9 – A prece é uma invocação: por ela nos pomos em relação
mental com o ser a que nos dirigimos. Ela pode ter por objeto um pedido, um
agradecimento ou um louvor. Podemos orar por nós mesmos ou pelos outros, pelos
vivos ou pelos mortos. As preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos Espíritos
encarregados da execução dos seus desígnios; as que são dirigidas aos Bons
Espíritos vão também para Deus. Quando oramos para outros seres, e não para
Deus, aqueles nos servem apenas de intermediários, de intercessores, porque
nada pode ser feito sem à vontade de Deus.
10 – O Espiritismo nos faz compreender a ação da prece,
ao explicar a forma de transmissão do pensamento, seja quando o ser a quem
oramos atende ao nosso apelo, seja quando o nosso pensamento eleva-se a ele.
Para se compreender o que ocorre nesse caso, é necessário imaginar os seres,
encarnados e desencarnados, mergulhados no fluido universal que preenche o
espaço, assim como na Terra estamos envolvidos pela atmosfera. Esse fluido é
impulsionado pela vontade, pois é o veículo do pensamento, como o ar é o
veículo do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas,
enquanto as do fluido universal se ampliam ao infinito. Quando, pois, o
pensamento se dirige para algum ser, na terra ou no espaço, de encarnado para
desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece de um a outro,
transmitindo o pensamento, como o ar transmite o som.
A energia da corrente está na razão direta da energia do
pensamento e da vontade. É assim que a prece é ouvida pelos Espíritos, onde
quer que eles se encontrem, assim que os Espíritos se comunicam entre si, que
nos transmitem as suas inspirações, e que as relações se estabelecem à
distância entre os próprios encarnados.
Esta explicação se dirige sobretudo aos que não
compreendem a utilidade da prece puramente mística. Não tem por fim
materializar a prece, mas tornar compreensíveis os seus efeitos, ao mostrar que
ela pode exercer ação direta e positiva. Nem por isso está menos sujeita à
vontade de Deus, juiz supremo em todas as coisas, e único que pode dar eficácia
à sua ação.
11 – Pela prece, o homem atrai o concurso dos Bons
Espíritos, que o vêm sustentar nas suas boas resoluções e inspirar-lhe bons
pensamentos. Ele adquire assim a força moral necessária para vencer as
dificuldades e voltar ao caminho reto, quando dele se afastou; e assim também
podem desviar de si os males que atrairia pelas suas próprias faltas. Um homem,
por exemplo, sente a sua saúde arruinada pelos excessos que cometeu, e arrasta,
até o fim dos seus dias, uma vida de sofrimento. Tem o direito de queixar-se,
se não conseguir a cura? Não, porque poderia encontrar na prece a força para
resistir às tentações.
12 – Se dividirmos os males da vida em duas categorias,
sendo uma a dos que o homem não pode evitar, e outra a das atribuições que ele
mesmo provoca, por sua incúria e pelos seus excessos. (Ver cap. V, nº 4),
veremos que esta última é muito mais numerosa que a primeira. Torna-se pois
evidente que o homem é o autor da maioria das suas aflições, e que poderia
poupar-se, se agisse sempre com sabedoria e prudência.
É certo, também, que essas misérias resultam das nossas
infrações às leis de Deus, e que, se as observássemos rigorosamente, seríamos
perfeitamente felizes. Se não ultrapassássemos os limites do necessário, na
satisfação das nossas exigências vitais, não sofreríamos as doenças que são
provocadas pelos excessos, e as vicissitudes decorrentes dessas doenças. Se
limitássemos as nossas ambições, não temeríamos a ruína. Se não quiséssemos
subir mais alto do que podemos, não recearíamos a queda. Se fossemos humildes,
não sofreríamos as decepções do orgulho abatido. Se praticássemos a lei de
caridade, não seríamos maledicentes, nem invejosos, nem ciumentos, e
evitaríamos as querelas e as dissensões. Se não fizéssemos nenhum mal a
ninguém, não teríamos de temer as vinganças, e assim por diante.
Admitamos que o homem nada pudesse fazer contra os outros
males; que todas as preces fossem inúteis para livrar-se deles; já não seria
muito, poder afastar todos os que decorrem da sua própria conduta? Pois bem:
neste caso concebe-se facilmente a ação da prece, que tem por fim atrair a inspiração
salutar dos Bons Espíritos, pedir-lhes a força necessária para resistirmos aos
maus pensamentos, cuja execução pode nos ser funesta. E, para nos atenderem
nisto, não é o mal que eles afastam de nós, mas é a nós que eles afastam do
pensamento que nos pode causar o mal; não embaraçam em nada os desígnios de
Deus, nem suspendem o curso das leis naturais, mas é a nós que impedem de
infringirmos as leis, ao orientarem o nosso livre arbítrio. Mas o fazem sem o
perceberem, de maneira oculta, para não prejudicarem a nossa vontade. O homem
se encontra então na posição de quem solicita bons conselhos e os segue, mas
conservando a liberdade de segui-los ou não. Deus quer que assim seja, para que
ele tenha a responsabilidade dos seus atos e para lhe deixar o mérito da
escolha entre o bem e o mal. É isso o que o homem sempre receberá, se pedir com
fervor, e ao que se podem sobretudo aplicar estas palavras: “Pedi e obtereis”.
A eficácia da prece, mesmo reduzida a essas proporções,
não daria imenso resultado? Estava reservado ao Espiritismo provar a sua ação,
pela revelação das relações entre o mundo corpóreo e o mundo espiritual. Mas
não se limitam a isso os seus efeitos. A prece é recomendada por todos os
Espíritos. Renunciar a ela é ignorar a bondade de Deus; é rejeitar para si
mesmo a sua assistência; e para os outros, o bem que se poderia fazer.
13 – Ao atender o pedido que lhe é dirigido, Deus tem freqüentemente
em vista recompensar a intenção, o devotamento e a fé daquele que ora. Eis
porque a prece do homem de bem tem mais merecimento aos olhos de Deus, e sempre
maior eficácia. Porque o homem vicioso e mau não pode orar com o fervor e a
confiança que só o sentimento da verdadeira piedade pode dar. Do coração do
egoísta, daquele que só ora com os lábios, não poderiam sair mais do que
palavras, e nunca os impulsos da caridade, que dão à prece toda a sua força.
Compreende-se isso tão bem que, instintivamente, preferimos recomendar-nos às
preces daqueles cuja conduta nos parece que deve agradar a Deus, pois que são
melhores escutados.
14 – Se a prece exerce uma espécie de ação magnética,
podemos supor que o seu efeito estivesse subordinado à potência fluídica.
Entretanto, não é assim. Desde que os Espíritos exercem esta ação sobre os
homens, eles suprem, quando necessário, a insuficiência daquele que ora, seja
através de uma ação direta em seu nome, seja ao lhe conferirem momentaneamente
uma força excepcional, quando ele for julgado digno desse benefício ou quando
isso possa ser útil.
O homem que não se julga suficientemente bom para exercer
uma influência salutar, não deve deixar de orar por outro, por pensar que não é
digno de ser ouvido. A consciência de sua inferioridade é uma prova de
humildade, sempre agradável a Deus, que leva em conta a sua intenção caridosa.
Seu fervor e sua confiança em Deus constituem o primeiro passo do seu retorno
ao bem, que os Bons Espíritos se sentem felizes de estimular. A prece que é
repelida é a do orgulhoso, que só tem fé no seu poder e nos seus méritos, e
julga poder substituir-se à vontade do Eterno.
15 – O poder da prece está no pensamento, e não depende
nem das palavras, nem do lugar, nem do momento em que é feita. Pode-se, pois,
orar em qualquer hora, a sós ou em conjunto. A influência do lugar ou do tempo
depende das circunstâncias que possam favorecer o recolhimento. A prece em
comum tem ação mais poderosa, quando todos os que a fazem se associam de
coração num mesmo pensamento e têm a mesma finalidade, porque então é como se
muitos clamassem juntos e em uníssono. Mas que importaria estarem reunidos em
grande número, se cada qual agisse isoladamente e por sua própria conta? Cem pessoas
reunidas podem orar como egoístas, enquanto duas ou três, ligadas por uma
aspiração comum, orarão como verdadeiros irmãos em Deus, e sua prece terá mais
força do que a daquelas cem. (Ver cap. XXVIII, nº 4 e 5 ).
TEXTOS DE APOIO
PREFÁCIO DO LIVRO:
A LUZ DA ORAÇAO
Na bibliografia relacionada à prece é mais conhecido o
trabalho do Rhys Davis, que recolheu textos de budismo arcaico, a compilação de
Zimmern e de Gressmann para a religião assírio-babilônia, a espécie de
breviário de Neumann, limitado à prece dos monges da Índia e de diversas
tentativas de se recolherem às preces cristãs. Como não poderia deixar de
acontecer, essa preocupação se fez sentir no espírito de Allan Kardec, que nos
ofereceu o legado famoso de suas preces, cujas edições não conhecem limite.
Mas esta é a primeira vez que se tenta reunir preces
psicografadas, e, o que é melhor, devidas à atividade mediúnica deste que é
reconhecido como o mais famoso psicógrafo do mundo: Francisco Cândido Xavier.
Para quem tenha dúvidas quanto ao caráter religioso do
Espiritismo, este é também um livro para afastar vacilações, já que a prece é o
fenômeno central da vida religiosa. No dizer de Deissmann "a prece
caracteriza uma religião, uma época religiosa, um homem religioso, de maneira
mais eficaz que a mitologia, a legenda, o dogma, a moral ou a teologia".
Ora, este livro é um vasto panorama em que os Espíritos
oram. E sendo o Espiritismo a religião dos Espíritos, aqui se encontram os
elementos mais válidos para caracterizá-lo, mesmo porque neste contexto não se encontram,
obviamente, preces litúrgicas, porém alitúrgicas e pessoais, conservando, em
ritmos sugestivos e vários, o diálogo eterno entre o homem e Deus, entre a
mente fixada em seu espaço e em seu tempo e as energias cósmicas.
Reunimos textos de poetas e escritores famosos já
desencarnados, com Humberto de Campos, Ruy e João de Deus, mas, igualmente a
contribuição de ignoradas Entidades, tais Aparecida e Aniceto, em expressões
desde as mais singelas às mais complexas pelo sentido religioso, de sorte que, lendo
estas páginas, nos sentiremos como que suspensos nos fios de um mistério
infinito em meio ao qual as vozes que se erguem identificam-se por toda parte
reconhecemos essa substância central do fato religioso, isto é, a forma pela
qual a prece encontra sua expressão na latente confiança em uma intervenção
providencial.
Um duplo valor, documentário e poético, justifica esta
antologia, um itinerário formoso e inesperado entre almas imobilizadas no
instante mesmo em que estabelecem seu colóquio com Deus.
"A prece - escreveu Heiler - é o coração, o ponto
central da religião e não é nos dogmas, nas instituições, nos ritos, nas idéias
morais que podemos descobrir a substância da vida religiosa, mas nesse conjunto
de reações individuais da alma religiosa em face do cosmos, sentimento do
infinito do espaço e do tempo, da ordem e da harmonia do cosmos, do
reconhecimento ao mesmo tempo pleno de terror e de maravilha do caráter
limitado da criatura".
A caracterização e análise de tais sensações, de seu
valor emocional, da aparição de elementos éticos e normativos, de elementos de
devoção e de elementos racionais na consciência religiosa, a definição
conseqüente de relações entre emotividade e racionalidade moral, tais são os
elementos que podemos encontrar aqui.
A prece abre um circuito emocional entre os dois termos
fundamentais da experiência religiosa, Deus e o homem e, por tal motivo,
julgamos preferível a organização dos capítulos entre "Meditações" de
Emmanuel, contendo valores de movimento, de posição e de orientação da prece.
Esse esforço se concretiza com o apêndice em que os
Espíritos exprimem forças positivas, determinadas, prestes a se efetivarem,
oferecendo elementos para a observação e o estudo constante em regras de
comportamento, propondo a concordância entre a intenção e a ação.
Foi puramente ocasional que as preces reunidas nesta
"Antologia" se distingam pelo caráter verbal e poético. Comentando o
poder comunicativo da palavra, de que a prece se serve, já Di Nola dizia,
concordando com os Evangelhos que os logos, verbum, é energia oculta de onde o
mundo tira sua forma harmônica, constituindo, ao mesmo tempo, imploração que
persuade e se insinua, injunção indiscutível, pranto aflitivo, exuberância de
um grito de alegria e glória.
Uma pesquisa lingüística, ainda que limitada, nos leva à
uma confirmação da função da prece, pois que prece é pedido nas palavras prex,
precor, da raiz indo-européia perek (pedir), representativa do conceito de
pedir com palavras para obter, comum no sânscrito prât (prece), no úmbrio
persuinu alemão fraga (pedido), no irlandês arco (eu oro). Outras vezes
representa-se o conceito de prece supplicatio correspondente ao grego
proschineo, que vem da raiz pel (dobrar), evidente na palavra supplice -
subplico, do grego ichesia que, segundo a conjectura etimológica mais provável,
vem do radical seich (estender a mão).
A prece espírita é pessoal, individual, alitúrgica. É
evidente que a relação homem-Deus está toda inteira contida na intimidade da
alma individual, é uma predisposição, uma inclinação do espírito a solicitar, a
glorificar, a se abandonar, é, no dizer de Agostinho, a sede que só encontra
alívio na paz da fonte divina. Assim sendo, considerar a prece nesse estado de
intimidade, tal como a inexprimível. As experiências contidas neste livro
auxiliam, porém, a
compreender como é possível passar de uma forma
preliminar de prece elaborada à prece pessoal propriamente dita, emocional e
mental. A própria necessidade vital de se extravasar, de se manifestar, leva o
indivíduo a dar expressão ao seu impulso interior, na tentativa de defini-lo.
O apêndice deste livro, no qual abnegadas Entidades
assinam estudos diversos sobre a prece, leva-nos a concebê-la como uma pura
condição espiritual do exercício, de atos de pacificação e passividade numa
sucessão gradual de aperfeiçoamento e de conquistas interiores.
No que concerne aos Espíritos que assinam as diferentes
páginas, interessa-nos sobretudo a compreensão do processo de formação de uma
consciência inteiramente livre e marcada pelos caracteres de personalidades
altamente religiosas. De sorte que, como contexto, esta obra concerne
particularmente à psicologia religiosa, à história de grandes consciências que
se sublimaram e passam a exercer decisiva influência no desenvolvimento do
movimento espírita, que deve levar de volta ao Cristianismo à sua verdadeira
perspectiva. O estudo de cada uma das preces aqui contidas, sob os recursos de
compreensão oferecidos pelo Espiritismo, esclarece todos os mecanismos
psicológicos nos quais ela tem sua origem, no quadro de experiências
nitidamente espirituais e que promove o impulso à prece como uma manifestação
puramente interior.
Por outro lado revela aqui que a prece não pode assumir
caráter estático e tradicional se quiser manter seu poder natural de sugestão.
Neste sentido é lícito considerar que a Prece Dominical, proposta por Jesus, é
uma eficácia inicial, determinando, no exercício da prece, condições de emoção
e contacto com os níveis superiores da realidade, com a finalidade, entretanto,
de que, de tal esforço, resulte a centelha inicial da prece pessoal e, conforme
o próprio Cristo propõe, individual.
Enquanto as liturgias oficiais entram em decadência, o
Espiritismo esforça-se, por um novo caminho, a motivar a predisposição
religiosa natural do espírito humano. Eis o que nos levou a realizar esta
"Antologia" na qual o leitor poderá, através de fácil leitura, estabelecer
relação com a carga emotiva de inteligências realmente voltadas para uma
"religação" e dispostas, conforme a passagem de Paulo, o Apóstolo, a
vivificar a letra pelo espírito.
Eis que porque nestas páginas agita-se a labareda, em
mais puro estado, da grande religião do Consolador Prometido, elaborada na
divina ambição de fazer com que se comunique o Eu e o Outro, o Sujeito e o
Objeto, o Ser Humano e o Ser Cósmico.
Emmanuel - Do livro À Luz da Oração. Psicografia de
Francisco Cândido Xavier.
À PRECE
A oração não será um processo de fuga do caminho escuro
que nos cabe percorrer, mas constituirá uma abençoada luz em nosso coração,
clareando-nos a marcha.
Não representará uma porta de escape ao sofrimento
regenerativo de que ainda carecemos, mas expressará um bordão de arrimo, com o
auxílio do qual superaremos a ventania da adversidade, no rumo da bonança.
Não será um privilégio que nos exonere da enfermidade
retificadora, ambientada em nosso próprio templo orgânico pela nossa incúria e
pela nossa irreflexão, no abuso dos bens do mundo, entretanto, comparecerá por
remédio balsamizante e salutar, que nos renove as energias, em favor de nossa
própria cura.
Não será uma prerrogativa indébita que nos isente da luta
humana, imprescindível ao nosso aperfeiçoamento individual, todavia, brilhará
em nossa experiência por sublime posto de reabastecimento espiritual,
suscetível de garantir-nos a resistência e o valor na tarefa de renunciação e
sacrifício em que nos cabe perseverar.
Não será uma outorga de recursos para que os nossos
caprichos pessoas sejam atendidos, no jardim de nossas predileções afetivas,
contudo, será uma dispensação de forças para que possamos tolerar galhardamente
as situações mais difíceis, diante daqueles que nos desagradam, em sociedade ou
em família, ajudando-nos, pouco a pouco, a edificar o santuário da verdadeira
fraternidade, no próprio coração, em cujo altar amealharemos o tesouro da paz e
do discernimento.
Ainda mesmo que te encontres no labirinto quase
inextricável das provações inflexíveis, ainda mesmo que a tua jornada se alongue
sob o granizo da discórdia e da incompreensão, em plena sombra cultiva a prece,
com a mesma persistência em empregas na procura diária da água para a sede e do
pão para a fome do corpo.
Na dor, ser-te-á divino consolo, na perturbação
constituirá tua bússola.
Não olvides que a permanência na Terra é uma simples
viagem educativa de nossa alma, no espaço e no tempo, e não te esqueças de que
somente pela oração descobriremos, cada dia, o rumo que nos conduzirá de
retorno aos braços amorosos de Deus.
Emmanuel - Do livro
À Luz da Oração. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
A PRECE RECOMPÕE
"E, tendo orado, moveu-se o lugar em que estavam
reunidos."- (ATOS, 4:31.)
Na construção de simples casa de pedra, há que despender
longo esforço para ajustar ambiente próprio, removendo óbices, eliminando
asperezas e melhorando a paisagem.
Quando não é necessário acertar o solo rugoso, é preciso,
muitas vezes, aterrar o chão, formando leito seguro, à base forte.
Instrumentos variados movimentam-se, metódicos, no
trabalho renovador.
Assim também na esfera de cogitações de ordem espiritual.
Na edificação da paz doméstica, na realização dos ideais
generosos, no desdobramento de serviços edificantes, urge providenciar recursos
ao entendimento geral, com vistas à cooperação, à responsabilidade, ao processo
de ação imprescindível. E, sem dúvida, a prece representa a indispensável
alavanca renovadora, demovendo obstáculos no terreno duro da incompreensão.
A oração é divina voz do espírito no grande silêncio.
Nem sempre se caracteriza por sons articulados na
conceituação verbal, mas, invariavelmente, é prodigioso poder espiritual
comunicando emoções e pensamentos, imagens e idéias, desfazendo empecilhos,
limpando estradas, reformando concepções e melhorando o quadro mental em que
nos cabe cumprir a tarefa a que o Pai nos convoca.
Muitas vezes, nas lutas do discípulo sincero do
Evangelho, a maioria dos afeiçoados não lhe entende os propósitos, os amigos
desertam, os familiares cedem à sombra e à ignorância; entretanto, basta que
ele se refugie no santuário da própria vida, emitindo as energias benéficas do
amor e da compreensão, para que se mova, na direção de mais alto, o lugar em
que se demora com os seus.
A prece tecida de inquietação e angústia não pode
distanciar-se dos gritos desordenados de quem prefere a aflição e se entrega à
imprudência, mas a oração tecida de harmonia e confiança é força imprimindo
direção à bússola da fé viva, recompondo a paisagem em que vivemos e traçando
rumos novos para a vida superior.
Emmanuel - livro À
Luz da Oração. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
O CÍRCULO DA ORAÇÃO
F.LABOURIAU
Comentemos a importância de um circulo de oração nos
serviços de assistência medianímica, como um aparelho acelerador de metamorfose
espiritual.
Imagines assim como um ciclotrão da ciência atomística
dos tempos modernos.
Os companheiros do grupo funcionam como eletroímãs,
carregados de forças magnéticas positivas de alta freqüência, através da qual o
socorro do Plano Superior, transmitido por intermédio do dirigente físico,
exterioriza-se como sendo um projétil de luz sobre o desencarnado em sombra
que, simbolizando o núcleo atômico a ser atingido, permanece justaposto ao alvo
mediúnico.
No bombardeio nuclear sabemos que um próton, arremessado
sobre o objetivo, imprime-lhe transformação compulsória à estrutura essencial.
Um átomo simples sobre certa unidade química determina a subida de um ponto em
sua posição na série estequiogenética.
A carga de um átomo de Hidrogênio 1, arrojada sobre o
Lítio 3, modificá-lo-á para Berilo 4, ou, sobre o Alumínio 13, alterá-lo-á para
Silício 14. nesse mesmo critério, a injeção de um átomo de Hélio 2, sobre
Berilo 4, adicionar-lhe-á dois pontos acima, convertendo-o em Carbono 6.
Recorremos a figurações elementares do mundo químico,
para dizer que também no círculo de oração o impacto das energias emitidas de
nosso plano, através do orientador encarnado, em base de radiações por enquanto
inacessíveis à perquirição terrestre, provoca sensíveis alterações na mente
perturbada, conduzida à assistência cristianizadora.
Consciências estagnadas nas travas da ignorância ou da
insânia perversa, são trazidas à retorta mediúnica para receberem o bombardeio
controlado de forças e idéias transformadoras que lhes renovam o campo íntimo,
e, daí, nasce a guerra franca e sem quartel declarada a todos os grupos
respeitáveis do Espiritismo pelas inteligências que influenciam na sombra e que
fazem do vampirismo a sua razão de ser.
Todos vós, que recolhestes do Senhor os mandatos do
esclarecimento, os recursos da mediunidade e os títulos da cooperação, no trato
com os reinos do Espírito, sabeis que para conservardes um círculo de oração
equilibrado e seguro, é imprescindível pagar os mais altos tributos de
sacrifício, porque, em verdade, retendes convosco poderosa máquina de
transmutação espiritual restaurando almas enfermas e transviadas em núcleo de
ação eficiente, que vale por reduto precioso de operações da Esfera Divina, no
amparo às necessidades e problemas da Terra.
Unamo-nos, assim, no trabalho do Cristo, como obreiros da
Grande Fraternidade, mantendo-nos diligentes e alertas, na batalha incessante
do bem contra o mal em que devemos servir para a vitória da Luz.
F.LABOURIAU - Do
livro À Luz da Oração. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
EM TORNO DA PRECE
Emmanuel
Na criação não há pedido sem resposta.
O que parece, por vezes, silêncio e negação em torno da
rogativa, é o próprio desinteresse da alma que, quase sempre, entre a
inquietação e a leviandade, voeja de solicitação a solicitação. Sem
persistência bastante para alimentar os próprios ensejos no tempo, - de vez que
o tempo é o matemático divino que não podemos esquecer ou iludir.
Atenta, pois, para o que pedes porque se o Senhor sabe
aquilo que nos convém, raramente conhecemos, em verdade, aquilo de eu
necessitamos.
Todos se prosternam perante o altar da vida e algo
suplicam do que consideram material imprescindível à própria felicidade.
Muitos pedem ouro e recebem a fortuna emoldurada nas
garras da aflição.
Muitos reclamam beleza física e recolhem-lhe os dons de
mistura com fel de dolorosas desilusões.
Muitos imploram o poder humano e apossam-se dele,
incorporando, irremediavelmente, pesadelos à própria sorte.
Muitos rogam a evidência social e escalam-lhe os dourados
galarins, passando a respirar o hálito envenenado do desencanto da morte.
Muitos pedem o louvor da inteligência e adornam-se com a
fama, penetrando, contudo, em pavorosos sorvedouros de angústia.
Acharemos o que buscamos.
A reação será invariavelmente o reverso da ação.
Quem deseja sente.
Quem sente pensa.
Quem pensa realiza.
Saibamos, assim, selecionar os nossos impulsos, porquanto
a Eterna Bondade estrutura para a nossa existência o programa que mais favoreça
a própria edificação.
Cumpramos nosso dever, puro e simples, onde estivermos,
seja no reduto doméstico ou no campo social, à frente dos nossos familiares ou
dos nossos desafetos, oferecendo-lhes todo o bem ao nosso alcance, e a
obrigação corretamente atendida será o degrau de nossa ascenção aos planos mais
altos.
Por isso mesmo, em qualquer problema da oração, não nos
esqueçamos de que a Vontade Sábia e Justa do Pai Celestial, em nosso próprio
favor, deve ser executada com o nosso melhor concurso, assim na terra como nos
Céus.
Emmanuel - Do
livro À Luz da Oração. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
NA ORAÇÃO
“Senhor, ensina-nos a orar...”– LUCAS, 11:1.
A prece, nos círculos do Cristianismo, caracteriza-se por
gradação infinita em suas manifestações, porque existem crentes de todos os
matizes nos vários cursos da fé.
Os seguidores inquietos reclamam a realização de
propósitos inconstantes.
Os egoístas exigem a solução de caprichos inferiores.
Os ignorantes do bem chegam a rogar o mal para o próximo.
Os tristes pedem a solidão com ociosidade.
Os desesperados suplicam a morte.
Inúmeros beneficiários do Evangelho imploram isso ou
aquilo, com alusão à boa marcha dos negócios que lhes interessam á vida física.
Em suma, buscam a fuga. Anelam somente a distância da dificuldade, do trabalho,
da luta digna.
Jesus suporta, paciente, todas as fileiras de candidatos
do seu serviço de iluminação, estendendo-lhes mãos benignas, tolerando-lhes as
queixas descabidas e as lágrimas inaceitáveis.
Todavia, quando aceita alguém no discipulado definitivo,
algo acontece no íntimo da alma contemplada pelo Senhor.
Cessam as rogativas ruidosas.
Acalmam-se os desejos tumultuários.
Converte-se a oração em trabalho edificante.
O discípulo nada reclama. E o Mestre respondendo-lhe às
orações, modifica-lhe a vontade, todos os dias, alijando-lhe do pensamento os
objetivos inferiores.
O coração unido a Jesus é um servo alegre e silencioso.
Disse-lhe o Mestre: Levanta-te e segue-me.
E ele ergueu-se e o seguiu.
Emmanuel - Livro A
Luz da Oração. Psicografia de Francisco Candido Xavier - Espíritos Diversos.
EM TORNO DA ORAÇÃO
Antes de pedir pão à Providência Divina, não menosprezes
o esforço por obtê-lo.
Antes de rogar a paz em teu benefício, não olvides a
consciência reta, para que a tranqüilidade não te abandone.
É preciso lembrar que as súplicas humanas não devem
estorvar as concessões Divinas.
Sendo a Terra nossa escola multimilenária, cada aprendiz,
dentro dela, recolhe a lição que lhe cabe. É por isso que vemos, a cada passo,
dificuldades materiais que preservam a integridade do espírito, moléstias que
funcionam por mazelas do corpo, em favor da higiene da alma e inibições físicas
que asseguram a defesa do coração contra a descida ao despenhadeiro.
Aprendamos a ver nos infortúnios de agora os elementos
vivos que nos garantirão a felicidade depois.
Campo a dentro do Espiritismo com Jesus, não podemos
abraçar na prece a válvula de escape injusto. Sabemos que a Ordem Universal não
nos perde de vista e que todos recebemos hoje de acordo com as nossas obras de
ontem. Assim sendo, mantenhamos a oração como escada de luz, no intercâmbio com
o plano Superior, à procura da inspiração divina, de modo a sermos mais úteis
ao próximo e mais conscientes em nós mesmos.
E, não desconhecendo a nossa obrigação de aprender e
servir, infatigavelmente, peçamos ao Senhor não para que a nossa cruz se
desfaça antes do momento oportuno, mas que se nos amplifique a resistência nos
ombros a fim de que a suportemos com a dignidade devida.
Valiosa é a prece que transforma situações e paisagens
exteriores, embora muitas vezes nos aumente os compromissos; entretanto, é
imperioso não esquecer, que a oração mais sublime é aquela que nos renova por
dentro, ajudando-nos a crescer mentalmente para discernirmos com segurança e
amparando-nos a visão íntima para que estejamos, cada dia, não na pauta de
nossos próprios desejos, mas segurando a vontade sábia e misericordiosa de
Deus.
Emmanuel De À Luz
da Oração, de Francisco Cândido Xavier – Espíritos Diversos
EM LOUVOR DA ORAÇÃO
Pediste em oração a cura de doentes amados e a morte
apagou-lhes as pupilas, regelando-te o coração; solicitaste o afastamento da
prova e o acidente ocorreu, esmagando-te as esperanças; suplicaste a sustação
da moléstia e a doença chegou a infligir-te deformidade completa; imploraste
suprimentos materiais e a carência te bate à porta.
Mas se não abandonares a prece, aliado ao exercício das
boas obras, granjearás paciência e serenidade, entendendo, por fim, que a
desencarnação foi socorro providencial, impedindo sofrimentos insuportáveis;
que o desastre se constituiu em medida de emergência para evitar calamidade
contra quedas mortais de soerguimento difícil e que as dificuldades da penúria
são lições da vida, a fim de que a finança demasiada não se faça veneno ou
explosivo nas suas mãos.
Da mesma forma quando suplicamos perdão das próprias
faltas à Eterna Justiça, não bastam o pranto de compunção e a postura de
reverência. Após o reconhecimento dos compromissos que nos são debitados no
livro do espírito, continuamos tão aflitos e tão desditosos quanto antes.
Contudo, se perseveramos na prece, com o serviço das boas ações que nos atestam
a corrigenda, a breve trecho perceberemos que a Lei nos restitui a
tranqüilidade e a libertação, com o ensejo de apagar as conseqüências de nossos
erros, reintegrando-nos no respeito e na estima de todos aqueles que erigimos à
condição de credores e adversários.
Se guardas esse ou aquele problema de consciência, depois
de haver rogado perdão à Divina Bondade, sob o pretexto de continuar no fogo
invisível da inquietação, não te afastes da prece mesmo assim.
Prossegue orando, fiel ao bem que te revele o espírito
renovado.
A prece forma o campo do pensamento puro e toda
construção respeitável começa na idéia nobre.
Realmente, sem trabalho que o efetive, o mais belo plano
é sempre um belo plano a perder-se.
Não vale prometer sem cumprir.
A oração dentro da alma comprometida em lutas na sombra,
assemelha-se à lâmpada que se acende numa casa desarranjada; a presença da luz
não altera a situação do ambiente desajustado e nem remove os detritos
acumulados no recinto doméstico, entretanto, mostra sem alarde, o serviço que
se deve fazer.
Emmanuel De À luz da oração, de Francisco Cândido Xavier
- Autores diversos
A TERAPÊUTICA DA PRECE
Francisco Menezes Dias Da Cruz
No tratamento da obsessão é necessário salientar a
terapêutica da prece como elemento valioso de introdução à cura.
Não ignoramos que a psiquiatria, nova ciência do mundo
médico, apesar de teorizada nos hospícios, somente corporificou-se na prática
que a define, nos campos de guerra do século presente. Chamados ao
pronto-socorro das retaguardas, desde o conflito russo-japonês, os psiquiatras
esbarram com numerosos problemas da neurose traumática, identificando as mais
estranhas moléstias da imaginação e usando a palavra de entendimento e simpatia
como recurso psicoterápico de incalculável importância.
Por isso, dispomos, atualmente, na moderna psicanálise,
da psicologia do desabafo como medicação regeneradora. A confissão do paciente
vale por expulsão de resíduos tóxicos da vida mental e o conselho do
especialista idôneo age por doação de novas formas-pensamento, no amparo do
cérebro enfermiço.
Invocamos semelhante apontamento para configurar na luta
humana verdadeiro combate evolutivo em milhares de almas caem diariamente nos
meandros das próprias complicações emocionais, entrando, sem perceber, na faixa
das forças inferiores que, a surgirem de nosso passado, nos espreitam e geram
em nosso prejuízo dolorosos processos de obsessão, retardando-nos o progresso,
por intermédio dos pensamentos desequilibrados com que se justapõem à nossa
vida intima.
É por essa razão que vemos, tanto nos círculos
terrestres, como nas regiões inferiores da vida espiritual, as
enfermidades-alucinações que se alojam na mente, ao comando magnético dos
poderes da sombra, com os quais estejam em sintonia.
E a técnica das inteligências que nos exploram o
patrimônio mento-psíquico, baseia-se, de maneira invariável, na comunhão
telepática, pela qual implantam naqueles que lhes acendem ao domínio as
criações mentais perturbadoras, capazes de lhes assegurar o continuísmo da
vampirização.
Atentos, assim, à psicogênese desses casos de desarmonia
espiritual, quase sempre formados pela influenciação consciente ou inconsciente
das entidades infelizes, desencarnadas ou encarnadas, que se os associam à
experiência cotidiana, recorramos à prece como elemento de ligação com os
Planos Superiores, exorando o amparo dos Mensageiros Divinos, cujo pensamento
sublimado pode criar, de improviso, novos motivos mentais em nosso favor ou em
favor daqueles que nos propomos socorrer.
Não nos esqueçamos de que possuímos na oração a nossa
mais alta fonte de poder, em razão de facilitar-nos o acesso ao Poder Maior da
Vida. Assim sendo, em quaisquer emergências da tarefa assistencial, em nosso
beneficio ou em beneficio dos outros,
não olvidemos o valor da prece em terapia, recordando a sábia conceituação do
Apóstolo Tiago, no versículo 16 do capitulo 5 em sua Epistola Universal: -
“Orai uns pelos outros, afim de que sareis, porque a prece da alma justa muito
pode em seus efeitos.
Emmanuel Do livro
À Luz da Oração. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
A RESPOSTA CELESTE
Solicitando Bartolomeu esclarecimentos quanto às
respostas do Alto às súplicas dos homens, respondeu Jesus para elucidação
geral:
— Antigo instrutor dos Mandamentos Divinos ia em missão
da Verdade Celeste, de uma aldeia para outra, profundamente distanciadas entre
si, fazendo-se acompanhar de um cão amigo, quando anoiteceu, sem que lhe fosse
possível prever o número de milhas que o separavam do destino.
Reparando que a solidão em plena Natureza era medonha,
orou, implorando a proteção do Eterno Pai, e seguiu.
Noite fechada e sem luar, percebeu a existência de larga
e confortadora cova, à margem da trilha em que avançava, e acariciando o animal
que o seguia, vigilante, dispôs-se a deitar-se e dormir.
Começou a instalar-se, pacientemente, mas espessa nuvem
de moscas vorazes o atacou, de chofre, obrigando-o a retomar o caminho.
O ancião continuou a jornada, quando se lhe deparou
volumoso riacho, num trecho em que a estrada se bifurcava.
Ponte rústica oferecia passagem pela via principal, e,
além dela, a terra parecia sedutora, porque, mesmo envolvida na sombra noturna,
semelhava-se a extenso lençol branco.
O santo pregador pretendia ganhar a outra margem,
arrastando o companheiro obediente, quando a ponte se desligou das bases,
estalando e abatendo-se por inteiro.
Sem recursos, agora, para a travessia, o velhinho seguiu
pelo outro rumo, e, encontrando robusta árvore, ramalhosa e acolhedora, pensou
em abrigar-se, convenientemente, porque o firmamento anunciava a tempestade
pelos trovões longínquos.
O vegetal respeitável oferecia asilo fascinante e seguro
no próprio tronco aberto.
Dispunha-se ao refúgio, mas a ventania começou a soprar
tão forte que o tronco vigoroso caiu, partido, sem remissão.
Exposto então à chuva, o peregrino movimentou-se para
diante.
Depois de aproximadamente duas milhas, encontrou um
casebre rural, mostrando doce luz por dentro, e suspirou aliviado.
Bateu à porta.
O homem ríspido que veio atender foi claro na negativa,
alegando que o sítio não recebia visitas à noite e que não lhe era permitido
acolher pessoas estranhas.
Por mais que chorasse e rogasse, o pregador foi
constrangido a seguir além.
Acomodou-se, como pode, debaixo do temporal, nas
cercanias da casinhola campestre; no entanto, a breve espaço, notou que o cão,
aterrado pelos relâmpagos sucessivos, fugia a uivar, perdendo-se nas trevas.
O velho, agora sozinho, chorou angustiado, acreditando-se
esquecido por Deus e passou a noite ao relento.
Alta madrugada, ouviu gritos e palavrões indistintos, sem
poder precisar de onde partiam.
Intrigado, esperou o alvorecer e, quando o Sol ressurgiu
resplandecente, ausentou-se do esconderijo, vindo a saber, por intermédio de
camponeses aflitos, que uma quadrilha de ladrões pilhara a choupana onde lhe
fora negado o asilo, assassinando os moradores.
Repentina luz espiritual aflorou-lhe na mente.
Compreendeu que a Bondade Divina o livrara dos
malfeitores e que, afastando dele o cão que uivava, lhe garantira a
tranqüilidade do pouso.
Informando-se de que seguia em trilho oposto à localidade
do destino, empreendeu a marcha de regresso, para retificar a viagem, e, junto
à ponte rompida, foi esclarecido por um lavrador de que a terra branca, do
outro lado, não passava de pântano traiçoeiro, em que muitos viajores
imprevidentes haviam sucumbido.
36 O velho agradeceu o salvamento que o Pai lhe enviara
e, quando alcançou a árvore tombada, um rapazinho observou-lhe que o tronco,
dantes acolhedor, era conhecido covil de lobos.
Muito grato ao Senhor que tão milagrosamente o ajudara,
procurou a cova onde tentara repouso e nela encontrou um ninho de perigosas
serpentes.
Endereçando infinito reconhecimento ao Céu pelas
expressões de variado socorro que não soubera entender, de pronto, prosseguiu
adiante, são e salvo, para desempenho de sua tarefa.
Nesse ponto da curiosa narrativa, o Mestre fitou
Bartolomeu demoradamente e terminou: — O Pai ouve sempre as nossas rogativas,
mas é preciso discernimento para compreender as respostas d’Ele e
aproveitá-las.
Neio Lúcio - Do Livro Jesus no Lar - Francisco C. Xavier
ORAÇÃO NO ANO NOVO
Senhor Jesus!
Ante as promessas do ano que se inicia, não nos permitas
que esqueçamos aqueles com aqueles com quem nos honraste o caminho iluminativo:
as mães solteiras, desesperadas, a quem prometemos o pão
do entendimento;
as crianças delinquentes que nos buscaram com a mente em
desalinho
os calcetas que, vencidos em si mesmos, nos feriram e
retornaram às nossas portas;
os enfermos solitários, que nos fitaram, confiantes em
nosso auxílio;
os esfaimados e desnudos que chegaram até nossas parcas
provisões;
os mutilados e tristes, ignorantes e analfabetos, que nos
visitaram, recordando-nos de Ti...
Sabemos, Senhor, o pouco valor que temos,
identificamo-nos com o que possuímos intimamente, mas, contigo, tudo podemos e
fazemos. Ajuda-nos a manter o compromisso de amar-Te, amando neles toda a
família universal em cujos braços renascemos.
"Seja o que for que peçais na prece, crede que
obtereis e concedidos vos será o que pedirdes". Marcos: 11-24.
"Pela prece, obtém o homem o concurso dos bons
Espíritos que acorrem a sustentá-lo em suas boas resoluções e a lhe inspirar
idéias sãs". Evangelho Segundo O Espiritismo - Cap. XXVII - Item 11.
FRANCO, Divaldo Pereira. Espírito e Vida. Pelo Espírito
Joanna de Ângelis. LEAL.
ORAR SEM CESSAR
"Pela prece, obtêm o homem o concurso dos bons
Espíritos que acorrem a sustentá-lo em suas boas resoluções e a lhe inspirar
idéias sãs. Ele adquire desse modo a força moral necessária a vencer as
dificuldades e a volver ao caminho reto, se deste se afastou." O EVANGELHO
SEGUNDO O ESPIRITISMO Capítulo 27º - Item 11.
Com muita propriedade o apóstolo Paulo, na 1ª Epístola
aos companheiros da Tessalônica, assevera: "orai sem cessar".
Orar, entretanto, não é apenas falar a Deus, em longos
recitativos, ou guardar a alma em atitude extática numa contemplação inoperante
e improcedente.
Com o Senhor aprendemos que orar é servir, convertendo
dificuldades em bênçãos e acendendo lâmpadas da esperança nas sombras por onde
seguem as almas.
Com Ele sabemos ser a oração mensagem que flui da Alma em
direção ao Criador e reflui do Criador para a Alma como bênção socorrista.
Compreendemos, assim, que o "orar sem cessar" é
meditar sempre, aplicando o tempo mental em utilidade psíquica, laborando, pela
edificação íntima ou alongando os braços no serviço de santificação do dever.
Inquietado pelo tumulto das atividades a que se liga, o
homem, muitas vezes, não se prepara para a oração constante, reservando no
canhenho dos deveres humanos tempos pequenos e determinados para o diálogo com
Aquele que é o hálito e a causa da Vida.
E é natural que sua débil voz se perca no tumulto
interno, sem atingir os Ouvidos Celestes.
Mensagens mal impressas ou transmitidas em freqüência
irregular, não alcançam os portos de destino, perturbadas pela estática ou
interrompidas pela falta de potencialidade que as conduza nos veículos
deficitários do instrumento transmissor.
Evidentemente que, não recebidas, ficam sem respostas.
... Orar sem cessar para que os recados continuados
atinjam as Estâncias do Mundo Superior.
O homem, honrando-se no trabalho do campo, ora.
O oleiro modesto, na confecção nobre do vaso, ora.
O operário eficiente, na materialização do compromisso,
ora.
O sacerdote, em visita à dor, ora.
O instrumentalista, em exercício digno, ora.
O mestre, ministrando as páginas da vida na formosa
ciência do ensino, ora.
O profissional acadêmico, trabalhando fiel ao juramento,
ora.
O estático ou o reverente, o solitário ou o enclausurado,
longe da ação superior que anula todo mal, mesmo em atitude de prece, estão
distantes da oração.
Na incomparável prece que Jesus nos ensinou, o Pai Nosso,
encontramos a síntese sublime das aspirações humanas, em forma de colóquio
ideal com o Excelso Criador.
Louvor a Deus e exaltação do Seu Nome e da Sua obra
submissão à Sua Lei de sabedoria e justiça e apelo - apelo que é súplica
humilde e confiante de filho amado e Pai Amantíssimo cujos ricos celeiros de
bênçãos sempre se encontram à disposição daqueles que os buscam.
Orar é mais do que abrir a boca e pedir. É comungar com
Deus, banhando-se de paz e renovação íntima...
Orar é como arar, agir atuar com Jesus Cristo e os
Espíritos Superiores em favor do mundo.
A maior oração da vida transcendental do Cristo foi o
verbo amar, conjugado da Manjedoura ao Gólgota, culminando no olvido a todo o
mal com a mensagem do bem com que Ele partiu da Terra.
E ainda agora, quando fatores variados conspiram na vida
moderna contra a serenidade, a paz e a edificação cristã, entre os homens,
recorda a necessidade de orar, orar sem cessar, para que o vendaval das paixões
não te possa carregar na sua fúria.
FRANCO, Divaldo Pereira. Espírito e Vida. Pelo Espírito
Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 35.
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