TEXTOS DE APOIO
TAIS QUAIS SOMOS
“Nem todo o que me
diz. “Senhor! Senhor!” entrará no reino das Céus mas aquele que faz a vontade
de meu Pai que está nos Céus.”- JESUS - MATEUS, 7:21.
“Será bastante trazer a aparência do Senhor para ser fiel
servidor seu? Bastará dizer: “Sou cristão , para que alguém seja um seguidor de
Cristo? Procura os verdadeiros cristãos e as reconhecereis pelas suas obra. ”
Cap. 18, 16.
Declaras-te no sadio propósito de buscar evolução e
aprimoramento, luz e alegria, entretanto, em várias ocasiões, estacas,
recusando a estação de experiência e resgate em que ainda te vês.
Deitas aflitivo olhar para fora e, freqüentemente,
cobiças sem perceber, as condições de amigos determinados, perdendo valioso
tempo em descabidas lamentações.
“Se eu contasse com mais saúde...” alegas em tom amargo.
Em corpos enfermos, todavia, há espíritos que entesouram
paciência e coragem, fortaleza e bom ânimo, levantando o padrão moral de
comunidades inteiras.
“Se eu conseguisse um diploma distinto...” afirmas com
menosprezo a ti próprio.
Não te é lícito desconhecer, porém, que o dever retamente
cumprido é certificado dos mais nobres, descerrando-te caminho às conquistas
superiores.
“Se eu tivesse dinheiro..,” - reclamas, triste. Mas
esqueces-te de que é possível socorrer o doente e o próximo, sem acessórios
amoedados.
“Se eu tivesse mais cultura... asseveras, mostrando verbo
desapontado.
E não te aplicas ao esmero de lembrar que nunca existiram
sábios e autoridades, sem começos laborioso e sem ásperas disciplinas.
“Se eu, alcançasse companheiros melhores...” - dizes,
subestimando o próprio valor.
Entretanto, o esposo transviado e a esposa difícil, os
filhos -problemas e os parentes complicados, os colaboradores incipientes e os
amigos incompletos são motivos preciosos do teu apostolado individual, na
abnegação e no entendimento, para que te eleves de nível, ante a Vida Maior.
Errados ou inibidos, deficientes ou ignorantes, rebeldes
ou faltosos, é necessário aceitar a nós mesmos, tais quais somos, sem acalentar
ilusões a nosso respeito, mas conscientes de que a nossa recuperação, melhoria,
educação e utilidade no bem dos semelhantes, na sustentação do bem de nós
mesmos, podem principiar, desde hoje, se nós quisermos, porquanto é da Lei que
a nossa vontade, intimamente livre, disponha de ensejos para renovar o destino,
todos os dias.
Ensinou-nos Jesus que o Reino de Deus está dentro de nós.
Fujamos, pois, de invejar os instrumentos de trabalho e
progresso que brilham na responsabilidade dos outros.
Para superar as dificuldades e empeços de nossos próprios
limites, basta abrir o coração ao amor e aproveitar os recursos que nos
enriquecem as mãos.
Emmanuel do livro:
O Livro da Esperança - Psicografado por Francisco Cândido Xavier
A GRANDE PERGUNTA
E por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que
eu digo? - Jesus. (LUCAS, 6:46)
Em lamentável indiferença, muitas pessoas esperam pela
morte do corpo, a fim de ouvirem as sublimes palavras do Cristo.
Não se compreende, porém, o motivo de semelhante
propósito. O Mestre permanece vivo em seu Evangelho de Amor e Luz.
É desnecessário aguardar ocasiões solenes para que lhe
ouçamos os ensinamentos sublimes e claros.
Muitos aprendizes aproximam-se do trabalho santo, mas
desejam revelações diretas. Teriam mais fé, asseguram displicentes, se ouvissem
o Senhor, de modo pessoal, em suas manifestações divinas. Acreditam-se
merecedores de dádivas celestes e acabam considerando que o serviço do
Evangelho é grande em demasia para o esforço humano e põem-se à espera de
milagres imprevistos, sem perceberem que a preguiça sutilmente se lhes mistura
à vaidade, anulando-lhes as forças.
Tais companheiros não sabem ouvir o Mestre Divino em seu
verbo imortal. Ignoram que o serviço deles é aquele a que foram chamados, por
mais humildes lhes pareçam as atividades a que se ajustam.
Na qualidade de político ou de varredor, num palácio ou
numa choupana, o homem da Terra pode fazer o que lhe ensinou Jesus.
É por isso que a oportuna pergunta do Senhor deveria
gravar-se de maneira indelével em todos os templos, para que os discípulos, em
lhe pronunciando o nome, nunca se esqueçam de atender, sinceramente, às
recomendações do seu verbo sublime.
Emmanuel - Francisco Cândido Xavier. Da obra: Caminho,
Verdade e Vida.
VINDA DO REINO
"O reino de Deus não vem com aparência exterior.
"- Jesus. (LUCAS, 17-20.)
Os agrupamentos religiosos no mundo permanecem, quase
sempre, preocupados pelas conversões alheias. Os crentes mais entusiastas
anseiam por transformar as concepções dos amigos. Em vista disso, em toda a
parte somos defrontados por irmãos aflitos pela dilatação do proselitismo em
seus círculos de estudo.
Semelhante atividade nem sempre é útil, porquanto, em
muitas ocasiões, pode perturbar elevados projetos em realização.
Afirma Jesus que o Reino de Deus não vem com aparência
exterior. É sempre ruinosa a preocupação por demonstrar pompas e números
vaidosamente nos grupos da fé. Expressões transitórias de poder humano não
atestam o Reino de Deus. A realização divina começara do íntimo das criaturas,
constituindo gloriosa luz do templo interno. Não surge à comum apreciação,
porque a maioria dos homens transitam semicegos, através do túnel da carne,
sepultando os erros do passado culposo.
A carne é digna e venerável, pois é vaso de purificação,
recebendo-nos para o resgate preciso; entretanto, para os espíritos redimidos
significa "morte" ou "transformação permanente". O homem
carnal, em vista das circunstâncias que lhe governam o esforço, pode ver somente
o que está "morto" ou aquilo que "vai morrer". O Reino de
Deus, porém, divino e imortal, escapa naturalmente à visão dos humanos.
Emmanuel - Do livro Caminho, Verdade e Vida de Chico
Xavier
BOM ÂNIMO
O apóstolo Bartolomeu foi um dos mais dedicados
discípulos do Cristo, desde os primeiros tempos de suas pregações, junto ao
Tiberíades. Tôdas as suas possibilidades eram empregadas em acompanhar o
Mestre, na sua tarefa divina. Entretanto, Bartolomeu era triste e, vezes
inúmeras, o Senhor o surpreendia em meditações profundas e dolorosas.
Foi, talvez, por isso que, uma noite, enquanto Simão
Pedro e sua família se entregavam a inadiáveis afazeres domésticos, Jesus
aproveitou alguns instantes para lhe falar mais demoradamente ao coração.
Após uma interrogativa afetuosa e fraternal, Bartolomeu
deixou falasse o seu espírito sensível.
-Mestre – exclamou, tìmidamente – não saberia nunca
explicar-vos o porquê de minhas tristezas amargurosas. Só sei dizer que o vosso
Evangelho me enche de esperanças para o reino de luz que nos espera os
corações, além, nas alturas... Quando esclarecestes que o vosso reino não é
deste mundo, experimentei uma nova coragem para atravessar as misérias do
caminho da Terra, pois, aqui, o selo do mal parece obscurecer as coisas mais
puras!... Por toda parte, é a vitória do crime, o jogo das ambições, a colheita
dos desenganos!...
A voz do apóstolo se tornara quase abafada pelas
lágrimas. Todavia, Jesus fitou-o brandamente e lhe falou, com serenidade:
– A nossa doutrina, entretanto, é a do Evangelho ou da
Boa-Nova e já viste, Bartolomeu, uma boa notícia não produzir alegria? Fazes
bem, conservando a tua esperança em face dos novos ensinamentos ; mas, não
quero senão acender o bom ânimo no espírito dos meus discípulos. Se já tive
ocasião de ensinar que o meu reino ainda não é deste mundo, isso não quer dizer
que eu desdenhe o trabalho de estendê-la, um dia, aos corações que mourejam na
Terra. Achas, então, que eu teria vindo a este mundo, sem essa certeza
confortadora? O Evangelho terá de florescer, primeiramente, na alma das
criaturas, antes de frutificar para o espírito dos povos. Mas, venho de meu
Pai, cheio de fortaleza e confiança, e a minha mensagem lerá de proporcionar
grande júbilo a quantos a receberem de coração.
Depois de uma pausa, em que o discípulo o contemplava
silencioso, o Mestre continuou :
– A vida terrestre é uma estrada prodigiosa, que conduz
aos braços amorosos de Deus. O trabalho é a marcha. A luta comum é a caminhada
de cada dia. Os instantes deliciosas da manhã e as horas soturnas de serenidade
são os pontos de repouso ; mas, ouve-me bem! Na atividade ou no descanso
físico, a oportunidade de urna hora, de uma leve anão, de uma palavra humilde é
o convite de Nosso Pai para que semeemos as suas bênçãos sacrossantas. Em
geral, os homens abusam desse ensejo precioso para anteporem a sua vontade
imperfeita aos desígnios superiores, perturbando a própria marcha. Daí resultam
as jornadas mais ásperas obrigatórias para retificação das faltas cometidas, os
infrutíferos labores. Em vista destas razões, observamos que os viajares da
Terra estão sempre desalentados. Na obcecação de sua vontade própria, ferem a
fronte nas pedras da estrada, cerram os ouvidos à realidade espiritual, vendam
os olhos com a sombra da rebeldia e passam em lágrimas, em desesperadas
imprecações e amargurados gemidos, sem enxergarem a fonte cristalina, a estrela
cariciosa do céu, o perfume da flor, a palavra de um amigo, a claridade das
experiências que Deus espalhou, para a sua jornada, em todos os aspectos do
caminho.
Houve um pequeno intervalo nas considerações afetuosas,
depois do que, sem mesmo perceber inteiramente o alcance de suas palavras,
Bartolomeu interrogou :
-Mestre, os vossos esclarecimentos dissipam os meus
pesares ; mas, o Evangelho exige de nós a fortaleza permanente?
– A verdade não exige, transforma. O Evangelho não
poderia reclamar estados especiais de seus discípulos ; porem, é preciso
considerar que a alegria, a coragem e a esperança devem ser traços constantes d
suas atividades em cada dia. Por que nos firmemos no pesadelo de uma hora, se
conhecemos a realidade gloriosa da eternidade com o Nosso Pai?
– E quando os negócios do mundo nos são adversos? E
quando tudo parece em. luta contra nós? – Perguntou o pescador, de olhar
inquieto.
Jesus, todavia, como se percebesse, inteiramente, a
finalidade de suas perguntas, esclareceu cor.i bondade :
– Qual o melhor negócio do mundo, Bartolomeu? Será a
aventura que se efetua a peso de ouro, muita vez amordaçando-se o coração e a
consciência, para aumentar as preocupações da vida material, ou a iluminação
definitiva da alma para Deus, que se realiza tão só pela boa vontade do homem,
que deseje marchar para o seu amor, por entre as luzes do caminho? Não será a
adversidade nos negócios do mundo um convite amigo para a criatura semear com
mais amor, um. Apelo indireto que a arranque às ilusões da Terra para as
verdades do reino de Deus?
Bartolomeu guardou aquela resposta no coração, não,
todavia, sem experimentar certa estranheza. E logo, lembrando-se de que sua
genitora partira, havia pouco tempo, para a sombra do túmulo, interpelou ainda,
ansioso :
– Mestre, e não será justificável a tristeza quando
perdemos um ente amado?
– Mas, quem estará perdido, se Deus é o Pai de todos
nós?... Se os que estão sepultados no lodo dos crimes hão de vislumbrar, um
dia, a alvorada da redenção, por que lamentarmos em desespero, o amigo que
partiu ao chamado do Todo-Poderoso? A morte do corpo abre as portas de um mundo
'novo para a alma. Ninguém fica verdadeiramente órfão sobre a Terra, como
nenhum ser está abandonado, porque tudo é de Deus e todos somos seus filhos.
Eis porque todo discípulo do Evangelho tem de ser um semeador de paz e de
alegria!...
Jesus entrou em silêncio, como se houvera terminado a sua
exposição judiciosa e serena.
E, pois que a hora já ia adiantada, Bartolomeu se
despediu. O olhar do Mestre oferecia ao seu, naquela noite, uma luz mais doce e
mais brilhante; suas mãos lhe tocaram os ombros, levemente, deixando-lhe uma
sensação saiote,r e desconhecida.
***
Embora nascido em Caná da Galiléia, Bartolomeu residia,
então, em Dalmanuta, para onde se dirigiu, meditando gravemente nas lições que
havia recebido. A noite pareceu-lhe formosa como nunca. No alto, as estrelas se
lhe afiguravam as luzes gloriosas do palácio de Judeus à espera das suas
criaturas, com hinos de alegria. As águas de Genesaré, aos seus olhos, estavam
mais plácidas e felizes. Os ventos brandos lhe sussurravam ao entendimento
cariciosas inspirações, como um correio delicado que chegasse do céu.
Bartolomeu começou a recordar as razões de suas tristezas
intraduzíveis, mas, com surpresa, não mais as encontrou no campo do coração.
Lembrava-se de haver perdido a afetuosa genitora ; refletiu, porém, com mais
amplitude, quanto aos desígnios da Providência Divina. Deus não lhe era pai e
mãe nos céus? Recordou os contratempos da vida e ponderou que seus irmãos pelo
sangue o aborreciam e caluniavam. Entretanto, Jesus não lhe era um irmão
generoso e sincero? Passou em revista os insucessos materiais. Contudo, que
eram as suas pescarias ou a avareza dos negociantes de Betsaida e de Cafarnaum,
comparados à luz do reino de Deus, que êle trabalhava por edificar no coração?'
Chegou a casa pela madrugada. Ao longe, os primeiros
clarões do Sol lhe pareciam mensageiros do conforto celestial. O canto das aves
ecoava em seu espírito como notas harmoniosas de profunda alegria. O próprio
mugido dos bois apresentava nova tonalidade aos seus ouvidos. Sua alma estava
agora. clara, o coração aliviado e feliz.
Ao ranger os gonzos da porta, seus irmãos dirigiram-lhe
impropérios, acusando-o de mau filho, de vagabundo e traidor da lei.
Bartolomeu, porém, recordou o Evangelho e sentiu que só êle tinha bastante
alegria para dar a seus irmãos. Em vez de reagir àsperamente, como de outras
vezes, sorriu-lhes com a bondade das explicações amigas. Seu velho pai o
acusou, igualmente, escorraçando-o. O apóstolo, no entanto, achou natural. Seu
pai não conhecia a Jesus e êle o conhecia. Não conseguindo esclarecê-los,
guardou os bens do silêncio e achou-se na posse de uma alegria nova. Depois de
repousar alguns momentos, tomou as suas redes velhas e demandou sua barca. Teve
para todos os companheiros de serviço uma frase consoladora e amiga. O lago
como que estava mais acolhedor e mais belo ; seus camaradas de trabalho, mais
delicados e acessíveis. De tarde, não questionou com os comerciantes,
enchendo-lhes, aliás, o espírito de boas palavras e de atitudes cativantes e
educativas.
Bartolomeu havia convertido todos os desalentos num
cântico de alegria, ao sopro regenerador dos ensinamentos do Cristo ; todos o
observaram com admiração, exceto Jesus, que conhecia, com júbilo, a nova
atitude mental de seu discípulo.
***
No sábado seguinte, o Mestre demandou as margens do lago,
cercado de seus numerosos seguidores. Ali, aglomeravam-se homens e mulheres do
povo, judeus e funcionários de Antipas, a par de brande número de soldados
romanos.
Jesus começou a pregar a Boa-Nova e, a certa altura,
contou, conforme a narrativa de Mateus, que – “o reino dos céus é semelhante a
um tesouro que, oculto num campo, foi achado e escondido por um homem que,
movido de gozo, vendeu tudo o que possuía e comprou aquele campo”.
Nesse instante, o olhar do Mestre pousou sobre Bartolomeu
que o contemplava, embevecido ; a luz branda de seus olhos generosos penetrou
fundo no íntimo do apóstolo, pela ternura que evidenciava, e o pescador humilde
compreendeu a delicada alusão do ensinamento, experimentando a alma leve e
satisfeita, depois de haver alijado tôdas as vaidades de que ainda se não
desfizera, para adquirir o tesouro divino, no campo infinito da vida.
Enviando a Jesus um olhar de amor e reconhecimento,
Bartolomeu limpou uma lágrima. Era a primeira vez que chorava de alegria. O
pescador de Dalmanuta aderira, para sempre, aos eternos júbilos do Evangelho do
Reino.
Irmão X - Humberto de Campos Do livro “Boa Nova”.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
A ILUSÃO DO
DISCÍPULO
Jesus havia chegado a Jerusalém sob uma chuva de flores.
De tarde, após a consagração popular, caminhava Tiago e
Judas, lado a lado, por uma estrada antiga, marginada de oliveiras, que
conduzia às casinhas alegres de Betânia.
Judas Iscariote deixava transparecer no semblante íntima
inquietação, enquanto no olhar sereno do filho de Zebedeu fulgurava a luz suave
e branda que consola o coração das almas crentes.
– Tiago – exclamou Judas, entre ansioso e atormentado –
não achas que o Mestre é demasiado simples e bom para quebrar o jugo tirânico
que pesa sobre Israel, abolindo a escravidão que oprime o povo eleito de Deus?
– Mas – replicou o interpelado – poderias admitir no
Mestre as disposições destruidoras de um guerreiro do mundo?
– Não tanto assim. Contudo, tenho a impressão de que o
Messias não considera as oportunidades. Ainda hoje, tive a atenção reclamada
por doutores da lei que me fizeram sentir a inutilidade das pregações
evangélicas, sempre levadas a efeito entre as pessoas mais ignorantes e
desclassificadas.
Ora, as reivindicações do nosso povo exigem um condutor
enérgico e altivo.
– Israel – retrucou o filho de Zebedeu, de olhar sereno –
sempre teve orientadores revolucionários; o Messias, porém, vem efetuar a
verdadeira revolução, edificando o seu reino sobre os corações e nas almas!...
Judas sorriu algo irônico e acrescentou :
– Mas, poderemos esperar renovações, sem conseguirmos o
interesse e a atenção dos homens poderosos?
– E quem haverá mais poderoso ao que Deus, de quem o
mestre é o Enviado divino ?
Em face dessa invocação Judas mordeu os lábios, mas
prosseguiu :
– Não concordo com os princípios de inação e creio que o
Evangelho somente poderá vencer com o amparo dos prepostos de César, ou das
autoridades administrativas de Jerusalém, que nos governam o destino.
Acompanhando o Mestre nas suas pregações em Cesaréia, em Sebaste, em Corazin e
Betsaida, quando das suas ausências de Cafarnaum., jamais o vi interessado em
conquistar a atenção dos homens mais altamente colocados na vida. É certo que
de seus lábios divinos sempre brotaram a verdade e o amor, por toda parte ;
mas, só observei leprosos e cegos, pobres e ignorantes, abeirando-se de nossa
fonte.
– Jesus, porém, já nos esclareceu – obtemperou Tiago, com
brandura – que o seu reino não é deste mundo.
Imprimindo aos olhos inquietes um fulgor estranho, o
discípulo impaciente revidou com energia:
Vimos hoje o povo de Jerusalém atapetar o caminho do
Senhor com as palmas da sua admiração e do seu carinho; precisamos, todavia,
impor a figura do Messias às autoridades da Corte Provincial e do Templo, de
modo a aproveitarmos êsse surto de simpatia. Notei que Jesus recebia as
homenagens populares sem partilhar do entusiasmo febril de quantos o cercavam,
razão por que necessitamos multiplicar esforços, em lugar dele, afim de que a
nossa posição de superioridade seja reconhecida em tempo oportuno.
– Recordo-me, entretanto, de que o Mestre nos asseverou,
certa vez, que o maior na comunidade será sempre aquele que se fizer o menor de
todos.
– Não podemos levar em conta esses excessos de teoria.
Interpelado que vou ser hoje por amigos influentes na política de Jerusalém,
farei o possível por estabelecer acordos com os altos funcionários e homens de
importância, afim de imprimirmos novo movimento às idéias do Messias.
– Judas! Judas!... – observou-lhe o irmão de apostolado,
com doce veemência – vê lá o que fazes! Socorreres-te dos poderes transitórios
do mundo, sem um motivo que justifique êsse recurso, não será, desrespeito à
autoridade de Jesus? Não terá o Mestre visão bastante para sondar e reconhecer
os corações? O hábito dos sacerdotes e a toga dos dignitários romanos; são
roupagens para a Terra... As idéias do Mestre são do céu e seria sacrilégio
misturarmos a sua pureza Com as Organizações viciadas do mundo!... Além de
tudo, não podemos ser mais sábios, nem mais amorosos do que Jesus e ele sabe o
melhor caminho e a melhor oportunidade para a conversão dos homens!... As
conquistas do mundo são cheias de ciladas para o espírito e, entre elas, é
possível que nos transformemos em órgão de escândalo para a verdade que o
Mestre representa.
Judas silenciou, atormentado.
No firmamento, os derradeiros raios de Sol batiam nas
nuvens distantes, enquanto os dois discípulos tomavam rumos diferentes.
***
Sem embargo das carinhosas exortações de Tiago, Judas
Iscariote passou a noite tomado de angustiosas inquietações.
Não seria melhor apressar o triunfo mundano do
Cristianismo? Israel não esperava um Messias que enfeixasse nas mãos todos os
poderes? Valendo-se da doutrina do Mestre, poderia tomar para si as rédeas do
movimento renovador, enquanto Jesus, na sua bondade e simplicidade, ficaria
entre todos, como um símbolo vivo da idéia nova.
Recordando suas primeiras conversações com as autoridades
do Sinédrio, meditava na execução de seus sombrios desígnios.
A madrugada o encontrou decidido, na embriagues de seus
sonhos ilusórios. Entregaria o Mestre aos homens do poder, em troca de sua
nomeação oficial para dirigir a atividade dos companheiros. Teria autoridade e
privilégios políticos. Satisfaria às suas ambições, aparentemente justas, afim
de organizar a vitória cristã no seio de seu povo. Depois de atingir o alto
cargo com que contava, libertaria a Jesus e lhe dirigiria os dons espirituais,
de modo a utilizá-los para a conversão de seus amigos e protetores
prestigiosos.
O Mestre, a seu ver, era demasiadamente humilde e generoso
para vencer sozinho, por entre a maldade e a violência.
Ao desabrochar a alvorada, o discípulo imprevidente
demandou o centro da cidade e, após horas, era recebido pelo Sinédrio, onde lhe
foram hipotecadas as mais relevantes promessas.
Apesar de satisfeito com a sua mesquinha gratificação e
desvairado no seu espírito ambicioso, Judas amava ao Messias e esperava,
ansiosamente, o instante do triunfo, para lhe dar a alegria da vitória cristã,
através das manobras políticas do mundo.
O prêmio da vaidade, porém, esperava a sua desmedida
ambição.
Humilhado e escarnecido, seu Mestre bem-amado foi
conduzido a cruz da ignomínia, sob vilipêndios e flagelações.
Daqueles lábios, que haviam ensinado a verdade e o bem, a
simplicidade e o amor, não chegou a escapar-se uma queixa. Martirizado na sua
estrada de angústias, o Messias só teve o máximo de perdão para seus algozes.
Observando os acontecimentos, que lhe contrariavam as
mais íntimas suposiçôes, Judas Iscariote se dirigiu a Caifas, reclamando o
cumprimento de suas promessas. Os sacerdotes, porém, ouvindo-lhe as palavras
tardias, sorriram com sarcasmo. Debalde recorreu às suas prestigiosas relances
de amizade: teve de reconhecer a falibilidade das promessas humanas.
Atormentado e aflito, buscou os companheiros de fé. Encontrou-os vencidos e
humilhados; pareceu-lhe, porém, descobrir em cada olhar a mesma exprobração
silenciosa e dolorida.
***
Já se havia escoado a hora sexta, em que o Mestre expiara
na cruz, implorando perdão para seus verdugos.
De longe, Judas contemplou tôdas as cenas angustiosas e
humilhantes do Calvário. Atroz remorso lhe pungia a consciência dilacerada.
Lágrimas ardentes lhe rolavam dos olhos tristes e amortecidos. Mau, grado à
vaidade que o perdera, ele amava intensamente ao Messias.
Em breves instantes, o céu da cidade impiedosa se cobriu
de nuvens escuras e borrascosas. O mau discípulo, com um oceano de dor na
consciência, peregrinou em derredor do casario maldito, acalentando o propósito
de desertar do mundo, numa suprema traição aos compromissos mais sagrados de
sua vida.
Antes, porém, de executar seus planos tenebrosos, junto à
figueira sinistra, ouvia a voz amargurada do seu tremendo remorso.
Relâmpagos terríveis rasgavam o firmamento; trovões
cavernosos pareciam lançar sobre a terra criminosa a maldição do céu
vilipendiado e esquecido.
Mas, sobre tôdas as vozes confusas da Natureza, o
discípulo infeliz escutava a voz do Mestre, consoladora e inesquecível,
penetrando-lhe os refolhos mais íntimos da alma :
– “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. Ninguém pode ir
ao Pai, senão por mim....
Irmão X - Humberto de Campos - Do livro “Boa Nova”.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
LUZ EM NOSSAS MÃOS
"Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o
reino de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de Deus com aparências
exteriores". (Lucas, 17:20).
A Terra de hoje reúne povos de vanguarda na esfera da
inteligência.
Cidades
enormes são usadas, à feição de ninhos gigantescos de cimento e aço, por
agrupamentos de milhões de pessoas.
A energia elétrica assegura a circulação da força
necessária à manutenção do trabalho e do conforto doméstico.
A Ciência garante a higiene.
O automóvel ganha tempo e encurta distâncias.
A imprensa a radio e a televisão interligam milhares de
criaturas, num só instante, na mesma faixa de pensamento.
A escola abrilhanta o cérebro.
A técnica orienta a indústria.
Os institutos sociais patrocinam os assuntos de
previdência e segurança.
O comércio, sabiamente dirigido, atende ao consumo com
precisão.
Entretanto,
estaremos diante de civilização impecável?
À frente desses empórios resplendentes de cultura e
progresso material, recordemos a palavra dos instrutores de Allan Kardec, nas
bases da Codificação do Espiritismo.
Perguntando a eles 'por que indícios se pode reconhecer
uma civilização completa, através da Questão número 793, constante de "O
Livro dos Espíritos", deles recolheu a seguinte resposta:
"Reconhecê-la-eis pelo desenvolvimento moral. Credes
que estais muito adiantados porque tendes feito grandes descobertas e obtido
maravilhosas invenções; porque vos alojais e vestis melhor do que os selvagens.
Todavia, não tereis verdadeiramente o direito de dizer-vos civilizados, senão
quando de vossa sociedade houverdes banido os vícios que a desonram e quando
viverdes, como irmãos, praticando a caridade cristã. Até então sereis apenas
povos esclarecidos, que hão percorrido a primeira fase da civilização".
Espíritas, irmãos! Rememoremos a advertência do Cristo
quando nos afirma que o reino de Deus não vem até nós com aparências
exteriores; para edificá-lo não nos esqueçamos de que a Doutrina Espírita é luz
em nossas mãos. Reflitamos nisso.
Emmanuel - Livro: Segue-me. Psicografia de Francisco
Cândido Xavier.
AUTO-ENTREVISTA
Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o Reino de
Deus, Jesus lhes respondeu: "Não vem o Reino de Deus com visível
aparência". (Lucas, 17 :20.)
Vez por outra convém tomar o caderno de notas e rumar
para dentro de nós mesmos, efetuando uma auto entrevista, a fim de sabermos em
que posição se nos situa a personalidade na soma integral de nossas tendências
mais íntimas:
quem somos verdadeiramente para lá da genética humana e
das documentações cartorárias do mundo, na condição real de filhos de Deus, em
provisório serviço no campo da evolução terrestre;
para que objetivos nos dirigimos;
que fazemos do tempo;
se nos achamos hoje com menos débito e mais crédito do
que ontem, perante as Leis Eternas;
se já recolhemos dificuldades e provações por reais,
benefícios;
se procuramos renovar-nos constantemente,
em espírito, para fazer o melhor ao nosso alcance;
o que estamos produzindo a favor do próximo, seja no
trabalho remunerado ou na atividade gratuita das boas obras;
se já sabemos esquecer as ofensas alheias, tanto quanto
desejamos que as, nossas sejam esquecidas;
se o nosso entusiasmo é invariável na prática do bem.
Nós, que nos interessamos tão vivamente pelo noticiário
de cada dia, acerca do que vai acontecendo no mundo, de quando em quando
realizemos uma entrevista com o nosso próprio espírito e estejamos convencidos
de que recolheremos as mais importantes informações para orientar-nos com segurança
e êxito, na viagem de aperfeiçoamento em que nos encontramos, descobrindo
gradativamente o Reino do Senhor em nós mesmos, ante a Espiritualidade Maior.
Emmanuel - Mensagem psicografada por Francisco Cândido
Xavier. Do livro Bênção de Paz
ENQUANTO
. . . Não vem o Reino de Deus com visível aparência. -
Jesus. (Lucas, 17:20.)
Dominarás a gramática, adquirindo fino lavor verbalista
na ciência da expressão, mas enquanto não articulares a própria linguagem na
luz da sinceridade e da compreensão, a tua palavra, conquanto primorosa, não renovará
a ninguém.
Indicarás a trilha exata da beneficência através de
preciosos conselhos, mas enquanto não te dispuseres a percorrer a estrada do
desprendimento, no auxílio aos semelhantes, embora ajudes indiretamente a quem
te ouça, andarás órfão de teus próprios avisos.
Pregarás tolerância, movimentando conceitos sublimes, mas
enquanto não deres de ti mesmo em abnegação e humildade, na desculpa que
ofertas, não farás claridade no coração a fim de acertar com o próprio caminho.
Levantarás magnificentes construções terrestres, mas
enquanto não ergueres em ti próprio o templo da paz, alicerçado no dever
nobremente cumprido, não encontrarás em teu benefício o pouso interior da
genuína tranqüilidade.
Honrarás os teus familiares e amigos como seres
extremamente queridos, mas enquanto não compreenderes que as esperanças e as
necessidades deles são iguais às do próximo, com o mesmo direito à bênção de
Deus, não conquistarás em favor de ti a cidadania do Universo.
Desfrutarás admiração e apreço, com espetáculos de
prestígio e renome, mas enquanto essas realizações não te repercutirem na vida
íntima, em forma de alegria oculta pelas obrigações irrepreensivelmente
atendidas, ainda mesmo à custa de supostos fracassos e prejuízos, no campo das
experiências materiais, nenhuma demonstração de estima pública te adiantará no
reino do espírito, onde, em verdade, se te vincula a vida real.
Melhoremos o mundo em derredor de nós, aperfeiçoando a
nós mesmos. Capacita-te de que, depois das tarefas executadas no plano físico,
possuirás tão-somente a extensão e a quantidade de céu que houveres edificado
dentro de ti.
Emmanuel Mensagem
psicografada por Francisco Cândido Xavier. Do livro Bênção de Paz
CIVILIZAÇÃO E REINO
DE DEUS
“Interrogado
pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus lhes respondeu: Não
vem o reino de Deus com aparências exteriores.” (Lucas, 17:20).
A terra de hoje
reúne povos de vanguarda na esfera da inteligência.
Cidades enormes
são usadas, à feição de ninhos gigantescos de cimento e aço, por agrupamentos
de milhões de pessoas.
A energia
elétrica assegura a circulação da força necessária à manutenção do trabalho e
do conforto doméstico.
A Ciência garante
a higiene.
O automóvel ganha
tempo e encurta distâncias.
A imprensa e a
radio-televisão interligam milhares de criaturas, num só instante, na mesma
faixa de pensamento.
A escola
abrilhanta o cérebro.
A técnica orienta
a industria.
Os institutos
sociais patrocinam os assuntos de previdência e segurança.
O comércio,
sabiamente dirigido, atende ao consumo com precisão.
Entretanto,
estaremos diante de civilização impecável?
À frente desses
empórios resplendentes de cultura e progresso material, recordemos a palavra
dos instrutores de Allan Kardec, nas bases da codificação do espiritismo.
Perguntando a
eles “por que indícios se pode reconhecer uma civilização completa”, através da
Questão nº 793, constante de “O Livro dos Espíritos”, deles recolheu a seguinte
resposta:
“Reconhecê-la-eis
pelo desenvolvimento moral. Credes que estais muito adiantados, porque tendes
feito grandes descobertas e obtidas maravilhosas invenções; porque vos alojais
e vestis melhor do que os selvagens. Todavia, não tereis verdadeiramente o
direito de dizer-vos civilizados, senão quando de vossa sociedade houverdes
banido os vícios que a desonram e quando viverdes, como irmãos, praticando a
caridade cristã. Até então, sereis apenas povos esclarecidos, que hão
percorrido a primeira fase da civilização.”
Espíritas,
irmãos! Rememoremos a advertência do
Cristo, quando nos afirma que o reino de Deus não vem até nós com aparências
exteriores; para edificá-lo, não nos esqueçamos de que a Doutrina Espírita é a
luz em nossas mãos. Reflitamos nisso.
Francisco Cândido
Xavier - Livro Ceifa de Luz - Pelo Espírito Emmanuel
EDIFICAÇÃO DO REINO
"O Reino de Deus está no meio de vós." - Jesus.
(LUCAS, 17:21.)
Nem na alegria excessiva que ensurdece.
Nem na tristeza
demasiada que deprime.
Nem na ternura
incondicional que prejudica.
Nem na severidade
indiscriminada que destrói.
Nem na cegueira
afetiva que jamais corrige.
Nem no rigor que
resseca.
Nem no absurdo afirmativo que é dogma.
Nem no absurdo negativo que é vaidade.
Nem nas obras sem fé que se reduzem a pedra e pó.
Nem na fé sem obras que é estagnação da alma.
Nem no movimento sem ideal de elevação que é cansaço
vazio.
Nem no ideal de elevação sem movimento que é ociosidade
brilhante.
Nem cabeça excessivamente voltada para o firmamento com
inteira despreocupação do valioso trabalho na Terra.
Nem pés definitivamente chumbados ao chão do Planeta com
integral esquecimento dos apelos do Céu.
Nem exigência a todo instante.
Nem desculpa sem-fim.
O Reino Divino não será concretizado na Terra, através de
atitudes extremistas.
O próprio Mestre asseverou-nos que a sublime realização
está no meio de nós.
A edificação do Reino Divino é obra de aprimoramento, de
ordem, esforço e aplicação aos desígnios do Mestre, com bases no trabalho
metódico e na harmonia necessária.
Não te prendas excessivamente às dificuldades do dia de
ontem, nem te inquietes demasiado pelos prováveis obstáculos de amanhã.
Vive e age bem no dia de hoje, equilibra-te e vencerás.
Livro Vinha de Luz. Psicografia de Francisco Cândido
Xavier
QUANDO VOLTARES
Cap. XVIII -Item 7 - ESE
Sofres pedindo alívio e inebrias-te na oração, como quem
sobe ao Céu pela escada sublime da bênção...
Rogas a presença do Cristo.
Todavia, não encontras o Mestre, diante de quem te
prostrarias de rastros.
Sabes porém, que nas Alturas os Braços Eternos de
sustentam a vida e, enquanto te enterneces na melodia da confiança, sentes que
tua alma se coroa de luz, ao fulgor das estrelas.
Suplicas, em prece, a própria felicidade e a felicidade
dos que mais amas, obtendo consolo e refazendo energias...
Contudo, quando voltares da divina excursão que fazes em
pensamento, desce teus olhos no vale dos que padecem.
Surpreenderás aqueles para quem leve migalha de teu
conforto expressará sempre, de algum modo, a aquisição da perfeita alegria.
Os mutilados em pranto oculto, os enfermos deixados aos
pesadelos da noite, os infelizes em desespero e os pequeninos que se amontoam
ante o lar de ninguém...
Descobrindo-os, decerto não lhes alongarás apenas o olhar
dorido, mas também as próprias mãos, aprendendo a redentora ciência de
auxiliar.
Compreenderás então que podes igualmente distribuir na
Terra o tesouro de amor que imploras do Céu, e quem sabe?
Talvez hoje mesmo, penetrando o quarto sem lume de algum
doente que o mundo esqueceu no catre da angústia, encontrarás o Senhor,
velando-lhe as horas, a dizer-te com ternura inefável:
- "Para que me chamaste? Eu estou aqui. "
Meimei - Do livro O Espírito da Verdade. Psicografia de
Waldo Vieira.
HOMENS DE FÉ
“Todo aquele,
pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem
prudente que edificou a sua casa sobre a rocha.” – Jesus. (Mateus, 7:24).
Os grandes pregadores do Evangelho sempre foram
interpretados à conta de expressões máximas do Cristianismo, na galeria dos
tipos veneráveis da fé; entretanto, isso somente aconteceu, quando os
instrumentos da verdade, efetivamente, não olvidaram a vigilância indispensável
ao justo testemunho.
É interessante verificar que o Mestre destaca, entre
todos os discípulos, aquele que lhe ouve os ensinamentos e os pratica. Daí se
conclui que os homens de fé não são aqueles apenas palavrosos e entusiastas,
mas os que são portadores igualmente da atenção e da boa vontade, perante as
lições de Jesus, examinando-lhes o conteúdo espiritual para o trabalho de
aplicação no esforço diário.
Reconforta-nos assinalar que todas as criaturas em
serviço no campo evangélico seguirão para as maravilhas interiores da fé.
Todavia, cabe-nos salientar, em todos os tempos, o subido valor dos homens
moderados que, registando os ensinos e avisos da Boa-Nova, cuidam, desvelados,
da solução de todos os problemas do dia ou da ocasião, sem permitir que suas
edificações individuais se processem, longe das bases cristãs imprescindíveis.
Em todos os serviços, o concurso da palavra é sagrado e
indispensável, mas aprendiz algum deverá esquecer o sublime valor do silêncio,
a seu tempo, na obra superior do aperfeiçoamento de si mesmo, a fim de que a
ponderação se faça ouvida, dentro da própria alma, norteando-lhe os destinos.
Emmanuel - Pão Nosso – Psicografia: Francisco Cândido
Xavier –
PALAVRAS E
ATITUDES
"nem todos os que dizem: Senhor! Senhor! entrarão no
reino dos céus; mas somente entrará aquele que faz a vontade do meu Pai, que
está nos céus..." (Cap. XVIII, item 6)
Os bons dicionários definem comunicação como ato ou
efeito de transmitir e receber mensagens e que envolve dus ou mais pessoas. É o
processo de permutar conceitos, gestos, ideais ou conhecimentos, falando,
escrevendo ou através do simbolismo dos sinais e expressões.
Enquanto a conversação entre dois indivíduos tem um
caráter mais restrito de comunicação, as atitudes que acompanham os diálogos
têm um poder de comunicação mais amplo, eloquente e determinante.
O mecanismo que envolve a comunicação divide-se em três
propriedades básicas dos seres humanos e se torna possível porque usamos nossa
"percepção" ou "sensibilidade" para captar as informações,
depois "avaliamos" para poder interpretar e compreender a mensagem;
e, finalmente, "expressamo-nos" com palavras ou atitudes, baseadas
nas reações emocionais provocadas pela maneira como integramos aquela mesma
mensagem.
As circunstâncias existenciais de nossa vida de relação
são o resultado direto de nossas atitudes interiores. Precisamos prestar
atenção nos conteúdos de informação que recebemos, não somente pelas mensagens
diretas, mas também por aquelas que absorvemos entre conteúdos simbólicos,
inconscientes e subentendidos, na chamada comunicação "além da
comunicação" convencional.
Jesus Cristo considerou a importância da palavra aliação
crer, quando disse: "não afeteis orar muito em vossas preces, como fazem
os gentios, que pensam ser pela multidão de palavras que serão atendidos".
O Mestre disse que não seria pela "multidão de
palavras que nossas súplicas seriam atendidas, mas que os sentimentos
silenciosos seriam fatores essenciais, ou seja, a sinceridade provida de
vontade firme, intensidade e determinação, unidas pela "convicção",
seriam conseqüentemente a forma ideal para os nossos pedidos e apelos à
Divindade.
O simples pedido labial não tem a mesma potência do
pedido estruturado em pensamentos concretos e firmes atitudes interiores. Dizer
por dizer "Senhor! Senhor!" não nos dará permissão para ingressar no
Reino dos Céus, "mas somente entrarão aqueles que fazem a vontade de meu
Pai", quer dizer, os que usam o desejo e o empenho como alavancas
propulsoras em suas palavras e solicitações.
Os estudiosos do comportamento dizem que todos nós, desde
a infância, recebemos através da comunicação um maior ou menor desenvolvimento
psicoemocional.
Afirmam que as informações recebidas através dos órgãos
da linguagem — essencialmente dentro de casa, dos pais e irmãos, ou fora da
família, dos tios, primos, avós ou amigos — agem sobre nós proporcionando
recursos valiosos e determinantes sobre nosso modo de pensar, e atraem pessoas
e coisas nosso redor.
Certas informações, porém, captadas pelas crianças e
adolescentes, explicam esses mesmos estudiosos, são emitidas através da
comunicação não-verbal: expressões orais, mímicas, trejeitos do rosto,
tonalidades, suspiros, lágrimas, gestos de contrariedade ou movimento das mãos.
O comportamento, as expressões carinhosas e os monólogos
da mãe com o feto na vida intra-uterina são comunicações superinfluenciadoras
na estrutura emocional e espiritual das crianças em formação.
Todos nós recebemos e transmitimos mensagens articuladas
constantemente, retendo ou não essas mesmas informações. Realizamos somas ou
subtrações mentais com palavras e atitudes vivenciadas hoje e com outras
recebidas ontem, para chegarmos a novos conceitos e conclusões da realidade.
Reconstituímos ocorrências passadas, antevemos fatos
futuros, iniciamos e alteramos processos fisiológicos na intimidade de nosso
organismo com nossas afirmações verbais negativas e positivas.
Assim, compreendemos que a palavra tem uma importância
inegável: ela cria vínculos de natureza, mental, emocional e psicológica,
altera o intercâmbio psíquico/espiritual e atua na formação de nossa
personalidade, por meio da interação palavras/atitudes.
Em síntese, o poder da palavra em nossa vida é
fundamental, e, se observarmos a reação de nossas afirmações e atos,
descobriremos que eles não retornarão jamais vazios, mas repletos do material
emitido.
Segundo o apóstolo Mateus, "por nossas palavras
seremos justificados, e por nossas palavras seremos condenados", pois
diálogos são pensamentos que se sonorizam e criam campos de energia condensada
dentro e fora de nós.
Reformulemos, se for o caso, as comunicações ou atitudes
que recebemos na infância. Se porventura foram de severidade e rispidez, se nos
menosprezam com mensagens negativas constantes, repetitivas e depreciativas,
poderão ser elas a razão de nossos sentimentos de inferioridade, rejeição e
agressividade compulsórias.
Não diga "que dia horrível" porque simplesmente
está chovendo. A dramaticidade é um dos fatores traumáticos de nossa
existência, pois muitas dessas expressões despretensiosas, repetidas muitas vezes,
podem-nos conduzir a verdadeiros turbilhões vivenciais.
Nossas palavras são filamentos sonoros revestidos de
nossos sentimentos, e nossas atitudes são o resultado de expressões assimiladas
e determinadas pelo nosso comportamento mental.
Livro: Renovando Atitudes - Hammed – Francisco do
Espírito Santo Neto
CADA SERVIDOR EM
SUA TAREFA
“Todo aquele,
pois, que escuta as minhas palavras e as pratica assemelhá-lo-ei ao homem prudente
que edificou a sua casa sobre a rocha.” - JESUS - MATEUS, 7:24.
“Todas os que reconhecem a missão de Jesus dizem: “Senhor!
Senhor! Mas de que serve lhe chamarem Mestre ou Senhor, se não lhe seguem os
preceitos?” Cap.18, 9.
No campo da vida, cada inteligência se caracteriza pelas
atribuições que lhe são próprias.
Seja nos recintos da lei, nos laboratórios da ciência, no
tanque de limpeza ou à cabeceira de um doente, toda pessoa tem o lugar de
revelar-se.
Não te afirmes, desse modo, inútil ou desprezível.
E, atendendo ao
trabalho que o mundo te reservou, não te ausentes da ação, alegando que todos
somos iguais e que, por isso mesmo, não adianta fatigar-se alguém por trazer a
nota, em que se particulariza, à sinfonia do Universo.
Sim, todos somos iguais, na condição de criaturas de
Deus, e todos nos identificaremos harmoniosamente uns com os outros, no dia da
suprema integração com a Infinita Bondade, mas, entre a estaca de partida e o
ponto de meta, cada um de nós permanece, em determinado grau evolutivo, com
aquisições especificas por fazer, conquanto estejamos sob o critério imparcial
das leis eternas, que funcionam em regime de absoluta igualdade para nós todos.
Em cada fase de realização do aprimoramento espiritual,
como acontece, em cada setor de construção do progresso físico, preceituam os
fundamentos divinos seja concedida a cada servidor a sua própria tarefa.
Isso é fácil de verificar nos planos mais simples da
natureza.
Num trato de solo, as expressões climáticas são as mesmas
para todas as plantas,contudo, a sarça não oferece laranjas e nem mamoeiro
deita cravos.
Na moradia vulgar, o alicerce é uniforme na contextura,
mas teto não substitui a parede. e nem a porta desempenha as funções do piso.
Na produção da luz elétrica, a força é idêntica nos
condutos diversos, no entanto, o transformador não serve de fio e nem a tomada
efetua a obra da lâmpada.
No corpo humano, embora o sangue circule por seiva única
de todas as províncias que o constituem, olhos e ouvidos, pés e mãos
desenvolvem obrigações diferentes.
Certo, podes incentivar o serviço alheio, como é justo
adubar-se a lavoura para que a lavoura produza com segurança, todavia, a
obrigação, hoje, é intransferível para cada um, não obstante a possibilidade
dessa mesma obrigação alterar-se amanhã.
Realiza, pois, tão
bem quanto possível, a tarefa que te cabe e nunca te digas em tarefa
excessivamente apagada.
Ainda mesmo para o mais exímio dos astronautas a viagem
no firmamento, principia de um passo no chão do mundo e o mais soberbo
jequitibá da floresta começou na semente humilde.
Emmanuel - do Livro da Esperança. Psicografia de
Francisco Cândido Xavier.
A GRANDE PERGUNTA
E por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que
eu digo? Jesus. (LUCAS, 6:46)
Em lamentável indiferença, muitas pessoas esperam pela
morte do corpo, a fim de ouvirem as sublimes palavras do Cristo.
Não se compreende, porém, o motivo de semelhante
propósito. O Mestre permanece vivo em seu Evangelho de Amor e Luz.
É desnecessário aguardar ocasiões solenes para que lhe
ouçamos os ensinamentos sublimes e claros.
Muitos aprendizes aproximam-se do trabalho santo, mas
desejam revelações diretas. Teriam mais fé, asseguram displicentes, se ouvissem
o Senhor, de modo pessoal, em suas manifestações divinas. Acreditam-se
merecedores de dádivas celestes e acabam considerando que o serviço do
Evangelho é grande em demasia para o esforço humano e põem-se à espera de
milagres imprevistos, sem perceberem que a preguiça sutilmente se lhes mistura
à vaidade, anulando-lhes as forças.
Tais companheiros não sabem ouvir o Mestre Divino em seu
verbo imortal. Ignoram que o serviço deles é aquele a que foram chamados, por
mais humildes lhes pareçam as atividades a que se ajustam.
Na qualidade de político ou de varredor, num palácio ou
numa choupana, o homem da Terra pode fazer o que lhe ensinou Jesus.
É por isso que a oportuna pergunta do Senhor deveria
gravar-se de maneira indelével em todos os templos, para que os discípulos, em
lhe pronunciando o nome, nunca se esqueçam de atender, sinceramente, às
recomendações do seu verbo sublime.
Emmanuel - Xavier,
Francisco Cândido. Da obra: Caminho, Verdade e Vida
NA PRESENÇA DE CRISTO
“Em verdade vos digo que o Cia e a Terra não passarão sem
que tudo o que se acha na lei esteja perfeitamente cumprido, enquanto reste um
único iota e um único ponto.
” JESUS - MATEUS, 5: 18.
“0 Cristo foi o
Iniciador da mais pura, da mais sublime moral, do moral evangélico -cristã, que
há de renovar o mundo, aproximar os homens e torna-los irmãos; que há de fazer
brotar de todos os corações a caridade e o amor do próximo e estabelecer entre
os humanos uma solidariedade comum; de uma perfeita moral, enfim, que há de
transformar a Terra, tornando-a morada de Espíritos superiores aos que hoje a
habitam. ” -Cap. 1, 9.
A ciência dos
homens vem liquidando todos os problemas, alusivos ao reconforto da Humanidade.
Observou a
escravidão do homem pelo próprio homem e dignificou o trabalho, através de leis
compassivas e justas.
Reconheceu o
martírio social da mulher que as civilizações mantinham em multimilenário regime
de cativeiro e conferiu-lhe acesso as universidades e profissões.
Inventariou os
desastres morais do analfabetismo e criou a grande imprensa.
Viu que a criatura
humana tombava prematuramente na morte, esmagada em atividade excessiva pela
pr6pria sustentação e deu-lhe a força motriz.
Examinou o
insulamento dos cegos e administrou-1hes instrução adequada.
Catalogou os
delinqüentes por enfermos transformou prisões em penitenciárias- escolas
Comoveu-se, diante das moléstias contagiosas, e fabricou a vacina.
Emocionou-se,
perante os feridos e doentes desesperados, e inventou a anestesia.
Anotou os
prejuízos- da solidão e construiu máquinas poderosas que interligassem os
continentes.
Analisou o
desentendimento sistemático que oprimia as nações e ofereceu-lhes o livro e o
telegrafo, o rádio e a televisão que as aproxima na direção de um mundo só.
Entretanto, os
vencidos da angústia aglomeram-se na Terra de hoje como enxameavam na Terra de
ontem...
Articulam-se todas
formas e despontam de todas as direções.
Perderam, o
emprego, que lhes garantia a estabilidade familiar e desorientam-se abatidos, A
procura de pão.
Foram despejados
de teto, hipotecado A solução de constringentes necessidades e vagueiam sem,
rumo.
Encontram-se
despojados, de esperança, pela deserção dos afetos mais, caros, e abeiram-se do
suicídio.
Caíram em
perigosos conflitos da consciência e aguardam leve sorriso que os reconforte.
Envelheceram sacrificados pelas exigências de folhos
queridos que lhes renegaram a convivência nos dias da provação, e amargam
doloroso abandono.
Adoeceram gravemente e viram-se transferidos da equipe
domestica para os; azares da mendicância.
Transviaram-se no
pretérito e renasceram, trazendo no pr6prio corpo os sinais aflitivos das
culpas que resgatam, pedindo cooperação.
Despediram-se dos
que mais amavam no frio portal do túmulo e carregam os últimos sonhos da
existência cadaverizados agora no esquife do próprio peito.
Abraçaram tarefas de bondade e ternura - e são mulheres
supliciadas de fadiga e de pranto, conduzindo os filhinhos que alimentam à
custa das próprias lágrimas.
Gemem, discretos,
e surgem na forma de crianças, desprezadas, à maneira de flores que a ventania
quebrou, desapiedada, no instante do amanhecer.
Para eles, os que
tombaram no sofrimento moral, a ciência dos homens não dispõe de recursos.
É por isso que Jesus, ao reuni-los em multidão, no tope
do monte, desfraldou a bandeira da caridade e, proclamando as bem-aventuranças
eternas, no-los entregou por filhos do coração...
Companheiro da
Terra quando estendes uma palavra consoladora ou um abraço fraterno, uma gota
de bálsamo ou uma concha de sopa, aliviando os que choram, estás diante deles,
na presença do Cristo, com quem, aprendemos que o único remédio capaz de curar
as angústias da vida nasce do amor, que derrama, sublime, da ciência de Deus.
Emmanuel - psicografado por Francisco Cândido Xavier,
SANTIDADE DE SUPERFÍCIE
E - Cap. XVIII -
Item 9
Muitos companheiros da convicção espírita costumam
afirmar que:
Estão imbuídos de fé ardente, mas os inquisidores do
passado que acendiam fogueiras pela imposição do "crê ou morre"
também a possuíam;
Cultivam ilimitada cautela para não tombarem no erro, mas
todos os religiosos que desertam da luta humana alegam prevenção contra o
pecado para fugirem das obrigações sociais;
Adotam a tolerância invariável para com tudo, de modo a
estarem completamente bem com todos, mas ao que nos parece, a História indica
que o iniciador do comodismo perfeito, na edificação cristã, foi Pilatos, o
juiz, que preferiu não examinar a grandeza de Jesus, a fim de não ter, nem
sofrer problemas;
Agem unicamente sob o móvel das boas intenções e que, por
isso mesmo, não concordam com disciplina de método na prestação da caridade,
mas todos os que complicam as vidas alheias, a pretexto de fazerem o bem, na
hora do desastre, asseveram chorando que se achavam impelidos pelos mais puros
intentos;
Obedecem apenas aos impulsos do coração, mas os
penitenciários, quando inquiridos sobre a motivação das faltas que o fizeram
cair na criminalidade, esclarecem, de modo geral, que atenderam tão-só aos
ditames do sentimento;
Consideram, de maneira exclusiva, o burilamento do
cérebro, mas do ponto de vista da inteligência hipertrofiada no orgulho, todos
os promotores de guerra, formaram e ainda formam entre as cabeças mais cultas
da Humanidade;
Os companheiros da seara espírita, no entanto, sabem com
Allan Kardec que o espírita é chamado a usar confiança e zelo, indulgência e
bondade, pensamento e emoção, aliando equilíbrio e fé raciocinada, na base da
reforma íntima, com serviço incessante aos outros.
Por esse motivo, efetuando a própria libertação dos
semelhantes das cadeias mentais forjadas na Terra em nome da santidade de
superfície, o espírita verdadeiro é conhecido por seu devotamento ao bem de
todas as criaturas, e pela coragem com que dá testemunho da sua transformação
moral.
De Opinião Espírita, de Francisco Cândido Xavier e Waldo
Vieira, pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz
ESPÍRITAS
NÃO-PRATICANTES?
"NEM TODOS OS QUE ME DIZEM? - SENHOR ! SENHOR ! ENTRARÃO
NO REINO DOS CÉUS." E.S.E. CAPÍTULO, 18.
Que conceito afinal devemos ter sobre "ser espírita"?
Será coerente e proveitoso admitirmos, junto aos roteiros
educativos da Doutrina Espírita, a figura tradicional do "religioso
não-praticante"? Será que devemos oficializar essa expressão a fim de
prestigiar aqueles que ainda não se julgam espíritas? Essas são mais algumas
indagações a cogitar na formação de uma idéia mais lúcida sobre a natureza da
proposta educativa do Espiritismo para a humanidade.
Ouve-se, com certa freqüência nos ambientes doutrinários,
algumas frases que expressam dúbias interpretações sobre o que seja "ser
espírita". Companheiros que ainda não se sentem devidamente ajustados aos
parâmetros propostos pelos roteiros da codificação dizem: "ainda não sou
espírita, estou tentando!", outros, desejosos em amealhar algum crédito de
aceitação nos grupos, dizem: "quem sou eu para ser espírita?!",
"Quem sabe um dia serei!".
Com todo respeito a quaisquer formas de manifestar sobre
o assunto, não podemos deixar de alertar que somente uma incoerência de
conceitos pode ensejar idéias dessa natureza, agravadas pela possibilidade de
estarmos prestigiando o indesejável perfil do "ativista
não-praticante", aquele que adere à filosofia mas não assume em si mesmo os
compromissos que ela propõe.
"Ser espírita" é algo muito dinâmico e
pluridimensional; tentar enquadrar esse conceito em padrões rígidos é repetir
velhos procedimentos das práticas exteriores do religiosismo milenar. Nossas
vivências nesse setor levaram-nos a adotar, como "critério de
validade", alguns parâmetros muito vagos e dogmáticos para aferir quem
seria verdadeiramente seguidor do bem e da mensagem do Cristo. Parâmetros com
os quais procuramos fugir das responsabilidades através da criação de
artifícios para a consciência, gerando facilidades de toda espécie através de
rituais e cerimônias que entronizaram o menor esforço nos caminhos da
espiritualização humana.
Ser espírita é ser melhor hoje do que ontem, e buscar
amanhã ser melhor do que hoje; é errar menos e acertar mais; é esforçar pelo
domínio das más inclinações e transformar-se moralmente, conforme destaca
Kardec. Nessa ótica, temos que admitir uma classificação muitíssimo maleável
para considerar quem é e quem não é espírita.
Façamos assim algumas reflexões puramente didáticas sobre
esse tema, sem qualquer pretensão de conclui-lo, mas com intenção cristalina de
"problematizar" nossos debates fraternos. Tomemos por base o tema da
transformação íntima, o qual deve sempre ser a referência prioritária na melhor
assimilação do que propõe a finalidade do Espiritismo.
1 - Em primeira etapa, a criatura chega à casa espírita.
2 - Em uma segunda etapa, o conhecimento doutrinário
penetra os meandros da inteligência,
3 - e na terceira fase, a mais significativa, o
Espiritismo brota de dentro dela para espraiar-se no meio onde atua, gerando
crescimento e progresso.
São três etapas naturais que obedecem ao espírito de
seqüência da qual ninguém escapa. Fases para as quais jamais poderemos definir
critérios de tempo e expectativa para alguém, a não ser para nós próprios.
Fases que geram responsabilidade a cada instante de contato com as Verdades
imortais, mas que são determinadas, única e exclusivamente, pela consciência
individual, não sendo prudente estabelecer o que se espera desse ou daquele
coração, porque cada qual enfrentará lutas muito diversificadas nos campos da
vida interior.
Portanto, o critério moral deve preponderar a qualquer
noção pela qual essa ou aquela pessoa utilize para se considerar espírita.
Nessa ótica encontramos o "espírita da ação", aquele batalhador,
tarefeiro, doador de bênçãos, estudioso, que movimenta em torno das práticas.
Temos também o "espírita da reação", aquele que reage de modo renovado
aos testes da vida em razão de estar aplicando-se afanosamente à melhoria de si
mesmo. Sem desejar criar rótulos e limitações indesejáveis, digamos que o
primeiro está conectado com o movimento espírita, enquanto o segundo com a
mensagem espírita. O movimento é a ação dos homens na comunidade, enquanto a
mensagem é a essência daquilo que podemos trazer para a intimidade a partir
dessa movimentação com o meio. O ideal é que, através da "escola" da
ação no bem, se consolide o aprendizado das reações harmonizadas na formação da
personalidade ajustada com a Lei Natural do amor.
O espírita não é reconhecido somente nos instantes em que
encanta a multidão com sua fala ou quando arrecada gêneros na campanha do
quilo, ou ainda por sua lavra inspirada na divulgação, ou mesmo pela tarefa de
direção. Essas são ações espíritas salutares e preparatórias para o
desenvolvimento de valores na alma, mas o serviço transformador do campo
íntimo, que qualifica o perfil moral do autêntico espírita, é medido pelo modo
de reagir às circunstâncias da existência, pelo qual testemunha a intensidade
dos esforços renovadores de progresso e crescimento a que se tem ajustado.
Pelas reações mensuramos se estamos ou não assimilando no mundo íntimo as
lições preciosas da espiritualização. A ação avalia nossas disposições
periféricas de melhoria, todavia somente as reações são o resultado das
mudanças profundas que, somente em situações adversas ou na convivência com os
contrários, temos como aquilatar em que níveis se encontram.
Melhor seria que não aderíssemos à idéia incoerente do
"espírita não-praticante" para não estimular as fantasias do menor
esforço que ainda são fortes tendências de nossas vivências espirituais. A
definição por um posicionamento transparente nessa questão será uma forma de estimular
nossa caminhada. Razão pela qual devemos ser claros e sem subterfúgios ao
declarar nossa posição frente aos imperativos da vivência espírita. A
costumeira expressão: "estou tentando ser espírita", na maioria das
ocasiões, é mecanismo psicológico de fuga da responsabilidade, é a criatura que
sabe que não está fazendo tanto quanto deveria, conforme seus ditames
conscienciais, se justificando perante si mesmo e os outros.
Libertemo-nos das capas e máscaras e cultivemos nas
agremiações kardequianas o mais límpido diálogo sobre nossas necessidades e
qualidades nas lutas pelo aperfeiçoamento. Formaremos assim uma "corrente
de autenticidade e luz" que se reverterá em vigorosa fonte de estímulo e
consolo às angústias do crescimento espiritual.
Deixemos de lado essa necessidade insensata de definirmos
conceitos estreitos e "padrões engessados" que não auxiliam a sermos
melhores que somos. Aceitemos nossas imperfeições e devotemo-nos com
sinceridade e equilíbrio ao processo renovador. Estejamos convictos de um ponto
em matéria de melhoria espiritual: só faremos e seremos aquilo que conseguimos,
nem mais nem menos. O importante é que sejamos o que somos, sem essa
necessidade injustificável de ficar criando rótulos para nossos estilos ou
formas de ser.
Certamente em razão disso o baluarte dos Gentios
asseverou em sua carta aos Corintios, capítulo 15 versículos 9 e 10: "Não
sou digno de ser chamado apóstolo, mas, pela graça de Deus, já sou o que sou.
"
Livro: Reforma Intima Sem Martírio – Ermance Dufaux –
Wanderley S. Oliveira
O VALOR DO SERVIÇO
Filipe, velho pescador de Cafamaum, enlevado com as
explanações de Jesus sobre um texto de Isaías, passou a comentar a diferença
entre os justos e injustos, de maneira a destacar o valor da santidade na
Terra.
O Mestre ouviu calmamente, e, talvez para prevenir os
excessos de opinião, narrou, com bondade:
- Certo fariseu, de vida irrepreensível, atingiu posição
de imenso respeito público. Passava dias inteiros no Templo, entre orações e
jejuns incessantes.
Conhecia a Lei como ninguém.
Desde Moisés aos últimos Profetas, decorara os mais
importantes textos da Revelação. Se passava nas ruas, era tão grande a estima
de que se fizera credor, que as próprias crianças se curvavam, reverentes.
Consagrara-se ao
Santo dos Santos e fazia vida perfeita entre os pecadores
da época.
Alimentava-se frugalmente, vestia túnica sem mancha e
abstinha-se de falar com toda pessoa considerada impura.
Acontece, todavia, que, havendo grande peste em cidade
próxima de Jerusalém, um Anjo do Senhor desceu, prestimoso, a socorrer
necessitados e doentes, em nome da Divina Providência.
Necessitava, porém, das mãos diligentes de um homem,
através das quais pudesse trabalhar, apressado, em benefício de enfermos e
sofredores.
Lembrou-se de recorrer ao santo fariseu, conhecido na
Corte Celeste por seus reiterados votos de perfeição espiritual, mas o devoto
se achava tão profundamente mergulhando em suas contemplações de pureza que não
lhe sobrava o mínimo espaço interior para entender qualquer pensamento de socorro
às vítimas da epidemia.
Como cooperar com o emissário divino, nesse setor, se
evitava o menor contato com o mundo vulgar, classificado, em sua mente, como
vale da imundície?
O Anjo insistia no chamamento; contudo, a peste era
exigente e não admitia delongas.
O mensageiro afastou-se e recorreu a outras pessoas
amantes da Lei.
Nenhuma, entretanto, se julgava habilitada a contribuir.
Instado pelas reclamações do serviço, o Enviado de Cima
encontrou antigo criminoso que mantinha o propósito de regenerar-se. Através
dos fios invisíveis do pensamento, convidou-o a segui-lo; e o velho ladrão, sinceramente
transformado, não hesitou. Obedeceu ao doce constrangimento e voltou-se sem demora,
com a espontaneidade da cooperação robusto e legítima, ao ministério do socorro
e da salvação.
Enterrou cadáveres insepultos, improvisou remédios
adequados à situação, semeou o bom ânimo, aliviou os aflitos, renovou a coragem
dos enfermos, libertou inúmeras criancinhas ameaçadas pelo mal, criou serviços
de consolação e esperança e, com isso, conquistou sólidas amizades no Céu, adiantando-se
de surpreendente maneira, no caminho do Paraíso.
Os presentes registraram a pequena história, entre a
admiração e o desapontamento e, porque ninguém interferisse, o Senhor comentou,
em seguida a longo intervalo:
A virtude é sempre grande e venerável, mas não há de
cristalizar-se à maneira de jóia rara sem proveito. Se o amor cobre a multidão
dos pecados, o serviço santificante que nele se inspira pode dar aos pecadores convertidos
ao bem a companhia dos anjos, antes que os justos ociosos possam desfrutar o
celeste convívio.
E reparando que os ouvintes se retraiam no grande
silêncio, o Senhor encerrou o culto doméstico da Boa Nova, a fim de que o
repouso trouxesse aos companheiros multiplicadas bênçãos de paz e meditação,
sob o firmamento pontilhado de luz.
Livro Antologia da Criança – Neio Lucio – Francisco Candido
Xavier
O FILHO OCIOSO
Reportava-se a pequena assembléia a variados problemas da
fé em Deus, quando Jesus, tomando a palavra, narrou, complacente: — Um grande
Soberano possuía vastos domínios.
Terras, rios, fazendas, pomares e rebanhos eram
incontáveis em seu reino prodigioso.
Vassalos inúmeros serviam-lhe a casa, em todas as
direções.
Alguns deles nunca se perdiam dos olhos do Senhor, de
maneira absoluta.
De tempos a tempos, visitavam-lhe a residência,
ofereciam-lhe préstimos ou traziam-lhe flores de ternura, recebendo novos
roteiros de trabalho edificante.
Outros, porém, viviam a belprazer nas florestas imensas.
Estimavam a liberdade plena com declarada indisciplina.
Eram verdadeiros perturbadores do vasto império,
porquanto, ao invés de ajudarem a Natureza, desprezavam- na sem comiseração.
Matavam animais pelo simples gosto da caça, envenenavam
as águas para assassinarem os peixes em massa, perseguiam as aves ou queimavam
as plantações dos servos fiéis, não obstante saberem, no íntimo, que deviam
obediência ao Poderoso Senhor.
Um desses servidores levianos e ociosos não regateava sua
crença na existência e na bondade do Rei.
Depois de longas aventuras na mata, exterminando aves
indefesas, quando o estômago jazia farto, costumava comentar a fé que
depositava no rico Proprietário de extenso e valioso domínio.
Um Soberano tão previdente quanto aquele que soubera
dispor das águas e das terras, das árvores e dos rebanhos, devia ser muito
sábio e justiceiro — explanava consciente.
Sutilmente, todavia, escapava-lhe a todos os decretos.
Pretendia viver a seu modo, sem qualquer imposição, mesmo
daquele que lhe confiara o vale em que consumia a existência regalada e feliz.
Decorridos muitos anos, quando as suas mãos já não
conseguiam erguer a menor das armas para perturbar a Natureza, quando os olhos
embaciados não mais enxergavam a paisagem com a mesma clareza da juventude,
inclinando-se-lhe o corpo, cansado e triste, para o solo, resolveu procurar o
Senhor, a fim de pedir-lhe proteção e arrimo.
Atravessou lindos campos, nos quais os servos leais,
operosos e felizes, cultivavam o chão da propriedade imensa e chegou ao
iluminado domicílio do Soberano.
Experimentando aflitivo assombro, reparou que os guardas
do limiar não lhe permitiam o suspirado ingresso, porque seu nome não constava
no livro de servidores ativos.
Implorou, rogou, gemeu; no entanto, uma das sentinelas
lhe observou:
— O tempo disponível do Rei é consagrado aos
cooperadores.
— Como assim? — bradou o trabalhador imprevidente.
— Eu sempre acreditei na soberania e na bondade do nosso
glorioso ordenador...
O guarda, contudo, redargüiu, sem pestanejar:
— Que te adiantava semelhante convicção, se fugiste aos
decretos de nosso Soberano, gastando precioso tempo em perturbar-lhe as obras?
O teu passado está vivo em tua própria condição...
Em que te servia a confiança no Senhor, se nunca vieste a
Ele, trazendo um minuto de colaboração a benefício de todos? Observa-se, logo,
que a tua crença era simples meio de acomodar a consciência com os próprios
desvarios do coração.
E o servo, já comprometido pelos atos menos dignos, e de
saúde arruinada, foi constrangido a começar toda a sua tarefa, de novo, de
maneira a regenerar-se.
O Mestre calou-se, durante alguns momentos, e concluiu:
— Aqui temos a imagem de todo ocioso filho de Deus.
O homem válido e inteligente que admite a existência do
Eterno Pai, que lhe conhece o poder, a justiça e a bondade, através da própria
expressão física da Natureza, e que não o visita em simples oração, de quando
em quando, nem lhe honra as leis com o mínimo gesto de amparo aos semelhantes,
sem o mais 47 leve traço de interesse nos propósitos do Grande Soberano, poderá
retirar alguma vantagem de suas convicções inúteis e mortas? Com essa indagação
que calou nos ouvidos dos presentes, o culto evangélico da noite foi
expressivamente encerrado.
Neio Lúcio - Do Livro Jesus no Lar - Francisco C. Xavier
Nenhum comentário:
Postar um comentário