5 – A ideia clara e precisa que se faça da vida futura dá
uma fé inabalável no porvir, e essa fé tem consequências enormes sobre a
moralização dos homens, porque muda completamente o ponto de vista pelo qual
eles encaram a vida terrena. Para aquele que se coloca, pelo pensamento, na
vida espiritual, que é infinita, a vida corporal não é mais do que rápida
passagem, uma breve permanência num país ingrato. As vicissitudes e as
tribulações da vida são apenas incidentes que ele enfrenta com paciência,
porque sabe que são de curta duração e devem ser seguidos de uma situação mais
feliz. A morte nada tem de pavoroso, não é mais a porta do nada, mas a da
libertação, que abre para o exilado a morada da felicidade e da paz. Sabendo
que se encontra numa condição temporária e não definitiva, ele encara as
dificuldades da vida com mais indiferença, do que resulta uma calma de espírito
que lhe abranda as amarguras.
Pela simples dúvida sobre a vida futura, o homem
concentra todos os seus pensamentos na vida terrena. Incerto do porvir,
dedica-se inteiramente ao presente. Não entrevendo bens mais preciosos que os
da Terra, ele se porta como a criança que nada vê além dos seus brinquedos e
tudo faz para os obter. A perda do menor dos seus bens causa-lhe pungente
mágoa. Um desengano, uma esperança perdida, uma ambição insatisfeita, uma
injustiça de que for vítima, o orgulho ou a vaidade ferida, são tantos outros tormentos,
que fazem da sua vida uma angústia perpétua, pois que se entrega
voluntariamente a uma verdadeira tortura de todos os instantes.
Sob o ponto de vista da vida terrena, em cujo centro se
coloca, tudo se agiganta ao seu redor. O mal o atinge, como o bem que toca aos
outros, tudo adquire aos seus olhos enorme importância. É como o homem que,
dentro de uma cidade, vê tudo grande em seu redor: os cidadãos eminentes como
os monumentos; mas que, subindo a uma montanha, tudo lhe parece pequeno.
Assim acontece com aquele que encara a vida terrena do
ponto de vista da vida futura: a humanidade, como as estrelas no céu se perdem
na imensidade; ele então se apercebe de que grandes e pequenos se confundem
como as formigas num monte de terra; que operários e poderosos são da mesa
estatura; e ele lamenta essas criaturas efêmeras, que tanto se esfalfam para
conquistar uma posição que os eleva tão pouco e por tão pouco tempo. É assim
que importância atribuída aos bens terrenos está sempre na razão inversa da fé
que se tem na vida futura.
6 – Se todos pensarem assim, dir-se-á, ninguém mais se
ocupando das coisas da Terra, tudo perigará. Mas não, porque o homem procura
instintivamente o seu bem-estar, e mesmo tendo a certeza de que ficará por
pouco tempo em algum lugar, ainda quererá estar o melhor ou o menos mal
possível. Não há uma só pessoa que, sentindo um espinho sob a mão, não a retire
para não ser picada. Ora, a procura do bem-estar força o homem a melhorar todas
as coisas, impulsionado como ele é pelo instinto do progresso e da conservação,
que decorre das próprias leis da natureza. Ele trabalha, portanto, por
necessidade, por gosto e por dever, e com isso cumpre os desígnios da
Providência, que o colocou na Terra para esse fim. Só aquele que considera o
futuro pode dar ao presente uma importância relativa, consolando-se facilmente
de seus revezes, ao pensar no destino que os aguarda.
Deus não condena, portanto, os gozos terrenos, mas o
abuso desses gozos, em prejuízo dos interesses da alma. É contra esse abuso que
se previnem os que compreendem estas palavras de Jesus: O meu reino não é deste
mundo.
Aquele que se identifica com a vida futura é semelhante a
um homem rico, que perde uma pequena soma sem se perturbar; e aquele que
concentra os seus pensamentos na vida terrestre é como o pobre que ao perder
tudo o que possui, cai em desespero.
7 – O Espiritismo dá amplitude ao pensamento e abre-lhe
novo horizonte. Em vez dessa visão estreita e mesquinha, que o concentra na
vida presente, fazendo do instante que passa sobre a terra o único e frágil
esteio do futuro eterno, ele nos mostra que esta vida é um simples elo do
conjunto harmonioso e grandioso da obra do Criador, e revela a solidariedade
que liga todas as existências de um mesmo ser, todos os seres de um mesmo mundo
e os seres de todos os mundos. Oferece, assim, uma base e uma razão de ser à
fraternidade universal, enquanto a doutrina da criação da alma, no momento do
nascimento de cada corpo, faz que todos os seres sejam estranhos uns aos
outros. Essa solidariedade das partes de um mesmo todo explica o que é
inexplicável, quando apenas consideramos uma parte. Essa visão de conjuntos, os
homens do tempo de Cristo não podiam compreender, e por isso o seu conhecimento
foi reservado para mais tarde.
REVISTA ESPÍRITA - JUL/1862
O PONTO DE VISTA
Não há quem não tenha notado quanto as coisas mudam de
aspecto, conforme o ponto de vista sob o qual são
consideradas. Não é apenas o aspecto que se modifica,
mas, também, a própria importância da coisa. Coloquemo-nos no centro de um meio
qualquer: ainda que pequeno, nos parecerá imenso; do lado de fora, contudo,
será outra coisa. Quem vê algo do cimo de uma montanha o acha insignificante,
ao passo que lhe parecerá gigantesco quando visto de baixo.
Isto é um efeito de óptica, mas que se aplica igualmente às
coisas morais. Um dia inteiro de sofrimento nos parecerá eterno.
À medida que esse dia se nos afasta, admiramo-nos de haver
entrado em desespero por tão pouco. Os pesares da infância também têm uma
importância relativa, sendo tão amargos para a criança quanto para os que
alcançaram a maturidade. Por que, então, nos parecem tão fúteis? Por que não
mais os sentimos, ao passo que a criança os sente completamente e nada vê além
de seu pequeno círculo de atividades? Ela os vê do interior; nós, do exterior.
Suponhamos um ser colocado, em relação a nós, na posição em que estamos em
relação à criança: ele julgará as nossas preocupações do mesmo ponto de vista,
e as achará pueris.
Um carroceiro é insultado por outro; discutem e se batem.
Se um grão-senhor for injuriado por um carroceiro não se sentirá ofendido e não
se baterá com ele. Por quê? Porque se coloca fora de sua esfera; julga-se de
tal modo superior que a ofensa não o pode atingir. Entretanto, se descer ao
nível do adversário, colocar-se-á, pelo pensamento, no mesmo meio e se baterá.
O Espiritismo nos mostra uma aplicação deste princípio,
mas de importância diversa nas suas consequências. Faz-nos ver a vida terrena
como de fato é, colocando-nos no ponto de vista da vida futura; pelas provas materiais
que nos fornece, pela intuição clara, precisa, lógica que nos dá, pelos
exemplos postos aos nossos olhos, transporta-nos pelo pensamento: nós a vemos e
a compreendemos; não é mais essa noção vaga, incerta, problemática, que nos
ensinavam do futuro e que, involuntariamente, deixava dúvidas; para o espírita
é uma certeza adquirida, uma realidade.
Faz ainda mais: mostra-nos a vida da alma, o ser essencial,
porque é o ser pensante, remontando no passado a uma época desconhecida e se
estendendo indefinidamente pelo futuro, de tal sorte que a vida terrena, mesmo
de um século, não passa de um ponto nesse longo percurso. Se a vida inteira é
tão pouca coisa comparada com a vida da alma, que serão, pois, as dificuldades
da vida? Entretanto o homem, colocado no centro da vida, preocupa-se como se
ela fosse durar sempre; para ele tudo assume proporções colossais: a menor pedra
que o fere parece-lhe um rochedo; uma decepção o desespera; um revés o abate;
uma palavra o enfurece. Tendo a visão limitada ao presente, àquilo que toca imediatamente,
exagera a importância dos menores incidentes; um negócio que falha lhe tira o
apetite; uma questão de precedência é um negócio de Estado; uma injustiça o põe
fora de si. Triunfar é o fim de seus esforços, o objetivo de todas as suas
combinações; mas, para a maioria, o que é triunfar? Será, se não se tem do que
viver, criar por meios honestos uma existência tranqüila? Será a nobre
emulação de adquirir talento e desenvolver a
inteligência? Será o desejo de deixar, depois de si, um nome justamente honrado
e realizar trabalhos úteis para a Humanidade? Não. Triunfar é suplantar o
vizinho, eclipsá-lo, afastá-lo, derrubá-lo mesmo, para lhe tomar o lugar. E
para tão belo triunfo, que talvez a morte não deixe gozar vinte e quatro horas,
quantas preocupações, quantas tribulações! Quanto talento por vezes despendido
e que poderia ter sido mais bem empregado! Depois, quanta raiva, quanta insônia
se não se triunfar! Que febre de inveja causa o sucesso de um rival!
Então, culpam a má estrela, a sorte, a chance fatal, ao
passo que a má estrela as mais das vezes é a inabilidade e a incapacidade.
Dir-seia, na verdade, que o homem assume a tarefa de tornar tão penosos quanto
possíveis os poucos instantes que deve passar na Terra e dos quais não é o
senhor, pois jamais tem certeza do dia seguinte.
Como tudo isto muda de aspecto quando, pelo pensamento,
sai o homem do vale estreito da vida terrestre e se
eleva na radiosa, esplêndida e incomensurável vida de
além-túmulo!
Como então tem piedade dos tormentos que se criou voluntariamente!
Como então lhe parecem mesquinhas e pueris as ambições, a inveja, as
susceptibilidades, as vãs satisfações do orgulho! É como se, na idade madura,
considerasse as brincadeiras da infância; do cume de uma montanha contemplasse
os homens no vale. Partindo deste ponto de vista, tornar-se-á de vontade própria
o joguete de uma ilusão? Não. Estará, ao contrário, na realidade, no verdadeiro
e para ele a ilusão é ver as coisas do ponto de vista terreno. Efetivamente,
ninguém há na Terra que não liguem mais importância àquilo que, para si, deve
durar muito mais do que dura um dia; que não prefira uma felicidade durável a
uma felicidade efêmera. Inquietamo-nos pouco com uma contrariedade passageira;
o que interessa, acima de tudo, é a situação normal. Se, pois, elevarmos o
pensamento de modo a abranger a vida da alma chegaremos forçosamente a essa
consequência: ver a vida terrena como uma estação passageira; a vida espiritual
como a vida real, porque é infinita; que é ilusão tomar a parte pelo todo, isto
é, a vidado corpo, apenas transitória, pela vida definitiva. O homem que só considera
as coisas do ponto de vista terreno é como aquele que, estando dentro de uma
casa, não pode julgar a forma nem a importância do edifício: julga sob falsas
aparências porque não vê tudo, ao passo que aquele que vê de fora, porque julga
o conjunto, julga mais sensatamente.
Dir-se-á que para ver as coisas desta maneira é preciso uma
inteligência invulgar, um espírito filosófico que não se poderia encontrar nas
massas; donde forçoso seria concluir que a Humanidade, com poucas exceções,
arrastar-se-á sempre no terra-a-terra. É um erro. Para se identificar com a
vida futura não é preciso uma inteligência excepcional, nem grandes esforços da
imaginação, porquanto cada um traz consigo a intuição e o desejo; a maneira,
porém, como geralmente a apresentam é muito pouco sedutora, porque oferece como alternativa as
chamas eternas ou a contemplação perpétua, o que leva muitos a preferir o nada.
Daí a incredulidade absoluta de uns e a dúvida no maior número. O que faltou
até agora foi a prova irrecusável da vida futura, prova que vem dar o
Espiritismo não mais por uma vaga teoria, mas por provas patentes. Mais ainda:
ele a mostra tal qual a razão mais severa a pode aceitar, porque tudo explica,
tudo justifica e resolve todas as dificuldades. Porque é claro e lógico, está ao
alcance de todos; por isso o Espiritismo reconduz à crença tanta gente que dela
se havia afastado. A experiência demonstra todos os dias que simples operários
e camponeses sem instrução compreendem sem esforço esse raciocínio; colocam-se
tanto mais à vontade nesse
novo ponto de vista, quanto mais nele acham, como todas
as pessoas infelizes, uma imensa consolação, e a única compensação possível em
sua penosa e laboriosa existência.
Se essa maneira de encarar as coisas terrestres se generalizasse,
não teria como consequência senão destruir a
ambição, estimulante dos grandes empreendimentos, dos
trabalhos mais úteis, mesmo das obras de gênio? Se a Humanidade inteira apenas
pensasse na vida futura tudo não periclitaria neste mundo?
Que fazem os monges nos conventos, a não ser ocupar-se exclusivamente
do Céu? Ora, em que se transformaria a Terra se todos se fizessem monges?
Um tal estado de coisas seria desastroso e os inconvenientes
maiores do que se supõe, porque, com isso, os
homens perderiam na Terra e nada ganhariam no Céu; mas o resultado
do princípio que expomos é completamente outro para quem quer que não o
compreenda pela metade, conforme vamos explicar.
A vida corporal é necessária ao Espírito, ou à alma, o que
é a mesma coisa, para que possa realizar neste mundo material as funções que
lhe são designadas pela Providência: é uma das engrenagens da harmonia
universal. A atividade que, mau grado seu, é forçado a desenvolver nas funções
que exerce, crendo agir por si mesmo, auxilia o desenvolvimento de sua
inteligência e lhe facilita o adiantamento. Sendo a felicidade do Espírito na
vida espiritual proporcional ao seu progresso e ao bem que pôde fazer como
homem, resulta que, quanto maior importância adquire a vida espiritual aos
olhos do homem, mais ele sente a necessidade de fazer o que é necessário para
se garantir o melhor lugar possível. A experiência dos que viveram vem provar
que uma vida terrena inútil ou mal-empregada não tem proveito para o futuro, e
que aqueles que aqui só buscarem satisfações materiais as pagam muito caro,
seja por sofrimentos no mundo dos Espíritos, seja pela
obrigação de recomeçar a tarefa em condições mais penosas
que as do passado; tal é o caso dos que sofrem na Terra. Assim, considerando as
coisas deste mundo do ponto de vista extracorpóreo, o homem, longe de ser
estimulado à despreocupação e à ociosidade, compreende melhor a necessidade do
trabalho.
Partindo do ponto de vista terreno, essa necessidade é
uma injustiça aos seus olhos, quando se compara aos que podem viver sem nada
fazer: tem ciúme deles; inveja-os. Partindo do ponto de
vista espiritual, essa necessidade tem a sua razão de
ser, sua utilidade, e ele a aceita sem murmurar, pois compreende que sem o trabalho
ficará indefinidamente na inferioridade e privado da felicidade suprema a que
aspira e que não poderá alcançar, caso não se desenvolva intelectual e
moralmente. A esse respeito parece que muitos monges compreendem mal o objetivo
da vida terrena e, menos ainda, as condições da vida futura. Pelo
enclausuramento, eles se privam dos meios de se tornarem úteis aos semelhantes
e muitos dos que hoje se acham no mundo dos Espíritos confessaram-nos que se
enganaram redondamente e que sofrem as consequências de seu erro.
Para o homem, tal ponto de vista tem outra imensa e imediata
consequência: é a de tornar-lhe mais suportáveis as tribulações da vida. Que
procure o bem-estar e se esforce por tornar o seu tempo na Terra o mais
agradável possível: isto é muito natural e ninguém lho proíbe. Mas, sabendo que
está aqui apenas momentaneamente, que um futuro melhor o aguarda, pouco se atormenta
com as decepções que experimenta e, vendo as coisas do alto, aceita os reveses
com menor amargura; fica indiferente aos aborrecimentos de que é vítima, por
parte dos invejosos e dos ciumentos; reduz a seu justo valor os objetos de sua
ambição e se coloca acima das pequenas susceptibilidades do amor-próprio.
Liberto das preocupações criadas pelo homem que não sai
de sua esfera limitada, pela perspectiva grandiosa que se desdobra à sua frente,
é mais livre para se entregar a um trabalho proveitoso, para si próprio e para
os outros.
Para ele, as humilhações, as diatribes e as maldades de seus
inimigos não passam de nuvens imperceptíveis num vasto horizonte; não se
inquieta por elas mais do que pelas moscas que zumbem aos ouvidos, porque sabe
que logo estará livre. Assim, todas as pequenas misérias que lhe suscitam
deslizam por ele como a água sobre o mármore. Colocando-se do ponto de vista
terreno, irritar-se-ia e talvez se vingasse. Do ponto de vista extraterreno,
ele as despreza como os salpicos de lama de um caminhante desatento.
São espinhos lançados no caminho e pelos quais passa, sem
sequer se dar ao trabalho de os afastar, a fim de não moderar a marcha para um
objetivo mais sério que se propõe atingir. Longe de malquerer os seus inimigos,
é
lhes grato por fornecerem oportunidade para exercitar a
paciência e a moderação em benefício de seu progresso futuro, ao passo que
perderia seus frutos se descesse a represálias. Ele os lamenta por se
entregarem a tantos trabalhos inúteis e diz que são aqueles próprios que caminham
sobre espinhos, com as preocupações que tomam para fazer o mal. Tal é o
resultado da diferença do ponto de vista sob o qual se encara a vida: um nos dá
aborrecimento e ansiedade; o outro, calma e serenidade. Espíritas que
experimentais decepções,
ainda que em pensamento, deixai a Terra por alguns
instantes; subi às regiões do infinito e olhai-as do alto: vereis o que elas
serão.
Por vezes dizem: Vós, que sois infelizes, olhai para baixo
e não para cima e vereis ainda mais infelizes. Isto é verdade.
Mas muitos dizem que o mal alheio não nos cura. Nem
sempre o remédio está na comparação e para alguns não é difícil olhar para cima
sem dizerem: “Por que têm estes o que não tenho?” No entanto, se se colocassem
no ponto de vista de que falamos, a que em pouco seremos forçados, ficariam
naturalmente acima daqueles aos quais poderíamos invejar, porque, vistos dali,
os maiores pareceriam muito pequenos.
Lembramo-nos de ter assistido no Odéon, há cerca de quarenta
anos, a uma peça em um ato, intitulada Os Efêmeros, já não sabemos de que
autor. Embora ainda jovem, ela nos causou viva impressão. A cena se passava no
país dos Efêmeros, cujos habitantes vivem apenas vinte e quatro horas. No
espaço de um ato a gente os vê passar do berço à adolescência, à juventude, à maturidade,
à velhice, à decrepitude e à morte. Nesse intervalo realizam todos os atos da
vida: batismo, casamento, negócios civis e governamentais, etc.; mas como o
tempo é curto e as horas contadas, é preciso pressa; tudo se faz com prodigiosa
rapidez, o que não os impede de se ocuparem com intrigas e de se darem ao trabalho
para satisfazer as ambições e suplantar os outros. Como se vê, a peça encerrava
um pensamento profundamente filosófico; e involuntariamente o espectador, que
num instante via desenrolarem-se todas as fases de uma existência bem cheia, punha-se
a dizer: Como essa gente é tola! Fazer tanto mal, quando dispõe de tão pouco
tempo para viver! Que é que lhes resta dessa confusão de uma vida de algumas
horas? Não seria melhor viver em paz?
Eis, por alto, um quadro perfeito da vida humana.
Entretanto, a peça não sobreviveu mais que seus heróis:
não a compreenderam. Se o autor ainda vivesse, o que ignoramos, provavelmente
hoje fosse espírita.
A. K. - Revista Espírita Jornal de Estudos Psicológicos ANO
V JULHO DE 1862 No 7
TEXTOS DE APOIO
REALEZA
A realeza como dignidade na Terra não é privilégio dos
reis ou dos condutores de nações.
Em toda parte, há uma realeza no trabalho que nos exorta
o caráter, quando nos afeiçoamos às obrigações que o Céu nos confia.
Decerto, semelhante nobilitação não atinge os brutos que
ainda se movimentam na animalidade primitivista.
Entretanto, à medida que se destaca o espírito na esfera
da inteligência bem conduzida, vê-lo-emos receber do Alto o cetro da
respeitabilidade no setor de serviço em que atua ou na profissão que domina.
O chefe de família aguarda a realeza da governança
doméstica, tanto quanto o coração maternal se coroa com a realeza do amor na
criação dos filhinhos.
O sacerdote de qualquer confissão religiosa edificante
ostenta nas mãos o símbolo da fé viva e da autoridade espiritual, tanto quanto
o soldado enobrecido detém o bastão da ordem.
O magistrado é portador da realeza da justiça, tanto
quanto o médico conserva a soberania da arte de curar.
Há realeza de todas as procedências...
Realeza da mulher que se faz mãe de filhos alheios e
realeza do homem que se transforma em irmão do próximo na plantação da
fraternidade pura.
A pena do escritor é sinal de grandeza no mundo das
idéias para o homem que se consagra à extensão do bem, como a vassoura é
característica de nobreza, no asseio público, para o companheiro que se devota
à higiene, em benefício geral.
Não nos esqueçamos, porém, de que a realeza não nasce do
título que exibimos nas afirmativas convencionais, mas sim da maneira pela qual
nos utilizamos as possibilidades de servir que repousam em nossa mente, em
nosso coração, em nossas palavras e em nossos braços.
Onde estiveres; honra a confiança do Altíssimo que te
confiou o refúgio do lar, a beleza da escola, o calor da oficina ou o talento
da profissão a que te dedicas.
Angariar a gratidão dos que te cercam, pelo dever
irrepreensivelmente cumprido, é guardar na existência terrestre a Magnitude
Celestial.
Engrandece-te, assim, onde te encontras...
E, ainda mesmo que não sejas compreendido, de imediato,
por todos aqueles à cuja felicidade te devotas, retém sobre a fronte a auréola
da paz, no aconchego da consciência tranqüila, porque a justiça vigilante te
acompanha do Alto, verificando-te o esforço e premiando-te o mérito, qual
aconteceu, um dia, ao Rei da Luz e do Amor em Seu Trono de sangue e lágrimas,
coroado de espinhos.
Da Obra A Verdade Responde – Espíritos: Emmanuel –
Médium: Francisco Cândido Xavier
CONTRASTES
Existem contrastes exprimindo desigualdades.
Muitas criaturas encarnadas querem fugir da vida humana; contudo,
as filas da reencarnação congregam milhares de candidatos ansiosos pelo
renascimento...
Legiões de trabalhadores se esquivam do trabalho; no
entanto, sempre há multidões de desempregados...
Numerosos alunos negligenciam os estudos; todavia,
inúmeros jovens não têm qualquer oportunidade de acesso às casas de instrução,
embora o desejem ardentemente...
Existem contrastes tecendo contradições.
Tudo prova a presença do Criador no Universo; todavia,
mentes recheadas de conhecimento não creem na Realidade Divina...
Todos podemos dar algo em favor do próximo; no entanto,
muitos possuem em abundância e nada oferecem a ninguém...
Temos a apologia da paz onipresente; contudo, extensa
maioria forja a guerra dentro de si mesmo...
Existem contrastes gravando ensinamentos.
Há direitos idênticos e deveres semelhantes; contudo, há
vontades diferentes, experiências diversas e méritos desiguais...
A caridade mais oculta aos homens é, no entanto, a mais
conhecida por Deus...
A vida humana constitui cópia imperfeita da Vida
Espiritual; todavia, a perfeição das Grandes Almas Desencarnadas da Terra foi
adquirida no solo rude do Planeta...
Livro: O Espírito da Verdade- Psicografia Francisco C.
Xavier e Waldo Vieira- André Luiz
ILUSÕES
Como se demoram no invólucro carnal, em que a ilusão dos
sentidos predomina, têm dificuldade de agir com inteireza e crer integralmente,
em regime de tranquilidade.
Graças às equívocas atitudes que no consenso social lhes
permitem triunfos enganosos, transferem tal comportamento, quase sempre para a
fé que esposam, acreditando-se resguardados nos sentimentos íntimos.
Porque produziram com acerto nas tarefas encetadas onde
se encontram assumindo posições controversas, ora de leviandade, ora de siso,
supõem poder prosseguir com o mesmo procedimento quando se adentram nas tarefas
espíritas, que os fascinam de pronto. E porque se acostumaram à informação de
que os Espíritos são invisíveis ou pertencem ao Imaginoso reino do
sobrenatural, tratam-nos como se assim fosse, olvidados de que conquanto
invisíveis para alguns homens, estão sempre presentes ao lado de todos, ou
apesar de tidos por gênios e encantados pertencem à Criação do Nosso Pai, em
incessante marcha evolutiva.
Constituindo o Mundo Espiritual, já estiveram na Terra;
são as almas dos homens ora vivendo a existência verdadeira.
Veem, ouvem, sentem, compreendem e somente têm as
diversas faculdades obnubiladas ou entorpecidas quando narcotizados pelas
reminiscências do corpo somático, demorando-se em perturbação.
Estuda com sinceridade as lições espíritas para
libertar-te da ignorância espiritual. Elas te facultarão largo tirocínio e
invejável campo de liberdade interior, promovendo meios de ação superior que
produz paz e harmonia pessoal. Dir-te-ão o que fazer, como realizar e porque
produzir com eficiência.
Cada Espírito é o que aprendeu, o que realizou, quanto
conquistou. Não poderá oferecer recursos que não possui nem liberar-te das
dores e provas que a si mesmo não se pode furtar.
Se algum te inspirar ociosidade ou apoiar-te em ilício,
não te equivoques: é um ser enganado que prossegue enganando. Para poupar-te o
desaire mediante a constatação dolorosa neste capítulo, não transfiras para os
Espíritos as tuas tarefas, não os sobrecarregues com as tuas lides. Nem exijas,
— pois é sandice, — nem te subordines, — pois representa fascinação. Mantém-te
em respeitável conduta, em ação enobrecida e êles, os Espíritos bons e
simpáticos ao teu esforço, virão em teu auxílio, envolvendo-te em inspiração segura
e amparo eficaz.
Rompe com a ilusão e não acredites que te sejam
subalternos aos caprichos os Desencarnados, exceto os que são mais infelizes e
ignorantes do que tu mesmo.
Evolve e conquista para ser livre.
Jesus, antes de assomar ao lado das aflições de qualquer
porte, junto a encarnados ou desencarnados, cultivou a prece e a meditação. E
ao fazê-lo sempre se revestiu de respeito e piedade. No Tabor ou em Gadara a
Sua nobreza se destacava na paisagem emocional dos diálogos inesquecíveis que
foram mantidos.
Acende, também, a luz legítima da verdade no coração e,
em contato com os Espíritos ou os homens, sê leal sem afetação, franco sem
rudeza e nobre sem veleidades. Os Desencarnados te conhecem e os homens te
conhecerão hoje ou mais tarde, não valendo, pois, o esfôrço de iludir-se ou
iludi-los.
"Entrai pela porta estreita (larga é a porta e
espaçosa a estrada que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela.)
(Mateus: capítulo 7º, versículo 13.)
"Pelo simples fato de duvidar da vida futura, o
homem dirige todos os seus pensamentos para a vida terrestre. Sem nenhuma
certeza quanto ao porvir, dá tudo ao presente. Nenhum bem divisando mais
precioso do que os da Terra, torna-se qual a criança que nada mais vê além de
seus brinquedos". (Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo 2º — Item 5,
parágrafo 2.)
FRANCO, Divaldo Pereira. Florações Evangélicas. Pelo
Espírito Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 5.
INVESTIMENTOS
Na desenfreada correria da ambição, a que se vê impelido,
o homem moderno investe.
Investimento na bolsa de valores, perseguindo moedas,
acumulando títulos contábeis.
Investimento nas loterias, tentando as raras explosões da
"sorte".
Investimento em negócios mirabolantes, buscando
resultados de alta compensação.
Investimento nos jogos cambiais, ante as perspectivas da
oscilação frequente da moeda-ouro, na balança internacional, para os
cometimentos da estroinice.
Investimento em empresas audaciosas, aspirando às
promoções no campo dos altos negócios do utilitarismo.
Investimento no mercado de capitais, para os grandes
jogos financeiros, de modo a alcançar as altas metas do poder terreno.
Investimento da saúde nas competições desportivas,
disputando primazia.
Investimento da paz, nos complexos mecanismos da usura
como da desonestidade, por cujos processos supõe e quer vencer...
E não poucos são vencidos em tais investimentos,
padecendo neuroses angustiantes, aflições inomináveis, desgovernos odientos.
A máquina publicitária, muito bem trabalhada para estimular
a ganância dos incautos que sintonizam com os refrões da moda negocista,
estimula o comércio hediondo do sexo desgovernado, conspirando afrontosamente
contra as fontes genésicas, abastardando-as, ante a conivência e aceitação mais
ou menos generalizada.
A onda alucinógena, invadindo lares e educandários, reduz
as aspirações da inteligência e as expressões da emotividade, conduzindo todos
às fugas espetaculares da realidade objetiva, facultando inevitáveis conúbios
obsessivos com desencarnados do mesmo teor, em intercâmbio nefário.
A pregação da filosofia cínica encarrega-se de
descoroçoar os ideais da beleza, fomentando os campeonatos da insensatez como
da desordem, reduzindo a cultura e a moral à condição de ultrapassadas pelo
impositivo da nova ordem em que os valores apresentados são destituídos de
valor real.
Indubitavelmente o progresso é imperiosa necessidade de
crescimento.
Progressos, no entanto, na vertical das conquistas
superiores e não na horizontalidade das paixões animalizantes e dos agentes
dissociativos da comunidade, da família, do indivíduo.
Investe, porém, tu, no espírito imortal.
Sem que abandones o campo de trabalho onde foste
convidado a operar, lembra-te dos tesouros inesgotáveis da vida e aplica algum
capital de horas, de valores monetários, morais, intelectuais e da saúde nos
sublimes comércios com a Espiritualidade Superior.
Com certeza, no jogo dos investimentos chegará a hora da
prestação de contas, e então compreenderás que os investimentos imediatos
ficarão retidos nas aduanas da Terra, enquanto os da vida abundante e somente
estes, seguirão contigo por todo o sempre.
"Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem os
dez talentos". (Mateus: capítulo 25º, versículo 28.)
"Aquele que se identifica com a vida futura
assemelha-se ao rico que perde sem emoção uma pequena soma. Aquêle cujos
pensamentos se Concentram na vida terrestre assemelha-se ao pobre que perde
tudo o que possui e se desespera". (Evangelho Segundo O Espiritismo.
Capítulo 2º, — Item 6, parágrafo 3)
FRANCO, Divaldo Pereira. Florações Evangélicas. Pelo
Espírito Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 6.
JESUS E O MUNDO
"Aquele que se identifica com a vida futura
assemelha-se ao rico que perde sem emoção uma pequena soma. Aquele cujos
pensamentos se concentram na vida terrestre assemelha-se ao pobre que perde
tudo o que possui e se desespera." O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
Capítulo 2º - Ítem 6.
Muitos cristãos-espíritas afervorados às questões imediatas,
às quais sentem dificuldades em renunciar, procuram justificar suas atitudes
fundamentando-as em bases falsas.
Informam-se vinculados ao espírito do Cristo, todavia...
Gozam, porque o prazer faz parte da vida.
Usurpam, tendo em vista ser a Terra um ninho próprio aos
que se nutrem à custa dos menos hábeis.
Exploram, para evitar serem explorados.
Mentem, tendo em vista os fatores circunstanciais.
Enganam, a fim de sobreviverem.
Lutam com todas as armas, já que outros são adversários
insidiosos.
Não veem mal algum "nisto" ou
"naquilo", e definem o espírita como alguém que não tem necessidade
de abandonar ou fugir do mundo...
Ajustam a expressão "racional" ao vocábulo
"astúcia" e ridicularizam o verbete "místico" como se ele
identificasse indignidade.
Pensam no Céu e querem a Terra a qualquer custo.
Tentam conciliação entre Deus e César ao bel-prazer,
tirando o melhor proveito para o corpo e a emoção que se desvaira, longe do
equilíbrio da mente e da renovação do espírito.
"Viver no mundo sem ser do mundo" - eis a
questão.
Aplicar o instrumento do sexo na construção da família,
facultando a santificante tarefa da reencarnação às entidades da própria grei
espiritual, a quem se vinculou no passado por créditos ou débitos seguros. O
sexo é abençoada porta para a felicidade. No entanto, evitar viver para o sexo,
considerando os abismos de crime e sombra que a ele se identificam, quando
desatina.
Utilizar o dinheiro na execução dos deveres normais,
consolidando a alegria na esfera das obrigações próximas e dilatando-o na
prática do bem geral, em forma de agasalho, teto, alimento, remédio e segurança
para outros espíritos colhidos pelas rudes provações. O dinheiro é veículo de
bênçãos. Todavia, poupar-se a viver para o dinheiro, que se faz verdugo de quem
a ele se ata, favorecendo imprevisíveis consequências.
Motivar o ideal com os estímulos da vida hodierna para
que o trabalho se enriqueça de frutos sazonados, edificando para a alegria
geral do domicílio da esperança e o abrigo da paz.
Não esperar, no entanto, as motivações fortes da vaidade
e do orgulho para criar e agir. A motivação que estimula, faculta o exercício
do bem, mas o estímulo que não prescinde de motivos fortes se converte em
degeneração por processo danoso.
Cultiva a beleza como expressão de sensibilidade em
expansão, favorecendo o asseio e a higiene, o bom gosto e a distinção.
Entrementes viver para cuidar de adornos deste ou daquele jaez é desrespeito à
vida em flagrante atentado às Leis da harmonia universal.
Não são as coisas em si boas ou más.
Não é o mundo no sentido etimológico.
É o que fazemos com as coisas do mundo e o como vivemos
no mundo que importa considerar.
O sexo não é nobre nem degradante.
O dinheiro não é amigo nem adversário.
A motivação não é necessária nem supérflua.
A beleza não é glória nem castigo.
O uso que lhes damos se encarrega de transformá-los em
escada de acesso ou rampa de degredo.
A cocaína de tão positivos resultados terapêuticos, por
degradação dos costumes é responsável por crimes hediondos.
O átomo aplicado na paz, na movimentação do progresso da
Humanidade, é arma ameaçadora em mãos despóticas, que já vitimou mais de uma
centena de milhar de vidas.
A palavra que ergue impérios, tem levado civilizações ao
caos...
Viver no mundo entre as contingências do mundo mas pensar
nas coisas do Alto" e agir consoante os impositivos da Vida Imperecível.
Aos que pretendem considerar impossível a vida sem os
atos esconsos, orgíacos e loucos, tentando conciliar Jesus e o mundo numa
aliança utopista, recordamos os que edificaram o Cristianismo nos corações
depois do Senhor, com dignidade, e focalizamos o próprio Amigo Celeste que,
possuindo o mundo, por tê-lo criado, viveu, entre nós, no mundo e junto às suas
tentações, para legar-nos, intemerato, a certeza de que para chegar à paz real
é necessário, no mundo, tomar a cruz, depô-la sobre os ombros e segui-lo.
FRANCO, Divaldo Pereira. Espírito e Vida. Pelo Espírito
Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 24.
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