9 – A ingratidão é um dos frutos mais imediatos do
egoísmo, e revolta sempre os corações virtuosos. Mas a dos filhos para com os
pais tem um sentido ainda mais odioso. É desse ponto de vista que a vamos
encarar mais especialmente, para analisar-lhe as causas e os efeitos. Nisto,
como em tudo, o Espiritismo vem lançar luz sobre um dos problemas do coração
humano.
Quando o Espírito deixa a Terra, leva consigo as paixões
ou as virtudes inerentes à sua natureza, e vai no espaço aperfeiçoar-se ou
estacionar, até que deseje esclarecer-se. Alguns, portanto, levam consigo ódios
violentos e desejos de vingança. A alguns deles, porém, mais adiantados, é
permitido entrever algo da verdade: reconhecem os funestos efeitos de suas
paixões, e tomam então boas resoluções; compreendem que, para se dirigirem a
Deus, só existe uma senha – caridade. Mas não há caridade sem esquecimento das
ofensas e das injúrias, não há caridade com ódio no coração e sem perdão.
É então que, por um esforço inaudito, voltam o seu olhar
para os que detestaram na Terra. À vista deles, porém, sua animosidade
desperta. Revoltam-se à idéia de perdoar, e ainda mais a de renunciarem a si
mesmos, mas sobretudo a de amar aqueles que lhes destruíram talvez a fortuna, a
honra, a família. Não obstante, o coração desses infortunados está abalado.
Eles hesitam, vacilam, agitados por sentimentos contrários. Se a boa resolução
triunfa, eles oram a Deus, imploram aos Bons Espíritos que lhes dêem forças no
momento mais decisivo da prova.
Enfim, depois de alguns anos de meditação e de preces, o
Espírito se aproveita de um corpo que se prepara, na família daquele que ele
detestou, e pede, aos Espíritos encarregados de transmitir as ordens supremas,
permissão para ir cumprir sobre a Terra os destinos desse corpo que vem de se
formar. Qual será, então, a sua conduta nessa família? Ela dependerá da maior
ou menor persistência das suas boas resoluções. O contacto incessante dos seres
que ele odiou é uma prova terrível, da qual às vezes sucumbe, se a sua vontade
não for bastante forte. Assim, segundo a boa ou má resolução que prevalecer,
ele será amigo ou inimigo daqueles em cujo meio foi chamado a viver. É assim
que se explicam esses ódios, essas repulsas instintivas, que se notam em certas
crianças, e que nenhum fato exterior parece justificar. Nada, com efeito, nessa
existência, poderia provocar essa
antipatia. Para encontrar-lhe a causa, é necessário voltar os olhos ao passado.
Oh!, espíritas! Compreendei neste momento o grande papel
da Humanidade! Compreendei que, quando gerais um corpo, a alma que se encarna
vem do espaço para progredir. Tomai conhecimento dos vossos deveres, e ponde
todo o vosso amor em aproximar essa alma de Deus: é essa a missão que vos está
confiada e da qual recebereis a recompensa, se a cumprirdes fielmente. Vossos
cuidados, a educação que lhe derdes, auxiliarão o seu aperfeiçoamento e a sua
felicidade futura. Lembrai-vos de que a cada pai e a cada mãe, Deus perguntará:
“Que fizestes da criança confiada à vossa guarda?” Se permaneceu atrasada por
vossa culpa, vosso castigo será o de vê-la entre os Espíritos sofredores,
quando dependia de vós que fosse feliz. Então vós mesmos, carregados de
remorsos, pedireis para reparar a vossa falta: solicitareis uma nova
encarnação, para vós e para ela, na qual a cercareis de mais atentos cuidados,
e ela, cheia de reconhecimento, vos envolverá no seu amor.
Não recuseis, portanto, o filho que no berço repele a
mãe, nem aquele que vos paga com a ingratidão: não foi o acaso que o fez assim
e que vo-lo enviou. Uma intuição imperfeita do passado se revela, e dela podeis
deduzir que um ou outro já odiou muito ou foi muito ofendido, que um ou outro
veio para perdoar ou expiar. Mães! Abraçai, pois, a criança que vos causa
aborrecimentos, e dizei para vós mesmas: “Uma de nós duas foi culpada”. Merecei
as divinas alegrias que Deus concedeu à maternidade, ensinando a essa criança
que ela está na Terra para se aperfeiçoar, amar e abençoar. Mas, ah! Muitas
dentre vós, em vez de expulsar por meio da educação os maus princípios inatos,
provenientes das existências anteriores, entretém e desenvolvem esses
princípios, por descuido ou por uma culposa fraqueza. E, mais tarde, o vosso
coração ulcerado pela ingratidão dos filhos, será para vós, desde esta vida, o
começo da vossa expiação.
A tarefa não é tão difícil como podereis pensar. Não
exige o saber do mundo: o ignorante e o sábio podem cumpri-la, e o Espiritismo
vem facilitá-la, ao revelar a causa das imperfeições do coração humano.
Desde o berço, a criança manifesta os instintos bons ou
maus que traz de sua existência anterior. É necessário aplicar-se em
estudá-los. Todos os males têm sua origem no egoísmo e no orgulho. Espreitai,
pois, os menores sinais que revelam os germens desses vícios e dedicai-vos a
combatê-los, sem esperar que eles lancem raízes profundas. Fazei como o bom
jardineiro, que arranca os brotos daninhos à medida que os vê aparecerem na
árvore. Se deixardes que o egoísmo e o orgulho se desenvolvam, não vos
espanteis de ser pagos mais tarde pela ingratidão. Quando os pais tudo fizeram
para o adiantamento moral dos filhos, se não conseguem êxito, não tem do que
lamentar e sua consciência pode estar tranqüila. Quanto à amargura muito
natural que experimentam, pelo insucesso de seus esforços, Deus reserva-lhes
uma grande, imensa consolação, pela certeza de que é apenas um atraso
momentâneo, e que lhe será dado acabar em outra existência a obra então
começada, e que um dia o filho ingrato os recompensará com o seu amor. (Ver
cap. XIII, nº 19)
Deus não faz as provas superiores às forças daquele que
as pede; só permite as que podem ser cumpridas; se isto não se verifica, não é
por falta de possibilidades, mas de vontade. Pois quantos existem, que em lugar
de resistir aos maus arrastamentos, neles se comprazem: é para eles que estão
reservados o choro e o ranger de dentes, em suas existências posteriores.
Admirai, entretanto, a bondade de Deus, que nunca fecha a porta ao arrependimento.
Chega um dia em que o culpado está cansado de sofrer, o seu orgulho foi por fim
dominado, e é então que Deus abre os braços paternais para o filho pródigo, que
se lança aos seus pés. As grandes provas, — escutai bem, — são quase sempre o
indício de um fim de sofrimento e de um aperfeiçoamento do Espírito, desde que
sejam aceitas por amor a Deus. É um momento supremo, e é nele sobretudo que
importa não falir pela murmuração, se não se quiser perder o fruto da prova e
ter de recomeçar. Em vez de vos queixardes, agradecei a Deus, que vos oferece a
ocasião de vencer para vos dar o prêmio da vitória. Então quando, saído do
turbilhão do mundo terreno, entrardes no mundo dos Espíritos, sereis ali
aclamado, como o soldado que saiu vitorioso do centro da refrega.
De todas as provas, as mais penosas são as que afetam o
coração. Aquele que suporta com coragem a miséria das privações materiais,
sucumbe ao peso das amarguras domésticas, esmagadas pela ingratidão dos seus.
Oh!, é essa uma pungente angústia! Mas o que pode, nessas circunstâncias,
reerguer a coragem moral, senão o conhecimento das causas do mal, com a certeza
de que, se há longas dilacerações, não há desesperos eternos, porque Deus não
pode querer que a sua criatura sofra para sempre? O que há de mais consolador,
de mais encorajador, do que esse pensamento de que depende de si mesmo, de seus
próprios esforços, abreviar o sofrimento, destruindo em si as causas do mal?
Mas, para isso, é necessário não reter o olhar na Terra e não ver apenas uma
existência; é necessário elevar-se, pairar no infinito do passado e do futuro.
Então, a grande justiça de Deus se revela aos vossos olhos, e esperais com
paciência, porque explicou a vós mesmos o que vos parecia monstruosidade da
Terra. Os ferimentos que recebestes vos parecem simples arranhaduras. Nesse
golpe de vista lançado sobre o conjunto, os laços de família aparecem no seu
verdadeiro sentido: não mais os laços frágeis da matéria que ligam os seus
membros, mas os laços duráveis do Espírito, que se perpetuam, e se consolidam,
ao se depurarem, em vez de se quebrarem com a reencarnação.
Os Espíritos cuja similitude de gostos, identidade do
progresso moral e a afeição, levam a reunir-se, formam famílias. Esses mesmos
Espíritos, nas suas migrações terrenas, buscam-se para agrupar-se, como faziam
no espaço, dando origem às famílias unidas e homogêneas. E se, nas suas
peregrinações, ficam momentaneamente separados, mais tarde se reencontram,
felizes por seus novos progressos. Mas como não devem trabalhar somente para si
mesmos, Deus permite que Espíritos menos adiantados venham encarnar-se entre
eles, a fim de haurirem conselhos e bons exemplos, no interesse do seu próprio
progresso. Eles causam, por vezes, perturbações no meio, mas é lá que está a
prova, lá que se encontra a tarefa. Recebei-os, pois, como irmãos; ajudai-os,
e, mais tarde, no mundo dos Espíritos, a família se felicitará por haver salvo
do naufrágio os que, por sua vez, poderão salvar outros.
TEXTOS DE APOIO
PAIS DIFÍCEIS
Tema: Pais humanos
em divergência conosco
Nem sempre
surgem como sendo personalidade adequadas aos nossos desejos aqueles que a vida
nos oferece por pais na estância física.
Seriam
eles maus ou diferentes, porque não nos entendam, de pronto, os ideais? Numa interrogativa dessa natureza, toda vez
que estivermos na posição de filhos, é possível devamos formular semelhante
questão ao inverso.
Habitualmente, julgamos nossos pais humanos,. Quando a razão começa a
amadurecer no galho florido de nossos primeiros sonhos da mocidade.
Sobretudo,
pretendemos medir-lhes as supostas deficiências, depois de passados mais de
vinte ou trinta anos sobre os dias semi-conscientes de nossa infância. Se não concordam com as nossas opiniões,
freqüentemente apontamo-los por espíritos passadistas ou intolerantes.
Nessa
conceituação apressada, porém, esquecemo-nos de que eles carregam na alma as
cicatrizes profundas dos golpes que receberam no caminho da experiência,
quantas vezes por nossa causa, e, por isso mesmo, nem sempre lhes será possível
colocar os ouvidos ao nível em que se nos situa a palavra.
Fácil
considerá-los desorientados, quando não estejam de acordo com os preceitos que
aceitamos como sendo os mais justos;
entretanto, a distância enorme de tempo que existe entre a hora de nossa
análise e a hora do berço não nos permite saber quantos problemas e quanto fel
amargaram, até que adotassem padrões individuais de conduta, diversos daqueles
consagrados para a vida na Terra.
Muito simples
categorizá-los à conta de intransigentes, quando nos reprovam os pontos de
vista; contudo, raramente estamos nas condições precisas para avaliar as crises
que suportaram, a fim de que tentações e desequilíbrios não arrasassem o lar
que nos serve de apoio e ninho.
Se te
encontras à frente de pais magoados ou sofredores, recorda um homem generoso
que largou as conveniências da própria liberdade, para colocar uma família nos
ombros, e lembra-te de certa mulher, jovem e bela, que olvidou a si mesma e
renunciou à própria vida, padecendo na carne e na alma, para que pudesses
viver!...
Considera
que eles se reuniram, obedecendo os desígnios de Deus, a fim de que viesses ao
mundo, e se não puderam ser felizes como esperavam ou se as provações da
existência os tornaram assim, quando estiveres a ponto de censurá-los, pensa na
alegria e no amor com que eles dois rogaram a Deus te abençoasse, quando
nasceste, e, em silêncio, pede também a Deus que os abençoe.
Livro: Encontro marcado - Emmanuel – Chico Xavier
VENCENDO O
PERSONALISMO
"Admirai, no entanto, a bondade de Deus, que nunca
fecha a porta ao arrependimento. Vem um dia em que ao culpado, cansado de
sofrer, com o orgulho afinal abatido, Deus abre os braços para receber o filho
pródigo que se lhe lança aos pés. As provas rudes, ouvi-me bem, são quase
sempre indício de um fim de sofrimento e de um aperfeiçoamento do Espírito,
quando aceitas com o pensamento em Deus." 0 Evangelho Segundo Espiritismo
-cap. 14 - item 9
Espíritos saindo do primarismo para conquistas medianas,
nossa principal qualidade é a disposição de mudança na melhoria íntima, já que
nos arrependemos sinceramente do mal.
Iniciamos, a exemplo do filho pródigo do Evangelho, a
nossa viagem de volta à Casa Paterna buscando o aconchego e a dulcificação do
amor.
Essa volta, porém, exigir-nos-á o preço da reeducação, a
começar pelo personalismo que se solidifica na intimidade como um dos pilares
de nossas imperfeições.
Podemos entender o personalismo como sendo o apego com
tudo que parte de nós
Esse apego é fator sinalizador de gratificação afetiva
escassa conosco mesmo, insuficiência de auto-amor.
Quando nos amamos verdadeiramente não há motivo para a
atitude personalista, porque nos realizamos com o ato de ser sem aguardar
compensação, aplauso e possessividade.
Seu traço mais comum é a paixão crônica com o eu
manifestada de formas variadas, algumas delas são: irredutibilidade velada ou
clara, vaidade intelectual, dificuldade de conviver pacificamente com a
diversidade humana, manipulação interpretativa de conceitos, autoritarismo nas
decisões, boicote na cooperação a projetos que partam de outras cabeças,
agastamento ante as cobranças e correções, sistemática competição para produzir
além dos outros e da capacidade pessoal, coleção de animosidades, excessiva
valorização que conferimos a nós mesmos, "amor" próprio, apego às
nossas obras, superlativa fixação dos valores que possuímos ou acreditamos
possuir, pretensões de destaque e vício de ser elogiado.Lc 15:20.
Suas causas podem ser encontradas na história remota da
evolução, quando tivemos no instinto de conservação um importante fator de
fixação e agregação de valores morais consolidando a consciência de si. A
conservação como fonte de defesa e automatização da consciência de si tornou-se
egoísmo, uma exageração dessa necessidade natural, na qual nos encontramos até
hoje.
Na infância, encontramos outras tantas razões muito bem
abordadas por Sigmund Freud na questão da personalidade egocêntrica, cujo processo
de amadurecimento psíquico é mal conduzido, ensejando carências afetivas
profundas que irão refletir no homem adulto como insegurança e fantasias
narcisistas.
Em torno de seus passos sempre se encontram a fama, o
autoritarismo, a vaidade, o desejo de realce, a inveja: "súditos do
império do eu".
Tendo subtraída a empatia, o personalista é alguém que
não sabe dialogar, dividir, intercambiar.
Não sabendo interagir com o outro, entender-lhe os
motivos e necessidades, está sempre com uma "receita de viver" nos
lábios, impedindo-se da mais nobre ação íntima da caridade que é o ato de
compartilhar vivências com o ser alheio.
Como seu dinamismo é a centralização no "eu", a
reeducação dessa tendência está em aprender a ouvir o outro.
O ato de ouvir não se restringe a escutar palavras. Ouvir
é o estado de plena receptividade para o outro, independentemente de quem seja.
Essa conquista será um exercício doloroso ao
personalista. Exigirá desprendimento, humildade, assertividade, falar menos e
meditar mais.
Ouvir significa cultivar sensibilidade para com aqueles
que nos rodeiam; sensibilidade que nos permita sempre um foco positivo do
próximo entendendo-lhe as razões, ainda que esteja em equívoco, abrindo-se para
ser-lhe útil, desarmado de pré-conceitos.
Ouvir é aprender a receber críticas e admoestações até
daqueles que nos parecem despreparados para fazê-las, habituando-se a indagar a
real utilidade e importância das idéias pessoais.
Ouvir é alteridade, respeito às singularidades de cada
um. A partir daí se aprende a construir uma relação altruísta, pacífica e
saudável com as diferenças e os diferentes, nas experiências de todo instante.
A vitória sobre o personalismo, portanto, está em sair de
si acolhendo o outro diferente do eu com interesse altruísta e fraterno,
aprendendo a "esvaziar-se do ego", sentindo o outro.
O retorno à Casa Paterna inclui o ato de desprender-se de
si para ouvir o Pai. Tal lição será aprendida na escola da convivência diuturna
com quantos passem pelos nossos caminhos.
Fazendo assim assumiremos definitivamente a condição de
filhos pródigos em plenitude de sintonia com as riquezas de Deus, aprendendo a
ouvir-Lhe os alvitres no foro da consciência, em favor da nossa felicidade.
Livro: Mereça ser Feliz – Ermance Dufaux – Wanderley S. Oliveira
A ROTA DOS FILHOS
PRÓDIGOS
"Vem um dia em que ao culpado, cansado de sofrer,
com o orgulho afinal abatido, Deus abre os braços para receber o filho pródigo
que se lhe lança aos pés. As provas rudes, ouvi-me bem, são quase sempre
indício de um fim de sofrimento e de um aperfeiçoamento do Espírito, quando
aceitas com o pensamento em Deus." - Santo Agostinho. (Paris, 1862) O
Evangelho Segundo o Espiritismo — capítulo XIV — item 9
Os terapeutas e voluntários dispostos a servirem ao
próximo na tarefa de amor e recuperação espiritual não podem dispensar uma
análise cuidadosa da passagem evangélica do Filho Pródigo, constante no
Evangelho de Lucas, capítulo quinze, versículos onze a trinta e dois. Essa
mensagem evangélica é a história da peregrinação humana ao longo dos evos. A
história de nosso caminhar pela conquista da humanização.
Consideremos o egoísmo como a doença original do Ser.
Ninguém escapou de experimentá-lo na espiral do crescimento. Até certa etapa,
foi impulso para frente. Depois, quando a racionalidade permitiu a capacidade
de escolher, tornou-se a matriz nosológica das dores humanas, transformando-se
no hábito doentio de atender aos caprichos pessoais.
A "centralidade" do homem no ego estruturou a
arrogância - sentimento de exagerada importância pessoal. Perdemos o contato
com a fonte inexaurível da vida - o "^Divino" - e passamos a
peregrinar sob a escravidão do "eu". O resultado mais infeliz desse
caminhar "apartado de Deus" foi uma terrível sensação de abandono e
inferioridade. O ato de arrogar constituiu, pois, a proteção instintiva da alma
contra a sensação de menos-valia. Esse foi seu primeiro passo no processo
evolutivo em direção à ilusão, ou seja, a criação de uma imagem idealizada - um
mecanismo de defesa para não desistir -, que fixou a vida mental em noções
delirantes sobre si mesma. Assim nasceram no tempo as "matrizes
psíquicas" das mais graves patologias mentais.
Essa auto-imagem é o "delirio-primitivo", um
recurso que, paulatinamente, a consciência foi "obrigada" a construir
no conjunto das percepções de si mesma para se defender da sensação de
indignidade perante a vida.
Nessa ótica podemos pensar as psicopatologias como uma
recusa em ser humano, uma desobediência por não querer assumir o que se é na
caminhada do progresso. Tornar-se humano significa assumir sua pequenez no todo
universal, ter consciência da cruel sensação de "desconexão" com o
Criador e do que realmente representamos no contexto do bailado cósmico. Mas
também significa assumir-se como "Filho de Deus", um Filho Pródigo de
heranças excelsas que precisa descobri-las por si próprio e adquirir o título
de "Herdeiro em Sua Obra". Isso exige trabalho, dinamismo, ação e
responsabilidade.
Portanto, a velha questão filosófica da realidade é mais
velha que se imagina. Fragmentação psíquica não se restringe apenas ao
resultado de desajustes ou traumas. Existe um desajuste original, um
"gatilho milenar" dos processos psíquicos do Espírito, agravados
pelas sistemáticas recusas em admitir a realidade íntima no peregrinar das
reencarnações.
Esse mecanismo defensivo primitivo foi trazido para a
Terra por almas desobedientes que o consolidaram em outros orbes. As noções de
abandono e castigo trazidas com os deportados incitaram os habitantes singelos
da Terra a imitarem as atitudes de rebeldia, orgulho, revolta e desvalor.
Analisar o adoecimento psíquico sem essa anamnese ontológico-espiritual é
desconsiderar a causa profunda das enfermidades sob a perspectiva sistêmica da
evolução.
Algumas patologias constitucionais, endógenas, encontram
explicações ricas na compreensão das histórias longínquas da deportação. Isso
não é uma hipótese tão distante quanto se imagina, porque os efeitos dessa
história milenar são ativos e determinantes na atualidade em bilhões de
criaturas atormentadas e enfermas. O "desajuste primário", a
dificuldade em aceitar a realidade terrena, é fator patogênico de bilhões de
almas reencarnadas e de mais um conjunto de bilhões de outras fora do corpo,
formando uma "teia vibratória psicótica" no cinturão da psicosfera
terrena. A energia emanada da sensação coletiva de inferioridade é uma força
epidêmica que puxa o homem para traz e dificulta o avanço dos que anseiam pela
ascensão.
O "tamponamento mental" na transmigração
intermundos foi parcial. Os "símios psíquicos", quando fora do corpo
pelo sono físico, tinham noções claras do sucedido, acendendo o destrutivo
pavio da inconformação ao regressarem à carne, dilatando a sensação de prisão,
ódio e rebeldia. O ato de rebelar-se passou a ser uma constante nas comunidades
que se formaram. Estamos falando de um tempo aproximado de trinta a quarenta
mil anos passados.
Surgem, nesse contexto emocional e psicológico, entre dez
a vinte mil anos atrás, as primeiras manifestações de perfeccionismo - o anseio
neurótico de resgate do perfeito dentro da concepção dos "anjos
decaídos". Um litígio que essas almas deportadas assumiram com Deus para
provarem a grandeza que supunham possuir.
Quando foi dinamizado o processo distônico? Na Terra?
Fora dela? Ou teríamos também a hipótese de uma loucura aprendida? Que casos de
patologias se enquadrariam no perfil psíquico dos que habitavam a Terra antes
da vinda dos deportados! Que componentes nas doenças severas nos permitem
analisá-las como rebeldia imitada ou rebeldia processual? Que natureza de
obsessão envolve as patologias severas? Até onde e como a vivência do Espírito
errante influencia nesse contexto?
Lançando o olhar para tão longe nas rotas de crescimento
humano, fica mais permissível compreender a estreiteza dos conceitos de muitas
correntes das ciências psíquicas, que esboçam uma valorosa cartografia da
mente, porém, rudimentar, incompleta. Sem o estudo dos ascendentes espirituais,
jamais teremos uma análise judiciosa das psicopatologias. Mormente dos casos
raros e desafiantes que têm surgido na transição do planeta, cujo Código
Internacional de Doenças é insuficiente para classificar.
Igualmente, é imperioso considerar a relação entre
psicopatologia e erraticidade. Existem ignorados lances de dor e "morte
psicológica" que são deflagrados em aglomerações subcrostais ou regiões
abissais da Terra onde transita uma semi civilização de almas. Autênticos
"símios psíquicos".
Em tempo algum, como atualmente, no orbe terreno, tivemos
mais que 1/5 (um quinto) de sua população geral em processo de reencarnação.
Reencarnar não é tão fácil quanto possa parecer. E' oportunidade rara e
"disputada". Cada história individual requer inúmeros quesitos para
ser disponibilizada. Laços afetivos, urgência das necessidades sociais,
natureza das habilidades desenvolvidas pelo Espírito, natureza dos compromissos
com os seres das regiões da maldade. Os pontos de análise que pesam para a
possibilidade de um Espírito reencarnar são muito variados. Há corações que
nesse trajeto de deportação, ou seja, nos últimos quarenta mil anos, estiveram
no corpo menos de vinte vezes. O que significa afirmar que reencarnam
aproximadamente de dois em dois mil anos. Outros não reencarnam há mais de dez
mil anos.
Portanto, como analisar doenças mentais graves sem
considerar que estagiamos na "vida dos Espíritos", pelo menos, dois
terços do tempo da evolução, incluindo a emancipação pelos desdobramentos
noturnos?! Como ignorar a decisiva influência das experiências da erraticidade?
Enquanto os homens, à luz do Espiritismo, analisam a raiz de suas lutas
íntimas, lançando o olhar para as vidas passadas, urge uma reflexão sobre a
influência das experiências do Espirito errante.
Inúmeras almas já "renascem adoecidas", isto é,
com os componentes psíquicos enfermiços em efervescência. Perdem o prazer de
viver ou nunca o experimentam em decorrência da força dos laços que ainda
mantêm com essas "regiões infernais" da erraticidade.
Assevera O Livro dos Espíritos na questão 975: "Para
o Espírito errante, já não há Deus. Ele se acha como tendo saído de um nevoeiro
e vê o que o distancia da felicidade. Mais sofre então, porque compreende
quanto foi culpado. Não tem mais ilusões: vê as coisas na sua realidade."
"Na erraticidade, o Espírito descortina, de um lado,
todas as suas existências passadas; de outro, o futuro que lhe está prometido e
percebe o que lhe falta para atingi-lo. E qual viajor que chega ao cume de uma
montanha: vê o caminho que percorreu e o que lhe resta percorrer, afim de
chegar ao fim da suajornada."
Os profissionais da saúde mental e mesmo quantos sofrem o
amargor do adoecimento psíquico necessitam aprofundar a sonda do conhecimento
nessas desafiantes questões. Somente através de "laboratórios de
amor" nos serviços de intercâmbios socorristas, realizados distantes de
preconceitos e convenções, poderá o médico ou o pesquisador espírita deflagrar
um leque imenso de observações e informações para auxiliar a humanidade cansada
e oprimida.
Além dos reflexos que conduzem em si mesmos, os doentes
mentais cujos quadros exibem componentes dessa natureza ainda sofrem de
simbioses intrigantes e desconhecidas até mesmo pelos mais experientes
doutrinadores.
A história da evolução da alma na humanidade é assunto de
valor na erradicação dos mais variados problemas sociais. Já não basta mais uma
análise perfunctória das lutas humanas. Imperioso que os corações mais
comprometidos com a arte de amar, estando ou não sob a luz da ciência,
lancem-se ao mister da "pesquisa fraterna" e da "investigação
educativa", em atividades que transponham os limites institucionais do
exercício mediúnico ou de terapias experimentais, no intuito de rasgarem véus.
Uma indagação do codificador na questão 973 de O Livro
dos Espíritos merece análise na conclusão de nossos raciocínios:
"Quais os sofrimentos maiores a que os Espíritos
maus se vêem sujeitos?"
"Não há descrição possível das torturas morais que
constituem a punição de certos crimes. Mesmo o que as sofre teria dificuldade
em vos dar delas uma idéia. Indubitavelmente, porém, a mais horrível consiste
em pensarem que estão condenados sem remissão."
E' por conta desse sentimento de condenação, incrustado
no psiquismo desde tempos imemoriais, que a criatura, em tese, não consegue ou
desconhece o prazer de viver, a saúde.
Possivelmente, a esmagadora maioria da população terrena,
por essa razão, esteja situada psicologicamente na passagem do Filho Pródigo
exatamente no versículo dezenove que diz:
"Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como
um dos teus jornaleiros ".
A rota evolutiva dos Filhos Pródigos - que somos todos
nós - é um percurso de esbanjamento psíquico através da atitude arrogante. Tal
ação não poderia ser correspondida com outra sensação senão de vazio interior,
cansaço de si e desvalimento, que são os elementos emocionais estruturadores da
depressão - doença da alma ou estado afetivo de penúria e insatisfação. A
terminologia contemporânea que melhor define esse "caos sentimental"
é a baixa auto-estima, quadro psicológico que nos enseja ampliar ostensivamente
os limites conceituais dos episódios depressivos, sob enfoque do Espírito
imortal.
Nesta hora grave pela qual passa a Terra, um destrutivo
sentimento de indignidade aninha-se na vida psicológica dos homens. Raríssimos
corações escapam dos efeitos de semelhante tragédia espiritual, causadora de
feridas diversas. Uma dolorosa sensação de inadequação e desvalor pessoal
assoma o campo das emoções com efeitos lastimáveis. Abandono, carência,
solidão, sensação de fracasso e diversos tormentos da mente agrupam-se na
construção de complexos psíquicos de desamor e adversidade consigo próprio.
Salienta Santo Agostinho: Vem um dia em que ao cu/pado,
cansado de sofrer, com o orgulho afinal abatido, Deus abre os braços para
receber o filho pródigo que se lhe lança aos pés.
Imprescindível atestar que nossa trajetória eivada de
quedas e erros não retirou de nenhum de nós a excelsa condição de Filhos de
Deus. A Celeste Bondade do Mais Alto, mesmo ciente de nossas mazelas,
conferiu-nos a bênção da reencarnação com enobrecedores propósitos de aquisição
da Luz. E a Lei do Amor, mola propulsora do progresso e das conquistas
evolutivas.
A Misericórdia, todavia, não é conivente. Espera-nos no
cadinho educativo do serviço paciente de burilamento íntimo. Contra os anelos
de ascensão, encontramos em nossa intimidade os frutos amargos da semeadura
inconsequente. São forças vivas e renitentes a vencer.
Sem dúvida, a ignorância cultural é causa de misérias
sociais incontáveis, entretanto, a ignorância moral, aquela que mata ideais e
aprisiona o homem em si mesmo, é a maior fonte de padecimentos da humanidade
terrena.
O amor a si mesmo ainda é uma lição a aprender. Uma longa
e paciente lição!
Quantas reencarnações neste momento têm por objetivo
precípuo restabelecer o desejo de viver e recuperar a alegria de sentir-se em
paz! Como operar semelhante transformação sem a aplicação da caridade consigo
mesmo?
Criados para o amor, nosso destino glorioso é a
integração com a energia da vida e com a liberdade em seu sentido de plenitude
e paz interior. Ninguém ficará fora desse Fatalismo Divino.
Distantes do amor a si, ficaremos à mercê das provações
sem recursos para sustentar na vida interior os valores latentes que nos
conduzirão à missão individual estabelecida pelo Pai em nosso favor.
O auto-amor é base para uma vida em sintonia com a
mensagem do Evangelho do Cristo. Sua proposta, aliás, é que nos amemos tanto
quanto ao nosso próximo.
Descobrir nosso valor pessoal na Obra da Criação é
assumirmo-nos como somos. Sois Deuses, eis a mensagem de inclusão e o convite
para uma participação mais consciente e responsável no destino de cada um de
nós.
Inspirada em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Ermance
Dufaux garimpa pérolas de raro valor com as quais, abnegadamente, oferece-nos
esta preciosa jóia literária para a alma. Suas reflexões constituem o antídoto
para a velha doença da qual buscamos nos desvencilhar: o egoísmo e suas múltiplas
manifestações doentias.
Felicita-nos avalizá-la, sob a égide do Espírito Verdade,
para que destine aos homens na Terra uma mensagem de paz interior no resgate da
nossa condição excelsa de Filhos Pródigos e Homens de Bem.
Calderaro, Hospital Esperança, Março de 2005. *
•"João, 10:34
*Nota do médium: o prefácio de Calderaro foi escrito no
Hospital Esperança e transcrito pela autora espiritual Ermance Dufaux através
da psicografia.
Calderaro é o iluminado instrutor de André Luiz na obra
"No Mundo Maior", psicografia de Francisco Cândido Xavier - edição
FEB.
O Hospital Esperança é uma obra de amor erguida por
Eurípedes Barsanulfo na erraticidade.
Livro: Escutando Sentimentos - Ermance Dufaux - Wanderley
S. Oliveira
CARTA A
MEU FILHO
J.
Cap. XIV – Item 9
Meu filho, dito esta carta para que você saiba que estou
vivo.
Quando você me estendeu a taça envenenada que me liquidou
a existência, não pensávamos nisso.
Nem você, nem eu.
A idéia da morte vagueava longe de mim, porque esperava
de suas mãos apenas o remédio anestesiante para a minha enxaqueca.
Entendi tudo, porém, quando você, transtornado, cerrou
subitamente a porta e exclamou com frieza:
-Morre, velho!
As convulsões que me tomavam de improviso,
traumatizavam-me a cabeça...
Era como se afiada navalha me cortasse as vísceras num
braseiro de dor.
Pude ainda, no entanto, reunir minhas forças em suprema
ansiedade e contemplar você, diante de meus olhos.
Suas palavras ressoavam-me aos ouvidos: __ “morre,
velho!”
Era tudo o que você, alterado e irreconhecível, tinha
agora a dizer.
Entretanto, o amor em minh’alma era o mesmo.
Tornei à noite recuada quando o afaguei pela primeira
vez.
Sua mãezinha dormia, extenuada...
Pequenino e tenro de encontro ao meu peito, senti em você
meu próprio coração a vagir nos braços...
E as recordações desfilaram, sucessivas.
Você, qual passarinho contente a abrigar-se em meu colo,
o álbum de fotografias em que sua imagem apresentava desenvolvimento gradativo
em todas as posições, as festas de aniversário e os bolos coloridos enfeitados
de velas que seus lábios miúdos apagavam sempre numa explosão de alegria...
Rememorei nossa velha casa, a princípio humilde e pobre, que o meu suor
convertera em larga habitação, rica e farta... Agoniado, recordei incidentes,
desde muito esquecidos, nos quais me observava expulsando crianças ternas e
maltrapilhas do grande jardim de inverno para que nosso lar fosse apenas seu...
Reencontrei-me, trabalhando, qual suarento animal, para que as facilidades do
mundo nos atendessem as ilusões e os caprichos...
Em todos os quadros a se me reavivarem na lembrança, era
você o grande soberano de nosso pequeno mundo...
O passado continuou a desdobrar-se, dentro de mim.
Revisei nossa luta para que os livros lhe modificassem a mente, o baldado
esforço para que a mocidade se lhe erigisse em alicerce nobre ao futuro...
De volta às antigas preocupações que me assaltavam,
anotei-lhe, de novo, as extravagâncias contínuas, os aperitivos, os bailes, os
prazeres, as companhias desaconselháveis, a rebeldia constante e o carro de
luxo com que o presenteei num momento infeliz...
Filho do meu coração, tudo isso revi...
Dera-lhe todo o dinheiro que conseguira ajuntar, mas você
desejava o resto.
Nas vascas da morte, vi-o, ainda, mãos ansiosas,
arrebatando-me o chaveiro para surripiar as últimas jóias de sua mãe...Vi
perfeitamente quando você empalmou o dinheiro, que se mantinha fora de nossa
conta bancária, e, porque não podia odiá-lo, orei – talvez com fervor e
sinceridade pela primeira vez – rogando a Deus nos abençoasse e compreendendo,
tardiamente, que a verdadeira felicidade de nossos filhos reside, antes de
tudo, no trabalho e na educação com que lhes venhamos a honrar a vida.
Não dito esta carta para acusá-lo.
Nem de leve me passou pelo pensamento o propósito de
anunciar-lhe o nome.
Você continua sangue de meu sangue, coração de meu
coração.
Muitas vezes, ouvi dizer que há filhos criminosos, mas
entendo hoje que, na maioria das circunstâncias, há, junto deles, pais
delinqüentes por acreditarem muito mais na força do cofre que na riqueza do
espírito, afogando-os, desde cedo, na sombra da preguiça e no vício da
ingratidão.
Não venho falar, assim, unicamente a você, porque seu
erro é o meu erro igualmente. Falo também a outros pais, companheiros meus de
esperança, para que se precatem contra o demônio do ouro desnecessário, porque
todo ouro desnecessário, quando não busca o conselho da caridade, é tentação à
loucura.
Há quem diga que somente as mães sabem amar e, realmente,
o regaço materno é uma bênção do paraíso. Entretanto, meu filho, os pais também
amam e, por amar imensamente a você, dirijo-lhe a presente mensagem,
afirmando-lhe estar em prece para que a nossa falta encontre socorro e
tolerância nos tribunais da Divina Justiça, aos quais rogo me concedam, algum
dia, a felicidade de tê-lo novamente ao meu lado, por retrato vivo de meu
carinho... Então nós dois juntos, de passo acertado no trabalho e no bem,
aprenderemos, enfim, como servir ao mundo, servindo a Deus.
Do livro O
Espírito da Verdade. Espíritos Diversos. Psicografia de Francisco Cândido
Xavier.
ESPÍRITA EM
FAMÍLIA NÃO ESPÍRITA
Dos temas relacionados a grupos consangüíneos, temos a
considerar um dos mais importantes para nós, qual seja aquele dos companheiros
espíritas ligados a familiares que ainda não conseguem aceitar os ensinamentos
do Espiritismo.
Freqüentemente, os amigos incursos nessa prova recorrem
ao Mundo Espiritual pedindo orientação. Suspiram por ambiente que lhes seja
próprio aos ideais, querem afetos que lhes incentivem as realizações, e, porque
o mundo Espiritual lhes respeite o livre-arbítrio, contornando-lhes os
problemas, sem ferir-lhes a iniciativa, muitos deles entram em dúvida,
balançando o coração, entre o anseio de fuga e o acatamento ao dever.
O espírita, porém, comprometido com os parentes não espíritas,
permanece acordado as realidades da reencarnação; sabe que ninguém assume
obrigações à revelia do foro íntimo e que ninguém renasce sem motivo, nessa ou
naquela equipe familiar. Seja atendendo a exigências de afinidade, escolha,
expiação ou tarefa específica, o Espírito reencarna ou trabalha junto daqueles
com quem lhe compete evoluir, aprimorar-se, quitar-se, desincumbir-se de certos
encargos ou atender a programas de ordem superior e, por isso, não dispõe do
direito de deserção da oficina doméstica, tão-só porque aí não encontre
criaturas capazes de lhe partilharem os sonhos de elevação. Aliás, exatamente aí,
na forja de inquietantes conflitos sentimentais, é que se edificará para a
ascensão a que aspira.
Cônjuge difícil, pais incompreensivos, irmãos-enigmas ou
filhos-problemas constituem na
Terra o corpo docente de que necessitamos na escola familiar.
Com eles e por eles, é que avaliamos as nossas próprias claudicações, de modo a
corrigi-las. Indiscutivelmente, em explanando assim, não induzimos companheiro
algum a compartilhar criminalidade em nome de obrigação.
Desejamos unicamente ponderar que não é razoável abandonar
ou interromper ajustes edificantes sem que a nossa consciência esteja em paz com
o dever cumprido.
Sempre que nos reconheçamos desambientados na família do
mundo, à face dos princípios espíritas que os entes queridos não se mostrem, de
imediato, dispostos a abraçar, estamos na posição do devedor entre credores
vários, com a valiosa possibilidade de ressarcir nossos débitos, ou na condição
do aluno em curso intensivo de burilamento individual, com a bendita
oportunidade de adquirir atestados de competência, em diversas lições.
Livro: Estude E Viva - Francisco Cândido Xavier E Waldo
Vieira Pelos Espíritos Emmanuel E André Luiz
PONTOS PERIGOSOS
PARA OS PAIS
Desconsiderar a importância do exemplo na escola do lar.
Ignorar que os filhos chegam à reencarnação através
deles, sem serem deles.
Transformar as crianças em bibelôs da família, fugindo de
ajudá-las na formação do caráter desde cedo.
Ajudar os filhos inconsideradamente tanto quanto
sobrecarregá-los de obrigações incompatíveis com a saúde ou a disposição que
apresentem.
Distanciar-se da assistência necessária aos pequeninos
sob o pretexto de poderem remunerar empregados dignos, mas incapazes de
substituí-los nas responsabilidades que receberam.
Desconhecer que os filhos são Espíritos diferentes, portadores
da herança moral que guardam em si mesmos, por remanescentes felizes ou
infelizes de existências anteriores.
Desejar que os filhos lhes sejam satélites, olvidando que
eles caminham na trajetória que lhes é peculiar, com pensamentos e atitudes
pessoais.
Desinteressar-se dos estudos que lhes dizem respeito.
Relegar-lhes as mentes às superstições e fantasias, sem
prestar-lhes explicações honestas em torno do mundo e da vida.
Não lhes pedir trabalho e cooperação na medida das
possibilidades.
Livro: Estude E Viva - Francisco Cândido Xavier E Waldo
Vieira Pelos Espíritos Emmanuel E André Luiz
O APEGO AFETIVO
Chico Xavier
Em carta, Chico Xavier explica-nos os antecedentes da
mensagem referente ao apego afetivo no meio familial:
“Na noite anterior a uma de nossas reuniões públicas
estivemos juntos, provavelmente umas cinqüenta pessoas, num encontro amigo
dedicado ao culto do Evangelho no lar. É o assunto dessa reunião doméstica foi
a dificuldade para nos separarmos dos laços de família quando os entes amados
escolhem caminhos diversos dos nossos. Como era natural, o tema foi
ardentemente debatido. E, na noite seguinte, antes da sessão pública,
associando-se-nos irmãos de outras localidades, o assunto prosseguiu.
Iniciadas as nossas tarefas O Evangelho Segundo o
Espiritismo nos ofereceu para estudo o item 9 do capítulo XIV, claramente
colocado nas apreciações em foco. E, ao fim da reunião, o nosso abnegado
Emmanuel nos deu a página intitulada “Desvinculação”, que envio ao caro amigo
no, esperança de que ela nos sirva aos estudos e reflexões habituais.”.
Do livro Na Era do
Espírito Psicografia de Francisco C. Xavier e Herculano Pires. Espíritos
Diversos
DESVINCULAÇÃO
Emmanuel
Para muitos companheiros na Terra a desvinculação no
campo afetivo é prova difícil.
Desligamento do grupo familiar, distância da convivência.
Hora da diferenciação de alguém perante outro alguém.
Se te vês num momento assim, na posição de quem pode
libertar associados de ideal e de afinidade, não hesites no bem por fazer.
Aqueles que anseiam por independência e mudança, depois
de te compartilharem a vida, são pedintes de tranqüilidade e renovação. Não
precisam tanto de teu ouro e assistência, nome e prestígio. Rogam-te, acima de
tudo, escoras de tolerância e bondade, a fim de que te possam deixar sem que o
espinheiro da mágoa te nasça no coração.
Medita naqueles que, um dia, igualmente largaste para
tomar embarcações outras, diferentes do navio em que se te localizava a área
doméstica, de modo a te fazeres ao mar profundo e vasto da experiência
terrestre.
Familiares que te amavam a presença e amigos que te
disputavam a companhia se viram, de instante para outro, apartados de ti por
efeito de tuas próprias deliberações.
Assim nos expressamos porque freqüentemente a harmonia na
desvinculação depende daqueles que já amadureceram na vida física, aos quais se
pede amparo e segurança, auxílio e aprovação.
Se alguém ao teu lado te solicita o cancelamento de
compromissos e deveres assumidos para contigo, concede a paz a quem necessita
de paz a fim de atender a impositivos da vida em outros setores de evolução.
Realmente desejas que os descendentes se garantam para a
felicidade, não queres que os filhos bem-amados atravessem tribulações e
enganos que te amarguram a infância ou a juventude; habituas-te a desaprovar as
resoluções de amigos que se afastam para caminhos que já sabes estarem
encharcados de lágrimas, nem concordas em que os entes queridos venham a
transitar por estradas que já trilhaste entre pedras e aflições, entretanto,
por mais no doa ao coração — muitos daqueles que mais amamos chegaram à Terra
exatamente para isso.
Diante dos companheiros que se te distanciam da
convivência ou que te dizem adeus para te reencontrarem mais tarde, em outros e
novos níveis de espaço e tempo, não lastimes nem condenes.
Bendize e auxilia sempre.
Os que partem ou se te separam da estrada, no dia-a-dia,
esperam de ti, sobretudo, o patrocínio do amor e o refúgio da bênção.
Do livro Na Era do
Espírito Psicografia de Francisco C. Xavier e Herculano Pires. Espíritos
Diversos
NO TREM DOS
ESTUDANTES
Irmão Saulo
Emmanuel coloca o problema da desvinculação afetiva em
dois planos: o do afastamento de pessoas queridas que se retiram do lar e o da
partida para “outros e novos níveis de espaço e tempo”. Em ambos os casos
rompe-se o vínculo da convivência. Em ambos os casos há sofrimento moral de
parte a parte. O assunto é tratado no item 9 do capítulo ZIV de O Evangelho
Segundo o Espiritismo, e ali encontra-mos o seguinte aviso aos que sofrem: “As
grandes provas são quase sempre o indício de um fim de sofrimento e de um
aperfeiçoamento do Espírito, desde que sejam aceitas por amor a Deus”.
O desastre do Trem dos Estudantes, em 8 de junho de 1972,
entre Suzano e Jundiapeba, inclui-se no capítulo das provas coletivas. Além dos
mortos e feridos estão sofrendo essa prova os familiares duramente atingidos,
os amigos e colegas das vitimas. A tragédia caiu sobre verdadeira multidão.
Estamos em face de um processo de desvinculação em massa. Quantos lares
enlutados pela perda de entes queridos, quantos corações dilacerados, quantos
espíritos aturdidos pela brutalidade da ocorrência'.
O que mais impressiona é o número de jovens que tiveram
sua vida bruscamente cortada, quando a caminho da escolas superiores que
cursavam em Mogi das Cruzes. Tudo è isso parece aterrador, desnorteante, como
se estivéssemos num mundo caótico, sem ordem, sem lei, sem Deus. Não obstante,
o Universo nos responde com a ordem absoluta das suas leis que tudo regem,
desde a relva humilde na Terra até às constelações gigantescas no infinito.
Nada acontece por acaso. Tudo resulta da lei de causa e
efeito. E todo efeito tem um sentido: o da evolução. Todos somos espíritos
faltosos e sofremos as provas que pedimos antes de encarnar. Temos dívidas
coletivas a resgatar. Mas além do resgate espera-nos a liberdade, a paz, o
progresso. Os jovens que morreram foram poupados de sofrimentos futuros numa
vida em que a doença, a velhice e a morte são o salário de todos nós.
Transferidos para a Vida Maior, que realmente corresponde
às suas necessidade e à sua natureza, são todos eles seres espirituais e não
materiais. Agora precisam da compreensão dos pais, dos irmãos, dos amigos e
colegas que deixaram na Terra. Precisam de paz, de preces, de bons pensamentos,
das vibrações de sincera amizade para se recuperarem em espírito.
Do livro Na Era do Espírito Psicografia de Francisco C.
Xavier e Herculano Pires. Espíritos Diversos
OPINIÕES SOBRE A JUVENTUDE
Chico Xavier
“Em nossa reunião pública O Evangelizo Segundo o
Espiritismo nos ofereceu para estudo o item 9 do capítulo XIV, referente ao
problema da indiferença dos filhos para com os pais terrestres. O Livro dos
Espíritos nos deu a questão nº. 264 sobre a escolha de provas e rumos feita
pelo Espírito antes da sua reencarnação.
Estabeleceu-se o diálogo entre vários pais e mães
presentes à reunião, de permeio com as dissertações evangélicas pelos irmãos
que se incumbem dessa tarefa. A troca de pontos de vista foi pacifica, mas
muito ardente.
As opiniões sobre a juventude foram as mais diversas.
Como de hábito, Emmanuel escreveu ao término do nosso encontro a página a que
deu o título de “Jovens difíceis', que não só por mim, mas por instância de
muitos dos amigos visitantes, envio-lhe para os seus comentários em favor de nossos
estudos.”
Do livro Na Era do
Espírito Psicografia de Francisco C. Xavier e Herculano Pires. Espíritos
Diversos
JOVENS DIFÍCEIS
Emmanuel
Terás talvez contigo jovens difíceis para instalar
convenientemente na vida.
Inquestionavelmente, é preciso apoiá-los quanto se nos
faça possível. Capacitemo-nos, porém, de que ampará-los não será traçar-lhes a
obrigação de copiar-nos os tipos de felicidade ou vivência.
Claro que não nos compete o direito de abandoná-los a si
próprios quando ainda inexperientes. Entretanto, isso não significa devamos
destruir-lhes a vocação, furtando-lhes a autenticidade em que se lhes
caracteriza a existência.
Sonharemos para nossos filhos, no Mundo, invejável
destaque nas profissões liberais com primorosas titulações acadêmicas, mas é
possível hajam renascido conosco para os serviços da gleba, aspirando a
adquirir duros calos nas mãos a fim de se realizarem na elevação que demandam.
De outras vezes ideamos para eles a formação do lar em
que nos premiem o anseio de possuir respeitáveis descendentes. No entanto, é
possível estejam conosco para longas experiências em condições de celibato,
carregando problemas e provas que lhes dizem respeito ao burilamento
espiritual.
Às vezes, gritamos revoltados contra eles, exigindo nos
adotem o modo de ser. Freqüentemente, porém, se isso acontece, acabamos por
perdê-los em mãos que lhes deslustram os sentimentos ou lhes estragam a vida,
quando não os empurramos, inconscientemente, para a furna dos tóxicos ou para
os despenhadeiros do desequilíbrio mental com que se matriculam nos manicômios.
Compadece-te dos filhos que pareçam diferentes de ti.
Aceita-os como são e auxilia a cada um deles na
integração com o trabalho em que se façam dignos da vida que vieram viver.
Ampara-os sem imposição e sem violência.
Antes de te surgirem à frente por filhos de teu amor, são
filhos de Deus, cujo Amor Infinito vela em nós e por nós.
Ainda mesmo quando evidenciem características
inquietantes, abençoa-os e orienta-os, quanto possível, a fim de que se
mantenham por esteios vivos de rendimento do bem no Bem Comum.
E mesmo quando não te possam compartilhar do teto e se te
afastem da companhia, a pretexto de independência, abençoa-os mesmo assim,
compreendendo que todos nós, desde que nos vinculemos à ordem e ao trabalho no
dever que nos compete, sem prejudicar a ninguém, desfrutamos por Lei Divina o
privilégio de descobrir qual é para nós o melhor caminho de agir e servir,
viver e sobreviver.
Do livro Na Era do
Espírito Psicografia de Francisco C. Xavier e Herculano Pires. Espíritos
Diversos
AMPARO DOS PAIS
Irmão Saulo
Todos os jovens precisam do amparo dos pais, embora na
adolescência, em geral, a rebeldia dos filhos seja inevitável. Uma tradição de severidade paterna, pautada
pelo autoritarismo político e religioso, deu aos pais o conceito errôneo de que
devem sujeitar os filhos - e particularmente os jovens - aos seus princípios e
maneira de ser. Mas os jovens trazem a
sua própria personalidade e o seu próprio roteiro de vida, e justamente nessa
face da adolescência estão firmando o seu eu diante do mundo.
É conhecido o
problema da "crise da adolescência", sobre o qual Maurice Debesse
escreveu um dos seus livros mais belos e profundos. Mas é em René Hubert, no capítulo sobre a Psicologia
da Juventude, de sua "Pedagogia Geral", que encontramos maior
sintonia com os princípios espíritas.
Psicólogos e Pedagogos conhecem bem esse problema que
responde pelo chamado "conflito de gerações". Emmanuel nos dá a sua
chave ao lembrar que cada espírito já traz para a Terra a sua prova e o seu
roteiro de serviço, escolhidos livremente na vida espiritual segundo as suas
necessidades de evolução e aprimoramento.
O amparo dos pais
não pode ser dado por meio de imposição e autoritarismo, sob pena de deixar de
ser amparo para se transformar em tirania.
Se o
"conflito de gerações" sempre existiu no mundo, agora se mostra mais
violento porque o tempo da tirania está no fim e porque a era de transição em
que vivemos acentua nos jovens os anseios do futuro. Os pais só poderão ampará-los se tiverem amor
suficiente para compreendê-los e ajudá-los sem exigências. Está é também uma hora de aprendizado para os
pais. E só o amor verdadeiro pelos
filhos pode socorrê-los.
O jovem de hoje é
o homem de amanhã. Os tempos mudam e não
podemos querer sujeitá-los ao nosso modelo.
Qualquer coação paterna só poderá afastá-los de casa e da família,
lançando-os a meios e companhias perigosos.
A verdadeira educação é o equilíbrio entre o amor e a compreensão. A energia paterna e a disciplina filial
brotam naturalmente entre essas duas margens, fluindo como as águas de uma
fonte na paisagem da vida.
Do livro Na Era do
Espírito Psicografia de Francisco C. Xavier e Herculano Pires. Espíritos
Diversos
EFEITOS ENERGÉTICOS
DA CARÊNCIA AFETIVA E DA SOLIDÃO
"Vem um dia em que ao culpado, cansado de sofrer,
com o orgulho afinal abatido, Deus abre os braços para receber o filho pródigo
que se lhe lança aos pés."
Santo Agostinho (Paris, 1862). 0 evangelho segundo o
espiritismo, capítulo 14, item 9.
À luz do dicionário emocional, carência significa falta
de nutrição afetiva básica, constituindo-se em mais um dos efeitos nocivos da
conduta egoísta ao longo de vidas sucessivas.
Agravada pela educação infantil deficiente, a baixa
autoestima ou a autoaversão é um dos traços psíquicos e emocionais da maioria
dos habitantes da Terra. Considerada na medicina do mundo astral como uma
doença matriz, a baixa autoestima é o alicerce de uma enorme variedade de
sofrimentos humanos.
A carência de afeto pode ser definida como um processo de
"anorexia emocional" ou de desnutrição de alimento essencial para a
saúde integral.
Essa desnutrição pode impulsionar o coração humano ao
padecimento de algumas doenças, como rejeição, descrença, insatisfação crônica,
pânico, depressão, dependência, sensação de incompetência e outros graves
quadros agudos que configuram o dilacerante estado interior de insegurança
emocional e solidão. Na raiz dessa dor, o ser humano encontra-se angustiado e
desesperado por ser amado.
A insegurança e a solidão desvitalizam progressivamente o
sistema energético de defesa, abrindo os chacras às mais diversas agressões
predatórias astrais de bactérias, vírus e micro-organismos capazes de adoecer o
corpo físico. A energia emanada pela insegurança é uma poderosa usina de forças
catalisadoras, isto é, ela atrai as chamadas forças invasoras ambientais,
fragilizando a saúde física e energética.
Essa usina funciona como um ímã puxando, sugando e
rastreando sem interrupção o que pode preencher a carência, a falta de
nutrição. É como uma perturbação nos corpos sutis da criatura estabelecendo
condições favoráveis aos mais diversos quadros, incluindo a vampirização energética
de encarnados.
Quando nos sentimos carentes, é comum embarcarmos em
relacionamentos confusos, pois buscaremos no outro o amor que não conseguimos
desenvolver para sustento pessoal. Quanto mais carentes, menos gostamos de nós
e mais desesperada será a busca pelo outro para preencher a nossa vida. 0 clima
astral de quem vive assim é vulnerável e agrega um alimento emocional de baixa
qualidade nos ambientes e nas pessoas de sua convivência.
A carência afetiva é uma doença que solicita tratamento,
apoio e orientação. Essa insatisfação com nós mesmos, que chega até os limites
da aversão, tem um poder extraordinário de camuflagem e, por essa razão,
impede-nos de verificar com exatidão qual a raiz de muitos de nossos
comportamentos perante a vida.
Condutas nascidas da raiva, do medo, do orgulho, da
tristeza e da culpa costumam esconder esse desgosto de nós mesmos.
A parábola do filho pródigo narrada no Evangelho é a
história de nossa evolução. Depois de cansados de esbanjar a herança divina com
nossas escolhas infelizes, estamos fazendo o caminho de volta para Deus,
resgatando o divino dentro de nós. Retornamos cansados, pobres e infelizes.
Deus, porém, como narra o texto evangélico, nos acolhe com bondade,
oferecendo-nos o melhor.
A bondade do Criador, no entanto, não nos dispensa de colher
o fruto de nossa plantação.
Carência é resultado de egoísmo milenar. E' efeito de
quem não entrou em comunhão com a vida, com o próximo e com as leis superiores
do bem e do amor.
A nenhum de nós faltarão as condições de superação e
reeducação. Se desejarmos sinceramente retomar nosso caminho em direção a uma
vida farta, preenchedora e sob a presença da alegria, compete-nos o aprendizado
de transformar os impulsos personalistas em valores morais. Parece um paradoxo:
o que nos falta para superar o estado de carência é saber nos cuidar não mais
com egoísmo centralizador, não mais com caprichos pessoais atendidos, mas com
aceitação, amor, acolhimento, coragem e humildade.
Uma das mais velhas feridas evolutivas da alma é a
sensação de abandono, sendo a carência afetiva e a solidão suas máscaras.
Idealizar um mundo perfeito com pessoas irreais e ignorar a fé em forças
maiores são caminhos diretos para a prisão do auto desamparo.
Reeducar nossa carência e solidão significa ajustar nossa
vida mental e emocional à realidade. Quem espera mais do que aquilo que o outro
pode dar vive escravo da mágoa. Quem descrê que existem forças capazes de
acolher seus esforços no bem estaciona nos pátios da acomodação e do
pessimismo.
O carente espera demais. 0 solitário descrê.
O carente magoa-se. O solitário desanima.
Quem espera muito ou desanima com facilidade está na
contramão do fluxo da vida, que é dar, realizar e continuar sem cessar.
Carência e solidão são resolvidas quando fazemos o
movimento contrário. Ao invés de exigir e esperar, fazer e escolher.
Os outros não têm o poder de travar nossas vidas, a menos
que lhes confiramos essa capacidade. A vida não está contra nossos anseios de
luz, a menos que acreditemos nessa ilusão.
De fato, todos precisamos ser amados, pois essa é uma
necessidade básica. Mas em muitas ocasiões, no canteiro da vida, haveremos de
primeiramente colher os frutos indesejáveis de nossa plantação, posteriormente
plantar as novas sementes do bem, e mais adiante colher o amor que desejamos.
Plante sem temor. Quem se lança ao trabalho de semear,
ainda que necessitando do alimento, terá gratas e louváveis surpresas no
caminho.
Qualquer ato de amor, por menor que seja, é devolvido com
bênçãos que nem imaginamos. Mesmo precisando ser amados, amemos e confiemos na
misericórdia das leis celestes, recordando a fala sábia de Santo Agostinho:
"Vem um dia em que ao culpado, cansado de sofrer, com o orgulho afinal
abatido, Deus abre os braços para receber o filho pródigo que se lhe lança aos
pés."
Livro: Emoções que Curam – Ermance Dufaux –
Wanderley S. Oliveira
ANTE À JUVENTUDE
Como jovem arrolas queixas e azedumes, apontando o fracasso
das gerações transatas, derrapando nos desfiladeiros da insensatez, em busca de
novos desencantos.
Anotas erros que se sucedem na chamada "sociedade de
consumo", com prevenções injustificáveis e complexas, sem que apresentes
qualquer programa correto de elevação eficiente.
Repassas mentalmente as conquistas tecnológicas destes
dias, acusas os familiares e genitores que debandam da intimidade doméstica
para as lutas externas, entregando os filhos a servos e a escolas-maternais, a
creches e jardins de infância, do que resultam desamor e desajustes
irreversíveis.
A "volta às origens", que preconizas, inspirada
na rebeldia contra a organização social, impõe-te reações que fazem esquecer os
patrimônios da inteligência para açularem os instintos que se desgovernam,
conspirando lamentavelmente contra a vida...
Requisitas justificações para a fuga da realidade,
evadindo-te na direção dos alucinógenos e do sexo em desalinho, flutuando,
desde então, em sonhos fantásticos que se transformam em altas cargas esquizofrênicas
nos tecidos sutis do espírito encarnado...
São de todos os tempos, porém, as lutas juvenis laborando
por afirmação, renovando estruturas sociais e econômicas, ativando interesses
artísticos e culturais, abrindo horizontes dantes jamais sonhados nas paisagens
da Ciência.
Doutrinas cínicas medraram sempre desde Diógenes que
estruturava o seu pensamento ético na concepção do desrespeito à ordem,
fundamentando as suas lições no culto à liberdade excessiva em detrimento da
liberdade mesma que devia existir entre as demais pessoas à sua volta...
Floresceram, também, os motivadores da ação edificante
que enobreceram a espécie humana, fazendo-a sobreviver às calamidades e
impulsionando o ser na direção da saúde e da relativa felicidade que já alguns podem
fruir mesmo na Terra.
Jovem, não é apenas aquele que dispõe de aparelhagem
fisiológica nova. A juventude é estado interior que resulta do otimismo e da
elevação a que se vincula o homem, inspirado pela indestrutibilidade do
espírito - única segurança para quem empreende a tarefa da própria paz.
Jovens há que envelheceram nos compromissos negativos e
não podem recomeçar, amargurados e amargurantes como se encontram. Enquanto
outros, idosos, estão rejuvenescidos pelo ideal que esposam sem envelhecerem na
caducidade dos propósitos em que insistem.
Corpo jovem não indica posição ideal da vida, antes é
compromisso para com a própria evolução.
Espíritos amadurecidos no bem, em se emboscando nos
corpos, refletem na indumentária de que se utilizam para avançar as condições
de equilíbrio e sensatez, com que impulsionam a máquina do progresso. O mesmo
ocorre com os espíritos em experiências iniciais da programática evolutiva, que
apenas exteriorizam as paixões do instinto e as expressões da forma sem maiores
vôos para as elevadas aspirações.
Não cogites, pois, de considerar pelo corpo o valor do
homem. Enquanto se pode marchar sem remorsos nem constrições mantém-se a
juventude, possui-se a condição de mocidade para sustentar a jornada.
Constrói, desse modo, o amanhã, desde hoje, enquanto
jovens são as tuas carnes e poderosas as tuas fôrças, dinamizando as
possibilidades fomentadoras da harmonia, a fim de que o teu amanhã te chegue
com bênçãos de paz, mediante o legado de gerações felizes, para os quais colaboraste,
pelo sentido da ordem e do dever retamente cumprido à semelhança de Jesus, que,
aos 12 anos, já superava os doutores da Lei, e, ao partir da Terra, muito
jovem, renovou pelo exemplo todas as paisagens do planeta e plantou as bases do
Novo Mundo, para cuja construção foste chamado e na qual te encontras.
"Foge também das paixões da mocidade e segue a
justiça, a fé, o amor, a paz com aqueles que invocam o Senhor com um coração
puro". 2ª Epístola de Paulo a Timóteo: capítulo 2º, versículo 22.
"Desde pequenina a criança manifesta os instintos
bons ou maus que traz da sua existência anterior. Ao estudá-los devem os pais
aplicar-se. Todos os males se originam do egoísmo e do orgulho. Espreitem,
pois, os pais os menores indícios reveladores do gérmen de tais vícios e cuidem
de combatê-los, sem esperar que lancem raízes profundas". Evangelho
Segundo o Espiritismo - Capítulo 14º - Item 9, parágrafo 8.
FRANCO, Divaldo Pereira. Florações Evangélicas. Pelo
Espírito Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 45.
BOM ÂNIMO
Hoje experimentas maior soma de aflições. Observaste a
grande mole dos sofredores: mães desnutridas apertando contra o seio sem
vitalidade filhos, misérrimos, desfalecidos, quase mortos; mutilados que
exibiam as deformidades à indiferença dos passantes na via pública; aleijões
que se ultrajavam a si mesmos ante o desprezo a que se entregavam nos
"pontos" de mendicância em que se demoram; ébrios contumazes
promovendo desordens lamentáveis; enfermos de vária classificação desfilando as
misérias visíveis num festival de dor; jovens perturbados pela revolução dos
novos conceitos e vigentes padrões éticos; órfãos...
Pareceu-te mais tristonha a paisagem humana, e consideras
mentalmente os dramas íntimos que vergastam o homem, na atual conjuntura
social, moral e evolutiva do Planeta.
Examinas as próprias dificuldades, e um crepúsculo de
sobras lentamente envolve o sol das tuas alegrias e esperanças.
Não te desalentes, porém.
O corpo é oportunidade iluminava mesmo para aqueles que
te parecem esquecidos e que supões descendo os degraus da infelicidade na
direção do próprio aniquilamento.
Nascer e morrer são acidentes biológicos sob o comando de
sábias leis que transcendem à compreensão comum.
Há, no entanto, acompanhando todos os caminhantes a forma
carnal, amorosos Benfeitores interessados na libertação deles. Não os vendo, os
teus olhos se enganam na apreciação; não os ouvindo, a tua acústica somente
registra lamentos; não os sentindo, as parcas percepções de que dispões não
anotam suas mãos quais asas de caridade a envolvê-los e sustentá-los.
Perdido em meandros o rio silencioso e perseverante se
destina ao mar. Agita e submissa nas mãos do oleiro a argila alcança o vaso
precioso. Sofrido o Espírito nas malhas da lei redentora atinge a paz.
Ante a sombra espessa da noite não esqueças o Sol
fulgurante mais além. E aspirando o sutil aroma de preciosa flor não olvides a
lama que lhe sustenta as raízes...
Viver no corpo é também resgatar.
O Espírito eterno, evoluindo nas etapas sucessivas da
vestimenta carnal, se despe e se reveste dos tecidos orgânicos para aprender e
sublimar.
Numa jornada prepara o sentimento, noutra aprimora a
emoção, noutra mais aperfeiçoa a inteligência...
Nascer ou renascer simplesmente não basta. O labor,
interrompido, pois, prosseguirá agora ou depois. Não cultives, portanto, o
pessimismo, nem te abatam as dores.
Cada um se encontra no lugar certo, à hora própria e nas
circunstâncias que lhe são melhores para a evolução. Não há ocorrência
ocasional ou improvisada na Legislação Divina.
Quando retornou curado para agradecer a Jesus da morféia
de que fora libertado, o samaritano que formava o grupo dos dez leprosos,
conforme a narração evangélica, fez-nos precioso legado: o do reconhecimento.
Quando o centurião afirmou ao Senhor que uma simples
ordem Sua faria curado o seu servo, ofertou-nos sublime herança: a fé sem
limites.
Quando a hemorroíssa, vencendo todos os obstáculos, tocou
o Rabi, deixou-nos precioso ensino: a coragem da confiança.
Identificado ao espírito do Cristo, não te deixes
consumir pelo desespero ou pela melancolia, sob revolta injustificada ou
indiferença cruel. Persevera, antes, no exame da verdade e insiste no ideal de
libertação interior, ajudando e prosseguindo, além, porque se hoje a angústia e
o sofrimento te maceram, em resgate que não pode transferir, amanhã rutilará no
corpo ou depois dele o sol sublime da felicidade em maravilhoso amanhecer de
perene paz.
"Tem ânimo filhos: perdoados são os teus pecados."
- Mateus: 9-2.
"Deus não dá prova superior às forças daquele que a
pede; só permite as que podem ser cumpridas. Se tal não sucede, não é que falte
possibilidade: falta a vontade". - E.S.E. Cap. XIV Item 9.
FRANCO, Divaldo Pereira. Florações Evangélicas. Pelo
Espírito Joanna de Ângelis. LEAL.
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