13 – E chegando-se a ele os discípulos, lhe disseram: Por
que razão lhes falas por parábolas? Ele, respondendo, lhes disse: Porque a vós
vos é dado saber os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não lhes é
concedido. Porque ao que tem, se lhe dará e terá em abundância, mas ao que não
tem, até o que tem, lhe será tirado. Por isto é que eu lhes falo em parábolas;
porque eles, vendo, não vêem, e ouvindo não ouvem, nem entendem. De sorte que
neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Vós ouvireis com os ouvidos, e
não entendereis; e vereis com os olhos, e não vereis. (Mateus, XIII: 10-14).
14 – Também lhes dizia: Atendei ao que ides agora ouvir.
Com a medida com que medirdes aos demais, vos medirão a vós, e ainda se vos
acrescentará. Porque ao que já tem, dar-se-lhe-á, e ao que não tem ainda o que
tem se lhe tirará. (Marcos, IV: 24-25)
15 – “Dá-se ao que tem e retira-se ao que não tem”.
Meditai sobre esses grandes ensinamentos, que quase sempre vos pareceram
paradoxais. Aquele que recebeu é o que possui o sentido da palavra divina. Ele
a recebeu porque se esforçou para fazer-se digno, e porque o Senhor, no seu
amor misericordioso, encoraja-lhe os esforços em direção ao bem. Esses esforços
contínuos, perseverantes, atraem as graças do Senhor. São como um ímã, que
atraísse as melhoras progressivas, as graças abundantes, que vos tornam fortes
para a subida da montanha sagrada, em cujo cume encontrareis o repouso que
sucede ao trabalho.
“Tira-se àquele
que nada tem, ou que tem pouco”. Tomai isto como um ensino figurado. Deus não
tira das suas criaturas o bem que se dignou conceder-lhes. Homens cegos e
surdos! Abri vossas inteligências e vossos corações procurai ver pelo espírito;
compreendei com a alma; e não interpreteis de maneira grosseiramente injusta as
palavras daquele que fez resplandecer aos vossos olhos a Justiça do Senhor! Não
é Deus quem retira daquele que pouco havia recebido, mas é o seu próprio
Espírito que, pródigo e descuidado, não sabe conservar o que tem, e aumentar,
fecundando-a, a migalha que caiu no seu coração.
O filho que não cultiva o campo que o trabalho do pai
conquistou, para deixar-lhe de herança, vê esse campo cobrir-se de ervas
daninhas. Será o seu pai quem lhe tira as colheitas que ele não preparou? Se
ele deixou a sementeira morrer nesse campo, por falta de cuidado, deve acusar
seu pai pela falta de produção? Não, não! Em vez de acusar aquele que tudo lhe
deu, como se lhe houvesse retomado os bens, deve acusar-se a si mesmo, que é o
verdadeiro responsável pela sua miséria, e arrependido e ativo, entregar-se
corajosamente ao trabalho. Que arroteie o solo ingrato, com o esforço de sua
própria vontade; que o lavre a fundo, com a ajuda do arrependimento e da
esperança; que nele atire, confiante, a semente que escolheu como boa entre as
más; que o regue com o seu amor e a sua caridade; e Deus, o Deus de Amor e
Caridade, dará aquele que já tem. Então, ele verá os seus esforços coroados de
sucesso, e um grão a produzir cem, e outro, mil. Coragem, trabalhadores! Tomai
as vossas grades e charruas; arrotei os vossos corações; arrancai deles o joio;
semeai a boa semente que o Senhor vos confia, e o orvalho do amor os fará
produzir os frutos da caridade
TEXTOS DE APOIO
A ÚNICA DÁDIVA
Conta-se que Simão Pedro estava cansado, depois de vinte
dias junto do povo.
Banhara feridentos, alimentara mulheres e crianças esquálidas,
e, em vez de receber a aprovação do povo, recolhia insultos velados, aqui e
ali...
Após três semanas consecutivas de luta, fatigara-se e
preferira isolar-se entre alcaparreiras amigas.
Por isso mesmo, no crepúsculo anilado, estava ele só,
diante das águas a refletir...
Aproxima-se alguém, contudo...
Por mais busque esconder-se, sente-se procurado.
É o próprio Cristo.
- Que fazes Pedro? – diz-lhe o Senhor.
- Penso Mestre.
E o diálogo prolongou-se.
- Estás triste?
- Muito triste.
- Por quê?
- Chamam-me ladrão.
- Mas se a consciência te não acusa, que tem isso?
-Sinto-me desditoso. Em nome do amor que me ensinas,
alivio os enfermos e ajudo aos necessitados. Entretanto, injuriam-me. Dizem por
aí que furto, que exploro a confiança do povo...
Ainda ontem, distribuía aos velhos mantos que nos foram
cedidos pela casa de Carpo, entre os doentes chegados de Jope... Alegou alguém,
inconsideradamente, que surrupiei a maior parte...
Estou exausto Mestre. Vinte dias de multidão pesam muito
mais que vinte anos de serviços na barca...
- Pedro, que deste aos necessitados nestes últimos vinte
dias?
- Moedas, túnicas, mantos, ungüentos, trigo, peixe...
- De onde chegaram as moedas?
- Das mãos de Joana, a mulher de Cusa.
- As túnicas?
- Da casa de Zobalan, o curtidor.
- Os mantos?
- Da residência de Carpo, o romano que decidiu
amparar-nos.
- Os unguentos?
- Do lar de Zebedeu, que os fabrica.
- O trigo?
- Da seara de Zaqueu, que se lembra de nós...
- E os peixes?
- Da nossa pesca.
- Então Pedro?
- Que devo entender Senhor?
- Que apenas entregamos aquilo que nos foi ofertado para
distribuirmos em favor dos que necessitam. A Divina Bondade conjuga as
circunstancias e confia-nos de um modo ou de outro os elementos que devamos
movimentar nas obras do bem... Disseste servir em nome do amor...
- Sim Mestre...
- Recorda então, que o amor não relaciona calúnias, nem
conta sarcasmos.
O discípulo entremostrando súbita renovação mental não
respondeu. Jesus abraçou-o e disse apenas:
- Pedro, todos os bens da vida podem ser transmitidos de
sítio a sitio e de mão em mão...
Ninguém pode dar em essência esse ou aquele patrimônio do
mundo senão o próprio Criador, que nos empresta os recursos por Ele gerados na
Criação...
E se algo, podemos dar de nos, o amor é a única dádiva
que podemos fazer, sofrendo e renunciando por amor...
O apostolo compreendeu e beijou as mãos que o tocavam de
leve. Em seguida puseram-se ambos a falar alegremente sobre as tarefas
esperadas para o dia seguinte.
Livro: Contos Desta E De Outra Vida– Humberto de Campos
– Irmão X
ATENTAI, VÓS QUE OUVIS
Atentai vós que ouvis... – Jesus. (Marcos, 4:24)
Freqüentemente
lastimamos enganos de que somos vítimas ou deploramos obstáculos com que não
contávamos, absolutamente desvinculados de advertências edificantes que nos
enriquecem a alma.
Esperamos que
amigos nos evitem aborrecimentos, que instrutores nos garantam o passo...
As leis que nos
regem, contudo, se expressam por evolução, crescimento, disciplina,
responsabilidade.
Uma criança, nos primeiros tempos da experiência física,
decerto contará com o amparo materno ou com o auxílio de pajens dedicados, a
fim de equilibrar-se nos próprios pés; todavia, o tempo desenvolver-lhe-á entendimento e forma, situando-a na idade da razão.
Chegada a esse
ponto a criatura já não pode refugiar-se no regaço alheio para obter apoio e
condução.
Colocada entre
adultos, que gravitam em torno de interesses variados, é compelida a
defrontar-se com os problemas que lhe digam respeito, de modo a resolvê-los,
com vistas à própria sublimação espiritual.
Imperioso, dessa
forma, que não se renda culto à desatenção nos caminhos da vida. Nos menores e
maiores acontecimentos do cotidiano é preciso saibamos analisar, de raciocínio
sereno, que sugestões edificantes a fé nos proporciona ou que lições vivas a
experiência nos traz.
Imaginemos alguém
atravessando a via pública sem a menor consideração para com os avisos do
trânsito, ou contraindo dívidas sem a mínima idéia de que responderá pelos
próprios atos.Claramente que, por fim, esbarrará com desastre e insolvência.
Assim também na
vida moral.
Ninguém vive
acertadamente sem ponderação, equilíbrio, discernimento, auto-exame. Reflitamos
em nossos compromissos, deveres, tarefas, necessidades.
Para que nos premunamos contra disparate e imprudência,
Jesus foi persuasivo, exortando-nos pelos apontamentos de Marcos: “Atentai vós
que ouvis”
Emmanuel - Mensagem psicografada por Francisco Cândido
Xavier. Do livro Bênção de Paz
TER E MANTER
“Porque ao que tem
ser-lhe-á dado; e ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.”
JESUS MARCOS, 4: 25.
“Não é Deus quem retira daquele que receberá é o próprio
Espírito que, por pródigo e descuidado não sabe conservar o que tem e aumentar,
fecundando-o, o óbolo que lhe caiu no coração.
Aquele que não cultiva o campo que o trabalho de seu pai
lhe granjeou, e que lhe coube em herança, o vê cobrir-se de ervas parasitas. É
seu pai quem lhe tira as colheitas que ele não quis preparar?” - Cap. 18,15.
Reflitamos em alguns quadros da vida: a quem se consagra
ao serviço, mantendo o trabalho, mais progresso; a quem auxilia o próximo,
mantendo a fraternidade, mais recursos; a quem respeita o esforço alheio,
mantendo a colaboração em louvor do bem, mais estima; a quem estuda, mantendo a
instrução geral, mais cultura; a quem cultiva compreensão, mantendo a
concórdia, mais clareza; a quem confunde os outros, mantendo a obscuridade,
mais sombra; a quem se queixa, mantendo o azedume, ais desânimo; lei quem se
irrita, mantendo a agressividade, mais desespero; a quem cria dificuldades, no
caminho dos semelhantes, mantendo obstáculos, mais problemas.
Na mesma diretriz, quem se empenha a compromissos,
mantendo dívidas novas, mais deveres e a quem solve obrigações, mantendo novos
créditos, mais direitos.
Nós todos, - os espíritos em evolução, temos algo a
planear e realizar, suprimir e aperfeiçoar no mundo de nós mesmos.
A Doutrina Espírita, desenvolvendo o ensinamento do
Cristo, demonstra que, em toda parte, nas realidades do espírito, daquilo que
habitualmente mantemos teremos sempre mais.
Emmanuel do livro: O Livro da Esperança - Psicografado
por Francisco Cândido Xavier
NA EXALTAÇÃO DO TRABALHO
“... O reino de Deus é assim como se um homem lançasse
semente à terra¨ JESUS MARCOS, 4:26.
“Ânimo, trabalhadores tomai dos vossos arados e das
vossas charruas; lavrai os vossos corações; arrancai deles a cizânia; semeai a
boa semente que o Senhor vos confia e o orvalho do amor lhe fará produzir
frutos de caridade. ” Cap. 18, 15.
Para considerar a importância do trabalho, relacionemos
particularmente algumas das calamidades da inércia, no plano da natureza.
A casa longamente desabitada afasta-se da missão de
albergar os que vagueiam sem teto e, em seguida, passa à condição de reduto dos
animais inferiores que a mobilizam por residência.
O campo largado em abandono furta-se ao cultivo dos
elementos nobres, necessários à Inteligência na Terra e transforma-se,
gradativamente, em deleitoso refúgio da tiririca.
O poço de águas trancadas foge de aliviar a sede das
criaturas, convertendo-se para logo em piscina de vermes.
O arado ocioso esquece a alegria de produzir e, com o
decurso do tempo, Incorpora em si mesmo a ferrugem que o desgasta.
A roupa que ninguém usa distancia-se da tarefa de abrigar
quem tirita- ao relento e faz-se, pouco a pouco, a moradia da traça que a
destrói.
O alimento indefinidamente guardado sem proveito deixa a
função que lhe cabe no socorro aos estÔmagos desnutridos e acaba alentando os
agentes da decomposição em que se corrompe.
Onde estiveres, lembra-te de que a vida é caminhada,
atividade, progresso, movimento e incessante renovação para o Bem Eterno.
Trabalho é o infatigável descobridor.
Transpõe dificuldades, desiste da irritação, olvida
mágoas, entesoura os recursos da experiência e prossegue adiante.
Quem persevera na preguiça, não somente deserta do
serviço que lhe compete fazer, mas abre também as portas da própria alma à
sombra da obsessão em que fatalmente se arruinará.
Emmanuel do livro:
O Livro da Esperança - Psicografado por Francisco Cândido Xavier
PALAVRAS DE BOM
ÂNIMO
Francisco Cândido Xavier
Envio-lhe o soneto que nos foi dado pelo poeta Cruz e
Souza, muito lembrado por nós, num grupo de amigos, na véspera da sessão em que
nos visitou. Alguns companheiros, entre eles senhoras da Guanabara, falavam
sobre a possibilidade de recebermos mediunicamente uma página do poeta.
Um dos participantes da nossa conversação expressava o
desejo de obter de Cruz e Souza algumas palavras de bom ânimo, em vista dos
tropeços que vem atravessando na seara da fé, ante o trabalho de fraternidade
que lhe foi confiado. No dia seguinte as nossas irmãs do Rio nos convidaram
para ligeiro culto de oração. Para centralizar os pensamentos na prece, recorremos
à leitura de O Evangelho Segundo o Espiritismo que nos ofereceu o item 15 do
capítulo XVIII para meditação.
Ao término do nosso ligeiro encontro espiritual, o nosso
amigo Cruz e Souza veio até nós e deu-nos o soneto evidentemente dedicado em
espírito ao amigo que esperava por ele. Sentindo que esse apelo nos serve a
todos, passamo-lo às suas mãos.
AO CULTIVADOR DO
BEM
Cruz e Souza
Companheiro da Terra!... Companheiro,
Não te doa servir no solo obscuro,
Resguarda o sonho luminoso e puro
Sob os clarões do júbilo primeiro...
Vara lama, canícula, aguaceiro,
Vence o caminho áspero e inseguro,
Plantando o Bem nas leiras do Futuro,
O trigo excelso do imortal celeiro!...
Sofre, mas segue além das próprias dores,
Sê bondade e perdão por onde fores,
Olvida em prece o espanto que te invade.
Serve, tropeça, ergue-te e confia,
E encontrarás as fontes da alegria
Nas colheitas de luz da Eternidade.
Do livro Diálogo
dos Vivos. Espíritos Diversos. Psicografia de Francisco Cândido Xavier e J.
Herculano Pires.
A VOZ DA
EXPERIÊNCIA
Irmão Saulo
Fala a voz da experiência neste soneto de Cruz e Souza.
Quem conhece a vida do poeta facilmente o reconhece nestas estrofes. Negro e
pobre, arredio, fugindo às glórias ilusórias da Terra, sofreu na carne as
provas do exílio e morreu tuberculoso. Seu talento fulgurante e sua poesia exponencial
só foram reconhecidos depois da sua morte. Era o poeta maior do nosso
Simbolismo e não o reconheceram em vida. Ele mesmo se retratou no soneto ‘Vida
Obscura”, como se vê no seu primeiro quarteto:
Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
O ser humilde entre os humildes seres.
Embriagado, tonto de prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.
No soneto “Assim seja”, escrito em vida, como o acima
citado, Cruz e Souza já dava conselhos semelhantes aos que agora envia ao
companheiro que lhe suplica palavras de bom ânimo. Vejamos o seu ultimo
terceto:
Morre com o teu Dever! Na alta confiança
De quem triunfou e sabe que descansa
Desdenhando de toda a Recompensa!
Setenta e seis anos após a sua morte o poeta nos envia
sonetos que o identificam pelo estilo, a temática e a posição pessoal diante do
mundo e da vida. Os céticos perguntam se ele não teria evoluído, se não devia
estar compondo em ritmo moderno. Se procedesse assim, como identificar-se?
Nesse caso os céticos diriam: “Isso não é Cruz e Souza!”
O espírito volta, pelo pensamento, às posições antigas,
reencontra o tempo perdido e nele se reintegra para nos dar a sua ficha de
identidade. “Livre da matéria escrava”, como ele mesmo escreveu em vida no
soneto “Livre”, o poeta se torna senhor do tempo que não é mais irreversível
como lhe parecia na Terra. A experiência da sua própria dor então lhe serve
para socorrer os que ainda sofrem no exílio. E ensina os que padecem a
transformar o lodo em astros, como já antevira no soneto “Clamor Supremo” que
nos deixou na sua poética terrena.
O problema da poesia mediúnica não é de crença, de
aceitação pacífica e ingênua. Só podemos legitimar a mensagem poética através
da crítica. O poeta se identifica pelo que ele era quando vivo e não pelo que
ele devia ser. Toda a poética psicográfica de Chico Xavier (e toda a sua prosa)
é marcada pelo selo dos autores espirituais. Este soneto de Cruz e Souza, como
se vê, não pode ser atribuído a nenhum outro poeta. Traz o cunho do grande
simbolista em todas as suas facetas.
Do livro Diálogo dos Vivos. Espíritos Diversos. Psicografia
de Francisco Cândido Xavier e J. Herculano Pires.
A GLÓRIA DO ESFORÇO
Relacionava Tiago, filho de Alfeu, as dificuldades
naturais na preparação do discípulo, quando várias opiniões se fizeram ouvir
quanto aos percalços do aprimoramento.
É quase impossível praticar as lições da Boa Nova, no
mundo avesso à bondade, à renúncia e ao perdão — concluíram os aprendizes de
maneira geral.
A maioria das criaturas comprazem-se na avareza ou no
endurecimento.
Registrava o Mestre a conceituação expendida pelos companheiros,
em significativa quietude, quando Pedro O convocou diretamente ao assunto.
Jesus refletiu alguns instantes e ponderou:
— Entre ensino e aproveitamento, tudo depende do
aprendiz.
E a seguir, falou com brandura: — Existiu no tempo de
David um grande artista que se especializara na harpa com tamanha perfeição que
várias pessoas importantes vinham de muito longe, a fim de ouvi-lo.
Grandes senhores com as suas comitivas descansavam, de
quando em quando, junto à moradia dele, cercada de arvoredo, para escutar-lhe
as sublimes improvisações.
O admirável mestre fez renome e fortuna, parecendo a
todos que ninguém o igualaria na Terra na expressão musical a que se
consagrara.
Em seus saraus e exibições, possuía em seu serviço
pessoal um escravo aparentemente inábil e atoleimado, que servia água, doce e
frutas aos convivas e que jamais conversava, fixando toda a atenção no
instrumento divino, como se vivesse fascinado pelas mãos que o tangiam.
Muitos anos correram quando, certa noite, o artista
volta, de inesperado, ao domicílio, findo o banquete de um amigo nas
vizinhanças e, com indizível espanto, assinala celeste melodia no ar.
Alguém tocava magistralmente em sua casa solitária, qual
se fora um anjo exilado no mundo.
Quem seria o estrangeiro que lhe tomara o lugar? Em
lágrimas de emoção por pressentir a existência de alguém com ideal artístico
muito superior ao dele, avança devagar para não ser percebido e, sob
intraduzível assombro, verificou que o harpista maravilhoso era o seu velho
escravo tolo que, usando os minutos que lhe pertenciam por direito e sem
incomodar a ninguém, exercitava, as lições do senhor, às quais emprestava,
desde muito tempo, todo o seu vigilante amor em comovido silêncio.
Foi então que o artista magnânimo e famoso libertou-o e
conferiu-lhe a posição que por justiça merecia.
Diante da estranheza dos discípulos que se calavam,
confundidos, o Mestre rematou: — A aquisição de qualidades nobres é a glória
infalível do esforço.
Todo homem e toda mulher que usarem as horas de que
dispõem na harpa da vida, correspondendo à sabedoria e à beleza com que Nosso
Pai se manifesta, em todos os quadros do mundo, depressa lhe absorverão a
grandeza e as sublimidades, convertendo-se em representantes do Céu para seus
irmãos em humanidade.
Quando a criatura, porém, somente trabalha na cota de
tempo que lhe é paga pelas mordomias da Terra, sem qualquer aproveitamento das
largas concessões de horas que a Divina Bondade lhe concede no corpo, nada mais
receberá, além da remuneração transitória do mundo.
Neio Lúcio - Do Livro Jesus no Lar - Francisco C. Xavier
O MAIOR RECADO
Um sacerdote sábio, desejando ensinar o caminho do Céu
aos crentes que confiavam nele, rogou a Jesus, depois de longas meditações e
sacrifícios, lhe fôsse revelado qual o maior impedimento contra a iluminação
espiritual.
Com efeito, de mente limpa, dormiu e sonhou que era
conduzido à Porta Celestial.
Nimbado de esplendor, um anjo recebeu-o, benevolente.
- Mensageiro de Deus! — clamou o sacerdote — venho rogar
a verdade para as ovelhas humanas que me seguem...
- Que pretendes saber? — indagou a entidade angélica.
- Peço esclarecimento sobre o maior obstáculo para a
alma, na marcha para Deus. Sei que temos sete pecados mortais que aniquilam em
nós a graça divina, na ascensão para o Alto. Sob a influência de semelhantes
monstros, rola o espírito no despenhadeiro infernal. Entretanto, desejaria
explicações mais claras, quanto ao problema do mal, porque nossas faltas variam
ao infinito.
O anjo sorriu e considerou:
- A solução é simples. Quais são os pecados a que te
referes?
O ministro da fé movimentou os dedos e respondeu:
- Soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e
preguiça. Deles nascem as demais imperfeições.
O mensageiro, contudo, acrescentou:
- No fundo, porém, podemos reduzi-los àunidade. Todos os
pecados, inclusive os mortais, procedem de uma fonte única.
O sacerdote, curioso, suplicou:
- Oh! anjo amigo, aclara-me o entendimento! Há muitos
aprendizes, na Terra, aguardando-me a palavra!...
O emissário da Esfera Superior, sem qualquer presunção de
superioridade, passou a elucidar:
- Escuta e atende!
Se o soberbo trabalhasse para o bem de todos, não
encontraria ensejo de cultivar o orgulho e a vaidade que o levam a acreditar-se
ponto central do universo.
Se o avarento conhecesse a vantagem do suor, na
felicidade dos semelhantes, não se entregaria à volúpia da posse que o obriga a
acumular dinheiro inütilmente.
Se o homem inclinado à tentação dos prazeres fáceis
aprendesse a despender as próprias forças em favor da elevação coletiva, não
disporia de ocasião para prender-se às paixões aniquiladoras que o arrastam ao
crime.
Se as pessoas facilmente irascíveis estivessem dispostas
a servir de acordo com os designios divinos, não envenenariam a própria saúde
com remorsos e angústias injustificáveis.
Se o guloso vivesse atento à tarefa construtiva que lhe
cabe no mundo, não se escravizaria aos apetites devastadores que lhe arruinam o
corpo e a alma.
E se o invejoso utilizasse a existência, no trabalho
digno, não gastaria tempo acompanhando maliciosamente as iniciativas do
próximo, complicando o próprio destino...
Como vê, o maior dos pecados, a causa primordial de todos
os males, é a preguiça.
Dá trabalho edificante às tuas ovelhas e convence-te de
que, na posse do serviço, não se afastarão do caminho justo.
O sacerdote não mais teve o que perguntar.
Despertou, edificado, e, do dia seguinte em diante, o
povo reparou que o ministro modificara as pregações.
Do livro Alvorada Cristã. Espírito de Neio Lúcio.
Psicografia de Francisco C. Xavier.
COOPERAÇÃO COM
DEUS
Tema: Cooperação
individual na execução do plano de serviço de Providência Divina
Quantas
vezes terás dito que amas a Deus e te dispões a servi-lo? e quantas outras
tantas terás afirmado a tua fé na Providência Divina?
Provavelmente, porém, não te puseste ainda a raciocinar que os teus
votos foram acolhidos e que o Todo-Misericordioso, por intermédio de vasta
corrente hierárquica de assessores, te enviou tarefas de cooperação com a Sua
Infinita Bondade, junto de causas, organizações, situações e pessoas, que lhe
requisitam assistência e intervenção.
Exposto,
assim, o problema do teu setor de ação individual, será justo considerar que
esforço e dedicação constituem ingredientes inevitáveis no encargo que te foi
confiado, a fim de que obtenhas o êxito que denominamos por “dever cumprido
perante Deus”.
Mãe ou
pai, se recolhesses da vida tão-somente os filhos robustos e virtuosos, que
indícios de amor oferecerias a Deus, quando Deus te pede o coração mais
profundamente voltado para os filhos menos felizes, com bastante abnegação para
jamais abandoná-los, ainda mesmo quando o mundo os considere indesculpáveis ou
desprezíveis?
Professor
ou mentor, se reunisses contigo apenas os discípulos inteligentes e nobres,
quem estaria com Deus no auxílio aos rebeldes ou retardados?
Dirigente
ou supervisor, nos diversos ramos da atividade humana, se fosses chamado para
guiar os interesses da comunidade exclusivamente nos dias de céu azul, para
entoar louvores à harmonia ou presidir a distribuição de luzes e bênçãos, quem
cooperaria com o Supremo Senhor, nas horas de tempestade, quando as nuvens da
incompreensão e os raios da calúnia varam a atmosfera das instituições,
exigindo a presença dos que cultivem brandura e compreensão, a fim de que a
Divina Misericórdia encontre instrumentos capazes de ajudá-la a restaurar os
elementos convulsos?
Obreiro do
bem ou condutor da fé, se obtivesses da Terra apenas demonstrações de apreço e
palmas de triunfo, quem colaboraria com Deus, nos dias de perturbação, de
maneira a limitar a incursão das trevas ou a apagar o fogo do ódio, entre as
vítimas da ilusão ou da vaidade, nos lugares em que o Pai Supremo necessite de
corações suficientemente corajosos e humildes para sustentarem o bem com
esquecimento de todo mal?
Onde
estiveres e sejas com quem sejas, no grau de responsabilidade e serviço em que
te situas, agradece aos Céus as alegrias do equilíbrio, as afeições, os dias
róseos do trabalho tranqüilo e as visões dos caminhos pavimentados de beleza e
marginados de flores que te premiam a fé em Deus; quando, porém, os espinhos da provação de
firam a alma ou quando as circunstâncias adversas se conjuguem contra as boas
obras a que vinculas, como se atormenta do mal intentasse efetuar o naufrágio
do bem, recorda que terás chegado ao instante do devotamento supremo e da
lealdade maior, porque, se confias em Deus, Deus igualmente confia em ti.
Emmanuel - Livro Encontro Marcado - Francisco Cândido
Xavier
DEUS E NÓS
Tema – Nossa tarefa pessoal na Obra Divina.
Indubitavelmente, Deus, nosso Pai e Criador, fará que a
Terra alcance a perfeição, mas é preciso descobrir a parte do trabalho que nos
compete, na condição de filhos e criaturas de Deus, no aprimoramento geral, a
começar de nós e a refletir-se fora de nós.
Clareando o pensamento exposto, digamos que Deus
necessita de nós outros, conquanto não nos constranja o livre-arbítrio à
cooperação; e vale notar que, através das operações que nomeamos por “nossos
deveres imediatos”, é possível saber a que tarefas somos conduzidos.
Detém-te, assim, de quando em quando, para considerar os
encargos de que a Providência Divina te imcubiu, de modo indireto no quadro das
lides cotidianas.
Deus é a Paternidade Suprema. Em razão disso, terá
concedido ao teu coração um ou alguns dos teus filhos, no instituto da
consangüinidade, a fim de que o ajudes a moldar-lhes o caráter, embora te vejas
temporariamente, muitas vezes, em absoluto esquecimento de ti mesmo, para que a
abnegação atinja a sua obra completa.
Deus é Amor. Em vista de semelhante verdade, ele te pede
que ames o próximo, de tal maneira que te transfigures em mensagem viva de
compreensão e socorro fraternal a cada irmão da Humanidade que te partilhe a
experiência.
Deus é Misericórdia. Fácil reconhecer que ele aguarda lhe
adotes as normas de tolerância construtiva, perdoando quantas vezes se fizerem
necessárias o companheiro que se terá desviado da senda justa, propiciando-lhe
novas oportunidades de serviço e elevação, no nível em que se coloque.
Deus é Trabalho. Imperioso aceitar as pequenas obrigações
do dia-a-dia, quais sejam o trato da terra, o zelo da casa, a lição a ser
administrada ou recebida, o compromisso afetivo, o dever profissional ou até
mesmo a proteção a uma flor, na altura de tarefas que ele te solicita realizar
com alegria, em favor da paz e da eficiência nos mecanismos da vida.
Observa em derredor de ti e reconhecerás onde, como e
quando Deus te chama em silêncio a colaborar com ele, seja no desenvolvimento
das boas obras, na sustentação da paciência, na intervenção caridosa em
assuntos inquietantes para que o mal não interrompa a construção do bem, na
palavra iluminativa ou na seara do conhecimento superior, habitualmente
ameaçada pelo assalto das trevas.
Sem dúvida, em lugar algum e em tempo algum, nada
conseguiremos, na essência, planejar, organizar, conduzir, instituir ou fazer
sem Deus; no entanto, em atividade alguma, não nos é lícito olvidar que Deus
igualmente espera por nós.
Emmanuel - Livro
Encontro Marcado - Francisco Cândido Xavier
O REMÉDIO
IMPREVISTO
O pequeno príncipe Julião andava doente e abatido.
Não brincava, não estudava, não comia. Perdera o gosto de
colher os pêssegos saborosos do pomar. Esquecera a peteca e o cavalo.
Vivia tristonho e calado no quarto, esparramado numa
espreguiçadeira.
Enquanto a mãezinha, aflita, se desvelava junto dele, o
rei experimentava muitos médicos.
Os facultativos, porém, chegavam e saíam, sem resultados
satisfatórios.
O menino sentia grande mal-estar. Quando se lhe aliviava
a dor de cabeça, vinha-lhe a dor nos braços. Quando os braços melhoravam, as pernas
se punham a doer.
O soberano, preocupado, fêz convite público aos
cientistas do País. Recompensaria nababescamente a quem lhe curasse o filho.
Depois de muitos médicos famosos ensaiarem, embalde,
apareceu um velhinho humilde que propôs ao monarca diferente medicação. Não
exigia pagamento. Reclamava tão sômente plena autoridade sobre o doentinho.
Julião deveria fazer o que lhe fôsse determinado.
O pai aceitou as condições e, no dia imediato, o menino
foi entregue ao ancião.
O sábio anônimo conduziu-o a pequeno trato de terra e
recomendou-lhe arrancasse a erva daninha que ameaçava um tomateiro.
— Não posso! estou doente! — gritou o menino.
O velhinho, contudo, convenceu-o, sem impaciência, de que
o esforço era viável e, em minutos breves, ambos libertavam as plantas da erva
invasora.
Veio o Sol, passou o vento; as nuvens, no alto, rondavam
a terra, como a reparar onde estava o campo mais necessitado de chuva...
Um pouco antes do meio-dia, Julião disse ao velho que
sentia fome, O sábio humilde sorriu, contente, enxugou-lhe o suor copioso e
levou-o a almoçar.
O jovem devorou a sopa e as frutas, gostosamente.
Após ligeiro descanso, voltaram a trabalhar.
No dia seguinte, o ancião levou o príncipe a servir na
construção de pequena parede.
Julião aprendeu a manejar os instrumentos menores de um
pedreiro e alimentou-se ainda melhor.
Finda a primeira semana, o orientador traçou-lhe novo
programa. Levantava-se de manhã para o banho frio, obrigava-se a cavar a terra
com uma enxada, almoçava e repousava. Logo após, antes do entardecer, tomava
livros e cadernos para estudar e, à noitinha, terminada a última refeição,
brincava e passeava, em companhia de outros jovens da mesma idade.
Transcorridos dois meses, Julião era restituído à
autoridade paternal, rosado, robusto e feliz. Ardia, agora, em desejos de ser
útil, ansioso por fazer algo de bom. Descobrira, enfim, que o serviço para o
bem é a mais rica fonte de saúde.
O rei, muito satisfeito, tentou recompensar o velhinho.
Todavia, o ancião esquivou-se, acrescentando:
— Grande soberano, o maior salário de um homem reside na
execução da Vontade de Deus, através do trabalho digno. Ensina a glória do
serviço aos teus filhos e tutelados e o teu reino será abençoado, forte e
feliz.
Dito isto, desapareceu na multidão e ninguém mais o viu.
Do livro Avorada Cristã. Espírito de Neio Lúcio.
Psicografia de Francisco C. Xavier.
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