Um dia, a Gota d’água, o Raio de Luz, a Abelha e o Homem Preguiçoso chegaram ao Trono de Deus.
O Todo-Poderoso recebeu-os, com bondade, e perguntou pelo que faziam.
A Gota d’água avançou e disse: Senhor, eu estive num terreno quase deserto, auxiliando uma raiz de laranjeira. Vi muitas árvores sofrendo sede e diversos animais que passavam, aflitos, procurando mananciais.
Fiz o que pude, mas venho pedir-te outras Gotas d’água que me ajudem a socorrer quantos necessitem de nós.
O Pai sorriu, satisfeito e exclamou: Bem-aventurada sejas pelo entendimento de minhas obras. Dar-te-ei os recursos das chuvas e das fontes.
Logo após, o Raio de Luz adiantou-se e falou: - Senhor, eu desci ... desci ... e encontrei o fundo de um abismo. Nesse antro, combati a sombra, quanto me foi possível, mas notei a presença de muitas criaturas suplicando claridade.
Venho ao Céu rogar-te outros Raios de Luz que comigo cooperem na libertação de todos aqueles que, no mundo, ainda sofrem a pressão das trevas.
O Pai, contente, respondeu: - Bem aventurado sejas pelo serviços à Criação. Dar-te-ei o concurso do Sol, das lâmpadas, dos livros iluminados e das boas palavras que se encontram na Terra.
Depois disso, a Abelha explicou-se: - Senhor, tenho fabricado todo o mel, ao alcance de minhas possibilidades.
Mas vejo tantas crianças fracas e doentes que te venho implorar mais flores e mais Abelhas, a fim de aumentar a produção...
O Pai, muito feliz, abençoou-a e replicou: - Bem-aventurada sejas pelos benefícios que prestaste. Conceder-te-ei
novos jardins e novas companheiras.
Em seguida, o Homem Preguiçoso foi chamado a falar.
Fez uma cara desagradável e informou: - Senhor, nada consegui fazer. Por todos os lados, encontrei a inveja e a perseguição, o ódio e a maldade. Tive os braços atados pela ingratidão dos meus semelhantes. Tanta gente má permanência em meu caminho que, em
verdade, nada pude fazer.
O Pai bondoso, com expressão de descontentamento, exclamou: - Infeliz de ti, que desprezastes os dons que te dei. Adormeceste na
preguiça e nada fizeste. Os seres pequeninos e humildes alegraram meu Trono com o relatório de seus trabalhos, mas tua boca sabe apenas queixar, como se a inteligência e as mãos que te confiei para nada valessem. Retira-te! Os filhos inúteis e ingratos não devem buscar-me a presença. Regressa ao mundo e não voltes a procurar-me enquanto não aprenderes a servir.
A Gota d’água regressou, cristalina e bela. O Raio de Luz tornou aos abismos, brilhando cada vez mais. A Abelha desceu zumbindo, feliz. O Homem Preguiçoso, porém, retirou-se muito triste.
O SERVIDO NEGLIGENTE – CAP 13 - ALVORADA CRISTÃ – FCX
À porta de grande carpintaria, chegou um rapaz, de caixa às costas, à procura de emprego. Parecia humilde e educado.
O diretor da instituição compareceu, atencioso, para atendê-lo.
— Tem serviço com que me possa favorecer? — indagou o jovem, respeitoso, depois das saudações habituais.
— As tarefas são muitas — elucidou o chefe.
— Oh! por favor! — tornou o interessado — meus velhos pais necessitam de amparo. Tenho batido, em vão, à porta de várias oficinas. Ninguém me socorre. Contentar-me-ei com salário reduzido e aceitarei o horário que desejar.
O diretor, muito calmo, acentuou:
— Trabalho não falta...
E, enquanto o candidato mostrava um sorriso de esperança, acrescentou:
— Traz suas ferramentas em ordem?
— Perfeitamente — respondeu o interpelado.
— Vejamo-las.
O moço abriu a caixa que trazia. Metia pena reparar-lhe os instrumentos.
A enxó se achava deformada pela ferrugem grossa. O serrote mostrava vários dentes quebrados. O martelo tinha cabo incompleto.
O alicate estava francamente desconjuntado. Diversos formões não atenderiam a qualquer apelo de serviço, tal a imperfeição que apresentavam seus gumes. Poeira espessa recobria todos os objetos.
O dirigente da oficina observou... observou... e disse, desencantado: — Para o senhor, não temos qualquer trabalho.
— Oh! porque? — interrogou o rapaz, em tom de súplica.
O diretor esclareceu, sem azedume: — Se o senhor não tem cuidado com as ferramentas que lhe pertencem, como preservará nossas máquinas? se é indiferente naquilo em que deve sentir-se honrado, chegará a ser útil aos interesses alheios? quem não zela
atentamente no “pouco” de que dispõe, não é digno de receber o “muito”.
Aprenda a cuidar das coisas aparentemente sem importância. Pelas amostras, grandes negócios se realizam neste mundo e o menosprezo para consigo é indesejável mostruário de sua indiferença perniciosa. Aproveite a experiência e volte mais tarde.
Não valeram petitórios do moço necessitado. Foi compelido a retirar-se, em grande abatimento, guardando a dura lição.
Assim também acontece no caminho comum.
Quem deseja o corpo iluminado e glorioso na espiritualidade, além da morte, cuide respeitosamente do corpo físico.
Quem aspira à companhia dos anjos, mostre boas maneiras, boas palavras e boas ações aos vizinhos.
Quem espera a colheita de alegrias no futuro, aproveite a hora presente, na sementeira do bem.
E quantos sonharem com o Céu tratem de fazer um caminho de elevação na Terra mesma.
O DESCUIDO IMPENSADO - ALVORADA CRISTÃ – FCX
No orfanato em que trabalhava, Irmã Clara era o ídolo de toda gente pelas virtudes que lhe adornavam o caráter. Era meiga, devotada, diligente. Daquela boca educada não saíam más palavras. Se alguém comentava faltas alheias, vinha solícita, aconselhando: — Tenhamos compaixão... Inclinava a conversa em favor da benevolência e da paz.
Insuflava em quantos a ouviam o bom ânimo e o amor ao dever. Além do mais, estimulava, acima de tudo, em todos os circunstantes a boa vontade de trabalhar e servir para o bem.
— Irmã Clara — dizia uma educadora —, tenho necessidade do vestido para o sábado próximo.
Ela, que era a costureira dedicada de todos, respondia, contente: — Trabalharemos até mais tarde. A peça ficará pronta.
— Irmã — intervinha uma das criadas —, e o avental? — Amanhã será entregue — dizia Clara, sorrindo.
Em todas as atividades, mostrava-se a desvelada criatura qual anjo de bondade e paciência.
Invariavelmente rodeada de novelos de linha, respirava entre a agulha e a máquina de costurar.
Nas horas da prece, demorava-se longamente contrita na oração.
Com a passagem do tempo, tornava-se cada vez mais respeitada. Seus pareceres eram procurados com interesse. Transformara-se em admirável autoridade da vida cristã. Em verdade, porém, fazia por merecer as considerações de que era cercada.
Amparava sem alarde. Auxiliava sem preocupação de recompensa. Sabia ser bondosa, sem humilhar a ninguém com demonstrações de superioridade.
Rolaram os anos, como sempre, e chegou o dia em que a morte a conduziu para a vida espiritual.
Na Terra, o corpo da inesquecível benfeitora foi rodeado de flores e bênçãos, homenagens e cânticos e sua alma subiu, gloriosamente, para o Céu.
Um anjo recebeu-a, carinhoso e alegre, à entrada.
Cumprimentou-a. Reportou-se aos bens que ela espalhara, todavia, sob impressão de assombro, Irmã Clara ouviu-o informar:
— Lastimo não possa demorar-se conosco senão por três semanas.
— Oh! porque? — interrogou a valorosa missionária.
— Será compelida a voltar, tomando novo corpo de carne no mundo — esclareceu o mensageiro.
— Como assim?
O anjo fitou-a, bondoso e respondeu: — A Irmã foi extremamente virtuosa; entretanto, na posição espiritual em que se encontrava não poderia cometer tão grande descuido. Desperdiçou uma enormidade de fios de linha, impensadamente. Os novelos que perdeu, por alhear-se à noção de aproveitamento, davam para costurar alguns milhares de vestidos para crianças desamparadas.
— Oh! Oh! Deus me perdoe! — exclamou a santa desencarnada — e como resgatarei a dívida?
O anjo abraçou-a, carinhoso, e reconfortou-a dizendo: — Não tema. Todos nós a ajudaremos, mas a querida irmã recomeçará sua
tarefa no mundo, plantando um algodoal.
A NECESSIDADE DO ESFORÇO – PAI NOSSO – FCX
Conta-se que, no principio da vida terrestre, o alimento das criaturas era encontrado como oferta da Divina Providência, em toda parte. Em troca de tanta bondade, o Pai Celeste rogava aos corações mais esforço no aperfeiçoamento da vida.
O povo, no entanto, observando que tudo lhe vinha de graça, começou a menosprezar o serviço. O mato inútil cresceu tanto, que invadia as casas, onde toda a gente se punha a comer e dormir. Ninguém desejava aprender a ler.
A ferrugem, o lixo e o mofo apareciam em todos os lugares. Animais, como os cães que colaboram na vigilância, e aves, como os urubus que auxiliam nas obras de limpeza, eram mais prestativos que os homens.
Vendo que ninguém queria corresponder à confiança divina, o Pai Celestial mandou retirar as facilidades existentes, determinando que os habitantes da Terra se esforçassem na conquista da própria manutenção.
Desde esse tempo, o ar e a água, o Sol e as flores, a claridade das estrelas e o luar continuaram gratuitos para o povo, mas o trabalho forçado da alimentação passou a vigorar como sendo uma lei para todos, porque, lutando para sustentar-se, o homem melhora a terra, limpa a habitação, aprende a ser sábio e garante o progresso.
Deus dá tudo.
O solo, a chuva, o calor, o vento, o adubo e a orientação constituem dádivas d’Ele à Terra que povoamos e que devemos aprimorar, mas o preparo do pão de cada dia, através do nosso próprio suor e da nossa própria diligência, é obrigação comum a todos nós, a fim de que não olvidemos o nosso divino dever de servir, incessantemente, em busca da Perfeição.
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