O PRIMEIRO PASSO
“Portanto, tudo o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o
assim também vós a eles, porque esta é a Lei e os Profetas.”– Jesus. (MATEUS,
7:12.)
A regra áurea recebe citações em todos os países.
Em torno dela gravitam livros, poemas, apelos e sermões
preciosos.
Entretanto, raros se lembram do primeiro passo para que
se desvele toda a sua grandeza.
Não podemos reclamar a ajuda dos outros. Antes, é justo
prestar auxílio.
Não será lícito exigir a desculpa de alguém. Antes, é
imperioso saibamos desculpar. Convidados a compreender, muitos dizem “não
posso”, e instados a auxiliar, respondem muitos “ainda não...”
Esquecem-se, porém, de que amanhã serão talvez os
necessitados e os réus, carecentes de perdão e socorro. E, muitas vezes, ainda
quando não precisem de semelhantes bênçãos para si mesmos, por elas suspirarão
em favor dos que mais amem, à face das sombras que lhes devastam a vida.
Se um exemplo pode ser invocado, como bússola, recordemos
Jesus.
O Mestre dos mestres faz o bem, despreocupado de
considerações, alivia sem paga, acende a esperança sem que os homens lha peçam
e perdoa espontaneamente aos que injuriam e apedrejam, sem aguardar-lhes
retratação.
Veneremos, assim, a regra áurea e estendamos o espírito
de amor de que se toca, divina; contudo, estejamos certos de que ela somente
valerá para nós se lhe dermos a aplicação necessária.
O texto do ensinamento é vivo e franco :
“Tudo o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o
assim também vós a eles.”
Querer o bem é impulso de todos, mas, na prática do
estatuto sublime, é forçoso sejamos nós quem' se adiante a fazê-lo.
Do livro Palavras de Vida Eterna. Espírito Emmanuel.
Psicografia de Francisco C Xavier
PSICOLOGIA DA CARIDADE
“Fazei aos homens
tudo o que queirais que eles vos foram, pois é nisto que consistem a lei e os
profetas. ” JESUS - MATEUS, 7: 12.
“Amar ao próximo
como a si mesmo, fazer pelos outros o que quereríamos que os outros fizessem
por nós” é a expressão mais completa da caridade resume todos os deveres do
homem para com outro’. - Cap. X1, 4.
Provavelmente, não
existe em nenhum tópico da literatura mundial figura mais expressiva que a do
samaritano generoso, apresentada por Jesus para definir a psicologia da
caridade.
Esbarrando com a
vitima de malfeitores anônimos, semimorta na estrada, passaram dois religiosos,
pessoas das mais indicadas para o trato da beneficência, mas seguiram de largo,
receando complicações.
Entretanto, o
samaritano que viajava, vê o infeliz e sente-se tocado de compaixão.
Não sabe quem é.
Ignora-lhe a
procedência.
Não se restringe,
porém, à emotividade.
Pára e atende.
Balsamiza-lhe as
feridas que sangram, coloca-o sobre o cavalo e o conduz à uma hospedaria, sem
os cálculos que o comodismo costuma tragar em nome da prudência.
Não se limita, no
entanto, a despejar o necessitado, em porta alheia.
Entra com ele na
vivenda e dispensa-lhe cuidados especiais.
No dia imediato,
ao partir, não se mostra indiferente.
Paga-lhe as
contas, abona-o qual se lhe fora um familiar e compromete-se a resgatar-lhe os
compromissos posteriores, sem exigir-1he o menor sinal de identidade e sem
fixar-lhe tributos de gratidão.
Ao despedir-se,
não prende o beneficiado em nenhuma recomendação e, no abrigo de que se afasta,
não estadeia demagogia de palavras ou atitudes, para atrair influência pessoal.
No exercício do
bem, ofereceu o coração e as mãos, o tempo e o trabalho, o dinheiro e a
responsabilidade.
Deu de si o que
podia por si, sem nada pedir ou perguntar.
Sentiu e agiu,
auxiliou e passou.
Sempre que interessados
em aprender a praticar a misericórdia e a caridade, rememoremos o ensinamento
do Cristo e façamos nós o mesmo.
Emmanuel - Extraído Do Livro: O Livro Da Esperança - Psicografado Por
Francisco Cândido Xavier
RECLAMAR MENOS
“Tudo quanto,
pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque
esta é a lei e os profetas" - Jesus (Mateus, 7:12).
Para extinguir a cultura do ódio nas áreas do mundo,
imaginemos como seria melhor a vida na terra se todos cumpríssemos fielmente o
compromisso de reclamar menos.
Quantas vezes nos maltratamos, reciprocamente, tão só por
exigir que se realize, de certa forma, aquilo que os outros só conseguem fazer
de outra maneira! De atritos mínimos,
então partimos para atitudes extremas. Nessas circunstâncias, costumamos
recusar atenção e cortesia até mesmo àqueles a quem mais devemos consideração e
amor; implantamos a animosidade onde a harmonia reinava antes; instalamos o
pessimismo com a formulação de queixa desnecessária ou criamos obstáculos onde
as grandes realizações poderiam ter sido tão fáceis. Tudo porque não desistimos
de reclamar, - na maioria das ocasiões, - por simples bagatelas.
De modo geral, as reivindicações e desinteligências reportam,
mais freqüentemente, entre aqueles que a Sabedoria Divina reuniu com os mais
altos objetivos na edificação do bem, seja no círculo doméstico, seja no grupo
de serviço ou de ideal. Por isso mesmo, os conflitos e reprovações aparecem
quase sempre no mundo, nas faixas de ação a que somos levados para ajudar e
compreender. Censuras entre esposo e esposa, pais e filhos, irmãos e amigos. De
pequenas brechas se desenvolvem os desastres morais que comprometem a vida
comunitária desentendimentos, rixas, perturbações e acusações.
Dediquemos à solução do problema as nossas melhores
forças, buscando esquecer-nos, de modo a sermos mais úteis aos que nos cercam,
e estejamos convencidos de que a segurança e o êxito de quaisquer receitas de
progresso e elevação solicitam de nós a justa fidelidade ao programa que a vida
estabelece em toda parte, a favor de nós todos: reclamar menos e servir mais.
Emmanuel - Livro:
Segue-me. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
TEMAS DA PRECE
“Tudo quanto,
pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles. . .” –JESUS. (Mateus 7:12.)
Roga a Deus te
abençoe, mas concilia-te, cada manhã com todas as criaturas e com todas as
coisas, agradecendo-lhes as dádivas ou lições que te ofertam.
Pede saúde,
evitando brechas para a doença.
Solicita
proteção, amparando os irmãos de experiência cotidiana, dentro dos recursos que
se te façam possíveis.
Espera a
felicidade, criando a alegria do próximo.
Procura as luzes
do saber, distribuindo-as no auxílio aos que te rodeiam.
Busca melhorar o
nível de conforto em tua existência material, apoiando os companheiros de
Humanidade para que se elevem de condição.
Aguarda
tolerância para as falhas possíveis que venhas a cometer; entretanto, esquece
igualmente as ofensas de que te faças objeto ou as dificuldades que alguém te
imponha.
Requisita a
consideração e a simpatia dos semelhantes para que te harmonizes contigo mesmo;
todavia, oferece aos outros a consideração e a simpatia de que carecem para que
não lhes falhem o equilíbrio e a tranqüilidade.
Suplica o auxílio
do Senhor, na sustentação de tua paz; contudo, não sonegues auxílio ao Senhor
para que haja sustentação na paz dos outros.
A árvore se
alimenta com os recursos do solo, produzindo fruto que não consome.
A lâmpada gasta a
força da usina, deitando luz, a benefício de todos, sem enceleirá-la.
Entre a rogativa
e a concessão está o proveito.
Afirma-nos o
Evangelho que para Deus nada existe impossível, mas decerto que Deus espera que
cada um de nós faça o possível a nosso próprio favor.
Francisco Cândido
Xavier - Livro Ceifa de Luz - Pelo Espírito Emmanuel
BENEFICÊNCIA E
JUSTIÇA
“E como vós quereis
que os homens
vos façam, da
maneira lhes fazei vós também.”
Jesus (Lucas, 6: 31)
“Começai vós por dar o exemplo: sede caridosos par a com todos, indistintamente; esforçaivos
por não atentar
nos que vos olham com desdém e
deixai a Deus a encargo de fazer toda a justiça, a Deus que todos os dias,
separa, no reino, o joio do trigo.”(Cap. X1, Item 12)
Examinando a beneficência, reflitamos na Justiça que a
vida nos preceitua ao senso de relações. Sem ela, é possível que os melhores empreendimentos
sofram a nódoa de velhas mentiras crônicas em nome da gentileza. Atravessas
escabrosas necessidades materiais e, claro, te alegras ante o auxílio conveniente, mas se a cooperação
chega marcada pelo manifesto desprezo dos
que te ajudam com displicência, como se
desfizessem de um peso morto, estarias mais contente se te deixassem a sós.
Caíste moralmente ansiando levantar e rejubilaste diante do apoio que te surge
ao reerguimento, entretanto, se esse concurso aparece tisnado de violências,
qual se representasses um fardo de vergonha para os que te supõem reabilitar, sentirias
reconhecimento maior se te desconhecessem a luta. Choras, nas crises de
provação que te fustigam a existência, e regozijaste, quando os amigos se
dispõe a ouvirte o coração faminto de solidariedade, mas se pretendem
consolarte, repetindo apontamentos forçados, como se fosses para eles um
problema que são constrangidos a suportar, por questões de etiqueta, mostrarias
mais ampla gratidão se te entregassem ao silêncio da própria dor. A justiça
faznos sentir que o supérfluo de nossa casa é o necessário que falta ao vizinho; que o irmão
ignorante, tombado em erro, é alguém que nos pede os braços e que a aflição
alheia amanhã poderá ser nossa. Beneficência, por isso, assume o caráter de
dever puro e simples. Recomendanos a regra Áurea: “faze aos outros o que
desejas te seja feito”. A sentença quer dizer que todos precisamos de apoio à
luz da compreensão de remédio que se acompanhe de enfermagem e de conselho em
bases de simpatia.
Em suma, todos necessitamos de caridade uns para com os
outros, nesse ou naquele ângulo do caminho, mas é forçoso observar que se a
beneficência nos traga a obrigação de ajudar, ensinanos a justiça como se deve
fazer.
LIVRO DA ESPERANÇA - pelo Espírito Emmanuel – Francisco C
Xavier
DESCULPAR
"Jesus lhe disse: Não te digo até sete, mas até
setenta vezes sete" (Mateus, 18:22.)
Atende ao dever da
desculpa infatigável diante de todas as vitimas do mal para que a vitória do
bem não se faça tardia.
Decerto que o mal
contará com os empreiteiros que a Lei do Senhor julgará no momento oportuno,
entretanto, em nossa feição de criaturas igualmente imperfeitas, suscetíveis de
acolher-lhe a influência, vale perdoar sem condição e sem preço, para que o
poder de semelhantes intérpretes da sombra se reduza até a integral extinção.
Recorda que acima
da crueldade encontramos, junto de nós a ignorância e o infortúnio que nos cabe
socorrer cada dia.
Quem poderá, com
os olhos do corpo físico, medir a extensão da treva sobre as mãos que se envolvem no espinheiral
do crime? Quem, na sombra terrestre,
distinguirá toda a percentagem de dor e necessidade que produz o desespero e a
revolta.
Dispõe-te a
desculpar hoje, infinitamente, para que amanhã sejas também desculpado.
Observa o quadro
em que respiras e reconhecerás que a natureza é pródiga de lições no capítulo
da bondade.
O sol releva,
generoso, o monturo que o injuria, convertendo-o sem alarde em recurso
fertilizante.
O odor miasmático
do pântano, para aquele que entende as angústias da gleba, não será mensagem de
podridão, mas sim rogativa comovente, para que se lhe dê a benção do reajuste,
de modo a transformar-se em terra produtiva.
Tudo na vida roga
entendimento e caridade para que a caridade e o entendimento nos orientem as
horas.
Não olvides que a
própria noite na terra uma pausa de esquecimento para que aprendemos a ciência
do recomeço, em cada alvorada nova.
"Faze a
outrem aquilo que desejas te seja feito"
- advertiu-nos o
Amigo Excelso.
E somente na
desculpa incessante de nossas faltas recíprocas, com o amparo do silêncio e com
a força de humildade, é que atingiremos, em passo definitivo, o reino do eterno
bem com a ausência de todo mal.
Francisco Cândido
Xavier - Livro Ceifa de Luz - Pelo Espírito Emmanuel
CARIDADE PARA CONOSCO
Não nos esqueçamos
de que há também uma caridade que devemos a nós mesmos, a fim de que a caridade
que venhamos a praticar, à frente do mundo, não se reduza a mera atitude de
superfície.
Caridade que nos
eduque no espírito do Senhor, cuja Doutrina de luz abraçamos com o pensamento e
com os lábios e que, pouco a pouco, nos cabe esposar com toda a alma e coração.
Para exercê-la é
preciso que saibamos:-
perdoar as falhas
alheias sem desculpar-nos;
cooperar nas boas
obras sem aguardar a colaboração do companheiro;
ajudar aos que nos
cercam sem esperar que nos retribuam;
dar do que temos e
detemos sem cobrar o imposto da gratidão;
iluminar o caminho
que nos é próprio, aprendendo a vencer as sombras que ainda se nos adensem ao
redor;
calar para que os
outros falem;
defender os
outros, sem procurar defender-nos;
humilharmo-nos,
sem pedir que os outros se humilhem;
reconhecer nossas
falhas e corrigi-las;
servir sem
recompensa, nem mesmo o da compreensão que nos remunera com o salário do
reconforto;
trabalhar incessantemente,sem
aguardar aguilhões que nos constranjam ao desempenho dos deveres que nos
competem;
sentir no irmão de
experiência necessidades e dores iguais às nossas, para que a vaidade não nos
induza à cegueira;
considerar a
bondade constante do Senhor que opera sempre o melhor, em nosso benefício, e
cultivar o reconhecimento a Ele, através do sacrifício, em favor daqueles que
nos rodeiam.
Aperfeiçoarmo-nos
por dentro é ajudar por fora com mais segurança e como salvar significa
recuperar com finalidades justas no trabalho comum, assim como oferecemos mão
forte à árvore a fim de que ela cresça, frondeje e produza para o bem de todos,
salvando-se da inutilidade, também o Senhor nos aprimoremos, transformando-nos
em instrumentos vivos de seu Infinito Amor, onde estivermos.
Emmanuel – Livro: Atenção - Psicografia Chico Xavier
PARÁBOLA DO CREDOR
INCOMPASSIVO
“Então Pedro, aproximando-se de Jesus lhe perguntou:
Senhor, quantas vezes pecará meu irmão contra mim, que lhe hei de perdoar? Será
até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas
até setenta vezes sete vezes.
“Por isso o Reino dos Céus é semelhante a um rei, que
resolveu ajustar contas com os seus servos. E tendo começado a ajustá-las,
trouxeram um que lhe devia dez mil talentos. Não tendo, porém, o servo com que
pagar, ordenou o seu Senhor que fossem vendidos ele, sua mulher, seus filhos e tudo
quanto possuía, e que se pagasse à dívida. “O servo, pois, prostrando-se, o
reverenciava dizendo: Tem paciência comigo, que te pagarei tudo! E o Senhor teve
compaixão daquele servo, deixou-o ir e perdoou-lhe a dívida. Tendo saído,
porém, aquele servo, encontrou um de seus companheiros, que lhe devia cem
denários; e, segurando-o, o sufocava, dizendo-lhe: Paga o que me deves! E este,
caindo-lhe aos pés, implorava:
Tem paciência comigo, que te pagarei! Ele, porém, não o
atendeu; mas foi-se embora e mandou conservá-lo preso, até que pagasse a
dívida.
“Vendo, pois, os seus companheiros o que se tinha
passado, ficaram muitíssimo tristes, e foram contar ao Senhor tudo o que havia
acontecido.
Então, o Senhor chamando-o, disse-lhe: Servo malvado, eu
te perdoei toda aquela dívida, porque me pediste; não devias tu também ter
compaixão do teu companheiro, como eu tive de ti? E irou-se o seu Senhor e o
entregou aos verdugos, até que pagasse tudo o que lhe devia.
Assim também meu Pai Celestial vos fará, se cada um de
vós do íntimo do coração não perdoar a seu irmão.”
(Mateus, XVIII, 21 – 35.)
No capítulo VI do Sermão do Monte, segundo Mateus,
versículo 5 a 15, ensinou Jesus a seus discípulos e à multidão que se apinhava
para ouvir os seus ensinos, a maneira como se deveria orar; e aproveitou o ensejo
para resumir num excelente e substancioso colóquio com Deus, a súplica que ao
Poderoso Senhor devemos dirigir cotidianamente.
O Mestre renegava as longas e intermináveis rezas que os
escribas e fariseus do seu tempo proferiam, de pé nas sinagogas e nos cantos
das ruas, para serem vistos pelos homens. Observou a seus ouvintes que tal não
fizessem, mas que, fechada a porta do seu quarto, dirigissem, em secreto, a
súplica ao Senhor.
A fórmula de oração que lhes deu encerra, ao mesmo tempo,
pedidos e compromissos que teriam de assumir os suplicantes, e dos quais se
destaca o que constitui objeto dos ensinos que se acham contidos na Parábola do
Credor Incompassivo: “Perdoa as nossas dívidas, assim
como nós perdoamos aos nossos devedores.”
Do cumprimento ou não desta obrigação, depende o
deferimento ou indeferimento do nosso requerimento. Além disso, nesse dever se
resume toda a confissão, comunhão, extrema-unção, etc.
Aquele que confessar, comungar, receber a unção, mas não
perdoar os seus devedores, não será perdoado; ao passo que, o que perdoar será imediatamente
perdoado, independentemente das demais praxes recomendadas pela Igreja de Roma,
ou quaisquer outras Igrejas, como meio de salvação.
Acontece ainda que o perdão, conforme o Cristo ensinou a
Pedro, deve ser perpétuo, e não concedido uma, duas, ou sete vezes.
Daí vem a Parábola explicativa da concessão que devemos
fazer ao nosso próximo, para podermos receber de Deus o troco na mesma moeda.
Vemos que o primeiro servo a chegar foi justamente o que
mais devia: 10.000 talentos! Soma fabulosa naquele tempo, para um trabalhador,
não só naquele tempo como também hoje, pois valendo cada talento Cr$ 1.890,00
em moeda brasileira, 10.000 atingia a respeitável soma de Cr$ 18.900.000,00
(dezoito milhões e novecentos mil cruzeiros.) Se algum servo, que só tivesse
mulher, filhos e alguns haveres ficasse devendo essa importância para o Vaticano,
depois de entregue ao braço forte seria irremissivelmente condenado às penas
eternas do Inferno!
Jesus escolheu mesmo essa quantia avultada para melhor
impressionar seus ouvintes sobre a bondade de Deus e a natureza da doutrina que
em nome do Senhor estava transmitindo a todos.
Nenhum outro devedor foi lembrado na Parábola, porque só
o primeiro era bastante para que se completasse toda a lição.
Pois bem, esse devedor, vendo-se ameaçado de ser vendido
com ele sua mulher e seus filhos, sem eximir-se do pagamento, pediu moratória, valendo-se
da benevolência do rei; este, cheio de compaixão, perdoou-lhe
a dívida, isto, suspendeu as ordens que havia dado para
que tudo quanto possuía, mulher, filhos e o mesmo servo, fosse vendido para
pagamento, visto como ele se propunha a pagar com prazo.
Mas, continua a parábola, aquele devedor, que havia
recebido o perdão, logo ao sair encontrou um de seus companheiros que lhe devia
cem denários, ou seja Cr$ 31,50 da nossa moeda, verdadeira bagatela que para
ele, homem devedor de aproximadamente 19 milhões de cruzeiros, por certo nada
representava; e exigiu do devedor, violentamente, o seu dinheiro!
Ao desdobrar-se àquela cena, os seus companheiros que
haviam presenciado tudo o que se passara, indignaram-se e foram contar ao rei o
acontecido.
Dai a nova resolução do Senhor: entregou o servo malvado
aos verdugos, a fim de que o fizessem trabalhar à força, até que lhe pagasse tudo
o que lhe devia. Esta última condição é também interessante: paga a dívida,
recebe o devedor a quitação; o que quer dizer: sublata causa, tolitur effectus.
A dívida deve forçosamente constar de um certo número de algarismos;
subtraídos estes por outros tantos semelhantes, o resultado há de ser 0.
Quem deve 2 e paga 2, nada fica devendo; quem deve
dezoito milhões e novecentos mil cruzeiros e paga dezoito milhões e novecentos
mil cruzeiros, não pode continuar a ficar pagando dívida. Isto é mais claro que
água cristalina.
Termina Jesus a
Parábola afirmando: “Assim também meu Pai Celestial vos fará, se cada um de vós
do íntimo do coração não perdoar a seu irmão”.
Sem dúvida, é tão difícil a um pecador pagar dezoito
milhões e novecentos mil pecados, como a um trabalhador pagar dezoito milhões e
novecentos mil cruzeiros. Mas, tanto um como o outro têm a Eternidade diante de
si; o que não se pode fazer numa existência, far-se-á em duas, vinte,
cinqüenta, far-se-á na Outra Vida, em que o Espírito não está inativo.
Tudo isso está de acordo com a bondade de Deus, aliada à
sua justiça; o que não pode ser é o indivíduo pagar eternamente e continuar a
pagar, depois de já ter pago.
A lei do perdão é inflexível, reina no Céu tal como a
prescreveu na Terra o Mestre Nazareno, cujo Espírito, alheio aos princípios
sacerdotais, aos dogmas e mistérios das Igrejas, deve ser ouvido, respeitado,
amado e servido.
CAIRBAR SCHUTEL – PARÁBOLAS E ENSINOS DE JESUS
NO CULTO DA GENTILEZA
Lembra-te que Deus atende aos homens por intermédio das
próprias criaturas e faze da gentileza uma prece constante, através da qual a
Celeste Bondade se manifeste.
Muitos recorrem à Providência Divina, entre a revolta e o
pessimismo, olvidando a necessidade de compreensão para que o bem se exprima em
dons de reconforto, ao redor dos próprios passos, esparzindo a esperança, a fim
de que o coração se mantenha preparado, à frente das bênçãos que se propõe a
recolher.
Ninguém na Terra é tão bom que possa proclamar-se
plenamente liberto do mal e ninguém é tão mau que não possa fazer algum bem nas
dificuldades do caminho...
Nos maiores delinqüentes há sempre um filho de Deus,
transviado ou adormecido, aguardando o toque do amor de alguém, para tornar à
trilha certa.
Sê compassivo e atrairás a bondade!
Sê amigo do próximo e a amizade do próximo virá ao teu
encontro.
O carinho fraterno é uma fonte de bênçãos a deslizar no
chão duro da rotina ou da indiferença, dessedentando as almas sequiosas que
passam.
Realmente, é sempre uma afirmação de fé a nossa rogativa
verbal ao Todo Misericordioso e a prece sentida é energizante em nosso próprio
espírito, erguendo-nos para os cimos da existência.
O Senhor, no entanto, espera igualmente que nos façamos
bons de uns para com os outros, assim como exigimos seja Ele para nós o benfeitor
infatigável e incessante.
Não te esqueças de que o Mestre nos espera ao lado das
próprias criaturas que caminham conosco, a fim de auxiliar-nos.
Sejamos, devotos da cortesia e da afabilidade, em todos
os instantes, para que não aconteça venhamos a dizer, depois da oportunidade
perdida: – “Efetivamente, o Senhor estava junto de mim, mas, não pude
senti-lo”.
Porque, em verdade, pelos fios invisíveis do amor, o
Divino Mestre permanece constantemente entrosado à nossa própria vida.
Do Livro Abrigo de
Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel
O AUXÍLIO MÚTUO
Diante dos companheiros, André leu expressivo trecho de
Isaías e falou, comovido, quanto às necessidades da salvação.
Comentou Mateus os aspectos menos agradáveis do trabalho
e Filipe opinou que é sempre muito difícil atender à própria situação, quando
nos consagramos ao socorro dos outros.
Jesus ouvia os apóstolos em silêncio e, quando as
discussões, em derredor, se enfraqueceram, comentou, muito simples: — Em zona
montanhosa, através de região deserta, caminhavam dois velhos amigos, ambos
enfermos, cada qual a defender-se, quanto possível, contra os golpes do ar
gelado, quando foram surpreendidos por uma criança semimorta, na estrada, ao
sabor da ventania de inverno.
Um deles fixou o singular achado e clamou, irritadiço: —
“Não perderei tempo.
A hora exige cuidado para comigo mesmo.
Sigamos à frente”.
O outro, porém, mais piedoso, considerou: — “Amigo,
salvemos o pequenino.
É nosso irmão em humanidade”.
— “Não posso — disse o companheiro, endurecido —,
sinto-me cansado e doente.
Este desconhecido seria um peso insuportável.
Temos frio e tempestade.
Precisamos ganhar a aldeia próxima sem perda de minutos”.
E avançou para diante em largas passadas.
O viajor de bom sentimento, contudo, inclinou-se para o
menino estendido, demorou-se alguns minutos colando-o paternalmente ao próprio
peito e, aconchegando-o ainda mais, marchou adiante, embora menos rápido.
A chuva gelada caiu, metódica, pela noite a dentro, mas
ele, sobraçando o valioso fardo, depois de muito tempo atingiu a hospedaria do
povoado que buscava.
Com enorme surpresa porém, não encontrou aí o colega que
o precedera.
Somente no dia imediato, depois de minuciosa procura, foi
o infeliz viajante encontrado sem vida, num desvão do caminho alagado.
Seguindo à pressa e a sós, com a idéia egoística de
preservar-se, não resistiu à onda de frio que se fizera violenta e tombou
encharcado, sem recursos com que pudesse fazer face ao congelamento, enquanto
que o companheiro, recebendo, em troca, o suave calor da criança que sustentava
junto do próprio coração, superou os obstáculos da noite frígida, guardando-se
indene de semelhante desastre.
Descobrira a sublimidade do auxílio mútuo...
Ajudando ao menino abandonado, ajudava a si mesmo
avançando com sacrifício para ser útil a outrem, conseguira triunfar dos
percalços da senda, alcançando as bênçãos da salvação recíproca.
A história singela deixara os discípulos surpreendidos e
sensibilizados.
Terna admiração transparecia nos olhos úmidos das
mulheres humildes que acompanhavam a reunião, ao passo que os homens se
entreolhavam, espantados.
Foi então que Jesus, depois de curto silêncio, concluiu
expressivamente: — As mais eloqüentes e exatas testemunhas de um homem, perante
o Pai Supremo, são as suas próprias obras.
Aqueles que amparamos constituem nosso sustentáculo.
O coração que socorremos converter-se-á agora ou mais
tarde em recurso a nosso favor.
Ninguém duvide.
Um homem sozinho é simplesmente um adorno vivo da
solidão, mas aquele que coopera em benefício do próximo é credor do auxílio
comum.
Ajudando, seremos ajudados.
Dando, receberemos: esta é a Lei Divina.
Neio Lúcio - Do Livro Jesus no Lar - Francisco C. Xavier
O JUIZ REFORMADO
Como houvesse o Senhor recomendado nas instruções do dia
muita cautela no julgar, a conversação em casa de Pedro se desdobrava em
derredor do mesmo tema.
— É difícil não
criticar — comentava Mateus, com lealdade —, porque, a todo instante, o homem
de mediana educação é compelido a emitir pareceres na atividade comum.
— Sim — concordava
André, muito franco —, não é fácil agir com acerto, sem analisar detidamente.
Depois de vários
depoimentos, em torno do direito de observar e corrigir, interferiu Jesus sem
afetação: — Inegavelmente, homem algum poderá cumprir o mandato que lhe cabe,
no plano divino da vida, sem vigiar no caminho em que se movimenta, sob os
princípios da retidão.
Todavia, é
necessário não inclinar o espírito aos desvarios do sentimento, para não sermos
vitimados por nós mesmos.
Seremos julgados
pela medida que aplicarmos aos outros.
O rigor responde
ao rigor, a paciência à paciência, a bondade à bondade...
E, transcorridos
alguns instantes, contou: — Quando Israel vivia sob o governo dos grandes
juízes, existiu um magistrado austero e violento, em destacada cidade do povo
escolhido, que imprimiu o terror e a crueldade em todos os serventuários sob a
sua orientação.
Abusando dos
poderes que a lei lhe conferia, criou ordenações tirânicas para a punição das
mínimas faltas.
Multiplicou
infinitamente o número dos soldados, edificou muitos cárceres e inventou
variados instrumentos de flagelação.
O povo, asfixiado
por estranhas proibições, devia movimentar-se debaixo de severa fiscalização,
qual se fora rebanho de bravios animais.
Trabalharia,
descansaria e adoraria o Senhor, em horas rigorosamente determinadas pela
autoridade, sob pena de sofrer humilhantes castigos, nas prisões, com pesadas
multas de toda espécie.
Se bem mandava o
juiz, melhor agiam os subordinados, cheios de natural malvadez.
Assim foi que,
certa feita, dirigindo-se o magistrado, alta noite, à casa de um filho enfermo,
foi aprisionado, sem qualquer consideração, por um grupo de guardas bêbedos e
inconscientes que o conduziram a escura enxovia que ele mesmo havia inaugurado,
semanas antes.
Não lhe valeram a
apresentação do nome e as honrosas insígnias de que se revestia.
Tomado por temível
ladrão, foi manietado, despojado dos bens que trazia e espancado sem piedade,
afirmando os sentinelas que assim procediam, obedecendo às instruções do grande
juiz, que era ele próprio.
Somente no dia
imediato foi desfeito o equívoco, quando o infeliz homem público já havia
sofrido a aplicação das penas que a sua autoridade estabelecera para os outros.
O legislador
atribulado reconheceu, então, que era perigoso transmitir o poder a subalternos
brutalizados e ignorantes, percebendo que a justiça construtiva e santificante
é aquela que retifica ajudando e educando, na preparação do Reinado do Amor
entre os homens.
Desde a singular
ocorrência, a cidade adquiriu outro modo de ser, porque o juiz reformado,
embora prosseguisse atento às funções que lhe competiam, ergueu, sobre o
tribunal, a benefício de todos, o coração de pai compreensivo e amoroso.
Lá fora, brilhavam
estrelas, retratadas nas águas serenas do grande lago.
Depois de longa
pausa, o Mestre concluiu: — Somente aquele que aprendeu intensamente com a
vida, estudando e servindo, suando e chorando para sustentar o bem, entre os
espinhos da renúncia e as flores do amor, estará habilitado a exercer a
justiça, em nome do pai.
Neio Lúcio - Do Livro Jesus no Lar - Francisco C. Xavier
A RECEITA DA FELICIDADE
Tadeu, que era dos comentaristas mais inflamados, no
culto da Boa Nova, em casa de Pedro, entusiasmara-se na reunião, relacionando
os imperativos da felicidade humana e clamando contra os dominadores de Roma e
contra os rabinos do Sinédrio.
Tocado de indisfarçável revolta, dissertou largamente
sobre a discórdia e o sofrimento reinantes no povo, situando-lhes a causa nas
deficiências políticas da época, e, depois que expendeu várias considerações
preciosas, em torno do assunto, Jesus perguntou-lhe:
— Tadeu, como interpreta você a felicidade? — Senhor, a
felicidade é a paz de todos.
O Cristo estampou significativa expressão fisionômica e
ponderou:
— Sim, Tadeu, isto não desconheço; entretanto, estimaria
saber como se sentiria você realmente feliz.
O discípulo, com algum acanhamento, enunciou:
— Mestre, suponho que atingiria a suprema tranqüilidade
se pudesse alcançar a compreensão dos outros.
Desejo, para esse fim, que o próximo me não despreze as
intenções nobres e puras.
Sei que erro, muitas vezes, porque sou humano;
entretanto, ficaria contente se aqueles que convivem comigo me reconhecessem o
sincero propósito de acertar.
Respiraria abençoado júbilo se pudesse confiar em meus
semelhantes, deles recebendo a justa consideração de que me sinta credor, em
face da elevação de meu ideal.
Suspiro pelo respeito de todos, para que eu possa
trabalhar sem impedimentos.
Regozijar-me-ia se a maledicência me esquecesse.
Vivo na expectativa da cordialidade alheia e julgo que o
mundo seria um paraíso se as pessoas da estrada comum se tratassem de acordo
com o meu anseio honesto de ser acatado pelos demais.
A indiferença e a calúnia doem-me no coração.
Creio que o sarcasmo e a suspeita foram organizados pelos
Espíritos das trevas, para tormento das criaturas.
A impiedade é um fel quando dirigida contra mim, a
maldade é um fantasma de dor quando se põe ao meu encontro.
Em razão de tudo isso, sentir-me-ia venturoso se os meus
parentes, afeiçoados e conterrâneos me buscassem, não pelo que aparento ser nas
imperfeições do corpo, mas pelo conteúdo de boa-vontade que presumo conservar
em minh’alma.
Acima de tudo, Senhor, estaria sumamente satisfeito se
quantos peregrinam comigo me concedessem direito de experimentar livremente o
meu gênero de felicidade pessoal, desde que me sinta aprovado pelo código do
bem, no campo de minha consciência, sem ironias e críticas descabidas.
Resumindo, Mestre, eu queria ser compreendido, respeitado
e estimado por todos, embora não seja, ainda, o modelo de perfeição que o Céu
espera de mim, com o abençoado concurso da dor e do tempo.
Calou-se o apóstolo e esboçou-se, na sala singela,
incontido movimento de curiosidade ante a opinião que o Cristo adotaria.
Alguns dos companheiros esperavam que o Amigo Celeste
usasse o verbo em comprida dissertação, mas o Mestre fixou os olhos muito
límpidos no discípulo e falou com franqueza e doçura: 25 — Tadeu, se você
procura, então, a alegria e a felicidade do mundo inteiro, proceda para com os
outros, como deseja que os outros procedam para com você.
E caminhando cada homem nessa mesma norma, muito breve
estenderemos na Terra as glórias do Paraíso.
Neio Lúcio - Do Livro Jesus no Lar - Francisco C. Xavier
A REGRA DE AJUDAR
João, no age da curiosidade juvenil, compreendendo que se
achava à frente de novos métodos de viver, tal a grandeza com que o Evangelho
transparecia dos ensinamentos do Senhor, perguntou a Jesus qual a maneira mais
digna de se portar o aprendiz, diante do próximo, no sentido de ajudar aos
semelhantes, ao que o Amigo Divino respondeu, com voz clara e firme:
— João, se procuras uma regra de auxiliar os outros,
beneficiando a ti mesmo, não te esqueças de amar o companheiro de jornada
terrestre, tanto quanto desejas ser querido e amparado por ele.
A pretexto de cultivar a verdade, não transformes a
própria existência numa batalha em que teus pés atravessem o mundo, qual
furioso combatente no deserto; recorda que a maioria dos enfermos conhece, de
algum modo, a moléstia que lhes é própria, reclamando amizade e entendimento,
acima da medicação.
Lembra-te de que não há corações na Terra, sem problemas
difíceis a resolver; em razão disso, aprende a cortesia fraternal para com
todos.
Acolhe o irmão do caminho, não somente com a saudação
recomendada pelos imperativos da polidez, mas também com o calor do teu sincero
propósito de servir.
Fixa nos olhos as pessoas que te dirigirem a palavra,
testemunhando-lhes carinhoso interesse, e guarda sempre a posição de ouvinte
delicado e atencioso; não levantes demasiadamente a voz, porque a segurança e a
serenidade com que os mais graves assuntos devem ser tratados não dependem de
ruído.
Abstém-te das conversações improfícuas; o comentário
menos digno é sempre invasão delituosa em questões pessoais.
Louva quem trabalha e, ainda mesmo diante dos maus e dos
ociosos, procura exaltar o bem que são suscetíveis de produzir.
Foge ao pessimismo, guardando embora a prudência
indispensável perante as criaturas arrojadas em negócios respeitáveis, mas
passageiros, do mundo; a tristeza improdutiva, que apenas sabe lastimar-se,
nunca foi útil à Humanidade, necessitada de bom ânimo.
Usa, cotidianamente, a chave luminosa do sorriso
fraterno; com o gesto espontâneo de bondade, podemos sustar muitos crimes e
apagar muitos males.
Faze o possível por ser pontual; não deixes o companheiro
à tua espera, a fim de que te não seja atribuída uma falsa importância.
Agradece todos os benefícios da estrada, respeitando os
grandes e os pequenos; se o Sol aquece a vida, é a semente de trigo que fornece
o pão.
Deixa que as águas vivas e invisíveis do Amor, que
procedem de Deus, Nosso Pai, atravessem o teu coração, em favor do círculo de
luta em que vives; o Amor é a força divina que engrandece a vida e confere
poder.
Façamos, sobretudo, o melhor que pudermos, na felicidade
e na elevação de todos os que nos cercam, não somente aqui, mas em qualquer
parte, não apenas hoje, mas sempre.
Silenciou o Cristo e, assinalando a beleza do programa
exposto, o jovem apóstolo inquiriu respeitosamente:
— Senhor, como conseguirei executar tão expressivos
ensinamentos? O Mestre respondeu, resoluto:
— A boa-vontade é nosso recurso de cada hora.
E, afagando os cabelos do discípulo inquieto, encerrou as
preces da noite.
Do Livro Jesus no Lar
- Francisco C. Xavier
O EDUCADOR CONTURBADO
Salientando o Senhor que a construção do Reino Divino
seria obra de união fraternal entre todos os homens de boa-vontade, o velho
Zebedeu, que amava profundamente os apólogos do Cristo, pediu-lhe alguma
narrativa simbólica, através da qual a compreensão se fizesse mais clara entre
todos.
Jesus, benévolo como sempre, sorriu e contou:
— Viviam os homens em permanentes conflitos, acompanhados
de miséria, perturbação e sofrimento, quando o Pai compadecido lhes enviou um
mensageiro, portador de sublimes sementes da Árvore da Felicidade e da Paz.
Desceu o anjo com o régio presente e, congregando os
homens para a entrega festiva, explicou-lhes que o vegetal glorioso produziria
flores de luz e frutos de ouro, no futuro, apagando todas as dissensões, mas
reclamava cuidados especiais para fortalecer-se.
Em germinando, era imprescindível a colaboração de todos,
nos cuidados excepcionais do amor e da vigilância.
As sementes requeriam terra conveniente, aperfeiçoado
sistema de irrigação, determinada classe de adubo, proteção incessante contra
insetos daninhos e providências diversas, nos tempos laboriosos do início; a
planta, contudo, era tão preciosa em si mesma que bastaria um exemplar
vitorioso para que a paz e a felicidade se derramassem, benditas, sobre a
comunidade em geral.
Seus ramos abrigariam a todos, seu perfume envolveria a
Terra em branda harmonia e seus frutos, usados pelas criaturas, garantiriam o
bem-estar do mundo inteiro.
Finda a promessa e depois de confiadas ao povo as
sementes milagrosas, cada circunstante se retirou para o domicílio próprio,
sonhando possuir, egoisticamente, a árvore das flores de luz e dos frutos de
ouro.
Cada qual pretendia a preciosidade para si, em caráter de
exclusividade.
Para isso, cerraram-se, apaixonadamente, nas terras que
dominavam, experimentando a sementeira e suspirando pela posse pessoal e
absoluta de semelhante tesouro, simplesmente por vaidade do coração.
A árvore, todavia, a fim de viver, reclamava concurso
fraterno total, e os atritos ruinosos continuaram.
As sementes, pela natureza divina que as caracterizava,
não se perderam; entretanto, se alguns cultivadores possuíam água, não possuíam
adubo e os que retinham o adubo não dispunham de água farta.
Quem detinha recursos para defender-se contra os vermes,
não encontrava acesso à gleba conveniente e quem se havia apoderado do melhor
solo não contava com possibilidades de vigilância.
E tanto os senhores provisórios da água e do adubo, da terra
e dos elementos defensivos, quanto os demais candidatos à posse da riqueza
celeste, passaram a lutar, em desequilíbrio pleno, exterminando-se
reciprocamente.
O Mestre fez longo intervalo na curiosa narrativa e
acrescentou:
— Este é o símbolo da guerra improfícua dos homens em
derredor da felicidade.
Os talentos do Pai foram concedidos aos filhos,
indistintamente, para que aprendam a desfrutar os dons eternos, com
entendimento e harmonia.
Uns possuem a inteligência, outros a reflexão; uns
guardam o ouro da terra, outros o conhecimento sublime; alguns retêm a
autoridade, outros a experiência; todavia, cada um procura vencer sozinho, não
para disseminar o bem com todos, através do heroísmo na virtude, mas para
humilhar os que seguem à retaguarda.
E fitando Zebedeu, de modo significativo, finalizou:
— Quando a verdadeira união se fizer espontânea, entre
todos os homens no caminho redentor do trabalho santificante do bem natural,
então o Reino do Céu resplandecerá na Terra, à maneira da árvore divina das
flores de luz e dos frutos de ouro.
O velho galileu sorriu, satisfeito, e nada mais
perguntou.
Neio Lúcio - Do Livro Jesus no Lar - Francisco C. Xavier
NA INTIMIDADE
DOMÉSTICA
A história do bom samaritano, repetidamente estudada,
oferece conclusões sempre novas.
O viajante compassivo encontra o ferido anônimo na
estrada.
Não hesita em auxiliá-lo.
Estende-lhe as mãos.
Pensa-lhe as feridas.
Recolhe-o nos braços sem qualquer idéia de preconceito.
Conduze-o ao albergue mais próximo.
Garante-lhe a pousada.
Olvida conveniências e permanece junto dele, enquanto
necessário.
Abstém-se de indagações.
Parte ao encontro do dever, assegurando-lhe a assistência
com os recursos da própria bolsa, sem prescrever-lhe obrigações.
Jesus transmitiu-nos a parábola, ensinando-nos o
exercício da caridade real, mas, até agora, transcorridos quase dois milênios,
aplicamo-la, via de regra, às pessoas que não nos comungam o quadro particular.
Quase sempre, todavia, temos os caídos do reduto
doméstico.
Não descem de Jerusalém para Jericó, mas tombam da fé
para a desilusão e da alegria para a dor, espoliados nas melhores esperanças,
em rudes experiências.
Quantas vezes surpreendemos as vítimas da obsessão e do
erro, da tristeza e da provação, dentro de casa !
Julgamos, assim, que a parábola do bom samaritano
produzirá também efeitos admiráveis, toda vez que nos decidirmos a usá-la, na
vida íntima, compreendendo e auxiliando os vizinhos e companheiros, parentes e
amigos, sem nada exigir e sem nada perguntar.
Emmanuel - De Coragem, de Francisco Cândido Xavier
ESPELHOS REFLEXOS
Queixas-te, por vezes, de “azar” ou “má sorte”.
Notas azedume e irritação nos outros, por onde vás.
Ignoramos se já sabes que somos espelhos uns dos outros.
Cada um de nós vê nos companheiros as imagens uns dos
outros.
Mas não projetamos apenas a nossa imagem. Arrojamos de
nós, igualmente, as nossas disposições mais íntimas.
Se nos aproximamos de alguém, transportando alegria ou
aborrecimento, simpatia ou aversão, a pessoa ou as pessoas que nos cercam
passam, de imediato, a retratar-nos as disposições psicológicas.
Não te digas sem amigos e sem caminhos, à maneira de
alguém que vive no mundo, diante de portas fechadas.
Acende a luz do sorriso na própria face e deixa que a
bondade e a compreensão te orientem os modos e as palavras.
Trata aos outros como desejas que os outros te tratem.
Em seguida, observa os resultados.
Emmanuel - Livro
Momentos de Paz - Francisco Cândido Xavier - Emmanuel
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