13 – Eu vos disse recentemente, meus queridos filhos, que
a caridade sem a fé não seria suficiente para manter entre os homens uma ordem
social de fazê-los felizes. Devia ter dito que a caridade é impossível sem a
fé. Podereis encontrar, é verdade, impulsos generosos entre as pessoas sem
religião. Mas essa caridade austera, que só pode ser exercida pela abnegação,
pelo sacrifício constante de todo o interesse egoísta, nada a não ser a fé poderá
inspirá-la, porque nada além dela nos faz carregar com coragem e perseverança a
cruz desta vida.
Sim, meus filhos, é inútil querer o homem, ávido de
prazeres, iludir-se quanto ao seu destino terreno, pretendendo que lhe seja
permitido ocupar-se apenas da sua felicidade. Certo que Deus nos criou para
sermos felizes na eternidade, mas a vida terrena deve servir unicamente para o
nosso aperfeiçoamento moral, o qual se conquista mais facilmente com a ajuda do
corpo e do mundo material. Sem contar as vicissitudes comuns da vida, a
diversidade de vossos gostos, de vossas tendências, de vossas necessidades, são
também um meio de vos aperfeiçoardes, exercitando-vos na caridade. Porque
somente a custa de concessões e de sacrifícios mútuos, é que podeis manter a
harmonia entre elementos tão diversos.
Tendes razão, entretanto, ao afirmar que a felicidade
está reservada ao homem neste mundo, se a procurardes antes na prática do bem
do que nos prazeres materiais. A história da cristandade nos fala dos mártires
que caminhavam com alegria para o suplício. Hoje, na vossa sociedade, para ser
cristão já não se precisa enfrentar a fogueira do mártir, nem o sacrifício da
vida, mas única e simplesmente o sacrifício do egoísmo, do orgulho e da vaidade.
Triunfareis, se a caridade vos inspirar e fordes sustentados pela fé.
TEXTOS DE APOIO
O BOM LADRÃO
Alguns dias antes da prisão do Mestre, os discípulos, nas
suas discussões naturais, comentavam o problema da fé, com o desejo desordenado
de quantos se atiraram aos assuntos graves da vida, tentando apressadamente
forçar uma solução.
– Como será essa virtude? De que modo conservá-la-emos
intacta no coração? – inquiria Levi, com atormentado pensamento – Tenho a
convicção de que somente o homem culto pode conhecer toda a extensão de seus
benefícios.
– Não tanto assim – aventava Tiago, seu irmão – acredito
que basta a nossa vontade, para que a confiança em Deus esteja viva em nós.
– Mas, a fé será virtude para os que apenas desejam? –
Perguntava um dos filhos de Zebedeu.
A um canto, como distante daqueles duelos da palavra,
Jesus parecia meditar. Em dado instante, solicitado ao esclarecimento,
respondeu com suavidade:
– A fé pertence, sobretudo, aos que trabalham e confiam.
Tê-la no coração é estar sempre pronto para Deus. Não importam a saúde ou a
enfermidade do corpo, não têm significação os infortúnios ou os sucessos
felizes da vida material. A alma fiel trabalha confiante nos desígnios do Pai,
que pode dar os bens, retirá-los e restituí-los em tempo oportuno, e caminha
sempre com serenidade e amor, por tôdas as sendas pelas quais a mão generosa do
Senhor a queira conduzir.
– Mas, Mestre – redargüiu Levi, em respeitosa atitude –
como discernir a vontade de Deus, naquilo que nos acontece? Tenho observado
grande número de criaturas criminosas que atribuem à Providência os seus feitos
delituosos e uma legião de pessoas inertes que classificam a preguiça como
fatalidade divina.
– A vontade de Deus, além da que conhecemos através de
sua lei e de seus profetas, através do conselho sábio e das inclinações
naturais para o bem, é também a que se manifesta, a cada instante da vida,
misturando a alegria com as amarguras, concedendo a doçura ou retirando-a, para
que a criatura possa colher a experiência luminosa no caminho mais espinhoso.
Ter fé, portanto, é ser fiel a essa vontade, em tôdas as circunstâncias,
executando o bem que ela nos determina e seguindo-lhe o roteiro sagrado, nas menores
sinuosidades da estrada que nos compete percorrer.
– Entretanto – observou Tomé – creio que essa qualidade
excepcional deve ser atributo do espírito mais cultivado, porque o homem
ignorante não poderá cogitar da aquisição de semelhante patrimônio.
O Mestre fitou o apóstolo com amor e esclareceu :
– Todo homem de fé será, agora ou mais tarde, o irmão
dileto da sabedoria e do sentimento ; porém, essa qualidade será sempre a do
filho leal ao Pai que está, nos céus. O discípulo sorriu e obtemperou :
– Todavia, quem possuirá no mundo lealdade perfeita como
essa?
– Ninguém pode julgar em absoluto – disse o Cristo com
bondade – a não ser o critério definitivo de Deus; mas, se essa conquista da
alma não é comum às criaturas de conhecimento parco ou de posição vulgar, é bem
possível que a encontremos no peito exausto dos mais infelizes ou
desclassificados do mundo.
O apóstolo sorriu desapontado, no seu cepticismo de homem
prático. Dentro em pouco, a pequena comunidade se dispersava, à aproximação do
manto escuro da noite.
***
Na hora sombria da cruz, disfarçado com vestes
diferentes, Tomé acompanhou, passo a passo, o corajoso Messias.
Estranhas reflexões surgiam-lhe no espírito. Sua razão de
homem do mundo não lhe proporcionava elementos para a compreensão da verdade
toda. Onde estava aquele Deus amoroso e bom, sobre quem repousavam as suas
esperanças? Seu amor possuiria apenas uma, cruz para oferecer ao filho dileto?
Por que motivo não se rasgavam os horizontes, para que as legiões dos anjos
salvassem do crime da multidão inconsciente e furiosa o Mestre amado? Que
providência era aquela que se não manifestava no momento oportuno? Durante três
anos consecutivos haviam acreditado que Deus guardava todo o poder sobre o
mundo; não conseguia, pois, explicar como tolerava aquele espetáculo sangrento
de ser o seu enviado, amorável e carinhoso, conduzido para o madeiro infamante,
sob impropérios e pedradas. O prêmio do Cristo era então aquele monte da
desolação, reservado aos criminosos?
Ansioso, o discípulo contemplou aquelas mãos, que haviam
semeado a bem e o ardor, agora agarradas à cruz, como duas flores
ensangüentadas. A fronte aureolada de espinhos era uma nota irônica, na sua
figura sublime e respeitável. Seu peito tremia, ofegante, seus ombros deveriam
estar pisados e doloridos. Valera a pena haver distribuído, entre os homens,
tantas graças do céu? O malfeitor que assaltava o próximo era, agora, a seu
ver, o dono de mais duradouras compensações.
Tomé se sentia como que afogado. Desejou encontrar algum
dos companheiros para trocar impressões ; entretanto, não viu um só deles.
Procurou observar se os beneficiados pelo Messias lhe assistiam ao martírio
humilhante, na hora final, lembrado de que ainda na véspera se mostravam tão
reconhecidos e felizes com sua presença santa. A ninguém encontrou. Aqueles
leprosos que haviam recuperado o dom precioso da saúde, os cegos que
conseguiram rever o quadro caricioso da vida, os aleijados que haviam cantado
hosanas à cura de seus corpos defeituosos, estavam agora ausentes, fugiam ao
testemunho. Valera, a pena praticar o bem? O apóstolo, mergulhado em dolorosos
e sombrios pensamento, deixava absorver-se em estranhas interrogações.
Reparou que em torno da, cruz estrugiam gargalhadas e
ironias. O Mestre, contudo, guardava no semblante uma serenidade inexcedível.
De vez em quando, seu olhar se alongava por sobre a multidão, como querendo
descobrir um rosto amigo.
Sob as vociferações da turba amotinada, a Tomé
parecia-lhe escutar ainda o ruído inolvidável dos cravos do suplício. Enquanto
as lanças e os vitupérios se cruzavam nos ares, fixou os dois malfeitores que a
justiça do mundo havia condenado à pena última. Aproximou-se da cruz e notou
que o Messias punha nele os olhos amorosos, como nos tempos mais tranqüilos.
Viu que um suor empastado de sangue lhe corria do rosto venerável,
misturando-se com o vermelho das chagas vivas e dolorosas. Com aquele olhar
inesquecível, Jesus lhe mostrou as úlceras abertas, como o sinal do sacrifício.
O discípulo experimentou penosa emoção a lhe dominar a alma sensível. Olhos
nevoados de pranto, recordou os dias radiosos do Tiberíades.
As cenas mais singelas do apóstolo ressurgiam ante a sua
imaginação. Subitamente, lembrou-se da tarde que haviam comentado o problema da
fé, parecendo-lhe ouvir ainda as elucidações do Mestre, com respeito à perfeita
lealdade a Deus.
Reflexões instantâneas lhe empolgaram o coração.
Quem teria sido mais fiel ao Pai do que Jesus?
Entretanto, a sua recompensa era a cruz do martírio!
Absorto em singulares pensamentos, o apóstolo observou que o Messias lançava
agora os olhos enternecidos sobre um dos ladrões que o fixava afetuosamente.
Nesse instante, percebeu que a voz débil do celerado se
elevava para o Mestre, em tom de profunda sinceridade :
– Senhor! – disse ele, ofegante – lembra-te de mim,
quando entrares no teu Reino!...
O discípulo reparou que Jesus lhe endereçava, então, o
olhar caricioso, ao mesmo tempo que aos seus ouvidos chegavam os ecos de sua
palavra suave e esclarecedora :
– Vês, Tomé? Quando todos os homens da lei não me
compreenderam e quando os meus próprios discípulos me abandonaram, eis que
encontro a confiança leal no peito de um ladrão!...
***
Inquieto, o discípulo meditou a lição recebida e, horas a
fio, contemplou o espetáculo penoso, até ao momento em que o Mestre foi
retirado da cruz da derradeira agonia. Começava, então, a compreender a
essência profunda de seus ensinos imortais.
Como se o seu espírito fora transportado ao cume de alto
monte, pareceu-lhe observar daí a pesada marcha humana. Viu conspícuos homens
da lei, sobraçando os livros divinos; doutores enfatuados de orgulho passavam
eretos, exibindo os mais complicados raciocínios. Homens de convicções sólidas
integravam o quadro, entremostrando a fisionomia satisfeita. Mulheres vaidosas
ou fanáticas lá iam, igualmente, revelando seus títulos diletos. Em seguida,
vinham os diretamente beneficiados pelo Mestre Divino. Era a legião dos que se
haviam levantado da miséria física e das ruínas morais. Eram os leprosos de
Jerusalém, os cegos de Cafarnaum, os doentes de Sidon, os seguidores
aparentemente mais sinceros, ao lado dos próprios discípulos que desfilavam
envergonhados e se dispersavam, indecisos, na hora extrema.
Possuído de viva emoção, Tomé se pôs a chorar
intimamente. Foi então que presumiu escutar uns passos delicados e quase
imperceptíveis. Sem poder explicar o que se dava, julgou divisar, a seu lado, a
inolvidável figura do Mestre, que lhe colocou as mãos leves e amigas sobre a
fronte atormentada, repetindo-lhe ao coração as palavras que lhe havia
endereçado da cruz :
– Vês, Tomé? Quando todos os homens da lei não me
compreenderam e os próprios discípulos me abandonaram, eis que encontro a
confiança leal no peito de um ladrão!...
Irmão X - Humberto de Campos - Do livro “Boa Nova”.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
ENTREVISTA SOBRE O
AUTO-AMOR
"Hoje, na vossa sociedade, para serdes cristãos, não
se vos faz mister nem o holocausto do martírio, nem o sacrifício da vida, mas
única e exclusivamente o sacrifício do vosso egoísmo, do vosso orgulho e da
vossa vaidade. Triunfareis, se a caridade vos inspirar e vos sustentar a
fé." Espírito protetor (Cracóvia, 1861).O Evangelho Segundo o Espiritismo,
capítulo 11, item 13.
O que é o auto-amor?
É a construção de uma relação amorosa e acolhedora com
nós mesmos.
Parece-me ser algo tão difícil de ser conquistado! Estou
certo?
O amor é um aprendizado. Amor a si, amor ao próximo e
amor a Deus são princípios universais de orientação na evolução, e a todos é
destinado esse aprendizado no campo do aprimoramento espiritual.
Entretanto, para cada espírito, o mapa de estratégias
desse aprendizado é muito diverso e toma dimensões de conformidade com seu
nível de amadurecimento moral e espiritual.
Amor é algo que tem íntima relação com maturidade
espiritual?
Inegavelmente. A maturidade do senso moral e da
inteligência afetiva permite melhores habilidades, as quais resultam em comportamento
orientado pelo amor.
Quais os aspectos que mais precisamos desenvolver para
que amadureçamos espiritual e emocionalmente?
O uso do interesse pessoal sublimado pelo amor, ou seja,
a aplicação do egoísmo para seus fins iluminativos.
O amor modera o egoísmo, transformando-o em fonte de
proteção e satisfação de necessidades essenciais sem que nos abstenhamos da
relação de cooperação e solidariedade fraterna com a vida e com o próximo.
Quem cuida de si com amor legítimo edifica um alicerce
sólido para erguer uma convivência saudável, rica de afeto e com dilatada
disposição de inclusão incondicional do seu próximo.
Por essa razão, voltamos ao texto de apoio anterior:
"Hoje, na vossa sociedade, para serdes cristãos, não
se vos faz mister nem o holocausto do martírio, nem o sacrifício da vida, mas
única e exclusivamente o sacrifício do vosso egoísmo, do vosso orgulho e da
vossa vaidade. Triunfareis, se a caridade vos inspirar e vos sustentar a
fé."
Quando começamos a cuidar de nós com autoamor temos uma
sensação de culpa, como se estivéssemos sendo egoístas. Como distinguir
autoamor e egoísmo?
Somente enfrentando nosso medo de ser egoístas saberemos
qual a justa medida entre egoísmo e proteção dentro dos nossos limites, com
base no amor a nós mesmos.
O egoísta só pensa nele. Ao contrário, quem se ama, sente
enorme atração, nascida nas fontes profundas do coração, para amar os outros.
Quem se ama sente-se saciado, preenchido, e por essa
razão guarda uma capacidade maior e mais equilibrada de estender a mão e de
colaborar com as necessidades alheias.
Onde existe amor legítimo não existe espaço para egoísmo
tóxico, porque o verdadeiro amor é agregador, sinérgico e solicita proximidade
e relação.
Quem se acolhe amorosamente se abre ainda mais para o seu
próximo. Quem se ama vai com o seu melhor em direção ao seu semelhante.
Quando o espírito consegue cuidar de si à luz do amor,
percebe nitidamente que o amor ao seu próximo é um efeito natural de sua
construção interior, de uma relação amorosa e acolhedora com seus sentimentos e
com suas atitudes.
Por que temos uma sensação de ser egoístas quando nos
direcionamos para o autoamor?
Quando optamos por cuidar de nós mesmos com autoamor,
temos uma nítida sensação de que estamos abandonando as pessoas que amamos ou
de que nosso comportamento é uma expressão de egoísmo, porque tivemos uma
educação emocional muito deficiente. Aprendemos que amor é se anular para que o
outro fique bem: lamentável concepção que não reflete o amor de Deus nas leis
cósmicas!
Uma reflexão madura nos leva a concluir o contrário,
pois, quando cuidamos de nós com sabedoria, colocamo-nos em condições ainda
melhores para fazer algo efetivamente útil por aqueles que amamos.
Amor não inclui necessariamente o sacrifício, o qual é
justo somente quando a vida, em função de provas e necessidades particulares,
nos coloca em situações irremediáveis que pedem o nosso testemunho em ciclos de
muita dor. Afora isso, o amor de quem sabe cuidar de si é uma promessa de
leveza, bons resultados, construção, justiça e crescimento.
Embora o mapa de estratégias para aquisição do auto-amor
seja individual, poderia nos dar uma recomendação para nossa educação emocional
que seja pertinente à maioria de nós?
Aceitação e fé.
Uma das principais razões para não aceitarmos a realidade
que nos afeta é a fuga de um dos mais importantes sentimentos para a sanidade
psíquica e emocional: o medo. Somente enfrentando os nossos medos e fazendo
conexão com suas insinuações conseguiremos a conduta de aceitação com a
realidade.
O medo é um indicador saudável de que existe apego a
conceitos, crenças e sentimentos, e quem se apega cria uma percepção mental
ilusória. Quem não aceita consome-se na revolta de ter de experimentar uma vida
desconectada com suas expectativas e idealizações.
Uma das principais razões para a dor do medo é ter um
olhar pretensioso e idealista para a existência, é querer que a vida e as
pessoas sejam exatamente como achamos que devem ser. Diante disso, muitos
corações insensatos na Terra padecem a dor da anulação, da ausência de valor
pessoal e do sacrifício voluntário em nome do amor.
Auto-amor acontece quando aceitamos a realidade e não
resistimos ao que a vida e as pessoas são. Quem aceita permite um estado
interior de otimismo e coragem que se chama fé. Pessoas que não se amam passam
a maior parte da vida querendo mudar o mundo e as pessoas.
A grande função terapêutica do medo é nos alertar para o
que estamos precisando rever dentro de nós, funcionando como um sensor de
idealizações e ilusões.
A fé é a armadura de proteção mais resistente que pode
existir. E como definir fé nessa situação? Ela deve ser definida como a crença
lúcida de que a melhor alternativa que existe diante de nossas necessidades de
aprimoramento é o enfretamento de nossas lutas, com a única certeza no coração
de que daremos conta de superar todos os nossos obstáculos.
Fé é o medo para frente.
Livro: Escutando Sentimentos - Wanderley S. De Oliveira -
Pelo Espírito Ermance Dufaux
EM FAVOR DA
ALEGRIA
“Assim também não é vontade de Nosso Pai que está nos Céus,
que um destes pequeninos se perca.”
Jesus (Mateus, 18:14)
“A verdadeira caridade não consiste apenas na esmola que dais,
nem mesma nos palavras de consolação
que lhe aditeis.
Não, não é apenas isso o que
Deus exige de
vós. A caridade sublime que Jesus
ensinou, também consiste na benevolência de
que useis sempre e
em todas as
coisas par a com o vosso próximo.” (Cap. 11, Item 14)
Muito grande no mundo o cortejo das moléstias que
infelicitam as criaturas, no entanto, maior é o fardo de inquietação que lhes
pesa nos ombros. Onde haja sinal de presença humana, aí se amontoam os
supliciados morais,
lembrando legiões de sonâmbulos, fixados ao sofrimento.
Não apenas os que passeiam na rua a herança de lágrimas que trouxeram ao renascer...
Esmagadora percentagem dos aflitos carrega temerosos no refúgio doméstico que,
levantado em louvor da alegria familiar, se transforma, não raro, em
clausura flagelante. Daí procede o acervo dos
desalentados que possuem tão somente a fria visão da névoa para o dia seguinte.
São pessoas desacoroçoadas na luta pela aquisição de suprimento às exigências
primárias; pais e mães trespassados de pesar, diante de filhos que lhes
desdouram a existência; mulheres traumatizadas em esforço de sacrifício;
crianças e jovens desarvorados nos primeiros passos da vida; companheiros
encanecidos em rijas experiências, atrelados carga de labores quando não são
acolhidos nos braços da caridade pública, de modo a não perturbarem o sono dos
descendentes. Somemos semelhantes desgostos às tribulações dos que clamam
por equilíbrio das grades dos manicômios;
dos que sonham liberdade na estreiteza do cárcere; dos que choram manietados em
leitos de expiação e dos milhares de espíritos desencarnados, ainda em
pesadelos indescritíveis que comunicam à esfera física os rescaldos do próprio desespero
e verificaremos que a tristeza destrutiva é comparável à praga fluídica, prejudicando
todos os flancos da evolução na Terra.
Ponderando tudo isso respeitemos a dor, mas plantemos a
alegria e a esperança, onde nossa influência logre chegar.
Falemos de otimismo, cultivemos serviço, ensinemos
confiança e exercitemos serenidade. Ninguém espera sejamos remédio a toda
angústia e rio a toda sede, entretanto, à frente da sombra e da secura que atormentam
os homens, cada um de nós pode ser a consolação do raio de luz e a bênção do
copo d’água.
LIVRO DA ESPERANÇA pelo Espírito Emmanuel – Francisco C
Xavier
O IMPERATIVO DA AÇÃO
Explanavam os aprendizes, acaloradamente, sobre as
necessidades de preparação para o Reino Divino.
Filipe, circunspecto, salientava o impositivo da
meditação.
Tiago, o mais velho, opinava pelo retiro espiritual; os
discípulos do movimento renovador, a seu ver, deviam isolar-se em zona
inacessível ao pecado.
João optava pela adoração constante, chegando ao extremo
de sugerir o abandono das atividades profissionais, por parte de cada um, a fim
de poderem entoar hosanas contínuos ao Pai Amantíssimo.
Bartolomeu destacava a necessidade do jejum incessante,
com abstenção de todo contacto com as pessoas impuras.
Chamado à manifestação direta pela palavra indagadora de
Simão, Jesus perguntou, nominalmente:
— Pedro, qual é a água que desprende miasmas
pestilenciais?
— Sem dúvida — respondeu o apóstolo, intrigado —, é a
água estagnada, sem proveito.
Sorridente, dirigiu-se ao filho de Alfeu, indagando:
— Tiago, qual é o peixe que flutua inerte na onda? — É o
peixe morto, Senhor — redargüiu o discípulo, desapontado.
— Bartolomeu, qual é a terra que se enche de matagais
daninhos à plantação útil? O interpelado pensou, pensou e esclareceu:
— Indiscutivelmente, é a terra boa desprezada, porque o
solo empedrado e áspero é quase sempre estéril.
O Mestre, evidenciando sincera satisfação, concentrou a
atenção em Tadeu e inquiriu: Tadeu, qual é a túnica que se converte em ninho da
traça destruidora?
— É a túnica não usada.
Endereçando expressivo gesto a Judas, interrogou: — Que
acontece ao talento sepultado?
— Perde-se por inútil, Senhor.
Logo após, assinalou com o olhar um dos filhos de Zebedeu
e falou, mais incisivo: — Tiago, onde se acoitam as serpentes e os lobos? — Nos
lugares em ruína ou votados ao abandono.
— André — disse o Cristo, fixando o irmão de Pedro —,
qual é, em verdade, a função do fermento?
— Mestre, a missão do fermento é dar vida ao pão.
Em seguida, pousando nos companheiros o olhar penetrante
e doce, acrescentou, bemhumorado:
— O tempo está repleto de adoradores e a miséria rodeia
Jerusalém.
Se a luz não serve para expulsar as trevas, se o pão deve
fugir ao faminto e se o remédio precisa distanciar-se do enfermo, onde
encontraremos proveito no trabalho a que nos propomos? O Reino Divino guarda o
imperativo da ação por ordem fundamental.
Sigamos para diante e propaguemos a verdade salvadora,
através dos pensamentos, das palavras, das obras e de nossas próprias vidas.
O Todo-Sábio criou a semente para produzir com o
infinito.
Desce do alto a claridade do Sol cada dia para extinguir
as sombras da Terra.
Não é outro o ministério da Boa Nova.
Amar, servindo, é venerar o Pai, acima de todas as
coisas; e servir, amando, é amparar o próximo como a nós mesmos.
Pautar-se por estas normas, em nosso movimento de
redenção, é praticar toda a Lei.
Neio Lúcio - Do Livro Jesus no Lar - Francisco C. Xavier
LÂMPADAS,
RECEPTORES E TRANSMISSOR
Recebem o raio luminoso e se inebriam de imediato com as
impressões visuais transformadas em imagens que se gravam nos recônditos da
memória, impressas em cor para serem evocadas logo se acionem os mecanismos
próprios capazes de selecioná-las e retirá-las dos arquivos neuronais.
Penetrados pela sonora vibração, que deambula através da
câmara acústica, classificam os ruídos e os discriminam para gravá-los em sutil
engrenagem, na qual perduram as impressões transformadas em mensagens
inapagáveis nos fulcros profundos do espírito.
Acionada pelo mecanismo automático dos centros
especializados, converte ideias em música e dispara dardos orais ou veludosa
melopéia que faculta comunicação, gerando singular meio de entendimento ou
desgraça, conforme a direção aplicada.
Lâmpadas são os olhos derramando claridade pela senda por
onde correm os rios dos dias, acionando as alavancas do movimento humano na
extensão do progresso.
Receptores são os ouvidos, por cujos condutos as vozes da
vida atingem o espírito eterno, momentaneamente revestido pela matéria, de
forma a ajudá-lo no crescimento e na evolução.
Transmissor eficaz é a boca encarregada de exteriorizar
as impressões que transitam dos centros pensantes ao comércio exterior da vida.
Aparelhos preciosos de que se encontram investidos os
homens são inestimáveis tesouros da concessão divina, cuja valorização merece a
cada instante maior soma do capital de amor para que, através deles, o espírito
aprenda a ver e a marchar, saiba ouvir e guardar, disponha-se a sentir e
expressar consubstanciando os ideais enobrecedores na elaboração da paz íntima.
Nem todos porém que veem, conseguem com elevação
selecionar o que enxergam e assimilar o que devem.
Muitos que ouvem não se comprazem ainda em fixar o que é
nobre, olvidando o que é espúrio e vulgar para construir sabedoria pessoal.
Poucos apenas falam, na multidão dos que usam a palavra,
de forma eficiente, sem conspurcarem os lábios, macularem a própria ou a vida
alheia, derrapando, não raro, para as figurações deprimentes da censura e da
crítica indevida, aspirando em decorrência os vapores tóxicos da impiedade e da
insensatez.
Mantém acesas as lâmpadas dos olhos e contempla tudo com
amor, a fim de que as belezas povoem as paisagens do teu pensamento.
"A candeia do corpo são os olhos".
Liga os receptores somente quando as convenientes
mensagens sonoras produzam vibrações de nobres sinfonias nos teus painéis
mentais, de modo a possuíres permanente festa no espírito, não obstante as
tormentas exteriores que te cerquem "Quem tiver ouvidos ouça".
Externa apenas o que possa ajudar e silencia tudo aquilo
que aguilhoa e martiriza, pois o homem superior é considerado não pelo muito
que diz, mas pelo conteúdo enobrecedor do que carregam suas palavras.
"Porque a boca fala o de que está cheio o
coração".
O olhar de Jesus dulcificava as multidões, Seus ouvidos
atentos descobriam o pranto oculto e identificavam a aflição onde se
encontrava, e Sua boca bordada de misericórdia somente consolou, cantando a
eterna sinfonia da Boa Nova em apelo insuperável junto aos ouvidos dos tempos,
convocando o homem de todas as épocas à epopeia da felicidade. Procura fazer o
mesmo com a tua aparelhagem superior.
"Os fariseus, tendo-se retirado, entenderam-se entre
si para enredá-lo com as suas próprias palavras". Mateus: capítulo 22º,
versículo 15.
"Sem levar em conta as vicissitudes ordinárias da
vida, a diversidade dos gostos, dos pendores e das necessidades, é esse também
um meio de vos aperfeiçoardes, exercitando-vos na caridade. Com efeito, Só a
poder de concessões e sacrifícios mútuos, podeis conservar a harmonia entre
elementos tão diversos". Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 11º -
Item 13, parágrafo 2
FRANCO, Divaldo Pereira. Florações Evangélicas. Pelo
Espírito Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 42.
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