13 – Não vos orgulheis por aquilo que sabeis, porque esse
saber tem limites bem estreitos, no mundo que habitais. Mesmo supondo que
sejais uma das sumidades desse globo, não tendes nenhuma razão para vos
envaidecer. Se Deus, nos seus desígnios, vos fez nascer num meio onde pudestes
desenvolver a vossa inteligência, foi por querer que a usásseis em benefício de
todos. Porque é uma missão que Ele vos dá, pondo em vossas mãos o instrumento
com o qual podeis desenvolver, ao vosso redor, as inteligências retardatárias e
conduzi-las a Deus. A natureza do instrumento não indica o uso que dele se deve
fazer? A enxada que o jardineiro põe nas mãos do seu ajudante não indica que
ele deve cavar? E o que diríeis se o trabalhador, em vez de trabalhar, erguesse
a enxada para ferir o seu senhor? Diríeis que isso é horroroso, e que ele deve
ser expulso. Pois bem, não se passa o mesmo com aquele que se serve da sua
inteligência para destruir, entre os seus irmãos, a idéia da Providência? Não
ergue contra o seu Senhor a enxada que lhe foi dada para preparar o terreno?
Terá ele direito ao salário prometido, ou merece, pelo contrário, ser expulso
do jardim? Pois o será, não o duvideis, e arrastará existências miseráveis e
cheias de humilhação, até que se curve diante daquele a quem tudo deve.
A inteligência é rica em méritos para o futuro, mas com a
condição de ser bem empregada. Se todos os homens bem dotados se servissem dela
segundo os desígnios de Deus, a tarefa dos Espíritos seria fácil, ao fazerem
progredir a humanidade. Muitos, infelizmente, a transformaram em instrumento de
orgulho e de perdição para si mesmos. O homem abusa de sua inteligência, como
de todas as suas faculdades, mas não lhe faltam lições, advertindo-o de que uma
poderosa mão pode retirar-lhe o que ela mesma lhe deu.
TEXTOS DE APOIO
DIANTE DA MULTIDÃO
“E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte...” -
(MATEUS, 5:1.)
O procedimento dos homens cultos para com o povo
experimentará elevação crescente à medida que o Evangelho se estenda nos
corações.
Infelizmente, até agora, raramente a multidão tem
encontrado, por parte das grandes personalidades humanas, o tratamento a que
faz jus.
Muitos sobem ao monte da autoridade e da fortuna, da
inteligência e do poder, mas simplesmente para humilhá-la ou esquecê-la depois.
Sacerdotes inúmeros enriquecem-se de saber e buscam
subjugá-la a seu talante. Políticos astuciosos exploram-lhe as paixões em
proveito próprio.
Tiranos disfarçados em condutores envenenam-lhe a alma e
arrojam-na ao despenhadeiro da destruição, à maneira dos algozes de rebanho que
apartam as reses para o matadouro.
Juízes menos preparados para a dignidade das funções que
exercem, confundem-lhe o raciocínio.
Administradores menos escrupulosos arregimentam-lhe as
expressões numéricas para a criação de efeitos contrários ao progresso.
Em todos os tempos, vemos o trabalho dos legítimos
missionários do bem prejudicado pela ignorância que estabelece perturbações e
espantalhos para a massa popular.
Entretanto, para a comunidade dos aprendizes do
Evangelho, em qualquer clima de fé, o padrão de Jesus brilha soberano.
Vendo a multidão, o Mestre sobe a um monte e começa a
ensinar... É imprescindível empenhar as nossas energias, a serviço da educação.
Ajudemos o povo apensar, a crescer e a aprimorar-se.
Auxiliar a todos para que todos se beneficiem e se
elevem, tanto quanto nós desejamos melhoria e prosperidade para nós mesmos, constitui
para nós a felicidade real e indiscutível.
Ao leste e ao oeste, ao norte e ao sul da nossa
individualidade, movimentam-se milhares de criaturas, em posição inferior à
nossa.
Estendamos os braços, alonguemos o coração e irradiemos
entendimento, fraternidade e simpatia, ajudando-as sem condições.
Quando o cristão pronuncia as sagradas palavras “Pai
Nosso”, está reconhecendo não somente a Paternidade de Deus, mas aceitando
também por sua família a Humanidade inteira.
Emmanuel - Do livro Fonte Viva, pelo médium Francisco
Cândido Xavier
AUXÍLIO EFICIENTE
"E abrindo a sua boca os ensinava." - (MATEUS,
5:2.)
O homem que se distancia da multidão raramente assume
posição digna à frente dela.
Em geral, quem
recebe autoridade cogita de encastelar-se em zona superior.
Quem alcança
patrimônio financeiro elevado costuma esquecer os que lhe foram companheiros do
princípio e traça linhas divisórias humilhantes para que os necessitados não o
aborreçam.
Quem aprimora a
inteligência, quase sempre abusa das paixões populares facilmente exploráveis.
E a massa, na
maioria das regiões do mundo, prossegue relegada a si própria.
A política inferior
converte-a em joguete de manobra comum.
O comércio desleal
nela procura o filão de lucros exorbitantes.
O intelectualismo
vaidoso envolve-a nas expansões do pedantismo que lhe é peculiar.
De época em época,
a multidão é sempre objeto de escárnio ou desprezo pelas necessidades
espirituais que lhe caracterizam os movimentos e atitudes.
Raríssimos são os
homens que a ajudam a escalar o monte iluminativo.
Pouquíssimos
mobilizam recursos no amparo social.
Jesus, porém,
traçou o programa desejável, instituindo o auxílio eficiente.
Observando que os
filhos do povo se aproximavam d’Ele, começou a ensinar-lhes o caminho reto,
dando-nos a perceber que a obra educativa da multidão desafia os religiosos e
cientistas de todos os tempos.
Quem se honra,
pois, de servir a Jesus, imite-lhe o exemplo.
Ajude o irmão mais
próximo a dignificar a vida, a edificar-se pelo trabalho sadio e a sentir-se
melhor.
Livro: Vinha de Luz - Emmanuel - Psicografia de Chico
Xavier
MISSÃO DOS
INTELIGENTES
"Não vos ensoberbais do que sabeis, porquanto esse
saber tem limites muito estreitos no mundo em que habitais. Suponhamos sejais
sumidades em inteligência neste planeta: nenhum direito tendes de envaidecer-vos.
Se Deus, em seus desígnios, vos fez nascer num meio onde pudestes desenvolver a
vossa inteligência, é que quer a utilizeis para o bem de todos; é uma missão
que vos dá, pondo-vos nas mãos o instrumento com que podeis desenvolver, por
vossa vez, as inteligências retardatárias e conduzi-las a ele."
Ferdinando, Espírito protetor. (Bordéus, 1862) O Evangelho Segundo Espiritismo
-cap. 1-Item 13
Não somos a inteligência que amealhamos. Apesar disso,
muitos a tratam como se fosse o traço mais valoroso da personalidade em razão
dos sentimentos que o saber humano dinamiza no coração.
Ainda hoje, expressiva maioria das criaturas guarda
agradável sensação de superioridade quando detentora de largas fatias de
cultura e desenvoltura cognitiva. Possuí-la não é o problema, mas sim como nos
enxergamos a partir do saber que acumulamos, porque o orgulho costuma
encharcá-la de personalismo e vaidade criando uma paixão pela auto-imagem de
erudição no campo mental.
Os homens de saber de todas as épocas, com poucas
exceções, foram criaturas que sucumbiram sob o peso da vaidade. A capacidade
para manejar a inteligência nem sempre era acompanhada pela habilidade em lidar
com os sentimentos que decorriam do destaque e da lisonja com que eram tratados.
As pessoas inteligentes e cultas, não raro, tornam-se
muito exigentes e excedem na avaliação acerca de sua importância perante o
mundo; isso colabora para diminuir a proximidade espontânea em função de
criarem conceitos que desnivelam seus relacionamentos, com propósito de
manterem as imagens que cultuam de si próprias. Tais exigências são sustentadas
pelo sentimento de onipotência originado dos estímulos sociais, que conceituam
cultura como o quesito de realização pessoal dos mais importantes na Terra.
O que ocorre em nosso mundo interior, a partir da relação
que travamos com a instrução que conquistamos, é fator fundamental para nossa
felicidade. Num mundo que privilegia a inteligência como sinônimo de acúmulo de
informações e abre os braços para os eruditos marginalizando os incultos, é
obvio que essa faceta social promove na intimidade do homem um conjunto de
fenômenos emocionais que influenciam, decisivamente, seu processo de
crescimento espiritual. Quantos pais, por exemplo, educam seus filhos com a
noção de sucesso e felicidade, realização existencial e vitória, conciliando-os
com dinheiro e intelectualidade?
Portanto, que contingência cerca a alma no mundo do afeto
a partir desse quadro?
Precisamos de melhores aferições nesse tema, porque se
para o homem comum isso não passa de uma questão de oportunidade e competição
social, para nós, que fomos agraciados com o saber espírita, torna-se uma
questão de desafio e aproveitamento reencarnatório.
Conscientes de que a tarefa do homem inteligente no mundo
é conduzir a humanidade para Deus, conforme assinala Ferdinando no trecho acima
destacado, fica para nós a indagação: o que temos feito com a inteligência e a
cultura em favor da comunidade onde estamos inseridos? Façamos alguns
levantamentos: Como tem procedido nesse sentido o médico espírita? Tem
conseguido passar a seus pacientes a noção afetiva do Pai durante as suas
oportunas consultas? Tem conseguido equacionar seus problemas de relacionamento
com seus enfermos, buscando maior calor humano? Tem havido um desejo de pesquisar
as razões subjetivas do sofrimento de seus beneficiados ou permanece na
confortável poltrona da diplomacia universitária? Há o interesse em desbravar
novos horizontes em torno das próprias pesquisas humanas na reciclagem da
fragmentária informação acadêmica?
E os missionários das ciências psíquicas? Têm se
permitido serem fraternos com seus consulentes ou preferem a frieza do divã e
dos psicotrópicos? Têm conseguido entender seus pacientes como familiares
queridos que a vida colocou em seu caminho ou como almas atordoadas e sem
futuro? Têm conseguido aplicar-lhes a excelente medicação da esperança e
caridade, somente possíveis quando se permite sensibilizar-se com os dramas
alheios? E com o montante de informes que possui, como têm procedido perante a
vida? Têm utilizado da sabedoria da vida inconsciente para si mesmos,
resolvendo suas próprias lutas interiores, ou têm apenas se deliciado com o ato
de destacar-se como profissional aquilatado em congressos e eventos, que
infundem ainda mais a sensação de grandeza e domínio em relação ao "mundo
desconhecido" das técnicas e caminhos da vida mental?
E o autodidata espírita? Como tem usado o que sabe? Tem
promovido criaturas ou usado de seu tesouro para consolidar posições de
"homens com todas as respostas?" Tem relativizado os assuntos
espirituais ou tem agido com certezas conclusivas sobre temas extremamente
versáteis da metafísica? Tem procurado tornar útil à comunidade sua bagagem
doutrinária ou tem se encastelado no preciosismo de gastar enorme tempo para
construir teorias talhadas no perfeccionismo? Tem sabido ouvir opiniões
diversas com caridade e proveito ou se mantido no círculo estreito de suas
idéias, originadas em fartas pesquisas que lhe causam a impressão de
descobertas inusitadas?
Somente crendo que há algo superior regendo os mecanismos
do universo e compreendendo nossa realidade nesse contexto sistêmico das Leis
Naturais é que teremos recursos para agir com consciência acerca do nosso papel
na harmonia cósmica.
O que importa é aprender a usar a inteligência para
despertar nas almas o desejo de serem solidárias na vida e consolidarem a idéia
de Deus no coração - algo extremamente escasso na atualidade, considerando que
mestrados e teses quase sempre são defendidos com o único propósito de melhorar
proventos financeiros...
Cultura é indício de compromisso. Inteligência é traço
mental solicitando o complemento do amor para conduzir o homem aos rumos do
bem. O dever natural de quem sabe mais é ajudar quem sabe menos a entender o
que vale a pena saber para ser feliz, é tornar-se responsável pelo meio onde
labora, auxiliando o entendimento e cooperando com o progresso.
Pouco importa para um espírita culto a mais avançada
técnica da atualidade, se ele não souber incutir dentro de si e dos outros a
alma da vida, o amor.
Despertar nos seres humanos o gosto de servir, o respeito
à natureza e o sentimento da existência de Deus é a grande missão do homem
espírita inteligente na Terra. Se, ao contrário, preferir manter-se nas gélidas
posturas do homem científico, que separa academicismo e espiritualidade, estará
repetindo velhos erros e sendo iludido pela crueldade sutil da soberba e da
necessidade de prestígio. A consequência mais grave desse quadro é o sentimento
de auto-suficiência em que estacionará, supondo encontrar nos valorosos avanços
da ciência humana o essencial para cumprir sua missão, ou mesmo cultivar a
velha ilusão de que conhecimento é sinônimo de elevação espiritual.
Espiritismo sempre de mãos dadas com a ciência e a
sociedade: essa é a plataforma sobre a qual devemos nos conduzir nos assuntos
da inteligência, sem que um se sobreponha ao outro. Esse o desafio!
Fica claro que, para conseguir esse objetivo, somos
convidados a severo regime de auto-análise sobre quais são as motivações e
tendências que movimentamos, perante a cultura que adquirimos em alguma matéria
específica do saber mundano, ou mesmo nas experiências da lavoura doutrinária.
Renovemos o conceito de cultura à luz dos princípios
espíritas e da educação.
Igualmente reciclemos a noção de inteligência à luz da
ciência humana, absorvendo as "novas" noções da multiplicidade desenvolvida
por Howard Gardner).
Cultura é convite a realizar mais e melhor. Inteligência
é um conjunto de habilidades que nem sempre significa muita cultura.
Procuremos saber com clareza também se não estamos
sofrendo de "poluição intelectual", ou seja, se temos sabido ser
seletivos relativamente ao conhecimento, porque há muito "lixo" nas
idéias terrenas que, em princípio, parecem ser temas extremamente importantes e
essenciais, mas que não oferecem nenhuma utilidade para a conquista da paz, da
saúde e do crescimento dos povos.
Muita informação pode não passar de "escora para
interesses pessoais", quando o importante é saber converter a informação
em agente de transformação pessoal e coletiva onde nos situamos. Em muitos
casos, a sede do conhecimento pode camuflar complexos fenômenos da vida
afetiva, nos capítulos da carência e da frustração.
Ser bem informado e guardar simplicidade - a virtude das
almas solidárias - eis o convite para todos nós.
Ter respostas simples para coisas complicadas é a grande
virtude do homem inteligente na Terra, porque somente vibrando no espírito da
simplicidade é que somos capazes de tornar o saber uma alavanca propulsora, nos
rumos da felicidade e da libertação entre os homens.
Ermance Dufaux – Livro: Mereça ser Feliz
O PARDAL
Quando Pedrinho fez sete anos, ganhou, de seu primo mais velho,
um estilingue. Ele achou muito bonito. Agora poderia praticar sua pontaria,
atirando por aí.
O primo, orgulhoso, disse-lhe:
– Vá treinando. Amanhã você será um grande caçador.
Pedrinho correu para o mato próximo. Sua primeira vítima
foi um pardalzinho. O pássaro caiu, estremeceu no chão. Pedrinho sentiu um
aperto no coração ao olhar o pequenino inerte.
Voltou assustado para casa, envolvido por uma triste
sensação de culpa.
No outro dia, encontrou seu pai ocupado em tirar de uma
teia de aranha os insetos e moscas que ali se haviam aprisionado, colocando-os
depois em uma caixinha de fósforos.
– Para que é isso? Perguntou o menino.
– Venha comigo, que eu lhe mostrarei.
Levou-o em direção ao arvoredo existente ao redor da casa
e lhe mostrou, entre a espessa folhagem de um arbusto, um ninho onde se achavam
quatro passarinhos ainda sem penas. Abrindo a caixa com cuidado, foi metendo as
moscas e os insetos nos biquinhos abertos. Pedrinho quis ajudar.
– Não foi fácil – disse Pedrinho ao final da tarefa.
Passou a tarde procurando insetos e remexendo a terra,
pra ver se encontrava minhocas. À noite, seu pai agasalhou os filhotinhos com
um pedaço de algodão.
Na manhã seguinte, o pai entrou em seu quarto e lhe
mostrou um dos pequeninos pássaros já morto.
– Morreu durante a noite – explicou. Vamos fazer todo o
possível para salvar os outros.
Terminado o jantar, naquela noite, encontraram no ninho
uma segunda vítima do frio. Alguns dias depois, o terceiro filhotinho sucumbiu.
Pedrinho, angustiado e pensativo, observava o último dos
passarinhos, ali tão sozinho. O pobre órfão certamente estava passando maus
momentos. Não teria quem lhe ensinasse os segredos do voo e, dia após dia,
enfraqueceria, pois os pássaros assim novinhos necessitam de cuidados muito especiais.
E o quarto filhotinho também morreu.
Tomado de remorsos, Pedrinho correu ao encontro do pai
que também parecia entristecido, e entre soluços desabafou:
– Papai, a culpa é minha! Fui eu quem matou a mãe deles!
– Eu sei, meu filho. Vi você fazer aquilo. Infelizmente,
alguns meninos, ainda fazem o mesmo. Mas está na hora de mudar, você viu que
foi errada a sua atitude e que isso não se faz! Nunca mais faça isso e nem
permita que outros coleguinhas ou amigos seus o façam!
ALGO MAIS
Um crente sincero na Bondade do Céu, desejando aprender
como colaborar na construção do Reino de Deus, pediu, certo dia, ao Senhor a
graça de compreender os Propósitos Divinos e saiu para o campo.
De início, encontrou-se com o Vento que cantava e o Vento
lhe disse:
- Deus mandou que eu ajudasse as sementeiras e varresse
os caminhos, mas eu gosto também de cantar, embalando os doentes e as criancinhas.
Em seguida, o devoto surpreendeu uma Flor lhe contou:
- Minha missão é preparar o fruto; entretanto, produzo
também o aroma que perfuma até mesmo os lugares mais impuros.
Logo após, o homem estacou ao pé de grande Árvore, que
protegia um poço d’água, cheio de rãs, e a Árvore lhe falou:
- Confiou-me o Senhor a tarefa de auxiliar o homem;
contudo, creio que devo amparar igualmente as fontes, os pássaros e os animais.
O visitante fixou os feios batráquios e fez um gesto de
repulsa, mas Árvore continuou:
- Estas rãs são boas amigas, hoje posso ajudá-las, mas
depois serei ajudada por elas, na defesa de minhas próprias raízes, contra os
vermes da destruição e da morte.
O devoto compreendeu o ensinamento e seguiu adiante,
atingindo uma grande cerâmica.
Acariciou o Barro que estava sobre a mesa e o Barro lhe
disse:
- Meu trabalho é o de garantir o solo firme, mas obedeço
ao oleiro e procuro ajudar na residência do homem, dando forma a tijolos,
telhas e vasos.
Então, o devoto regressou ao lar e compreendeu que para
servir na edificação do Reino de Deus é preciso ajudar aos outros, sempre mais,
e realizar, cada dia, algo mais do que seja justo fazer.
Meimei - Antologia da Criança – Francisco C. Xavier
A FÉ VITORIOSA
Destacava André certas dificuldades na expansão dos novos
princípios redentores de que o Mestre se fazia emissário e se referia aos
fariseus com amargura violenta, concitando os companheiros à resistência
organizada.
Jesus, porém, que ouvia com imperturbável tolerância a
argumentação veemente, asseverou tão logo se estabeleceu o silêncio: — Nenhuma
escola religiosa triunfará com o Pai, ausentando-se do amor que nos cabe
cultivar uns para com os outros.
E talvez porque se manifestasse justificada expectativa
em torno dos apólogos que a sua divina palavra sabia tecer, contou, muito
calmo: — Na época da fé selvagem, três homens primitivos com as suas famílias
se localizaram em vasta floresta e, findo algum tempo de convívio fraternal,
passaram a discutir sobre a natureza do Criador.
Um deles pretendia que o Todo-Poderoso vivia no trovão,
outro acreditava que o Pai residisse no vento e o terceiro, que Ele morasse no
Sol.
Todos se sentiam filhos d’Ele, mas queriam à viva força a
preponderância individual nos pontos de vista.
Depois de ásperas altercações, guerrearam abertamente.
Um dos três se munira de pesada carga de minério, outro
reuniu grande acervo de pedras e o último se ocultara por trás de compacto
monte de madeira.
Achas de lenha e rudes calhaus eram as armas do grande
conflito.
Invocam todos a proteção do Supremo Senhor para os seus
núcleos familiares e empenhavam- se em luta.
E tamanhas foram as perturbações que espalharam na
floresta, prejudicando as árvores e os animais que lhes sofreram a flagelação, que
o Todo-Compassivo lhes enviou um anjo amigo.
O mensageiro visitou-lhes o reduto, na forma de um homem
vulgar, e, longe de retirarlhes os instrumentos com que destruíam a vida,
afirmou que os patrimônios de que dispunham eram todos preciosos entre si, elucidando-os
tão-somente de que necessitavam imprimir nova direção às atividades em curso.
Explicou-lhes que os três estavam certos na crença que
alimentavam, porque Deus reside no Sol que sustenta as criaturas, no vento que
auxilia a Natureza e no trovão que renova a atmosfera.
E, com muita paciência, esclareceu a todos que o Criador
só pode ser honrado pelos homens, através do trabalho digno e proveitoso,
ensinando o primeiro a transformar os duros fragmentos de minério em utensílios
para o trato da terra, nas ocasiões de sementeira; ao segundo, a converter as
achas de lenha em peças valiosas ao bemestar, e, ao terceiro, a utilizar as
pedras comuns na edificação de abrigos confortáveis, acrescentando, em tudo, a
boa doutrina do serviço pelo progresso e aperfeiçoamento geral.
Os contendores compreenderam, então, a grandeza da fé
vitoriosa pela ação edificante, e a discórdia terminou para sempre...
O Mestre fez pequena pausa e aduziu: — Em matéria
religiosa, cada crente possui razões respeitáveis e detém preciosas
possibilidades que devem ser aproveitadas no engrandecimento da vida e do
tempo, glorificando o Pai.
Quando a criatura, porém, guarda a bênção do Céu e nada
realiza de bom, em favor dos semelhantes e a benefício de si mesma,
assemelha-se ao avarento que se precipita no inferno da sede e da fome, no
intuito de esconder, indebitamente, a riqueza que Deus lhe emprestou.
Por isto mesmo, a fé que não ajuda, não instrui e nem
consola, não passa de escura vaidade do coração.
Pesado silêncio desceu sobre todos e André baixou os
olhos tímidos, para melhor fixar a mensagem de luz.
Neio Lúcio - Do Livro Jesus no Lar - Francisco C. Xavier
COM DISCERNIMENTO
Não somente os espinhos, mas as rosas também.
Não apenas os pedregulhos, igualmente a estrada.
Não exclusivamente as sombras, porém a claridade do dia.
Não só a enfermidade, também a saúde.
Não unicamente os desencantos, senão as esperanças e as
alegrias.
O espinho que fere defende a rosa, e esta ignora que se
evolando no leve ar da manhã aromatiza em derredor.
Os pedregulhos dilaceram os pés, entretanto, são parte da
segurança na estrada, que oferece possibilidades de avanço na direção dos
objetivos.
As sombras amedrontam, todavia, facultam, também, os
recursos para o repouso, de modo a oferecerem forças para as atividades da luz.
A enfermidade que macera ajuda a valorizar a saúde e
desperta o homem para a própria fragilidade orgânica, trabalhando pelo seu
labor imortalista.
Os desencantos doem, enquanto convocam a mente e o
sentimento para as esperanças e as alegrias da vida espiritual.
Todos os que deambulam no carro fisiológico, enganados
momentaneamente pelas limitações da caminhada humana, gostariam de estar
guindados aos tronos da vaidade, sob as luzes abundantes quão transitórias dos
refletores da glória, que provocam inveja e trabalham pela loucura.
Afadigados sob o peso das ambições, aparecem de sorrisos
largos os cultores da alegria efêmera e coração estilhaçado pela ansiedade.
Profissionais do bom humor experimentam o travo insolvente do cansaço que não
podem revelar, obrigados pela compulsória da bajulação popular a desvios da
realidade até às alucinações odientas.
São afáveis por compromisso dos interesses imediatos,
trabalhando para a insânia das vacuidades impreenchíveis, que o despertar
próximo ou remoto transformará em travas de desesperação.
Invejados são também invejosas, sempre em guarda contra
os outros que, segundo eles, são constante ameaça ao trono onde brilham e se
desgastam.
Cercados por amores compulsórios, que os utilizam para
suas próprias ambições, frustram-se, e experimentam soledade interior, malgrado
as multidões que os ovacionam.
A rebeldia contra o sofrimento é minoridade espiritual.
O desespero face às lutas caracteriza as disposições
inferiores do ser.
A ansiedade descabida pelo triunfo na Terra significa
desequilíbrio da razão.
A acrimônia contumaz responde pelo primarismo de quem a
cultiva.
As paixões de qualquer natureza vinculam o espírito às
formas primeiras, impedindo-o de plainar acima das vicissitudes.
Considera que exame é teste de avaliação das conquistas.
Prova constitui técnica de valorização dos bens
adquiridos nos empreendimentos do caminho humano.
Sofrimento, portanto, deste ou daquele matiz, também
significa desgaste para mudança de tom vibratório, no ritmo da evolução.
Ninguém confia responsabilidades maiores àqueles que não
se permitiram promover antes as inquirições selecionadoras dos tipos e das
realizações conseguidas.
Não te facultes espezinhar, quando convidado aos
testemunhos da vida, essas abençoadas oportunidades de superação de ti mesmo. O
labor de qualquer natureza afere as resistências de quem se propõe a maiores
realizações.
Em toda parte defrontarás a dor trabalhando
silenciosamente os espíritos, mesmo quando rebelados, a fim de os alçar à
felicidade que aspiram e não sabem como por ela esforçar-se.
Desse modo, ludibriado ou aparentemente vencido, perdendo
o que se convencionou chamar "a oportunidade de gozar", evita o
desânimo e desatrela-te do carro da amargura.
Fortemente vinculado ao espírito da vida, que avança sem
cessar e adorna tudo; inspirado pelo ideal do amor, que representa a
Paternidade Divina no teu coração; e orando pelo pensamento e através dos atos,
poderás alcançar a fortuna da paz interior e acumular os tesouros da alegria
plena, que bastarão para a concretização da felicidade do teu espírito.
Nos espinhos está a segurança das rosas.
Nos pedregulhos o reforço da estrada.
Nas sombras a oportunidade da meditação.
Na enfermidade o convite à prece.
Nos desencantos a superação da forma física.
Reflete, assim, para discernimento na jornada do Rabi, em
que não faltaram espinhos de ingratidão, pedregulhos de maldade, sombras de
perseguição, enfermidades da inveja e desencantos da deserção dos companheiros
mais queridos, enquanto Ele prosseguiu sem desfalecimentos até o fim, de modo a
legar-nos a lição da resistência contra o mal, em qualquer lugar e em qualquer
circunstância.
"Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu, e
não podeis discernir os sinais dos tempos?" Mateus: capítulo 16º,
versículo 3,
"A natureza do instrumento não está a indicar a que
utilização deve prestar-se? A enxada que o jardineiro entrega a seu ajudante
não mostra a este último que lhe cumpre cavar a Terra? Que diríeis, se esse
ajudante, em vez de trabalhar, erguesse a enxada para ferir o seu patrão?
Diríeis que é horrível e que ele merece ser expulso". Evangelho Segundo o
Espiritismo. Capítulo 7º - Item 13.
FRANCO, Divaldo Pereira. Florações Evangélicas. Pelo
Espírito Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 32.
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