8 – Se alguém vos disser: “O Cristo está aqui”, não o
procureis, mas, ao contrário, ponde-vos em guarda, porque são numerosos os
falsos profetas. Então não vedes quando as folhas da figueira começam a
embranquecer; não vedes os numerosos rebeldes ansiando pela época da floração;
e o Cristo não vos disse: “Conhece-se a árvore pelos seus frutos”? Se, pois, os
frutos são amargos, considerais a árvore má; mas se são doces e saudáveis,
dizeis: “Nada tão puro poderia sair de um tronco mau”.
É assim, meus irmãos, que deveis julgar: são as obras que
devem ser examinadas. Se os que se dizem revestidos do poder divino revelam
todos os sinais de semelhante missão, ou seja, se eles possuem, no mais alto
grau, as virtudes cristãs e eternas: a caridade, o amor, a indulgência, a bondade que concilia todos os
corações; e se, confirmando as palavras, lhes juntam os atos; então podereis
dizer: Estes são realmente os enviados de Deus.
Mas desconfiai das palavras melífluas, desconfiai dos
escribas e dos fariseus, que pregam nas praças públicas, vestidos de longas
vestes. Desconfiai dos que pretendem estar na posse da exclusiva e única
verdade!
Não, não, o Cristo não está lá, porque aqueles que ele
envia, para propagar a sua santa doutrina e regenerar o povo, são sempre, a seu
próprio exemplo, mansos e humildes de coração, acima de tudo o mais; os que
devem, por seus exemplos e seus conselhos, salvar a humanidade, que corre para
a perdição e se desvia por caminhos tortuosos, serão, antes de tudo,
inteiramente modestos e humildes. Todo aquele que revela um átomo de orgulho,
fugi dele como de uma lepra contagiosa, que corrompe tudo o que toca.
Lembrai-vos de que cada criatura traz na fronte, mas sobretudo nos atos, a
marca de sua grandeza ou de sua decadência.
Avançai, pois, meus queridos filhos, marchai sem
vacilações, sem segundas intenções, na bendita caminhada que empreendestes.
Avançai, avançai sempre, sem nenhum temor, e afastai corajosamente tudo o que
poderia dificultar a vossa marcha para o objetivo eterno. Viajores, não
estareis mais do que um breve tempo nas trevas e dores da prova, se vossos
corações se deixarem levar por esta suave doutrina, que vem revelar-vos as leis
eternas, satisfazendo todas as aspirações da vossa alma diante do infinito!
Sim, desde já podereis corporificar esses silfos
alígeros, que perpassam nos vossos sonhos, e que, tão efêmeros, só podiam
deleitar o vosso espírito, sem nada dizerem ao vosso coração. Agora, meus
amigos, a morte desapareceu, cedendo lugar ao anjo radioso que conheceis, o
anjo do reencontro e da reunião. Agora, vós que bem cumpristes a tarefa que o
Criador vos deu, nada mais tendes a temer da sua justiça, porque Ele é pai e
perdoa sempre aos seus filhos desgarrados, que clamam por misericórdia.
Continuai, portanto, avançai sem cessar! Que a vossa divisa seja a do progresso
constante em todas as coisas, até chegardes ao termo feliz em que vos
esperem,afinal, todos aqueles que vos precederam.
TEXTOS DE APOIO
O GRANDE CEIFADOR
Comentando certas dificuldades de genuína propaganda, espírita,
o velho Jonathan, antigo seguidor do Evangelho em nosso campo de ação espiritual,
tomou; a palavra e falou, sorrindo:
– No tempo do Mestre, semelhantes entraves não eram
menores. A gloriosa, missão do Senhor ia em meio, quando surgiram várias
legiões de supostos discípulos da Boa Nova, à margem das atividades evangélicas.
Multidões desarvoradas, ao comando de chefes que se diziam continuadores de
João Batista, enxameavam nas bordas do Jordão, a se dispersarem na Palestina e
na Síria.
Capitães da revolta popular contra o domínio romano,
“após ouvirem as lições do Senhor, usavam-lhe a doutrina, criando a discórdia
sistematizada, em nome da solidariedade humana, nos diversos vilarejos que
circulavam o Tiberíades”.
Todos erguiam flamejante verbo, asseverando falar em nome
do Divino Renovador. Jesus, o Messias Nazareno, achava-se entre os homens,
investido da autoridade indispensável à formação de um Novo Reino.
Destruiria os potentados estrangeiros e aniquilaria
ditadores do poder.
Discursos preciosas faziam-se ouvir Doe cenáculo do povo
e nos quadros rústicos da natureza, exaltando a boa vontade e a comunhão das
almas, o devotamento e a tolerância entre as criaturas.
Milhares de ouvintes escutavam, enlevados, as pregações, extáticos
e felizes, qual se já respirassem num mundo novo.
Contudo, no turbilhão dos conceitos vibrantes e nobres,
alinhavam-se aqueles que, arrecadando dinheiro para socorro às viúvas e aos
órfãos, olvidavam-nos deliberadamente para enriquecerem a própria bolsa, e
apareciam os oportunistas que, em se incumbindo da doutrinação referente à
fraternidade, utilizavam-se da frase primorosa e bem feita, para a realização
das mais baixas manobras políticas.
Foi por isso que, em certo crepúsculo, quando a multidão
se Congregava em torno do Mestre, junto às águas, para recolher-lhe a palavra
consoladora e o ensino salutar, Simão Pedro, homem afeiçoado à rude franqueza,
valendo-se da grande pausa que o Eterno Benfeitor imprimira à própria
narrativa, quando expunha a parábola do semeador, interpelou-O, diretamente,
indagando:
– Mestre, e que faremos dos que exploram a ideia do Reino
de Deus? Em muitos lugares, encontramos aqueles que formam grupos de serviço,
em nome da Boa Nova nascente, tumultuando corações em proveito próprio. Agitam
a mente popular e formulam promessas que não podem cumprir... Em Betsaida,
temos a falange de Berequias ben Zenon que a dirige com entusiasmo dominante,
apropriando-se-vos da mensagem sublime para solicitar as dracmas de pobres
pescadores, alegando destiná-las aos doentes e às viúvas, mas, embora preste
auxílio a reduzido número de infortunados, guarda para si mesmo a maior parte
das ofertas amealhadas e, ainda hoje, em Cafarnaum, ouvi a prédica brilhante de
Aminadab ben Azor, que se prevalece de vossas lições divinas para induzir o
povo à indisciplina e à perturbação, não obstante pronuncie afirmativas e
preces que reconfortam o espírito dos que sofrem nos caminhos árduos da
Terra... Come agir, Senhor? Será justo nos subordinemos à astúcia dos
ambiciosas e à manha dos velhacos? como relegar o Evangelho à, dominação de
quantos se rendem à vaidade e à avidez da posse, ao egocentrismo e à loucura.
Jesus meditou alguns instantes e replicou:
– Simão, antes de tudo, é preciso considerar que o crime
confesso encontra na lei a corrigenda, estabelecida. Quem rouba é furtado, quem
ilude os outros, engana a si próprio, e quem fere será ferido...
– Mas, Senhor – tornou o apóstolo –, no processo em
exame, creio seja necessário ponderar que os males decorrentes da falsa propaganda
são incomensuráveis...... Não haverá recurso para sustá-los de imediato?
O Excelso Amigo considerou, paciente:
– Se há juízes no mundo que nasceram para o duro mister
de retificar, aqui nos achamos para a obra do auxílio. Não podemos olvidar que
os verdadeiros discípulos da Boa Nova, atentos, à missão de amor que lhes cabe,
não dispõem de tempo e disposição para partilhar as atividades dos irmãos menos
responsáveis... Além disso, baseando-me em sua própria palavra, não estamos
diante de companheiros totalmente esquecidos da caridade. Disseste que
Berequias ben Zelou, pelo menos, ampara alguns infelizes que lhe cercam a
estrada, e que Aminadab ben Azor, no seio das palavras insensatas que pronuncia,
encaixa ensinamentos e orações de valia para os necessitados de luz... E se
formos sopesar as esperanças e possibilidades, os anseios e as virtudes dos
milhares de amigos provisórios
que os acompanham, como justificar qualquer sentença
condenatória de nossa parte?
O apontamento judicioso ficou no ar, e, como ninguém respondesse,
Jesus espraiou o olhar no horizonte longínquo, como quem apelava para o futuro,
e ditou a parábola do joio e do trigo, que consta do capítulo treze das
anotações de Mateus:
– “O reino dos céus é semelhante ao homem que semeia a
boa semente em seu campo; mas, ao dormir, eis que veio o inimigo e semeou joio
no meio do trigo: retirando-se após.
Quando a erva cresceu e frutificou, apareceu também o
joio. E os servos desse pai de família, indo ter com ele, disseram-lhe: –
Senhor, não semeaste no campo a boa semente? porque a intromissão do joio? E
ele lhes disse: – Um adversário é quem fez isso.
E os servos acentuaram: – Queres, pois, que o arranquemos?
Respondeu-lhes, porém, o senhor: – Isso não, para que não aconteça extirpemos o
joio, sacrificando o trigo. Deixemo-los crescer juntos até à ceifa. Nessa
ocasião, direi nos trabalhadores: – Colhei primeiramente o joio para que seja
queimado e ajuntai o trigo no meu celeiro.”
Calou-se o Cristo, pensativo...
Todavia, Simão, insatisfeito, volveu a perguntar :
– Mas... Senhor, Senhor!... em nosso caso, quem colherá a
verdade, separando-a da mentira?
O Mestre sorriu de novo e respondeu:
– Pedro, o tempo e o grande ceifador... Esperemos por
ele, cumprindo o dever que nos compete... A vida e a justiça pertencem ao Pai e
o Pai decidirá quanto aos assuntos da vida e da justiça...
E porque ninguém lhe opusesse embargo à lição, calou-se o
Mestre para demandar, em seguida, outros ensinos...
Silenciou o velho Jonathan e, a nosso turno, com material
suficiente para estudo, separamo-nos todos para concluir e meditar.
Livro : Cartas E Crônicas – Humberto de Campos – Irmão X
ANTE OS
FALSOS PROFETAS
Acautela-te em atribuir aos falsos profetas o fracasso de
teus empreendimentos morais.
Recorda que todos somos tentados, segundo a espécie de
nossas imperfeições.
Não despertarás a fome do peixe com uma isca de ouro, nem
atrairás a atenção do cavalo com um prato de pérolas, mas, sim, ofertando-lhes
à percepção leve bocado sangrento ou alguma concha de milho.
Desse modo, igualmente, todos somos induzidos ao erro, na
pauta de nossa própria estultícia.
Dominados de orgulho, cremos naqueles que nos incitam à
vaidade e, sedentos de posse, assimilamos as sugestões infelizes de quantos se
proponham explorar-nos a insensatez e a cobiça.
É preciso lembrar que todos somos, no traje físico ou
dele desenfaixados, espíritos a caminho, buscando na luta e na experiência os
fatores da evolução que nos é necessária, e que, por isso mesmo, se já somos
aprendizes do Cristo, temos a obrigação de buscar-lhe o exemplo para metro
ideal de nossa conduta.
Não vale, assim, alegar confiança na palavra de quantos
nos sustentam a fantasia, com respeito a fictícios valores de que sejamos
depositários, no pressuposto de que venham até nós, na condição de
desencarnados; pois que a morte do corpo é, no fundo, simples mudança de
vestimenta, sem afetar, na maioria das circunstâncias, a nossa formação
espiritual.
<<Não creias, desse modo, em todo espírito>>
- diz-nos o Apóstolo -, porquanto semelhante atitude envolveria a crença cega
em nossos próprios enganos, com a exaltação de reiterados caprichos.
O ouvido que escuta é irmão da boca que fala.
Ilusão admitida é nossa própria ilusão.
Apetite insuflado é apetite que acalentamos.
Mentira acreditada é a própria mentira em nós.
Crueldade aceita é crueldade que nos pertence.
De alguma sorte, somos também a força com a qual entramos
em sintonia.
Procuremos, pois, o Mestre dos mestres como sendo a luz
de nosso caminho. E cotejando, com as lições d’Ele, avisos e informes,
mensagens e advertências que nos sejam endereçados, desse ou daquele setor de
esclarecimento, aprenderemos, sem sombra, que a humildade e o serviço são
nossos deveres de cada hora, para que a verdade nos ilumine e para que o amor
puro nos regenere, preservando-nos, por fim, contra o assédio de todo mal.
De "Religião dos Espíritos", de Francisco
Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel
SEM IDOLATRIA
Cap. XXI - Item 8 - ESE
Núcleo religiosos de todos os tempos e mesmo certas
práticas, estranha à religião, têm usado a idolatria como tradição fundamental
para manter sempre viva a chama da fé e o calor do ideal.
O hábito vinculou-se tão profundamente ao espírito
popular que, em plena atualidade, nos arraiais do Espiritismo Cristão, a
desfraldar a bandeira da fé raciocinada, as vezes, ainda encontramos criaturas
tentando a substituição dos ídolos inertes pelos companheiros de carne e osso
da experiência comum, quando chamados ao desempenho da responsabilidade
mediúnica.
Urge, desse modo, compreendermos a impropriedade da
idolatria de qualquer natureza, fugindo, entretanto, à icnoclastia e à
violência, no cultivo do respeito e da compreensão diante das convicções
alheias, de modo a servirmos na libertação mental dos outros na esfera do bom
exemplo.
A advertência apostólica vem comprovar que a Doutrina
Cristã, em sua pureza de fundamentos, surgiu no clima da Galiléia, dispensando
a adoração indébita, em todas as circunstâncias, devendo-se exclusivamente à
interferência humana os excedentes que lhe foram impostos ao exercício simples
e natural.
Assim, proscreve de teu caminho qualquer prurido
idolátrico em torno de objetos ou pessoas, reafirmando a própria emancipação
das algemas seculares que vêm cerceando o intercâmbio das criaturas encarnadas
com o Reino do Espírito, através da legítima confiança.
Recebemos hoje a incumbência de aplicar, na edificação do
bem desinteressado, o tempo e a energia que desperdiçávamos, outrora, à frente
dos ídolos mortos, de maneira a substancializarmos o ideal religioso, no
progresso e na educação, prelibando as realidades da Vida Gloriosa.
Emmanuel - Do livro O Espírito da Verdade. Psicografia de
Francisco C Xavier e Waldo Vieira.
ÍDOLOS
"Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos
Ídolos." - (ATOs, capítulo 15, versículo 29.)
Os ambientes religiosos não perceberam ainda toda a extensão
do conceito de idolatria.
Quando nos referimos a ídolos, tudo parece indicar
exclusivamente as imagens materializadas nos altares de pedra. Essa é, porém, a
face mais singela do problema.
Necessitam os homens exterminar, antes de tudo, outros
ídolos mais perigosos, que lhes perturbam a visão e o sentimento.
Demora-se a alma, muitas vezes, em adoração mentirosa.
Refere-se o versículo às "coisas sacrificadas aos
ídolos", e o homem está rodeado de coisas da vida. Movimentando-as, a
criatura enriquece o patrimônio evolutivo. Ë necessário, no entanto,
diferenciar as que se encontram consagradas a Deus das sacrificadas aos ídolos.
A ambição de alcançar os valores espirituais, de acordo
com Jesus, chama-se virtude; o propósito de atingir vantagens transitórias no
campo carnal, no plano da inquietação injusta, chama-se insensatez.
Os "primeiros lugares", que o Mestre nos
recomendou evitemos, representam Ídolos igualmente. Não consagrar, portanto, as
coisas da vida e da alma ao culto do imediatismo terrestre, é escapar de
grosseira posição adorativa.
Quando te encontres, pois, preocupado com os insucessos e
desgostos, no círculo individual, não olvides que o Cristo, aceitando a cruz,
ensinou-nos o recurso de eliminar a idolatria mantida em nosso caminho por nós
mesmos.
XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida. Pelo
Espírito Emmanuel.
ÍCONES
"entretanto, abandonando de todo a idolatria, os
judeus desprezaram a lei moral, para se aferrarem ao mais fácil: a prática do
culto exterior. E.S.E. CAPÍTULO 18, ÍTEM 2
A palavra integral significa por inteiro, total. Quando,
mencionamos o homem integral, estamos referindo ao ser na sua completude, a
integração de todas as suas "partes" num todo.
O homem integral harmoniza os seus opostos e resgata a
sua "identidade original", já que ao longo da caminhada evolutiva
estruturou uma imagem "irreal" de Eu Divino no espelho da vida mental
que nomeamos com. "falso eu", com a qual temos caminhado há milênios
no trajeto da evolução.
A vida é dialética, tem aparentes contradições, porque
consiste de opostos que são, em verdade, complementares. Basta observar: noite
e dia, vida e morte, verão e inverno, razão e intuição, bem e mal, claro e
escuro, masculino e feminino. Sem os opostos não existe a vida.
Aprendemos, no entanto, a estabelecer divisões, uma visão
cartesiana de partir o indivisível, estabelecendo assim a luta contra o que se
convencionou considerar como sendo mau, não aceitável, feio e inutilizável.
Nasce então conflito, a perturbação, a cobrança.
Olhar "as duas faces da moeda" é uma grande
sabedoria de vida. É uma atitude saudável a ser cultivada, com cuidado no
processo de transformação, que é a grande razão de nossa peregrinação pela
Terra.
Luz e sombra são opostos. No entanto, uma depende da
outra, assim como o passo da perna direita depende do passo da perna esquerda.
Luz e sombra, perfeição e imperfeição são faces de uma mesma estrutura da alma,
razão pela qual será impróprio adotar o conceito de eliminação para os assuntos
da vida interior. Nunca eliminamos uma "parte", a integramos.
Contudo, esse processo de integração gera um doloroso
sentimento de perda, necessário ao progresso. Perde-se o velho para construir o
novo. Na verdade efetuamos uma reconstrução marcada por etapas desafiantes.
Perde-se a "velha identidade" e não se sabe como construir o que se
deve ser agora", a "nova identidade".
O conhecimento espírita é uma mola propulsora de
semelhante operação da vida mental. Ao adquirir a noção da imortalidade, a alma
sensibiliza-se para novas escaladas. Decide pela transformação, mas observa de
pronto que mudar não é tarefa simples, que se concretiza de hora para outra.
Assim, enquanto a criatura não constrói o homem novo e singular, único e
incomparável que todos deveremos erguer na intimidade, ocorre um natural
processo de imitação que o leva a "fazer cópias" de conduta do que
lhe parece ser ideal. São os "estereótipos espíritas" - referências
que adotamos, espontaneamente, para avaliar o proceder perante a nova visão de
vida.
Por um tempo esse será o caminho natural da maioria dos
candidatos à renovação de si mesmos. Carecem de referências externas que
funcionam como bóias indicadoras para sua elaboração interior dos conhecimentos
novos. Um livro, um palestrante, um devotado seareiro da caridade ou mesmo um
amigo espiritual poderão se tornar bússolas para o progresso pessoal, o que é
muito natural.
Porém, semelhante identificação natural pode adoecer em
razão de vários fatores dolorosos para a alma em reforma íntima, ensejando que
essa relação educativa com os referenciais caminhe para matizes diversos. Um
dos mais comuns desvios nesse tema é a idolatria.
Idolatria é o excessivo entusiasmo e admiração por uma
pessoa com a qual partilhamos ou não a convivência.
São oradores, médiuns e trabalhadores que costumam
destacar-se pelas virtudes ou pelas experiências, e que são tomados à conta de
ícones, com os quais delineamos a noção pessoal de "limite máximo" ou
"modelo" para os novos passos assumidos na caminhada espiritual.
Os ícones na história grega são as divindades que
representam valores excelsos e santificados.
Sem considerar os naturais sentimentos de admiração e
entusiasmo dirigidos a quem fez por merecê-los, quase sernpre nas causas dessa
idolatria encontra-se o mecanismo defensivo da mente, pelo qual é projetado no
outro aquilo que gostaríamos de ser.
Dois graves problemas, entre os muitos, decorrem dessa
relação idólatra: as exageradas expectativas e a prisão aos estereótipos.
As expectativas transferidas ao ícone carreiam desejos e
anseios que se tornam âncoras de segurança para os problemas individuais. Caso
a criatura habitue-se ao conforto de "escorar-se" psicologicamente no
outro e fugir do seu esforço auto-educativo, passará ao terreno das ilusões,
sentindo-se e acreditando-se tão virtuosa ou capaz quanto ele. Ocorre então uma
absorção da "identidade alheia" como se fosse sua ... É como
"ser alguém" através dos valores do outro.
Quanto aos estereótipos, vamos verificar uma outra
questão que tem trazido muitos desajustes: o hábito de dogmatismo, uma velha
tendência humana de ouvir a palavra dos "homens santificados" pela
hierarquia religiosa.
Pessoas que se tornam carismáticas pela sua natural forma
de ser ou pelo valoroso desempenho doutrinário são comumente, colocadas como
"astros" ou "missionários" de grande envergadura, fazendo,
de seu proceder e de suas palavras, idéias conclusivas e definitivas sobre as
mais diversas vivências da espiritualidade, ou sobre quaisquer problemáticas
humanas, como se possuíssem a visão integral de tais questões.
Quaisquer dessas vivências, expectativas elevadas ou
criação de modelos podem nos trazer muita decepção e revolta. Somos todos
aprendizes, uns com mais, outros com menos experiência. Todos, no entanto, sem
exceção, como aprendizes do progresso e gestores do bem. Podemos sempre
aprender algo com alguém, desde que tenhamos visão e predisposição à
alteridade. O que hoje entendemos como sendo excepcional em alguém, amanhã
poderá não ser tão útil para nossa percepção mutável e ascensional.
Por mais bem sucedida a reencarnação na melhoria
espiritual, isso será apenas o primeiro passo de uma longa jornada. Então
porque glórias fictícias com ídolos de pés de barro?
Missionários e virtuosos? São muito raros na Terra.
Para conhecê-los é muito fácil, nenhum deles aceita uma
relação de idolatria, enquanto verifica-se outro gênero de conduta com muitos
que se julgam ou são julgados como tais.
Muita vez os "ídolos espíritas" que miramos não
suportariam ter feridas as cordas dos interesses pessoais. Bastaria alguém
cumprir o dever - ainda poucas vezes exercido - de questioná-los com
fraternidade para se rebelarem. Acostumou-se tanto a essa convenção em nossos
ambientes de cristianismo redivivo, que já não se indaga ou filosofa, apenas se
crê. Especialmente se determinadas fontes consagradas, sejam homens,
instituições ou mesmo desencarnados, expedem idéias ou teorias, não se
pesquisa, não se analisa com a prudência que manda o bom senso, apenas crê-se.
Não existem debates e, o que é mais lamentável, muitos
corações incensados pela reverência excessiva não fazem nada para dela
afastarem os menos vividos, os quais terminam, em muitos casos, como pupilos
mimados e protegidos que fazem escolas ...
Apesar da constatação desses malefícios, tudo isso faz
parte da seqüência histórica de nossas vidas. Quando refletimos sobre a questão
é no intuito de chamar a atenção de todos nós para os prejuízos de continuarmos
cultivando semelhantes expressões de infantilidade emocional. Existe, de fato,
uma velha tendência que nos acompanha, a qual podemos declinar como "hábito
da canonização psíquica".
Muitos ídolos adoram as bajulações e burburinhos em torno
de seu nome. São folgas que não deveríamos buscar para nossa vida!
Os ídolos deveriam se educar e educar os outros para
assumirem a condição de condutores, aqueles que lideram promovendo, libertando,
e não fazendo "coleção de admiradores" para alimentar seu personalismo.
Como bons espíritas, apenas começamos os serviços de
transformar a auto-imagem de orgulho, profundamente cristalizada nos recessos
da mente. Quando adornamo-nos com qualidades e virtudes que imaginamos possuir,
perdemos a oportunidade de sermos nós mesmos, de eleger a autenticidade como
nossa conduta, de construir o quanto antes a "nova identidade" que
almejamos.,
Inspiremo-nos em nossas referências, todavia, não façamos
deles ídolos. Ouçamo-los, tiremos o proveito de suas conquistas, os respeitemos
e façamos tudo isso com equilíbrio, nem mais, nem menos.
Retifiquemos os nossos conceitos sobre lideranças no
melhor proveito das oportunidades das sementeiras espíritas.
Líderes autênticos são dinamizadores incansáveis da
criatividade e dos valores alheios. São estimuladores das singularidades
humanas.
Por isso suas qualidades são empatia, confiança, capacidade
de descobrir pendores.
Líderes que se integram na dinâmica de "agentes da
obra do Pai" assumem a postura de serem livres, sem apego às suas vitórias
ou realizações.
Sua alegria reside em ser útil e ver as obras sob sua
tutela crescerem em satisfação coletiva.
Dirigir, à luz das claridades espíritas, é valorizar o
distinto, o diferente, e não apenas os semelhantes, atendendo sempre ao bem geral.
Isso se chama conduta de alteridade.
Expoentes sempre surgirão. O que importa é o que faremos
deles ou com eles. Evitemos também a substituição que tem se tornado freqüente:
não os deixemos para aferrarmos às práticas. A isso se referia Kardec quando
disse: "Entretanto, abandonando de todo a Idolatria, os judeus desprezaram
a lei moral, para se aferrarem ao mais fácil: a prática do culto
exterior."
Livro: Reforma Intima Sem Martírio – Ermance Dufaux –
Wanderley S. Oliveira
FALSOS PROFETAS
Falso profeta não é somente aquele que perturba o serviço
da fé religiosa.
Sempre que negamos a execução fiel dos nossos deveres,
somos mistificadores, diante da Lei Divina, que nos emprestou os dons da Terra,
em favor do aprimoramento de nós mesmos.
Na maledicência, somos falsos profetas da fraternidade.
Na discórdia, somos mistificadores da paz.
Na preguiça, somos charlatões do trabalho.
Na indiferença, somos inimigos do dever.
Toda vez que olvidamos as nossas obrigações de
solidariedade para com os nossos semelhantes, que prejudicamos o serviço que
nos cabe atender, que fugimos aos nossos testemunhos de humildade, que
oprimimos as criaturas inferiores, somos falsos profetas do ideal superior que
abraçamos com o Cristo.
A Terra é a nossa escola.
O Lar é o nosso templo.
O Próximo é o nosso irmão.
A Humanidade é a nossa família.
A Luta é o nosso aprendizado.
A Natureza é o livro sublime da vida.
Não nos esqueçamos, assim, de que, um dia, seremos
chamados à prestação de contas dos talentos e dos favores que hoje desfrutamos,
para resgatar o dia de ontem e santificar o dia de amanhã.
Fonte: Levantar e Seguir – Francisco Cândido Xavier –
Emmanuel
Nenhum comentário:
Postar um comentário