7 – O dever é a obrigação moral, primeiro para consigo
mesmo, e depois para com os outros. O dever é a lei da vida: encontramo-lo nos
mínimos detalhes, como nos atos mais elevados. Quero falar aqui somente do
dever moral, e não do que se refere às profissões.
Na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de ser
cumprido, porque se encontra em antagonismo com as seduções do interesse e do
coração. Suas vitórias não têm testemunhas, e suas derrotas não sofrem
repressão. O dever íntimo do homem está entregue ao seu livre arbítrio: o
aguilhão da consciência, esse guardião da probidade interior, o adverte e
sustenta, mas ele se mostra freqüentemente impotente diante dos sofismas da
paixão. O dever do coração, fielmente observado, eleva o homem. Mas como
precisar esse dever? Onde ele começa? Onde acaba? O dever começa precisamente
no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranqüilidade do vosso próximo, e
termina no limite que não desejaríeis ver transposto em relação a vós mesmos.
Deus criou todos os homens iguais para a dor; pequenos ou
grandes, ignorantes ou instruídos, sofrem todos pelos mesmos motivos, a fim de
que cada um pese judiciosamente o mal que pode fazer. Não existe o mesmo
critério para o bem, que é infinitamente mais variado nas suas expressões. A
igualdade em relação à dor é uma sublime previsão de Deus, que quer que os seus
filhos, instruídos pela experiência comum, não cometam o mal desculpando-se com
a ignorância dos seus efeitos.
O dever é o resumo prático de todas as especulações
morais. É uma intrepidez da alma, que enfrenta as angústias da luta. É austero
e dócil, pronto a dobrar-se às mais diversas complicações, mas permanecendo
inflexível diante de suas tentações. O homem que cumpre o seu dever ama a Deus
mais que as criaturas, e as criaturas mais que a si mesmo; é a um só tempo,
juiz e escravo na sua própria causa.
O dever é o mais belo galardão da razão; ele nasce dela,
como o filho nasce da mãe. O homem deve amar o dever, não porque ele o preserve
dos males da vida, aos quais a humanidade não pode subtrair-se, mas porque ele
transmite à alma o vigor necessário ao seu desenvolvimento.
O dever se engrandece e esplende, sob uma forma sempre mais
elevada, em cada uma das etapas superiores da humanidade. A obrigação moral da
criatura para com Deus jamais cessa, porque ela deve refletir as virtudes do
Eterno, que não aceita um esboço imperfeito, mas deseja que a grandeza da sua
obra resplandeça aos seus olhos.
TEXTOS DE APOIO
DEVER CRISTÃO
Rossi e Alves eram diretores de conhecido templo espírita
e davam-se muito bem na vida particular. Afinidade profunda. Amizade recíproca.
Sempre juntos nas boas obras, integravam-se perfeitamente no programa do bem.
Alves, com desapontamento, passou a saber que Rossi, nas
três noites da semana sem atividades doutrinárias, era visto penetrando a porta
de uma casa evidentemente suspeita, lugar tristemente adornado para encontros
clandestinos de casais transviados.
Persistindo semelhante situação por mais de um mês,
Alves, certa noite, informado de que o amigo entrara na casa referida, veio
esperá-lo à saída.
Dez, onze, meia-noite...
Alguns minutos depois de zero hora, Rossi saiu calmo e o
amigo abordou-o: - Meu caro – advertiu Alves, sisudo, não posso vê-lo
reiteradamente neste lugar.
Você é casado, pai de família e, além de tudo, carrega
nos ombros a responsabilidade de mentor em nossa Casa. Nada podemos condenar,
mas você não ignora que álcool e entorpecentes, aí dentro, andam em bica...
Rossi coçou a cabeça num gesto característico e observou:
- Não há nada. Estou apenas cumprindo um dever cristão.
- Dever cristão?
- Sim, a filha de um dos meus melhores amigos está frequentando
este círculo. Jovem inexperiente. Ave desprevenida em furna de lobos. Enganada
por lamentável explorador de meninas, acreditou nele...
Mas a batalha está quase ganha. Convidei-a a pensar. Há
mais de um mês prossegue a luta.
Hoje, porém, viu com os próprios olhos o logro de que é
vítima. Acredito que amanhã surgirá renovada...
E ante os olhos desconfiados do amigo:
- Você sabe. É preciso agir, sem rumor, sem escândalo.
Quem sabe? Talvez em futuro próximo a invigilante pequena possa encontrar
companheiro digno. E ser mãe respeitada.
Alves riu-se às pampas, de maneira escarninha, e falou:
- Vou ver se é verdade.
- Não, não! Não vá! – pediu Rossi, em suplica ansiosa.
- Tem medo de ser apanhado em mentira? – disse Alves, com
a suspeita no rosto.
E sem mais nem menos entrou casa adentro encontrando, num
pequeno salão, sua própria filha chorando ao pé de um cavalheiro
desconhecido...
Espírito: Hilário Silva -
Psicografia: Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira - Livro: A Vida
Escreve
FELICIDADE E
DEVER
A procura da felicidade assemelha-se, no fundo, a uma
caçada difícil.
Taxando-se por dom facilmente apreçável, há quem a
procure entre os mitos do ouro, enferrujando as mais belas faculdades da alma,
na fossa da usura; quem a dispute no prazer dos sentidos, acordando no catre da
enfermidade; quem lhe suponha a presença na exaltação do poder terrestre,
acolhendo-se à dor de extrema desilusão, e quem a busque na retenção do
supérfluo, apodrecendo de tédio, em câmaras de preguiça.
Não há felicidade, contudo, sem dever corretamente
cumprido.
Observa, pois, o dever de que a vida te incumbe.
Vê-lo-ás, hora a hora, no quadro das circunstâncias.
Na fé que te pede serviço.
No serviço que te roga compreensão.
No ideal que te pede caráter.
No caráter que te roga firmeza.
No exemplo que te pede disciplina.
Na disciplina que roga humildade.
No lar que te pede renúncia.
Na renúncia que te roga perseverança.
No caminho que te pede cooperação.
Na cooperação que te roga discernimento.
Por mais agressivos se façam os empeços da marcha, não te
desvie da obrigação que te recomenda o bem de todos, sempre que puderes e
quanto puderes seja onde for.
Porque te mostre leal a ti mesmo é possível que a maioria
te categorize a conta de ingrato e rebelde, fanático e louco.
A maioria, no entanto, nem sempre abraça o direito.
Não podemos esquecer que, no instante supremo da
humanidade, ela, a maioria, estava com Barrabás e contra o Cristo.
Cumpre, assim, teu dever, e, tomando da terra somente o
necessário à própria manutenção, de modo a que te não apropries da felicidade
dos outros, estarás atingindo a verdadeira felicidade, que fulge sempre, como
benção de Deus, na consciência tranqüila.
De "Religião
dos Espíritos", de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel
OBEDECER
Muitos companheiros no mundo categorizam a obediência, à
conta de servilismo, no entanto, quando nos referimos à obediência,
reportamo-nos à disciplina, sem a qual a ordem não existiria.
A própria Natureza é um tratado dinâmico sobre o assunto.
O Sol garante a vida no Planeta, por não desertar da
própria órbita.
A Terra não se destrambelha no Espaço Cósmico, em vista
de atender aos encargos que lhe competem na lei de gravitação.
A massa dos oceanos submete-se a princípios de contenção,
fora dos quais, em se derramando, sufocaria a residência dos homens.
As águas se subordinam à intervenção das próprias
criaturas humanas, de modo a fecundarem o solo, nos mais diversos climas e
regiões.
Mestra da obediência, a árvore permanece no lugar em que
foi situada e serve incessantemente sem perguntar.
Pensa nisso e não fujas das obrigações que a vida te
confia, a pretexto de seguir os costumes ilógicos e desconcertantes a que
muitos setores da atualidade terrestre pretendem nomear como sendo renovação. A
renovação legítima se nos verifica no âmago do espírito com vistas ao nosso
próprio burilamento no mundo interior.
Obediência para o bem é dever a cumprir.
Compromisso com a desordem é subversão.
Faze de ti mesmo o melhor que possas.
Aceita os imperativos de serviço aos quais a vida te
chama e o futuro te mostrará que construíste em ti mesmo a vitória da luz
Emmanuel - Mensagem psicografada por Francisco Cândido
Xavier. Do livro "Espera Servindo"
APROVEITE O ENSEJO
Não é o companheiro dócil que exige a sua compreensão
fraternal mais imediata, E aquele que ainda luta por domar a ferocidade da ira,
dentro do próprio peito.
Não é o irmão cheio de entendimento evangélico que
reclama suas atenções inadiáveis. É aquele que ainda não conseguiu eliminar a
víbora da malícia do campo do coração.
Não é o amigo que marcha em paz, na senda do bem, quem
solicita seu cuidado insistente. É aquele que se perdeu no cipoal da discórdia
e da incompreensão, sem forças para tornar ao caminho reto.
Não é a criatura que respire no trabalho normal que
requisita socorro urgente. É aquela que não teve suficiente recurso para vencer
as circunstâncias constrangedoras da experiência humana e se precipitou na zona
escura do desequilíbrio.
É muito provável que, por enquanto, seja plenamente
dispensável a sua cooperação no paraíso.
É indiscutível, porém, a realidade de que, no momento, o
seu lugar de servir e aprender, ajudar e amar, é na Terra mesmo.
Autor: André Luiz Psicografia de Chico Xavier
TRAÇO ESPÍRITA
E - Cap. XVII -
Item 7
O companheiro, contado na estatística da Nova Revelação,
não pode viver de modo diferente dos outros, no entanto, é convidado pela
consciência a imprimir o traço de sua convicção espírita em cada atitude.
Trabalha - não ao jeito de pião consciente enrolado ao
cordel da ambição desregrada, aniquilando-se sem qualquer proveito. Age
construindo.
Ganha - não para reter o dinheiro ou os recursos da vida
na geladeira da usura. Possui auxiliando.
Estuda - não para converter a personalidade num cabide de
condecorações acadêmicas sem valor para a humanidade. Aprende servindo.
Prega - não para premiar-se em torneios de oratória e
eloqüência, transfigurando a tribuna em altar de suposto endeusamento. Fala
edificando.
Administra - não para ostentar-se nas galerias do poder,
sem aderir à responsabilidade que lhe pesa nos ombros. Dirige obedecendo.
Instrui - não para transformar os aprendizes em carneiro
destinados à tosquia constante, na garantia de propinas sociais e econômicas.
Ensina exemplificando.
Redige - não para exibir a pompa do dicionário ou render
homenagens às extravagâncias de escritores que fazem da literatura complicado
pedestal para o incenso a si mesmos. Escreve enobrecendo.
Cultiva a fé - não com o intento pretensioso de escalar o
céu teológico pelo êxtase inoperante, na falsa idéia de caprichos e
privilégios. Crê realizando.
O espírita vive como vivem os outros, mas em todas as
manifestações da existência é chamado a servir aos outros, através da atitude.
De Opinião Espírita, de Francisco Cândido Xavier e Waldo
Vieira, pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz
CARIDADE DO DEVER
De quando a quando, troquemos os grandes conceitos da
caridade pelos atos miúdos que lhe confirmem a existência.
Não apenas os fatos de elevado alcance e os gestos
heróicos dignos da imprensa.
Beneficência no cotidiano.
Não empurrar os outros na condução coletiva.
Evitar os serviços de última hora, nas instituições de
qualquer espécie, aliviando companheiros que precisam do ônibus em horário
certo para o retorno à família.
Reprimir o impulso de irritação e falar normalmente com
as pessoas que nada têm a ver com os nossos problemas.
Aturar sem tiques de impaciência a conversação do amigo
que ainda não aprendeu a sintetizar.
Ouvir, qual se fosse pela primeira vez, um caso recontado
pelo vizinho em lapso de memória.
Poupar o trabalho de auxiliares e cooperadores,
organizando anotações prévias de encomendas e tarefas por fazer, para que não
se convertam em andarilhos por nossa conta.
Desistir de reclamações descabidas diante de
colaboradores que não têm culpa das questões que nos induzem à pressa, nas
organizações de cujo apoio necessitamos.
Pagar sem delonga o motorista ou a lavadeira, o armazém
ou a farmácia que nos resolvem as necessidades, sem a menor obrigação de nos
prestarem auxílio.
Respeitar o direito do próximo sem exigir de ninguém
virtudes que não possuímos ou benefícios que não fazemos.
Todos pregamos reformas salvadoras.
Guardemos bastante prudência para não nos fixarmos inutilmente
nos dísticos de fachada.
Edificação social, no fundo, é caridade e caridade vem de
dentro.
Façamos uns aos outros a caridade de cumprir o próprio
dever.
André Luiz - LIVRO: APOSTILAS DA VIDA - PSICOGRAFIA CHICO
XAVIER
CONTIGO MESMO
"...O dever começa precisamente no ponto em que
ameaçais a felicidade ou a tranquilidade do vosso próximo; termina no limite que
não gostaríeis de ver ultrapassado em relação a vós mesmo...." (Cap.XVII,
ítem 7)
Como decifrar o dever? De que maneira observar o dever
íntimo impresso na consciência, diante de tantos deveres sociais, profissionais
e afetivos que muitas vezes nos impõem caminhos divergentes? Efetivamente,
nasceste e cresceste apenas para ser único no mundo. Em lugar algum existe
alguém igual a tua maneira de ser; portanto, não podes perder de vista essa
verdade, para encontrar o dever que te compete diante da vida.
Teu primordial compromisso é contigo mesmo, e tua tarefa
mais importante na Terra, para a qual és o único preprado, é desenvolver na
individualidade no transcorrer de tua longa jornada evolutiva. A preocupação
com os deveres alheios provoca teu distanciamento das próprias
responsabilidades, pois não concretizas teus ideais nem deixas que os outros
cumpram com suas funções. Não nos referimos aqui à ajuda real, que é sempre
importante, mas à intromissão nas competências do próximo, impedindo-o de
adquirir autonomia e vida própria.
Assumir deveres dos outros é sabotar os relacionamentos
que poderiam ser prósperos e duradouros. Por não compreenderes bem teu
interior, é que te comparas aos outros, esquecendo-te de que nenhum de nós está
predestinado a receber, ao mesmo tempo, os mesmos ensinamentos e a fazer as
mesmas coisas, pois existem inúmeras formas de viver e de evoluir. Lembra-te de
que deves importar-te somente com a tua maneira de ser.
Não podemos nos esquecer de que aquele que se compara com
os outros acaba se sentindo elevado ou rebaixado. Nunca se dá o devido valor e
nunca se conhece verdadeiramente. Teus empenhos íntimos deverão ser voltados
apenas para tua pessoa, e nunca deverás tentar acomodar pontos de vista
diversos, porque, além de te perderes, não ajustarás os limites onde começa a
ameaça à tua felicidade, ou à felicidade do teu próximo.
Muitos acreditam que seus deveres são corrigir e reprimir
as atitudes alheias. Vivem em constantes flutuações existenciais por não
saberem esperar o fluxo da vida agir naturalmente. Asseveram sempre que suas
obrigações são em "nome da salvação" e, dessa forma, controlam as
coisas ou as forçam acontecer, quando e como querem.
Dizem: "Fazemos isso porque só estamos tentando
ajudar". Forçam eventos, escrevem roteiros, fazem o que for necessário
para garantir que os atores e as cenas tenham o desempenho e o desenlace que
determinaram e acreditam, insistentemente, que seu dever é salvar almas, não
percebeu do que só podem salvar a si próprios.
Nosso dever é redescobrir o que é verdadeiro para nós e
não esconder nossos sentimentos de qualquer pessoa ou de nós mesmos, mas sim
ter liberdade e segurança em nossas relações pessoais, para decidirmos seguir
na direção que escolhermos. Não "devemos" ser o que nossos pais ou a
sociedade querem nos impor ou definir como melhor.
Precisamos compreender que nossos objetivos e finalidades
de vida têm valor unicamente para nós; os dos outros, particularmente para
eles. Obrigação pode ser conceituada como sendo o que deveríamos fazer para
agradar as pessoas, ou para nos enquadrar no que elas esperam de nós; já o
dever é um processo de auscultar a nós mesmos, descortinando nossa estrada
interior, para, logo após, materializá-la num processo lento e constante.
Ao decifrarmos nosso real dever, uma sensação de auto
realização toma conta de nossa atmosfera espiritual, e passamos a apreciar os
verdadeiros e fundamentais valores da vida, associados a um prazer
inexplicável. Lembremo-nos da afirmação do espírito Lázaro em "O Evangelho
Segundo o Espiritismo": "O dever é a obrigação moral, diante de si
mesmo primeiro, e dos outros em seguida".
Livro: Renovando Atitudes - Hammed – Francisco do
Espírito Santo Neto
ANGÚSTIA DA
MELHORA
"O Dever É O Resumo Prático De Todas As Especulações
Morais; É Uma Bravura Da Alma Que Enfrenta As Angústias Da Luta." E.S.E.
CAPÍTULO 18, ÍTEM 7
Angústia é o sofrimento emocional originado por alguma
indefinição interna que leva ao conflito, causando intensa aflição. Seus
reflexos podem alcançar o corpo físico com dores no peito e alteração
respiratória. A intensidade da reação emocional que a criatura terá, diante
desse seu conflito, vai determinar a existência ou não de algum prejuízo para o
equilíbrio psíquico e mental. Isso ainda dependerá do maior ou menor
comprometimento da individualidade perante o tribunal da consciência, no qual
está arquivado o montante de desvarios e conquistas de suas múltiplas vivências
reencarnatórias.
Seguindo quase sempre uma linha predefinida, os conflitos
nascem do desajuste entre aquilo que a criatura quer, aquilo que ela deve e
aquilo que ela é capaz. Um descompasso entre desejo, sentimento e escolha.
O conhecimento espírita pode levar à angústia existencial
face aos novos alvitres comportamentais de suas lúcidas propostas. Muitos
corações convidados pelas suas atrativas idéias poderão experimentar, em graus
diversos, a angústia da melhora - o sofrimento que reflete a luta entre um "eu
real" e o "eu ideal".
Terminantemente, quantos se entregam ao serviço de
auto-burilamento penetrarão as faixas do conflito. O efeito mais perceptível
dessa batalha interior é o sentimento de indignidade. Porque ainda não logramos
a habilidade do auto-amor, costumamos ser muito exigentes com nossas propostas
de progresso moral, cultivando uma baixa tolerância com as imperfeições e os
fracassos. Uma postura de inaceitação e cobranças intermináveis alimenta essa
indignidade em direção ao perfeccionismo.
O resultado eminente desse quadro mental é o cansaço
consigo, a desmotivação com suas atividades espiritualizantes induzindo o
desejo de abandonar tudo, uma postura psicológica de impotência levando a
criatura às famosas senhas de derrotismo: "não vou dar conta!" ou
"não tem valido a pena esforçar!", "estou cansado de
viver!". Todo esse quadro de desastrosa penúria cria a condição mental do
desânimo - o mais cruel e sagaz dos adversários de nosso crescimento
espiritual.
Querer ser melhor e não conseguir tanto quanto
gostaríamos! Eis a mais comum das angústias ao longo do trajeto de
aperfeiçoamento na vida.
O desânimo é o desejo de parar, contudo nosso sentimento
é de querer ser alguém melhor e, para agravar, nossas atitudes, em contraste
com o desejo e o sentimento, são de fuga. Desejo, sentimento e atitude em
desconexão gerando um estado de pane. Os conflitos criam as tensões no mundo
íntimo em razão da contraposição entre esses três fatores: o que a criatura
gostaria, o que ela deve e aquilo que ela consegue.
Nesse torvelinho da vida mental, um fenômeno é
responsável por intensificar a dor emocional dos candidatos ao
auto-aperfeiçoamento, ou seja, a ilusão. Em muitos casos, sofremos os impactos
emocionais do erro ou do desconforto com nossas imperfeições porque
acreditamo-nos grandiosos demais, portadores de virtudes que ainda não
alcançamos, confundindo o conhecimento espírita e a participação nas tarefas
como se fossem incomparáveis saltos evolutivos. A ilusão, ou desconexão com sua
realidade pessoal, agrava a tormenta da angústia de melhoramento.
Decerto não deveríamos agir como agimos em muitas
ocasiões, considerando o volumoso caudal de conhecimentos e vivências
espirituais que enobrecem nossos passos, contudo, quase sempre, sofremos culpa
e desânimo perante nossas falhas porque imaginamo-nos valorosos em demasia
para, ainda, permitir que certas condutas enodoem os novos caminhos que
escolhemos.
Muito justo que nos exortemos a melhores comportamentos
face ao aprendizado espiritual que bem recentemente começamos a angariar,
todavia, muita exigência tem sido formulada aos adeptos do Espiritismo, sem
quaisquer identidades com as necessidades individuais de sua singularidade.
Mormente nascem de padrões construídos por estereótipos de conduta. Semelhante
quadro pode gerar tormenta e obsessão para quem não sabe adequar sua realidade
àquilo que aprende, sendo outra fonte costumeira de episódios angustiantes para
a alma.
Ninguém sintetizou tão bem essa caminhada da vida
interior quanto Paulo, o apóstolo dos gentios, ao mencionar: "Porquê não
faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço" (Romanos, 7:19).
A grande batalha humana pela instauração do bem em si mesmo pode ser
sintetizada nessa frase.
A saga da perfeição inclui a dolorosa luta entre
aspirações e hábitos, conduzindo-nos a atitudes desconectadas dos ideais que
cultivamos no campo das intenções. É o quadro psicológico que nomeamos como
sendo angústia da melhora.. Todo aquele que assume a lenta e desafiante tarefa
da reforma íntima, inevitavelmente, será lançado a essa vivência da alma em
variados lances de intensidade. Somente acendendo a luz do autoperdão,
recomeçando quantas vezes forem necessárias, na aceitação das atitudes
enfermiças e impulsos infelizes é que edificaremos estimulante campanha de
promoção pessoal, no aprimoramento rumo à perfeição.
Reforma também exige tempo e meditação. Por isso não
devemos recear a postura de enfrentamento do mundo íntimo. Um acordo de
pacificação interior deve existir entre nós e nossa velha personalidade. Ao
invés de cobrança e tristeza, seria mais sensato um auto-exame para verificar o
que poderíamos ter feito de melhor nas ocasiões de erro, no intuito de
condicionar na mente algumas diretrizes para outras oportunidades, nas quais
novamente seremos testados naquelas mesmas deficiências que não conseguimos
desvencilhar. Procedamos a uma corajosa "reconstituição do mau ato" e
analisa o que poderia ter feito ou deixado de fazer para não chegar aos
resultados que te infelicitam. Da mesma forma, instrui-te sempre sobre a
natureza de suas mazelas, a fim de melhor ajuizares sobre seu modus operandi.
Se em nada te valer semelhantes apontamentos, então reflete que pior ainda será
se parares e decidires por interromper o doloroso trabalho de melhoria.
Lázaro adverte-nos de forma oportuníssima sobre o dever,
definindo-o como " ... uma bravura da alma que enfrenta as angústias da
luta". Conquanto o valor do autoconhecimento, jamais poderemos descuidar
do dever que nos chama, porque somente através de seu rigoroso cumprimento
encontraremos as condições essenciais para consolidar os reflexos novos.
Somente com novos hábitos, que serão dinamizadores de novos raciocínios e
sentimentos, romperemos a pesada carapaça das enfermidades morais, acolhendo no
coração um estado de plenitude que ensejará a superação da angústia e da
depressão, do desânimo e do desamor a si.
Face a isso, somente uma recomendação não deve sair do
foco de nossas atenções: trabalhar, trabalhar e trabalhar, sem condições e exigências
- eis o buril do dever.
Na medida em que progredimos pelas trilhas do dever e do
autoconhecimento adquirimos paz íntima e domínio mental, antídotos eficazes
contra quaisquer adoecimentos da vida psíquica.
Enquanto se processam semelhantes ações de
fortalecimento, podemos ainda contar com duas medidas profiláticas de dilatado
poder em favor de nossa paz: a vigilância e a oração.
Verifiquemos que a função do vigilante é preventiva, é
comunicar à sua volta que algo está sob cuidado e não à mercê das ocorrências.
A função do vigilante não é atacar. Quem vigia, o faz para que algo não o
surpreenda ou agrida. Vigilância no terreno da reforma íntima significa estar
atento ao inimigo, aquele que pode nos causar prejuízos, nosso homem velho.
Vigiar o inimigo, no entanto, é diferente de abater o
inimigo. A maneira mais pacífica de vigiar é conquistando-o, e só o
conquistamos demonstrando a inviabilidade da guerra, fazendo fortes o
suficiente os nossos valores para que ele se sinta impotente, incapaz de ser
mais forte.
Vigilância é atenção para com as movimentações inferiores
da personalidade, é o estudo sereno das estratégias do homem velho, requer
muita disciplina.
Por sua vez, a oração é o movimento sagrado da mente no
despertamento de forças superiores. É a busca da alma que se abre para o bem e
se fortalece.
Dever, vigilância e oração - balizas seguras que nos
permitem talhar o homem novo, mesmo sob a escaldar a temperatura das velhas
angústias que nos acompanham há milênios.
Livro: Reforma Intima Sem Martírio – Ermance Dufaux –
Wanderley S. Oliveira
MEIA-IDADE, A
TRAVESSIA AO ENCONTRO DA ESPERANÇA
"O dever íntimo do homem fica entregue ao seu
livre-arbítrio. O aguilhão da consciência guardião da probidade interior, o
adverte e sustenta; mas, muitas vezes, mostra-se impotente diante dos sofismas
da paixão." Lázaro, ESE, cap. XVII, ítem 7.
Pesquisas realizadas por instituições de nosso plano
asseguram que, aproximadamente, oitenta e cinco por cento dos reencarnantes
levam, pelo menos, a metade do tempo de suas reencarnações para começarem a
identificar-se com seu planejamento pré-reencarnatório, isto é, com suas reais
e mais profundas necessidades de aprimoramento espiritual.
Não é sem razão que na meia-idade, período considerado
por alguns especialistas na faixa etária dos trinta e cinco aos cinquenta e
cinco anos, homens e mulheres atravessam crises de intensa reavaliação da
existência. Psicologicamente, é a fase em que o inconsciente regurgita todas as
feridas não curadas na infância e na juventude. Um fenômeno natural do
amadurecimento do ser. Crenças e valores são sacudidos drasticamente sob o vendaval
das transformações inadiáveis, para que descubramos nos caminhos a mais
cobiçada das conquistas humanas: o prazer de viver.
Evidentemente, fatores de ordem espiritual regulam a
natureza desse autoencontro na meia-idade. Independentemente de quaisquer
variáveis, esse ciclo da existência é marcado por uma crise sem precedentes.
Para quem se encontra adormecido nas poltronas cômodas da zona de conforto, ela
vem de fora, por meio de dolorosos solavancos em forma de perdas, doenças e
provas diversas. Para quantos já vêm examinando seu mundo pessoal, ela chega
como angústia e depressão, concitando escolhas e exames mais cuidadosos de si
mesmo. Será neste aparente turbilhão de desordem que vai ser gestada a trilha
particular de cada qual. O prazer de viver poderá surgir neste contexto como a
mais ansiada das conquistas do Ser em ascensão, desde que se tenha persistência
em buscar algumas respostas a perguntas cruciais.
Quem somos nós? O que queremos da vida? Qual nossa missão
prioritária diante da reencarnação? Que fazer para descobrir o caminho que nos
levará ao encontro de nosso mapa pessoal de crescimento e libertação? Para que
fazemos o que fazemos? Para que vivemos? Como deixar de ser quem achávamos que
éramos? Como dar sentido à nossa existência para preencher o vazio que, muitas
vezes, consome a criatura humana nas mais sofridas provas da descrença e do
desconsolo?
Quais as trilhas criadas pelo Pai para cada um de nós?
Como lograr o prazer de viver ante os severos regimes impostos pela expiação?
Depois que o homem e a mulher fazem o trajeto básico das
vitórias em família e na profissão, na educação de filhos ou nas realizações
sociais, vem essa meia-idade e os devolve a si mesmos. A ocupação principal é a
busca da vitória interior.
Entretanto, neste momento crucial de aferições, é também
quando ocorrem as mais lastimáveis fugas e os mais entristecedores quadros de
desistência. Em outras palavras, é no exato momento em que tudo conspira para
um renascimento que muitos desistem de avançar. Na hora de começar a
existência, ela acaba para a maioria. Muitos a aposentam neste momento em que
ela está apenas começando.
Esmagadora porcentagem daqueles que reencarnam gasta dois
terços da vida se consumindo em atitudes e escolhas que tornarão miserável o
último terço de sua reencarnação. Retornam ao corpo e dele saem com a
aterrorizante sensação de vazio. Vivem para sobreviver e sobrevivem sem se
realizar. Esse o conceito de expiação: almas presas em si mesmas, sem
capacidade do exercício de suas vocações, sem saber quem são, sem poder ou sem
querer fazer o que gostariam ou mesmo o que deveriam em favor de sua própria
paz.
Criados para sermos felizes e superarmos as nossas
provas, a reencarnação significa sublime endosso de Deus ao nosso recomeço.
Nova chance para continuar. A oportunidade é concedida pelo Pai, mas o recomeço
é com cada um de nós. Reencarnar é com Deus, renascer é conosco.
Eis o segredo do verdadeiro prazer de viver: reconhecer
que somos os escultores de nosso destino e as únicas criaturas responsáveis por
emperrar ou direcionar nossos destinos ao encalço do ideal de ser feliz.
Prazer de viver é ter o coração preenchido de esperança.
Com a esperança, tornamo-nos mais realizadores, espontâneos e menos racionais.
Prazer de viver é saber tolerar as frustrações,
transformando-as em ferramentas de construção de virtudes.
Prazer de viver é entender os recados divinos que se
escondem na subjetividade dos sentimentos mais temidos pelo homem, tais como: a
inveja, o orgulho, o medo, a mágoa e a culpa. Pistas emocionais excelentes
sobre nossa realidade pessoal.
Prazer de viver é entender que a crise da meia-idade
significa não só o desafio das descobertas dolorosas, mas, além de tudo, o
convite da vida para tomarmos posse dos talentos e das vocações que se escondem
no mundo inconsciente de nós mesmos.
A tormenta dolorosa da meia-idade, é por demais
sacrificial para não nos levar a lugar nenhum. Sua direção divina é a mais
sublime conquista das pessoas livres e felizes. Essa a recompensa. A dor da
travessia solitária é, em verdade, o tributo que a vida solicita para
atingirmos o nosso melhor instante diante da reencarnação.
O doutor Carl Gustav Jung asseverou:
"Inteiramente despreparados, embarcamos na segunda
metade da vida... damos o primeiro passo na tarde da vida; pior ainda, damos
esse passo com a falsa suposição de que nossas verdades e ideais vão servir-nos
como antes. Mas não podemos viver a tarde da vida de acordo com o programa de
sua manhã - pois o que foi grande pela manhã vai ser pouco à tarde, e aquilo
que pela manhã era verdade, à tarde se tornará mentira".
As verdades ideais, como se refere Jung, nessa busca pelo
prazer de ser e existir, irão desmoronar. A maior perda de todas será a perda
de quem achávamos que éramos. A morte da autoilusão, isto é, a desilusão.
Aquilo que pensamos sobre nós, será, por certo, um dos maiores desafios nesse
circuito de amadurecimento.
Crenças serão sacudidas, valores serão repensados,
frustrações reaparecerão, medos emergirão na intimidade, a noção de dever será
ampliada, o certo e o errado serão questionados, a culpa pode aparecer com
intensidade surpreendente, mas, em muitos casos, ela simplesmente deixará de
existir, colocando-nos para pensar na razão de seu desaparecimento.
Como assevera Lázaro: "O dever íntimo do homem fica
entregue ao seu livre-arbítrio." Seremos entregues a nós mesmos para
decidir o que queremos da vida. Seremos colocados em situações externas é
lnternas desafiadoras para usarmos o livre-arbítrio, como seres que se
candidatam a proprietários eternos dos seus destinos e conquistando a sublime
recompensa de se libertar da prisão da dependência e da submissão que, há
milênios, nos faz criaturas infelizes com a própria vida.
A travessia solitária da meia-idade só pode ser
transposta de mãos dadas com a esperança. A esperança de que só existe um lugar
para ser alcançado: a felicidade. Quem atravessa a noite psicológica da
desilusão haverá de trazer sempre na alma a certeza de que, logo adiante,
espera-nos o melhor dos nossos dias. Por essa razão, se quisermos encurtar o
caminho, evitemos a pressa.
A pressa cria fugas espetaculares e inteligentes que só
nos farão mais angustiados. Na crise espiritual da meia-idade, conseguiremos
visualizar nítidas expressões do futuro. Entretanto, nem sempre o futuro visto
é imediato.
Tais vislumbres podem terminar em pressa e atropelo. Eis
por que a travessia pede calma. Já será bom saber que amanhã chegaremos aonde
vimos. A vida, porém, é realidade, e não vislumbre. É preciso calmaria para
saber a hora de decidir e escolher. Por outro lado, tenhamos sensatez, pois que
muitos desses vislumbres são decisões para agora, a fim de que o amanhã seja
construído a contento.
Saber quem somos e qual é nossa missão particular na
existência nos faz criaturas solitárias. É uma travessia solitária para a
individuação.
A lição da solidão foi o ápice da vida de Jesus no
calvário. Entregue à pesada cruz na qual seria crucificado, carregou-a
resignadamente, aceitando o alvitre da subida decisiva para o encontro com o
Divino. O Mestre guardava lúcida compreensão daquele momento decisivo.
Enquanto muitos interpretam o calvário como um instante
de tristeza, nele vemos o roteiro da maturação espiritual. Embora com dor, logo
a seguir vem a liberdade. É uma caminhada singular para cada um de nós, um
convite intransferível para a aquisição da maior conquista das pessoas felizes
e conscientes: o prazer de existir em plenitude com a vida.
Livro: Prazer de Viver - Ermance Dufaux – Wanderley S. Oliveira
“A FAMÍLIA DOS
PONTEIROS”
Senhor Onofre era relojoeiro conceituado na cidade,
inventor criativo, atendia a inúmeros pedidos de conserto, principalmente, de
relógios de parede, sua especialidade.
Havia um, porém, o grande relógio cuco, que não estava à
venda, pois o Senhor Onofre tinha muito estima pela família dos ponteiros que
trabalhava nele.
Era chamado de grande relógio Cuco porque, ao chegar
meio-dia, saía de dentro dele, através de uma portinhola, um passarinho,
cantarolando: Cuco! Cuco! Era o Cuco Cauby.
A família dos ponteiros, amigos de Cauby, dividia a
importante tarefa de marcar o tempo da seguinte forma:
Senhor Veloz, muito esguio, passeava rápido pelo relógio,
indicando os segundos.
Sua esposa, Dona Paciência, não tão esguia e ágil quanto
o marido, mostrava os minutos, dando um passo para frente toda a vez que era ultrapassada
pelo Senhor Veloz.
Horácio, filho do casal, por sua vez, deveria contribuir
para o ofício dos pais, assinalando as horas bem devagar.
Mas havia um problema:
Horácio era pouco prestativo. Não deixava o número 12,
por isso sempre que a família se encontrava, o relógio acusava meio dia, hora
do almoço, festa para todos, porque o Cuco Cauby surgia chamando:
– Cuco! Cuco! Cuco!… (12 vezes)
Dona Paciência, muito amorosa, chamou a atenção do filho:
– Horácio, você precisa trabalhar, dar a sua contribuição
para demonstrar gratidão ao grande Cuco que nos abriga em sua casa.
– Ah, mãe! – respondeu preguiçoso. Para que me mexer?
Vocês já fazem o suficiente por mim e por vocês. Além disso, é bom ficar
parado, a hora do almoço vem mais depressa.
– Não, meu filho! – observou Dona Paciência. Não basta
simplesmente querer que seja hora do almoço, o Senhor Onofre sabe o quanto ela
demora chegar!
– Claro que não! A gente é que mostra para ele.
E, embora a mãe o alertasse para a importância de sua
cooperação, Horácio evitava fazer a sua parte, preferindo ficar ocioso, vendo
Cauby e os pais trabalhando, trabalhando,…
O Senhor Onofre percebeu, contudo, que havia algo errado.
Por que o Cuco Cauby estaria cantando antes da hora?
Pegou o relógio, procurou o defeito e logo constatou ser
o pequeno ponteiro das horas – Horácio – o causador da confusão.
Entristecido, viu-se forçado a demonstrar ao grande
relógio Cuco que, defeituoso, só lhe causaria contratempos.
Aproveitou as peças perfeitas para a fabricação de um
novo modelo, ficando Horácio, o único que não colaborava, esquecido na carcaça
do velho relógio.
Cedo, a solidão fez de Horácio um ponteirinho triste. Ah!
Se pudesse reviver a alegria das horas! Mas sozinho?! Impossível!…
Cauby, Senhor Veloz e Dona Paciência continuaram no
cumprimento do dever que lhes cabia, agora em outra engenhoca.
Sr. Onofre notando, porém, falta de entusiasmo no canto
do Cuco Cauby e desânimo nos passos do casal de ponteiros, indagou o motivo da
tristeza e o Sr. Veloz lhe respondeu:
– Sabe o que é, Senhor Onofre, nós sentimos falta de
Horácio. Não é que não gostemos do novo ponteiro que marca as horas, mas
Horácio é nosso filho…
E Cauby falou da falta que lhe fazia o amigo.
Enternecido, Senhor Onofre decidiu remontar o antigo
relógio, mesmo não funcionando direito. O importante para ele era a felicidade
de todos. Recolocou as peças do velho relógio cuco e… surpreendeu-se ao
verificar o ponteiro das horas trabalhando feliz e com precisão.
Horácio, muito feliz com a volta de sua família e do
amigo Cuco Cauby, passou a colaborar, marcando as horas, pois havia aprendido
uma grande lição.
O DEVER ESQUECIDO
Certo rei muito poderoso, sendo obrigado a longa
ausência, tomou de grande fortuna e entregou-a ao filho, confiando-lhe a
incumbência de levantar grande casa, tão bela quanto possível.
Para isso, o tesouro que lhe deixava nas mãos era
suficiente.
Acontece, porém, que o jovem, muito egoísta, arquitetou o
plano de enganar o próprio pai, de modo a gozar todos os prazeres imediatos da
vida.
E passou a comprar materiais inferiores.
Onde lhe cabia empregar metais raros, utilizava latão;
nos lugares em que devia colocar o mármore precioso, punha madeira barata, e
nos setores de serviço, em que a obra reclamava pedra sólida, aplicava terra
batida ...
Com isso, obteve largas somas que consumiu, desorientado,
junto de amigos loucos.
Quando o monarca voltou, surpreendeu o príncipe abatido e
cansado, a apresentar-lhe uma cabana esburacada, ao invés de uma casa nobre.
O rei, no entanto, deu-lhe a chave do pequeno casebre e
disse-lhe, bondoso:
- A casa que mandei edificar é para você mesmo, meu filho
... Não me parece a residência sonhada por seu pai, mas devo estar satisfeito
com a que você próprio escolheu ..
Após ligeira pausa, Veloso advertiu:
- O conto impele-nos a judiciosas apreciações, quanto ao
cumprimento exato de nossos deveres.
Comparemos o soberano a Deus, nosso Pai.
O príncipe da história poderia ter sido qualquer um de
nós.
A fortuna para construirmos a moradia de nossa alma é a
vida que Deus nos empresta.
Quase sempre, contudo, gastamos o tesouro da existência
em caprichosa ilusão, para acabarmos relegados, por nossa própria culpa, aos
pardieiros apodrecidos do sofrimento.
Mas, aqueles que se consagram à bênção do dever, por mais
áspero que seja, adquirem a tranqüilidade e a alegria que o Supremo Senhor lhes
reserva, por executarem, fiéis, a sua divina vontade, que planeja sempre o melhor
a nosso favor.
Meimei - Livro Antologia da Criança – Francisco Candido
Xavier
DEVER DE SERVIR
Em matéria de beneficência, todos estamos na obrigação de
doar algo de nós à vida que nos cerca.
E isso não sucede tão somente a nós, as criaturas que
atingimos a razão, mas igualmente a todos os seres.
Minerais fornecem agentes químicos.
Vegetais distribuem utilidades múltiplas.
No reino animal, milhões de vidas trabalham e se
sacrificam a benefício do homem: camelos que o transportam, ovelhas que o vestem,
cães que o auxiliam e bovinos que o alimentam.
Todos nos achamos convocados a entregar a nossa
cooperação pelo bem geral.
Acontece, no entanto, que na criatura humana, o
discernimento conquistado cria o problema da livre aceitação do dever de servir.
Todos nos reconhecemos indicados para oferecer o melhor
de nós para que apareça o melhor dos outros em auxílio de todos.
Desfrutando, porém, do atributo divino de contribuir
conscientemente na Criação Universal e não constando a violência da Obra de Deus,
o homem, muitas vezes, quando se vê compelido pelas forças da vida a fazer o
melhor de si a benefício do progresso comum, oferece ingredientes negativos à
engrenagem do destino, que ele próprio se incumbe de suprimir depois do erro
cometido, despendendo tempo e força para reajustar o que ele mesmo
desequilibrou.
Consideremos a nossa parcela de trabalho na economia da
existência.
Importa observar, entretanto, que qualidade de observação
doamos de nós e o modo pelo qual entregamos a quota de serviço ao mundo, junta
às pessoas e ocorrências que nos cercam, porque embora sejamos livres no
espírito e responsáveis na ação, todos, na essência, somos canais vivos de
Deus.
Emmanuel - Livro Encontro de Paz - Psicografia Chico
Xavier
O PROBLEMA DIFÍCIL
Entre os comentários da noite, um dos companheiros
mostrou-se interessado em conhecer a questão mais difícil de resolver, nos
serviços referentes à procura da Luz Divina.
Em que setor da luta espiritual se colocaria o mais complicado
problema? Depois de assinalar variadas considerações, ao redor do assunto, o
Mestre fixou no semblante uma atitude profundamente compreensiva e contou: — Um
grande sábio possuía três filhos jovens, inteligentes e consagrados à
sabedoria.
Em certa manhã, eles altercavam a propósito do obstáculo
mais difícil de vencer no grande caminho da vida.
No auge da discussão, prevendo talvez conseqüências
desagradáveis, o genitor benevolente chamou-os a si e confiou-lhes curiosa
tarefa.
Iriam os três ao palácio do príncipe governante,
conduzindo algumas dádivas que muito lhes honraria o espírito de cordialidade e
gentileza.
O primeiro seria o portador de rico vaso de argila
preciosa.
O segundo levaria uma corça rara.
O terceiro transportaria um bolo primoroso da família.
O trio fraterno recebeu a missão com entusiástica
promessa de serviço para a pequena viagem de três milhas; no entanto, a meio do
caminho, principiaram a discutir.
O depositário do vaso não concordou com a maneira pela
qual o irmão puxava a corça delicada, e o responsável pelo animal dava
instruções ao carregador do bolo, a fim de que não tropeçasse, perdendo o
manjar; este último aconselhava o portador do vaso valioso, para que não
caísse.
O pequeno séquito seguia, estrada afora, dificilmente,
porquanto cada viajor permanecia atento a obrigações que diziam respeito aos
outros, através de observações acaloradas e incessantes.
Em dado momento, o irmão que conduzia o animalzinho
olvida a própria tarefa, a fim de consertar a posição da peça de argila nos
braços do companheiro, e o vaso, premido pelas inquietações de ambos,
escorrega, de súbito, para espatifar-se no cascalho poeirento.
Com o choque, o distraído orientador da corça perde o
governo do animal, que foge espantado, abrigando-se em floresta próxima.
O carregador do bolo avança para sustar-lhe a fuga,
internando-se pelo mato a dentro, e o conteúdo de prateada bandeja se perde
totalmente no chão.
Desapontados e irritadiços, os três rapazes tornam à
presença paterna, apresentando cada qual a sua queixa e a sua derrota.
O sábio, porém, sorriu e explicou-lhes: — Aproveitem o
ensinamento da estrada.
Se cada um de vocês estivesse vigilante na própria
tarefa, não colheriam as sombras do fracasso.
O mais intrincado problema do mundo, meus filhos, é o de
cada homem cuidar dos próprios negócios, sem intrometer-se nas atividades
alheias.
Enquanto cogitamos de responsabilidades que competem aos
outros, as nossas viverão esquecidas.
Jesus calou-se, pensativo, e uma prece de amor e reconhecimento
completou a lição.
Neio Lucio - Do Livro Jesus no Lar - Francisco C. Xavier
ALEGRIA NO DEVER
Quando Jesus estava entre nós, recebeu certo dia a visita
do apóstolo João, muito jovem ainda, que lhe disse estar incumbido, por seu pai
Zebedeu, de fazer uma viagem a povoado próximo.
Era, porém, um dia de passeio ao monte e o moço achava-se
muito triste.
O Divino Amigo, contudo, exortou-o a cumprir o dever.
Seu pai precisava do serviço e não seria justo
prejudicá-lo.
João ouviu o conselho e não vacilou.
O serviço exigiu-lhe quatro dias, mas foi realizado com
êxito.
Os interesses do lar foram beneficiados, mas Zebedeu, o
honesto e operoso ancião, afligiu-se muito porque o rapaz regressara de
semblante contrafeito.
O Mestre notou-lhe o semblante sombrio e, convidando-o a
entendimento particular, observou :
– João, cumpriste o prometido?
– Sim – respondeu o apóstolo.
Neste instante, o doente acordou, compreendeu a Vontade
Divina e rendeu graças a Deus.
– Atendeste à Vontade de Deus, auxiliando teu pai?
– Sim – tornou o jovem, visivelmente contrariado –,
acredito haver efetuado todas as minhas obrigações.
Jesus, entretanto, acentuou, sorrindo calmo :
– Então, ainda falta um dever a cumprir – o dever de
permaneceres alegre por haveres correspondido à confiança do Céu.
O companheiro da Boa Nova meditou sobre a lição e fez-se
contente.
A tranqüilidade voltou ao coração e à fisionomia do velho
Zebedeu e João compreendeu que, no cumprimento da Vontade de Deus, não podemos
e nem devemos entristecer ninguém.
Meimei - Do livro
Pai Nosso. Psicografia de Francisco Candido Xavier
COMPROMISSO
AFETIVO
O dever íntimo do homem fica entregue ao seu livre
arbítrio. O aguilhão da consciência, guardião da probidade interior, o adverte
e sustenta; mas, muitas vezes se mostra impotente diante dos sofismas da
paixão.
Fielmente observado, o dever do coração eleva o homem;
porém, como determiná-lo com exatidão? Onde começa ele? O dever principia
sempre, para cada um de vós, do ponto em que ameaçais a felicidade ou a
tranqüilidade do vosso próximo; acaba no limite que não desejais ninguém
transponha com relação a vossa. Do item 7, no Cap. XVII, de "O Evangelho
Segundo o Espiritismo"
A guerra efetivamente flagela a Humanidade, semeando
terror e morticínio, entre as nações; entretanto, a afeição erradamente
orientada, através do compromisso escarnecido, cobre o mundo de vítimas.
Quem estude os conflitos do sexo, na atualidade da Terra,
admitindo a civilização em decadência, tão-só examinando as absurdidades que se
praticam em nome do amor, ainda não entendeu que os problemas do equilíbrio
emotivo são, até agora, de todos os tempos, na vida planetária.
As Leis do Universo esperar-nos-ão pelos milênios afora,
mas terminarão por se inscreverem, a caracteres de luz, em nossas próprias
consciências. E essas Leis determinam amemos os outros qual nos amamos.
Para que não sejamos mutilados psíquicos, urge não
mutilar o próximo.
Em matéria de afetividade, no curso dos séculos, vezes
inúmeras disparamos na direção do narcisismo e, estirados na volúpia do prazer
estéril, espezinhamos sentimentos alheios, impelindo criaturas estimáveis e
nobres a processos de angústia e criminalidade, depois de prendê-las a nós
mesmos com o vínculo de promessas brilhantes, das quais nos descartamos em
movimentação imponderada.
Toda vez que determinada pessoa convide outra à comunhão
sexual ou aceita de alguém um apelo neste sentido, em bases de afinidade e
confiança, estabelece-se entre ambas um circuito de forças, pelo qual a dupla
se alimenta psiquicamente de energias espirituais, em regime de reciprocidade.
Quando um dos parceiros foge ao compromisso assumido, sem
razão justa, lesa o outro na sustentação
do equilíbrio emotivo, seja qual for o campo de circunstâncias em que esse
compromisso venha a ser efetuado. É dada a ruptura no sistema de permuta das cargas
magnéticas de manutenção, de alma para alma, o parceiro prejudicado, se não dispõe
de conhecimentos superiores na auto-defensiva, entra em pânico, sem que se lhe possa
prever o descontrole que, muitas vezes, raia na delinqüência.
Tais resultados da imprudência e da invigilância
repercutem no agressor, que partilhará das consequências desencadeadas por ele
próprio, debitando-se-lhe ao caminho a sementeira partilhada de conflitos e
frustrações que carreará para o futuro.
Sabemos que a Justiça Humana comina punições para os atos
de pilhagem na esfera das realidades objetivas, considerando a respeitabilidade
dos interesses alheios; no entanto, os legisladores terrestres perceberão igualmente,
um dia, que a Justiça Divina alcança também os contraventores da Lei do Amor e
determina se lhes instale nas consciências os reflexos do saque afetivo que
perpetram contra os outros.
Daí procede a clara certeza de que não escaparemos das
equações infelizes dos compromissos de ordem sentimental, injustamente
menosprezados, que resgataremos em tempo hábil, parcela a parcela, pela contabilidade
dos princípios de causa e efeito.
Reencarnados que estaremos sempre, nesse sentido, até
exonerar o próprio espírito das mutilações e conflitos hauridos no clima da
irreflexão, aprenderemos no corpo de nossas próprias manifestações ou no ambiente
da vivência pessoal, através da penalogia sem cárcere aparente, que nunca lesaremos
a outrem sem lesar a nós.
Vida e Sexo - Emmanuel - Francisco C Xavier
RESPOSTAS
INDIRETAS
Rogavas, ainda ontem, saúde para o corpo alquebrado e
constatavas a presença da enfermidade.
Confiavas, ainda ontem, que o problema moral fosse
suavizado ante o auxílio que aguardavas do Céu, e o defrontas a martirizar o
coração.
Esperavas, ainda ontem, que os óbices desaparecessem do
caminho, considerando a nobreza dos teus intentos, e encontras a dificuldade
ampliada como a zombar do teu esforço.
Oravas, ainda ontem, buscando forças e robustez para o
trabalho, e despertas com as mesmas fraquezas do dia anterior.
Solicitavas, ainda ontem, auxílios eficazes para a
continuação do labor socorrista, e surpreendes a ausência dos valores
necessários.
Deixas-te abater pelo desânimo, acreditando-te esquecido
dos favores divinos.
Sucede, porém, que o Celeste Pai responde aos nossos
apelos, não conforme os nossos desejos, mas consoante as nossas necessidades.
A tenra plantinha roga altura; mas sem que robusteça o
tronco candidata-se à destruição.
A fonte modesta roga caminho para correr; sem a fôrça da
corrente, porém, perde-se, consumida pelo solo.
É necessário, pois, discernir para entender.
Muitas vezes o bem mais eficaz para o doente ainda é a
enfermidade.
O lavrador atende ao solo com os recursos que conta em si
mesmo e na terra. A chuva e o sol são contribuições que a misericórdia celeste
lhe dispensará correspondendo ao mérito da sua seara. Mas não se descoroçoa se
o excesso da chuva e o calor do sol lhe destroem a sementeira. Refeito da dor
retorna ao campo e prossegue resoluto.
Procura, assim, entender também as respostas indiretas
com que o Sublime Amigo nos atende.
Nem sempre o que nos parece o melhor é realmente o melhor
para nós. Persevera no trabalho nobre e honroso, atende aos deveres que te
competem realizar; e, mesmo que as tuas mãos doloridas e calejadas roguem
unguento que não chega, prossegue esperando, firme e sobranceiro, recordando
que o fruto nunca precede à florescência e que esta desponta nos dedos da
planta que se dilacera para perpetuar a própria espécie. Deixa-te chegar, e,
coroado com o suor, o sangue e as lágrimas do teu esfôrço, as flores da
esperança no Céu responderão às tuas ansiedades com os frutos da paz e da
felicidade.
"Outra, finalmente, caiu em terra boa e produziu
frutos, dando algumas sementes cem por uma, outras sessenta e outras
trinta". Mateus: capítulo 13º, versículo 8.
"O homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais do que
as criaturas e ama as criaturas mais do que a si mesmo. É a um tempo juiz e
escravo em causa própria". Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 17º
- Item 7, parágrafo 4.
FRANCO, Divaldo Pereira. Florações Evangélicas. Pelo
Espírito Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 52.
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