó Pai, senhor dos Céus e da Terra, que
por haveres ocultado estas cousas aos doutos e aos prudentes e por teres revelado
aos simples e pequeninos!” Jesus
(Mateus, 11: 25)
“Homens, porque vos queixais dos calamidades que vós
mesmos amontoastes sobre as vossas cabeças?
Desprezastes a santa e divina moral do Cristo; não vos espanteis, pois,
de que a taça da iniquidade haja transbordado de todos os lados.” (Cap. VII,
Item 12)
Alfabetizar e instruir sempre.
Sem escola, a Humanidade
se embaraçaria na selva, no entanto, é imperioso
lembrar que as maiores calamidades da guerra procedem dos
louros da inteligência sem educação espiritual.
A intelectualidade requintada
entretece lauréis à civilização, mas, por si só, não conseguiu, até hoje, frear
o poder das trevas.
A supercultura, monumentalizou cidades imponentes e
estabeleceu os
engenhos que as arrasam.
Levantou embarcações que se
alteiam como sendo palácios flutuantes e criou o torpedo que as põe a pique.
Estruturou asas metálicas poderosas que, em tempo breve, transportam o homem,
através de todos os continentes e aprumou o bombardeiro que lhe destrói a
casa.
Articulou máquinas que patrocinam o bem estar no reduto doméstico e não
impede a obsessão que, comumente, decorre do ócio demasiado.
Organizou hospitais eficientes e, de
quando a quando, lhes superlota, as
mínimas dependências com os mutilados e feridos,
enfileirados por ela própria, nas lutas de extermínio.
Alçou a cirurgia às inesperadas culminâncias e
aprimorou as técnicas do
aborto.
E, ainda agora, realiza incursões a pleno espaço,
nos alvores da Astronáutica, e examina do alto os processos mais seguros de
efetuar aniquilamentos em massa pelo foguete balístico.
Iluminemos o raciocínio sem descurar o sentimento.
Burilemos o sentimento sem desprezar o raciocínio.
O Espiritismo, restaurando o Cristianismo, é universidade
da alma.
Nesse sentido, vale recordar que Jesus, o Mestre por
excelência, nos ensinou, acima de tudo, a viver construindo para o bem e para a verdade,
como a dizernos que a chama da cabeça não derrama, a luz da felicidade sem o
óleo do coração.
LIVRO DA ESPERANÇA (pelo Espírito Emmanuel) FCX
O MODELO
Tema – O Cristo no
trabalho cotidiano
As horas
de inquietação e de incerteza virão sempre.
Que fazer
quando a bruma da indecisão nos envolva as trilhas da existência? Que padrão seguir, quando chamados a
deliberações graves e intransferíveis?
Efetivamente,
para cada um de nós surgem lances aflitivos nos quais o nosso livre-arbítrio
parece entranhado na sombra, incapaz de escolher entre o bem e o mal. Apesar disso, em meio a todos os desafios no
reino da alma, encontraremos no Cristo a inspiração necessária para a resposta
justa.
Se o mundo
em derredor te apresenta quadros de tentação ou de infortúnio, deixa que o
Senhor os contemple, através de teus olhos, e saberás entendê-los em bases de
inesperada sublimação.
Se registras
palavras injuriosas, deixa que Ele, o Divino Mestre, as escute em teus ouvidos
e, de imediato, nelas perceberás oportunos convites ao exercício da caridade e
da tolerância.
Se deves
falar em questões complexas, deixa que o Eterno Benfeitor se exprima por teu
verbo e articularás sem dificuldade a frase de compreensão e de bênção.
Se ages sob
qualquer dúvida, relativamente ao proveito das atividades que o mundo de pede,
deixa que o Excelso Amigo te oriente as mãos no serviço e encontrarás, para
logo, no rendimento do bem.
Se te
diriges para lugares determinados, hesitando quanto ao benefício que te advirá
do que pretendas fazer, deixa que Ele, o Senhor, caminhe com teus pés e
colocarás a ti mesmo na direção que mais te convenha à consciência tranqüila.
Resoluções
a tomar, encargos por assumir, opiniões a fornecer e provas a enfrentar
solicitam meditação se nos propomos atuar com discernimento.
Em todas
as indecisões e aflições, pensa no Cristo.
Reflete no Mentor Sublime que nos ama e
compreende sempre, muito antes que lhe possamos oferecer migalha da nossa
compreensão e do nosso amor, e escolhe proceder qual se comportaria Ele, dando
de si, sem pensar em si. Deixa-te estar
com Ele, tanto quanto Ele está contigo há milênios, e, seja qual seja o teu
problema, em sentindo, pensando, falando ou agindo, acertarás.
Livro Encontro
Marcado - Francisco Cândido Xavier
O FILHO DO ORGULHO
O melindre - filho do orgulho - propele a criatura a
situar-se acima do bem de todos. É a vaidade que se contrapõe ao interesse
geral.
Assim, quando o espírita se melindra, julga-se mais
importante que o Espiritismo e pretende-se melhor que a própria tarefa
libertadora em que se consola e esclarece.
O melindre gera a prevenção negativa, agravando problemas
e acentuando dificuldades, ao invés de aboli-los. Essa alergia moral demonstra
má-vontade e transpira incoerência, estabelecendo moléstias obscuras no s
tecidos sutis da alma.
Evitemos tal sensibilidade de porcelana, que não tem
razão de ser.
Basta ligeira observação para encontra-la a cada passo:
É o diretor que tem a sua proposição refugada e se sente
desprestigiado, não mais comparecendo às assembléias.
O médium advertido construtivamente pelo condutor da
sessão, quanto à própria educação mediúnica, e que se ressente, fugindo às
reuniões.
O comentarista admoestado fraternalmente para abaixar o
volume da voz e que se amua na inutilidade.
O colaborador do jornal que vê o artigo recusado pela
redação e que se supõe menosprezado, encerrando atividades na imprensa.
A cooperadora da assistência social esquecida, na
passagem de seu aniversário, e se mostra ferida, caindo na indiferença.
O servidor do templo que foi, certa vez, preterido na
composição da mesa orientadora da ação espiritual e se desgosta por sentir-se
infantilmente injuriado.
O doador de alguns donativos cujo nome foi omitido nas
citações de agradecimento e surge magoado, esquivando-se a nova cooperação.
O pai relembrado pela professora das aulas de moral
cristã, com respeito ao comportamento do filho, e que, por isso, se suscetibiliza,
cortando comparecimento da criança.
O jovem aconselhado pelo irmão amadurecido e que se
descontenta, rebelando-se contra o aviso da experiência.
A pessoa que se sente desatendida ao procurar o
companheiro de cuja cooperação necessita, nos horários em que esse mesmo
companheiro, por sua vez, necessita de trabalhar a fim de prover a própria
subsistência.
O amigo que não se viu satisfeito ante a conduta do
colega, na instituição, e deserta, revoltado, englobando todos os demais em
franca reprovação, incapaz de reconhecer que essa é a hora de auxílio mais
amplo.
O espírita que se nega ao concurso fraterno somente
prejudica a si mesmo.
Devemos perdoar e esquecer se quisermos colaborar e
servir.
A rigor, sob as bênçãos da Doutrina Espírita, quem pode
dizer que ajuda alguém? Somos sempre auxiliados.
Ninguém vai a um templo doutrinário para dar,
primeiramente. Todos nós aí comparecemos para receber, antes de mais nada,
sejam quais forem as circunstâncias.
Fujamos à condição de sensitivas humanas, convictos de
que a honra reside na tranqüilidade da consciência, sustentada pelo dever
cumprido.
Com a humildade não há o melindre que piora aquele que o
sente, sem melhorar a ninguém.
Cabe-nos ouvir a consciência e segui-la, recordando que a
suscetibilidade de alguém sempre surgirá no caminho, alguém que precisa de
nossas preces, conquanto curtas ou aparentemente desnecessárias.
E para terminar, meu irmão, imagine se um dia Jesus se
melindrasse com os nossos incessantes desacertos...
Espírito: CAIRBAR SCHUTEL - Médium: Francisco Cândido
Xavier - Livro: O Espírito da Verdade
EDIÇÃO FEB
A PALESTRA DE
MARIA MODESTO CRAVO
"Amados companheiros, paz e esperança.
Costumo dizer a Eurípedes que quando sou convocada a
falar de humildade é porque meu próprio nome carrega a "sina" desse
tema: Maria "Modesta", que vem de modéstia...
Não vou começar minha fala à moda convencional, dizendo
coisas do tipo: "estou aqui, mas não tenho autoridade para falar desse
tema". Muito pelo contrário, digamos humoradamente que me orgulho de minha
humildade!
Os conceitos que tomaram conta da cultura popular sobre o
que seja humildade prejudicam em muito seu verdadeiro significado. Associa-se
humildade com simplicidade, pobreza, atitudes discretas e inúmeras coisas
parecidas em ser alguém apagado, que não sc destaca, que se mantém no
anonimato, que não expressa e nem possui qualidades.
Jesus, muito Sábio e Humilde, certa feita foi chamado de
Bom e não aceitou o adjetivo, alegando que Bom era só o Pai e que poderia ser
chamado de Mestre, porque isso Ele era e assumia com louvor.
Isso é a humildade, ter consciência do que se é.
Segundo o benfeitor Barsanulfo, esse curso destina-se a
nos dar melhores noções sobre o orgulho e como superá-lo, enfocando
especialmente a luta de nossos irmãos na comunidade espírita humana.
Então eu gostaria de começar esse assunto dizendo, com a
franqueza de sempre e com muita piedade, que os espíritas estão muito
orgulhosos da humildade que imaginam possuir! Sim, é isso mesmo, e vocês são
testemunhas das lutas e problemas que nossos irmãos queridos carregam para cá
por causa disso.
A ignorância acerca do que realmente seja humildade, e
também das formas cruéis e sutis de ação do orgulho, têm criado dificuldades
que poderiam ser vencidas com um pouco de esclarecimento e algumas ações
simples. Por isso, esse curso entre nós, além de ser material para nosso
crescimento, é uma iniciativa que precisa ser levada aos amigos no corpo físico
com urgência, a fim de melhor muni-los de recursos para a grande batalha na
conquista dessa virtude.
A palavra adornos precisa ser ventilada aqui. Adornos,
máscaras, capas. Expressões desagradáveis de se mencionar e que estão fazendo
parte da vida psicológica e emocional de muitos corações bem intencionados, mas
ignorantes sobre a sua própria realidade espiritual. Para ser franca e brincar
um pouco com coisa séria, o movimento espírita está parecendo uma passareia
onde o orgulho desfila com várias fantasias. Fantasias de grandeza e
propriedade da verdade são os adornos que mais se vê!!!
Os que nos encontramos fora do corpo, sabemos bem quem
são os "espíritos-espíritas", sua trajetória espiritual. Torna-se
imperioso, mais que nunca, alertar nossos irmãos na carne acerca dos
acontecimentos que temos presenciado aqui no Hospital Esperança, para
devotarem-se com todas as forças na libertação do peso das ilusões que cultivam
a pretexto de grandeza espiritual.
Logo após meu retorno para a vida dos espíritos, fui
convocada por Eurípedes a coordenar as ações para um novo pavilhão junto a essa
casa de amor(!), destinado a socorrer os líderes religiosos Cristãos da
humanidade, especialmente os dirigentes espíritas. Por três décadas
consecutivas, venho aprendendo nessa tarefa sobre os perniciosos reflexos do
orgulho. O pavilhão sob as ordens de minha equipe tem crescido em tamanho e
necessidades a cada dia.
Criamos uma atividade muita saudável para nossos
assistidos chamada "tribuna da humildade". O nome pode parecer um
contra-senso, porque talvez devesse se chamar "tribuna do orgulho",
entretanto para efeitos estratégicos a "tribuna da humildade" é algo
desafiante. E' uma tarefa destinada àqueles que já se encontram em recuperação
e melhoria e que, depois de algum preparo sobre o tema, vão dar seus
depoimentos pessoais, falar de suas fantasias de superioridade e seus equívocos.
Aprendemos que somente quando começamos a tratar nossas doenças com
naturalidade, sem medo e publicamente, é que se abrem os caminhos para a
mudança. A "tribuna" tem sido uma tarefa terapêutica, conquanto
dolorosa à maioria.
Com toda sinceridade, eu mesma não me acostumo a ouvir as
narrativas. Não fossem os benefícios que essa tarefa tem apresentado, eu a
encerraria. E' muito doloroso para qualquer pessoa sair do mundo físico, na
condição do líder aplaudido é reverenciado, com seus retratos nas galerias e
museus, e chegar aqui como assistido e portador de severos enganos e
arrependimentos. Claro que esse não tem sido o caminho de todos, e como me
alegro em ver aqueles que venceram os convites da vaidade, seja no anonimato,
seja na notoriedade. No entanto, a maioria tem descuidado...
Em todos os campos dos seguidores de Jesus, encontramos
fracassos e quedas. Nossos amigos de ideal espírita, por exemplo, costumam
falar do orgulho como quem conhece e domina o tema, dando notas de sua presença
até mesmo na prepotência em falar do assunto. Poucos demonstram consciência do
orgulho do qual são portadores, poucos sabem realmente onde e como sua vaidade
se manifesta. Basta dizer humoradamente que existem muitos corações orgulhosos
da reforma íntima que já fizeram. Tão orgulhosos que se sentem melhores e mais
adiantados que a maioria das pessoas, dando ensejo ao surgimento das férteis
imaginações de que são missionários prontos para salvar a humanidade, quando,
em verdade, expressiva maioria deles não estão conseguindo salvar nem a si
mesmos. Alguns utilizam-se de frases do tipo: "quem sou eu para ser um
apóstolo de Jesus" e relegam várias oportunidades de crescer dizendo-se
humildes. Ocorre que, apesar de passarem esse atestado de falsa modéstia, no
fundo, o sentimento que muita vez os domina é de que são apóstolos do Cristo, e
diga-se de passagem, bons apóstolos. E uma humildade de adorno, porque o que
vale mesmo é o que se sente no coração.
Sentimento, eis o cerne de nosso tema sobre o orgulho. O
orgulho é um sentimento, o sentimento de grandeza, o sentimento que cria o
vício de ser prestigiado, adulado, paparicado. E o sentimento que faz com que
queiramos que o universo circule em nossa órbita personalista. Orgulho é
sentimento de superioridade pessoal, por isso humildade, seu oposto, tem que
ser fruto também de um trabalho afetivo do espírito, tem que nascer do coração
atrelado à consciência, como veremos adiante.
Não será demais dizer que o orgulho é um grande vilão,
astuto e hábil sedutor. Os espiritistas estão confundindo, sob a ação hipnótica
da vaidade, o conhecimento da doutrina com elevação espiritual. E isso mesmo,
adquirem alguma fatia de saber, sentem-se detentores de Verdades que poucos
sabem e esbanjam a falsa sabedoria em longos discursos de conversão. E isso não
ocorre somente aos neófitos. Entre os dirigentes que temos atendido no
"pavilhão Bezerra de Menezes", nome que demos para a ala sob nossa
condução aqui no Hospital, encontramos em todos a espontânea manifestação de
surpresa ao perceberem que os livros espíritas, apesar da riqueza, dão pálida e
distante idéia da realidade da morte e dos movimentos que se operam na
erraticidade. E' uma pena que tenham que morrer para perceberem que sabem tão
pouco!!!
Isso ocorre porque a cultura espírita foi engessada,
institucionalizada por padrões que impedem ampliar e dilatar a visão. O
intercâmbio mediúnico estacionou em convenções que mais parecem cadeados que
cerceiam a entrada espontânea e madura dos médiuns na consciência fiel sobre os
fatos do mundo espiritual. E, nos bastidores, lá está ele, o nosso astuto
inimigo, a prepotência, uma das camuflagens do orgulho, fortalecendo idéias de
salvação e grandiosidade em função das ações de caridade e do conhecimento que
dotaram muitos parceiros de ideal de acentuada invigilância sobre sua
verdadeira condição.
Generalizou-se na comunidade espírita a preocupação com a
"ação das trevas", e eu pergunto: será que justifica? Não estará essa
preocupação tirando o foco sobre a real necessidade a ser trabalhada? Enquanto existe
a supervalorização com as "ações dos infernos", distrai-se para os
cuidados que requisitam a personalidade no que tange à sua transformação. Muita
atenção para as trevas de fora acaba fazendo esquecer as trevas que temos que
vencer dentro nós. E, os que aqui nos encontramos, sabemos o quanto o nosso
querido "gênio do mal" adora ver o rumo que tem tomado essa excessiva
centralização na pessoa dos obsessores e das obsessões na seara doutrinária.
Levemos, portanto, idéias mais claras aos que assumiram o
compromisso espírita de serem melhores hoje do que eram ontem, sem assustá-los
evidentemente.
Digamos a eles que séculos sucessivos naufragando nas
"fracassadas" reencarnações edificaram um terrível sentimento de
inutilidade e desvalor pessoal; é a angústia básica dos espíritos que renascem
atualmente no corpo físico, um lacerante complexo de inferioridade. Vejam a
necessidade que o homem tem de ser grande sem o ser, de fazer-se de forte sem o
ser, de bancar o iluminado somente porque transitou alguns anos nas tarefas
assistencialistas ou na leitura de uma dezena de livros libertadores. Os
traumas da vida extrafísica, a dor do arrependimento ou da culpa, do medo e da
fuga têm ocasionado reflexos mentais de difícil erradicação. Os remorsos na
erraticidade, provenientes do que fizeram ou deixaram de fazer em anteriores
existências, têm constituído a perpetuidade das provas que começam na carne e
se mantém depois da morte corporal.
Expliquemos pois, aos que possam nos ouvir no plano
físico, a importância da valorização mútua pela fraternidade, das equipes que
se amam e tratam a todos como uma família, o valor da atenção para com os que
ingressam no centro espírita, e, sobretudo, a urgência do diálogo fraterno como
fonte terapêutica sobre os circuitos mentais auto-obsessivos.
Essa modéstia imaginada pelos espíritas precisa ser
esclarecida em favor da felicidade deles próprios. Eles estão com orgulho da
humildade que supõem possuir, meus amigos! Isso é grave!...
Uma modéstia imaginada e não sentida, uma quase
fragmentação que beira os quadros mais conhecidos da "psicose pacífica,
aceitável.
Como assevera Inácio Ferreira: "os espíritas estão
passando por uma loucura controlada, uma psicose intermitente..." Mas temos
que perguntar: quantos conseguirão manter esse controle e até quando?
Ainda usando as claras observações de Inácio, ele nos diz
que "o pior louco é aquele que finge que não é louco, porque não assume,
não quer enxergar.
Precisamos dizer-lhes sobre os efeitos desse estado
mental aqui na vida imortal. Convocá-los a perceber os reflexos doentios que
carregam na própria mente. Vemos quantos companheiros estão empenhados em
largar cigarros, bebidas, carne e certos ambientes como se reforma íntima fosse
restrita a movimentos primários de contenção. O trabalho no terreno dos
sentimentos é o fiel da balança nos trâmites da evolução.
Temos aqui reunidos cem servidores que me ouvem e que se
encontram no serviço ativo da psicografia junto à messe doutrinária. Se conseguirem
êxito na tarefa de enviarem ao mundo físico as minhas palavras, gostaria que
esclarecessem algo que tenho aprendido no socorro a "espíritas
fracassados". O pronome nós tem sido empregado como manifestação de
humildade, e vocês podem notar que o tempo todo de minha fala estou,
propositalmente, usando a primeira pessoa, porque falo "eu", mas
sinto nós, enquanto muitos falam "nós" e não são capazes de admitir o
que se passa a poucos centímetros de suas vistas; é o personalismo travestido,
uma fachada sem sentido para homens e mulheres que dizem seguir Jesus, o
Altruísta de Deus. E' certo afirmar que tudo começa a partir do que falamos,
todavia é preciso assinalar que há muitos se iludindo e acomodando-se somente
com as regras de fora, dentro do slogam "espírita faz isso e não faz
aquilo", adotando "convenções formalizadas de humildade", quando
o que Interessa é o que se passa no reino do coração. A isso chamamos de
puritanismo, outro disfarce do nosso velho inimigo, as atitudes pudicas.
Bom, chega de falar dos espíritas!
Se um dia conseguirem um médium corajoso o bastante para
relatar minha fala, digam que fiz isso como um "teste ao orgulho".
Quem ler minha fala até esse ponto, sem ter um enfarto de revolta, é candidato
a ser humilde no futuro!!!
Falemos agora de humildade.
O orgulho é a "sombra do ego", o sentimento que
nos leva a sentir-nos maiores e melhores que todos. A humildade, seu oposto, é
a luz que vem de dentro quando reconhecemos quem somos.
Brota na alma como um estado afetivo ao conseguirmos
romper com as camadas de falsidade e engano edificadas pelo egoísmo, e nos
vermos enquanto Eu Divino.
Humildade é desilusão, reconhecimento de limites e
qualidades, é conscientização.
Humildade é estar conectado com a essência da vida, a
Verdade. Para isso é necessário a sintonia com a Verdade sobre nós mesmos, a
realidade. E o estado de libertação das ilusões que nos permite enxergar com
lucidez, sem vaidade ou desânimo. Humildade é o estado de realidade que
conquistamos na medida do auto-descobrimento.
Quem vibra no "espírito da humildade" recolhe
sempre na vida o que tem valor real para seu crescimento, não agindo ao sabor
das proclamadas mentiras mundanas, porque zelará por sua identidade universal
sem deixar assediar-se por apelos inferiores. Quem estiver na humildade será
alguém que conseguirá existir, sentir-se realizado, porque está buscando ser
ele mesmo, e não ser o que os outros gostariam que fosse.
Portanto, humildade é a estrada de acesso para a
felicidade.
O estado de "ausência de orgulho" só pode ser
alcançado com o "sentimento de humildade", e não com essas capas que
são colocadas para chamar a atenção alheia com virtudes que ainda não
possuímos, camuflando impulsos de vaidade que, de alguma forma, inevitavelmente,
vão escoar em variadas metamorfoses."
Essas capas são muitas, uma delas é a da pobreza. A
vinculação da humildade com a pobreza é algo cultural, e a cultura popular,
apesar de sábia, muitas vezes comete severos pecados de conceituação.
Se tem algo que não é semelhante à humildade é a pobreza.
Se assim o fosse, os países chamados de "terceiro mundo" - expressão
preconceituosa das sociedades terrenas - seriam conscientes, felizes,
realizados, resignados, não haveria revolta e nem crime. Não é isso que
verificamos, infelizmente... Há muitos pobres revoltados e orgulhosos ao
extremo; são simples no vestir e nos hábitos, mas se pudessem...
Devemos ter "alma de pobre", como assevera a
educadora católica Maria Junqueira Schmith, contentar com o que temos.
Contentamento é estado de realização interior que nasce da humildade. Universo
é riqueza, a natureza é prodígio Divino de abundância. Pobreza é marca de
mundos inferiores, é condição de seres que não se amam e nem tiveram alguém
para amá-los. Pobreza não é humildade. Por isso, a mensagem espírita para os
pobres deve ser a da riqueza interior como caminho para Deus.
Humildade não é apenas ter atitude modesta. De
"Modesta" basta eu mesma!!! Mais que isso, é ter atitude de lucidez
em razão de haver aprendido as causas profundas de seus modos de agir e reagir,
mas também de suas qualidades: é o "estado da autenticidade". Pessoas
humildes sabem "existir", não se permitindo os vícios da
representação, da artificialidade, por isso são livres.
Essas capas infelizmente prestam um desserviço a nós
mesmos, porque a dificuldade que apresentamos para reconhecer os erros, os
limites, as imperfeições, é a mesma que leva a perturbar e adulterar as noções
acerca das qualidades. O orgulho, portanto, impede o homem de tomar posse de si
mesmo, dos seus limites e das suas virtudes.
Criou-se, por exemplo, uma cultura de que não se deve
elogiar, realçar as qualidades para não incentivar a vaidade; uma mentalidade
de que não devemos falar de virtudes porque não as temos. No lugar de riqueza
espiritual fala-se em dívidas do passado, carmas, sofrimento, resignação,
penúria, dor, uma cultura de inferioridade é disseminada no mundo pelo
"gênio do mal" para que os homens não se sintam dignos do bem e do
amor. Se temos talentos e virtudes é significativo que fiquem onde todos possam
ver, e depois, quando uma qualidade realmente nos pertence, não temos como
escondê-la; ela surge naturalmente. Essa discrição e humildade de fachada,
pregada como conduta de vigilância, pode emperrar o crescimento, porque a
criatura adota postura para fora, mas não é educada para saber como lidar com
os sentimentos que estão dentro. Claro que ficar chamando a atenção para suas
virtudes é atitude de infantilidade e vaidade, entretanto a relação que travamos
com nossas qualidades é que precisa ser redimensionada; ocultá-las não vai
levar a nada.
Essas capas, que são o vínculo doentio com o ego,
iniciam-se no ato educativo durante a infância. A falta de contato com os
sentimentos e habilidades inatas da criança são substituídas pelas normas ou
costumes sociais, que conspiram para a formação do "homem social"
descuidando do "homem-alma". O que é muito lamentável, porque dessa
maneira a criança é levada a ser o que não é para atender a caprichos paternais
ou requisitos da sociedade; seus sentimentos nem sempre são considerados, seus
pendores... E os sentimentos são o espelho da consciência. Conhecê-los é criar
um elo com a humildade, com quem somos verdadeiramente, deixando de ouvir as
loucuras do ego e passando a "escutar Deus" na intimidade. A
consciência expressa-se no coração com maior intensidade. Aprender a linguagem
dos sentimentos é caminhar para o estado de humildade, de autoconhecimento.
Como disse anteriormente, certa feita alguém chamou Jesus
de bom e Ele não aceitou o título, dizendo: Bom é o Pai. Porém, em outro
momento ele sentenciou: vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu
o Sou. Isso é humildade, saber quem se é. Nem mais, nem menos.
Não se expressa qualidades, não se elogia, entretanto
fica uma carência de estima e consideração alheia no campo dos sentimentos que
é muito natural e não pode ser confundida com o vício de prestígio. Todos
precisam ser amados tanto quanto amar, serem estimulados tanto quanto
estimular. Nem esconder, nem ficar mendigando a aprovação alheia. A humildade
pregada como ocultação de virtudes e adoção de atitudes pudicas, que ainda não
são sentidas no coração, é fator de deseducação e repressão dos potenciais de
crescimento pessoal. Por incrível que pareça, isso é deixar de errar por
orgulho.
Ah! Meus bons amigos! Precisaríamos de outro curso desse
de vinte dias somente para tratar esse enfoque. Valha-nos Deus e Eurípedes para
que o consigamos quanto antes, porque não tenho mais onde botar tanta gente no
Pavilhão...!!!
Paz e esperança a todos".
Ermance Dufaux: LIVRO MEREÇA SER FELIZ
OS DESCOBRIDORES
DO HOMEM
Finda a leitura de alguns trechos da história de Job, a
palestra na residência de Simão versou acerca da fidelidade da alma ao Pai
Todo-Poderoso.
Diante da vibração de alegria em todos os semblantes,
Jesus contou, bem-humorado: — Apareceu na velha cidade de Nínive um homem tão
profundamente consagrado a Deus que todos os seus contemporâneos, por isso, lhe
rendiam especial louvor.
Tão rasgados eram os elogios à sua conduta que as
informações subiram ao Trono do Eterno.
E, porque vários Arcanjos pedissem ao Todo-Poderoso a
transferência dele para o Céu, determinou a Divina Sabedoria fosse procurado,
na selva da carne, a fim de verificar-se, com exatidão, se estava efetivamente
preparado para a sublime investidura.
Para isso, os Anjos Educadores, a serviço do Altíssimo,
enviaram à Terra quatro rudes descobridores de homens santificados — e a
Necessidade, o Dinheiro, o Poder e a Cólera desceram, cada qual a seu tempo,
para efetuarem as provas indispensáveis.
A necessidade que, em casos desses, sempre surge em
primeiro lugar, aproximou-se do grande crente e se fez sentir, de vários modos,
dando-lhe privações, obstáculos, doenças e abandono de entes amados;
entretanto, o devoto, robusto na confiança, compreendeu na mensageira uma
operária celeste e venceu-a, revelando-se cada vez mais firme nas virtudes de
que se tornara modelo.
Chegou, então, a vez do Dinheiro.
Acercou-se do homem e conferiu-lhe mesa lauta, recursos
imensos e considerações sociais de toda sorte; mas o previdente aprendiz
lembrou-se da caridade e, afastando-se das insinuações dos prazeres fáceis,
distribuiu moedas e posses em multiplicadas obras do bem, conquistando o
equilíbrio financeiro e a veneração geral.
Vitorioso na segunda prova, veio o Poder, que o investiu
de larga e brilhante autoridade.
O devoto, contudo, recordou que a vida, com todas as
honrarias e dons, é simples empréstimo da Providência Celestial e usou o Poder
com brandura, educando quantos o rodeavam, por intermédio da instrução e do
trabalho bem orientados, recebendo, em troca, a obediência e a admiração do
povo entre o qual nascera.
Triunfante e feliz, o crente foi visitado, enfim, pela
Cólera.
De maneira a sondar-lhe a posição espiritual, a
instrutora invisível valeu-se dum servo fraco e ignorante e tocou-lhe o amor
próprio, falando, com manifesta desconsideração, em assunto privado que, embora
expressão da verdade, constituía certo desrespeito a qualquer pessoa de sua
estatura social e indiscutível dignidade.
O devoto não resistiu.
Intensa onda sangüínea lhe surgiu no rosto congesto e ele
se desfez em palavras contundentes, ferindo familiares e servidores e
prejudicando as próprias obras.
Somente depois de muitos dias, conseguiu restaurar a
tranqüilidade, quando, porém, a Cólera já lhe havia desnudado o íntimo,
revelando-lhe o imperativo de maior aperfeiçoamento e notificando ao Senhor que
aquele filho, matriculado na escola de iluminação, ainda requeria muito tempo,
na experiência purificadora, para situar-se nas vibrações gloriosas da vida
superior.
Curiosidade geral transparecia do semblante de todos os
presentes, que não ousaram trazer à baila qualquer nova ponderação.
Estampando no rosto sereno sorriso, o Cristo terminou: —
Quando o homem recebe todas as informações de que necessita para elevar-se ao
Céu, determina o Pai Amoroso seja ele procurado pelas potências educadoras.
A maioria dos crentes perdem a boa posição, que
aparentemente desfrutavam, nos exercícios da Necessidade que lhes examina a
resistência moral; muitos voltam estragados das sugestões do Dinheiro que lhes
observa o desprendimento dos objetivos inferiores e a capacidade de agir na
sementeira do bem; alguns caiem, desastradamente, pelas insinuações do Poder
que lhes experimenta a competência para educar e salvar os companheiros da
jornada humana, e raríssimos são aqueles 15 que vencem a visita inesperada da
Cólera, que vem ao círculo do homem anotar-lhe a diminuição do amor próprio,
sem a qual o espírito não reflete o brilho e a grandeza do Criador, nos campos
da vida eterna.
O Mestre calou-se, sorriu compassivamente, de novo, e,
porque ninguém retomasse a palavra, a reunião da noite foi encerrada.
Neio Lúcio - Do Livro Jesus no Lar - Francisco C. Xavier
O ENSINAMENTO VIVO
Em observando qualquer edificação ou serviço, Maria
Cármen não faltava à crítica.
Ante um vestido das amigas, exclamava sem-cerimônia:
- O conjunto é tolerável, mas as particularidades deixam
muito a desejar. A gola foi extremamente malfeita e as mangas estão
defeituosas.
Perante um móvel qualquer, rematava as observações
irônicas com a frase:
- Não poderiam fazer coisa melhor?
E, à frente de qualquer obra de arte, encontrava traços e
ângulos para condenar.
A Mãezinha, preocupada, estudou recursos de dar-lhe
proveitoso ensinamento.
Foi assim que, certa manhã, convidou a filha a visitar,
em sua companhia, a construção de um edifício de vastas linhas. A jovem, que
não podia adivinhar-lhe o plano, seguiu-a, surpreendida.
Percorreram algumas ruas e pararam diante do arranha-céu
a levantar-se.
A senhora pediu a colaboração do engenheiro-chefe e
passou a mostrar à filha os vários departamentos. Enquanto muitos servidores
abriam acomodações para os alicerces, no chão duro, manobrando picaretas,
veículos pesados transportavam terra daqui para ali, com rapidez e segurança.
Pedreiros começavam a erguer paredes, suarentos e ágeis, sob a atenciosa
vigilância dos técnicos que orientavam os trabalhos. Caminhões e carroças
traziam material de mais longe. Carregadores corriam na execução do dever.
O diretor das obras, convidado pela matrona a
pronunciar-se sobre a edificação, esclareceu gentil:
- Seremos obrigados a inverter volumoso capital para
resgatar as despesas. Requisitaremos, ainda, a colaboração de centenas de
trabalhadores especializados. Carpinteiros, estucadores, vidraceiros, pintores,
bombeiros e eletricistas virão completar-nos o serviço. Qualquer construção
reclama toda uma falange de servos dedicados.
A menina, revelando-se impressionada, respondeu:
- Quanta gente a pensar, a cooperar e servir!...
- Sim – considerou o chefe, sorrindo expressivamente -,
edificar é sempre muito difícil.
Logo após, mãe e filha apresentaram as despedidas,
encaminhando-se, agora, para velho bairro.
Vararam algumas travessas e praças menores agradáveis e
chegaram
à frente de antiga casa em demolição. Viam-se-he as
linhas nobres, no estilo colonial, através das alas que ainda se achavam de pé.
Um homem, apenas ali se encontrava, usando martelo de tamanho gigantesco,
abatendo alvenaria e madeirante. Ante a queda das paredes a ruírem com
estrondo, de minuto a minuto, a jovem observou:
- Como é terrível arruinar, deste modo, o esforço de
tantos!
A Mãezinha serena interveio, então, e falou,
conselheiralmente:
Chegamos, filha, ao fim do ensinamento vivo que buscamos.
Toda a realização útil na Terra exige a paciência e o suor, o trabalho e o
sacrifício de muita gente.Edificar é muito difícil. Mas destruir e eliminar é
sempre muito fácil. Bastará uma pessoa de martelo à mão para prejudicar a obra
de milhares. A critica destrutiva é um martelo que usamos criminosamente, ante
o respeitável esforço alheio. Compreendeu?
A jovem fez um sinal afirmativo com a cabeça e, daí em
diante, procurou ajudar a todos ao invés de macular, desencorajar e ferir.
Francisco Cândido Xavier Da obra: Alvorada Cristã. Ditado
pelo Espírito Neio Lúcio..
AINDA A HUMILDADE
A força da humildade!
Grandiosa, passa na maioria das vezes como fraqueza, ante
os conceitos gastos da falsa moral. Tão nobre que se desconhece a si mesma.
Atravessa uma existência sem despertar atenção, e nisso
reside a essência do seu valor.
Serva fiel do dever, não malbarata o tempo nas
frivolidades habituais que exaltam os ouropéis. Avança sempre, produzindo com
objetividade na direção dos fins que busca colimar.
A humildade é muito ignorada.
Virtude excelente é precioso aroma de sutil
característica que vitaliza os que a conduzem.
Toma diversas aparências conforme as necessidades das
circunstâncias em que se manifesta.
Aqui é renúncia, cedendo a benefício geral, esquecida de
si mesma.
Adiante é perdão a serviço da paz de todos.
Além é bondade discreta, produzindo esperança.
Hoje é indulgência para oferecer nova oportunidade.
Amanhã é beneficência para manter a misericórdia.
É sempre a presença de Jesus edificando a felicidade onde
quer que escasseie a colheita de luz.
A humildade, porém, somente é possível quando inspirada
nos ideais da verdade.
Enquanto o homem não se abrasa da certeza da vida
superior, a humildade não lhe encontra guarida.
Sabendo que a Terra é uma escola de experiências e
ensaios da vida para a verdade, do mundo somente lhe vê as oportunidades de
progresso, compreendendo a necessidade de aproveitar as horas.
Todos os grandes heróis do pensamento, os mártires da fé
e os santos da renúncia para lobrigarem o êxito dos objetivos a que ligaram a
existência, se firmaram na humildade por saberem do pouco valor que
representavam ante as grandes diretrizes da vida.
A humildade em última análise representa submissão à
vontade de Deus, doação plena e total às Suas mãos, deixando-se conduzir pela
Sua Diretriz segura que governa o Universo.
No culto da humildade não tenhas a presunção de resolver
todos os problemas que te chegam. Preocupa-te em desincumbir-te fielmente dos
deveres que te dizem respeito.
Qualquer tarefa, por mais insignificante que te pareça, é
de alta importância no conjunto geral. Faze, portanto, a tua função no concerto
das coisas consciente de que tua colaboração é preciosa e deve ser doada.
Não ambiciones a tarefa que te não diz respeito. Aprende
a considerar o labor alheio e produze o teu serviço cônscio da significação do
que realizas, adornando de belezas o que passe pelo crivo do teu interesse e do
teu zelo.
Responderás diante da vida não pelo que gostarias de ter
proporcionado, mas pelo que tiveste diante das possibilidades e de como te
comportaste ante a ensancha.
Cultiva a humildade.
A humildade pela força da sua fraqueza nunca vai ser
atingida: a lisonja não a envaidece, e a zombaria não a humilha. É inatingível
pelo mal em qualquer expressão como se apresente.
Olha o firmamento e faze um paralelo: as estrelas
faiscantes e tu! Compreenderás o valor da humildade.
Conquanto Jesus fosse o Arquiteto Sublime da Terra, não
desconsiderou a carpintaria singela de José; caminhou imensos trechos
descampados de solos agrestes a serviço do amor; conviveu com os mais difíceis
caracteres sem melindres, sem falsa superioridade. Tão igual se fez aos
infelizes que o acompanhavam que nem todos acreditaram fosse Ele "o escolhido".
No entanto, ainda aí não usou a presunção de convencer a
ninguém, fazendo tudo aquilo para quanto veio e depois retornou, sereno. sem
abandonar os a quem veio amar.
Lição viva e desafiadora, a Sua vida é convite para que
meditemos e vivamos, incorporando à nossa existência essa pérola sublime da
redenção espiritual: a humildade!
"Aquele que quiser tornar-se o maior, seja vosso
servo". Mateus: capítulo 20º, versículo 27.
"A humildade é virtude muito esquecida entre vós.
Bem pouco seguidas são os exemplos que dela se vos têm dado. Entretanto, sem
humildade, podeis ser caridosos com o vosso próximo?" Evangelho Segundo o
Espiritismo. Capítulo 7º - Item 11, parágrafo 3.
FRANCO, Divaldo Pereira. Florações Evangélicas. Pelo
Espírito Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 31.
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