14 – Quantas vezes perdoarei ao meu irmão? Perdoá-lo-eis,
não sete vezes, mas setenta vezes sete. Eis um desses ensinos de Jesus que
devem calar em vossa inteligência e falar bem alto ao vosso coração. Comparai
essas palavras misericordiosas com a oração tão simples, tão resumida, e ao
mesmo tempo tão grande nas suas aspirações, que Jesus ensinou aos discípulos, e
encontrareis sempre o mesmo pensamento. Jesus, o justo por excelência, responde
a Pedro: Perdoarás, mas sem limites; perdoarás cada ofensa, tantas vezes
quantas ela vos for feita; ensinarás a teus irmãos esse esquecimento de si
mesmo, que nos torna invulneráveis às agressões, aos maus tratos e às injúrias,
serás doce e humilde de coração, não medindo jamais a mansuetude; e farás,
enfim, para os outros, o que desejas que o Pai celeste faça por ti. Não tem Ele
de te perdoar sempre, e acaso conta o número de vezes que o seu perdão vem
apagar as tuas faltas?
Ouvi, pois essa resposta de Jesus, e como Pedro,
aplicai-a a vós mesmos. Perdoai, usai a indulgência, sede caridosos, generosos,
e até mesmo pródigos no vosso amor. Daí, porque o Senhor vos dará; abaixai-vos,
que o Senhor vos levantará; humilhai-vos, que o Senhor vos fará sentar à sua
direita.
Ide, meus bem-amados, estudai e comentai essas palavras
que vos dirijo, da parte daquele que, do alto dos esplendores celestes, tem
sempre os olhos voltados para vós, e continua com amor a tarefa ingrata que
começou há dezoito séculos. Perdoai, pois, os vossos irmãos, como tendes
necessidade de ser perdoados. Se os seus atos vos prejudicaram pessoalmente, eis
um motivo a mais para serdes indulgentes, porque o mérito do perdão é
proporcional à gravidade do mal, e não haveria nenhum em passar por alto os
erros de vossos irmãos, se estes apenas vos incomodassem de leve.
Espíritas, não vos olvideis de que, tanto em palavras
como em atos, o perdão das injúrias nunca deve reduzir-se a uma expressão
vazia. Se vos dizeis espíritas, sede-o de fato: esquecei o mal que vos tenham
feito, e pensai apenas numa coisa: no bem que possais fazer. Aquele que entrou
nesse caminho não deve afastar-se dele, nem mesmo em pensamento, pois sois
responsáveis pelos vossos pensamentos, que Deus conhece. Fazei, pois, que eles
sejam desprovidos de qualquer sentimento de rancor. Deus sabe o que existe no
fundo do coração de cada um. Feliz aquele que pode dizer cada noite, ao dormir:
Nada tenho contra o meu próximo.
PAULO - Apóstolo, Lyon, 1861
15 – Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si mesmo;
perdoar aos amigos é dar prova de amizade; perdoar as ofensas é mostrar que se
melhora. Perdoai, pois, meus amigos, para que Deus vos perdoe. Porque, se
fordes duros, exigentes, inflexíveis, se guardardes até mesmo uma ligeira
ofensa, como quereis que Deus esqueça que todos os dias tendes grande
necessidade de indulgência? Oh, infeliz daquele que diz: Eu jamais perdoarei,
porque pronuncia a sua própria condenação! Quem sabe se, mergulhando em vós
mesmos, não descobrireis que fostes o agressor? Quem sabe se, nessa luta que
começa por um simples aborrecimento e acaba pela desavença, não fostes vós a
dar o primeiro golpe? Se não vos escapou uma palavra ferina? Se usaste de toda
a moderação necessária? Sem dúvida o vosso adversário está errado ao se mostrar
tão suscetível, mas essa é ainda uma razão para serdes indulgentes, e para não
merecer ele a vossa reprovação. Admitamos que fosseis realmente o ofendido, em
certa circunstância. Quem sabe se não envenenastes o caso com represálias,
fazendo degenerar numa disputa grave aquilo que facilmente poderia cair no
esquecimento? Se dependeu de vós impedir as conseqüências, e não o fizestes,
sois realmente culpado. Admitamos ainda que nada tendes a reprovar na vossa
conduta, e, nesse caso, maior o vosso mérito, se vos mostrardes clemente.
Mas há duas maneiras bem diferentes de perdoar: há o
perdão dos lábios e o perdão do coração. Muitos dizem do adversário: “Eu o
perdôo”, enquanto que, interiormente, experimentam um secreto prazer pelo mal
que lhe acontece, dizendo-se a si mesmo que foi bem merecido. Quantos dizem:
“Perdôo”, e acrescentam: “mas jamais me reconciliarei; não quero vê-lo pelo
resto da vida”! É esse o perdão segundo o Evangelho? Não. O verdadeiro perdão,
o perdão cristão, é aquele que lança um véu sobre o passado. É o único que vos
será levado em conta, pois Deus não se contenta com as aparências: sonda o
fundo dos corações e os mais secretos pensamentos, e não se satisfaz com palavras
e simples fingimentos. O esquecimento completo e absoluto das ofensas é próprio
das grandes almas; o rancor é sempre um sinal de baixeza e de inferioridade.
Não esqueçais que o verdadeiro perdão se reconhece pelos atos, muito mais que
pelas palavras.
TEXTOS DE APOIO
JESUS E PERDÃO
Ensinando o amor para com os inimigos vejamos como
procedia Jesus, diante daqueles que lhe hostilizavam a causa e lhe feriam o
coração.
Em circunstância alguma vemo-lo a derramar-se,
louvaminheiro, encorajando os que se mantinham no erro deliberado, mas sim
renovando sempre o processo de auxiliar com esquecimento de toda injúria.
Diante da turba que O preferia a Barrabás, o delinquente
confesso, não se entrega ao elogio da multidão, mas guarda dignidade e
silêncio, tolerando-lhe a afronta.
Perante Pilatos, o juiz inseguro, não lhe beija as mãos
lavadas, mas sim, pela conduta de vítima irreprochável, lhe devolve o espírito
inconsequente à noção de responsabilidade própria.
Em plena rua, cambaleante sob o lenho do suplício, não se
volta para sorrir aos ingratos que lhe cospem no rosto, mas ora por todos eles,
confiando-os ao tempo que é o julgador invisível da Humanidade.
Na cruz não toma a palavra para agradecer a inconstância
de Pedro ou a fraqueza de Judas, nem faz voto festivo aos sacerdotes que lhe
insultam a Doutrina de Amor, mas a todos contempla, se mágoa, pedindo perdão
para a ignorância de quantos Lhe impunham a humilhação e a morte.
E olvidando os verdugos e adversários, ei-Lo que torna ao
convívio das criaturas, em pleno terceiro dia depois do túmulo em trevas, a
fazer ressurgir para a Terra enoitada a radiante mensagem da Luz.
Desculpar aos que nos ofendem não será comungar-lhes a
sombra, mas sim esquecer-lhes os golpes e seguir para a frente, trabalhando e
aprendendo, amparando e servindo sempre, na exaltação do bem para que o mundo
em nós outros se liberte do mal.
Do Livro: Abrigo
de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel
PERDOA AGORA
Emmanuel
Não te detenhas!
Torna à presença do companheiro que te feriu e perdoa,
ajudando-o a recuperar-se.
Reflete e ampara-o!
Quantas dores e quantas perturbações lhe vergastaram a
alma, antes que a palavra dele se erguesse para ofender-te ou antes que o seu
braço, armado pela incompreensão, deferisse contra ti o golpe deprimente?
Guarda a calma e auxilia, sem cessar.
Mais tarde, é possível que não possas, por tua vez,
suportar o horrendo assalto da ira e reclamarás, igualmente, o bálsamo da
alheia compreensão.
Retorna ao teu lar ou à tua luta e espalha, de novo, a
bênção do amor, com todos os corações que jazem envenenados, pelo fel da
crueldade ou pela peçonha da calúnia.
Não hesites, porém! Perdoa agora, enquanto a oportunidade
de reaproximação te favorece os bons desejos porque, provavelmente, amanhã, o
ensejo luminoso terá passado e não encontrarás, ao redor de ti senão a cinza do
arrependimento e o choro amargo da inútil lamentação.
Emmanuel - Francisco Cândido Xavier - Livro: Assim Vencerás
ANTE O OFENSOR
Aquele que nos fere terá assumido, aos nossos olhas, a
feição de inimigo terrível, no entanto, o Divino Mestre que tornamos por guia
de nosso pensamento e conduta, determina venhamos a perdoá-lo setenta vezes
sete.
Por outro lado, as ciências psicológicas da atualidade,
absolutamente concordes com Jesus, asseveram que é preciso desinibir o coração
de quaisquer ressentimentos e estabelecer o equilíbrio na governança de nossas
potências mentais a fim que a tranquilidade se nos expresse na existência em
termos de saúde e harmonia.
Como, porém, realizar semelhante feito?
Entendendo-se que a compreensão não é fruto de
afirmativas labiais, é forçoso reconhecer que o perdão exige operações
profundas nas estruturas da consciência.
Se um problema desse nos aflora ao cotidiano, – à nós, os
que aspiramos a seguir o Cristo, – pensemos primeiramente em nosso opositor na
condição de filho de Deus, tanto quanto nós, e situando-nos no lugar dele,
imaginemos em como estimaríamos que a Lei de Deus nos tratasse, em
circunstâncias análogas.
De imediato observaremos que Deus está em nosso assunto
desagradável tanto quanto um pai amoroso e sábio se encontra moralmente na
contenda dos filhos.
Então, à luz do sentimento novo que nos brotará do ser,
examinaremos espontaneamente até que ponto teremos ditado o comportamento do
adversário para conosco.
Muito difícil nos vejamos com alguma parte de culpa nos
sucessos indesejáveis de que nos fizemos vítimas, mas ao influxo da Divina
Providência, a cujo patrocínio recorremos, ser-nos-á possível recordar os
nossos próprios impulsos menos felizes, as sugestões delituosas que teremos
lançado a esmo, as pequenas acusações indébitas e as diminutas desconsiderações
que perpetramos, às vezes, até impensadamente, sobre o companheiro que não mais
resistiu à persistência de nossas provocações, caindo, por fim, na situação de
inimigo perante nós outros.
Efetuando o auto exame, a visão do montante de nossas
falhas não mais nos permitirá emitir qualquer censura em prejuízo de alguém.
Muito pelo contrário, proclamaremos, de pronto, no mundo
íntimo a urgente necessidade da Misericórdia Divina para o nosso adversário e
para nós.
Então, não mais falaremos no singular, diante daquele que
nos fere: – "eu te perdôo" e sim, perante qualquer ofensor com que
sejamos defrontados no caminho da vida, diremos sinceramente a Deus em oração:
– “Pai de Infinita Bondade, perdoai a nós dois."
Emmanuel - Do livro Atenção. Psicografia de Francisco
Candido Xavier.
NA HORA DA CRUZ
Quando o Mestre se afastou do Pretório, suportando o madeiro
a que fora sentenciado pelo povo em desvario, pungentes reflexões lhe assomavam
ao pensamento.
Que fizera senão o bem? Que desejara aos perseguidores
senão a bênção da alegria e a visitação da luz?
Quando receberiam os homens o dom da fraternidade e da
paz?
Devotara-se aos doentes com carinho, afeiçoara-se aos
discípulos com fervor... Entretanto, sentia-se angustiadamente só.
Doíam-lhe os ombros dilacerados.
Porque fora libertado Barrabas, o rebelde, e condenado ele,
que reverenciava a ordem e a disciplina?
Em derredor, judeus irritados ameaçavam-no erguendo os
punhos, enquanto legionários semi ébrios proferiam maldições.
A saliva dos perversos fustigava-lhe o rosto e, inclinando-o
para o solo, a cruz enorme pesava...
“Ó, Pai! – refletia, avançando dificilmente – que fiz
para receber semelhante flagelação?”
Anciãs humildes tentavam confortá-lo, mas, curvado qual se
via, nem mesmo lhes divisava os semblantes.
“Porque a cruz? – continuava meditando, agoniado – porque
lhe cabia tolerar o martírio reservado aos criminosos?”
Lembrou as crianças e as mulheres simples da Galileia,
que lhe compreendiam o olhar, recordando, saudoso, o grande lago, onde sentia a
presença do Todo-Compassivo, na bondade da natureza...
Lágrimas quentes borbotaram-lhe dos olhos feridos,
lágrimas que suas mãos não conseguiam enxugar.
Turvara-se-lhe a visão e, incapaz de mais seguro
equilíbrio sobre o pedregulho do caminho estreito, tropeçou e caiu de joelhos.
Guardas rudes vergastaram-lhe a face com mais violência.
Alguns deles, porém, acreditando-o sob incoercível cansaço,
obrigaram Simão, o Cireneu, que voltava do campo, a auxiliá-lo na condução do
madeiro.
Constrangido, o lavrador tomou sobre os ombros o terrível
instrumento de tortura e só então conseguiu Jesus levantar a cabeça e
contemplar a multidão que se adensava em torno.
E observando a turba irada, oh! sublime transformação!...
Notou que todos os circunstantes estavam algemados a
tremendas cruzes, invisíveis ao olhar comum.
O primeiro que pode analisar particularmente foi Joab, o
cambista, velho companheiro de Anás, nos negócios do Templo. Ele se achava
atado ao lenho da usura. Vociferava, aflito, escancarando a garganta sequiosa
de ouro.
Não longe, Apolônio, o soldado da coorte, mostrava-se
agarrado à enorme cruz da luxuria, repleta de vermes roazes a lhe devorarem o próprio
corpo.
Caleb, o incensador, berrava frenético, entretanto,
apresentava-se jungido ao madeiro do remorso por homicídios ocultos.
Amós, o mercador de cabras, arrastava a cruz da
enfermidade que o forçava a sustentar-se em vigorosas muletas. José de
Arimateia, o amigo generoso, que o seguia, discreto, achava-se preso ao frio
lenho dos deveres políticos, e Nicodemos, o doutor da lei, junto dele, vergava,
mudo, sob o estafante madeiro da vaidade.
Todas as criaturas daquele estranho ajuntamento traziam
consigo flagelações diversas.
O Mestre reconhecia-as, acabrunhado.
Eram cruzes de ignorância e miséria, de revolta e
concupiscência, de aflição e despeito, de inveja e iniquidade.
Tentou concentrar-se em maior exame, contudo, piedosas
mulheres em lágrimas acercaram-se dele, de improviso.
- Senhor, que será de nós, quando partires? – gritava uma
delas.
- Senhor, compadece-te de nossa desventura! – suplicava
outra.
- Senhor, nós te lamentamos!...
- Mestre, pobre de ti!
O Cristo fitou-as, admirado.
Todas exibiam asfixiantes padecimentos.
Viu que, entre elas, Maria de Cléofas trazia a cruz da
maternidade dolorosa, que Maria de Magdala pranteava sob a cruz da tristeza e
que Joana de Cusa, que viera igualmente às celebrações da Páscoa, sofria, sob o
madeiro do casamento infeliz...
Azorragues lamberam-lhe a cabeça coroada de espinhos.
A multidão começava a mover-se, de novo.
Era preciso caminhar.
Foi então que o Celeste Benfeitor, acariciando a própria
cruz que Simão passara a carregar, nela sentiu precioso rebento de esperança,
com que o Pai Amoroso lhe agraciava o testemunho, a fim de que as sementes da
renovação espiritual felicitassem a Humanidade.
E, endereçando compassivo olhar às mulheres que o
cercavam, pronunciou as inesquecíveis palavras do Evangelho:
- Filhas de Jerusalém, não choreis por mim!... Chorai,
antes, por vós mesmas e por vossos filhos, porque dias virão em que direis:
bem-aventurados os ventres que não geraram e os seios que não amamentaram!...
Então, clamareis para os montes: Caí sobre nós! – e rogareis
aos outeiros: Cobri-nos! – porque, se ao madeiro verde fazem isto, que se fará
com o lenho seco?
Livro : Cartas E Crônicas – Humberto de Campos – Irmão X
VELHAS
RECORDAÇÕES, VELHAS DOENÇAS
"Quantas vezes perdoarei a meu irmão?
Perdoar-lhe-eis não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes..."
"...Escutai, pois, essa resposta de Jesus, e, como Pedro, aplicai-a a vós
mesmos; perdoai, usai de indulgência, sede caridosos, generoso, pródigos mesmo
de vosso amor.." ( Cap. X, item 14)
Trazemos múltiplos clichês mentais arquivados no
inconsciente profundo, resultado de velhas recordações danosas herdadas das
mais variadas épocas, seja na atualidade, seja em outras existências no passado
distante.
Essas fontes emitem, através de mecanismos psíquicos,
energias que não nos deixam sair com facilidade do fluxo desses eventos
desagradáveis, registrados pelas retinas da alma, mantendo-nos retidos em
antigas mágoas e feridas morais entre os fardos da culpa e da vergonha.
Por não recordarmos que o perdão a nós mesmos e aos
outros é um poderoso instrumento de cura para todos os males, é que impedimos o
passado de fluir, não dando ensejo à renovação, e sim a enfermidades e desalentos.
Tentamos viver alienados dos nossos ressentimentos e
velhas amarguras, distraindo-nos com jogos e diversões, ou mesmo buscando
alívio no trabalho ininterrupto, mas apenas estamos adiando a solução futura da
dor, porque essas medidas são temporárias.
É mais fácil dizer que sem tem uma úlcera gástrica do que
admitir um descontentamento conjugal; é mais fácil também consentir-se portador
de uma frequente cólica intestinal do que aceitar-se como indivíduo colérico e
inflexível.
Muitas moléstias antes consideradas como orgânicas estão
sendo reconhecidas agora como "psicossomáticas", porque se
encontraram fatores psicológicos expressivos em sua origem.
As insanidades físicas são quase sempre traduzidas como
somatizações das recordações doentias de ódio e vingança, que, mantidas a longo
prazo, resultam em doenças crônicas.
Dessa forma, compreenderás que a gravidade e a duração
dos teus sintomas de prostração e abatimento orgânico são diretamente
proporcionais à persistência em manteres abertas tuas velhas chagas do passado.
As predisposições físicas das pessoas às enfermidades
nada mais são do que as tendências morais da alma, que podem modificar as
qualidades do sangue, dando-lhe maior ou menor atividade, provocar secreções
ácidas ou hormonais mais ou menos abundantes, ou mesmo perturbar as
multiplicações celulares, comprometendo a saúde como um todo.
Portanto, as causas das doenças somos nós sobre nós
mesmos, e, para que tenhamos equilíbrio fisiológico, é preciso cuidar de nossas
atitudes íntimas, conservando a harmonia na alma.
Indulgência se define como sendo a facilidade que se tem
para perdoar. Muitos de nós ficamos constantemente tentando provar que sempre
estivemos certos e que tínhamos toda a razão; outros ficam repisando os erros e
a faltas alheias.
Mas, se quisermos saúde e paz, libertemo-nos desses
fardos pesados, que nos impedem de voar mais alto, para as possibilidades do
perdão incondicional.
Perdoar não significa esquecer as marcas profundas que
nos deixaram, ou mesmo fechar os olhos para a maldade alheia. Perdoar é
desenvolver um sentimento profundo de compreensão, por saber que nós e os
outros ainda estamos distantes de agir corretamente.
Por não estarmos, momentaneamente, em completo contato
com a intimidade de nossa criação divina, é que todos nós temos, em várias
ocasiões, gestos de irreflexão e ações inadequadas.
Das velhas doenças nos libertaremos quando as velhas
recordações do "não-perdão" deixarem de comandar o leme de nossas
vidas.
Hammed – Renovando Atitudes - Francisco do Espírito Santo
Neto
AUTO PERDÃO
"Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si
mesmo..." "...porque se sois duros, exigentes, inflexíveis, se tendes
rigor mesmo por uma ofensa leve, como quereis que Deus esqueça que, cada dia,
tendes maior necessidade de indulgência?..." (Cap. X, item 15)
Nossas reações perante a vida não acontecem em função
apenas dos estímulos ou dos acontecimentos exteriores, mas também e sobretudo
de como percebemos e julgamos interiormente esses mesmos estímulos e
acontecimentos.
Em verdade, captamos a realidade dos fatos com nossas
mais íntimas percepções, desencadeando, consequentemente, peculiares emoções,
que serão as bases de nossas condutas e reações comportamentais no futuro.
Portanto, nossa forma de avaliar e de reagir e, as
atitudes que tomamos em relação aos outros, conceituando-os como bons ou maus,
é determinada por um sistema de autocensura que se encontra estruturado em
nossos "níveis de consciência" mais profundos.
Toda e qualquer postura que assumimos na vida se prende à
maneira de como olhamos o mundo fora e dentro de nós, a qual pode nos levar a
uma sensação íntima de realização ou de frustração, de contentamento ou de
culpa, de perdão ou de punição, de acordo com o "código moral"
modelado na intimidade de nosso psiquismo.
Esse "julgador interno" foi formado sobre as
bases de conceitos que acumulamos nos tempos passados das vidas incontáveis,
também com os pais atuais, com os ensinamentos de professores, com líderes
religiosos, com o médico da família, com as autoridades políticas de expressão,
com a sociedade enfim.
Também, de forma sutil e quase inconsciente, no contato
com informações, ordens, histórias, superstições, preconceitos e tradições
assimilados dos adultos com quem convivemos em longos períodos de nossa vida.
Portanto, ele, o julgador interno, nem sempre condiz com a realidade perfeita
das coisas.
Essa "consciência crítica", que julga e
cataloga nossos feitos, autocensurando ou auto-aprovando, influencia a criatura
a agir do mesmo modo que os adultos agiram sobre ela quando criança, punindo-a,
quando não se comportava da maneira como aprendeu a ser justa e correta; ou
dando toda uma sensação de aprovação e reconforto, quando ela agia dentro das
propostas que assimilou como sendo certas e decentes.
A gênese do não-perdão a si mesmo está baseada no tipo de
informações e mensagens que acumulamos através das diversas fases de evolução
de nossa existência de almas imortais.
Podemos experimentar culpa e condenação, perdão e
liberdade de acordo com os nossos valores, crenças, normas e regras vigentes,
podendo variar de indivíduo para indivíduo, conforme seu país, sexo, raça,
classe social, formação familiar e fé religiosa.
Entendemos assim que, para atingir o autoperdão, é
necessário que reexaminemos nossas convicções profundas sobre a natureza do
nosso próprio ser, estudando as leis da Vida Superior, bem como as raízes da
educação que recebemos na infância, nesta existência.
Uma das grandes fontes de auto-agressão vem da busca
apressada de perfeição absoluta, como se todos devêssemos ser deuses ou deusas
de um momento para outro. Aliás, a exigência de perfeição é considerada a pior
inimiga da criatura, pois a leva a uma constante hostilidade contra si mesma,
exigindo-lhe capacidades e habilidades que ela ainda não possui.
Se padrões muito severos de censura foram estabelecidos
por pais perfeccionistas à criança, ou se lhe foi imposto um senso de justiça
implacável, entre regulamentos disciplinadores e rígidos, provavelmente ela se
tornará um adulto inflexível e irredutível para com os outros e para consigo
mesmo.
Quando sempre esperamos perfeição em tudo e confrontamos
o lado "inadequado" de nossa natureza humana, nos sentiremos
fatalmente diminuídos e envolvidos por uma aura de fracasso. Não tomar
consciência de nossas limitações é como se admitíssemos que os outros e nós
mesmos devêssemos ser oniscientes e todo-poderosos.
Afirmam as pessoas: "Recrimino-me por ter sido tão
ingênuo naquela situação..."; "Tenho raiva de mim mesmo por ter
aceitado tão facilmente aquelas mentiras..."; "Deveria ter previsto
estes problemas atuais"; "Não consigo perdoar-me, pois pensei que ele
mudaria...". São maneiras de expressarmos nossa culpa e o não-perdão a nós
mesmos - exigências desmedidas atribuídas às pessoas perfeccionistas.
Os viciados em perfeição acham que podem fazer tudo
sempre melhor e, portanto, rejeitam quase tudo o que os outros fazem ou
fizeram. Não aceitam suas limitações e não enxergam a "perfeição em
potencial" que existe dentro deles mesmos, perdendo assim a oportunidade
de crescimento pessoal e de desenvolvimento natural, gradativo e constante, que
é a técnica das leis do Universo.
A desestima a nós próprios nasce quando não nos aceitamos
como somos. Somente a auto-aceitação nos leva a sentir plena segurança ante os
fatos e ocorrências do cotidiano, ainda que os indivíduos ao nosso redor não
entendam nossas melhores intenções.
O perdão concede a paz de espírito, mas essa concessão
nos escapará da alma se estivermos presos ao desejo de dirigir os passos de
alguém, não respeitando o seu propósito de viver.
Devemos compreender que cada um de nós está cumprindo um
destino só seu, e que as atividades e modos de outras pessoas ajustam-se
somente a elas mesmas. Estabelecer padrões de comportamento e modelos
idealizados para os nossos semelhantes é puro desrespeito e incompreensão ante
o mecanismo da evolução espiritual. Admitir e aceitar os outros como eles são
nos permite que eles nos admitam e nos aceitem como somos.
Perdoar-nos resulta no amor a nós mesmos - o
pré-requisito para alcançarmos a plenitude do "bem viver".
Perdoar-nos é não importar-nos com o que fomos, pois renovação está no instante
presente; o que importa é com somos hoje e qual é nossa determinação de buscar
nosso progresso espiritual.
Perdoar-nos é conviver com a mais nítida realidade, não
se distraindo com ilusões de que os outros e nós mesmos "deveríamos
ser" algo que imaginamos ou fantasiamos.
Perdoar-nos é compreender que os que nos cercam são
reflexos de nós mesmos, criações nossas que materializam com nossos pensamentos
e convicções íntimas.
O texto em estudo - "Perdoar os inimigos é pedir
perdão para si mesmo" - quer dizer: enquanto não nos libertarmos da
necessidade de castigar e punir o próximo, não estaremos recebendo a dádiva da
compreensão para o autoperdão.
Adaptando o excerto do apóstolo Paulo às nossas vidas,
perguntamo-nos:"...porque se sois duros, exigentes, inflexíveis, se tendes
rigor mesmo por uma ofensa leve...", como haveremos de criar oportunidade
novas para que o "Divino Processo da Vida" nos fecunde a alma com a
plenitude do Amor e, assim, possamos perdoar-nos?
Hammed – Livro: Renovando Atitudes – Francisco do
Espírito Santo Neto
INIMIGOS QUE NÃO
DEVAMOS ACALENTAR
Defende o mundo íntimo contra aqueles adversários ocultos
que não devemos acalentar.
Decerto, dói-te a ofensa do agressor que te não percebe
as intenções elevadas, contudo, a intolerância, a asilar-se por escorpião
venenoso, em teu pensamento, é o inimigo terrível que te induz às trevas
abismais da vingança.
Indubitavelmente, a crítica impensada do irmão que te
menoscaba os propósitos sadios dilacera-te a sensibilidade, espancando-te a
alegria, entretanto, a vaidade, a enrodilhar-se no teu coração por víbora
peçonhenta, é o inimigo lamentável que te inclina à inutilidade e ao desânimo.
Em verdade, a calúnia do amigo perturbado lança fogo ao
santuário de teus ideais, subtraindo-te a confiança, todavia, a crueldade que
se refugia em teu ser por tigre invisível de intemperança e discórdia é o
inimigo perigoso que te sugere a adesão ao crime.
Efetivamente, o desprezo que te foi lançado em rosto pelo
companheiro infeliz é golpe mortal abrindo-te chagas de aflição nos tecidos
sutis da alma, no entanto, o egoísmo a ocultar-se em teu peito por chacal
intangível de ignorância e ferocidade, é o inimigo temível que te arroja à
frustração.
Não são os flagelos do mundo exterior os elementos que
nos deprimem, mas sim os opositores ocultos, conhecidos pelos mais diversos
nomes, quais sejam orgulho e maldade, tristeza e preguiça, desespero e
ingratidão, que perseveram conosco.
Amemos aos inimigos externos que nos desafiam à prática
do bem, ao exercício da renúncia, ao trabalho da paciência e à realização da
caridade, mas tenhamos cautela contra os sicários escondidos em nós mesmos que,
expressando sentimentos indignos de nosso conhecimento e de nossa evolução, nos
escravizam à angustia, e nos algemam à dor, enclausurando-nos a vida em miséria
e perturbação.
Emmanuel - Do Livro
Através do Tempo de Francisco Cândido Xavier
O PERDÃO
As primeiras peregrinações do Cristo e de seus
discípulos, em torno do lago, haviam alcançado inolvidáveis triunfos. Eram
doentes atribulados que agradeciam o alívio buscado ansiosamente; trabalhadores
humildes que se enchiam de santas consolações ante as promessas divinas da Boa
Nova.
Aquelas atividades, entretanto, começaram a despertar a
reação dos judeus rigoristas, que viam em Jesus um perigoso revolucionário. O
amor que o profeta nazareno pregava vinha quebrar antigos princípios da lei
judaica. Os senhores da terra observavam cuidadosamente as palestras dos
escravos, que permutavam imenso júbilo, proveniente das esperanças num novo
reino que não chegavam a compreender. Os mais egoístas pretendiam ver no
profeta generoso um conspirador vulgar, que desejava levantar as iras populares
contra a dominação de Herodes; outros presumiam na sua figura um feiticeiro
incomum, que era preciso evitar.
Foi assim que a viagem do Mestre a Nazaré redundou numa
excursão de grandes dificuldades, provocando de sua parte as observações quase
amargas que se encontram no Evangelho, com respeito ao berço daqueles que o
deveriam guardar no santuário do coração. Não foram poucos os adversários de
suas idéias renovadoras que o precederam na cidade minúscula, buscando
neutralizar-lhe a ação por meio de falsas notícias e desmoralizá-lo,
argumentando com informações mal alinhavadas de alguns nazarenos.
Jesus sentiu de perto a delicadeza a situação que se lhe
criara com a primeira investida dos inimigos gratuitos de sua doutrina; mas,
aproveitou todas as oportunidades para as melhores ilações na esfera do
ensinamento.
No entanto, o mesmo não aconteceu a seus discípulos.
Filipe e Simão Pedro chegaram a questionar seriamente com alguns senhores da
região, trocando palavras ásperas, em torno das edificações do Messias. As
gargalhadas irônicas, as apreciações menos dignas lhes acendiam no ânimo
propósitos impulsivos de defesas apaixonadas. Não faltavam os que viam no
Senhor um servo ativo do espírito do mal, um inimigo de Moisés, um assecla de
príncipes desconhecidos, ou de traidores ao poder político de Antipas. Tamanhas
foram as discussões em Nazaré, que os seus reflexos nocivos se faziam sentir fortemente
sobre toda a comunidade dos discípulos. Pedro e André advogavam a causa o
Mestre com expressões incisivas e sinceras. Tiago aborrecia-se com a análise
dos companheiros. Levi protestava, expressando o desejo de instituir debates
públicos, de maneira a evidenciar-se a superioridade dos ensinos do Messias, em
confronto com os velhos textos.
Jesus compreendeu os acontecimentos e, calmamente,
ordenou a retirada, afastando-se da cidade com tranqüilo sorriso.
Não obstante a determinação e apesar do regresso a
Cafarnaum, a maioria dos apóstolos prosseguiu em discussão, estranhando que o
Mestre nada fizesse, reagindo contra as envenenadas insinuações a seu respeito.
Daí a alguns dias, obedecendo às circunstâncias
ocorrentes naquela situação, Pedro e Filipe procuraram avistar-se com o Senhor,
ansiosos pela claridade dos seus ensinos.
– Mestre, chamaram-vos servo de Satanás e reagimos
prontamente! dizia Pedro, com
sinceridade ingênua.
– Observávamos que por vós mesmo nunca oporíeis a
contradita – ajuntava Filipe, convicto de haver prestado excelente serviço ao
Mestre bem-amado – e por isso revidamos aos ataques com a maior força de nossas
expressões.
Não obstante o calor daquelas afirmativas, Jesus meditava
com uma doce placidez no olhar profundo, enquanto os interlocutores o
contemplavam, ansiando pela sua palavra de franqueza e de amor.
Afinal, saindo de suas reflexões silenciosas, o Mestre
interrogou:
– Acaso poderemos colher uvas nos espinheiros? De modo
algum me empenharia em Nazaré numa contradita estéril aos meus opositores.
Contudo, procurei ensinar que a melhor réplica é sempre a do nosso próprio
trabalho, do esforço útil que nos seja possível. Nesse particular, não deixei
de operar na minha esfera de ação, de modo a produzir resultados a nossa
excursão à cidade vizinha, tornando-a proveitosa, sem desdenhar as palavras
construtivas no instante oportuno. De que serviriam as longas discussões
públicas, inçadas de doestos e zombarias? Ao termo de todas elas, teríamos
apenas menores probabilidades para o triunfo glorioso do amor e maiores motivos
para a separatividade e odiosas dissensões. Só devemos dizer aquilo que o
coração pode testificar mediante atos sinceros, porque, de outra forma, as
afirmações são simples ruído sonoro de uma caixa vazia.
– Mestre – atalhou Filipe, quase com mágoa –, a verdade é
que a maioria de quantos compareceram às pregações de Nazaré falava mal de vós!
– Mas, não será vaidade exigirmos que toda gente faça de
nossa personalidade elevado conceito? – interrogou Jesus com energia e
serenidade.
– Nas ilusões que as criaturas da Terra inventaram para a
sua própria vida, nem sempre constitui bom atestado da nossa conduta o falarem
todos bem de nós, indistintamente. Agradar a todos é marchar pelo caminho
largo, onde estão as mentiras da convenção. Servir a Deus é tarefa que deve
estar acima de tudo e, por vezes, nesse serviço divino, é natural que
desagrademos aos mesquinhos interesses humanos. Filipe, sabes de algum
emissário de Deus que fosse bem apreciado no seu tempo? Todos os portadores da
verdade do céu são incompreendidos de seus contemporâneos. Portanto, é
indispensável consideremos que o conceito justo é respeitável, mas, antes dele,
necessitamos obter a aprovação legítima da consciência, dentro de nossa
lealdade para com Deus.
– Mestre – obtemperou Simão Pedro, a quem as explicações
da hora calavam profundamente –, nos acontecimentos mais fortes da vida, não
deveremos, então, utilizar as palavras enérgicas e justas?
– Em toda circunstância, convém naturalmente que se diga
o necessário, porém, é também imprescindível que não se perca tempo.
Deixando transparecer que as elucidações não lhe
satisfaziam plenamente, perguntou Filipe:
– Senhor, vossos esclarecimentos são indiscutíveis;
entretanto, preciso acrescentar que alguns dos companheiros se revelaram
insuportáveis nessa viagem a Nazaré: uns me acusaram de brigão e desordeiro;
outros, de mau entendedor de vossos ensinamentos. Se os próprios irmãos da
comunidade apresentam essas falhas, como há de ser o futuro do Evangelho?
O Mestre refletiu um momento e retrucou:
– Estas são perguntas que cada discípulo deve fazer a si
mesmo. Mas, com respeito à comunidade, Filipe, pelo que me compete esclarecer,
cumpre-me perguntar-te se já edificaste o reino de Deus no íntimo do teu
espírito.
– É verdade que ainda não – respondeu, hesitante, o
apóstolo.
– De dentro dessa realidade, podes observar que, se o
nosso colégio fosse constituído de irmãos perfeitos, teria deixado de ser
irrepreensível pela adesão de um amigo que ainda não houvesse conquistado a
divina edificação.
Ambos os discípulos compreenderam e se puseram a meditar,
enquanto o Cristo continuava:
– O que é indispensável é nunca perdermos de vista o
nosso próprio trabalho, sabendo perdoar com verdadeira espontaneidade de
coração. Se nos labores da vida um companheiro nos parece insuportável, é
possível que também algumas vezes sejamos considerados assim. Temos que perdoar
aos adversários, trabalhar pelo bem dos nossos inimigos, auxiliar os que zombam
da nossa fé.
Nesse ponto de suas afirmativas, Pedro atalhou-o,
dizendo:
– Mas, para perdoar não deveremos aguardar que o inimigo
se arrependa? E que fazer, na hipótese de o malfeitor assumir a atitude dos
lobos sob a pele da ovelha?
– Pedro, o perdão não exclui a necessidade da vigilância,
como o amor não prescinde da verdade. A paz é um patrimônio que cada coração
está obrigado a defender, para bem trabalhar no serviço divino que lhe foi
confiado. Se o nosso irmão se arrepende e procura o nosso auxílio fraterno,
amparemo-lo com as energias que possamos despender; mas, em nenhuma
circunstância cogites de saber se o teu irmão está arrependido. Esquece o mal e
trabalha pelo bem. Quando ensinei que cada homem deve conciliar-se depressa com
o adversário, busquei salientar que ninguém pode ir a Deus com um sentimento de
odiosidade no coração. Não poderemos saber se o nosso adversário está disposto
à conciliação; todavia, podemos garantir que nada se fará sem a nossa boa
vontade e pleno esquecimento dos males recebidos. Se o irmão infeliz se
arrepender, estejamos sempre dispostos a ampará-lo e, a todo momento,
precisamos e devemos olvidar o mal.
Foi quando, então, fez Simão Pedro a sua célebre
pergunta:
– “Senhor, quantas vezes pecará meu irmão contra mim, que
lhe hei de perdoar? Será até sete vezes?”
Jesus respondeu-lhe, calmamente:
– Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes
sete.
Daí por diante, o Mestre sempre aproveitou as menores
oportunidades para ensinar a necessidade do perdão recíproco, entre os homens,
na obra sublime da redenção.
Acusado de feiticeiro, de servo de Satanás, de
conspirador, Jesus demonstrou, em todas as ocasiões, o máximo de boa vontade
para com os espíritos mais rasteiros de seu tempo. Sem desprezar a boa palavra,
no instante oportuno, trabalhou a todas as horas pela vitória do amor, com o
mais alto idealismo construtivo. E no dia inesquecível do Calvário, em frente
dos seus perseguidores e verdugos, revelando aos homens ser indispensável a
imediata conciliação entre o espírito e a harmonia da vida, foram estas as suas
últimas palavras:
– “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!...”
Irmão X - Humberto de Campos - Do livro “Boa Nova”.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
AS ESTATUETAS
O diálogo, à noite, entre as duas senhoras, continuava na
copa:.
- Você, minha filha, deve perdoar, esquecer...
Lá diz o Evangelho que costumamos ver o argueiro no olho
do vizinho, sem ver a trave dentro do nosso...
- Mas, mamãe, foi um insulto!
O moço parou à frente da janela, viu as minhas estatuetas
e atirou a pedra!
E Dona Bambina, senhora espírita de generoso coração,
prosseguia falando à filha, Dona Rogéria: - Ele é um pobre rapaz obsediado.
- História!
É uma fera solta, isto sim!
- Mas Dona Margarida, a mãe dele, foi sempre amiga...
- Isso não vem ao caso...
Cada qual é responsável pelos próprios atos.
A senhora sabe que ele é maior.
- Precisamos perdoar para sermos perdoados...
- Ser bom é uma coisa, e outra coisa é ser tolo!
Darei queixa à polícia...
Somente não queria fazê-lo sem ouvi-la; contudo, Fábio e
eu estamos decididos.
Meu Fábio já anda cansado do volante...
Pobre marido!...
Dinheiro cavado em caminhão é duro de ganhar...
- Meu conselho, filha, é desculpar e desculpar...
- Mas o prejuízo é de dois mil cruzeiros, além da
injúria!
- Mesmo assim, o perdão é o melhor remédio.
- Ah!
Que será do mundo, assim, sem corrigenda, sem justiça?
Nesse instante, alguém bate à porta.
Ambas atendem.
O portador comunica: - Um desastre!
O senhor Fábio trombou uma casa e a parede caiu!
Mãe e filha correm para o local, que se encontra
entulhado de multidão, e vêem a casa acidentada.
É justamente a moradia de Dona Margarida, a mãe do rapaz
que atirara a pedra.
O caminhão, num lance estouvado, derribara uma parede
lateral e penetrara, fundo, inutilizando todo o mobiliário da sala de
refeições.
Apagara-se a luz no quarteirão e as duas, sem que ninguém
as reconhecesse, podiam escutar Dona Margarida, que sustentava uma vela acesa,
diante do guarda de trânsito: - Peço-lhe - dizia ao fiscal - não abrir processo
algum.
Não quero reclamações.
- Mas, Dona Margarida - insistia o funcionário -, a
senhora vai ter aqui um prejuízo para mais de quarenta contos!
- Não importa.
Deus dará jeito.
"Seu" Fábio e Dona Rogéria são meus amigos de
muito tempo.
As duas senhoras, porém, não puderam continuar ouvindo,
pois a voz irritada de Fábio elevou-se da multidão e era necessário socorrê-lo,
porque o infeliz estava ébrio.
Hilário Silva Médium: Francisco Cândido Xavier Livro: O Espírito
da Verdade
PERDOA, SIM ?
Cap. X - Item 15 - ESE
O desconhecido passou, de carro, enlameando-te a veste,
como se toda a rua lhe pertencesse... Compadece-te dele. Corre, desabalado, à
procura de alguém que lhe socorra o filhinho nos esgares da morte.
Linda mulher, que pérolas e brilhantes enfeitam, segue a
teu lado, parecendo fingir que te não percebe a presença... Compadece-te ! Ela
tem os olhos embaciados de pranto e não chegou a ver-te.
Jovem, admiravelmente bem-posto, cruzou contigo,
endereçando-te palavra de sarcasmo e de injúria... Compadece-te ! Ele tem os
passos no caminho do hospício e ainda não sabe.
O amigo que mais amas negou-te um favor... Compadece-te
dele ! Não lhe vês a dificuldade encravada no coração.
Companheiros do mundo !... Estarão contigo, notadamente
no lar, onde guardam os nomes de pai e mãe, esposo e esposa, filhos e irmãos...
Muita vez, levantam-se de manhã, chorosos e doloridos, aguardando um sorriso de
entendimento, ou chegam do trabalho, fatigados e tristes, esmolando
compreensão.
Todos trazem consigo aflições e problemas que desconheces.
Ergue a própria alma e auxilia sempre !... Indulgência
para todos ! Bondade para com todos!...
E, se algum deles te fere diretamente a carne ou a alma,
não levantes o braço ou a voz para revidar.
Busca no silêncio a inspiração do Senhor, e o Mestre,
como se estivesse descendo da cruz em que pediu perdão para os próprios
verdugos, te dirá compassivo:
- Perdoa, sim ! Perdoa sempre, porque, em verdade,
aqueles que não perdoam também não sabem o que fazem...
Meimei - Do livro O Espírito da Verdade.
Psicografia de Waldo Vieira
AO ENCONTRO DO FILHO
Chico Xavier
“Na certeza de que os Amigos Espirituais nos observam,
creio que a palavra de nosso caro Emmanuel foi suscitada por um acontecimento
que nem todos em nossa reunião pública perceberam.
Dentre os visitantes estava um casal de amigos que viera
não só ao contato de nossos trabalhos, mas igualmente ao encontro de um filho
que chegou de cidade próxima a fim de revê-los. Tratava-se de um rapaz detido
na prisão de comunidade vizinha que, com permissão generosa das autoridades,
vinha escoltado por dois guardas para ver os genitores, especialmente a
mãezinha, portadora de moléstia grave.
Num banco ao nosso redor, vi quando a senhor abraçou o
jovem e exclamou: “Ah, meu filho, meu filho!” Notando que as lágrimas dos pais
e do filho se confundiam, não consegui também conter as minhas. Lembrei-me da
bondade de meus pais para comigo e pensei que eu poderia estar na posição
daquele filho sequioso de perdão e de afeto e confesso que chorei. Penso,
porém, que alguma coisa de muito grave estará nos registros do que haja
acontecido, porque pequeno grupo de pessoas não gostou da nossa simpatia pelo
moço.
Observando isso procurei conter-me para que os pais
sofredores não tivessem conhecimento da reduzida movimentação de censura que se
fizera. E o fato passou sem maiores comentários. No início de nossas tarefas O
Evangelho Segundo o Espiritismo nos ofereceu para estudo o item 14 do capítulo
X. E ao fim da reunião nosso caro Emmanuel escreveu, por nosso intermédio, a página
que lhe envio.”
Do livro Na Era do
Espírito Psicografia de Francisco C.
Xavier e Herculano Pires. Espíritos Diversos
PROVA E JULGAMENTO
Emmanuel
Decerto que o Senhor nos terá advertido contra os riscos
do julgamento, observando-nos a inclinação espontânea para projetar-nos em
assuntos alheios.
Habitualmente, perante os nossos irmãos em experiências
difíceis, estamos induzidos a imaginar neles o que sentimentos e pensamos
acerca de nós próprios.
Encontramos determinada criatura acusada desse ou daquele
delito; para logo, freqüentemente, passamos a mentalizar como teria sido a
falta praticada, fantasiando minudências infelizes a fim de agravá-la, quando
muitas vezes a pessoa indicada tudo promoveu de modo a poupar a suposta vítima,
resistindo-lhe às provocações até as últimas conseqüências.
Surpreendemos irmãos considerados em desvalia moral; e de
imediato, ao registrar-lhes o abatimento, ideamos quadros reprováveis de
conduta sobre as telas de inquietude em que terão entrado, emprestando-lhes ao
comportamento o comportamento talvez menos digno que teríamos adotado na
problemática de ordem espiritual em que se acharam envoltos, quando, na maioria
das ocasiões, são almas violadas por circunstâncias cruéis, à feição de aves
desprevenidas, sob o laço do caçador.
Abstenhamo-nos de julgar os irmãos supostamente caídos.
O Senhor suscitou a formação de juízes na organização
social do mundo para que esses magistrados estudem os processos em que nos
tornemos possíveis de corrigenda ou segregação, conforme o grau de
periculosidade que venhamos a apresentar na convivência uns com os outros.
Por outro lado, os princípios de causa e efeito dispõem
da sua própria penalogia ante a Divina Justiça
Cada qual de nós traz em si e consigo os resultados das
próprias ações.
Ninguém foge às leis que asseguram a harmonia do
Universo.
Diante dos companheiros que consideres transviados,
auxilia-os quanto possas. E onde não consigas estender braços de apoio,
silencia e ora por eles.
Todos somos alunos na grande escola da vida.
Consideremos que toda escola afere o valor dos ensinos
professados em tempo justo de exame.
Os irmãos apontados à apreciação dos júris públicos são
companheiros em prova.
Hoje será o dia deles, entretanto, é possível que amanhã
o nosso também venha a chegar.
Do livro Na Era do
Espírito Psicografia de Francisco C.
Xavier e Herculano Pires. Espíritos Diversos
DIA DE JUÍZO
Irmão Saulo
Todos erramos. Até mesmo os santos erraram. Por isso
disse Jesus: “Não julgueis para não serdes julgados”. No comentário nº. 14 do
capítulo X de O Evangelho Segundo o Espiritismo Simeão nos aconselha a esquecer
o mal e pensar apenas no bem que pode ser feito. Por mais inúteis que nos
julguemos e por piores que nos consideremos, há sempre diante de nós uma
oportunidade de fazer o bem. Pensando no mal, perdemo-la; pensando no bem,
podemos aproveitá-la.
No doloroso episódio que Chico Xavier nos relata, e que
provocou a mensagem de Emmanuel, temos um exemplo vivo dessa realidade. Chico
não perguntou de que crime o rapaz era acusado. Sofreu com ele e com os pais na
prática da caridade. Alguns companheiros de reunião, entretanto, não pensaram
assim, não sentiram esse impulso de solidariedade humana. E o simples fato de
censurarem o médium produziu um constrangimento do bem.
O dia do juízo chega para todos nós. Para aquele rapaz já
havia chegado e ele cumpria o veredito da lei. Sabendo disso e compreendendo
que Deus quer a salvação de todos, mesmo dos piores criminosos, nosso dever é o
do bom samaritano que socorreu o próximo sem indagar de seus antecedentes.
Lemos no Eclesiastes que Deus fez tempo para tudo e Emmanuel lembra-nos que
existe o “tempo justo de exame”. Por outro lado, o que mais erra é o que mais
necessita de perdão, o que menos amor revela em sua conduta é o que de mais
amor necessita.
Do livro Na Era do Espírito Psicografia de Francisco C. Xavier e Herculano
Pires. Espíritos Diversos
PERDÃO NA
INTIMIDADE
Quando nos referimos a perdão, habitualmente mentalizamos
o quadro clássico em que nos vemos à frente de supostos adversários,
distribuindo magnanimidade e benemerência, qual se pudéssemos viver sem a
tolerância alheia.
O assunto, porém, se espraia em ângulos diversos,
notadamente naqueles que se reportam ao cotidiano.
Se não soubermos desculpar as faltas dos seres que
amamos, e se não pudermos ser desculpados pelos erros que cometemos diante
deles, a existência em comum seria francamente impraticável, porquanto
irritações e azedumes devidamente somados atingiram quotas suficientes para
infligir a desencarnação prematura a qualquer pessoa.
Precisamos muito mais do perdão, dentro de casa, que na
arena social, e muito mais de apoio recíproco no ambiente em que somos chamados
a servir, que nas avenidas rumorosas do mundo.
Em auxílio a nós mesmos, todos necessitamos cultivar
compreensão e apoio construtivo, no amparo sistemático a familiares e vizinhos,
chefes e subalternos, clientes e associados, respeito constante a vida
particular dos amigos íntimos, tolerância para os entes amados, com paciência e
olvido diante de quaisquer ofensas que assaltem os corações.
Nada de aguardamos sucessos calamitosos, dores públicas e
humilhações na praça, a fim de aparecermos na posição de atores da benevolência
dramatizada, apesar de nossa obrigação de fazer o bem e esquecer o mal, seja
onde for.
Aprendamos a desculpar - mas a desculpar sinceramente, de
coração e memória -, todas as alfinetadas e contratempos, aborrecimentos e
desgostos, no círculo estreito de nossas relações pessoais, exercitando-nos em
bondade real para ser realmente bons. Tão somente assim, lograremos praticar o
perdão que Jesus nos ensinou. E se o Mestre nos ensinou perdoar setenta vezes
sete aos nossos inimigos, quantas vezes deveremos perdoar aos amigos que nos
entretecem a alegria de viver?
Decerto que o Senhor se fez omisso na questão porque
tanto de nossos companheiros necessitam de nós, quanto nós necessitamos deles,
e, por isso mesmo, de corações entrelaçados no caminho da vida, é
imprescindível reconhecer que, entre os verdadeiros amigos, qualquer ocorrência
será motivo para aprendermos, com segurança, a abençoar e entender, amar e
auxiliar.
Livro: Alma e Coração.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier
Espírito Emmanuel
OFENSA
Aprendamos a ver nas realidades supremas do espírito,
para que a ofensa não se converta em obstáculo anestesiante de nossas energias
no caminho espiritual.
Observemos a natureza.
O lavrador parece ironizar a semente, impondo-lhe a
solidão na cova fria, mas a semente reage, transformando-se em flor e fruto, a
sustentar-lhe o celeiro.
O escultor parece ferir o mármore, aplicando-lhe
perfurantes golpes de buril, mas a pedra responde, oferecendo-lhe a obra-prima
a imortalizar-lhe o nome.
O artífice parece condenar o tronco bruto à extrema
crueldade, desbastando-lhe o corpo, entretanto, a madeira dá forma a utilidades
mil, reconfortando-lhe o templo doméstico.
É preciso compreender na ofensa recebida essa ou aquela
oportunidade de triunfo sobre nós mesmos.
Sem dificuldade, ninguém consegue aferir as próprias
conquistas; sem luta, o mérito é simples palavra ornamental.
Lembremo-nos de que o Mestre inesquecível recebeu a
ofensa da morte na cruz, transubstanciando-a em luminosa ressurreição.
Do escuro menosprezo da Terra fez Jesus o caminho
radiante para os Céus.
Não te esqueças de semelhante verdade e faze do golpe que
recebeste no cotidiano, abençoado motivo de progresso e renovação.
Auxilia aos que te seguem os passos e mantém a certeza de
que receberás em pagamento de paz e luz o concurso daqueles que te antecederam
no acesso às culminâncias da Vida Maior.
Livro: ALVORADA DO REINO - Francisco Cândido Xavier -
Emmanuel
O CASTELO DE PEDRAS
Numa linda lagoa azul, muitos peixinhos viviam a nadar e
a brincar.
Dodô, o peixinho azul; Zuzu o peixe vermelhinho; e Teco,
o peixe pretinho, passavam o dia nadando e brincando.
Os três amigos gostavam de brincar no fundo da lagoa,
onde encontravam milhares de pedrinhas coloridas.
Eles construíam túneis, montanhas e castelos.
Todos os dias, se encontravam e a brincadeira de catar
pedrinhas e amontoá-las era alegre e divertida.
Brincavam, nadavam e quando os raios do sol deixavam de
brilhar nas águas claras da lagoa, os amiguinhos retornavam em busca de suas
casas.
E, assim, num vaivém, os peixinhos, sempre catando
pedrinhas, construíram um lindo castelo. Que belo castelo!
No dia seguinte, quando retornaram para continuar a
construção do castelo… Oh! Tudo destruído… Todas as pedras espalhadas…
Os três amigos, entristecidos, perguntavam-se:
– Quem fez isto?
– Por que desmancharam nosso castelo?
Teco, o peixinhos pretinho, exclamou:
– Não vamos nos entristecer!… Vamos começar tudo de novo,
pois tenho certeza de que faremos um castelo muito mais bonito.
E, assim, os três peixinhos começaram nova construção. E
que beleza estava ficando! Que lindo castelo de pedras!
No fim do dia, cansados, os amiguinhos voltaram para
casa, preocupados com o que poderia acontecer na sua ausência.
Amanhecia! Os raios brilhantes do sol, penetrando nas
águas da lagoa, convidavam a todos para começar o vaivém.
Dodô, Teco e Zuzu nadavam rapidamente….
– Como está nosso castelo? – perguntou Dodô, curioso.
– Nade, nade, Zuzu, precisamos chegar depressa! – dizia
Teco.
Nadaram… Nadaram… E chegaram ao local do castelo. Oh! Que
tristeza!… Tudo destruído. Não havia uma pedrinha no lugar.
Zuzu, Teco e Dodô olhavam-se e não conseguiam entender o
que estava acontecendo. Zuzu queria ir embora, não queria mais brincar. Dodô só
pensava em descobrir o que havia acontecido e Teco ajuntava as pedrinhas uma a
uma.
– Vamos embora! – choramingava Zuzu.
– Que maldade! – exclamava Dodô, irritado.
– Vamos começar tudo de novo! – falou o esperto Teco.
– Tudo de novo!… Nem pensar… – falaram em coro os dois
amigos entristecidos.
– Tive uma grande ideia – disse Teco. – Vamos! Comecem a
construir!… Não fiquem aí parados!…
Logo o castelo estará tão bonito quanto antes!
E assim aconteceu, depois de algum tempo, o castelo
estava bonito novamente. Teco, então surpreendeu seus colegas ao dizer:
– Vamos amigos, é hora de ir para casa!
Os amigos se olharam e Teco lhes falou baixinho:
– Não iremos embora, vamos nos esconder atrás daquelas
pedras.
E assim fizeram. De trás das pedras vigiavam o castelo.
E ali ficaram até…
– Psiu, fiquem quietos! –disse Dodô. – Vejam aquele
peixinho amarelo! O que ele está fazendo perto do nosso castelo?
O peixinho amarelo olhava para o castelo, retirava uma
pedrinha aqui, retirava outra pedrinha ali, colocava uma pedrinha lá em cima,
até que… Catabum!… Todo o castelo foi destruído.
Os três amigos, em disparada, saíram do esconderijo em
direção ao castelo todo desmanchado.
– Ei, por que fez isto? – gritou Zuzu.
– Vamos, diga o que está fazendo aqui? – perguntou Dodô.
E Teco, nadando rapidamente, aproximou-se daquele peixe
amarelo e perguntou-lhe.
– É você quem derruba nossos castelos?
– Quem são vocês? – respondeu Amarelo, assustado.
– Vamos fale!… Foi você? – repetiu Dodô, enraivecido.
– Sim, sim fui eu…
– Por que você fez isso? – perguntou Zuzu.
– Eu estava só brincando…
– Brincando?! Você atrapalha tudo e diz que está só
brincando! Diga por que fez isso?
– Não tenho amigos, por isso venho aqui brincar com o
castelo, respondeu Amarelo, ainda trêmulo.
Teco pensou, pensou… Chamou Dodô e Zuzu e os três
conversavam bem baixinho.
O peixinho Amarelo, assustado, sem entender o que estava
acontecendo, ouviu Dodô falar:
– Pois bem, Amarelo, agora você vai brincar de outra
maneira!… Quero ver se você vai desmanchar nossos castelos!
Amarelinho, assustado, não sabia o que fazer.
– Perdoem-me, não fiz por mal. Não vou mais desmanchar os
castelos, perdoem-me!
– Ah, peixinho! Você não vai mais atrapalhar os nossos
castelos! – disse Zuzu.
– O que vocês farão comigo? – perguntou, choroso, o
peixinho Amarelo.
– Pois bem, senhor peixe “desmanchador” de castelos, você
irá brincar conosco, só assim não estragará tudo o que construirmos. Queremos
ser seu amigo.
Daquele dia em diante, os quatro peixinhos, Dodô, Zuzu,
Teco e Amarelinho eram vistos sempre juntos, nadando para lá e para cá, num vaivém
de brincadeiras e alegrias.
http://www.dij.febnet.org.br/crianca/
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