1 – O Reino dos Céus é semelhante a um homem pai de
família, que ao romper da manhã saiu a assalariar trabalhadores para a sua
vinha. E feito com os trabalhadores o ajuste de um dinheiro por dia, mandou-os
para a sua vinha. E tendo saído junto da terceira hora, viu estarem outros na
praça, ociosos. E disse-lhes: Ide vós também para a minha vinha, e dar-vos-ei o
que for justo. E eles foram. Saiu, porém outra vez, junto da hora sexta, e
junto da hora nona, e fez o mesmo. E junto da undécima hora tornando a sair, e
achou outros que lá estavam, e disse: por que estais vós aqui todo dia, ociosos?
Responderam-lhes eles: Porque ninguém nos assalariou. Ele lhes disse: Ide vós
também para a minha vinha. Porém, lá no fim da tarde, disse o senhor da vinha
ao seu mordomo: Chama os trabalhadores e paga-lhes o jornal, começando pelos
últimos e acabando nos primeiros. Tendo chegado, pois, os que foram junto da
hora undécima, recebeu cada um seu dinheiro. E chegando também os que tinham
ido primeiro, julgaram que haviam de receber mais; porém, também estes não
receberam mais do que um dinheiro cada um. E ao recebê-lo, murmuravam contra o
pai de família, dizendo: Estes que vieram por último não trabalharam senão uma
hora, e tu os igualaste conosco, que aturamos o peso do dia e da calma. Porém
ele, respondendo a um deles, lhe disse: Amigo, eu não te faço agravo; não
convieste tu comigo num dinheiro? Toma o que te pertence, e vai-te, que eu de
mim quero dar, também a este último, tanto quanto a ti. Visto isso, não me é
lícito fazer o que quero? Acaso o teu olho é mau, porque eu sou bom? Assim,
serão últimos os primeiros, e primeiros os últimos, porque são muitos os
chamados e poucos os escolhidos. (Mateus, XX: 1-16. Ver cap. XVIII, “Parábola
da Festa de Núpcias”.)
TEXTOS DE APOIO
OS QUINHENTOS DA GALILÉIA
Depois do Calvário, verificadas as primeiras
manifestações de Jesus no cenáculo singelo de Jerusalém, apossara-se de todos
os amigos sinceros do Messias uma saudade imensa de sua palavra e de seu
convívio. A maioria deles se apegava aos discípulos, como querendo reter as
últimas expressões de sua mensagem carinhosa e imortal.
O ambiente era um repositório vasto de adoráveis
recordações. Os que eram agraciados com as visões do Mestre se sentiam
transbordantes das mais puras alegrias. Os companheiros inseparáveis e íntimos
se entretinham em longos comentários sobre as suas reminiscências inapagáveis.
Foi quando Simão Pedro e alguns outros salientaram a
necessidade do regresso a Cafarnaum, para os labores indispensáveis da vida.
E, breves dias, as velhas redes mergulhavam de novo no
Tiberíades, por entre as cantigas rústicas dos pescadores.
Cada onda mais larga e cada detalhe do serviço sugeriam
recordações sempre vivas no tempo. As refeições ao ar livre lembravam o
contentamento de Jesus ao partir o pão; o trabalho, quando mais intenso, como
que avivava a sua e recomendação de bom ânimo; a noite silenciosa reclamava a
sua bênção amiga.
Embebidos na poesia da Natureza, os apóstolos organizavam
os mais elevados projetos, com relação ao futuro do Evangelho. A residência
modesta de Cefas, obedecendo às tradições dos primitivos ensinamentos,
continuava a ser o parlamento amistoso, onde cada um expunha os seus princípios
e as suas confidências mais recônditas. Mas ao pé do monte o Cristo se fizera
ouvir algumas vezes, exaltando as belezas do Reino de Deus e da sua justiça,
reunia-se invariavelmente todos os antigos seguidores mais fiéis, que se haviam
habituado ao doce alimento de sua palavra inesquecível. Os discípulos não eram
estranhos a essas rememorações carinhosas e, ao cair da tarde acompanhavam a
pequena corrente popular pela via das recordações afetuosas.
Falava-se vagamente de que o Mestre voltaria ao monte
para despedir-se. Alguns dos apóstolos aludiam às visões em que o Senhor
prometia fazer de novo ouvida a sua palavra num dos lugares prediletos das suas
pregações de outros tempos.
Numa tarde de azul profundo, a reduzida comunidade de
amigos do Messias, ao lado da pequena multidão, reuniu-se em preces, no sítio
solitário. João havia comentado as promessas do Evangelho, enquanto na encosta
se amontoava a assembléia dos fiéis seguidores do Mestre.
Viam-se, ali, algumas centenas de rostos embevecidos e
ansiosos. Eram romanos de mistura com judeus desconhecidos, mulheres humildes
conduzindo os filhos pobres e descalços, velhos respeitáveis, cujos cabelos
alvejavam de neve dos repetidos invernos da vida.
***
Nesse dia, como que antiga atmosfera se fazia sentir mais
fortemente. Por instinto, todos tinham a impressão de que o Mestre voltaria a
ensinar as bem-aventuranças celestiais. Os ventos recendiam suave perfume,
trazendo as harmonias do lago próximo. Do céu muito azul, como em festa para
receber a claridade das primeiras estrelas, parecia descer uma tranqüilidade
imensa que envolvia todas as coisas. Foi nesse instante, de indizível
grandiosidade, que a figura do Cristo assomou no cume iluminado pelos
derradeiros raios de Sol.
Era Ele.
Seu sorriso desabrochava tão meigo como ao tempo glorioso
de suas primeiras pregações, mas de todo o seu vulto se irradiava luz tão
intensa que os mais fortes dobravam os joelhos. Alguns soluçavam de júbilo,
presas das emoções mais belas de sua vida. As mãos do Mestre tomaram a atitude
de que abençoava, enquanto um divino silêncio parecia penetrar a alma das
coisas. A palavra articulada não tomou parte naquele banquete de luz imaterial;
todos, porém, lhe perceberam a amorosa despedida e, no mais intimo da alma, lhe
ouviram a exortação magnânima e profunda:
- "Amados - a cada um se afigurou escutar na câmara
secreta do coração -, eis que retorno a vida em meu Pai para regressar à luz do
meu Reino!... Enviei meus discípulos como ovelhas ao meio de lobos e vos
recomendo que lhes sigais os passos no escabroso caminho. Depois deles, é a vós
que confio a tarefa sublime da redenção pelas verdades do Evangelho. Eles serão
os semeadores, vós sereis o fermento divino. Instituo-vos os primeiros
trabalhadores, os herdeiros iniciais dos bens divinos. Para entrardes na posse do
tesouro celestial, muita vez experimentareis o martírio da cruz e o fel da
ingratidão... Em conflito permanente com o mundo, estareis na Terra, fora de
suas leis implacáveis e egoístas, até que as bases do meu Reino de concórdia e
justiça se estabeleçam no espírito das criaturas. Negai-vos a vós mesmos, como
neguei a minha própria vontade na execução dos desígnios de Deus, e tomai a
vossa cruz para seguir-me.
"Séculos de luta vos esperam na estrada universal. É
preciso imunizar o coração contra todos os enganos da vida transitória, para a
soberana grandeza da vida imortal. Vossas sendas estão repletas de fantasmas de
aniquilamento e de visões de morte. O mundo inteiro se levantará contra vós, em
obediência espontânea às forças tenebrosas do mal, que ainda lhe dominam as
fronteiras. Sereis escarnecidos e aparentemente desamparados; a dor vos
assolará as esperanças mais caras; andareis esquecidos na Terra, em supremo
abandono do coração. Não participareis do venenoso banquete das posses
materiais, sofrerei a perseguição e o terror tereis o coração coberto de
cicatrizes e de ultraje. A chaga é o vosso sinal, a coroa de espinhos, vosso
percurso ditoso da redenção. Vossa voz será a do deserto, provocando, muitas
vezes, o escárnio e a negação da parte dos que dominam na carne perecível.
"Mas, no desenrolar das batalhas incruentas do
coração, quando todos os horizontes estiverem abafados pelas sombras da
crueldade, dar-vos-ei da minha paz, que representa a água viva. Na existência
ou na morte do corpo, estareis unidos ao meu Reino. O mundo vos cobrirá de
golpes terríveis e destruidores, mas, de cada uma das vossas feridas, retirarei
o trigo luminoso para os celeiros infinitos da graça, destinados ao sustento
das mais ínfimas criaturas!... Até que o Reino se estabeleça na Terra, não
conhecereis o amor no mundo; eu, no entanto, encherei a vossa solidão com minha
assistência incessante. Gozarei em vós, como gozareis em mim, o júbilo celeste
da execução fiel dos desígnios de Deus. Quando tombardes, sob as arremetidas
dos homens ainda pobres e infelizes, eu vos levantarei no silêncio do caminho,
com as minhas mãos dedicadas ao vosso bem. Sereis a união onde houver
separatividade, sacrifício onde existir o falso gozo, claridade onde campearem
as trevas, porto amigo, edificado na rocha da fé viva, onde pairarem as sombras
da desorientação. Sereis meu refúgio nas igrejas mais estranhas da Terra, minha
esperança entre as loucuras humanas, minha verdade onde se perturbar a ciência
incompleta do mundo!...
"Amados, eis que também vos envio como ovelhas aos
caminhos obscuros e ásperos. Entretanto, nada temais! Sede fiéis ao meu
coração, como vos sou fiel, e o bom ânimo representará a vossa estrela! Ide ao
mundo, onde teremos de vencer o mal! Aperfeiçoemos a nossa escola milenária, para
que aí seja interpretada e posta em prática a Lei de Amor do Nosso Pai, em
obediência feliz à sua vontade augusta!"
Sagrada emoção senhoreara-se das almas em êxtase de
ventura. Foi então que observaram o Mestre, rodeado de luz, como a elevar-se ao
céu, em demanda de sua gloriosa esfera do infinito.
***
Os primeiros astros da noite brilhavam no alto, como
flores radiosas do Paraíso. No monte Galileu, cinco centenas de corações
palpitavam, arrebatados por intraduzível júbilo. Velhos trêmulos e
encarquilhados desceram a encosta, unidos uns aos outros, como solidários, para
sempre, no mesmo trabalho de grandeza imperecível. Anciãs de passo vacilante,
coroadas pela neve das experiências da vida, abraçavam-se às filhas e netas,
jovens e ditosas, tomadas de indefinível embriaguez d'alma. Romanos e judeus,
ricos e pobres confraternizavam, felizes, adivinhando a necessidade de cooperação
na tarefa santa. Os antigos discípulos, cercando a figura de Simão Pedro,
choravam de contentamento e esperança.
Naquela noite de imperecível recordação, foi confiado aos
quinhentos da Galiléia o serviço glorioso da evangelização das coletividades
terrestres, sob a inspiração de Jesus - Cristo. Mal sabiam eles, na sua mísera
condição humana, que a palavra do Mestre alcançaria os séculos do porvir. E foi
assim que, representando o fermento renovador do mundo, eles reencarnaram em
todos os tempos, nos mais diversos climas religiosos e políticos do planeta,
ensinando a verdade e abrindo novos caminhos de luz, através do bastidores
eternos do Tempo.
Foram eles os primeiros a transmitir a sagrada vibração
de coragem e confiança aos que tombaram nos campos do martírio, semeando a fé
no coração pervertido das criaturas. Nos circos da vaidade humana, nas
fogueiras e nos suplícios, ensinaram a lição de Jesus, com resignado heroísmo.
Nas artes e nas ciências, plantaram concepções novas de desprendimento do mundo
e de belezas do céu e, no seio das mais variadas religiões da Terra, continuam
revelando o desejo do Cristo, que é de união e de amor, de fraternidade e
concórdia.
Na qualidade de discípulos sinceros e bem-amados,
desceram aos abismos mais tenebrosos, redimindo o mal com os seus sacrifícios
purificadores, convertendo, com as luzes do Evangelho, à corrente da redenção,
os espíritos mais empedernidos. Abandonados e desprotegidos na Terra, eles
passam, edificando no silêncio as magnificências Reino de Deus, nos países dos
corações e, multiplicando as notas de seu cântico de glória por entre os que se
constituem instrumentos sinceros do bem com Jesus Cristo, formam a caravana sublime
que nunca se dissolverá.
Irmão X - Humberto de Campos - Do livro “Boa Nova”.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
A ORAÇÃO DO HORTO
Depois do ato de humildade extrema, de lavar os pés a
todos os discípulos, Jesus retomou o lugar que ocupava à mesa do banquete
singelo e, antes de se retirarem, elevou os olhos ao céu e orou assim,
fervorosamente, conforme relata o Evangelho de João:
Pai, santo, eis que é chegada a minha hora! Acolhe-me em
teu amor, eleva o teu filho, para que ele possa elevar-te, entre os homens, no
sacrifício supremo. Glorifiquei-te na Terra, testemunhei tua magnanimidade e
sabedoria e consumo agora a obra que me confiaste. Neste instante, pois, meu
Pai, ampara-me com a luz que me deste, muito antes que este mundo existisse!...
E fixando o olhar amoroso sobre a comunidade dos
discípulos, que silenciosos lhe acompanhavam a rogativa, continuou:
Manifestei o teu nome aos amigos que me deste; eram teu e
tu mos confiaste, para que recebessem a tua palavra de sabedoria e de amor.
Todos eles sabem agora que tudo quanto lhes dei provém de ti! Neste instante
supremo, Pai, não rogo pelo mundo, que é obra tua e cuja perfeição se verificará
algum dia, porque está nos teus desígnios insondáveis; mas, peço-te
particularmente por eles, pelos que me confiaste, tendo em vista o esforço a
que os obrigará o Evangelho, que ficará no mundo sobre os seus ombros
generosos. Eu já não sou da Terra; mas rogo-te que os meus discípulos amados
sejam unidos uns aos outros, como eu sou um contigo! Dei-lhes a tua palavra
para o trabalho santo da redenção das criaturas; que, pois, eles compreendam
que, nessa tarefa grandiosa, o maior testemunho é o do nosso próprio sacrifício
pela tua casa, compreendendo que estão neste mundo, sem pertencerem às suas
ilusórias convenções, por pertencerem só a ti, de cujo amor viemos todos para
regressar à tua magnanimidade e sabedoria, quando houvermos edificado o bom
trabalho e vencido na luta proveitosa. Que os meus discípulos, Pai, não façam
da minha presença pessoal o motivo de sua alegria imediata; que me sintam
sinceramente em suas aspirações, a fim de experimentarem o meu júbilo completo
em si mesmos. Junto deles, outros trabalhadores do Evangelho despertarão para a
tua verdade. O futuro está cheios desses operários dignos do salário celeste.
Será de algum modo, a posteridade do Evangelho do Reino que se perpetuará na
Terra, para glorificar a tua revelação! Protege-os a todos, Pai! Que todos
recebam a tua benção, abrindo seus corações às claridades renovadoras! Pai
justo, o mundo ainda não te conheceu; eu porém, te conheci e lhes fiz conhecer
o teu nome e a tua bondade infinita, para que o amor com que me tens amado esteja
neles e eu neles esteja ! ...
***
Terminada a oração, acompanhada em religioso silêncio por
parte dos discípulos, Jesus se retirou em companhia de Simão Pedro e dos dois
filhos de Zebedeu para o Monte das Oliveiras, onde costumava meditar. Os demais
companheiros se dispersaram, impressionados, enquanto Judas, afastando-se com
passos vacilantes, não conseguia aplacar a tempestade de sentimentos que lhe
devastava o coração.
O Crepúsculo Começava a cair sobre o céu claro. Apesar do
sol radioso da tarde a iluminar a paisagem soprava o vento em rajadas muito
frias.
Dai a alguns instantes, O Mestre e os três companheiros
alcançavam o monte, povoado de árvores frondosas, que convidavam ao pensamento
contemplativo.
Acomodando os discípulos em bancos naturais que as ervas
do caminho se incumbiam de adornar, falou-lhes o Mestre, em tom sereno e
resoluto:
– Esta é a minha derradeira hora convosco! Orai e vigiai
comigo, para que eu tenha a glorificação de Deus no supremo testemunho!
Assim dizendo, afastou-se à pequena distância onde
permaneceu em prece, cuja sublimidade os apóstolos não podiam observar. Pedro,
João e Tiago estavam profundamente tocados pelo que viam e ouviam. Nunca o
Mestre lhes parecera tão solene, tão convicto, como naquele instante de penosas
recomendações. Rompendo o silêncio que se fizera, João ponderou :
Oremos e vigiemos, de acordo com a recomendação do
Mestre, pois, se ele aqui nos trouxe, apenas nós três, em sua companhia, isso
deve significar para o nosso espírito a grandeza da sua confiança em nosso
auxílio.
Puseram-se a meditar silenciosamente. Entretanto, sem que
lograssem explicar o motivo, adormeceram no recurso da oração.
Passados alguns minutos, acordavam, ouvindo o Mestre que
lhe observava:
– Despertai! Não vos recomendei que vigiásseis? Não
podereis velar comigo, um minuto?
João e os companheiros esfregaram os olhos, reconhecendo
a própria falta. Então, Jesus, cujo olhar parecia iluminado por estranho
fulgor, lhes contou que fora visitado, por um anjo de Deus que o confortara
para o martírio supremo. Mais uma vez lhes pediu que orassem com o coração e
novamente se afastou. Contudo, os discípulos, insensivelmente, cedendo aos
imperativos do corpo e olvidando as necessidades do espírito, de novo
adormeceram era meio da meditação. Despertaram com o Mestre a lhes repetir :
– Não conseguistes, então, orar comigo?
Os três discípulos acordaram estremunhados. A paisagem
desolada de Jerusalém mergulhava na sombra.
Antes, porém, que pudessem justificar de novo a sua
falta, um grupo de soldados e populares aproximou-se, vindo Judas à frente.
O filho de Iscariote avançou e depôs na fronte do Mestre
o beijo combinado, ao passo que Jesus, sem denotar nenhuma fraqueza e deixando
a lição de sua coragem e de seu afeto aos companheiros, perguntou :
– Amigo, a que vieste?
Sua interrogação, todavia, não recebeu qualquer resposta.
Os mensageiros dos sacerdotes prenderam-no e lhe manietara as mãos, como se o fizessem
a um salteador vulgar.
***
Depois das cenas descritas com fidelidade nos Evangelhos,
observamos as disposições psicológicas dos discípulos, no momento doloroso.
Pedro e João foram os últimos a se separarem do Mestre bem-amado, depois de
tentarem fracos esforços pela sua libertação.
No dia seguinte, os movimentos criminosos da turba
arrefeceram o entusiasmo e o devotamento dos companheiros mais enérgicos e
decididos na fé. As penas impostas a Jesus eram excessivamente severas para que
fossem tentados a segui-lo. Da Corte Provincial ao palácio de Antipas, viu-se o
condenado exposto ao insulto e à zombaria. Com exceção do filho de Zebedeu, que
se conservou ao lado de Maria, até ao instante derradeiro, todos os que
integravam O reduzido colégio do Senhor debandaram. Receosos da perseguição,
alguns se ocultaram nos sítios próximos, enquanto outros, trocando as túnicas
habituais, seguiam, de longe, o inesquecível cortejo, vacilando entre a
dedicação e o temor.
O Messias, no entanto, coroando a sua obra com o
sacrifício máximo, tomou a cruz sem uma queixa, deixando-se imolar, sem
qualquer reprovação aos que o haviam abandonado, na hora ultima. Conhecendo que
cada criatura tem o seu instante de testemunho, no caminho de redenção da
existência, observou às piedosas mulheres que o cercavam banhadas em lágrimas:
– “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim, chorai por vós mesmas e por vossos
filhos!...”
Exemplificando a sua fidelidade a Deus, aceitou
serenamente os desígnios do céu, sem que uma expressão menos branda
contradissesse a sua tarefa purificadora.
Apesar da demonstração de heroísmo e de inexcedível amor,
que ofereceu do cimo do madeiro, os discípulos continuaram subjugados pela
dúvida e pelo temor, até que a ressurreição lhes trouxesse incomparáveis hinos
de alegria,
João, todavia, em suas meditações acerca do Messias
entrou a refletir maduramente sobre a oração do Horto das Oliveiras,
perguntando a si próprio a razão daquele sono inesperado, quando desejava
atender ao desejo de Jesus, orando em seu espírito até o fim das provas
ríspidas. Por que dormira ele, que tanto o amava, no momento em que o seu
coração amoroso mais necessitava de assistência e de afeto? Por que não
acompanhara a Jesus naquela prece derradeira, onde sua alma parecia apunhalada
por intraduzível angustia, nas mais dolorosas expectativas? A visão do Cristo
ressuscitado veio encontrá-lo absorto nesses amargurados pensamentos. Em oração
silenciosa, João se dirigia muitas vezes ao Mestre adorado, quase em lágrimas,
implorando-lhe perdoasse o seu descuido da hora extrema.
***
Algum tempo passou, sem que o filho de Zebedeu
conseguisse esquecer a falta de vigilância da véspera do martírio.
Certa noite, após as reflexões costumeiras, sentiu ele
que um sono brando lhe anestesiava os centros vitais. Como numa atmosfera de
sonho, verificou que o Mestre se aproximava. Toda a sua figura se destacava na
sombra,, com divino resplendor. Precedendo suas palavras o sereno sorriso dos
tempos idos, disse-lhe Jesus :
– João, a minha soledade no horto é também um ensinamento
do Evangelho e uma exemplificação! Ela significará, para quantos vierem em
nossos passos, que cada espírito na Terra tem de ascender sozinho ao calvário
de sua redenção, muitas vezes com a despreocupação dos entes mais amados do
mundo. Em face dessa lição, o discípulo do futuro compreenderá que a sua marcha
tem que ser solitária, estando seus familiares e companheiros de confiança a
dormir o sono da indiferença!
Doravante, pois, aprendendo a necessidade do valor
individual no testemunho, nunca deixes de orar e vigiar!...
Irmão X - Humberto de Campos - Do livro “Boa Nova”.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
A VINHA
“E disse-lhes: – Ide vós também para a vinha e dar-vos-ei
o que for justo. E eles foram.” –
Mateus, 20:4.
Ninguém poderá pensar numa Terra cheia de beleza e
possibilidades, mas vogando ao léu na imensidade universal.
O Planeta não é um barco desgovernado.
As coletividades humanas costumam cair em desordem, mas
as leis que presidem aos destinos da Casa Terrestre se expressam com absoluta
harmonia. Essa verificação nos ajuda a compreender que a Terra é a vinha de
Jesus. Aí, vemo-lo trabalhando desde a aurora dos séculos e aí assistimos à
transformação das criaturas, que, de experiência a experiência, se lhe integram
no divino amor.
A formosa parábola dos servidores envolve conceitos
profundos. Em essência, designa o local dos serviços humanos e refere-se ao volume
de obrigações que os aprendizes receberam do Mestre Divino.
Por enquanto, os homens guardam a ilusão de que o orbe
pode ser tablado de hegemonias raciais ou políticas, mas perceberão em tempo o
clamoroso engano, porque todos os filhos da razão, corporificados na Crosta da
Terra, trazem consigo a tarefa de contribuir para que se efetue um padrão de
vida mais elevada no recanto em que agem transitoriamente.
Onde quer que estejas, recorda que te encontras na Vinha
do Cristo.
Vives sitiado pela dificuldade e pelo infortúnio?
Trabalha para o bem geral, mesmo assim, porque o Senhor
concedeu a cada cooperador o material conveniente e justo.
Emmanuel - Pão
Nosso – Psicografia: Francisco Cândido Xavier
SERVIDOR DA ÚLTIMA
HORA
No estudo da posição daquele trabalhador de última hora,
credor de precioso salário, a que se reporta o Evangelho, mentalizemos uma
oficina com determinada tarefa a realizar.
Revelando as diretrizes, que lhe governam a experiência, convocou
diversos operários para o serviço em expectação.
Os primeiros chegados, quando a manhã surgia promissora,
começaram a examinar indefinidamente a obra, discutindo particularidades e rusgas,
com menosprezo do tempo.
Os segundos, trazidos a realização, sentiram-se
repentinamente cansados, acreditando muito mais na própria indisposição
orgânica que no poder de agir que lhes era peculiar.
Os terceiros, transportados ao recinto quando o Sol
avançava, preferiram invariável repouso, à espera de orientação e
esclarecimento, como se a oficina lhes não houvesse ofertado, previamente, o
programa de ação.
Os demais, conduzidos à casa nas derradeiras horas do
dia, estacionaram na queixa e no desânimo, no medo e na distração...
Acotovelavam-se todos, inutilmente, esquecidos de que o
serviço lhes rogava devotamento e consagração.
Eis, porém, que nos últimos instantes do dia, o servidor
diligente é trazido ao trabalho e atende-o sem discussão.
Naturalmente que a esse o vencimento é mais justo, pelo
esforço construtivo que lhe assinalou a presença e lhe marcou a decisão.
Conserva contigo o ensinamento do Divino Mestre e não
desfaleças.
Ao longo de teus passos, aparece no mundo a sementeira do
bem, que te pede renúncia e boa vontade, sacrifício e compreensão.
Desperta e efetua a obra de amor a que foste chamado,
porque o valor de tua existência na carne não será conferido pelos dias longos
que desfrutes na Terra ou pelos tesouros do corpo e da alma que retenhas
contigo, mas, sim, pela tarefa executada no bem incessante que te será coroa de
luz, na luz da Vida Real.
Onde fores defrontado pela calúnia, sê a palavra amiga do
esclarecimento benéfico.
Indolência e desânimo, são ervas parasitárias,
aniquilando-te a produção.
Livro: ALVORADA DO REINO - Francisco Cândido Xavier -
Emmanuel
JESUS NA SAMARIA
Descendo Jesus de Jerusalém para Cafarnaum, seguido de
alguns discípulos, nas suas habituais jornadas a pé, alcançou a Samaria*,
quando o crepúsculo já se fazia mais sombrio.
Felipe, André e Tiago, estando com fome, deixaram o
Mestre a repousar junto de uma pequena herdade e demandaram o lugarejo mais
próximo, em busca de alimento.
O Messias, olhando em torno de si, reconheceu que se
encontrava ao lado da Fonte de Jacob. Envolvida nos revérberos do Sol que ia
ceder lugar às sombras da noite que se aproximava, uma mulher acercou-se do
antigo poço e observou que o Mestre lhe ia ao encontro com a bela e costumeira
placidez do semblante, e lhe pedia de beber.
- Como sendo tu um judeu, me pedes um favor a mim, que
sou samaritana?
Jesus descansou na interlocutora o olhar tranqüilo e
redargüiu :
- Os judeus e samaritanos terão por ventura, necessidades
diversas entre si? Bem se vê que não conheces os dons de Deus, porquanto se
houvesse guardado os mandamentos divinos, compreenderias que te posso dar água
viva.
- Que vem a ser essa água viva? – inquiriu a samaritana
impressionada. Onde a tens, se a água aqui existente é apenas a deste poço?
Acaso serias maior que nosso pai Jacob que nô-la deu desde o princípio?
- Mulher, a água viva é aquela que sacia toda sede: vem
do amor infinito de Deus e santifica as criaturas.
E envolvendo a samaritana no doce magnetismo de seu
olhar, continuou:
Este poço de Jacob secará um dia. No leito da terra em que
agora repousam suas águas claras, a serpente poderá fazer seu ninho. Não sentes
a verdade de minhas afirmativas, ante a tua sede de todos os dias? Não obstante
levares cheio o cântaro, voltarás logo ao poço, com uma nova sede. Entretanto,
os que beberem da água viva estarão eternamente saciados. Para esses não mais
haverá a necessidade material que se renova a cada instante da vida. Perene
conforto lhes refrescará os corações através dos caminhos mais acidentados, sob
o sol ardente dos desertos do mundo...
A mulher escutava presa de funda impressão, aquelas
palavras que lhe chegavam ao santuário do espírito com a solenidade de uma
revelação.
- Senhor, dá-me dessa água ! - exclamou interessada.
- Mas ouve! - disse-lhe Jesus. E o Mestre passou a
esclarecê-la sobre fatos e circunstâncias íntimas de sua vida particular,
explicando-lhe o que se fazia necessário para que a sagrada emoção do amor
divino lhe iluminasse a alma, afastando-a de todas as circunstâncias penosas da
existência material.
Observando que não havia segredos para Jesus, a
samaritana chorou e respondeu:
- Senhor, vejo que és de fato um profeta de Deus.Meu
espírito está cheio de boa vontade e desde muito ,penso na melhor maneira de
purificar a minha vida e santificar os meus atos. Entretanto, é tal a confusão
que observo em torno de mim, que não sei como adorar a Deus. Os meus familiares
e vizinhos afirmam que é indispensável celebrar o culto ao todo Poderoso neste
monte (Garizim). Os judeus nos combatem e asseveram que nenhuma cerimônia terá valor
fora dos muros de Jerusalém. As discórdias nesta Região têm chegado ao cúmulo.
Já que tenho a felicidade de ouvir as tuas palavras, ensina-me o melhor
caminho.
O Mestre observou-a compadecido e exclamou:
- Tens razão. As divergências têm implantado a maior
desunião entre os membros da grande família humana. Entretanto, o pastor vem ao
redil para reunir as ovelhas que os lobos dispersaram. Em verdade, afirmo-te
que virá um tempo em que não se adorará a Deus nem neste monte, nem no templo
suntuoso de Jerusalém. Porque o Pai é Espírito e só em espírito deve ser
adorado. Por isso venho abrir o templo dos corações sinceros para que todo
culto a Deus se converta em íntima comunhão entre o homem e seu criador.
Suave silêncio se fez entre ambos.Enquanto jesus parecia
sondar o invisível com o seu luminoso olhar, a samaritana meditava.
Daí a alguns instantes, acompanhados de grande número de
populares, chegavam os discípulos, admirando-se todos de encontrarem o Messias
em conversação íntima com uma mulher. Nenhum deles todavia aventurou qualquer
observação menos digna ou imprudente. Observando que o Messias
se preparava para retirar-se em busca da aldeia mais
próxima,a samaritana impressionada com as suas revelações, solicitou a presença
de seus familiares e vizinhos, a fim de lhe ouvirem a palavra.
Tiago e André haviam trazido pão e frutas, insistindo com
Jesus para que se alimentasse. O Mestre, porém, aproveitou o instante pra mais
uma vez ensinar o caminho do Reino, com as palavras amigas, compondo parábolas
singelas. Muita gente se aglomerava para ouvi-lo. Eram viajantes que demandavam
regiões diferentes, a par de grande grupo de samaritanos de opiniões exaltadas.
A enorme assembléia se pôs a caminho, mas o Messias continuou espalhando as
suas promessas de esperança e consolação.
Nesse ínterim, Felipe consultou os companheiros e,
aproximando-se de Jesus, rogou-lhe carinhosamente:
- Mestre, por favor, aceitai um pouco de pão.
- Não de preocupes, Felipe – disse o Messias. – Não tenho
fome. Aliás, recebo um alimento que talvez meus próprios discípulos ainda não
puderam conhecer.
- Qual? – atalhou o apóstolo com interesse.
- Antes de tudo, meu alimento é fazer a vontade daquele
Pai misericordioso e justo que a este mundo me enviou, a fim de ensinar o seu
amor e a sua verdade. Meu sustento é realizar sua obra.
- É verdade – observou o discípulo, olhando a multidão
que os acompanhava. Levaremos para Cafarnaum mais este triunfo, porque é
incontestável que obtiveste aqui entre os samaritanos um dos nossos maiores
êxitos.
Tiago e André ouviam silenciosos o diálogo.
Às palavras entusiásticas do apóstolo, o Mestre sorriu e
acrescentou:
- Não é isso propriamente o que me interessa. O êxito
mundano pode ser uma ondulação de superfície. O que necessitamos em todas as
situações é atender o que o Pai deseja de nós. Como todo o seu apelo é o do
bem, eu trabalho, mas sem me prender ao anseio das vitórias imediatas.
E dirigindo o olhar para a turba compacta de seus
seguidores, exclamou para os companheiros:
Acaso já poderíamos admitir que somos compreendidos?
Calemo-nos por alguns instantes a fim de ouvirmos a opinião dos que nos seguem
os passos.
Fez-se silêncio entre ele e os três discípulos, de modo
que podiam ouvir distintamente os diálogos travados entre os que os
acompanhavam.
_ Acreditas que seja este homem o Cristo prometido? –
perguntava um samaritano de boa figura a seus amigos – De minha parte, não
aceito semelhante impostura. Este
nazareno é um explorador da piedade popular
- É certo
– concordava o interpelado –mesmo porque em sua terra, não chega a valer um
denário. Pelos parentes é tido como inimigo do trabalho e há quem duvide da sua
preguiçosa cabeça.
- É um louco de boa aparência – exclamava uma mulher
idosa para a filha – pelo menos esta é a opinão que já ouvi de habitantes de
Cafarnaum; entretanto para mim, acredito que seja um grande velhaco. Porque se
meteu com pescadores quando alega ser tão sábio? Por que não se transfere para
Jerusalém ou Tiberíades? Bem sabe a razão disso. Lá encontraria homens cultos,
que lhe confundiriam a presunção.
Mais próximo de Jesus, um rapaz sentenciava em voz
discreta:
- Quando chegamos, foi ele achado sozinho com uma mulher.
Que te parece esta circunstância?
- Perguntava a um companheiro de caminhada.
- Certamente desejava salva-la a seu modo. – Replicou com
malicioso riso o inquirido.
Num grupo vizinho, falava-se acaloradamente:
- Este homem é um espertalhão orgulhoso – dizia convicto
um velhote – só faz milagres junto das grandes multidões, para que sintam
virtudes sobrenaturais nas suas mágicas.
E não tem caridade – acrescentou outro – pois ainda há
pouco tempo, quando o procuraram em Cafaraum para um sinal do Céu, fugiu para o
monte, sob o protesto de fazer orações.
A noite começava a cair de todo. No alto brilhavam as
primeiras estrelas. Jesus sentou-se com os discípulos, à margem do caminho,
para um momento de repouso.
André , Tiago e Felipe estavam espantados com o que
tinham visto e ouvido. Aparentemente o Mestre aureolado de imenso êxito;
entretanto, verificaram a profunda incompreensão do povo. Foi então que Jesus,
com a serenidade de todos os instantes os esclareceu cheio de sua bondade
imperturbável:
- Não vos admireis da lição deste dia. Quando veio o
Batista, procurou o deserto, nutrindo-se de mel selvagem. Os homens alegaram
que em sua companhia estava o espírito de Satanás. A mim, pelo motivo de
participar das alegrias do Evangelho, chama-me glutão e beberrão. Esta é a
imagem do campo onde temos que operar. Por toda parte encontraremos samaritanos
discutidores, atentos aos êxitos e referências do mundo. Observai a estrada
para não cairdes, porque o discípulo do Evangelho não se pode preocupar senão
com a vontade de Deus, com o seu trabalho sob as vistas do Pai e com a
aprovação de sua consciência.
Irmão X - Humberto de Campos - Do livro Boa Nova.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
PARÁBOLA DOS
TRABALHADORES DA VINHA
“Porque o Reino dos Céus é semelhante a um proprietário,
que saiu de madrugada a assalariar trabalhadores para a sua vinha. E feito com
os trabalhadores o ajuste de um denário por já, mandou-os para a sua vinha.
Tendo saído cerca da hora terceira, viu estarem outros na
praça desocupados, e disse-lhes: de também vós para a minha vinha, e vos darei o
que for justo. E eles foram. Saiu outra vez cerca da hora sexta, e da nola, e
fez o mesmo. E cerca da undécima, saiu e achou outros que lá estavam e
perguntou-lhes: Por que estais aqui todo o ia desocupados?
Responderam-lhe: Porque ninguém nos assalariou.
Disse-lhes: Ide também para a minha vinha. A tarde, disse o dono da vinha ao
ser administrador:
Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando
pelos últimos e acabando pelos primeiros. Tendo chegado os que tinham sido
assalariados cerca da undécima hora, receberam um denário cada um. E vindo os primeiros,
pensavam que haviam de receber mais; porém, receberam igualmente um denário
cada um. Ao receberem-no, murmuravam contra o proprietário, alegando: Estes
últimos trabalharam somente uma hora, e os igualaste a nós, que suportamos o
peso do dia e o calor extremo! Mas o proprietário disse a um deles: Meu amigo,
não te faço injustiça; tão ajustaste comigo por um denário? Toma o que é teu e
vai embora, pois quero dar a este último tanto como a ti. Não me é licito fazer
o que me apraz do que é meu? Acaso o teu olho é mau, porque eu sou bom? Assim os
últimos serão os primeiros, os primeiros serão os últimos.” (Mateus XX, 1 –
16.)
As condições essenciais para os trabalhadores são: a
constância, o desinteresse, a boa vontade e o esforço que azem no trabalho que assumiram.
Os bons trabalhadores e distinguem por estes característicos.
O mercenário trabalha pelo dinheiro; seu único fito, sua
única aspiração é receber o salário. O verdadeiro operário, o artista, trabalha
por amor à Arte. Assim é em todas as ramificações dos conhecimentos humanos: há
os escravos do dinheiro e há o operário do progresso. Na lavoura, na indústria,
como nas Artes e Ciências, destacam-se sempre o operário e o mercenário.
O materialismo, a materialidade, a ganância do ouro,
arranjaram, na época em que nos achamos, mais escravos do que a Vinha arranjou
mais obreiros. Por isso, grande é a seara e poucos são os trabalhadores!
Na Parábola, pelo que se depreende, não se faz questão da
quantidade do trabalho, mas sim da qualidade, e, ainda mais, da permanência do obreiro
até o fim. Os que trabalharam na Vinha, desde a manhã até à noite, não
mereceram maior salário que os que trabalharam uma única hora, dada a qualidade
do trabalho.
Os que chegaram por último, se tivessem sido chamados à
hora terceira teriam feito, sem dúvida, o quádruplo do que fizeram aqueles que a
essa hora foram para o serviço. Daí a lembrança do Proprietário da
Vinha de pagar primeiramente os que fizeram aparecer
melhor o serviço e mais desinteressadamente se prestaram ao trabalho para o
qual foram chamados.
Esta Parábola, em parte, dirige-se muito bem aos espíritas.
Quantos deles por ar andam, sem estudo, sem prática, sem orientação, fazendo
obra contraproducente e ao mesmo tempo abandonando seus interesses pessoais seus
deveres de família, seus deveres de sociedade!
Na Seara chega-se a encontrar até os vendilhões que
apregoam sua mercadoria pelos jornais como o mercador na praça pública, sempre visando
bastardos Interesses. Ora são médiuns mistificadores que exploram a saúde
pública; ora são “gênios” capazes de abalar os céus para satisfazerem a
curiosidade dos ignorantes. Enfim são muitos os que trabalham, mas poucos os
que ajuntam, edificam, tratam, como devem, a
Vinha que foi confiada à sua ação.
Há uma outra ordem de espíritas que nenhum proveito tem
dado ao Espiritismo. Encerram-se entre quatro paredes, não estudam, não lêem, e
passam a vida a doutrinar espíritos.
Não há; dúvida de que trabalham estes obreiros; mas,
pode-se comparar a sua obra com a dos que se expõem ao ridículo, ao ódio, à injúria,
à calúnia, no largo campo da propaganda? Podem-se comparar os enclausurados
numa sala, fazendo trabalhos secretos e às mais das vezes improfícuos, com os
que sustentam, aqui fora, renhida luta e se batem, a peito descoberto, pelo triunfo
da causa que desposaram?
Finalmente, a Parábola conclui com a lição sobre os olhos
maus: os invejosos que cuidam mais de si próprios que da coletividade; os personalistas,
os egoístas que vêem sempre mal as graças de Deus em seus semelhantes, e a querem
todas para si.
Na História do Cristianismo realça a Parábola da Vinha
com os característicos dos seus obreiros. “O que era é o que é”, diz o
Eclesiastes; e o que se passou é o que se está passando agora com a Revelação
Complementar do Cristo. Há os chamados pela madrugada, há
os que chegaram à hora terceira, à hora sexta, a nona e a undécima. Na verdade estamos
na hora undécima e os que ouvirem o apelo e souberem trabalhar como os da hora
undécima de outrora, serão os primeiros a receber o salário, porque agora como
então, o pagamento começará pelos últimos.
Ai dos que clamarem contra a vontade do Senhor da Vinha!
Ai dos malandros, dos mercenários, dos inscientes!.
CAIRBAR SCHUTEL – PARÁBOLAS E ENSINOS DE JESUS
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