7 – Se a riqueza tivesse de ser um obstáculo absoluto à
salvação dos que a possuem, como se poderia inferir de certas expressões de
Jesus, interpretadas segundo a letra e não
segundo o espírito? Deus, que a distribui, teria posto nas mãos de
alguns um instrumento fatal de perdição, o que repugna à razão. A riqueza é,
sem dúvida, uma prova mais arriscada, mais perigosa que a miséria, em virtude
das excitações e das tentações que oferece, da fascinação que exerce. É o
supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual. É o laço que mais
poderosamente liga o homem a Terra e desvia os seus pensamentos do céu. Produz
tamanha vertigem, que vemos quase sempre os que passam da miséria à fortuna
esquecerem-se rapidamente da sua antiga posição, bem como dos seus
companheiros, dos que os ajudaram, tornando-se insensíveis, egoístas e fúteis.
Mas, por tornar o caminho mais difícil, não se segue que o torne inviável, e
não possa vir a ser um meio de salvação nas mãos do que a sabe utilizar, como
certos venenos que restabelecem a saúde, quando empregados a propósito e com
discernimento.
Quando Jesus disse ao moço que interrogava sobre os meios
de atingir a vida eterna: “Desfaze-te de todos os bens, e segue-me”, não
pretendia estabelecer como princípio absoluto que cada um devia despojar-se do
que possui, e que a salvação só se consegue a esse preço, mas mostrar que o
apego aos bens terrenos é um obstáculo à salvação. Aquele moço, com efeito,
julgava-se quite com a lei, porque havia observado certos mandamentos, e no
entanto recusava à idéia de abandonar os seus bens; seu desejo de obter a vida
eterna não ia até esse sacrifício.
A proposição que Jesus lhe fazia era uma prova decisiva,
para por às claras o fundo do seu pensamento. Ele podia, sem dúvida, ser um
padrão de homem honesto, segundo o mundo, não prejudicar a ninguém, não
maldizer o próximo, não ser frívolo, nem orgulhoso, honrar ao pai e a mãe. Mas
não tinha a verdadeira caridade, pois a sua virtude não chegava até à
abnegação. Eis o que Jesus quis demonstrar. Era uma aplicação do princípio:
Fora da caridade não há salvação.
A conseqüência daquelas palavras, tomadas na sua mais
rigorosa acepção, seria a abolição da fortuna, como prejudicial à felicidade
futura e como fonte de incontáveis males terrenos; e isso seria também a
condenação do trabalho, que a pode proporcionar. Conseqüência absurda, que
reconduziria o homem à vida selvagem, e que, por isso mesmo, estaria em
contradição com a lei do progresso, que é uma lei de Deus.
Se a riqueza é a fonte de muitos males, se excita tantas
más paixões, se provoca mesmo tantos crimes, não é a ela que devemos ater-nos,
mas o homem que dela abusa, como abusa de todos os dons de Deus. Pelo abuso,
ele torna pernicioso o que poderia ser-lhe mais útil, o que é uma conseqüência
do estado de inferioridade do mundo terreno. Se a riqueza só tivesse de
produzir o mal, Deus não a teria posto na Terra. Cabe ao homem transformá-la em
fonte do bem. Se ela não é uma causa imediata do progresso moral, é, sem
contestação, um poderoso elemento do progresso intelectual.
O homem, com efeito, tem por missão trabalhar pela
melhoria material do globo. Deve desbravá-lo, saneá-lo, dispô-lo para um dia
receber toda a população que a sua extensão comporta. Para alimentar essa
população, que cresce sem cessar, deve aumentar a produção. Se a produção de
uma região for insuficiente, precisa ir buscá-la noutra. Por isso mesmo, as
relações de povo a povo tornam-se uma necessidade, e para facilitá-las é
forçoso destruir os obstáculos materiais que os separam, tornar mais rápidas as
comunicações. Para os trabalhos das gerações, que se realizam através dos
séculos, o homem teve de extrair materiais das próprias entranhas da terra.
Procurou na ciência os meios de executá-los mais rápida e seguramente; mas,
para fazê-lo, necessitava de recursos: a própria necessidade o levou a produzir
a riqueza, como o havia feito descobrir a ciência. A atividade exigida por esses
trabalhos lhe aumenta e desenvolve a inteligência. Essa inteligência, que ele a
princípio concentra na satisfação de suas necessidades materiais, o ajudará
mais tarde a compreender as grandes verdades morais. A riqueza, portanto, sendo
o primeiro meio de execução, sem ela não haveria grandes trabalhos, nem
atividade, nem estímulo, nem pesquisas: com razão, pois, é considerada elemento
de progresso.
O LIVRO DOS
ESPÍRITOS – QUESTÃO 711 a 714
711. O uso dos bens da Terra é um direito de todos os
homens?
“Esse direito é consequente da necessidade de viver. Deus
não imporia um dever sem dar ao homem o meio de cumpri-lo.”
712. Com que fim pôs Deus atrativos no gozo dos bens
materiais?
“Para instigar o homem ao cumprimento da sua missão e
para experimentá-lo por meio da tentação.”
a) Qual o objetivo dessa tentação?
“Desenvolver-lhe a razão, que deve preservá-lo dos
excessos.”
Se o homem só fosse instigado a usar dos bens terrenos
pela utilidade que têm, sua indiferença houvera talvez comprometido a harmonia
do Universo.
Deus imprimiu a esse uso o atrativo do prazer, porque
assim é o homem impelido ao cumprimento dos desígnios providenciais. Além
disso, porém, dando àquele uso esse atrativo, quis Deus também experimentar o
homem por meio da tentação, que o arrasta para o abuso, de que deve a razão
defendê-lo.
713. Traçou a Natureza limites aos gozos?
“Traçou, para vos indicar o limite do necessário; mas,
pelos vossos excessos, chegais à saciedade e vos punis a vós mesmos.”
714. Que se deve pensar do homem que procura nos excessos
de todo gênero o requinte dos gozos?
“Pobre criatura! mais digna é de lástima que de inveja,
pois bem perto está da morte!”
a) Perto da morte física, ou da morte moral?
“De ambas.”
O homem, que procura nos excessos de todo gênero o
requinte do gozo, coloca-se abaixo do bruto, pois que este sabe deter-se,
quando satisfeita a sua necessidade. Abdica da razão que Deus lhe deu por guia
e quanto maiores forem seus excessos, tanto maior preponderância confere ele à sua
natureza animal sobre a sua natureza espiritual. As doenças, as enfermidades e,
ainda, a morte, que resultam do abuso, são, ao mesmo tempo, o castigo à
transgressão da Lei de Deus.
O LIVRO DOS
ESPÍRITOS – QUESTÃO 816
Estando o rico sujeito a maiores tentações, também não dispõe,
por outro lado, de mais meios de fazer o bem?
“Mas é justamente o que nem sempre faz. Torna-se egoísta,
orgulhoso e insaciável. Com a riqueza, suas necessidades aumentam e ele nunca
julga possuir o bastante para si unicamente.”
A alta posição do homem neste mundo e o ter autoridade
sobre os seus semelhantes são provas tão grandes e tão escorregadias como a
desgraça, porque, quanto mais rico e poderoso é ele, tanto mais obrigações tem
que cumprir e tanto mais abundantes são os meios de que dispõe para fazer o bem
e o mal. Deus experimenta o pobre pela resignação e o rico pelo emprego que dá
aos seus bens e ao seu poder.
A riqueza e o poder fazem nascer todas as paixões que nos
prendem à matéria e nos afastam da perfeição espiritual. Por isso foi que Jesus
disse:
“Em verdade vos digo que mais fácil é passar um camelo
por um fundo de agulha do que entrar um rico no reino dos céus”. (266)
TEXTOS DE APOIO
A POBREZA FELIZ
Quem se empobrece de ambições inferiores, adquire a luz
que nasce da sede de perfeição espiritual.
Quem se empobrece de orgulho, encontra a fonte oculta da
humildade vitoriosa.
Quem se empobrece de exigências da vida física, recebe os
tesouros inapreciáveis da alma.
Quem se empobrece de aflições inúteis, em torno das
posses efêmeras da Terra, surpreende a riqueza da paz em si mesmo.
Quem se empobrece de vaidade, amealha as bênçãos do
serviço.
Quem se empobrece de ignorância, ilumina-se com a chama
da sabedoria.
Não vale amontoar ilusões que nos enganam somente no
transcurso de um dia.
Não vale sermos ricos de mentira, no dia de hoje, para
sermos indigentes da verdade, no dia de amanhã.
Ser grande, à frente dos homens, é sempre fácil. A
astúcia consegue semelhante fantasia sem qualquer obstáculo.
Mas ser pequenino, diante das criaturas, para servirmos
realmente aos interesses do Senhor, junto da Humanidade, é trabalho de raros.
Bem aventurada será sempre a pobreza que sabe se
enriquecer de luz para a imortalidade, porque o rico ocioso da Terra é o
indigente da Vida Mais Alta e o pobre esclarecido do mundo é o espírito
enobrecido das Esferas Superiores, que será aproveitado na extensão da Obra de
Deus.
XAVIER, Francisco Cândido. Dinheiro. Pelo Espírito
Emmanuel. IDE. Capítulo 14.
RIQUEZA
Rico é o pântano pelos depósitos de matéria orgânica.
Rica é a enxurrada pelos recursos de adubação.
Rica é a argila pela maleabilidade com que obedece ao
oleiro.
Rica é a pedra pela segurança que oferece à construção.
Rica é a ostra que encerra a pérola no próprio seio.
Rica é a árvore pelos tesouros que espalha.
Rico é o serro bruto pelos metais que esconde.
Rica é a areia que defende o leito das águas.
Rica é a fonte que auxilia sem recompensa.
Rica é a forja pelas utilidades que produz.
Rica é a dor pelas lições que ensina.
O Senhor não criou a pobreza.
Além disso, converteu o homem no rei coletivo da
definição, permanece detido na posição de chefe dos animais.
Onde há luz de inteligência, não há penúria.
Cada coração pode ser um manancial de bênçãos.
Doar estímulo, fraternidade, alegria, consolo, esperança
e amor é mais que transferir as bênçãos dos recursos amoedados.
Estejamos a postos para trabalhar e servir, sem olvidamos
que se há grandes benfeitores da Humanidade, que semeiam fortunas incalculáveis
na preservação da saúde e da instrução da vida comunitária, Jesus, ainda e
sempre, é o maior de todos os redentores da Terra, porque ofereceu ao mundo a
própria vida, no sacrifício supremo do próprio coração.
XAVIER, Francisco Cândido. Endereços de Paz. Pelo
Espírito André Luiz. CEU.
EMPREGO DE RIQUEZAS
“Acautelai-vos e
guardai-vos da avareza, porque a vida de alguém não consiste da abundância
daquilo que possui. - JESUS - LUCAS, 12: 15.
“Se a riqueza somente males houvesse de produzido Deus
não a teria posto na Terra. ”cap.16;7.
Foge de reprovar todos aqueles que transitam na Terra sob
a cruz do dinheiro, a definir-se, freqüentemente, por fardo de aflição.
Não somente os depósitos amoedados podem ser convertidos
em trabalho renovador e santificante Todas as disponibilidades da natureza são
forças neutras.
O ouro e o vapor, a eletricidade e o magnetismo não são
maus e nem bons em si mesmos; o uso é o denominador comum que lhes revela os
bens ou os males decorrentes do controle e da bens ou os orientação que lhes
imprimimos.
Meditemos na utilização daquelas outras riquezas que nos
felicitam a cada hora.
No teste individual, é desnecessário ir longe para a
justa demonstração.
Ouçamos a consciência sobre o aproveitamento de todas as
preciosas possibilidade do corpo que nos patenteiam a mente.
Diante de uma cena suspeitosa, observemos a conduta que
distamos aos olhos para que nos auxiliem a fixar as imagens edificantes, com
espontâneo desinteresse por todos os ingredientes capazes de formar o vinagre
da Injúria.
Escutando essa ou aquela notícia inusitada, reparemos a
diretriz que impomos aos próprios Ouvidos, de modo a que retenham o melhor das
informações recolhidas, a fim de que a nossa palavra se abstenha de tudo o que
possa constituir agravo a instituições e pessoas.
A frente do trabalho, é preciso anotar que espécie de
comportamento indicamos aos nossos implementos de manifestação, para que não
nos disponhamos a enlaçar os deveres que nos competem, com flagrante prejuízo
dos outros.
Em assuntos do sentimento, será forçoso perguntar, no
íntimo, quanto ao procedimento que sugerimos aos nossos recursos de expressão
afetiva, para que, em nome do amor, não venhamos a Precipitar corações
sensíveis e generosos em abismos de criminalidade e desilusão.
Reflitamos nos talentos divinos que nos abençoam, em
todas as esferas da existência e, desejando felicidade e vitória, a todos os
nossos amigos que se movimentam, no mundo, sob o peso da fortuna transitória,
com difíceis problemas a resolver, anotemos com Imparcialidade como empregamos,
dia a dia, os créditos do tempo e os tesouros da vida, para que venhamos a
saber com segurança o que estamos; fazendo realmente de nós.
Emmanuel do livro O Livro da Esperança - Psicografado por Francisco C Xavier
OURO: PRÓS E
CONTRAS
Francisco Cândido Xavier
O Evangelho Segundo o Espiritismo nos ofereceu para
estudo o item 7 do capítulo XVI,
relativo à fortuna terrena. Os
comentários dos companheiros foram os mais diversos.
Alguns destacavam a sovinice e a ambição, a maldade e a
guerra através da História, formulando acusações ao ouro. Outros mostravam o
valor da fortuna material como instrumento de evolução do homem e do mundo.
Complementando as observações da noite, o nosso caro
Emmanuel escreveu a página a que denominou Dinheiro.
— Talvez... — Talvez... dirás, com amargura de quantos
viste no resvaladouro da delinqüência por não saberem usufruí-lo com segurança
e proveito. De nossa parte, porém, tomamos a liberdade de perguntar se conheces
todo o inventário:
das dores que o dinheiro suprime;
das lágrimas que enxuga;
das aflições que desfaz;
das empresas culturais que sustenta;
do reconforto que espalha;
das esperanças que semeia;
das boas obras que realiza;
das vidas que salva;
dos suicídios e delitos outros
que consegue evitar;
das indústrias que incentiva e mantém;
das inteligências que aprimora;
ou das bênçãos de alegria que distribui.
Não censures a fortuna amoedada e nem condenes aqueles
que a conservam, carregando responsabilidades e dirigindo-se a fins que
ignoramos.
Na Terra o dinheiro é uma alavanca que a Divina
Providência nos coloca nas mãos; manejando-a, tanto se pode marginalizar o
coração nas trevas quanto edificar o luminoso caminho para a Via Maior.
Dinheiro, em suma, vem de Deus, mas é forçoso reconhecer
que a aplicação dele vem de nós.
DINHEIRO
Emmanuel
Abençoa o dinheiro para que o dinheiro te abençoe.
Em verdade, não temos nele a vida, mas em si mesmo se
erige por valioso sustentáculo do progresso, sobre o qual a vida se aperfeiçoa.
Não é o amor; entretanto, suscita a simpatia e o
reconhecimento em que, muitas vezes, o amor aparece em fontes de luz.
Não é a saúde; todavia, assegura o medicamento que
combate a enfermidade.
Não é a paz; contudo, é fator de equilíbrio, promovendo o
trabalho ou extinguindo muitos dos débitos que atormentam o espírito.
Não é a felicidade; no entanto, pode criar a felicidade a
nosso favor, através do bem que é capaz de esparzir.
OS RICOS E O REINO
Irmão Saulo
A condenação de Jesus aos ricos, tão clara no Evangelho
de Lucas, não se refere à fortuna em si, mas ao apego à fortuna. Se Jesus
considerasse o dinheiro como maldição não diria ao moço rico que o distribuísse
aos pobres. A riqueza individual e familiar é uma forma de acumulação com
vistas ao futuro da coletividade. Kardec examinou suficientemente esse problema
e deixou evidente o papel social da riqueza. Mas justamente por isso ela se
torna, como dizem constantemente os espíritos, uma das provas mais perigosas
para o espírito encarnado.
Podemos compará-la à saúde. O homem são e forte em geral
se embriaga com a sua condição e se afasta dos problemas do espírito. Esquece o
que é e que terão de voltar ao plano espiritual. A prova da saúde é tão
perigosa como a da fortuna. Mas ambas têm por finalidade adestrar o espírito na
luta com as ilusões, com as fascinações da vida. É nessa luta que o espírito
desenvolve os seus poderes internos, a sua capacidade de superar a matéria, de
dominá-la como o nadador domina a água.
A parábola do jovem rico põe a nu a situação do espírito
diante da prova. O jovem queria a salvação e procurava seguir os preceitos da
lei para atingi-la. Sua consciência o advertia de que ele não estava fazendo o
necessário. Mas quando Jesus lhe disse que se libertasse dos seus bens e os
revertesse em favor dos pobres, ele não teve coragem de fazê-lo. Vender as suas
propriedades e distribuir o dinheiro aos necessitados não é apenas dar esmolas.
A maior esmola é a que se faz em forma de auxílio e estímulo ao trabalho. As
propriedades inúteis do jovem rico podiam ser transformadas em recursos de
produção, beneficiando os pobres.
A acumulação da fortuna implica no dever do seu bom
emprego em favor da coletividade. Quem não a usa nesse sentido, mas apenas em
benefício do seu orgulho e da sua vaidade pessoal, está colocando-se na
situação do camelo que não pode passar pelo fundo da agulha. A vida terrena
passa breve e o rico egoísta logo se verá diante da porta estreita do Reino sem
poder franqueá-la. Quando os homens forem capazes de enfrentar a prova da
riqueza para vencer o egoísmo, a miséria desaparecerá do mundo.
A porta do Reino de Deus é estreita, porque só as almas
puras, aliviadas da carga da ambição e do orgulho, devem passar por ela. O rico
egoísta, apegado aos seus haveres, não consegue entrar, pois não se dispõe a
largar os seus fardos do lado de fora. Terá de voltar muitas vezes à Terra, aos
reinos dos homens, para aprender que a riqueza material só o ajudará quando ele
souber trocar as suas moedas de metal por atos de amor.
Do livro Diálogo dos Vivos. Espíritos Diversos. Psicografia
de Francisco Cândido Xavier e J. Herculano Pires.
A DECISÃO SÁBIA
Em tempos recuados, existiu um rei poderoso e bom, que se
fizera notado pela sabedoria.
Convidado a verificar, solenemente, a invenção de um
súdito, cuja cabeça era um prodígio na matemática, compareceu em trajes de
honra à festa em que o novo aparelho seria apresentado.
O calculista, orgulhoso, mostrou a obra que havia criado
pacientemente. Tratava-se de largo tabuleiro forrado de veludo negro, cercado
de pequenas cavidades, sustentando regular coleção de bolas de madeira
colorida. Acionadas por longos tacos de marfim, essas bolas rolavam na direção
das cavidades naturais, dando ensejo a um jogo de grande interesse pela
expectação que provocava.
Revestiu-se a festa de brilho indisfarçável.
Contendores variados disputaram partidas de vulto.
Dia inteiro, grande massa popular rodeou o invento,
comendo e bebericando.
O próprio monarca seguiu a alegria geral, dando amostras
de evidente satisfação. Serviu-se, ao almoço, junto às grandes bandejas de
carne, pão e frutos, em companhia dos amigos, e aplaudia, contente, quando esse
ou aquele participante do novo e inocente jogo conseguia posição invejável
perante ao companheiros.
À tardinha, encerrada a curiosidade geral, o inventou
aguardou o parecer do soberano, com inexcedível orgulho. Aglomerou-se o povo,
igualmente a fim de ouvi-lo.
Não se cansava o público de admirar o jogo efetuado,
através de cálculos divertidos.
Despendindo-se, o rei levantou-se, fez-se visto de todos
e falou ao vassalo inteligente:
- Genial matemático: a autoridade de minha coroa
determina que sua obra de raciocínio seja premiada com cem peças de ouro que os
cofres reais levarão ao seu crédito, ainda hoje, em homenagem à sua paciência e
habilidade. Essa remuneração, todavia, não lhe visa somente o valor pessoal,
mas também certos benefícios que a sua máquina vem trazer a muitos homens e
mulheres de meu reino, menos afeitos às virtudes construtivas que todos devemos
respeitar neste mundo. Enquanto jogarem suas bolas de madeira, possivelmente
muitos indivíduos, cujos instintos criminosos ainda se acham adormecidos, se
desviarão do delito provável e muitos caçadores ociosos deixarão em paz os
animais amigos de nossas florestas.
O monarca fez comprida pausa e a multidão prorrompeu em
aplausos delirantes.
Via-se o inventou cercados de abraços, quando o soberano
recomeçou:
- Devo acrescentar, porém, que a sabedoria de meu cetro
ordena que o senhor seja punido com cinqüenta dias de prisão forçada, a fim de
que aprenda a utilizar sua capacidade intelectual em benefício de todos. A
inteligência humana é uma luz cuja claridade deve ser consagrada à cooperação
com o Supremo Senhor, na Terra. Sua invenção não melhora o campo, nem cria
trabalho sério; não ajuda as sementes, nem ampara os animais; não protege
fontes, nem conserva estradas; não colabora com a educação, nem serve aos
ideais do bem. Além disto, arrasta centenas de pessoas, qual se verificou neste
dia, conosco, a perderem valioso tempo na expectativa inútil. Volte aos seus
abençoados afazeres mentais, mesmo no cárcere, e dedique inteligência à criação
de serviço e utilidades em proveito de todos, porque, se o meu poder o
recompensa, a minha experiência o corrige.
Quando o rei concluiu e desceu da tribuna, o inventor se
fizera muito pálido, o povo não bateu palmas; entretanto, toda gente aprendeu,
na decisão sábia do grande soberano, que ninguém deve menosprezar os tesouros
da inteligência e do tempo sobre a Terra.
Francisco Cândido Xavier, Da obra: Alvorada Cristã. Ditado pelo Espírito
Neio Lúcio
O RICAÇO DISTRAÍDO
Existiu um homem devoto que chegou ao céu e, sendo
recebido por um anjo do Senhor, implorou, enlevado:
- Mensageiro Divino, que devo fazer para vir morar, em
definitivo, ao lado de Jesus?
- Faze o bem – informou o Anjo – e volta mais tarde.
- Posso rogar-te recursos para semelhante missão?
- Pede o que desejas.
- Quero dinheiro, muito dinheiro, para socorrer o meu
próximo.
O emissário estranhou o pedido e considerou:
- Nem sempre o ouro é o auxiliar mais eficiente para
isso.
- Penso, contudo, meu santo amigo, que, sem o ouro, é
muito difícil praticar a caridade.
- E não temes as tentações do caminho?
- Não.
- Terás o que almejas – afirmou o mensageiro -, mas não
te esqueças de que o tesouro de cada homem permanece onde tem o coração, porque
toda alma reside onde coloca o pensamento. Tuas possibilidades materiais serão
multiplicadas. No entanto, não ouvides que as dádivas divinas, quando retidas
despropositadamente pelo homem, sem qualquer proveito para os semelhantes,
transformam-no em prisioneiro delas. A lei determina sejamos escravos dos
excessos a que nos entregarmos.
Prometeu o homem exercer a caridade, servir extensamente
e retornou ao mundo.
Os Anjos da Prosperidade começaram, então, a ajudá-lo.
Multiplicaram-lhe, de início, as peças de roupa e os
pratos de alimentação; todavia, o devoto já remediado suplicou mais roupas e
mais alimentos.
Deram-lhe casa e haveres. Longe, contudo, de praticar o
bem, considerava sempre escassos os bens que possuía e rogou mais casas e mais
haveres. Trouxeram-lhe rebanhos e chácaras, mas o interessado em subir ao
paraíso pela senda da caridade, temendo agora a miséria, implorou mais rebanhos
e mais chácaras. Não cedia um quarto, nem dava uma sopa a ninguém,
declarando-se sem recursos para auxiliar os necessitados e esperava sempre
mais, a fim de distribuir algum pão com eles. No entanto, quanto mais o Céu lhe
dava, mais exigia do Céu.
De espontâneo e alegre que era, passou a ser desconfiado,
carrancudo e arredio.
Receando amigos e inimigos, escondia grandes somas em
caixa forte, e quando envelheceu, de todo, veio a morte, separando-o da imensa
fortuna.
Com surpresa, acordou em espírito, deitado no cofre
grande.
Objetos preciosos, pedaços de ouro e prata e vastas
pilhas de cédulas usadas serviam-lhe de leito.
Tinha fome e sede, mas não podia servir-se das moedas;
queria a liberdade, porém, as notas de banco pareciam agarrá-lo, à maneira de
visco retentor de pássaro cativo.
- Santo Anjo! – gritou, em pranto – vem! Ajuda-me a
partir, em direção à Casa Celestial!...
O mensageiro dignou-se a baixar até ele e, reparando-lhe
o sofrimento, exclamou:
- É muito tarde para súplicas! Estás sufocado pelas
correntes de facilidades materiais que o Senhor te confiou, porque a fizeste
rolar tão-somente em torno de ti, sem qualquer benefício para os irmãos de luta
e experiência...
- E que devo fazer – implorou o infeliz – para retomar a
paz e ganhar o paraíso?
O Anjo pensou, pensou... e respondeu:
- Espalha com proveito as moedas que ajuntas-te
inutilmente, desfaze-te da terra vasta que retiveste em vão, entrega à
circulação do bem todos os valores que recebeste do Tesouro Divino e que
amontoaste em derredor de teus pés, atendendo ao egoísmo, à vaidade, à avareza
e à ambição destrutiva e, depois disso, vem a mim para retomarmos o
entendimento efetuado a sessenta anos...
Reconhecendo, porém, o homem que já não dispunha de um
corpo de carne para semelhante serviço, começou a gritar e blasfemar, como se o
inferno estivesse morando em sua própria consciência.
Francisco Cândido
Xavier Da obra: Alvorada Cristã pelo Espírito Neio Lúcio
DINHEIRO
O dinheiro não compra o Céu, mas pode gerar a simpatia na
Terra, quando utilizado nas tarefas do Bem.
Não paga a boa vontade, entretanto, semeia o benefício e
o contentamento de viver, se nossa alma permanece voltada para a Divina
Inspiração.
Não tem valor para o câmbio, depois da morte, contudo, é
sustentáculo do progresso geral, se nosso espírito está centralizado nos
objetivos de elevação.
Não é fator absoluto de alegria ou de felicidade, mas
pode ser o remédio ao doente, a gota de leite à criancinha desamparada, o teto
ao velhinho relegado ao frio da noite, o socorro silencioso ao peregrino sem
lar.
Não é gerador de luz, entretanto, pode estender a fonte
de idéias de consolação e de amor, em que muitas almas sequiosas de paz se
dessedentam.
Não é a base da harmonia, mas, em muitas ocasiões,
consegue devolver a tranqüilidade a corações paternos desalentados e a ninhos
domésticos infelizes, toda vez que os nossos sentimentos se inclinam parara a
verdadeira solidariedade.
Não permitas que o dinheiro te tome o coração, usando-te
a vida, qual despótico senhor e sim conduzamo-lo, através da utilidade, do entendimento
e da cooperação, sob os imperativos da lei de fraternidade que nos reúne.
Não nos esqueçamos de que Jesus abençoou o vintém da
viúva, no tesouro público do Templo e, empregando o dinheiro para o bem,
convertamo-lo em colaborador do Céu em todas as situações e dificuldades da
Terra.
DINHEIRO
(Francisco Cândido Xavier – por Emmanuel)
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