5 – Chegastes no tempo em que se cumprirão as profecias
referentes à transformação da Humanidade. Felizes serão os que tiverem
trabalhado o campo do Senhor com desinteresse, e movidos apenas pela caridade!
Suas jornadas de trabalho serão pagas ao cêntuplo do que tenham esperado. Felizes
serão os que houverem dito a seus irmãos: “Trabalhemos juntos, e unamos os
nossos esforços, a fim de que o Senhor, na sua vinda, encontre a obra acabada”,
porque a esses o Senhor dirá: Vinde a mim, vós que sois os bons servidores, vós
que soubestes calar os vossos melindres e as vossas discórdias, para que a obra
não sofresse!” .
Mas infelizes os que, por suas dissensões, houverem
retardado a hora da colheita, porque a tempestade chegará e eles serão levados
no turbilhão! Nessa hora clamarão: “Graça! Graça!” Mas o Senhor lhes dirá: “Por
que pedis graça, se não tivestes piedade de vossos irmãos, se vos recusastes a
lhes estender as mãos, e se esmagastes o fraco em vez de o socorrer? Por que
pedis graça, se procurastes a recompensa nos prazeres da Terra e na satisfação
do vosso orgulho? Já recebeste a vossa recompensa, de acordo com a vossa
vontade. Nada mais tendes a pedir. As recompensas celestes são para aqueles que
não houverem pedido recompensas da Terra”.
Deus faz, neste momento, a enumeração dos seus servidores
fiéis. E já marcou pelo seu dedo os que só têm a aparência do devotamento, para
que não usurpem o salário dos servidores corajosos. Porque é a esses, que não
recuaram diante de sua tarefa, que vai confiar os postos mais difíceis, na
grande obra da regeneração pelo Espiritismo. E estas palavras se cumprirão: “Os
primeiros serão os últimos, e os últimos serão os primeiros no Reino dos
Céus!”.
TEXTOS DE APOIO
A OBRA
MAIOR
Todos os
serviços do Cristianismo na Terra são plantações do Céu no escuro solo humano,
fecundando o bem e a luz na gleba da experiência.
A escola
é um foco solar, despertando mentes e corações para a grandeza da vida.
O
hospital é um precioso refúgio, plasmando almas a bênção do reconforto.
O
berçário é um canteiro de ternura, irradiando alegria e esperança.
A casa de
reajuste é um templo de amor fraterno, estendendo a paz que afasta o
desequilíbrio.
O lar é
um santuário de trabalho e consolo em que as almas se reencontram.
Em todos
os escaninhos do mundo, a influência cristã significa solidariedade e cultura,
mensagem de entendimento e bálsamo de perdão.
A obra
maior do Evangelho, porém, é o aperfeiçoamento da criatura, quando a criatura
lhe assimila os princípios de reforma e elevação.
A alma
ligada ao Cristo é flama renovadora atuando no chão, embora vivendo na luz do
amor.
Não
duvides.
Estende
os braços à dor e diminui, quanto puderes, os gritos do sofrimento em torno de
ti.
Descerra
os lábios e ensina a verdade simples, segundo a idéia nobre que te brilha no
pensamento.
Entretanto, cada hora e cada dia , busca aperfeiçoar o próprio espírito
à prática dos ensinamentos do Cristo, nosso Mestre e Senhor.
Alma
restaurada é base à restauração humana.
Deixa que
as Mãos Sábias de Jesus te tomem o coração, aprimorando-te os impulsos e, ainda
mesmo que te pareça a existência terrestre um império de tribulações, guarda a
certeza de que o Cristo em nós é a obra maior a que será justo aspirarmos no campo
da redenção.
Emmanuel - Do livro Nascer e Renascer - Psicografia de Francisco Cândido Xavier
ATRIBULAÇÕES
Se há crentes aguardando vida fácil, privilégios e
favores na Terra em nome do Evangelho, semelhante atitude deve correr à conta
de si mesmos.
Jesus não prometeu prerrogativas aos seus continuadores.
O Mestre foi, aliás, muito claro, neste particular. Não estimulou a preguiça, nem criou falsas
perspectivas no caminho do aprendizado.
Asseverou que os discípulos e seguidores teriam aflições e que o mundo
lhes ofereceria ocasiões de luta, sem esquecer a recomendação de bom ânimo.
Seria inútil induzir-se alguém à coragem, nos lugares e
situações onde fosse dispensável.
Se o Mestre aludiu tanta vez à necessidade de ânimo
sadio, é que não ignorava a expressão gigantesca dos serviços que esperavam os
colaboradores.
A experiência humana ainda é um conjunto de fortes atribulações
que costumam multiplicar-se à medida que se nos eleve a compreensão.
O discípulo do Evangelho não deve esperar repouso, quando
o Mestre continua absorvido no espírito de serviço. Para ele, férias e licenças na atividade
habitual deveriam constituir cancelamento de oportunidades.
Alguns se queixam das perseguições, outros se alarmam,
quando incompreendidos. Suas existências
parecem ilhas de amargura e preocupação, cercadas de ondas revoltas do mundo.
Aqui, parentes humilham, acolá fogem amigos.
A ironia perturba-os, a calúnia persegue-os.
Mas, justamente nesse quadro é que se verifica a promessa
do Salvador.
Responsabilidades e compromissos envolvem sofrimentos e
preocupações.
Certo, não pediríamos trabalho a Jesus, nem o
receberíamos de sua bondade infinita, para fins de ociosidade ou brincadeira.
Estamos em serviço e testemunho.
Aprendizes do Evangelho, encarnados ou desencarnados,
teremos aflições nas esferas terrestres, mas, tenhamos fé e bom ânimo.
Jesus venceu o mundo.
Do Livro: Abrigo de Francisco Cândido Xavier, pelo
Espírito Emmanuel
OS QUINHENTOS DA GALILÉIA
Depois do Calvário, verificadas as primeiras
manifestações de Jesus no cenáculo singelo de Jerusalém, apossara-se de todos
os amigos sinceros do Messias uma saudade imensa de sua palavra e de seu
convívio. A maioria deles se apegava aos discípulos, como querendo reter as
últimas expressões de sua mensagem carinhosa e imortal.
O ambiente era um repositório vasto de adoráveis
recordações. Os que eram agraciados com as visões do Mestre se sentiam
transbordantes das mais puras alegrias. Os companheiros inseparáveis e íntimos
se entretinham em longos comentários sobre as suas reminiscências inapagáveis.
Foi quando Simão Pedro e alguns outros salientaram a
necessidade do regresso a Cafarnaum, para os labores indispensáveis da vida.
E, breves dias, as velhas redes mergulhavam de novo no
Tiberíades, por entre as cantigas rústicas dos pescadores.
Cada onda mais larga e cada detalhe do serviço sugeriam
recordações sempre vivas no tempo. As refeições ao ar livre lembravam o
contentamento de Jesus ao partir o pão; o trabalho, quando mais intenso, como
que avivava a sua e recomendação de bom ânimo; a noite silenciosa reclamava a
sua bênção amiga.
Embebidos na poesia da Natureza, os apóstolos organizavam
os mais elevados projetos, com relação ao futuro do Evangelho. A residência
modesta de Cefas, obedecendo às tradições dos primitivos ensinamentos,
continuava a ser o parlamento amistoso, onde cada um expunha os seus princípios
e as suas confidências mais recônditas. Mas ao pé do monte o Cristo se fizera
ouvir algumas vezes, exaltando as belezas do Reino de Deus e da sua justiça,
reunia-se invariavelmente todos os antigos seguidores mais fiéis, que se haviam
habituado ao doce alimento de sua palavra inesquecível. Os discípulos não eram
estranhos a essas rememorações carinhosas e, ao cair da tarde acompanhavam a
pequena corrente popular pela via das recordações afetuosas.
Falava-se vagamente de que o Mestre voltaria ao monte
para despedir-se. Alguns dos apóstolos aludiam às visões em que o Senhor
prometia fazer de novo ouvida a sua palavra num dos lugares prediletos das suas
pregações de outros tempos.
Numa tarde de azul profundo, a reduzida comunidade de
amigos do Messias, ao lado da pequena multidão, reuniu-se em preces, no sítio
solitário. João havia comentado as promessas do Evangelho, enquanto na encosta
se amontoava a assembléia dos fiéis seguidores do Mestre.
Viam-se, ali, algumas centenas de rostos embevecidos e
ansiosos. Eram romanos de mistura com judeus desconhecidos, mulheres humildes
conduzindo os filhos pobres e descalços, velhos respeitáveis, cujos cabelos
alvejavam de neve dos repetidos invernos da vida.
***
Nesse dia, como que antiga atmosfera se fazia sentir mais
fortemente. Por instinto, todos tinham a impressão de que o Mestre voltaria a
ensinar as bem-aventuranças celestiais. Os ventos recendiam suave perfume,
trazendo as harmonias do lago próximo. Do céu muito azul, como em festa para
receber a claridade das primeiras estrelas, parecia descer uma tranqüilidade
imensa que envolvia todas as coisas. Foi nesse instante, de indizível
grandiosidade, que a figura do Cristo assomou no cume iluminado pelos
derradeiros raios de Sol.
Era Ele.
Seu sorriso desabrochava tão meigo como ao tempo glorioso
de suas primeiras pregações, mas de todo o seu vulto se irradiava luz tão
intensa que os mais fortes dobravam os joelhos. Alguns soluçavam de júbilo,
presas das emoções mais belas de sua vida. As mãos do Mestre tomaram a atitude
de que abençoava, enquanto um divino silêncio parecia penetrar a alma das
coisas. A palavra articulada não tomou parte naquele banquete de luz imaterial;
todos, porém, lhe perceberam a amorosa despedida e, no mais intimo da alma, lhe
ouviram a exortação magnânima e profunda:
- "Amados - a cada um se afigurou escutar na câmara
secreta do coração -, eis que retorno a vida em meu Pai para regressar à luz do
meu Reino!... Enviei meus discípulos como ovelhas ao meio de lobos e vos
recomendo que lhes sigais os passos no escabroso caminho. Depois deles, é a vós
que confio a tarefa sublime da redenção pelas verdades do Evangelho. Eles serão
os semeadores, vós sereis o fermento divino. Instituo-vos os primeiros
trabalhadores, os herdeiros iniciais dos bens divinos. Para entrardes na posse do
tesouro celestial, muita vez experimentareis o martírio da cruz e o fel da
ingratidão... Em conflito permanente com o mundo, estareis na Terra, fora de
suas leis implacáveis e egoístas, até que as bases do meu Reino de concórdia e
justiça se estabeleçam no espírito das criaturas. Negai-vos a vós mesmos, como
neguei a minha própria vontade na execução dos desígnios de Deus, e tomai a
vossa cruz para seguir-me.
"Séculos de luta vos esperam na estrada universal. É
preciso imunizar o coração contra todos os enganos da vida transitória, para a
soberana grandeza da vida imortal. Vossas sendas estão repletas de fantasmas de
aniquilamento e de visões de morte. O mundo inteiro se levantará contra vós, em
obediência espontânea às forças tenebrosas do mal, que ainda lhe dominam as
fronteiras. Sereis escarnecidos e aparentemente desamparados; a dor vos
assolará as esperanças mais caras; andareis esquecidos na Terra, em supremo
abandono do coração. Não participareis do venenoso banquete das posses
materiais, sofrerei a perseguição e o terror tereis o coração coberto de
cicatrizes e de ultraje. A chaga é o vosso sinal, a coroa de espinhos, vosso
percurso ditoso da redenção. Vossa voz será a do deserto, provocando, muitas
vezes, o escárnio e a negação da parte dos que dominam na carne perecível.
"Mas, no desenrolar das batalhas incruentas do
coração, quando todos os horizontes estiverem abafados pelas sombras da
crueldade, dar-vos-ei da minha paz, que representa a água viva. Na existência
ou na morte do corpo, estareis unidos ao meu Reino. O mundo vos cobrirá de
golpes terríveis e destruidores, mas, de cada uma das vossas feridas, retirarei
o trigo luminoso para os celeiros infinitos da graça, destinados ao sustento
das mais ínfimas criaturas!... Até que o Reino se estabeleça na Terra, não
conhecereis o amor no mundo; eu, no entanto, encherei a vossa solidão com minha
assistência incessante. Gozarei em vós, como gozareis em mim, o júbilo celeste
da execução fiel dos desígnios de Deus. Quando tombardes, sob as arremetidas
dos homens ainda pobres e infelizes, eu vos levantarei no silêncio do caminho,
com as minhas mãos dedicadas ao vosso bem. Sereis a união onde houver
separatividade, sacrifício onde existir o falso gozo, claridade onde campearem
as trevas, porto amigo, edificado na rocha da fé viva, onde pairarem as sombras
da desorientação. Sereis meu refúgio nas igrejas mais estranhas da Terra, minha
esperança entre as loucuras humanas, minha verdade onde se perturbar a ciência
incompleta do mundo!...
"Amados, eis que também vos envio como ovelhas aos
caminhos obscuros e ásperos. Entretanto, nada temais! Sede fiéis ao meu
coração, como vos sou fiel, e o bom ânimo representará a vossa estrela! Ide ao
mundo, onde teremos de vencer o mal! Aperfeiçoemos a nossa escola milenária, para
que aí seja interpretada e posta em prática a Lei de Amor do Nosso Pai, em
obediência feliz à sua vontade augusta!"
Sagrada emoção senhoreara-se das almas em êxtase de
ventura. Foi então que observaram o Mestre, rodeado de luz, como a elevar-se ao
céu, em demanda de sua gloriosa esfera do infinito.
***
Os primeiros astros da noite brilhavam no alto, como
flores radiosas do Paraíso. No monte Galileu, cinco centenas de corações
palpitavam, arrebatados por intraduzível júbilo. Velhos trêmulos e
encarquilhados desceram a encosta, unidos uns aos outros, como solidários, para
sempre, no mesmo trabalho de grandeza imperecível. Anciãs de passo vacilante,
coroadas pela neve das experiências da vida, abraçavam-se às filhas e netas,
jovens e ditosas, tomadas de indefinível embriaguez d'alma. Romanos e judeus,
ricos e pobres confraternizavam, felizes, adivinhando a necessidade de cooperação
na tarefa santa. Os antigos discípulos, cercando a figura de Simão Pedro,
choravam de contentamento e esperança.
Naquela noite de imperecível recordação, foi confiado aos
quinhentos da Galiléia o serviço glorioso da evangelização das coletividades
terrestres, sob a inspiração de Jesus - Cristo. Mal sabiam eles, na sua mísera
condição humana, que a palavra do Mestre alcançaria os séculos do porvir. E foi
assim que, representando o fermento renovador do mundo, eles reencarnaram em
todos os tempos, nos mais diversos climas religiosos e políticos do planeta,
ensinando a verdade e abrindo novos caminhos de luz, através do bastidores
eternos do Tempo.
Foram eles os primeiros a transmitir a sagrada vibração
de coragem e confiança aos que tombaram nos campos do martírio, semeando a fé
no coração pervertido das criaturas. Nos circos da vaidade humana, nas
fogueiras e nos suplícios, ensinaram a lição de Jesus, com resignado heroísmo.
Nas artes e nas ciências, plantaram concepções novas de desprendimento do mundo
e de belezas do céu e, no seio das mais variadas religiões da Terra, continuam
revelando o desejo do Cristo, que é de união e de amor, de fraternidade e
concórdia.
Na qualidade de discípulos sinceros e bem-amados,
desceram aos abismos mais tenebrosos, redimindo o mal com os seus sacrifícios
purificadores, convertendo, com as luzes do Evangelho, à corrente da redenção,
os espíritos mais empedernidos. Abandonados e desprotegidos na Terra, eles
passam, edificando no silêncio as magnificências Reino de Deus, nos países dos
corações e, multiplicando as notas de seu cântico de glória por entre os que se
constituem instrumentos sinceros do bem com Jesus Cristo, formam a caravana sublime
que nunca se dissolverá.
Irmão X - Humberto de Campos - Do livro “Boa Nova”.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
A CAMPANHA DA PAZ
Estabelecidos em Jerusalém, depois do Petencostes, os discípulos
de Jesus, sinceramente empenhados à obra do Evangelho, iniciaram as campanhas
imprescindíveis às realizações que o Mestre lhes confiara.
Primeiro, o levantamento de moradia que os albergasse.
Entremearam possibilidades, granjearam o apoio de simpatizantes
da causa, sacrificaram pequenos luxos, e o teto apareceu, simples e acolhedor, onde
os necessitados passaram a receber esclarecimento e consolação, em nome do
Cristo.
Montada a máquina de trabalho, viram-se defrontados por
novo problema. As instalações demandavam expressivos recursos. Convocações à
solidariedade se fizeram ativas. Velhos cofres foram abertos, canastras
rojaram-se de borco, entornando as derradeiras moedas, e o lar da fraternidade
povoou-se de leitos e rouparia, candeias e vasos, tinas enormes e variados
apetrechos domésticos.
Os filhos do infortúnio chegaram em bando.
Obsidiados eram trazidos de longe, velhinhos que os
descendentes irresponsáveis atiravam à rua engrossavam a estatística dos
hóspedes, viúvas acompanhadas por filhinhos chorosos e magricelas aumentavam na
instituição, dia a dia, e enfermos sem ninguém arrastavam-se na direção da
pousada de amor, quando não eram encaminhados até aí em padiolas, com as marcas
da morte a lhes arroxearem o corpo enlanguescido.
Complicaram-se as exigências da manutenção e efetuaram-se
coletas entre os amigos.
Corações generosos compareceram. Remédios não escassearam
e as mesas foram supridas com fartura.
Obrigações dilatadas reclamaram concurso humano.
Os continuadores de Jesus apelaram das tribunas, solicitando
braços compassivos que lavassem os doentes e distribuíssem os pratos.
Cooperadores engajaram-se gratuitamente e formaram-se os diáconos prestimosos.
Criancinhas começaram a despontar na estância humilde e outra
espécie de assistência se impôs, rápida. Era necessário amontoar o material
delicado em que os recém-nascidos, à maneira de pássaros frágeis, pudessem
encontrar o aconchego do ninho. Senhoras abnegadas esposaram compromissos. A
legião protetora do berço alcançou prodígios de ternura.
E novas campanhas raiavam, imperiosas. Campanhas para o trato
da terra, a fim de que as despesas diminuíssem. Campanhas para substituir as
peças inutilizadas pelos obsessos, quando em crises de fúria. Campanhas para o
auxílio imediato às famílias desprotegidas de companheiros que desencarnaram.
Campanhas para mais leite em favor dos pequeninos.
Entretanto, se os apóstolos do Mestre encontravam relativa
facilidade para assegurar a mantença da casa, reconheciam-se atribulados pela
desunião, que os ameaçava, terrível.
Fugiam da verdade. Levi criticava o rigor de Tiago, filho
de Alfeu. Tiago não desculpava a tolerância de Levi. Bartolomeu interpretava a
benevolência de André como sendo dissipação.
André considerava Bartolomeu viciado em sovinice. Se João,
muito jovem, fosse visto em prece, na companhia de irmãs caídas em desvalimento
diante dos preconceitos, era indicado por instrumento de escândalo. Se Filipe
dormia nos arrabaldes, velando agonizantes desfavorecidos de arrimo familiar,
regressava sob a zombaria dos próprios irmãos que não lhe penetravam a essência
das atitudes.
Com o tempo, grassaram conflitos, despeitos, queixumes,
perturbações. Cooperadores insatisfeitos com as próprias tarefas invadiam
atribuições alheias, provocando atritos de consequências amargas, junto dos
quais se sobrepunham os especialistas do sarcasmo, transfigurando os
querelantes em trampolins de acesso à dominação deles mesmos.
Partidos e corrilhos, aqui e ali. Cochichos e arrufos nos
refeitórios, nas cozinhas enredos e bate-bocas.
Discussões azedavam o ambiente dos átrios. Fel na intimidade
e desprezo por fora, no público que seguia, de perto, as altercações e as
desavenças.
Esmerava-se Pedro no sustento da ordem, mas em vão.
Aconselhava serenidade e prudência, sem qualquer resultado encorajador. Por fim,
cansado das brigas que lhes desgastavam a obra e a alma, propôs reunirem-se em
oração, a benefício da paz.
E o grupo passou a congregar-se uma vez por semana, com
semelhante finalidade. Apesar disso, porém, as contendas prosseguiam, acesas.
Ironias, ataques, remoques, injúrias...
Transcorridos seis meses sobre a prece em conjunto, uma
noite de angústia apareceu, em que Simão implorou, mais intensamente comovido,
a inspiração do Senhor. Os irmãos, sensibilizados, viram-no engasgado de
pranto. O companheiro fiel, rude por vezes, mas profundamente afetuoso,
mendigou o auxílio da Divina Misericórdia, reconhecia a edificação do Evangelho
comprometida pelas rixas constantes, esmolava assistência, exorava
proteção...
Quando o ex pescador parou de falar, enxugando o rosto
molhado de lágrimas, alguém, surgiu ali, diante deles, como se a parede, à
frente, se abrisse por dispositivos ocultos, para dar passagem a um homem.
À luz mortiça que bruxuleava no velador, Jesus, como no
passado, estava ali, rente a eles...
Era ele, sim, o Mestre!... Mostrando o olhar lúcido e
penetrante, os cabelos desnastrados à nazarena e melancolia indefinível na face
calma, ergueu as mãos num gesto de bênção!...
Pedro gemeu, indiferente aos amigos que o assombro
empolgava:
-Senhor, compadece-te de nós, os aprendizes atormentados!...
Que fazer, Mestre, para garantir a segurança de tua obra?
Perdoa-me se tenho o coração fatigado e desditoso!...
-Simão – respondeu Jesus, sem se alterar -, não me
esqueci de rogar para que nos amássemos uns aos outros...
-Senhor – tornou Cefas -, temos realizado todo o bem que
nos é possível, segundo o amor que nos ensinaste. Nossas campanhas não
descansam...Temos amparado, em teu nome, os aleijados e os infelizes, as viúvas
e os órfãos...
-Sim, Pedro, todas essas campanhas são aquelas que não
podem esmorecer, para que o bem se espalhe por fruto do Céu na Terra; no
entanto, urge saibamos atender à campanha da paz em si mesma...
-Senhor, esclarece-nos por piedade!... Que campanha será
essa?!...
Jesus, divinamente materializado, espraiou o olhar percuciente
na diminuta assembleia e ponderou, triste:
-O equilíbrio nasce da união fraternal e a união
fraternal não aparece fora do respeito que devemos uns aos outros... Ninguém
colhe aquilo que não semeia... Conseguiremos a seara do serviço, conjugando os
braços na ação que nos compete; conquistaremos a diligência, aplicando os olhos
no dever a cumprir; obteremos a vigilância, empregando criteriosamente os
ouvidos; entretanto, para que a harmonia permaneça entre nós, é forçoso pensar
e falar acerca do próximo, como desejamos que o próximo pense e fale sobre nós
mesmos...
E, ante o silêncio que pesava, profundo, o Mestre
rematou:
-Irmãos, por amor aos fracos e aos aflitos, aos deserdados
e aos tristes da Terra, que esperam por nós na luz do Reino de Deus, façamos a campanha
da paz, começando pela caridade da língua.
Livro: Contos Desta E De Outra Vida – Humberto De Campos
– Irmão X
JOANA DE CUZA
Entre a multidão que invariàvelmente acompanhava a Jesus
nas pregações do lago, achava-se sempre uma mulher de rara dedicação e nobre
caráter, das mais altamente colocadas na sociedade de Cafarnaum. Tratava-se de
Joana, consorte de Cuza, intendente de Antipas, na cidade onde se conjugavam
interesses vitais de comerciantes e de pescadores.
Joana possuía verdadeira fé; entretanto, não conseguiu
forrar-se às amarguras domésticas, porque seu companheiro de lutas não aceitava
as claridades do Evangelho. Considerando seus dissabores íntimos, a nobre dama
procurou o Messias, numa ocasião em que ele descansava em casa de Simão e lhe
expôs a longa série de suas contrariedades e padecimentos. O esposo não
tolerava a doutrina do Mestre. Alto funcionário de Herodes, em perene contato
com os representantes do Império, repartia as suas preferências religiosas, ora
com os interesses da comunidade judaica, ora com os deuses romanos, o que lhe
permitia viver em tranqüilidade fácil e rendosa. Joana confessou ao Mestre os
seus temores, suas lutas e desgostos no ambiente doméstico, expondo suas
amarguras em face das divergências religiosas existentes entre ela e o
companheiro.
Após ouvir-lhe a longa exposição, Jesus lhe ponderou:
– Joana, só há um Deus, que é o Nosso Pai, e só existe
uma fé para as nossas relações com o seu amor. Certas manifestações religiosas,
no mundo, muitas vezes não passam de vícios populares nos hábitos exteriores.
Todos os templos da Terra são de pedra; eu venho, em nome de Deus, abrir o
templo da fé viva no coração dos homens. Entre o sincero discípulo do Evangelho
e os erros milenários do mundo, começa a travar-se o combate sem sangue da
redenção espiritual. Agradece ao Pai o haver-te julgado digna do bom trabalho,
desde agora. Teu esposo não te compreende a alma sensível? Compreender-te-á um
dia. É leviano e indiferente? Ama-o, mesmo assim. Não te acharias ligada a ele
se não houvesse para isso razão justa. Servindo-o com amorosa dedicação,
estarás cumprindo a vontade de Deus. Falas-me de teus receios e de tuas
dúvidas. Deves, pelo Evangelho, amá-la ainda mais. Os sãos não precisam de
médico. Além disso, não poderemos colher uvas nos abrolhos, mas podemos amanhar
o solo que produziu cardos envenenados, afim de cultivarmos nele mesmo a
videira maravilhosa do amor e da vida.
Joana deixava entrever no brilho suave dos olhos a íntima
satisfação que aqueles esclarecimentos lhe causavam; mas, patenteando todo o
seu estado dalma, interrogou :
– Mestre, vossa palavra me alivia o espírito atormentado;
entretanto, sinto dificuldade extrema para um entendimento recíproco no
ambiente do meu lar. Não julgais acertado que lute por impor os vossos
princípios? Agindo assim, não estarei reformando o meu esposo para o céu e para
o vosso reino?
O Cristo sorriu serenamente e retrucou :
– Quem sentirá mais dificuldade em estender as mãos
fraternas, será o que atingiu as margens seguras do conhecimento com o Pai, ou
aquele que ainda se debate entre as ondas da ignorância ou da desolação, da
inconstância ou da indolência do espírito? Quanto à imposição das idéias –
continuou Jesus, acentuando a importância de suas palavras – por que motivo
Deus não impõe a sua verdade e o seu amor aos tiranos da Terra? Por que não
fulmina com um raio o conquistador desalmado que espalha a miséria e a
destruição, com as forças sinistras da guerra? A sabedoria celeste não
extermina as paixões : transforma-as. Aquele que semeou o mundo de cadáveres
desperta, às vezes, para Deu", apenas com uma lágrima. O Pai não impõe a
reforma a seus filhos : esclarece-os no momento oportuno. Joana, o apostolado
do Evangelho é o de colaboração com o céu, nos grandes princípios da redenção.
Sê fiel a Deus, amando ao teu companheiro do mundo, como se fora teu filho. Não
percas tempo em discutir o que não seja razoável. Deus não trava contendas com
as suas criaturas e trabalha em silêncio, por toda a Criação. Vai!...
Esforça-te também no silêncio e, quando convocada ao esclarecimento, fala o
verbo doce ou enérgico da salvação, segundo as circunstâncias! Volta ao lar e
ama ao teu companheiro como o material divino que o céu colocou em tuas mãos
para que talhes uma obra de vida, sabedoria e amor!...
Joana do Cuza experimentava um brando alívio no coração.
Enviando a Jesus um olhar de carinhoso agradecimento, ainda lhe ouviu as
ultimas palavras :
– Vai, filha!... Sê fiel!
***
Desde êsse dia, memorável para a sua existência, a mulher
de Cuza experimentou na alma a claridade constante de uma resignação sempre
pronta ao bom trabalho e sempre ativa para a compreensão de Deus, como se o
ensinamento do Mestre estivesse agora gravado indelevelmente em sua alma,
considerou que, antes de ser esposa na Terra, já era filha daquele Pai que, do
Céu, lhe conhecia a generosidade e os sacrifícios. Seu espírito divisou em
todos os labores uma luz sagrada e oculta.
Procurou esquecer tôdas as características inferiores do
companheiro, para observar somente o que possuía ele de bom, desenvolvendo, nas
menores oportunidades, o embrião vacilante de suas virtudes eternas. Mais
tarde, o céu lhe enviou um filhinho, que veio duplicar os seus trabalhos ; ela
porém, sem olvidar as recomendações de fidelidade que Jesus lhe havia feito,
transformava suas dores num hino de triunfo silencioso em cada dia.
Os anos passaram e o esforço perseverante lhe multiplicou
os bens da fé, na marcha laboriosa do conhecimento e da vida. As perseguições
políticas desabaram sobre a existência do seu companheiro. Joana, contudo, se
mantinha firme. Torturado pelas idéias odiosas de vingança, pelas dívidas
insolváveis, pelas vaidades feridas, pelas moléstias que lhe verminaram o
corpo, o ex-intendente de Antipas voltou ao plano espiritual, numa noite de
sombras tempestuosas. Sua esposa, todavia, suportou os dissabores mais amargos,
fiel aos seus ideais divinos edificados na confiança sincera. Premida pelas
necessidades mais duras, a nobre dama de Cafarnaum procurou trabalho para se
manter com o filhinho, que Deus lhe confiara! Algumas amigas lhe chamaram a
atenção, tomadas de respeito humano. Joana, no entanto, buscou e esclarecê-las,
alegando que Jesus, igualmente, havia trabalhado, calejando as mãos nos
serrotes de uma carpintaria singela e que, submetendo-se ela a uma situação de
subalternidade no mundo, se dedicara primeiramente ao Cristo, de quem se havia
feito escrava devotada.
Cheia de alegria sincera, a viúva de Cuza esqueceu o
conforto da nobreza material, dedicou-se aos filhos de outras mães, ocupou-se
com os mais subalternos afazeres domésticos, para que seu filhinho tivesse pão.
Mais tarde, quando a neve das experiências do mundo lhe alvejou os primeiros
anéis da fronte, uma galera romana a conduzia em seu bojo, na qualidade de
serva humilde.
***
No ano 68, quando as perseguições ao Cristianismo iam
intensas, vamos encontrar, num dos espetáculos sucessivos do circo, uma velha
discípula do Senhor amarrada ao poste do martírio, ao lado de um homem novo,
que era seu filho.
Ante o vozerio do povo, foram ordenadas as primeiras
flagelações.
– Abjura!... – Exclama um executar das ordens imperiais,
de olhar cruel e sombrio. Mas, a antiga discípula ao Senhor contempla o céu,
sem uma palavra de negação ou de queixa. Então o açoite vibra sobre o rapaz
seminu, que exclama, entre lágrimas: – “Repudia a Jesus, minha mãe!...
Não vês que nos perdemos?! Abjura!... por mim que sou teu
filho!...”
Pela primeira vez, dos olhos da mártir corre a fonte
abundante das lágrimas. As rogativas do filho são espadas de angústia que lhe
retalham o coração.
– Abjura!... Abjura!
Joana ouve aqueles gritos, recordando a existência
inteira. O lar risonho e festivo, as horas de ventura, os desgostos domésticos,
as emoções maternais, os fracassos do esposo, sua desesperação e sua morte, a
viuvez, a desolação e as necessidades mais duras... Em seguida, ante os apelos
desesperados do filhinho, recordou que Maria também fora mãe e, vendo o seu
Jesus crucificado no madeiro da infâmia, soubera conformar-se com os desígnios
divinos. Acima de tôdas as recordações, como alegria suprema de sua vida,
pareceu-lhe ouvir ainda o Mestre, em casa de Pedro, a lhe dizer: – “Vai filha!
Sê fiel!” Então, possuída de força sobre-humana, a viúva de Cuza contemplou a
primeira vítima ensangüentada e, fixando no jovem um olhar profundo e
inexprimível, na sua dor e na sua ternura, exclamou firmemente:
– Cala-te, meu filho! Jesus era puro e não desdenhou o
sacrifício. Saibamos sofrer na hora dolorosa, porque, acima de tôdas as
felicidades transitórias do mando, é preciso ser fiel a Deus!
A êsse tempo, com os, aplausos delirantes do povo, os verdugos
incendiavam, em derredor, achas de lenha embebidas em resina inflamável.Em
poucos instantes, as labaredas lamberam-lhe o corpo envelhecido. João de Cuza
contemplou, com serenidade, a massa de povo que lhe não entendia o sacrifício.
Os gemidos de dor lhe morriam abafados no peito opresso. Os algozes da mártir
cercaram-lhe de impropérios a fogueira:
– O teu Cristo soube apenas ensinar-te a morrer? –
Perguntou um dos verdugos.
A velha discípula, concentrando a sua capacidade de
resistência, teve ainda forças para murmurar :
– Não apenas a morrer, mas também a vos amar!...
Nesse instante, sentiu que a mão consoladora do Mestre
lhe tocava suavemente os ombros, e lhe escutou a voz carinhosa e inesquecível:
– Joana, tem bom ânimo!... Eu aqui estou! ...
Irmão X - Humberto de Campos - Do livro “Boa Nova”.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
O DOM DIVINO
Antigo devoto, extremamente apaixonado pelo Senhor,
mantinha consigo o velho desejo de encontrá-lo, afagá-lo e ser-lhe útil.
“Oh! se pudesse viver na intimidade do Mestre” – pensava
em êxtase – “tudo faria por rodeá-lo de cooperação e carinho..”
Por isso mesmo buscava cultivar todas as virtudes e
aperfeiçoar todas as qualidades nobres, a fim de oferecer-lhe dons perfeitos.
Entre esperanças e orações, seguia a esteira infinita do
tempo, aguardando o instante sublime de identificar-se com Jesus, quando, num
sonho prodigioso, viu que o Senhor o visitava, acompanhando de sublime cortejo.
O carro fulgurante do Rei do mundo vinha ladeado de
Arcanjos e Tronos, ostentando flores e estrelas do Paraíso maravilhado, o
crente demandou o interior da casa, procurando jóias com que pretendia mimosear
o
Divino Amigo.
Não encontrou, porém, o ouro e a prata, as rosas e os
perfumes, com os quais esperava render-lhe culto.
Em lugar deles, no entanto, reparou, espantado, que as
suas virtudes se haviam materializado em vasos simbólicos.
Tentou escolher dentre eles alguma preciosidade com que
pudesse atender ao próprio coração, mas notou que o seu amor estava
representado por uma candeia sem óleo, a sua paciência era um prato fendido, que
a sua fé exprimia-se numa ânfora enlameada, que a sua caridade era um jarro
vistoso e vazio e outras virtudes como, por exemplo, a humanidade e o
entendimento fraterno, nem chegavam a aparecer...
Desapontado e pesaroso por não haver encontrado algum
recurso, de modo a satisfazer-se, o devoto reconheceu que não passava de
miserável mendigo, incapaz de uma oferta condigna ao Visitante Celestial.
Quis fugir, escondendo a própria indigência, todavia,
surpreendido pelo Mestre que o abraçava, bondoso,
clamou em lagrimas.
-Eterno Benfeitor, perdoa-me a pobreza! Nada tenho para
expressar-te o meu carinho!... Minhas virtudes não passam de baixelas
desprezíveis..
Jesus complementou as alfaias expostas, sorriu e falou,
sereno:
-Realmente, as qualidades edificantes que o reino do
Todo-Poderoso espera de nós revelam-se em construção, no terreno de tua alma. è
imprescindível que o tempo te aprimore os talentos imortais. Entretanto, trazes
contigo o dom divino oculto em todas as criaturas. É por ele que a Obra de Deus
se aperfeiçoa na Terra, usando o poder colaborar comigo em toda parte, santificando-te,
cada vez mais, para a glória do paraíso.
E por que o discípulo indagasse, entre aflito e jubiloso,
o Mestre completou:
-É o dom do servir, indistintamente.
Ajuda-me a velar pelos homens, pela vida, pela
natureza... Auxilia comigo ao ignorante e ao doente, ao
velho e à criancinha, ao animal e à erva tenra. A
qualquer criatura ou a qualquer coisa que ofereças o bem é a
mim mesmo que o fazes...
O devoto quis falar, traduzindo a imensa ventura que lhe
banhava a lama toda, ante a lição recebida, mas, ao murmúrio do vento, que
parecia chamá-lo ao trabalho, fora do aconchego doméstico, despertou no leito
macio e começou a pensar.
LIVRO CARTAS DO CORAÇÃO - IRMÃO X - Francisco C Xavier
O CANDIDATO
INTELECTUAL
Conta-se que
Jesus, depois de infrutíferos desentendimentos com doutores da lei, em Jerusalém,
acerca dos serviços da Boa Nova, foi procurado por um candidato ao novo Reino,
que se caracterizava pela profunda capacidade intelectual.
Recebeu-o o
Mestre, cordialmente, e, em seguida às interpelações do futuro aprendiz, passou
a explicar os objetivos do empreendimento. O Evangelho seria a luz das nações e
consolidar-se-ia à custa da renúncia e do devotamento dos discípulos. Ensinaria
aos homens a retribuição do mal com o bem, o perdão infinito com a infinita
esperança. A Paternidade Celeste resplandeceria para todos. Judeus e gentios
converter-se-iam em irmãos, filhos do mesmo Pai.
O candidato
inteligente, fixando no Senhor os olhos arguciosos, indagou:
-A que escola
filosófica obedecerá?
-A escola do céu
respondeu complacente, o Divino Amigo.
E outras perguntas
choveram, improvisadas.
-Quem nos
presidirá à organização?
-Nosso Pai
Celestial.
-Em que base
aceitará a dominação política dos romanos?
-Nas do respeito e
do auxílio mútuos.
-Na hipótese de
sermos perseguidos pelo Cinéreo, em nossas atividades, como proceder?
-Desculparemos a
ignorância, quantas vezes for preciso.
-Qual o direito
que competirá aos adeptos da Revelação Nova?
-O direito de
servir sem exigências.
O rapaz arregalou
os olhos aflitos e prosseguiu indagando:
-Em que consistirá
desse modo, o salário do discípulo?
-Na alegria de
praticar a bondade.
-Estaremos
arregimentados num grande partido?
-Seremos, em todos
os lugares, uma assembleia de trabalhadores atenta à Vontade Divina.
-O programa?
-Permanecerá nos
ensinamentos novos de amor, trabalho, esperança, concórdia e perdão.
-Onde a voz
imediata de comando?
-Na consciência.
-E os cofres
mantenedores do movimento?
-Situar-se-ão em
nossa capacidade de produzir o bem.
-Com quem
contaremos de imediatos?
-Acima de tudo com
o Pai e, na estrada comum, com as nossas próprias forças.
-Quem reterá a
melhor posição no ministério?
-Aquele que mais
servir.
O candidato coçou
a cabeça, francamente desorientado, e continuou, finda a pausa:
-Que objetivo
fundamental será o nosso?
Respondeu Jesus,
sem se irritar:
-O mundo
regenerado, enobrecido e feliz.
-Quanto tempo
gastará?
-O tempo necessário.
-De quantos
companheiros seguros dispomos para início da obra?
-Dos que puderem
compreender-nos e quiserem ajudar-nos.
-Mas não teremos
recursos de constranger os seguidores à colaboração ativa?
-No Reino Divino
não há violência.
-Quantos filósofos,
sacerdotes e políticos nos acompanharão?
-Em nosso
apostolado, a condição transitória não interessa e a qualidade permanece acima do
número.
-A missão
abrangerá quantos países?
-Todas as nações.
-Fará diferença
entre senhores e escravos?
-Todos os homens
são filhos de Deus.
-Em que sítio se
levanta as construções de começo? Aqui em Jerusalém?
-No coração dos
aprendizes.
-Os livros de
apontamento estão prontos?
-Sim.
-Quais são?
-Nossas vidas...
O talentoso
adventício continuou a indagar, mas Jesus silenciou sorridente e calmo.
Após longa série
de interrogativas sem resposta, o afoito rapaz inquiriu ansioso:
-Senhor, por que
não esclareces?
O Cristo
afagou-lhe os ombros inquietos e afirmou:
-Busca-me quando
estiveres disposto a cooperar.
E, assim dizendo,
abandonou Jerusalém na direção da Galiléia, onde procurou os pescadores
rústicos e humildes que, realmente nada sabiam da cultura grega ou do Direito Romano,
mantendo-se, contudo, perfeitamente prontos a trabalhar com alegria e servir
por amor, sem perguntar.
Livro: Contos E Apólogos – Humberto De Campos – Irmão X
DIANTE DA VIDA SOCIAL
“ Aquele que tem
os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será
armado de meu Pai e eu o amarei e me manifestarei a ele.”- JESUS - JOÃO, 14.21.
“Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as cousas
anunciadas para a transformação da Humanidade. Ditosos serão os que houverem
trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade.,,
- Cap.20, 5,
Espiritualidade superior não se compadece com
insulamento.
Se o trabalho é a escola das almas, na esfera da
evolução, o contacto social é a pedra de toque, a definir-lhes o grau de
aproveitamento.
Virtude que não se reconheceu no cadinho da experiência
figura-se metal julgado precioso, cujo valor não foi aferido.
Talento proclamado sem utilidade geral assemelha-se, de
algum modo, ao tesouro conservado em museu.
Ninguém patenteia aprimoramento espiritual, à distância
da tentação e da luta.
As leis do Universo, diligenciando a santificação das
criaturas, não determinam que o mundo se converta em vale de mendicância e
sofrimento, mas sim espera que o planeta se eleve à condição de moradia da
prosperidade e da segurança para quantos lhe povoam as faixas de vida.
Todos somos chamados à edificação do progresso, com o
dever de melhorar-nos, colaborando na melhoria dos que nos cercam.
Justo, assim, passas deter um diploma acadêmico, retendo
prerrogativas de trabalho pela competência adquirida, no entanto, será
crueldade nada fazer para que o próximo se desvencilhe da ignorância; natural
desfrutes residência dotada de todos os recursos, que te garantam a euforia
pessoal, mas é contrário à razão te endeuses dentro dela, sem qualquer esforça
para que os menos favorecidos disponham de abrigo conveniente; compreensível
guarneças a própria mesa com iguarias primorosas que te satisfaçam a dieta exigente,
entretanto, é absurdo esperares que a fomo alheia te bata à porta;
perfeitamente narina, que te vistas, segundo os figurinos do tempo, manejando
as peças de roupa que suponhas aconselháveis à própria apresentação, contudo, é
estranho confiar vestuário em desuso ao domínio da traça, desconsiderando a
nudez dos que tremem de frio.
Apoiemos o bem para que o bem nos apóie.
Para isso é preciso estender aos semelhantes os bens que
nos felicitam.
Repara a natureza, no sistema de doações permanentes em
que se expressa.
0 céu reparte a luz infinitamente, o solo descerra
energias e riquezas sem conta, fontes ofertam águas, árvores dão frutos...
Felicidade sozinha será, decerto, egoísmo consagrado.
Toda vez que dividimos a própria felicidade dos outros,
devidamente aumentada, retorna dos outros ao nosso coração, multiplicando a
felicidade verdadeira dentro de nós.
Emmanuel - do
livro: O Livro da Esperança - Psicografado por Francisco Cândido Xavier
QUE OVELHA SOMOS
Cap. XX - Item 5 - ESE
"Eu sou o bom pastor e conheço as minhas ovelhas e
das minhas sou conhecido". - Jesus. (João, 10:14)
O pastor atento se identifica com o rebanho de tal
maneira, que define de pronto qualquer das ovelhas mantidas a seu cuidado.
Conhece as mais ativas.
Descobre as indiferentes.
Nomeia as retardatárias.
Registra as que lideram.
Classifica a lã que venha a produzir.
Tudo faz, em favor de todas.
Por sua vez, as ovelhas, pouco a pouco, percebem, dentro
da limitação que as caracteriza, o modo de ser do pastor que as dirige.
Habituam-se aos lugares que lhe são prediletos.
Respeitam-lhe os sinais.
Acatam-lhe as ordens.
Reconhecem-lhe o poder diretivo, sem confundir-lhe a
presença.
Na imagem, temos a divina missão do Cristo para conosco.
O Pastor Compassivo conhece cada uma das ovelhas do redil
humano, tudo fazendo para guiá-las ao campo da Luz Celeste.
Incentiva as indiferentes.
Acalma as impetuosas.
Fortalece as mais fracas.
Apóia as mais responsáveis.
Sopesa o valor de todas, segundo as peculiaridades e
tendências de cada uma.
E, de igual modo, as ovelhas do rebanho terrestre,
gradativamente, vêm a conhecer e a sentir a existência abençoada do Bom Pastor.
Entendem-lhe os ensinamentos e admoestações.
Reverenciam a excelência do seu Amor.
Confiam serenamente em sua Misericórdia.
Esposam-lhe os ideais e buscam corresponder-lhe à
vontade, destacando-o, nos quadros da vida, por Intermediário do Pai Excelso.
Desse modo, cabe-nos atender ao chamamento do Mestre,
melhorando as condições da vida, no mundo, com base em nossa própria renovação.
Nesse programa de luta, vale indagar de nós mesmos:
- Que ovelhas somos?
E com semelhante pergunta, busquemos na disciplina, ante
o Cristo de Deus, a nossa posição de servidores do bem, na certeza de que a
humildade conferir-nos-á sintonia com o Divino Pastor, para que, sublimando e
servindo, atinjamos com Ele o Aprisco Celeste na imortalidade vitoriosa.
Emmanuel - Do livro O Espírito da Verdade. Psicografia de
Francisco C Xavier e Waldo Vieira.
TAREFEIROS DA
DOUTRINA
Francisco Cândido Xavier
Em nossa reunião eram, muitas as considerações em torno
dos companheiros encarregados da divulgação do Espiritismo. As opiniões eram as
mais diversas, quando as tarefas foram iniciadas.
O Evangelho Segundo o Espiritismo nos ofereceu o item 5
do capítulo XX, sobre os tarefeiros da nossa Doutrina de amor e luz. E o nosso
caro Emmanuel, como sempre sucede, comentou o apontamento em estudo na página
Legendas do Obreiro da Verdade.
Do livro
Astronautas do Além, de Francisco Cândido Xavier e J.Herculano Pires -
Espíritos diversos
LEGENDAS DO
OBREIRO DA VERDADE
Emmanuel
Compreender que as necessidades e as esperanças dos
outros são fundamentalmente iguais às nossas.
Auxiliar sem exigir que o beneficiado nos tome as idéias.
Reconhecer que a Divina Providencia possui estradas
inúmeras para socorrer as criaturas e iluminá-las.
Aprender a tolerar com paciência as pequenas humilhações,
a fim de prestar os grandes testemunhos de sacrifício pessoal que a Causa da
Verdade lhe reclamará possivelmente algum dia.
Esquecer-se pela obra que realiza.
Guiar-se pela misericórdia e não pela critica.
Abençoar sem reprovar.
Construir ou reconstruir, sem ofender ou condenar.
Trabalhar sempre sem o propósito de ser ou parecer o
maior ou o melhor ante os demais.
Cultivar ilimitadamente a cooperação e a caridade.
Coibir-se de irritação e de azedume.
Agir sem criar problemas.
Observar que sem a disciplina individual no campo do bem,
a prática do bem se faz impossível.
Respeitar a personalidade dos companheiros.
Encontrar ocasião para atender à benção da prece.
Deter-se nas qualidades nobres e olvidar as prováveis
deficiências do próximo.
Valorizar o esforço alheio. Nunca perder tempo.
Apagar inimizades ou discórdias através da desculpa
fraterna e do serviço constante que devemos uns aos outros.
Criar oportunidades de trabalho para si, ajudando aos
outros no sentido de descobrirem as oportunidades de trabalho que lhe digam
respeito à capacidade e às possibilidades de realização, conservando em tudo a
certeza inalterável de que toda pessoa é importante na edificação do Reino de
Deus.
Do livro
Astronautas do Além, de Francisco Cândido Xavier e J.Herculano Pires -
Espíritos diversos
TODOS SÃO
IMPORTANTES
Irmão Saulo
Somos iguais perante a seara, porque somos todos iguais
perante o Senhor da Seara. Deus não faz acepção de pessoas, nem de posições e
muito menos de instituições. O item 5 do capítulo XX de O Evangelho Segundo o
Espiritismo estabelece esta condição essencial: “Felizes os que tiverem
trabalhado o campo do Senhor com desinteresse e movidos apenas pela caridade”.
Emmanuel conclui a sua mensagem lembrando “que toda pessoa é importante na
edificação do Reino de Deus”.
Querer que não haja discordâncias entre os que trabalham
na divulgação e na sustentação da Doutrina seria acalentar quimeras. Cada
consciência humana, como ensina Hubert, é um ponto na correnteza da duração.
Cada um de nós está colocado num ângulo determinado do eterno fluir da
realidade. Cada qual, portanto, tem a sua maneira própria de ver as coisas.
O Espiritismo nos ensina que nos completamos uns aos
outros pelas nossas diferenças. Mas se diferimos nos acessórios, concordamos
sempre no essencial. Por isso mesmo a caridade – que é o amor em ação – deve
eliminar as arestas do nosso personalismo, ensinando-nos que todos somos
importantes na busca e na conquista da verdade.
Claro que não devemos concordar com tudo e tudo aprovar
em silêncio, pois a tolerância de acomodação equivale a cumplicidade com o
erro. A crítica maldosa e orgulhosa, que condena tudo o que é feito pelos
outros, é a negação da caridade. Mas ai de nós se suprimirmos a crítica do meio
espírita! Porque é ela, quando sensata e sincera, a prática da vigilância que
Jesus ensinou e Paulo exemplificou. Como utilizar o “crivo da razão”, de que
nos fala Kardec, se abdicarmos do direito de pensar que mais do que um direito
é um supremo dever do espírito?
Quando Emmanuel diz: “Guiar-se pela misericórdia e não
pela crítica” está se referindo à crítica negativa que nasce do orgulho e não à
crítica positiva que brota espontânea e necessária do julgamento imparcial e
fraterno, objetivando corrigir e portanto ajudar. O lema “Valorizar o esforço
alheio” não implica a valorização dos erros e dos enganos do próximo, mas o
reconhecimento dos esforços feitos por todos a favor da causa comum. Todos
precisamos de misericórdia, mas a misericórdia, como Deus nos mostra em sua lei
de ação e reação, não é a aprovação de erros e ilusões – e sim a correção e o
esclarecimento.
Do livro Astronautas do Além, de Francisco Cândido Xavier
e J.Herculano Pires - Espíritos diversos
CAMINHOS RETOS
"E ele lhes disse: Lançai a rede para a banda
direita do barco e achareis."- (JOÃO, 21.6.)
A vida deveria constituir, por parte de todos nós,
rigorosa observância dos sagrados interesses de Deus.
Freqüentemente, porém, a criatura busca sobrepor-se aos
desígnios divinos.
Estabelece-se, então, o desequilíbrio, porque ninguém
enganará a Divina Lei. E o homem sofre, compulsoriamente, na tarefa de
reparação.
Alguns companheiros desesperam-se no bom combate pela
perfeição própria e lançam-se num verdadeiro inferno de sombras interiores.
Queixam-se do destino, acusam a sabedoria criadora, gesticulam nos abismos da
maldade, esquecendo o capricho e a imprevidência que os fizeram cair.
Jesus, no entanto, há quase vinte séculos, exclamou:
"Lançai a rede para a banda direita do barco e
achareis."
Figuradamente, o espírito humano é um
"pescador" dos valores evolutivos, na escola regeneradora da Terra. A
posição de cada qual é o "barco". Em cada novo dia, o homem se
levanta com a sua "rede" de interesses. Estaremos lançando a nossa
"rede" para a "banda direita"? Fundam-se nossos pensamentos
e atos sobre a verdadeira justiça?
Convém consultar a vida interior, em esforço diário,
porque o Cristo, nesse ensinamento, recomendava, de modo geral, aos seus
discípulos: "Dedicai vossa atenção aos caminhos retos e achareis o
necessário."
Livro Caminho,
Verdade e Vida. Pelo Espírito Emmanuel, psicografia Francisco Cândido Xavier
VELHOS E MOÇOS
Não era raro observar-se, na, pequena comunidade dos
discípulos, o entrechoque das opiniões, dentro do idealismo quente dos mais
jovens. Muita vez, o séqüito humilde dividia-se em discussões, relativamente
aos projetos do futuro.
Enquanto Pedro e André se punham a ouvir os companheiros,
com a ingenuidade de seus corações simples e sinceros, João comentava os planos
de luta no porvir; Tiago, seu irmão, falava do bom aproveitamento de sua
juventude, ao passo que o jovem Tadeu fazia promessas maravilhosas.
– Somos jovens! – diziam – Iremos à Terra inteira,
pregaremos o Evangelho às nações, renovaremos o mundo!...
Tão logo o Mestre permitisse, sairiam da Galiléia,
pregariam as verdades do reino de Deus naquela Jerusalém atulhada de
preconceitos e de falsos intérpretes do pensamento divino. Sentiam-se fortes e
bem dispostos. Respiravam a longos haustos e supunham-se os únicos discípulos
habilitados traduzir com fidelidade os novos ensinamentos. Por longas horas, questionavam acerca de
possibilidades, apresentavam as suas vantagens, debatiam seus projetos imensos.
E pensavam consigo: que poderia realizar Simão Pedro, chefe de família e
encarcerado nos seus pequeninos, deveres? Mateus não estava igualmente enlaçado
por inadiáveis obrigações de cada dia? André e o irmão os escutavam
despreocupados, para meditarem apenas quanto às lições do Messias.
Entretanto, Simão, mais tarde chamado o “Zelota”, antigo
pescador do lago, acompanhava semelhantes conversações sentindo-se humilhado.
Algo mais velho que os companheiros, suas energias, a seu ver, já não se
coadunavam com os serviços do Evangelho do Reino. Ouvindo as palavras fortes da
juventude dos filhos de Zebedeu, perguntava a si mesmo o que seria de seu
esforço singelo, junto de Jesus. Começava a sentir mais fortemente o declínio
das forças da vida. Suas energias pareciam descer de uma grande montanha,
embora o espírito se lhe conservasse firme e vigilante, no ritmo da vida.
Deixando-se, porém, impressionar vivamente, procurou
entender-se com o Mestre, buscando eximir-se das dúvidas que lhe roíam o
coração.
***
Depois de expor os seus receios e vacilações, observou
que Jesus o fitava, sem surpresa, como se tivesse pleno conhecimento de suas
emoções.
- Simão – disse o Mestre com desvelado carinho –
poderíamos acaso perguntar a idade de Nosso Pai? E, se fôssemos contar o tempo,
na ampulheta das inquietações humanas, quem seria o mais velho de todos nós? A
vida, na sua, expressão terrestre, é como uma árvore grandiosa. A infância é a
sua ramagem verdejante. A mocidade se constituí de suas flores perfumadas e
formosas. A velhice é o fruto da experiência e da sabedoria. Há ramagens que
morrem depois do primeiro beijo do Sol, e flores que caem ao primeiro sopro da
Primavera. O fruto, porém, é sempre uma bênção do Todo-Poderoso. A ramagem é a
esperança, a flor uma promessa, o fruto é realização; só ele contém o doce
mistério da vida, cuja fonte se perde no infinito da divindade!...
Ao passo que o discípulo lhe meditava os conceitos, com
sincera admiração, Jesus prosseguia, esclarecendo:
– Esta imagem pode ser também a da vida do espírito, na
sua radiosa eternidade, apenas com a diferença de que aí as ramagens e as
flores não morrem nunca, marchando sempre para o fruto da edificação. Em face
da grandeza espiritual da vida, a, existência humana é uma hora de aprendizado,
no caminho infinito do Tempo; essa hora minúscula encerra, o que existe no
todo. É por isso que ai vemos, por vezes, jovens que falam com uma experiência
milenária e velhos sem reflexão e sem e sem esperança.
– Então, Senhor, de qualquer modo, a velhice é a meta do
espírito? – Perguntou o discípulo, emocionado.
- Não a velhice enferma e amargurada, que se conhece na
Terra, mas a da experiência que edifica o amor e a sabedoria. Ainda aqui,
devemos recordar o símbolo da arvore, para reconhecer que o fruto perfeito é a
frescura da ramagem e a beleza da flor, encerrando o conteúdo divino do mel e
da semente.
Percebendo que o Mestre estendera seus conceitos em
amplas imagens simbológicas, o apóstolo voltou a retrair-se em seu caso
particular e obtemperou:
– A verdade, Senhor, é que me sinto depauperado e
envelhecido, temendo não resistir aos esforços a que se abriga a minhalma, na
semeadura da vossa, doutrina santa.
Mas, escuta, Simão – redarguiu-lhe Jesus, com serenidade
enérgica – achas que os moços de amanhã poderão fazer alguma coisa sem os
trabalhos dos que agora, estão envelhecendo?!... Poderia a árvore viver sem a
raiz, a alma sem Deus ?! Lembra-te da tua parte de esforço e não te preocupeis
com a obra que pertence ao Todo-Poderoso. Sobretudo, não olvides que a nossa
tarefa, para dignidade perfeita de nossas almas, deve ser intransponível.
João também será velho e os cabelos brancos de sua fronte
contarão profundas experiências. Não te magoe a palestra dos jovens da Terra A
flor, no mundo, pode ser o princípio do fruto, mas pode também enfeitar o
cortejo das ilusões. Quando te cerque o burburinho da mocidade, ama os jovens
que revelem trabalho e reflexão; entretanto, não deixes de sorrir, igualmente,
para os levianos e inconstantes; são crianças que pedem cuidado, abelhas que
ainda não sabem fazer o mel. Perdoa-lhes os entusiasmos sem rumo, como se devem
esquecer os impulsos de um menino na inconsciência dos seus primeiros dias de
vida. Esclarece-os, Simão, e não penses que outro homem pudesse efetuar, no
conjunto da obra divina, o esforço que te compete. Vai e tem bom ânimo!... Um
velho sem esperança em Deus é um irmão triste da noite ; mas eu venho trazer ao
imundo as claridades de um dia perene.
Dando Jesus por terminado o seu esclarecimento, Simão, o
Zelota, se retirou satisfeito, como se houvesse recebido no coração uma energia
nova.
***
Voltando à casa pobre, encontrou Tiago, filho de Cléofas,
falando à margem do Lago com alguns jovens, apelando ardentemente para as suas
forças realizadoras. Avistando o velho companheiro, o apóstolo mais moço não o
ofendeu, porém fez uma pequena alusão à sua idade, para destacar as palavras de
sua exortação aos companheiros pescadores. Simão, no entanto, sem experimentar
qualquer laivo de ciúme, recordou as elucidações do Mestre e logo que se fez
silêncio, ao reconhecer que Tiago estava só, falou-lha com brandura:
– Tiago, meu irmão, será que o espírito tem idade? Se
Deus contasse o tempo como nós, não seria êle o mais velho de toda a criação? E
que homem do mundo guardará a presunção de se igualar ao Todo-Poderoso? Um
rapaz não conseguiria realizar a sua tarefa na Terra, se não tivesse a
precedê-lo as experiências de seus pais. Não nos detenhamos na idade,
esqueçamos as circunstâncias, para lembrar somente os fins sagrados de nossa
vida, que deve ser a edificação do Reino no íntimo das almas.
O filho de Alfeu escutou-lhe as observações singelas e
reconheceu que eram ditas com uma fraternidade tão pura, que não lhe chegavam a
ferir nem e leve, o coração. Admirando a ternura serena do companheiro e sem
esquecer o padrão de humildade que o Mestre cultivava, refletiu um momento e
exclamou comovido :
– Tens razão.
O velho apóstolo não esperou qualquer justificativa de
sua parte e, dando-lhe um abraço, mostrou-lhe um sorriso bom, deixando percebe
que ambos deviam esquecer, para sempre, alquile minuto de divergência, afim de
se unirem cada vez mais em Jesus - Cristo.
Naquela mesma tarde, quando o Messias começou a ensinar a
sabedoria do Reino de Deus, Simão, o Zelota, notou que havia na praia duas
criancinhas inconscientes. Dominada pela nova luz que fluía dos ensinamentos do
Mestre, a mãe delas não vira que se distanciavam, ao longo do primeiro lençol
raso das águas ; o velho pescador, atento à pregação e às demais necessidades
da hora em curso, observou os dois pequeninos e acompanhou-os. Com uma boa
palavra, tomou-os nos braços, sentando-se numa pedra e, terminada que foi a
reunião, os restituiu ao colo maternal, em meio de suave alegria e sincero
reconhecimento. Inspirado por uma força estranha à sua alma, o discípulo
compreendeu que o júbilo daquela tarde não teria sido completo se duas crianças
houvessem desaparecido no seio imenso das águas, separando-se para sempre dos
braços amoráveis de sua mãe. No âmago do seu espírito, havia um júbilo sincero.
Compreendera com o Cristo o prazer de servir, a alegria de ser útil.
Nessa noite, Simão, o Zelota, teve um sonho glorioso para
a sua alma simples. Adormecendo, de consciência feliz, sonhou que se encontrava
com o Messias, no cume de um monte que se elevava em estranhas fulgurações.
Jesus o abraçou com carinho e lhe agradeceu o fraterno esclarecimento fornecido
a Tiago, em sua lembrança, manifestando-lhe reconhecimento pelo seu cuidado
terno com duas crianças desconhecidas por amor de seu nome.
O discípulo sentia-se venturoso naquele momento sublime.
Jesus, do alto da colina prodigiosa, mostrava-lhe o mundo inteiro. Eram cidades
e campos, mares e montanhas... Em seguida, o antigo pescador compreendeu que
seus olhos assombrados divisavam as paisagens do futuro. Ao lado de seu
deslumbramento, passava a imensa família humana. Tôdas as criaturas fitavam o
Mestre, com os olhos agradecidos e refulgentes de amor. As crianças lhe
chamavam “amigo fiel”, os jovens “verdade do céu”, os velhos “sagrada
esperança”.
Simão acordou, experimentando indefinível alegria. Na
manhã imediata, antes do trabalho, procurou o Senhor e beijou-lhe a fímbria
humilde da túnica, exclamando jubilosamente :
– Mestre, agora vos compreendo!...
Jesus contemplou-o com amor e respondeu :
– Em verdade, Simão, ser moço ou velho, no mundo, não
interessa!... Antes de tudo, é preciso ser de Deus!...
Irmão X - Humberto de Campos - Do livro “Boa Nova”.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
AMAS O BASTANTE?
"Perguntou-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas,
amas-me?" -(JOÃO, 21:17.)
Aos aprendizes menos avisados é estranhável que Jesus
houvesse indagado do apóstolo, por três vezes, quanto à segurança de seu amor.
O próprio Simão Pedro, ouvindo a interrogação repetida, entristecera-se,
supondo que o Mestre suspeitasse de seus sentimentos mais íntimos.
Contudo, o ensinamento é mais profundo.
Naquele instante, confiava-lhe Jesus o ministério da
cooperação nos serviços redentores. O pescador de Cafarnaum ia contribuir na
elevação de seus tutelados do mundo, ia apostolizar, alcançando valores novos
para a vida eterna.
Muito significativa, portanto, a pergunta do Senhor nesse
particular. Jesus não pede informação ao discípulo, com respeito aos
raciocínios que lhe eram peculiares, não deseja inteirar-se dos conhecimentos
do colaborador, relativamente a Ele, não reclama compromisso formal. Pretende
saber apenas se Pedro o ama, deixando perceber que, com o amor, as demais
dificuldades se resolvem. Se o discípulo possui suficiente provisão dessa
essência divina, a tarefa mais dura converte-se em apostolado de bênçãos
promissoras.
É imperioso, desse modo, reconhecer que as tuas
conquistas intelectuais valem muito, que tuas indagações são louváveis, mas em
verdade somente serás efetivo e eficiente cooperador do Cristo se tiveres amor.
Emmanuel Do livro Caminho, Verdade e Vida, de Chico Xavier
SEGUE-ME TU
“Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu
venha, que te importa a ti? Segue-me tu ” – João, 21:22.)
Nas comunidades de trabalho cristão, muitas vezes
observamos companheiros altamente preocupados com a tarefa conferida a outros
irmãos de luta.
É justo examinar, entretanto, como se elevaria o mundo se
cada homem cuidasse de sua parte, nos deveres comuns, com perfeição e
sinceridade
Alguns de nossos amigos foi convocado para obrigações
diferentes?
Confortemo-lo com a legítima compreensão.
As vezes, surge um deles, modificado ao nosso olhar. Há
cooperadores que o acusam. Muitos o consideram portador de perigosas tentações.
Movimentam-se comentários e julgamentos à pressa. Quem penetrará, porém, o
campo das causas? Estaríamos na elevada condição daquele que pode analisar um
acontecimento, através de todos os ângulos? Talvez o que pareça queda ou
defecção pode constituir novas resoluções de Jesus , relativamente à redenção
do amigo que parece agora distante.
O Bom Pastor permanece vigilante. Prometeu que das
ovelhas que o Pai lhe confiou nenhuma se perderá
Convém, desse modo, atendermos com perfeição aos deveres
que nos foram deferidos. Cada qual necessita conhecer as obrigações que lhe são
próprias.
Nesse padrão de conhecimento e atitude, há sempre muito
trabalho nobre a realizar.
Se um irmão parece desviado aos teus olhos mortais, faze
o possível por ouvir as palavras de Jesus ao pecador de Cafarnaum: “Que te
importa a ti? Segue-me tu”
Livro Caminho, Verdade e Vida. Pelo Espírito Emmanuel,
psicografia Francisco Cândido Xavier
INESQUECÍVEL ADVERTÊNCIA
“...Que te importa a ti? Segue-me tu.” – JESUS. (JOÃO,
21:22.)
Viste, sim, as desilusões com que não contávamos.
Muitos daqueles mesmos amigos que nos exortavam à estrada
certa, enovelaram-se nos cipoais da perturbação, como que petrificados na
indiferença.
Companheiros que supúnhamos estandartes vivos nas trilhas
da verdade, renderam-se a deslavadas mentiras.
Irmãos que nos prometeram fidelidade inquebrantável
deixaram-nos a sós, na primeira dificuldade.
Parentes que nos deviam proteção e respeito bandearam-se
para campos de sombra e vício, hostilizando-nos o ideal.
E multiplicam-se tropeços para que a nossa caminhada se
obstrua.
Converteram-se estímulos em sarcasmos.
Quem nos dava esperança, fornece negação.
Quem ontem nos ajudava, hoje nos desajuda.
Mãos que nos atiravam flores de aplauso fazem agora
chover sobre nós as farpas da incompreensão.
Sozinhos, sim...
Muita vez, encontrar-nos-emos, desse modo, entre a
expectativa e a solidão.
Nosso primeiro impulso é o de reclamar naquilo que
supomos nosso direito; contudo, buscando a palavra do evangelho, surpreendemos
a inesquecível advertência do Senhor:
- ...”Que te importa a ti? Segue-me tu”.
Livro: “Palavras
de Vida Eterna” - Psicografia Francisco Candido Xavier – Espírito Emmanuel
NO PÃO ESPIRITUAL
“Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão
entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: ‘amas-me?” e disse-lhe: “Senhor,
tu sabes que eu te amo.” Jesus disse-lhe: “Apascenta as minhas ovelhas.” (JOAO,
21:17.)
Assinalando a preocupação do Divino Pastor, em se
dirigindo a Simão Pedro para recomendar-lhe as ovelhas, é importante observar
que o Mestre solicita qualquer atividade maravilhosa.
Não ordena que o apóstolo lhes converta os balidos em
trechos de música.
Não determina se lhes transforme o pelo em fios de ouro.
Não aconselha se transfigure o redil em palácio.
Não exige se lhes conceda regime de exceção.
Não manda se lhes dê asas.
Roga simplesmente para que o apóstolo lhes administre
alimento, a fim de que vivam e produzam para o bem geral, sem fugir aos
preceitos do trabalho e sem abolir os ditames da evolução.
Certo, no entanto, o Excelso Condutor não sentia
necessidade de advertir o companheiro quanto ao cuidado justo de não se
adicionarem agentes tóxicos aos bebedouros e à forragem normal.
Assim também, no domínio das criaturas humanas.
Trabalhadores das idéias, chamados a nutrir o pensamento
da multidão, em verdade, o Cristo não espera mudeis os vossos leitores e
ouvintes em modelos de heroísmo e virtude. Conta com o vosso esforço correto
para que a refeição do conhecimento superior seja distribuída com todos
aguardando, porém que a mesa de vossas atitudes se mostre asseada e que o
alimento de vossas palavras esteja limpo.
Livro: Palavras de
Vida Eterna - Psicografia Francisco Candido Xavier – Espírito Emmanuel
CONVIVÊNCIA
FRATERNA NOS GRUPOS
"Ditosos serãos os que houverem trabalhado no campo
do Senhor com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade ! Seus dias de
trabalho serão pagos pelo cêntuplo do que tiverem esperado." O Espírito
Verdade, O ESE, capítulo XX, ítem 5.
Parafraseando o Espírito Verdade, é injustificável que
sob a égide do espiritismo - doutrina de lucidez integral - seus trabalhadores
se mantenham sempre os mesmos no que tange às relações interpessoais. Pois,
então, de que lhes serve ser espírita se não se amam? Se guardam distância uns
dos outros? Reunindo-se sem se conhecerem? Trabalhando sem se descobrirem?
Sofrendo sem terem alguém para dialogar e lograr uma rota? Ajudando a outros sem
se permitirem ser ajudados?
Observamos que os dias atuais têm subtraído o tempo que
seria desejável para intensificar os relacionamentos nas sociedades espíritas.
E, enquanto essa alegação se torna um limite para muitos, por outro lado,
muitos dispondo de largas medidas de tempo não realizam a convivência fraterna
que deveria nortear as relações em seus grupos. Constatamos, então, que temos
um problema a solucionar: compartilham-se idéias, tarefas e deveres, e nem sempre
afeto e amizade autêntica.
O estudo e o trabalho têm merecido a atenção de quantos
usufruem das ambiências da casa espírita. Contudo, destacamos que, além disso,
o compartilhamento afetivo deve receber os cuidados de nossos condutores,
considerando esse fator como de fundamental importância ao crescimento
espiritual de seus trabalhadores, e mesmo ao equilíbrio das próprias
atividades.
A boa convivência será sempre o reflexo das relações que
travamos conosco mesmos, por isso cuidemos da nossa vida emocional e
psicológica. Que os diretores se organizem para o i nvesi manto nesse sentido
junto aos frequentadores, trabalhadores e coordenadores de suas instituições.
Encetar uma campanha pela fraternidade entre os
trabalhadores espíritas! Onde o amor floresce, o perfume da fraternidade se
espalha.
Sociedades espíritas fraternas são tecidas com relações
afetuosas e amadurecidas pela vivência ética das lições cristãs, que,
naturalmente, resultam em uma convivência sadia e motivadora.
Estamos habituados a construir paredes e reunir gente.
Chegou, porém, o instante esperado para nos estabelecer como grupos, nos quais
as pessoas se reúnam e se unam, criando um entrelaçamento fraterno, fomentador
das mais ricas experiências emocionais nos terrenos de nossa espiritualização.
E como o amor não é sentimento estagnado e
circunstancial, devemos assinalar algumas ações-exercícios que o desabrocharão
na intimidade, e canalizá-lo para as fibras sutis de nossa estrutura emocional,
a fim de sedimentar hábitos e comportamentos plenos de sensibilidade e ternura.
Anotemos, então:
* a habilidade para saber discordar;
* a assertividade dos sentimentos;
* o espírito de equipe;
* o esforço no domínio das más inclinações;
* o cultivo da oração pelos integrantes do grupo;
* o aperfeiçoamento diário da convivência;
* a priorização do dever de cada dia;
* a delegação confiante de responsabilidades;
* a valorização incondicional dos participantes;
* a arte de comunicar;
* o diálogo;
* a alteridade;
* o cativar dos laços de amor;
* o amor a si mesmo;
* as crenças otimistas;
* a cooperação espontânea;
* a vivência moral sadia.
A carência humana de afeto é uma tragédia de proporções
incomparáveis na história. Graças a ela, assistimos ao ruir de lares, à fuga
para os vícios, à depressão causticante, à inversão dos valores morais e ao
engodo da ilusão que aprisiona o ser nas algemas da solidão. Nesse contexto, a
casa espírita deveria se constituir num oásis de esperança e refazimento para
os cidadãos sofridos com a ingratidão e o desvalor que a sociedade lhes impõe.
Outros tantos enriquecem-se na abundância de bens,
entretanto, são almas vazias do alimento da estima. Para esses a casa de Jesus
e Kardec deve ser o ambiente de renovação e acolhimento, no qual encontrarão o
repasto do carinho e as benesses de uma família espiritual.
O ser humano tem medo de amar. Um dos motivos é por não
saber como seu amor será acolhido. Alguns, não tendo elaborado
satisfatoriamente a sublimação de traumas e recalques, não sabem conviver bem
com a intimidade dos relacionamentos. Padecem com os monstros das fantasias e neuroses
sem conta, que os levam a um colapso das forças internas e abrem campo fácil
para as obsessões afetivas e sexuais.
Contudo, não podemos mais nos permitir viver por temor e
fugir de amadurecer nossas emoções.
Quando constituirmos as sociedades espíritas fraternas,
estaremos formando as bases para um tempo mais promissor quanto aos destinos de
nossa seara bendita.
Ao mesmo tempo, criando o ambiente seguro para nossas
manifestações iniciais na arte de amar.
O caminho é, sem dúvida, dirigirmo-nos para o objetivo
providencial a que se refere o Espírito Verdade, conduzindo-nos dentro da
escola doutrinária como alunos em regime de aprendizado intensivo.
Buscando, sobretudo, a melhora de nós mesmos na superação
de nossas mazelas morais.
Educar-se e espiritizar-se é a meta.
E quando aprendermos a viver fraternalmente em nossas
próprias casas espíritas, arregimentaremos melhores condições para o clima da
bondade em campos mais amplos e responsabilidades mais ostensivas, na
interligação de amor que a todos deve enlaçar nos serviços de restauração do
cristianismo.
Amar incondicionalmente é o caminho.
Sigamos Paulo, apóstolo de Jesus, que pronunciou uma
inspirada poesia nascida nas fontes de seu exemplo de amor, quando disse:
"Eu de muita boa vontade gastarei, e me deixarei
gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos
amado".25 II Coríntios, 12:15
Da mesma forma, convém-nos recordar a excelência da
recomendação do senhor Allan Kardec, que propõe:
"Para o objetivo providencial, portanto, é que devem
tender todas as Sociedades Espíritas sérias, grupando todos os que se achem
animados dos mesmos sentimentos. Então, haverá união entre elas, simpatia,
fraternidade, em vez de vão e pueril antagonismo, nascido do amor-próprio, mais
de palavras do que de fatos; então, elas serão fortes e poderosas, porque
assentarão em inabalável alicerce: o bem para todos; então, serão respeitadas e
imporão silêncio à zombaria tola, porque falarão em nome da moral evangélica,
que todos respeitam".26 O Livro dos Médiuns, cap. XXIX, item 350
"Ditosos serão os que houverem trabalhado no campo
do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade!"27 O ESE,
cap. XX, ítem 5
O perfume da fraternidade se espalha onde existem
canteiros de boa convivência.
Educar-se e espiritizar-se é a meta. E quando aprendermos
a viver fraternalmente em nossas próprias casas espíritas, arregimentaremos
melhores condições para o clima da bondade em campos mais amplos e responsabilidades
mais ostensivas, na interligação de amor que a todos deve enlaçar nos serviços de
restauração do cristianismo.
Amar incondicionalmente é o caminho.
Livro: Prazer de Viver - Ermance Dufaux – Wanderley S. Oliveira
O TALISMÃ DIVINO
Tiago, o mais velho, em explanação preciosa, falou sobre
as ânsias de riqueza, tão comuns em todos os mortais, e, findo o interessante
debate doméstico, Jesus comentou sorridente: — Um homem temente a Deus e
consagrado a retidão, leu muitos conselhos alusivos à prudência, e deliberou
trabalhar, com afinco, de modo a reter um tesouro com que pudesse beneficiar a
família.
Depois de sentidas orações, meteu-se em várias empresas,
aflito por alcançar seus fins.
E, por vinte anos consecutivos, ajuntou moeda sobre
moeda, formando o patrimônio de alguns milhões.
Quando parou de agir, a fim de apreciar a sua obra, reconheceu,
com desapontamento, que todos os quadros da própria vida se haviam alterado,
sem que ele mesmo percebesse.
O lar, dantes simples e alegre, adquirira feição sombria.
A esposa fizera-se escrava de mil obrigações destinadas a
matar o tempo; os filhos cochichavam entre si, consultando sobre a herança que
a morte do pai lhes reservaria; a amizade fiel desertara; os vizinhos,
acreditando-o completamente feliz, cercaram-no de inveja e ironia; as
autoridades da localidade em que vivia obrigavam-no a dobradas atitudes de
artifício, em desacordo com a sinceridade do seu coração.
Os negociantes visitavam-no, a cada instante,
propondo-lhe transações criminosas ou descabidas; servidores bajulavam-no, com
declarado fingimento quando ao lado de seus ouvidos, para lhe amaldiçoarem o
nome, por trás de portas semi-cerradas.
Em razão de tantos distúrbios, era compelido a
transformar a residência numa fortaleza, vigiando-se contra tudo e contra
todos.
Sobrava-lhe tempo, agora, para registrar as moléstias do
corpo e raramente passava algum dia sem as irritações do estômago ou sem dores
de cabeça.
Em poucas semanas de meticulosa observação, concluiu que
a fortuna trancafiada no cofre era motivo de desilusões e arrependimentos sem
termo.
Em certa noite, porque não mais tolerasse as preocupações
obcecantes do novo estado, orou em lágrimas, suplicando a inspiração do Senhor.
Depois da comovente rogativa, eis que um anjo lhe aparece
na tela evanescente do sonho e lhe diz, compadecido:
— Toda fortuna que
corre, à maneira das águas cristalinas da fonte, é uma bênção viva, mas toda
riqueza, em repouso inútil, é poço venenoso de águas estagnadas...
Por que exigiste um rio, quando o simples copo d’água te
sacia a sede? Como te animaste a guardar, ao redor de ti, celeiros tão recheados,
quando alguns grãos de trigo te bastam à refeição? Que motivos te induziram a
amontoar centenas de peles, em torno do lar, quando alguns fragmentos de lã te
aquecem o corpo, em trânsito para o sepulcro?...
Volta e converte a tua arca de moedas em cofre milagroso
de salvação! Estende os júbilos do trabalho, cria escolas para a sementeira da
luz espiritual e improvisa a alegria a muitos! Somente vale o dinheiro da Terra
pelo bem que possa fazer! Sob indizível espanto, o caçador de outro despertou
transformado e, do dia seguinte em diante, passou a libertar as suas enormes
reservas, para que todos os seus vizinhos tivessem junto dele, as bênçãos do
serviço e do bom ânimo...
Desde o primeiro sinal de semelhante renovação, a esposa
fixou-o com estranheza e revolta, os filhos odiaram-no e os seus próprios
beneficiados o julgaram louco; todavia, robustecido e feliz, o milionário
vigilante voltou a possuir no domicílio um santuário aberto e os gênios da
alegria oculta passaram a viver em seu coração.
Silenciando o Mestre, Tiago, que comandava a palestra da
noite, exclamou, entusiasta: — Senhor, que ensinamento valioso e sublime!...
Jesus sorriu e respondeu:
— Sim, mas apenas
para aqueles que tiverem “ouvidos de ouvir” e “olhos de ver”.
Neio Lúcio - Do Livro Jesus no Lar - Francisco C. Xavier
O ANJO DA LIMPEZA
Adélia ouvira falar em Jesus e tomara-se de tamanha
paixão pelo Céu que nutria um desejo único - ser anjo para servir ao Divino
Mestre.
Para isso, a boa menina fez-se humilde e crente, e,
quando se não achava na escola em contato com os livros, mantinha-se na câmara
de dormir em preces fervorosas.
Cercava-se de lindas gravuras, em que os artistas do
pincel lembram a passagem do Cristo entre os homens, e, em lágrimas, repetia: —
"Senhor, quero ser tua! quero servir-te!..."
A Mãezinha, em franca luta doméstica, embalde convidava-a
aos serviços da casa.
Adélia sorria, abraçava-se a ela e reafirmava o propósito
de preparar-se para a companhia do Divino Amigo.
A bondosa senhora, observando que o ideal da filha só
merecia louvores, deixava-a em paz com os estudos e orações de cada dia.
Meses correram sobre meses e a jovem prosseguia
inalterável.
Orando sempre, suplicava ao Senhor a transformasse num
anjo.
Decorridos dois anos de rogativas, sonhou, certa noite,
que era visitada pelo Mestre Amoroso.
Jesus envolvia-se em vasta auréola de claridade sublime.
A túnica luminosa, a cair-lhe dos ombros com graça e beleza, parecia de neve
coroada de sol.
Estendendo-lhe a destra compassiva, o Cristo
observou-lhe:
— Adélia, ouvi tuas súplicas e venho ao teu encontro.
Desejas realmente servir-me?
— Sim, Senhor! - respondeu a pequena, inflamada de
comoção jubilosa, convencida de que o Salvador a conduziria naquele mesmo
instante para o Céu.
— Ouve! - tornou o Mestre, docemente.
Ansiosa de pôr-se a caminho do paraíso, a jovem replicou,
reverente:
— Dize, Senhor! estou pronta!... Leva-me contigo,
sinto-me aflita para comparecer entre os que retêm a glória de servir-te no
plano celestial!...
O Cristo sorriu, bondoso, e considerou:
— Não, Adélia. Nosso Pai não te colocou inutilmente na
Terra. Temos enorme serviço neste mundo mesmo. Estimo tuas preces e teus
pensamentos de amor, mas preciso de alguém que me ajude a retirar o lixo e os
detritos que se amontoam, não longe de tua casa. Meninos cruéis prejudicaram a
rede de esgoto, a pequena distância do teu lar. Aí se concentra perigoso foco
de moléstias, ameaçando trabalhadores desprevenidos, mães devotadas e crianças
incautas. Vai, minha filha! Ajuda-me a salvá-los da morte. Estarei contigo,
auxiliando-te nessa meritória tarefa.
A menina preocupada quis fazer perguntas, mas o Mestre
afastou-se, de leve...
Acordou sobressaltada.
Era dia.
Vestiu-se à pressa e procurou a zona indicada. Corajosa,
muniu-se de desinfetantes, armou-se de enxada e vassoura, pediu a contribuição
materna, e o foco infeccioso foi extinto.
A discípula obediente, todavia, não parou mais.
Diariamente, ao regressar da escola, punha-se a colaborar
com a Mamãe, em casa, zelando também quanto lhe era possível pela higiene das
vias públicas e ensinando outras crianças a serem tão cuidadosas, quanto ela
mesma. Tanto trabalhou e se esforçou que, certo dia, o diretor do grupo escolar
lhe conferiu o título de Anjo da Limpeza. Professoras e colegas comemoraram
festivamente o acontecimento.
Chagada a noite, dormiu contente e sonhou que Jesus vinha
encontrá-la, de novo.
Nimbado de luz, abraçou-a, com ternura, e disse-lhe
brandamente:
— Abençoada sejas, filha minha! agora, que os próprios
homens te reconhecem por benfeitora, agradeço-te os serviços que me prestas
diariamente. Anjo da Limpeza na Terra, serás Anjo de Luz no Paraíso.
Em lágrimas de alegria intensa, Adélia despertou, feliz,
compreendendo, cada vez mais, que a verdadeira ventura reside em colaborar com
o Senhor, nos trabalhos do bem, em toda parte.
Francisco Cândido Xavier, Da obra: Alvorada Cristã. Ditado
pelo Espírito Neio Lúcio.
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