Teus encargos - tuas possibilidades de acesso a planos superiores.
Realmente nós - os espíritos em evolução nas vias terrestres - estamos ainda muito distantes da angelitude; entretanto cada um de nós, onde estiver, poderá, desde agora, começar a ser bom.
Sede Perfeitos! – conclamou o Divino Mestre – entretanto, sabemos que estamos presentemente mais distantes da perfeição que o verme da estrela.
Ainda assim, Jesus não formularia semelhante apelo se estivesse ele enquadrado no labirinto inextricável do “impossível”.
Podemos e devemos esposar a nossa iniciação no aprimoramento para a Vida Superior, começando a ser bons.
Entretanto, é necessário distinguir bondade da displicência com que muita vez nos rendemos à falsa virtude, de vez que, em toda parte, existem criaturas boas, emaranhadas na negação da verdadeira bondade.
Vemos pessoas de boas intenções acendendo a fogueira da discórdia, entronizando a astúcia no culto devido à inteligência; para consolidar a maldade; para empreender a separatividade; para os objetivos da desordem; para a conservação da ignorância e da penúria que amortalham grande parte da Humanidade.
Busquemos o padrão do Cristo e sejamos bons, quanto o Mestre nos ensinou.
É natural não possas ser apresentado, de imediato, em carros de triunfo, à frente da multidão; categorizado à conta de santo ou de herói, mas, poderão ser o irmão do próximo, estendendo-lhe as mãos fraternas.
Observa, em torno da mesa farta ou ao redor da saúde que te garante a harmonia orgânica e considera as tuas possibilidades de auxiliar.
Poderá ser o irmão do companheiro infeliz, através de alguma frase de bom ânimo, o benfeitor do coração materno infortunado, o salvador da criança que luta com a enfermidade e com a morte, pela gota de remédio restaurador.
Poderá ser o amigo dos animais e das árvores, o preservador das fontes e do defensor das sementes que sustentarão o celeiro de amanhã.
Desperta e faze algo que te impulsione para frente na estrada de elevação.
Não te detenhas.
A vida não te reclama atitudes sensacionais, gestos impraticáveis, espetáculos de súbita grandeza...
Pede simplesmente sejas sempre melhor para aqueles que te cruzem os passos.
Esqueçamos o mal e procuremos o bem que nos esclareça e melhore.
Ainda agora e aqui mesmo, enquanto relemos o convite do Senhor, podemos formular no coração uma prece por todos aqueles que ainda não nos possam compreender e, através da oração, começar a obra de nosso aperfeiçoamento para a Vida Imortal.
“Sede perfeitos como Nosso Pai Celestial!”
Esta foi a advertência do Senhor ao nosso coração de aprendizes.
Todavia, à maneira do verme contemplando a estrela longínqua, sabemos quão imensa é a distância que nos separa da meta.
Impedimentos, compromissos e inibições fluem do nosso “ontem”, asfixiando-nos, a cada momento de hoje, o anseio de movimentação para a luz.
Entretanto, se ainda nos situamos tão longe do justo aprimoramento que nos integrará na magnificência divina, é imperioso começar a grande romagem, oferecendo ao avanço as melhores forças.
Ninguém exige sejas de imediato o paradigma do amor que o Mestre nos legou, mas podes ser, desde agora, o cultor da compreensão e da gentileza dentro da própria casa.
Ninguém te pede a renúncia integral aos bens que te enriquecem os dias terrestres, no entanto, podes doar, de improviso, a migalha do que te sobre ao conforto doméstico, em auxílio ao companheiro necessitado.
Ninguém espera desempenhes, ainda hoje, o papel de herói na praça pública, mas podes calar, sem detença, a palavra escura ou amargosa capaz de emergir de teu coração para os lábios.
Ninguém aguarda sejas o remédio para todas as doenças, entretanto, ainda hoje, podes ser a enfermagem diligente, balsamizando as úlceras dos enfermos relegados ao abandono.
Ninguém te solicita prodígios, em manifestações prematuras de fé, mas podes ser, sem delonga, o reconforto que ampare a quantos atravessam as sarças do caminho.
Lembra a semente que te regala o corpo e aprendamos a começar.
A planta que era ontem simples promessa, hoje é a garantia do pão que te supre a mesa.
As maiores e as mais famosas viagens iniciam-se de um passo.
Esforcemo-nos por fazer o melhor ao nosso alcance, desde agora, e a perfeição ser-nos-á, um dia, preciosa fonte de bênçãos, descortinando-nos luminoso porvir.
Nenhum espírito da comunidade terrestre possui tanta luz que não admita em si certa nesga de sombra, nem existe criatura com tanta sombra que não guarde consigo certa faixa de luz.
Aprende a fixar o próximo com a claridade que há em ti.
Não creias porém , que semelhante trabalho se filie ao menos esforço, porque, pelo peso das trevas que ainda imperam no mundo, a sombra que ainda nos envolve, na Terra, a cada instante, insinuar-se-nos-á no próprio entendimento, perturbando-nos as interpretações.
Se te demoras na obscuridade, não enxergarás senão os defeitos e as cicatrizes, as feridas e as nódoas que caracterizam a fisionomia do irmão infortunado, constrangendo-te ao medo e à usura, à incompreensão e à aspereza.
E sabemos que quantos se detêm no cipoal ou no charco não encontram outros elementos, além da lama ou do espinho, para oferecer.
Alça a lâmpada acesa do conhecimento superior e avança para a frente, e, então, a ignorância e a delinquência surgir-nos-ão aos olhos por enfermidades da alma, que é preciso extirpar, a benefício da felicidade comum.
“Não saiba a vossa mão esquerda o que deu a direita” – ensina-nos o Evangelho – e ousamos acrescentar:” não saiba a nossa sombra o que faz a nossa luz”, porque, dessa forma, avançando, acima das tentações da vaidade e do desânimo, a chispa humilde de nossa fé no Bem Infinito poderá transformar-se em chama viva e redentora para o caminho de todos os que nos cercam.
Para que sejamos intérpretes genuínos do bem, não basta desculpar o mal.
É imprescindível nos despreocupemos dele, em sentido absoluto, relegando-o à condição de efêmero acessório do triunfo real das Leis que nos regem.
Evitando comentários complexos em nosso culto à simplicidade, recorramos à natureza.
Vejamos, por exemplo, o apelo vivo da fonte.
Quantas vezes terá sido injuriada a água que hoje nos serve à mesa?
Do manancial ao vaso limpo, difícil trajetória cumulou-a de vicissitudes e provações.
O leito duro de pedra e areia...
A baba venenosa dos répteis...
O insulto dos animais de grande porte...
O enxurro dos temporais...
Os detritos que lhe foram arrojados ao seio...
A fonte, entretanto, caminhou despretensiosa, sem demorar-se em qualquer consideração aos sarcasmos da senda, até surpreender-nos, diligente e pura, aceitando o filtro que lhe apura as condições, a fim de que nos assegure saciedade e conforto.
Segundo observamos, na lição aparentemente infantil, o ribeiro não somente olvidou as ofensas que lhe foram precipitadas à face.
Movimentou-se, avançou, humilhou-se para auxiliar e perdoou infinitamente, sem imobilizar-se um minuto, porque a imobilidade para ele constituiria adesão ao charco, no qual, ao invés de servir, converter-se-ia tão-só em veículo de corrução.
E por isso que o ensinamento cristão da caridade envolve o completo esquecimento de todo mal.
"Que a vossa mão esquerda ignore o bem praticado pela direita."
Semelhantes palavras do Senhor induzem-nos a jornadear na Terra, exaltando o bem, por todos os meios ao nosso alcance, com integral despreocupação de tudo o que represente vaidade nossa ou incompreensão dos outros, de vez que em qualquer boa dádiva somente a Deus se atribui a procedência.
Procurando a nossa posição de servidores fiéis da regeneração do mundo, a começar de nós mesmos, pela renovação dos nossos hábitos e impulsos, olvidemos a sombra e busquemos a luz, cada dia, conscientes de que qualquer pausa mais longa na apreciação dos quadros menos dignos que ainda nos cercam será nossa provável indução ao estacionamento indeterminado no cárcere do desequilíbrio e do sofrimento.
“Não saiba a vossa mão esquerda o que oferece a direita” é a lição de Jesus que constantemente nos sugere a sementeira do bem oculto.
Entretanto, é preciso lembrar que se “nem só de pão vive o homem”, não se alimenta a virtude tão-somente de recursos materiais.
Acima do benefício que se esconde para ser mais seguro no campo físico, de modo a que se não firam corpos doentes e bocas famintas pelos acúleos da ostentação, prevalece o amparo mudo às necessidades do sentimento, na esfera do Espírito, a fim de que os tóxicos da maldade e desastres do escândalo não arrasem experiências preciosas com o fogo da imprevidência.
Se perceberes no companheiro as escamas do orgulho ou da rebeldia, envolve-o no clima da humildade, socorrendo-lhe a sede imanifesta de auxílio, e se presenciaste a queda de alguém, no caminho em que jornadeias, alonga-lhe os braços de irmão, para que se levante, sem exagerar-lhe os desajustes com a referência insensata.
Se um amigo aparece errado aos teus olhos, cala o verbo contundente da crítica, ajudando-o com a benção da prece, e se o próximo surge desorientado e infeliz, em teus passos, oferta-lhe o favor do silêncio, para que se reequilibre e restaure.
Não vale encarecer cicatrizes e imperfeições, a pretexto de apagá-las no corpo das horas, porquanto leve chaga, tratada com desamor, é sempre ferida a tornar-se crônica com o tempo.
Distribui, desse modo, a beneficência do agasalho e do pão, evitando humilhar quem te recolhe os gestos de providência e carinho; contudo, não olvides estender a caridade do pensamento e da língua, para que o bálsamo do perdão anule o veneno do ódio e para que a força do esquecimento extinga as sombras de todo mal.
Aprendamos a auxiliar para que a nossa dádiva não se transforme em espinho, envenenando as chagas alheias.
A caridade não surge apenas na doação de ordem material.
É serviço de cada instante e apoio de cada dia. Não comentes o mal para que o mal não se estenda, não te refiras à sombra para que a sombra te não envolva o caminho.
Ao pé dos semelhantes cala o impulso da maldição que começa na leviandade e na crítica.
Se junto aos doentes, não te reportes à enfermidade, se respirando entre ignorantes não reproves aqueles que ainda se movimentam nas trevas.
Não insistas, destacando a perversidade e o infortúnio, embora a vida nos determine o dever de extinguir a penúria e sanar a dor.
Lembra-te de que é preciso esquecer a própria superioridade, para que a lição não se converta em orgulho e que é necessário ofuscar o nosso propósito de evidência para que o ensejo da luz favoreça os necessitados de confiança.
Não vale socorrer desesperando ou ferindo...
Quase sempre a carência do próximo prescindirá do teu ouro, desde que saibas soerguê-la ao teu próprio nível, a fim de que se dignifique para o trabalho e se restaure para o sol da esperança.
Ocultar a mão esquerda para que a mão direita não te conheça a beneficência não é simplesmente atitude de respeito e fraternidade na assistência comum, mas também apelo do Cristo à nossa humildade para que nos amparemos reciprocamente, sabendo que a fraqueza dos caídos de hoje pode ser a nossa fraqueza nos embates da alma que a vida nos oferecerá de futuro, e que apenas praticaremos o amor, em nos compreendendo e ajudando uns aos outros por verdadeiros irmãos.
Ainda mesmo que todas as circunstâncias te hostilizem, ajuda sempre.
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