6 – No seu aspecto religioso, a fé é a crença nos dogmas
particulares que constituem as diferentes religiões, e todas elas têm os seus
artigos de fé. Nesse sentido, a fé pode ser racionada ou cega. A fé cega nada
examina, aceitando sem controle o falso e o verdadeiro, e a cada passo se choca
com a evidência da razão. Levada ao excesso, produz o fanatismo. Quando a fé se
firma no erro, cedo ou tarde desmorona. Aquela que tem a verdade por base é a
única que tem o futuro assegurado, porque nada deve temer do progresso do
conhecimento, já que o verdadeiro na obscuridade também o é a plena luz. Cada
religião pretende estar na posse exclusiva da verdade, mas preconizar a fé cega
sobre uma questão de crença é confessar a impotência para demonstrar que se
está com a razão.
7 – Vulgarmente se diz que a fé não se prescreve, o que
leva muitas pessoas a alegarem que não são culpadas de não terem fé. Não há
dúvida que a fé não pode ser prescrita, ou o que é ainda mais justo: não pode
ser imposta. Não, a fé não se prescreve, mas se adquire, e não há ninguém que
esteja impedido de possuí-la, mesmo entre os mais refratários. Falamos das
verdades espirituais fundamentais, e não desta ou daquela crença particular.
Não é a fé que deve procurar essas pessoas, mas elas que devem procurá-la, e se
o fizeram com sinceridade a encontrarão. Podeis estar certos de que aqueles que
dizem: “Não queríamos nada melhor do que crer, mas não o podemos fazer”, apenas
o dizem com os lábios; e não com o coração, pois ao mesmo tempo em que o dizem,
fecham os ouvidos. As provas, entretanto, abundam ao seu redor. Por que, pois,
se recusam a ver? Nuns, é a indiferença; noutros, o medo de serem forçados a mudar
de hábitos; e na maior parte, o orgulho que se recusa a reconhecer um poder
superior, porque teria de inclinar-se diante dele.
Para algumas pessoas, a fé parece de alguma forma inata:
basta uma faísca para desenvolvê-la. Essa facilidade para assimilar as verdades
espíritas é sinal evidente de progresso anterior. Para outras, ao contrário, é
com dificuldade que elas são assimiladas, sinal também evidente de uma natureza
em atraso. As primeiras já creram e compreenderam, e trazem, ao renascer, a
intuição do que sabiam. Sua educação já foi realizada. As segundas ainda têm
tudo para aprender: sua educação está por fazer. Mas ela se fará, e se não
puder terminar nesta existência, terminará numa outra.
A resistência do incrédulo, convenha, quase sempre se
deve menos a ele do que à maneira pela qual lhe apresentam as coisas. A fé
necessita de uma base, e essa base é a perfeita compreensão daquilo em que se
deve crer. Para crer, não basta ver, é necessário sobretudo compreender. A fé cega
não é mais deste século(1) . É precisamente o dogma da fé cega que hoje em dia
produz o maior número de incrédulos. Porque ela quer impor-se, exigindo a
abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do homem: a que se constitui
do raciocínio e do livre-arbítrio. É contra essa fé, sobretudo, que se levanta
o incrédulo, o que mostra a verdade de que a fé não se impõe. Não admitindo
provas, ela deixa no espírito um vazio, de que nasce a dúvida. A fé
raciocinada, que se apóia nos fatos e na lógica, não deixa nenhuma obscuridade:
crê-se, porque se tem à certeza, e só se está certo quando se compreendeu. Eis
porque ela não se dobra: porque só é inabalável a fé que pode enfrentar a razão
face a face, em todas as épocas da Humanidade.
É a esse resultado que o Espiritismo conduz, triunfando
assim da incredulidade, todas as vezes em que não encontrar a oposição
sistemática e interessada.
(1) Kardec
referia-se ao século passado, de maneira que a sua afirmação é hoje ainda mais
adequada. (Nota do Tradutor)
TEXTOS DE APOIO
NA EDIFICAÇÃO DA FÉ
Ninguém edificará o santuário da fé no coração, sem
associar-se, com toda alma, ao trabalho, naquilo que o trabalho oferece de belo
e de superior dentro da vida.
Para alcançar, porém, a divina construção, não nos basta
os primores intelectuais, a eloqüência preciosa, o êxtase contemplativo ou a
desenvoltura dos cálculos no campo da inteligência.
Grandes gênios do raciocínio são, por vezes, demônios da
tirania e da morte.
Admiráveis doutrinadores, em muitas ocasiões, são
vitrinas de palavras brilhantes e vazias.
Muitos adoradores da Divindade, frequentemente, mergulham
na preguiça a pretexto de cultuar a Glória Celeste.
Famosos matemáticos, não raro, são símbolos de sagacidade
e exploração inferior.
Amemos o trabalho que a Eterna Sabedoria nos conferiu,
onde nos situamos, afeiçoando-nos à sua execução sempre mais nobre, cada dia, e
seremos premiados pela grande compreensão, matriz abençoada de toda a
confiança, de toda a serenidade e de todo o engrandecimento do espírito.
Para penetrar os segredos da estatuária, o escultor
repete os golpes do buril milhões de vezes.
Para produzir o vaso de que se orgulhará em sua missão
bem cumprida, o oleiro demora-se infinitamente ao contato da argila.
Para expor as peças com que enriquecerá o conforto
humano, o carpinteiro, de mil modos, recapitulará o aprimoramento do tronco
bruto.
Não te queixes se a fé ainda te não cora a razão.
Consagra-te aos pequeninos sacrifícios, na esfera de tuas
diárias obrigações, à frente dos outros, cede de ti mesmo, exercita a bondade,
inflama o otimismo por onde passes, planta a gentileza ao redor de teus sonhos,
movimenta-te no ideal de sublimação que elegeste para lavo de teu destino...
Aprende a repetir para que te aperfeiçoes...
Não vale fixar indefinidamente as estrelas, amaldiçoando
as trevas que ainda nos cercam.
Acendamos a vela humilde de nossa boa vontade, no chão de
nossa pobreza individual, para que as sombras terrestres diminuam e o esplendor
solar sintonizar-se-á com a nossa flama singela.
A tomada insignificante é o refletor da usina, quando
ligada aos seus poderosos padrões de força.
Confessemos Jesus em nossos atos de cada hora,
renovando-nos com ELE, avançando felizes em SEU roteiro de renunciação,
auxiliando a todos e servindo cada vez mais, em SEU NOME, e, de inesperado,
reconheceremos nossa alma inundada por alegria indizível e por silenciosa
luz...
É que o trabalho de comunhão como o Mestre terá realizado
em nós a Sua Obra Gloriosa e a fé perfeita e divina, por tesouro inalienável,
brilhará conosco, definitivamente incorporada à nossa vida e ao nosso coração.
Da Obra A Verdade Responde: Emmanuel - Francisco Cândido
Xavier
O ESPIRITISMO E A FÉ
RELIGIOSA
Desde os mais íntimos alicerces dos povos civilizados,
vemos a paixão religiosa desbordar-se em tempestades sanguinolentas.
Em Tebas, no Egito ancião, habitualmente, encalhava-se o
Nilo de cadáveres insepultos em razão dos imensos conflitos na via pública, em
nome de Âmon, considerado então como sendo a mais completa imagem de Deus
Misericordioso, Sábio e Justo.
Em Nínive, na
Assíria, todas as grandes comemorações, diante de Baal, interpretado por
representante do Criador Todo Poderoso, eram regadas a sangue humano.
Todas as grandes
cidades do pretérito distante não fugiam à regra, estabelecendo dolorosos
processos de crueldade e perseguição em nome do Pai Celeste, entre irmãos que
se deveriam amar.
E o próprio
Cristianismo a pretexto de modificar os velhos cultos da antiguidade, padeceu,
por trezentos anos consecutivos, o martírio e a flagelação na pessoa de seus
adeptos, que pagavam com a própria existência a grandeza de seus princípios.
E o impulso de
chacina e de intolerância não ficou entre aqueles que a História categoriza à
conta de cultores da indiferença e do paganismo, porque são de ontem, na
evolução dos tempos modernos, as fogueiras e pelourinhos, as forças e os
cárceres com que se puniam entre os companheiros da mesma seara a diversidade
do pensamento e o anseio de nova interpretação.
No Espiritismo,
porém, que revive a lição do Cristo, que auxiliou sem remuneração, que perdoou
infinitamente e que aceitou a morte no extremo sacrifício para que a justiça no
mundo se banhasse de caridade, a fé nasce pura e sublime, sem qualquer nuvem de
arrogância ou de prepotência, de vez que ao espírita cabe o dever de acompanhar
o Divino Mestre da Manjedoura e da Cruz, retribuindo a incompreensão com o
entendimento e o ódio com o amor, por reconhecer, com Jesus, que somente a
verdadeira fraternidade com incessante serviço no Bem Eterno será capaz de
extinguir na Terra o velho cativeiro às trevas da ignorância, a fim de que a
Humanidade penetre, vitoriosa, o domínio Soberano da Felicidade e da Luz.
Emmanuel - Livro: Doutrina De Luz - Francisco Cândido
Xavier
INJUSTIÇAS
A fé que tens, tem-na em ti mesmo perante Deus. - Paulo. (Romanos,
14:22.)
Momentos existem nos quais surgimos diante de nós mesmos
na condição de pessoas injustiçadas.
Isso não ocorre tão-somente quando somos focalizados na
vida pública, em amplos movimentos de opinião. Pequeninos descontentamentos nos
visitam com frequência, no cotidiano, principalmente:
se somos preteridos no direito que acreditamos
pertencer-nos;
se somos arredados de vantagens, ao mesmo tempo que somos
forçados a prejuízos;
se alvejados por repreensões que não fizemos por merecer;
se espancados moralmente nas provas que no meamos como
sendo ingratidões;
se ficamos deserdados da atenção daqueles que julgamos
dever-nos apreço e carinho;
se contrariados nos desejos que consideramos oportunos e
justos;
se somos incomodados em nossas realizações pela
intromissão de criaturas que nos subestimam os interesses;
se apontados pela crítica. . .
Nessas ocasiões achamo-nos habitualmente sob a influência
de personalidades outras, sejam amigos ou adversários, que não podem ver de
imediato as nossas necessidades e questões por nossos olhos e por nossas
conveniências.
Quando isso aconteça, embora a frase de louvor e
encorajamento partida de outros em nosso favor seja sempre uma bênção, saibamos
perseverar em nosso trabalho com o bem e pelo bem de todos, reconhecendo que há
muitas situações na vida em que nos cabe atender, com segurança, à exortação do
apóstolo Paulo: A fé que tens, tem-na em ti mesmo perante Deus.
Emmanuel - Mensagem psicografada por Francisco Cândido
Xavier. Do livro Bênção de Paz
FÉ E SINGULARIDADE
"A FÉ NECESSITA DE UMA BASE, BASE QUE É A
INTELIGÊNCIA PERFEITA DAQUILO EM QUE SE DEVE CRER. E, PARA CRER, NÃO BASTA VER;
É PRECISO, SOBRETUDO, COMPREENDER." E.S.E. CAPÍTULO 19, ÍTEM 7
Quando deixamos de reciclar nosso mundo íntimo, é comum
fixarmo-nos em idéias e comportamentos que criam estilos invariáveis no modo de
ser. É assim que muitas crenças, preconceitos, hábitos, condutas, chavões
verbais e tradições são mantidos estagnados no tempo pela criatura em razão de
sua forma de entendimento racional, decorrente de experiências que viveram ou
da educação que recebeu desde o berço. A esse conjunto de valores damos o nome
de "certezas emocionais", ou seja, referências de vida da alma no
campo de sua movimentação, através das quais o ser cria, trabalha e respira
absorvendo e expressando sua personalidade.
Considerando o estágio evolutivo da Terra, essas
"certezas" do homem encontram-se entorpecidas pelo materialismo em
milênios de repetição, constituindo o "fenômeno psicológico da
permanência" - a ilusão de querer manter para sempre em suas mãos aquilo
que foi alvo de suas conquistas. Dessa forma, o individualismo sulcou traços
morais e intelectuais marcantes que "educaram" o homem para o
"meu", em detrimento do "nosso", "meu filho",
"minha palestra", "minha casa", "minha família" e
até "minha religião" ...
Esse fenômeno, do qual raríssimas vezes escapamos,
conduziu muitos de nós, espíritas que declaramos possuir uma fé racional
distante do dogmatismo, a uma postura de "paralisia do raciocínio" em
muitas questões, as quais apelam para nossa urgente coragem de desapego e
reconstrução pela oxigenação de nossas idéias e conceitos.
A esse respeito, entre as infinitas reciclagens a fazer,
vejamos uma velha e costumeira forma de análise sobre, qual nos debruçamos,
quase todos nós, nos temas da vida moral do espírita-cristão em torno da
mensagem de Jesus. Já perceberam, meus companheiros, com que freqüência
empregamos as frases "é falta de Evangelho no coração!", "falam
do Evangelho, mas fazem exatamente o contrário!", "Sem Evangelho não
teremos a solução!", "chegaram em má situação na vida espiritual
porque não viveram o Evangelho!", "falam de Evangelho mas não
aplicam!", "a ausência do Evangelho sentido levou aquele grupo à
derrota!" ...
Não são poucas as vezes em que, para explicar os motivos
de fracasso ou de erro, assinala-se que a causa encontra-se na falta de viver
os ensinos do Evangelho. Absolutamente não ousaríamos contestar tal questão,
contudo, uma oportuna e desafiadora indagação precisa ser lançada a título de
repensar caminhos e abrir ângulos de enriquecimento no tema. Poderíamos, por
exemplo, indagar para debate e atualização de nossos pensamentos o seguinte:
por qual motivo as criaturas não vivem o Evangelho? De pronto surge uma
"resposta-chavão": "porque é muito difícil seguir os ensinos do
Mestre!"; entretanto, para sermos sinceros conosco, essa resposta não
explica nada palpavelmente. Então teríamos que aprofundar e questionar: "e
por que é tão difícil seguir os ensinos da Boa Nova?"
Aqui deparamos com um dos pontos de convergência mais
comuns nos atendimentos que realizamos no Hospital Esperança, chamado
"exercício de impermanência" - uma atividade de readaptação com
espíritas recém-desencarnados que se fixaram em formas convencionais de pensar,
e que cultivaram a ilusão de terem alcançado pleno domínio sobre os assuntos da
vida espiritual, sendo convocados a reexaminar amplamente suas convicções e
aspirações para além da morte física. Por sugestão do benfeitor Bezerra de
Menezes, vamos compartilhar algo sobre semelhante iniciativa com os amigos na carne,
a fim de verificarem com antecedência uma filigrana das reciclagens a que somos
convidados no "país da verdade".
O "exercício de impermanência" é constituído de
"ciclos de debates" entre co-idealistas que já conseguiram
recuperar-se de momentos mais dolorosos, ou ainda com aqueles que, mesmo
guardando relativo sossego interior adquirido na recém-finda reencarnação,
carecem de reaver esse dinamismo mental de "soltura nos conceitos e
visões", para integrarem-se com o divino mecanismo universal da transcendência
e da mutação. A esse fenômeno da vida mental chamamos de "desilusão"
ou o rompimento com as "certezas-amarras", colecionadas durante a
passagem pela hipnose do corpo. Esse "exercício" tem etapas variadas,
e entre elas o acesso do participante a informes muito preciosos e previamente
selecionados por nossa equipe sobre suas precedentes existências,
quando"cristalizaram" no campo mental algumas "matrizes
emocionais", que funcionam como piso para muitas das atuais "ilusões-certezas"
que carregam para a vida extrafísica.
Umas das primeiras e mais motivadoras perguntas nessa
tarefa, destinada especialmente aos seguidores de Jesus, é exatamente essa a
que nos referimos acima: por que não se vive o Evangelho? O que impede o homem
de aplicar os ensinos de Jesus? Por que tem havido tanto discurso e pouca
prática nos últimos dois mil anos da Terra?
É importante assinalar aos queridos amigos de ideal no
corpo físico, muitos dos quais encontram-se angustiados com sua infidelidade
aos textos e roteiros do espiritismo-cristão, que ninguém em sã consciência
deixa de aplicar intencionalmente o que aprendeu e, se o faz, ainda assim há
questões muito profundas na intimidade do ser merecem uma análise madura e
caridosa, antes de nomear, essa atitude de hipocrisia ou má-fé. Resguardar-se
nesse enfoque habitual, que destaca a origem de todos os nossos problemas e
dores devido à falta da vivência evangélica, tem levado muitos corações ao
simplismo, incentivando o esclarecimento superficial com cunho religiosista.
Temos fundamentos bastante sensatos no Espiritismo para estabelecer
"pontes" com todos os ramos da ciência e da filosofia, na dilatação
de nossos olhares sobre essa indagação que poderão ampliar horizontes na
construção da fé racional.
A edificação do homem novo reclama, sobretudo, lucidez
intelectual sobre as causas de nossas atitudes. Para isso, somente abandonando
visões fixas e ampliando perspectivas de compreensão.
Muitos corações bafejados pelas claridades do Espiritismo
chegam por aqui como alunos que "fizeram cola", ou seja, viveram às
expensas do que pensavam outros co-idealistas ou seguiram os ditados mediúnicos
com rigor na letra. Em face disso, deixaram de experimentar a mais notável
vivência da alma enquanto na carne: a solidificação da fé raciocinante.
Dizemos fé raciocinante porque ao se colocar que
possuímos uma fé raciocinada inferimos que as noções de doutrina, por si só,
são suficientes para gestá-la automaticamente. Todavia, mesmo com tanta luz nos
raciocínios haurida com a literatura e os recursos de ensino usados nos centros
espíritas, o desenvolvimento da fé pensante não ocorre por "osmose",
e sim por etapas pertinentes à singularidade de cada criatura. Não existe
"fé raciocinada coletiva", conquanto nosso movimento libertador, em
razão de engessamento filosófico e tendências psicológicas dogmáticas, tenha se
aferrado demasiadamente a padrões e convenções que estrangulam a criatividade e
a liberdade de pensar.
Fé raciocinada é um fenômeno psicológico e emocional
construído a partir do desejo autêntico e perseverante de compreender o que nos
cerca - conquista somente possível através da renovação do entendimento e da
forma de sentir a vida. É conquista individual, construção íntima e pessoal, e
não pode ser considerada como adesão automática a princípios religiosos ou
idéias que nos parecem aceitáveis e convincentes. E quanto mais maleabilidade
intelectiva, mais chances de alcançarmos a fé que compreende e liberta.
Fomos educados para obedecer sem pensar, aceitar sem
questionar. A cultura humana não é rica na arte de estimular a pensar e
filosofar, debater e reinventar. A fé racional somente será lograda quando
aprendermos a "pensar a moral", a pensar sobre si, a debater sobre as
vivências interiores com espírito de liberdade, distante da censura e das
recriminações, com coragem para distanciar de estereótipos. A chamada
conscientização é uma conquista intransferível, individual, somente possível
quando permitimos a nós mesmos analisar nossa singularidade com amor e ternura,
sem punições e culpa. Não existe melhora íntima concreta sem trilharmos esta
vivência emocional.
A educação na Terra passa por grandes transformações.
Penetramos a "era da curiosidade" queremos entender a vida. Queremos
saber quem somos...
A maior conquista da etapa hominal é a capacidade de
raciocinar, no entanto, se essa habilidade não for utilizada para a aquisição
gradativa da consciência de si, estagnaremos no patamar de "colecionadores
de certeza" que nos foram transmitidas, esbanjando muita informação e carentes
de transformação. A "boa nova espírita" tem que saltar da "ilha
da inteligência" e integrar o "reino do coraçao . É necessário abolir
as "fantasias do que deveríamos ser" e aplicarmo-nos a sentir o que
somos de fato, laborar com nosso "eu real".
Nossa tarefa primordial, portanto, é "recriar"
o conhecimento espírita adequando-o à nossa singularidade, sem com isso querer
criar novos estereótipos de padrões coletivos. Respeitar os ensinos gerais, mas
desvendar os nossos "mistérios interiores", únicos no Universo, eis o
desafio da renovação espiritual.
É tão penoso viver o Evangelho porque, em verdade, é
penoso o contato com nosso "eu real", para o qual toda a mensagem de
Jesus é dirigida. E para evitar esse contato, a mente "capacitou-se"
a gerir as ilusões em milênios de experimentações, sendo muitas delas um
mecanismo de fuga e "proteção" para isentar-nos do contato doloroso
com a Verdade sobre nós próprios.
Existe um simplismo prejudicial quando nos acostumamos a
afirmativas de periferia. Lancemo-nos a essa intrigante questão sobre quais são
os motivos pessoais de não vivermos o Evangelho e emergirão para a consciência
todo um manancial de reflexões, com as quais haveremos de trabalhar em favor de
nossa maturidade.
A "bula" universal da palavra cristã para cada
qual terá dosagem e componentes específicos, conforme o estágio espiritual em
que se encontre, não sendo oportuno copiar receitas. A singularidade é
fundamento determinante da forma e da intensidade com que nos apropriaremos
individualmente da vivência cristã. Nessa perspectiva incluem-se as razões
pelas quais nem sempre fazemos aquilo que pregamos.
Não se vive Evangelho, entre outras infinitas questões,
porque não se tem trabalhado ainda nos grupamentos humanos, inclusive os
espíritas, um método que permita esse auto-encontro em bases educativas para a
alma em aprendizado. O autoconhecimento solicita orientação segura e objetivos
nobres para não se desvirtuar em autoflagelação e dor, normas severas e
reprimendas - mecanismos típicos do religiosismo que se destina à massificação,
com total descrédito a exuberância dos valores individuais que deveriam florir
em nossos caminhos.
Livro: Reforma Intima Sem Martírio – Ermance Dufaux –
Wanderley S. Oliveira
ANTE OS INCRÉDULOS
“E conhecereis a verdade e a verdade vos fará livres.” -
JESUS - JOÃO.8: 32.
“A resistência do Incrédulo, devemos convir, muitas
vezes, provém menos dele do que da maneira por que lhe apresentam as cousas.
A fé necessita de uma base, base que é a Inteligência
perfeita daquilo em que se deve crer.
E, para crer, não basta ver, é preciso, sobretudo,
compreender. ” Cap.19, 7.
Compadeçamo-nos dos incrédulos que se arremetem contra as
verdades do espírito, intentando penetrá-las à força.
Semelhantes necessitados chegam de todas as
procedências...
De paisagens calcinadas pelo fogo do sofrimento, de
caminhos que a provação encharca de pranto, de furnas da aflição em que jaziam
acorrentados ao desespero.
Outros existem que nos atingem as portas, conturbado pelo
clima de irreflexão a que se calam, ou trazendo sarcasmos no pensamento
imaturo, quais crianças bulhentas em recintos graves da escola.
Muitas vezes, nas trilhas da atividade cotidiana, somos
tentados a categorizá-los por viajores de indesejável convívio, entretanto, os
que surgem dementados pela dor e aqueles outros que se acomodam com a
leviandade pela força própria da inexperiência, não serão igualmente nossos
irmãos, diante de Deus? Certo que não nos é lícito entregar-lhes, em vão,
energia e tempo, quando se mostrem distantes da sinceridade que devemos uns aos
outros, mas se anelam realmente aprendizado e renovação, saibamos auxiliá-los a
compreender que pesquisa e curiosidade somente valem se acompanhadas de estudo
sério e trabalho digno.
Estendamos aos companheiros que o ateísmo enrijece, algo
de nossas convicções que os ajude a refletir na própria imortalidade.
Diligenciemos partilhar com eles o alimento da fé, na
mesma espontaneidade de quem divide os recursos da mesa.
Todavia, - perguntarás, - e se recusam, obstinados e
irônicos, os bens que lhes ofertamos? e se nos apagam, a golpes de violência,
as lanternas de amor que lhes acendamos na estrada? Se indagações assim podem
ser formuladas por nossa consciência tranqüila, após o desempenho do nosso dever
de fraternidade, será preciso consultar a lógica e a lógica nos dirá que eles
são cegos de espírito que nos cabe amparar, em silêncio, na clínica da oração.
Emmanuel - do
livro: O Livro da Esperança -
Psicografado Por Francisco Cândido Xavier
A PAIXÃO DE JESUS
Cap. XIX - Item 7 - ESE
O Espiritismo não nos abre o caminho da deserção do
mundo.
Se é justo evitar os abusos do século, não podemos chegar
ao exagero de querer viver fora dele. Usufruamos a vida que Deus nos dá,
respirando o ar das demais criaturas, nossas irmãs.
Para seguir a própria consciência, podemos dispensar a
virtude intocável que forja a santidade ilusória.
Não sejamos sombras vivas, nem transformemos nossos lares
em túmulos enfeitados por filigranas de adoração.
Nossa fé não é campo fechado à espontaneidade.
Encarnados e desencarnados precisamos ser prudentes, mas
isso não significa devamos reprimir expansões sadias e não nos abracemos uns
aos outros. A abstinência do mal não impõe restrições ao bem.
Assim como a virtude jactanciosa é defeito quanto
qualquer outro, a austeridade afetada é ilusão semelhante às demais.
Não façamos da vida particular uma torre de marfim para
encastelar os princípios superiores, ou estrado de exibição para entronizar o
ponto de vista.
A convicção espírita não é insensível ou impertinente.
A inflexibilidade, no dever, não exige frieza de coração.
Fujamos ao proselitismo fanatizante, mas, nem por isso, cultivemos nos outros a
aversão por nossa fé.
Se o papel de vítima é sempre o melhor e o mais
confortável, nem por isto, a título de representá-lo, podemos forçar a nossa
existência, transformando em verdugos, à força, as criaturas que nos rodeiam.
Não sejamos policiais do Evangelho, mas candidatemo-nos a
servidores cristãos.
Nem caridade vaidosa que agrave a aspereza do próximo,
nem secura de coração que estiole a alegria de viver.
Quem transpira gelo, dentro em breve caminhará em
atmosfera glacial.
A crença aferrolhada no orgulho desencadeia desastres tão
grandes quanto aqueles criados pelo materialismo.
Não sejamos companhias entediantes.
Um sorriso de bondade não compromete a ninguém. A fé
espírita reside no justo meio-termo do bem e da virtude.
Nem o silêncio perpétuo da meia-morte, que destrói a
naturalidade, nem a fala medrosa da inibição a beirar o ridículo.
Nem olhos baixos de santidade artificiosa, nem anseio
inexperiente de se impor a todo preço.
Nem cumplicidade no erro, na forma de vício, nem
conivência com o mal, na forma de aparente elevação.
Fé espírita é libertação espiritual. Não ensina a reserva
calculada que anula a comunicabilidade, constrangendo os outros, nem recomenda
a rigidez de hábitos que esteriliza a vida simples. Nem tristezas sistemática,
nem entusiasmo pueril.
Abstenhamo-nos da falsa idéia religiosa, suscetível de
repetir os desvios de existências anteriores, nas quais vivemos em misticismo
acabrunhante.
Desfaçamos os tabus da superioridade mentirosa, na
certeza de que existe igualmente o orgulho de parecer humilde.
O Espiritismo nos oferece a verdadeira confiança,
raciocinada e renovadora; eis por que o espírita não está condenado a atividade
inexpressiva ou vegetante. Caridade é dinamismo do amor. Evangelho é alegria.
Não é sistema de restringir as idéias ou tolher as manifestações, é vacinação
contra o convencionalismo absorvente.
Busquemos o povo - a verdadeira paixão de Jesus -,
convivendo com ele, sentindo-lhe as dores, e servindo-o sem intenções
secundárias, conforme o "amai-vos uns aos outros" - a senda maior de
nossa emancipação.
Ewerton Quadros - Do livro O Espírito da Verdade.
Psicografia de Francisco C Xavier e Waldo Vieira.
HORA DE DESCRENÇA
Francisco Cândido
Xavier
Amigos que nos visitavam, em conversação conosco,
reportavam-se ao grande número de pessoas que, na atualidade do mundo,
mostram-se desinteressadas pela fé religiosa.
Incluíam entre elas a parcela de companheiros do nosso
ideal que, embora continuem amparados pelas convicções espíritas-cristãs,
afastam-se das atividades doutrinárias.
Detivemo-nos sobretudo na consideração dos irmãos de
humanidade que se dizem afastados da idéia de Deus, que se declaram ateus, que
afirmam preferir a condição de materialistas à de religiosos, espíritas,
médiuns ou doutrinadores, em vista de conservarem os defeitos inerentes à
natureza humana.
Detivemo-nos também no caso dos muitos que se dizem
descrentes em vista das conquistas científicas do nosso tempo.
Após tais considerações preliminares, foram iniciados os
estudos da noite, com O Livro dos Espíritos oferecendo-nos a questão 148, que
suscitou muitos comentários instrutivos. Encerrando nossas tarefas, Emmanuel
escreveu a página Materialismo e Atualidade.
Do livro Diálogo dos
Vivos. Espíritos Diversos. Psicografia de Francisco Cândido Xavier e J.
Herculano Pires.
MATERIALISMO E
ATUALIDADE
Emmanuel
Nos mais diversos grupos religiosos temos companheiros
que se confessam desolados por desenganos e se retiram da fé, asseverando-nos
dispostos a viver sem Deus.
Viver sem Deus para eles significa a demissão das
disciplinas e obrigações que nos frenam os impulsos inferiores e nos impõem os
deveres da educação própria.
Livres tais quais somos, procedem assim acreditando que
se farão mais felizes pela adoção de semelhante atitude. No entanto, não se
sabe de nenhum deles que haja chegado com isso à paz íntima, alicerce
fundamental da felicidade.
É que a consciência ocupa em nós muito mais espaço que
todas as estruturas que nos constituem o corpo e a alma.
Na Terra de hoje, em nos reportando ao veículo físico,
transplantam-se peças determinadas e até mesmo certos órgãos podem ser
extraídos sem prejuízo para a existência da criatura. Não existe, porém,
qualquer cirurgia que atinja as forças da consciência. Será possível alterar ao
anestesiar funções do cérebro que lhes serve de moradia, impedindo-se-lhes
temporariamente as manifestações, mas todo o processo de sedação do campo
mental, que não se filie ao critério científico para efeitos de tratamento ou
de cura, resultará sempre em desequilíbrio do qual a vítima voltará à revisão
de si mesma para o necessário reajustamento.
Nenhum de nós foi criado para a irresponsabilidade.
Urge observar ainda que não somos tão ingênuos a ponto de
admitir que basta crer em Deus para que nos sintamos anjos, ao invés de
criaturas humanas.
Justamente por isso é que nos conhecemos nos débitos,
defeitos, imperfeições, deficiências e inclinações menos felizes que ainda nos
caracterizam a individualidade.
Entretanto, vale muito mais aceitarmo-nos como somos e
aceitarmos os outros como ainda são, trabalhando pelo bem de todos, sob a
inspiração da confiança em Deus, do que, a pretexto de virtude ou
superioridade, nos declaramos contra Deus, caindo na rebeldia ou no ódio, na
violência ou na sovinice, na inveja ou na criminalidade, no alcoolismo ou na
toxicomania, na sexualidade descontrolada ou nos desvarios da inteligência.
Há quem diga, e com razão, que milhões de companheiros da
Humanidade se bandeiam neste século para o materialismo. Todos eles, porém,
permanecem no tumulto e na insegurança, procurando a paz e a alegria que não
encontram. E isso ocorre, inelutavelmente, porque toda vez que nos arvoramos
contra Deus optamos pela desorientação de nossa própria vida.
Diante dos irmãos que se afastam dos templos e oficinas
da fé religiosa, oremos pela tranqüilidade deles, porquanto se escolhem fugir
de Deus, alegando obstáculos e tribulações na estrada real para a Vida
Superior, muitos maiores serão as dificuldades com que se observarão
defrontados no terreno desconhecido em que se marginalizam. E prossigamos
atentos nas obrigações que nos cabem, claramente convencidos de que todos
aqueles companheiros nossos que pretendem a fuga de Deus continuam em Deus,
ante a impossibilidade de viverem sem a própria consciência. Sofrem com a
ausência de mais profunda intimidade com as tarefas alusivas à inspiração de
Deus, suspiram pelo retorno à fé e se atormentam com a sede de harmonia
inferior, motivos pelos quais à disciplina das Leis de Deus todos eles
voltarão.
Do livro Diálogo
dos Vivos. Espíritos Diversos. Psicografia de Francisco Cândido Xavier e J.
Herculano Pires.
HORA DE FÉ
Irmão Saulo
Não é por causa dos estudos e do progresso das ciências
que os homens se tornam materialistas, mas por causa do orgulho e da vaidade.
Isso afirma Kardec, em O Livro dos Espíritos, reproduzindo instruções
espirituais, na questão 148. E, a seguir, comenta: “Por uma aberração da
inteligência, há pessoas que não vêem nos seres orgânicos mais do que a ação da
matéria, e a esta atribuem todos os nossos atos”.
Essa aberração da inteligência torna-se mais evidente em
nossos dias. A diagnose de Kardec foi de absoluta precisão. No momento exato em
que a cultura terrena perde as suas bases materiais e passa a girar na órbita
do espírito – é absurdo, simples absurdo, lamentável prova da deformação da
lógica pelo orgulho, a opção do materialismo. A matéria se desfez em energia,
e, portanto, em vibração, nas mãos dos físicos; a descoberta da antimatéria revelou
novo plano de vida; a Astronáutica abriu-nos a possibilidade de contato com
outros mundos habitados; os materialistas foram surpreendidos com a
possibilidade de ver e fotografar o corpo espiritual do homem, e puderam
constatar que esse corpo não se destrói com a morte.
Quais os dados que esses avanços do conhecimento oferecem
a favor da concepção materialista? Só uma aberração da inteligência, uma
deformação da razão, pode levar alguém a deduzir, dessa enorme revolução
científica, que o materialismo saiu vitorioso. Os próprios filósofos
materialistas, como no caso de Bertrand Russell, viram-se obrigados a estranhos
malabarismos aumentais para defender a sua concepção. Sartre, o filósofo do
nada, perdeu popularidade em favor de Heidegger, até há pouco acusado de cair
no misticismo.
É tolice dizer que o desenvolvimento atual das ciências
favorece o materialismo. O próprio Einstein afirmou, bem antes desses avanços
mais recentes: “O materialismo morreu por falta de matéria”. Quem opta pelo
materialismo, nesta altura da evolução científica, revela falta de senso ou
distúrbio do raciocínio. Seria o mesmo que Tomé dizer a Jesus ressuscitado: “Se
toco as tuas chagas é porque não morreste”.
A tendência para o materialismo é ainda muito comum entre
os jovens. “A juventude – disse Ingenieros – toca a rebate em toda renovação”.
Os jovens trazem a missão de renovar o mundo e por isso lutam contra os
princípios dominantes, rebelam-se contra os sistemas tradicionais. A luta da
Ciência contra a Religião – o dogmatismo fideísta emperrando o progresso –
mostra-lhes de que lado estão as forças renovadoras. Eles se alistam
afoitamente desse lado. Mas o Espiritismo transformou esse quadro, revelando
que a Ciência também pode frear o progresso. Os dogmas do materialismo científico
são tão prejudiciais quanto os do fideísmo religioso. E os moços começam a
compreender isso.
Temos de ajudar os jovens, mostrando-lhes que o
Espiritismo não sofre dos prejuízos do dogmatismo fideísta ou do dogmatismo
religioso. Temos de mostrar-lhes que a Ciência Espírita é hoje a posição de
vanguarda. Mas para tanto é necessário desenvolvermos a Cultura Espírita,
criando o clima adequado à compreensão da Doutrina em sua plenitude e não
apenas no seu aspecto religioso. Ai dos que tentam afastar os jovens do Cristo,
subordinando-os à rotina dos velhos. O Espiritismo é a juventude do mundo, é a
rebelião contra os erros do passado. Ele nos propõe uma hora de fé, mas de fé
racional, de fé pelo saber.
Do livro Diálogo dos Vivos. Espíritos Diversos. Psicografia
de Francisco Cândido Xavier e J. Herculano Pires.
Nenhum comentário:
Postar um comentário