11 – A beneficência, meus amigos, vos dará neste mundo os
gozos mais puros e mais doces, as alegrias do coração, que não são perturbadas
nem pelos remorsos, nem pela indiferença. Oh!, pudésseis compreender tudo o que
encerra de grande e de agradável a generosidade das belas almas, esse
sentimento que faz que se olhe aos outros com o mesmo olhar voltado para si
mesmo, e que se desvista com alegria para vesti a um irmão! Pudésseis, meus
amigos, ter apenas a doce preocupação de fazer aos outros felizes! Quais as
festas mundanas que se pode comparar a essas festas jubilosas, quando,
representantes da Divindade, levais a alegria a essas pobres famílias, que da
vida só conhecem as vicissitudes e as amarguras; quando vedes esses rostos
macilentos brilharem subitamente de esperança, desprovidos de pão, esses
infelizes e seus filhos, ignorando que viver é sofrer, gritavam, choravam e
repetiam estas palavras, que, como finos punhais, penetravam o coração materno:
“Tenho fome!” Oh!, compreendei quanto são deliciosas as impressões daquele que
vê renascer a alegria onde, momentos antes, só havia desespero! Compreendei
quais são as vossas obrigações para com os vossos irmãos! Ide, ide ao encontro
do infortúnio, ao socorro das misérias ocultas, sobretudo, que são as mais
dolorosas. Ide, meus bem-amados, e lembrai-vos destas palavras do Salvador:
“Quando vestirdes a um destes pequeninos, pensai que é a mim que o fazeis!”
Caridade! Palavra sublime, que resume todas as virtudes,
és tu que deves conduzir os povos à felicidade. Ao praticar-te, eles estarão
semeando infinitas alegrias para o próprio futuro, e durante o seu exílio na
Terra, serás para eles a consolação, o antegozo das alegrias que mais tarde
desfrutarão, quando todos reunidos se abraçarem, no seio do Deus de amor. Foste
tu, virtude divina, que me proporcionaste os únicos momentos de felicidade que
gozei na Terra. Possam os meus irmãos encarnados crer na voz do amigo que lhes
fala e lhes diz: É na caridade que deveis procurar a paz do coração, o
contentamento da alma, o remédio para as aflições da vida. Oh!, quando
estiverdes a ponto de acusar a Deus, lançai um olhar para baixo, e vereis
quantas misérias a aliviar, quantas pobres crianças sem família; quantos velhos
sem uma só mão amiga para os socorrer e fechar-lhes os olhos na hora da morte!
Quanto bem a fazer! Oh!, não reclameis, antes agradecei a Deus, e prodigalizai
a mancheias a vossa simpatia, o vosso amor, o vosso dinheiro, a todos os que,
deserdados dos bens deste mundo, definham no sofrimento e na solidão. Colhereis
neste mundo alegrias bem suaves, e mais tarde… somente Deus o sabe!
SÃO VICENTE DE PAULO - Paris, 1858
12 – Sede bons e caridosos: eis a chave dos céus, que
tendes nas mãos. Toda a felicidade eterna se encerra nesta máxima: “Amai-vos
uns aos outros”. A alma não pode elevar-se às regiões espirituais senão pelo
devotamento ao próximo; não encontra felicidade e consolação senão nos impulsos
da caridade. Sede bons, amparai os vossos irmãos, extirpai a horrível chaga do
egoísmo. Cumprido esse dever, o caminho da felicidade eterna deve abrir-se para
vós. Aliás, quem dentre vós não sentiu o coração pulsar,crescer sua alegria
interior, ao relato de um belo sacrifício, de uma obra de pura caridade? Se
buscásseis apenas o deleite de uma boa ação, estaríeis sempre no caminho do
progresso espiritual. Exemplos não vos faltam; o que falta é a boa vontade,
sempre rara. Vede a multidão de homens de bem, de que a vossa história evoca
piedosas lembranças.
O Cristo não vos disse tudo o que se refere a essas
virtudes de caridade e amor? Por que deixastes de lado os seus divinos
ensinamentos? Por que fechar os ouvidos às suas divinas palavras, o coração às
suas doces máximas? Eu desejaria que se votasse mais interesse, mais fé às
leituras evangélicas; mas abandona-se esse livro, considerado como texto
quimérico, mensagem cifrada; deixa-se no esquecimento esse código admirável.
Vossos males provêm do abandono voluntário desse resumo das leis divinas. Lede,
pois, essas páginas ardentes sobre a abnegação de Jesus, e meditai-as.
Homens fortes, armai-vos; homens fracos, fazei da vossa
doçura, da vossa fé, as vossas armas; tende mais persuasão e mais constância na
propagação de vossa doutrina. É apenas um encorajamento que vimos dar-vos, e é
para estimular o vosso zelo e as vossas virtudes, que Deus permite a nossa
manifestação. Mas, se quisésseis, bastaria a ajuda de Deus e da vossa própria
vontade, pois as manifestações espíritas se produzem somente para os que têm os
olhos fechados e os corações indóceis.
A caridade é a virtude fundamental que deve sustentar o
edifício das virtudes terrenas; sem ela, as outras não existiriam. Sem a
caridade, nada de esperar uma sorte melhor, nenhum interesse moral que nos
guie; sem a caridade, nada de fé, pois a fé não é mais do que um raio de luz
pura, que faz brilhar uma alma caridosa.
A caridade é a âncora eterna de salvação em todos os
mundos: é a mais pura emanação do Criador; é a sua própria virtude, que Ele
transmite à criatura. Como pretender desconhecer esta suprema bondade? Qual
seria o coração suficientemente perverso para, assim pensando, sufocar em si e
depois expulsar este sentimento inteiramente divino? Qual seria o filho
bastante mau para revoltar-se com essa doce carícia: a caridade?
Não ousarei falar daquilo que fiz, porque os Espíritos
também têm o pudor de suas obras; mas considero a que iniciei como uma das que
mais devem contribuir para o alívio de vossos semelhantes. Vejo freqüentemente
os Espíritos pedirem por missão continuar a minha tarefa; eu os vejo, minhas
doces e queridas irmãs, no seu piedoso e divino ministério; eu os vejo praticar
a virtude que vos recomendo, com toda a alegria que essa existência de
abnegação e sacrifícios proporciona. É uma grande felicidade, para mim, ver
quanto se enobrece o seu caráter, quanto a sua missão é amada e docemente
protegida. Homens de bem, de boa e forte vontade, uni-vos para continuar
amplamente a obra de propagação da caridade. Encontrareis a recompensa dessa
virtude no seu próprio exercício. Não há alegria espiritual que ela não
proporcione desde a vida presente. Permanecei unidos. Amai-vos uns aos outros,
segundo os preceitos do Cristo. Assim seja!
CÁRITAS - Martirizado em Roma, Lyon, 1861
13 – Chamo-me Caridade, sou o caminho principal que
conduz a Deus; segui-me, porque eu sou a meta a que vós todos deveis visar.
Fiz nesta manhã o meu passeio habitual, e com o coração
magoado venho dizer-vos: Oh, meus
amigos, quantas misérias, quantas lágrimas, e quanto tendes de fazer para
secá-las todas! Inutilmente tentei consolar as pobres mães, dizendo-lhes ao ouvido:
Coragem! Há corações bondosos que velam por vós, que não vos abandonarão;
paciência! Deus existe, e vós sois as suas amadas, as suas eleitas. Elas
pareciam ouvir-me e voltavam para mim os seus grandes olhos assustados. Eu lia
em seus pobres semblantes que o corpo, esse tirano do Espírito, tinha fome, e
que, se as minhas palavras lhes tranqüilizam um pouco o coração, não lhes
saciavam o estômago. Então eu repetia: Coragem! Coragem! E uma pobre mãe, muito
jovem, que amamentava uma criancinha, tomou-a nos braços e ergueu-a no espaço
vazio, como para me rogar que protegesse aquele pobre e pequeno ser, que só
encontrava num seio estéril alimento insuficiente.
Mais adiante, meus amigos, vi pobres velhos sem trabalho
e logo sem abrigo, atormentados por todos os sofrimentos da necessidade, e
envergonhados de sua miséria, não se atrevendo, eles que jamais mendigaram, a
implorar a piedade dos passantes. Coração empolgado de compaixão, eu, que nada
tenho, me fiz mendiga para eles, e vou para toda parte estimular a
beneficência, inspirar bons pensamentos aos corações generosos e compassivos.
Eis por que venho até vós, meus amigos, e vos digo: Lá em baixo há infelizes
cuja cesta está sem pão, a lareira sem fogo, o leito sem cobertas. Não vos digo
o que deveis fazer, deixo a iniciativa aos vossos bons corações; pois se eu vos
ditasse a linha de conduta, não teríeis o mérito de vossas boas ações. Eu vos
digo somente: Sou a caridade e vos estendo as mãos pelos vossos irmãos
sofredores.
Mas, se peço, também dou, e muito; eu vos convido para um
grande festim e ofereço a árvore em que vós todos podereis saciar-vos. Vede
como é bela, como está carregada de flores e de frutos! Ide, ide, colhei, tomai
todos os frutos dessa bela árvore que se chama beneficência. Em lugar dos ramos
que lhe arrancardes, porei todas as boas ações que fizerdes e levarei a árvore
a Deus, para que Ele a carregue de novo, porque a beneficência é inesgotável.
Segui-me, pois, meus amigos, a fim de que eu vos possa contar entre os que se
alistam sob a minha bandeira. Sede intrépidos: eu vos conduzirei pela via da
salvação, porque eu sou a Caridade!
CÁRITAS - Lyon, 1861
14 – Há muitas maneiras de fazer a caridade, que tantos
de vós confundem com a esmola. Não obstante, há grande diferença entre elas. A
esmola, meus amigos, algumas vezes é útil, porque alivia os pobres. Mas é quase
sempre humilhante, tanto para o que a dá, quanto para o que a recebe. A
caridade, pelo contrário, liga o benfeitor e o beneficiário, e além disso se
disfarça de tantas maneiras! A caridade pode ser praticada mesmo entre colegas
e amigos, sendo indulgentes uns para com os outros, perdoando-se mutuamente
suas fraquezas, cuidando de não ferir o amor próprio de ninguém. Para vós,
espíritas, na vossa maneira de agir em relação aos que não pensam convosco,
induzindo os menos esclarecidos a crer, sem os chorar, sem afrontar as suas
convicções, mas levando-os amigavelmente às reuniões, onde eles poderão
ouvir-nos, e onde saberemos encontrar a brecha que nos permitirá penetrar nos
seus corações. Eis uma das formas da caridade.
Escutai agora o que é a caridade para com os pobres,
esses deserdados do mundo, mas recompensados por Deus, quando sabem aceitar as
suas misérias sem murmurações, o que depende de vós. Vou me fazer compreender
por um exemplo.
Vejo muitas vezes na semana uma reunião de damas de todas
as idades. Para nós, como sabeis, são todas irmãs. Trabalham rápidas, bem
rápidas. Os dedos são ágeis. Vede também como os rostos estão radiantes e como
os seus corações batem em uníssono! Mas qual o seu objetivo? É que elas vêem
aproximar-se o inverno, que será rude para as famílias pobres. As formigas não
puderam acumular durante o verão os grãos necessários à provisão, e a maior
parte de seus utensílios está empenhada. As pobres mães se inquietam e choram,
pensando nos filhinhos que, neste inverno, sofrerão frio e fome! Mas tende
paciência, pobres mulheres! Deus inspirou a outras, mais afortunadas que vós.
Elas se reuniram e confeccionam
roupinhas. Depois, num destes dias, quando a neve tiver coberto a terra, e
murmurardes, dizendo: “Deus não é justo!”, pois é esta a expressão comum dos
vossos períodos de sofrimento, então vereis aparecer um dos enviados dessas
boas trabalhadoras, que se constituíram em operárias dos pobres. Sim, era para
vós que elas trabalhavam assim e vossos murmúrios se transformarão em bênçãos,
porque, no coração dos infelizes, o amor segue de bem perto o ódio.
Como todas essas trabalhadoras necessitavam de
encorajamento, vejo as comunicações dos Bons Espíritos lhes chegarem de todas
as partes. Os homens que participam desta sociedade oferecem também o seu
concurso, fazendo uma dessas leituras que tanto agradam. E nós, para
recompensar o zelo de todos e de cada um em particular, prometemos a essas
obreiras laboriosas uma boa clientela, que as pagará em moeda sonante de
bênçãos, a única moeda que circula no céu, assegurando-lhes ainda, sem medo de
nos arriscarmos, que essa moeda não lhes faltará.
UM ESPÍRITO PROTETOR - Lyon, 1861
15 – Meus caros amigos, cada dia ouço dizerem entre vós:
“Sou pobre, não posso fazer a caridade”. E cada dia, vê que faltais com a
indulgência para com os vossos semelhantes. Não lhes perdoais coisa alguma, e
vos arvorais em juízes demasiado severos, sem vos perguntar se gostaríeis que
fizessem o mesmo a vosso respeito. A indulgência não é também caridade? Vós,
que não podeis fazer mais do que a caridade indulgente, faz pelo menos essa,
mas fazei-a com grandeza. Pelo que respeita à caridade material, quero
contar-vos uma história do outro mundo.
Dois homens acabavam de morrer. Deus havia dito:
“Enquanto esses dois homens viverem, serão postas as suas boas ações num saco
para cada um, e quando morrerem, serão pesados esses sacos”. Quando ambos
chegaram à sua última hora. Deus mandou que lhe levassem os dois sacos. Um
estava cheio, volumoso, estufado, e retinia o metal dentro dele. O outro era
tão pequeno e fino, que se viam através do pano as poucas moedas que continha.
Cada um dos homens reconheceu o que lhe pertencia: “Eis o meu, — disse o
primeiro — eu o conheço; fui rico e distribui bastante!” O outro: “Eis o meu.
Fui sempre pobre, ah! Não tinha quase nada para distribuir”. Mas, ó surpresa:
postos na balança, o maior tornou-se leve e o pequeno se fez pesado, tanto que
elevou muito o outro prato da balança. Então, Deus disse ao rico: “Deste muito,
é verdade, mas o fizeste por ostentação, e para ver o teu nome figurando em
todos os templos do orgulho. Além disso, ao dar, não te privaste de nada. Passa
à esquerda e fica satisfeito, por te ser contada a esmola como alguma coisa”.
Depois, disse ao pobre: “Deste bem pouco, meu amigo, mas cada uma das moedas
que estão na balança representou uma privação para ti. Se não distribuíste a
esmola, fizeste a caridade, e o melhor é que a fizeste naturalmente, sem te
preocupares de que a levassem à tua conta. Foste indulgente; não julgaste o teu
semelhante; pelo contrário, encontraste desculpas para todas as suas ações.
Passa à direita, e vai receber a tua recompensa.
JOÃO Bordeaux,
1861
16 – A mulher rica, feliz, que não tem necessidade de
empregar o seu tempo nos trabalhos da casa, não pode dedicar algumas horas ao
serviço do próximo? Que, com as sobras dos seus gastos felizes, compre
agasalhos para o infeliz que tirita de frio; com suas mãos delicadas,
confeccione roupas grosseiras, mas quentes, e ajude a mãe pobre a vestir o
filho que vai nascer. Se o seu filho, com isso, ficar com alguns rendados de
menos, o daquela terá mais calor. Trabalhar para os pobres é trabalhar na vinha
do Senhor.
E tu, pobre operária,que não dispõe de sobras, mas que
desejas, no amor por teus irmãos, dar também um pouco do que possuis, oferece
algumas horas do teu dia, do teu tempo, que é o teu único tesouro. Faze alguns
desses trabalhos elegantes que tentam os felizes, vende o produto dos teus
serões, e poderás também proporcionar, a teus irmãos a tua parte de alívio.
Terás, talvez, algumas fitas a menos, mas darás sapatos aos que vivem
descalços.
E vós, mulheres devotadas a Deus, trabalhai também para
as vossas obras piedosas, mas que os vossos trabalhos delicados e custosos não
sejam feitos apenas para ornar as vossas capelas, ou para atrair a atenção
sobre a vossa habilidade e paciência. Trabalhai, minhas filhas, e que o
resultado de vossas obras seja consagrado ao alívio de vossos irmãos em Deus.
Os pobres são os seus filhos bem amados: trabalhar por eles é glorificá-lo.
Sede os instrumentos da Providência, que diz: “Às aves do céu, Deus dá o
alimento”. Que o ouro e a prata, tecidos pelos vossos dedos, se transformem em
roupas e provisões para os necessitados. Fazei isso, e o vosso trabalho será
abençoado.
E todos vós, que podeis produzir, daí: daí o vosso gênio,
daí as vossas inspirações, daí o vosso coração, que Deus vos abençoará. Poetas,
literatos, que sois lidos somente pela gente de sociedade, preenchei os seus
lazeres, mas que o produto de algumas de vossas obras seja destinado ao alívio
dos infelizes. Pintores, escultores, artistas de todos os gêneros, que a vossa
inteligência venha também ajudar os vossos irmãos: não tereis menos glória por
isso, e eles terão alguns sofrimentos a menos.
Todos vós podeis dar: a qualquer classe a que pertençais,
tereis sempre alguma coisa que pode ser dividida. Seja o que for que Deus vos
tenha dado, deveis uma parcela aos que não têm sequer o necessário, pois em seu
lugar ficaríeis contentes, se alguém dividisse convosco. Vossos tesouros da
terra diminuirão um pouco, mas vossos tesouros do céu serão mais abundantes:
colhereis pelo cêntuplo, lá em cima, o que semeardes em benefícios aqui em
baixo.
TEXTOS DE APOIO
BENEFICÊNCIA E
CORAGEM
Uma espécie de beneficência, da qual poucos amigos se
lembram: a caridade da coragem.
Reflete nos companheiros que, por falta de energia
emocional, adoeceram diante de confidências amargas;
nos que se envenenaram pelo ressentimento, perante
calúnias que lhes foram assacadas, e não vacilaram chegar até a delinquência;
naqueles outros que recearam facear as dificuldades da
vida e se conturbaram, caindo na rede dos alucinógenos sem necessidade;
nos que se impressionaram, sem razão, com determinados
sintomas e se recolheram no quadro das doenças imaginárias, afligindo aos
corações que mais amam;
nos que se deixaram induzir por teorias negativas, com
respeito ao trabalho, e acompanharam irmãos revoltados e infelizes.
Pensa na tranquilidade daqueles que te aguardam a assistência
e o carinho e cultiva a coragem da perseverança nos deveres que abraçaste.
Medita nas calamidades afetivas provocadas pela deserção
daqueles que não quiseram ou não souberam honrar os próprios compromissos e
pede aos Céus a força precisa para esquecer a tentação e o medo, a omissão e a
discórdia, porque é indispensável conservar muita força espiritual para manter,
a benefício dos outros, a coragem de ser fiel às Leis de Deus.
Emmanuel - Livro: Neste Instante - Psicografia Chico
Xavier
BENEFICÊNCIA ESQUECIDA
Na solução aos problemas da caridade, não ouvides a
beneficência do campo mais íntimo, que tanta vez relegamos à indiferença.
Prega a fraternidade, aproveitando a tribuna que te
componha os gestos e discipline a voz; no entanto, recebe na propriedade ou no
lar, por verdadeiros irmãos, os companheiros de luta, assalariados a teu
serviço.
Esclarece os Espíritos conturbados e sofredores nos
círculos consagrados ao socorro daqueles que caíram em desajuste mental;
contudo, acolhe com redobrado carinho os parentes desorientados que a provação
desequilibra ou ensandece.
Auxilia a erguer abrigos de ternura para as crianças
abandonadas; todavia, abraça em casa os filhinhos que Deus te deu,
conduzindo-lhes a mente infantil, através do próprio exemplo, ao santuário do
dever e do trabalho, do amor e da educação.
Espalha a doutrina de paz que te abençoa a senda,
divulgando-a, por intermédio do conceito brilhante que te reponta da pena, mas
não ouvides exercê-la em ti próprio, ainda mesmo à custa de aflição e de
sacrifício, para que o teu passo, entre as quatro paredes do instituto
doméstico, seja um marco de luz para os que te acompanham.
Cede aos necessitados daquilo que reténs no curso das
horas...
Dá, porém, de ti mesmo aos semelhantes, em bondade e
serviço, reconforto e perdão, cada vez que alguém se revele faminto de proteção
e desculpa, entendimento e carinho.
Beneficência! Beneficência!
Não lhe manches a taça com o veneno da exibição, nem lhe
tisnes a fonte com o lodo da vaidade!
Recebe-lhe as sugestões de amor no imo do coração e,
buscando-a primeiramente nos escaninhos da própria alma, sentiremos nós todos a
intraduzível felicidade que se derrama da felicidade que venhamos a propiciar
aos outros, conquistando, por fim, a alegria sublime que foge ao alarde dos
homens para dilatar-se no silêncio de Deus.
De "Religião dos Espíritos", de Francisco
Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel
BENEFICÊNCIA
Ante a pessoa que sofre,
Nunca digas “impossível.”
Nas sendas de qualquer nível,
Podes doar do que tens;
Para os outros, muitas vezes,
Na prova amarga como é,
Uma só frase de fé
Define o maior dos bens.
Poucos sabem quanto valem
Para uma casa singela
Alguns metros de flanela
Em forma de cobertor,
O pão cortado aos pedaços
Para conforto da mesa,
A força da gentileza
De quem oferta uma flor.
Enxuga com teu sorriso
A lágrima que te alcança,
Estende alguma esperança
A quem se note sem luz;
Qualquer migalha de auxilio
E plantação que se faz,
Rendendo frutos de paz
Nos créditos de Jesus.
Maria Dolores - Do livro A Vida Conta. Psicografia de
Francisco Cândido Xavier.
NA TAREFA DE AJUDAR
Auxilie a quem lhe procure a presença, mas não se esqueça
de socorrer diretamente quem padece a distância.
Transfira a cooperação alheia aos lares menos
aquinhoados, porém, não se desobrigue de contribuir com a sua quota de ajuda
pessoal.
Colabore indiscriminadamente para o bem de todos aqueles
que lhe estejam próximos; todavia, esforce-se por aprimorar os métodos da sua colaboração
para ajudar melhor.
Distribua o que lhe sobre à mesa, tanto quanto no guarda
roupa e na bolsa: contudo, siga além, doando a quem sofre os recursos positivos
de seu sentimento.
Empreste, com justiça, o que lhe peçam; no entanto, não
menospreze transformar os seus empréstimos em dádivas fraternais.
Colabore indiscriminadamente para o bem de todos aqueles
que lhe estejam próximos; todavia, esforce-se por aprimorar os métodos da sua colaboração
para ajudar melhor.
Organize a sua vida em disciplina rigorosa no dever
cumprido, ainda assim, faça o tempo de persistir no trabalho de assistência aos
irmãos em luta maior.
Atenda ao estômago faminto e ao corpo enfermo do
companheiro em provação; entretanto, não recuse favorecê-lo com a palavra consoladora
e com o livro nobre.
Seja o intermediário entre distribuidores generosos e
corações menos felizes, porém, não deixe de convidar, aos que se beneficiam
materialmente, a se beneficiarem, do ponto de vista moral, nas visitas de
socorro evangélico e solidariedade humana
Dê o máximo de suas possibilidades no amparo aos
semelhantes, mas não se satisfaça com os resultados obtidos, buscando
enriquecer os seus dotes de eficiência no plantio da caridade.
Exemplifique a beneficência, tanto quanto lhe seja
possível, em todas as circunstâncias; contudo, prefira a naturalidade e a
discrição para revestir as suas mínimas atitudes.
Lembre-se de que, na tarefa de ajudar o bem maior é
sempre aquele que ainda está por fazer, à espera da nossa disposição.
André Luiz - Do Livro O Espírito da Verdade. Psicografia
de Francisco Cândido Xavier.
BENEFICÊNCIA
SEMPRE
Nem todos dispomos de telescópios para observar as
estrelas, no entanto, é imperioso reconhecer que todos possuímos recursos para
enxergar as crianças desvalidas no mundo, de modo a estender-lhes o amparo que
se nos faça possível.
Nem todos conseguimos subordinar as palavras aos
princípios gramaticais, a fim de articular uma alocução irrepreensível, do
ponto de vista idiomático, ao redor de assunto determinado, todavia, a
possibilidade de pronunciar essa ou aquela frase de consolo e esperança, a
benefício dos companheiros que estão suportando sofrimentos e provações maiores
do que os nossos não exclui a ninguém.
Nem todos penetramos os segredos da botânica em toda a
extensão, contudo, todos guardamos o privilégio de plantar árvores amigas e
flores diversas, por onde passemos e onde estivermos.
Nem todos movimentamos a fortuna amoedada para a
sustentação da beneficência, entretanto, é justo anotar que todos podemos
repartir o pão que nos é destinado com alguém que necessite.
A vida não nos pede o impossível para que nos integremos
nos mecanismos da caridade, extinguindo as provações que atormentam a Terra,
mas, para que o mal desapareça, espera de cada um de nós essa ou aquela migalha
do bem.
EMMANUEL Médium: Francisco Cândido Xavier Livro:
Convivência
NO TEMPLO DO BEM
Elogiável se te fará a beneficência nas atitudes,
despendendo somas consideráveis, em favor dos necessitados, mas se buscares
pessoalmente os irmãos infelizes, oferecendo-lhes o abraço de solidariedade e
bom ânimo, brilhar-te-á no coração a bondade pura.
Cooperarás com expressiva parcela amoedada na obra
assistencial aos doentes e serás, com isso, o credor de alegria e
reconhecimento de muitos beneficiários na Terra, entretanto, se além disso, te
confiares ao esforço de auxiliar ao enfermo e ao desvalido, com as próprias
mãos, contarás com a ternura e com o agradecimento de outras muitas criaturas
na Vida Maior.
Serás estimado por muita gente ao ceder as sobras de tua
casa no socorro aos famintos e aos nus, no entanto, se renunciares um tanto, à
satisfação dos próprios desejos, procurando os filhos do infortúnio, para
reconforta-los, serás louvado além do mundo.
Ensinarás o bem, escalando os galarins da popularidade,
pelo verbo fácil que te fulgura na boca e serás, em razão disso, o favorito das
multidões, durante algum tempo, mas se praticares a virtude que apregoas,
sacrificando-te com sinceridade e devotamento, em auxílio dos que te rodeiam,
iluminarás o caminho terrestre e viverás em longas filas de corações
agradecidos.
Procuremos o bem, difundindo-o, exaltando-o e
destacando-o, através de todas as oportunidades ao nosso dispor, entretanto,
diligenciemos honrá-lo, com a nossa integração em seus fundamentos e apelos.
Caridade ensinada melhora os ouvidos.
Caridade praticada aprimora os corações.
Dividir conscienciosamente os bens que retemos é
sustentar a respeitabilidade humana.
Renunciar, a benefício do próximo, será sempre elevar-se.
Derramando os valores da própria alma, Jesus legou ao
mundo os tesouros da Compreensão e da Paz.
Além de espalhar as possibilidades com que a Providência
Divina nos abençoa a vida, forneçamos, no auxílio aos outros, algo de nosso
tempo, de nosso suor, de nosso carinho e de nossos braços, na mobilização de
nós mesmos, e estaremos transformando a própria existência num poema de luz e
amor que possa acrescentar amor e a luz sobre os quais Cristo, entre os homens,
vem construindo o Reino de Deus.
Livro: DINHEIRO
(Francisco Cândido Xavier – por Emmanuel)
OS OUTROS
Dizes trazer o deserto no coração; entretanto, pensam-nos
outros.
Muitos pisam teus rastros, procurando-te as mãos no
grande vazio...
Pára um pouco e perceberá a presença nas sombras da
retaguarda.
Enquanto gritas a própria solidão, compreenderás que a
voz deles está morrendo na garganta, através de longos gemidos.
Volta-te e vê.
Compara os teus braços robustos com os ossos descarnados
que ainda lhe servem de suporte às mãos tristes em que os dedos mirrados são
espinhos de dor.
Enxuga o teu pranto e observa os olhos fatigados que te
contemplam...
Falam-te a história de esperanças e sonhos que o tempo
soterrou na areia da frustração. Referem-se ao frio cortante do lar perdido e à
agonia da ramagem nas trevas...
Pára e compadece-te.
Deixa que respirem, ainda mesmo por um momento só, no
calor de teu hálito.
Quem poderá medir a extensão da grandeza de uma simples
semente, caída na terra que o arado martirizou?
A beleza de um minuto nos ensina, muita vez, a povoar de
alegria e de luz a existência inteira.
Diz antiga lenda que uma gota de chuva caiu sobre o
oceano que a tormenta encapelara e, aflita, perguntou:
-“Deus de Bondade, que farei, sozinha, neste abismo
estarrecedor?”
O Pai não lhe respondeu, mas, tempos depois, a gota
singela era retirada do mar, convertida numa pérola para adornar a coroa de um
rei.
Dá também algo de ti aos que bracejam no torvelinho do
sofrimento, e, mesmo que possas ofertar apenas um pingo de amor aos que padece,
tua dádiva será filtrada pelas correntes da angústia humana e subirá,
cristalina e luminescente, na direção dos céus, para enfeitar a glória de Deus.
Meimei - Livro: O Espírito da Verdade- Psicografia
Francisco C. Xavier e Waldo Vieira- Espíritos Diversos
HISTÓRIA DE UM PÃO
Quando Barsabás, o tirano, demandou o reino da morte,
buscou debalde reintegrar-se no grande palácio que lhe servira de residência.
A viúva, alegando infinita mágoa, desfizera-se da
moradia, vendendo-Ihe os adornos.
Viu ele, então, baixelas e candelabros, telas e jarrões,
tapetes e perfumes, jóias e relíquias, sob o martelo do leiloeiro, enquanto os
filhos querelavam no tribunal, disputando a melhor parte da herança.
Ninguém lhe lembrava o nome, desde que não fosse para
reclamar o ouro e a prata que doara a mordomos distintos.
E porque na memória de semelhantes amigos ele não
passava, agora, de sombra, tentou o interesse afetivo de companheiros outros da
infância...
Todavia, entre eles encontrou simplesmente a recordação
dos próprios atos de malquerença e de usura.
Barsabás, entregou-se as lágrimas de tal modo, que a
sombra lhe embargou, por fim, a visão, arrojando-o nas trevas.
Vagueou por muito tempo no nevoeiro, entre vozes
acusadoras, até que um dia aprendeu a pedir na oração, e, como se a rogativa
lhe servisse de bússola, embora caminhasse às escuras, eis que, de súbito, se
lhe extingue a cegueira e ele vê, diante de seus passos, um santuário sublime,
faiscante de luzes.
Milhões de estrelas e pétalas fulgurantes povoavam-no em
todas as direções.
Barsabás, sem perceber, alcançara a Casa das Preces de
Louvor, nas faixas inferiores do firmamento.
Não obstante deslumbrado, chorou, impulsivo, ante o
Ministro espiritual que velava no pórtico.
Após ouvi-lo, generoso, o funcionário angélico falou
sereno:
- Barsabás, cada fragmento luminoso que contemplas é uma
prece de gratidão que subiu da Terra ...
- Ai de mim - soluçou o desventurado - eu jamais fiz o
bem...
- Em verdade - prosseguiu a informante -, trazes contigo,
em grandes sinais, a pranto e a sangue dos doentes e das viúvas, dos velhinhos
e órfãos indefesos que despojaste, nos teus dias de invigilância e de
crueldade; entretanto, tens aqui, em teu crédito, uma oração de louvor...
E apontou-lhe acanhada estrela, que brilhava a feição de
pequenino disco solar.
- Há trinta e dois anos - disse, ainda, o instrutor -,
deste um pão a uma criança e essa criança te agradeceu, em prece ao Senhor da
Vida.
Chorando de alegria e consultando velhas lembranças,
Barsabás perguntou:
- Jonakim, o enjeitado?
- Sim, ele mesmo - confirmou a missionário divino. -
Segue a claridade do pão que deste, um dia, por amor, e livrar-te-ás, em
definitivo, do sofrimento nas trevas.
E Barsabás acompanhou a tênue raio do tênue fulgor que se
desprendia daquela gota estelar, mas, em vez de elevar-se as Alturas,
encontrou-se numa carpintaria humilde da própria Terra.
Um homem calejado aí refletia, manobrando a enxó em
pesado lenho...
Era Jonakim, aos quarenta de idade.
Como se estivessem as dois identificados no doce fio de
luz, Barsabás abraçou-se a ele, qual viajante abatido, de volta ao calor do
lar... (...)
Decorrido um ano, Jonakim, a carpinteiro, ostentava,
sorridente, nos braços, mais um filhinho, cujos louros cabelos emolduravam
belos olhos azuis.
Com a benção de um pão dado a um menino triste, por
espírito de amor puro, conquistara Barsabás, nas Leis Eternas, o prêmio de
renascer para redimir-se.
Irmão X - Do Livro O Espírito da Verdade. Psicografia de
Francisco Cândido Xavier.
ECONOMIA ESPÍRITA
E - Cap. XIII -
Item 11
O Espiritismo abrange com a sua influência regenerativa e
edificante não apenas a individualidade, mas também todos os círculos de
atividade em que a pessoa respire. É assim que o Espiritismo na economia
valoriza os mínimos recursos, conferindo-lhes especial significação.
Vejamos o comportamento do espírita, diante dos valores
considerados de pouca monta:
Livro respeitável - Não o entregará à fome do cupim.
Deligenciará transferi-lo a companheiros que lhe aproveitem a leitura.
Jornal espírita lido - Não alimentará com ele o monte de
lixo. Respeitar-lhe-á o valor fazendo-o circular, notadamente entre os irmãos
entregues à fauna rural ou núcleos distantes ou ainda entre reclusos em
hospitais e penitenciárias, sem maiores facilidades para o acesso ao conhecimento
doutrinário.
Publicações de qualquer natureza - Não fará com elas
fogueiras sem propósito. Saberá empacotá-las, entregando-as aos necessitados
que muitas vezes conquistam o pão catando papéis velhos.
Objetivos disponíveis - Não fará dos pertences sem uso,
elogio à inutilidade. Encontrará meios de movimentá-los, sem exibição de
virtude, em auxílio dos irmãos a que possam prestar serviço.
Móvel desnecessário - Não guardará os trastes caseiros em
locais de despejo. Saberá encaminhá-lo em bases de fraternidade para recintos
domésticos menos favorecidos, melhorando as condições do conforto geral.
Roupa fora de serventia - Não cultivará pastagem para as
traças. Achará meios de situar com gentileza todos os petrechos de vestuário,
cobertura e agasalho, em benefício de companheiros menos quinhoados por
vantagens materiais.
Sapatos aposentados - Não fará deles ninhos de insetos.
Providenciar-lhes-á reforma e limpeza, passando-os, cordialmente, àqueles que
não conseguem o suficiente para se calçarem.
Medicamento usado mas útil - Não lançará fora o remédio
de que não mais careça e que ainda apresenta utilidade. Cedê-lo-á aos enfermos
a que se façam indicados.
Selos utilizados- Não rasgará sem considerações os selos
postais já carimbados. Compreenderá que eles são valiosos ainda e oferta-los-á
a instituições beneficentes que os transformarão em socorro aos semelhantes.
Recipientes, garrafas e vidros vazios - Não levantará
montes de cacos onde resida. Empregará todos os invólucros e frascos sem
aplicação imediata na benemerência para com o próximo em luta pela própria
sustentação.
Gêneros, frutos, brinquedos e enfeites sem proveito no
lar - Não exaltará em casa o egoísmo ou o desperdício. Lembrar-se-á de outros
redutos domésticos, onde pais doentes e fatigados, entre crianças enfraquecidas
e tristes receber-lhe-ão por bênçãos de alegria as pequenas dádivas de amor, em
nome de solidariedade, que é para nós todos simples obrigação.
A economia espírita não recomenda desapreço à propriedade
alheia e nem endossa o esbanjamento. Seja no lar ou na casa de assistência
coletiva, no campo ou no vilarejo, nas grandes cidades ou nas metrópoles, é a
economia da fraternidade que usa os dons da vida sem abuso e que auxilia
espontaneamente sem idéias de recolher agradecimentos ou paga de qualquer
espécie, por reconhecer, diante do Cristo e dos princípios espíritas, que os
outros necessitam de nós como necessitamos deles, de vez que todos somos
irmãos.
De Opinião Espírita, de Francisco Cândido Xavier e Waldo
Vieira, pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz
ASPECTOS DA CARIDADE
Francisco C. Xavier
Os diversos aspectos da caridade constituíram o assunto
de nossas conversações antes da reunião. O tema sugeria ao nosso grupo de
amigos variadas considerações. Iniciadas as tarefas públicas da noite, O
Evangelho Segundo o Espiritismo nos deu para estudo o item 11 do seu capítulo
XIII e o assunto continuou a ser debatido.
Ao término da reunião, Emmanuel escreveu a página
Caridade Difícil.
Do livro Amanhece.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier
CARIDADE DIFÍCIL
Emmanuel
Caridade habitualmente incompreendida e sempre difícil de
ser praticada - o amparo em regime de repetição.
Ergue-se a casa, elemento a elemento. Realiza-se a viagem
passo a passo. Entretanto, freqüentemente exigimos a recuperação de criaturas
determinada, de momento para outro, qual se as realizações da vida interior
fossem estranhas às funções do tempo.
Se te encontras num problema assim, de cuja solução
esperas segurança e paz, não te aflijas pela obtenção do fruto nos esforços a
que te empenhas, nem esmoreças ante as situações que te solicitam tolerância e
paciência.
O companheiro que se te afigura incorrigível pelos
desgostos que te impõe é um enfermo da alma a pedir-te doses reiteradas de
compreensão e socorro, de modo a refazer-se.
E a pessoa querida que te pareça ingrata pelos golpes com
que te alanceia o coração, é doente da alma a solicitar-te medicamentos
renovados de ternura e entendimento, a fim de restaurar-se.
Quase sempre, antes da corporificação em novo berço
terrestre, rogamos à Divina Providência para que se nos confie a laboriosa
tarefa da assistência espiritual, em benefício de alguém que só o tratamento
longo na reencarnação consegue melhorar ou recuperar.
Do livro Amanhece. Psicografia de Francisco Cândido
Xavier
HOMENAGEM A BEZERRA
DE MENEZES
Francisco Cândido Xavier
A mensagem de Maria Dolores foi obtida em nossa reunião
pública, levada a efeito em homenagem ao nosso caro benfeitor espiritual, o Dr.
Bezerra de Menezes.
O tema em estudo foi o item 11 do capítulo XIII de O
Evangelho Segundo o Espiritismo, intitulado Beneficência. Após os comentários
da noite, a nossa querida irmã compareceu com sua página poética Mãos Benditas.
NOTA – Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti foi eminente
medico cearense que residiu longos anos no Rio de Janeiro, tendo-se destacado
na vida política e intelectual da Corte, onde exerceu elevadas funções
públicas. Convertendo-se ao Espiritismo, tornou-se verdadeiro apóstolo da
Doutrina. Dedicou-se à assistência social, de tal maneira, que passaram a
chamá-la de Médico dos Pobres. Por suas atividades na divulgação e prática da
Doutrina, foi cognominado de Kardec Brasileiro.
Tendo nascido a 29 de agosto de 1831, as instituições
espíritas de todo o País costumam prestar-lhe homenagens no correr do referido
mês. Na sua bibliografia figura um volume de relevante importância médica,
intitulado A loucura Sob Novo Prisma.
Do livro Diálogo
dos Vivos. Espíritos Diversos. Psicografia de Francisco Cândido Xavier e J.
Herculano Pires.
MÃOS BENDITAS
Maria Dolores
Escuta-nos, Senhor,
Na luz do Lar Celeste!
Desejamos, Jesus, agradecer-te
As mãos benditas que nos deste!
Aquelas mãos sublimes
Que nos entreteceram o berço
Entre as forças do mundo,
Que fizeram escolas,
Aquelas que tornaram nossos dedos,
Revestidas por ti de amor terno e profundo
A fim de penetrarmos nos segredos
Das palavras e letras da instrução...
As que encontramos no caminho,
Quando a sombra da mágoa nos alcança
E acendem para nós com simpatia
O facho da esperança.
Aquelas que nos trazem,
Ao sol do dia-a-dia,
Exemplos de trabalho.
As que cavam a terra,
Muita vez suportando espinhos agressores
E vibram de alegria
Ao vê-la transformar-se em celeiro de flores!
As que fazem o pão,
As que costuram vestes multiformes,
Cobertura e agasalho,
Aquelas que nos dão
A bênção da limpeza,
As que buscam nos dons da Natureza,
Quantas vezes, cansadas de lutar,
Os recursos da vida
Que nos erguem o lar...
As que socorrem os doentes,
As que se inclinam para os sofredores,
Em recintos de angústia, lares e hospitais,
Que afagam companheiros indigentes
Ou que protegem pobres pequeninos
Revelando desvelos maternais!
As que orientam para a ordem,
Garantindo a justiça e a segurança,
As que escrevem bondade, educação, beleza,
Em que a estrada se eleva e a mente se aprimora,
Criando, mundo afora,
Idéias de otimismo, reconforto,
Das quais se estende a luz de surpresa em surpresa...
Aquelas que se humilham quais violetas
E, revolvendo o pó,
Levantam nosso irmão ou nossa irmã
Caídos nas sarjetas
Ou no esgoto comum,
De coração dizendo a cada um:
– “Você não está só”.
As que foram batidas
Por críticas mordazes
E prosseguem agindo como fazes,
Retribuindo o mal com o bem;
As que ajudam e passam
Sem ferir a ninguém...
Benditas sejam elas
Todas as mãos, Senhor, que procuram servir,
– Exército de estrelas a buscar-te,
Edificando, em toda parte,
O Reino do Porvir.
E agradecendo-as, rogo-te, Jesus:
Toma-me as mãos vazias,
Faze-me trabalhar
Em todos os meus dias!
E porque me conheça
Tão pobre quanto sou,
De revés em revés,
Sem nem mesmo poder
Aspirar, ante os séculos futuros,
À sublime ventura,
Anseio conquistar a posição
Da serva que se esqueça
Nas tarefas de amor que o teu amor reparte.
E, a despeito de minha imperfeição,
Frágil, errada e inculta, quero dar-te
Meu próprio coração.
Do livro Diálogo dos Vivos. Espíritos Diversos. Psicografia
de Francisco Cândido Xavier e J. Herculano Pires.
EXÉRCITO DE
ESTRELAS
Irmão Saulo
As mãos de Bezerra de Menezes, o Médico dos Pobres, foram
na Terra as fiandeiras da caridade. Trabalharam intensamente, desde o seu tempo
de estudante, em favor dos necessitados. E enquanto elas teciam a rede de
socorro e assistência aos pobres, sem esquecer os ricos, para os quais usava a
sua inteligência e a sua cultura, ele tecia sem querer e sem saber a sua
própria túnica de luz para a vida espiritual.
Maria Dolores se inspira nessas mãos benditas para nos
enviar a sua mensagem poética. E toda essa mensagem é um cântico de amor aos
homens, chamando-lhes a atenção para a responsabilidade das mãos. Os que amam a
poesia gráfica e portanto sensorial dos nossos dias, os hieróglifos da chamada
poética de vanguarda, não gostarão dessas estrofes despretensiosas e lineares
(porque racionais) da poetisa espiritual. Mas os que não se apegam à forma e
procuram a substância poética sentirão a música inaudível desses versos.
Os pintores nem sempre deram a devida importância às mãos
de Jesus em seus quadros. Mas um pintor paulista, Vicente Caruso, fez um quadro
de Jesus em que a mão se destaca. Todo o valor do quadro está naquela mão –
apenas uma – em posição vertical, revelando em suavidade e pureza a missão do
Salvador. O médico Dr. Silvio Marone escreveu um pequeno mas valioso ensaio
sobre a psicologia das mãos na Ceia de Da Vinci, analisando a linguagem das
mãos. Essa linguagem se traduziu mediunicamente nas materializações de mãos
produzidas através do médium Daniel Douglas Home, um “gentleman” escocês que se
celebrizou pelo borboletear das mãos em suas manifestações, embora nunca tenha
sido espírita.
As mãos dizem o que somos, porque somos o que fazemos
através delas. Podemos semear a destruição e podemos semear o amor com as
nossas mãos, mas devemos lembrar que colheremos o que semearmos. Por isso, a
poetisa quer inscrever as suas mãos no exército de estrelas que luta na Terra
em busca de Jesus.
Há um poema de Michel Quoist, muito divulgado, em que ele
agradece a Deus os braços e as mãos que nos deu, enquanto tantos existem sem
braços. Refere-se também aos outros membros e órgãos que possuímos, enquanto
muitos não os possuem. Maria Dolores não comete esse feio pecado de egoísmo.
Ela sabe que os mutilados de hoje recuperarão amanhã os membros perdidos e não
devem ser apontados como consolo egoísta para nós. Por isso, atém-se a louvar
as mãos benditas que trabalham na construção do bem. É como se nos dissesse:
“Emprega bem as tuas mãos, para que elas nunca te faltem”. E aos que não as
possuem: “Quando recuperardes as mãos, empregai-as sempre no bem”.
Do livro Diálogo dos Vivos. Espíritos Diversos. Psicografia
de Francisco Cândido Xavier e J. Herculano Pires.
EXERCÍCIO DO BEM
“Mas ajuntai
tesouros no Céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões
não minam e nem roubam. - JESUS - MATEUS, 6: 20.
“Sede bons e caridosos: essa a chave dos céus, chave que
tendes em vossas mãos. Toda a eterna felicidade se contém nesse preceito:
Amai-vos uns aos outros.” - Cap.13, 12.
Comumente inventamos toda a espécie de pretextos para
recusar os deveres que nos constrangem ao exercício do bem.
Amolentados no reconforto, e instalados egoisticamente em
vantagens pessoais, no imediatismo do mundo, não ignoramos que é preciso agir e
servir na solidariedade humana, todavia, derramamos desculpas a rodo,
escondendo teimosia e mascarando deserção.
Confessamo-nos incompetentes.
Alegamos cansaço.
Afirmamo-nos sem tempo.
Declaramo-nos enfermos.
Destacamos a necessidade da vigilância na contenção do
vício.
Reclamamos cooperação.
Aqui e ali empregamos expressões crônicas que nos
justifiquem a fuga, como sejam “muito difícil”, “impossível”, “melhor esperar”,
“vamos ver” e ponderamos vagamente quanto aos arrependimentos que nos amarguram
o coração e complicam a vida à face de sentimentos, idéias palavras e atos
infelizes a que em outras ocasiões, nos precipitamos de maneira, impensada.
Na maioria das vezes, para o bem exigimos o atendimento a
preceitos e cálculos, enquanto que para o mal apenas de raro em raro imaginamos
conseqüências.
Entretanto, o conhecimento, do bem para que o bem se
realize é de tamanha importância que o apóstolo Tiago afirma no versículo 17 do
capítulo 4 de sua carta, no Evangelho “Todo aquele que sabe fazer o bem e não o
fez comete falta.
E dezenove séculos depois dele os instrutores
desencarnados que supervisionaram a obra de Allan Kardec desenvolveram, o
ensinamento ainda mais explicando na Questão 642 de “O Livro dos Espíritos”: ”Cumpre
ao homem fazer o bem, no limite das suas forças, porquanto responderá pelo mal
que resulte de não haver praticado o bem”.
O Espiritismo, dessa forma, definindo-se não apenas como
sendo a religião da verdade e do amor, mas também da, justiça e da responsabilidade,
vem esclarecer-nos que responderemos, não Só pelo mal que houvermos feito, mas
igualmente pelo mal que decorra, do nosso comodismo em não praticando o bem que
nos cabe fazer.
Emmanuel - do livro " O Livro da Esperança" -
Psicografado por Francisco Cândido Xavier
O PODER DA
GENTILEZA
Eminente professor negro, interessado em fundar uma
escola num bairro pobre, onde centenas de crianças desamparadas cresciam sem o
benefício das letras, foi recebido pelo prefeito da cidade que lhe disse
imperativamente, depois de ouvir-lhe o plano:
- A lei e a bondade nem sempre podem estar juntas.
Organize uma casa e autorizaremos a providência.
- Mas doutor, não dispomos de recursos... – considerou o
benfeitor dos meninos desprotegidos.
- Que fazer?
- De qualquer modo, cabe-nos amparar os pequenos
analfabetos.
O prefeito reparou-lhe demoradamente a figura humilde,
fez um riso escarninho e acrescentou:
- O senhor não pode intervir na administração.
O professor muito triste, retirou-se e passou a tarde e a
noite daquele sábado, pensando, pensando...
Domingo, muito cedo saiu a passear, sob as grandes
árvores, na direção de antigo mercado.
Ia comentando, na oração silenciosa:
- Meu Deus como agir? Não receberemos um pouso para as
criancinhas, Senhor?
Absorvido na meditação, atingiu o mercado e entrou.
O movimento era enorme.
Muitas compras. Muita gente.
Certa senhora, de apresentação distinta, aproximou-se
dele e tomando-o por servidor vulgar, de mãos desocupadas e cabeça vazia,
exclamou:
- Meu velho, venha cá.
O professor acompanhou-a sem vacilar.
À frente dum saco enorme, em que se amontoavam mais de trinta
quilos de verdura, a matrona recomendou:
- Traga-me esta encomenda.
Colocou ele o fardo às costas e seguiu-a.
Caminharam seguramente uns quinhentos metros e penetraram
elegante vivenda, onde a senhora voltou a solicitar:
- Tenho visitas hoje. Poderá ajudar-me no serviço geral?
- Perfeitamente – respondeu o interpelado -, dê suas
ordens.
Ela indicou pequeno pátio e determinou-lhe a preparação
de meio metro de lenha para o fogão.
Empunhando o machado, o educador, com esforço, rachou
algumas toras. Findo o serviço, foi chamado para retificar a chaminé.
Consertou-a com sacrifício da própria roupa. Sujo de pó escuro, da cabeça aos
pés, recebeu ordens de buscar um peru assado, a distância de dois quilômetros.
Pôs-se a caminho, trazendo o grande prato em pouco tempo. Logo mais, atirou-se
à limpeza de extenso recinto em que se efetuaria lauto almoço.
Nas primeiras horas da tarde, sete pessoas davam entrada
no fidalgo domicílio. Entre elas, relacionava-se o prefeito que anotou a
presença do visitante da véspera, apresentando ao seu gabinete por autoridades
respeitáveis. Reservadamente, indagou sua irmã, que era a dona da casa, quanto
ao novo conhecimento, conversando ambos na surdina.
Ao fim do dia, a matrona distinta e autoritária, com
visível desapontamento, veio ao servo improvisado e pediu o preço dos
trabalhos.
- Não pense nisto – respondeu com sinceridade -, tive
muito prazer em ser-lhe útil.
No dia imediato, contudo, a dama da véspera procurou-o,
na sua casa modesta em que se hospedava e, depois de rogar-lhe desculpas,
anunciou-lhe a concessão de amplo edifício, destinado à escola que pretendia
estabelecer. As crianças usariam o patrimônio à vontade e o prefeito
autorizaria a providência com satisfação.
Deixando transparecer nos olhos úmidos a alegria e o reconhecimento
que lhe reinavam nalma, o professor agradeceu e beijou-lhe as mãos, respeitoso.
A bondade dele vencera os impedimentos legais.
O exemplo é mais vigoroso que a argumentação.
A gentileza está revestida, em toda parte, de glorioso
poder.
Francisco Cândido Xavier, Da obra: Alvorada Cristã. Ditado pelo Espírito
Neio Lúcio..
A PREGAÇÃO
FUNDAMENTAL
Um aprendiz de Nosso Senhor Jesus-Cristo entusiasmou-se
com os ensinamentos do Evangelho e decidiu propagá-los, enquanto vivesse. Leu,
atencioso, as lições do Mestre e começou a comentá-las por toda parte, gastando
dias e noites nesse mister.
Chegou, porém, o momento em que precisou pagar as
próprias despesas e foi compelido a trabalhar.
Empregou-se sob as ordens de um orientador que lhe não
agradou. Esse diretor de serviço achava-se muito distante da fé e, por isto,
contrariava-lhe as tendências religiosas. Controlava-lhe as horas com rigor e
observava-o com apontamentos acrimoniosos e rudes.
O pregador do Crucificado não mais se movimentava com a
liberdade de outro tempo. Era obrigado a consagrar largos dias a trabalhos
difíceis que lhe consumiam todas as forças. Prosseguia, ensinando a boa
doutrina, quanto lhe era possível; porém, não mais podia agir e falar, como
queria ou quando pretendia. Tinha os minutos contados, as oportunidades
divididas, as semanas tabeladas e, porque se julgasse vítima das ordenações de
sua chefia, procurou o diretor do serviço e despediu-se.
O proprietário que o empregara indagou do motivo que o
levava a semelhante resolução.
Um tanto irônico, o rapaz explicou-se:
-Quero ser livre para melhor servir a Jesus. Não posso,
pois, aceitar o cativeiro de sua casa.
Nesse dia de folga absoluta, sentiu-se tão independente e
tão satisfeito que discorreu, animadamente, sobre a doutrina cristã, até depois
de meia-noite, em várias casas religiosas.
Repousando, feliz, alta madrugada sonhou que o Mestre
vinha encontrá-lo. Reparou-lhe a beleza celeste e ajoelhou-se para beijar-lhe a
túnica resplandecente.
Jesus, porém, estampava na fisionomia dolorosa e
indisfarçável tristeza.
O discípulo inquietou-se e interrogou:
-Senhor, porque te sentes amargurado?
O Cristo, respondeu, melancólicamente:
-Porque desprezaste, meu filho, a pregação que te
confiei?
-Como assim, Senhor? — replicou o jovem — ainda hoje
abandonei um homem tirânico para melhor ensinar a tua palavra. Tenho discursado
em vários templos e comentado a Boa-Nova por onde passo.
-Sim — exclamou o Mestre —, esta é a pregação que me
ofereces e que desejo continues fervorosamente; todavia, confiei ao teu
espírito a pregação fundamental da verdade a um homem que administra os meus
interesses na Terra e não soubeste executá-la. Classificaste-o de ignorante e
cruel; entretanto, olvidas que ele ignora o que sabes. E pretendes, acaso,
desconhecer que o orientador humano que te dei somente poderia abordar-me os
ensinos, nesta hora, através de teu exemplo? Tua humildade construtiva, no
espírito de serviço, modificar-lhe-ia o coração... Se lhe desses cinco anos
consecutivos de demonstrações evangélicas, estaria preparado a caminhar, por si
mesmo, na direção do Reino Divino!... E ele, que determina sobre o tempo de
duzentos homens, se faria melhor, mais humano e mais nobre, sem prejuízo da energia
e da eficiência... Poderás ensinar o caminho celestial a cem mil ouvidos, mas a
pregação do exemplo, que converta um só coração ao Infinito Bem, estabelece com
mais presteza a redenção do mundo!...
O aprendiz desejou perguntar alguma coisa; entretanto, o
Cristo afastou-se num turbilhão de luminosa neblina.
Acordou, sobressaltado, e não mais dormiu naquela noite.
De manhã, pôs-se a caminho do estabelecimento em que
trabalhara, procurou o diretor de quem se despedira e pediu humildemente:
-Senhor, rogo-lhe desculpas pelo meu gesto impensado e,
caso seja possível, readmita-me nesta casa! aceitarei qualquer gênero de
tarefa.
O chefe, admirado, indagou:
-Quem te induziu a esta modificação?
-Foi Jesus — respondeu o rapaz —; não podemos servi-lo
por intermédio da indisciplina ou do orgulho pessoal.
O diretor concordou sem vacilação, exclamando:
-Entre! Estamos ao seu dispor.
Anotou a boa vontade e o sincero desejo de servir de que
o empregado dava agora vivo testemunho e passou a refletir na grandeza da doutrina
que assim orientava os passos de um homem no aperfeiçoamento moral. E o
aprendiz do Evangelho que retomou o trabalho comum, intensamente feliz,
compreendeu, afinal, que poderia prosseguir na propaganda verbal que desejava e
na pregação básica do exemplo que Jesus esperava dele.
Do livro Alvorada Cristã .Espírito de Neio Lúcio.
Psicografia de Francisco C. Xavier.
.
DÁ DE TI MESMO
Declaras não possuir dinheiro para auxiliar.
Acreditas que um pouco de papel ou um tanto de metal te
substituem o coração?
Esqueces-te, meu filho, de que podes sorrir para o doente
e estender a mão ao necessitado?
A flor não traz consigo uma bolsa de ouro e, entretanto,
espalha perfume no firmamento.
O céu não exibe chuvas de moedas, mas enche o mundo de
luz.
Quanto pagas pelo ar fresco que, em bafejos amigos, te
visita o quarto pela manhã?
O oxigênio cobra imposto?
Quanto te custa a ternura materna?
As aves cantam gratuitamente.
A fonte que te oferece o banho reconfortador, não exige
mensalidade.
A árvore abre-te os braços acolhedores, repletos de flor
e fruto, sem pedir vintém.
A benção divina, cada noite, conduz o teu pensamento a
bendito repouso no sono e não fazes retribuição de espécie alguma. Habitualmente
sonhas, jamais colhendo rosas em formoso jardim, junto de companheiros felizes;
no entanto, jamais te lembraste de agradecer aos gênios espirituais que te
proporcionam venturoso descanso.
A estrela brilha sem pagamento.
O Sol não espera salário.
Por que não aprenderes com a natureza em torno?
Por que não te fazeres mais alegre, mais comunicativo,
mais doce?
Tens a fisionomia seca e ensombrada por faltar-te
dinheiro excessivo e reclamas recursos materiais para ser bom, quando a bondade
não nasce dos cofres fortes.
Sê irmão do teu irmão, companheiro de teu companheiro,
amigo de teu amigo.
Na ciência de amar, resplandece a sabedoria de dar.
Mostra um semblante sereno e otimista, aonde fores.
Estende os braços, alonga o coração, comunica-te com o
próximo, através dos fios brilhantes da amizade fiel.
Que importa se alguém te não entende o gesto de amor?
Que seria de nós, meu filho, se a mão do Senhor se
recolhesse a distância, por temer-nos a rudeza e a maldade?
Dá de ti mesmo, em toda a parte.
Muito acima do dinheiro, pairam as tuas mãos amigas e
fraternais.
Francisco Cândido Xavier, Da obra: Alvorada Cristã. Ditado pelo Espírito
Neio Lúcio..
SEMENTES DIVINAS
Quando se te fale acerca do muito para liquidar as
necessidades humanas, não menoscabes o pouco que sejas capaz de fazer, em
auxílio ao próximo, repartindo o coração em pedaços de entendimento e de amor.
O prato do socorro fraterno não resolve o problema da
fome; no entanto, pode ser hoje a benção que reerguerá as energias de alguém, à
beira da inanição, afim de que o trabalho amanhã lhe retire os passos do
nevoeiro de desencanto e aflição.
A peça de roupa ao companheiro em andrajos não resolve o
problema da nudez, mas pode ser hoje o apoio substancial em benefício de alguém
que o frei vergasta e que amanhã se converterá em fonte viva de amparo aos
desabrigados da Terra.
O livro nobilitante colocado nas mãos do amigo em
dificuldade, não resolve o problema da ignorância; todavia, pode ser hoje a luz
providencial para alguém que as sombras envolvem e que amanhã se fará núcleo
irradiante de ideias renovadoras para milhares de criaturas sedentas de
orientação e de paz.
Os minutos rápidos de conversação esclarecedora que
dispenses ao companheiro enredado nas teias da influência nociva, não resolve o
problema da obsessão; no entanto, pode ser hoje a escora salvadora para alguém
que a perturbação ameaça e que amanhã se transformará em coluna viva de
educação espiritual, redimindo os sofredores do mundo.
Não menosprezes a migalha de cooperação com que possas
incentivar a sustentação das boas obras.
Recorda o óbulo da viúva, destacado por Jesus como sendo
a dádiva mais rica aos serviços da fé, pelo sacrifício que a oferenda
representava.
Não apenas isso. Rememoremos o dia em que o Senhor,
abençoando cinco pães e dois peixes, alimentou extensa multidão de famintos.
Em verdade, quaisquer migalhas conosco ou simplesmente
por nós, serão sempre migalhas, mas se levadas ao serviço do bem, com Jesus,
serão sementes divinas de paz e alegria, instrução e progresso, beneficência e prosperidades
no mundo inteiro.
Livro: Alma e Coração.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier
Espírito Emmanuel
DUPLA BENEFICÊNCIA
A caridade, na forma externa, é suficientemente
conhecida.
Toda organização assistencial é uma bênção de Deus,
atenuando a penúria e o sofrimento onde surja.
Existe, porém, a beneficência mais íntima, que se comunica,
de alma para alma, nas bases do silêncio e da compreensão.
A caridade mais íntima socorre a pessoa em necessidade
sem aparecer; fala-lhe aos recessos do espírito sem palavras articuladas;
apoia-lhe a vida sem mostrar-se; e ilumina-lhe o coração, sem ofuscar-lhe o
entendimento.
Experimenta semelhante trabalho e observarás quanta
alegria se te exteriorizará da existência.
Se conheces a necessidade de alguém, não esperes que esse
alguém se coloque de joelhos a suplicar-te favor e estender-lhe o auxílio de
que possas dispor; na hipótese de te faltarem recursos para isso, encontrarás
os meios de sugerir a companheiros outros para que o façam, sem que a tua
influência se mostre.
Quanto te convenças de que essa ou aquela criatura te
requisita atenção para determinado assunto, ainda mesmo que disponhas de tempo
escasso, podes dedicar-lhe alguns momentos, nos quais a tua palavra lhe
signifique o apreço que te merece.
Nos problemas de natureza familiar, descobrirás, sem
dificuldade, a trilha mental, no instante justo, através da qual consigas
transitar, restaurando a harmonia doméstica, sem esperar agradecimentos.
Ante o amigo que se suponha em erro, saberás
despertar-lhe as qualidades superiores que, porventura, estejam adormecidas,
afastando-lhe os pensamentos de quaisquer sombras.
Perante uma criatura querida que te haja desfechado essa
ou aquela ofensa, reconhecerás que estará ela em momento difícil e que te cabe
esquecer o contratempo havido, já que em lugar desse ou daquele ofensor,
poderíamos estar nós com os desacertos e precipitações que ainda nos
caracterizam.
Não nos esqueçamos da beneficência externa que nos irmana
uns aos outros, através da existência recíproca, nas experiências do cotidiano,
mas atendamos à beneficência mais íntima, que ampara sem mostrar-se, erguendo
sentimentos e levantando almas para a elevação de hoje, que perdurará nas
alegrias do hoje e sempre.
EMMANUEL: Francisco Cândido Xavier Livro: Convivência
BENEFICÊNCIA E
CARIDADE
A beneficência alivia a provação.
A caridade extingue o mal.
A beneficência auxilia.
A caridade soluciona.
Distribuirás a mancheias algo do ouro que se te derrama
da bolsa, entretanto, se nesse algo não puseres a luz de teu amor, em forma de
respeito e carinho, ante as chagas do semelhante, não terás construído nele a
compreensão que o fará reconciliar-se consigo próprio.
Oferecerás de tua inteligência preciosos recursos aos que
desesperam na ignorância, mas, se furtas à lição a benção da simpatia, não
estenderás ao companheiro que o sofrimento enceguece a claridade precisa.
Não é dádiva de tua abastança ou o valor de tua cultura
que importam no serviço de elevação e aprimoramento da paisagem que te rodeia.
É o modo com que passas a exprimi-los, cedendo de ti
mesmo naquilo que o Senhor te emprestou para distribuir, porquanto a atitude é
o fator de fixação desse ou daquele sentimento no vasto caminho humano.
Vale mais o exemplo vivo de compaixão que a frase
adornada de exaltação à virtude pronunciada tão-somente com a boca e aparece
com mais beleza o gesto de fraternidade que a esmola reconfortante suscetível
de ser espalhada por ti simplesmente com o esforço mecânico do braço.
Isso, porque todos precisamos de renovação interior para
o acesso aos tesouros do espírito e, fazendo o bem, com o impulso de nossas
próprias almas, valorizaremos a palavra com que venhamos a emiti-lo, edificando
a vida em nós e junto de nós, com o próximo e conosco, realizando sempre o
melhor.
Livro: DINHEIRO
Francisco Cândido Xavier – por Emmanuel
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