1 – Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque ou
há de aborrecer um e amar ao outro, ou há de entregar-se a um e não fazer caso
do outro; vós não podeis servir a Deus e às riquezas. (Lucas, XVI: 13).
2 – E eis que, chegando-se a ele um, lhe disse: Bom
Mestre, que obras boas devo eu fazer, para alcançar a vida eterna? Jesus lhe
respondeu: Por que me chamas bom? Bom só Deus o é. Porém, se tu queres entrar
na vida, guarda os mandamentos. Ele lhe perguntou: Quais? E Jesus lhe disse:
Não cometerás homicídio; não adulterarás; não cometerás furto; não dirás falso
testemunho; Honra a teu pai e a tua mãe, e ama o teu próximo como a ti mesmo. O
mancebo lhe disse: Eu tenho guardado tudo isso desde a minha mocidade; que é
que me falta ainda? Jesus lhe respondeu: Quer-se ser perfeito, vai, vende o que
tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me. O
mancebo, porém, como ouviu esta palavra, retirou-se triste; porque tinha muitos
bens. E Jesus disse aos seus discípulos: Em verdade vos digo que um rico
dificultosamente entrará no Reino dos Céus. Ainda vos digo mais: que mais fácil
é passar um camelo(1) pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no Reino
dos Céus. (Mateus, XIX: 16-24 – Lucas, XVII: 18-25 – Marcos, X: 17-25).
(1) Esta figura audaciosa pode parecer um pouco forçada,
porque lhe deram esta última acepção. É provável que no pensamento de Jesus
estivesse a primeira, pois não se percebe a relação entre um camelo e uma
agulha. É que, em hebreu, a mesma palavra se emprega para designar “cabo” e
“camelo”. A tradução com a primeira acepção seria pelo menos mais natural.
TEXTOS DE APOIO
DINHEIRO
"Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie
de males; e, nessa cobiça, alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si
mesmos com muitas dores." Paulo. (I TIMOTEI, 6:10.)
Paulo não nos diz que o dinheiro, em si mesmo, seja
flagelo para a Humanidade.
Várias vezes, vemos o Mestre em contato com o assunto,
contribuindo para que a nossa compreensão se dilate. Recebendo certos alvitres
do povo que lhe apresenta determinada moeda da época, com a efígie do imperador
romano, recomenda que o homem dê a César o que é de César, exemplificando o
respeito às convenções construtivas.
Numa de suas mais lindas parábolas, emprega o símbolo de
uma dracma perdida.
Nos movimentos do Templo, aprecia o óbolo pequenino da
viúva.
O dinheiro não significa um mal. Todavia, o apóstolo dos
gentios nos esclarece que o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males.
O homem não pode ser condenado pelas suas expressões
financeiras, mas, sim, pelo mau uso de semelhantes recursos materiais,
porquanto é pela obsessão da posse que o orgulho e a ociosidade, dois fantasmas
do infortúnio humano, se instalam nas almas, compelindo-as a desvios da luz
eterna.
O dinheiro que te vem às mãos, pelos caminhos retos, que
só a tua consciência pode analisar à claridade divina, é um amigo que te busca
a orientação sadia e o conselho humanitário.
Responderás a Deus pelas diretrizes que lhe deres e aí de
ti se materializares essa força benéfica no sombrio edifício da iniqüidade.
Emmanuel - Do livro "Caminho, Verdade e
Vida", de Chico Xavier
MOEDA E MOENDA
Moeda é peça que representa dinheiro.
Moenda é peça que mói alguma coisa.
Moeda é força que valoriza.
Moenda é força que transforma.
Moeda é finança.
Moenda é ação.
Moeda é possibilidade.
Moenda é suor.
Moeda é recurso.
Moenda é utensílio.
A moeda apóia.
A moenda depura.
A moeda abona.
A moenda prepara.
Moeda parada é promessa estanque.
Moenda inerte é instrumento inútil.
Moeda mal dirigida traz sofrimento.
Moenda mal governada gera desastre.
Movimente a moeda nas boas obras e melhorará sua vida.
Acione a moenda no serviço e terá mesa farta.
A moeda é a moenda de seu caminho.
Lance hoje a sua moeda, na moenda do bem, praticando os
seus ideais de trabalho e progresso, educação e caridade, e encontrará você
amanhã preciosas colheitas de simpatia e cooperação, alegria e luz.
Hilário Silva - Do
livro O Espírito da Verdade. Francisco
Cândido Xavier.
A QUEM SEGUES
“Mas vós não
aprendestes assim a Cristo.”— Paulo. (EFÉSIOS, capítulo 4, versículo 20.)
O homem, como é natural, encontrará diversas sugestões no
caminho.
Não somente do plano material receberá certos alvitres
tendentes a desviá-lo das realizações mais nobres.
A esfera invisível, imediata ao círculo de suas cogitações,
igualmente pode oferecer-lhe determinadas perspectivas que se não coadunam com
os deveres elevados que a existência implica em si mesma.
Na consideração desse problema, os discípulos sinceros
compreendem a necessidade de sua centralização em Jesus-Cristo.
Quando esse imperativo é esquecido, as maiores
perturbações podem ocorrer.
O aprendiz menos centralizado nos ensinos do Mestre
acredita que pode servir a dois senhores e, por vezes, chega a admitir que é
possível atender a todos os desvairamentos dos sentidos, sem prejudicar a paz
de sua alma. Justificam-se, para isso, em doutrinas novas, filhas das novidades
científicas do século; valem-se de certos filósofos improvisados que conferem
demasiado valor aos instintos; mas, chegados a esse ponto, preparem-se para os
grandes fracassos porque a necessidade de edificação espiritual permanece viva
e cada vez mais imperiosa. Poderão recorrer aos conceitos dos pretensos sábios
do mundo, entretanto, Jesus não ensinou assim.
Emmanuel - Do livro Caminho Verdade e Vida. Psicografia
de Francisco Cândido Xavier
OS DISCÍPULOS
Frequentemente, era nas proximidades de Cafarnaum que o
Mestre reunia a grande comunidade dos seus seguidores. Numerosas pessoas o
aguardavam ao longo do caminho, ansiosas por lhe ouvirem a palavra instrutiva.
Não tardou, porém, que ele compusesse o seu reduzido colégio de discípulos.
Depois de uma das suas pregações do novo reino, chamou os
doze companheiros que, desde então, seriam os intérpretes de suas ações e de
ensinos. Eram eles os homens mais humildes e simples do lago de Genesaré.
Pedro, André e Felipe eram filhos de Betsaida, de onde
vinham igualmente Tiago e João, descendentes de Zebedeu. Levi, Tadeu e Tiago,
filhos de Alfeu e sua esposa Cléofas, parenta de Maria, eram nazarenos e amavam
a Jesus desde a infância, sendo muitas vezes chamados “os irmãos do Senhor”, à
vista de suas profundas afinidades afetivas. Tomé descendia de um antigo
pescador de Dalmanuta e Bartolomeu nascera de uma família laboriosa de Caná da
Galiléia. Simão, mais tarde denominado “o Zelota”, deixara a sua terra de
Canaan para dedicar-se à pescaria e somente um deles, Judas, destoava um pouco
desse concerto, pois nascera em Iscariote e se consagrara ao pequeno comércio
em Cafarnaum, onde vendia peixes e quinquilharias.
O reduzido grupo de companheiros do Messias experimentou
a princípio certas dificuldades para harmonizar-se. Pequeninas contendas
geravam a separatividade entre eles. De vez em quando, o Mestre os surpreendia
em discussões inúteis sobre qual deles seria o maior no reino de Deus: de
outras vezes, desejavam saber qual, dentre todos, revelava sabedoria maior, no
campo do Evangelho.
Levi continuava nos seus trabalhos da coletoria local,
enquanto Judas prosseguia nos seus pequenos negócios, embora se reunissem
diàriamente aos demais companheiros. Os dez outros viviam quase que
constantemente com Jesus, junto às águas transparentes do Tiberíades, como se
participassem de uma festa incessante de luz.
Iniciando-se, entretanto, o período de trabalhos ativos
pela difusão da nova doutrina, o Mestre reuniu os doze em casa de Simão Pedro e
lhes ministrou as primeiras instruções referentes ao grande apostolado.
De conformidade com a narrativa de Mateus, as
recomendações iniciais do Messias aclaravam as normas de ação que os discípulos
deviam seguir para as realizações que lhes competia concretizar.
– Amados – entrou Jesus a dizer-lhes, com mansidão
extrema – não tornareis o caminho largo por onde anda toda gente, levada pelos
interesses fáceis e inferiores ; buscareis a estrada escabrosa e estreita dos
sacrifícios pelo bem de todos. Também não penetrareis nos centros das
discussões estéreis, à moda dos samaritanos, nos das contendas que nada
aproveitam às edificações do verdadeiro reino nos corações com sincero esforço.
Ide antes em busca das ovelhas perdidas da casa de Nosso
Pai, que se encontram em aflição e voluntàriamente desterradas de seu divino
amor. Reuni convosco todos os que se encontram de coração angustiado e
dizei-lhes, de minha parte, que é chegado o reino de Deus.
Trabalhai em curar os enfermos, limpar os leprosos,
ressuscitar os que estão mortos nas sombras do crime ou das desilusões ingratas
do mundo, esclarecei todos os espíritos que se encontram em trevas, dando de
graça o que de graça vos é concedido.
Não exibais ouro ou prata em vossas vestimentas, porque o
reino do céu reserva os mais belos tesouros para os simples.
Não ajunteis o supérfluo em alforges, túnicas ou
alpercatas para o caminho, porque digno é o operário do seu sustento.
Em qualquer cidade ou aldeia onde entrardes buscai saber
quem deseje aí os bens do céu, com sinceridade e devotamento a Deus, e reparti
as bênçãos do Evangelho com os que sejam dignos, até que vos retireis.
Quando penetrardes nalguma casa, saudai-a com amor.
Se essa casa merecer as bênçãos de vossa dedicação, desça
sobre ela a vossa paz; se, porém, não for digna, torne essa mesma paz aos
vossos corações.
Se ninguém vos receber, nem desejar ouvir as vossas
instruções, retirai-vos sacudindo o pó e vossos pés, isto é, sem conservardes
nenhum rancor sem vos contaminardes da alheia iniqüidade.
Em verdade vos digo que dia virá em que menos rigor haverá para os grandes
pecadores, do que para quantos procuram a Deus com os lábios da falsa crença,
sem a sinceridade do coração.
É por essa razão que vos envio como ovelhas ao antro dos
lobos, recomendando-vos a simplicidade das pombas e a prudência das serpentes
Acautelai-vos, pois, dos homens, nossos irmãos, porque
sereis entregues aos seus tribunais e sereis açoitados nos seus templos
suntuosos, de onde está exilada a idéia de Deus.
Sereis conduzidos, como réus, à presença de governadores
e reis, de tiranos e descrentes, afim de testemunhardes a minha causa.
Mas, nos dias dolorosos da humilhação, não vos dê cuidado
como haveis de falar, porque minha palavra estará convosco e sereis inspirados,
quanto ao que houverdes de dizer.
Porque não somos nós, que falamos; o espírito amoroso de
Nosso Pai é que fala em todos nós.
Nesses dias de sombra, em que se lutará no mundo por meu
nome, o irmão entregará à morte o próprio irmão, o pai os filhos, espalhando-se
nos caminhos o rastro sinistro dos lobos da iniqüidade.
Os que me seguirem serão desprezados e odiados por minha
causa, mas aquele que perseverar até ao fim, será salvo.
Quando, pois, fordes perseguidos numa cidade,
transportai-vos para outra, porque em verdade vos afirmo que jamais estareis
nos caminhos humanos sem que vos acompanhe o meu pensamento.
Se tendes de sofrer, considerai que também eu vim à Terra
para dar o testemunho e não é o discípulo mais do que o mestre, nem o servo
mais que o seu senhor.
Se o adversário da luz vai reunir contra mim as tentações
e as zombarias, o ridículo e a crueldade, que não fará aos meus discípulos?
Todavia, sabeis que acima de tudo está o Nosso Pai e que,
portanto, é preciso não temer, pois um dia, toda a verdade será revelada e todo
o bem triunfará.
O que vos ensino em particular, difundi publicamente;
porque o que agora escutais aos ouvidos será objeto de vossas pregações de cima
dos telhados.
Trabalhai pelo reino de Deus e não temais os que matam o
corpo, mas não podem aniquilar a alma ; temei antes os sentimentos malignos que
mergulham o corpo e a alma no inferno da consciência.
Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? Entretanto,
nenhum deles cai dos seus ninhos sem a vontade do nosso Pai. Até mesmo os
cabelos de nossas cabeças estão contados.
Não temais, pois, porque um homem vale mais que muitos
passarinhos.
Empregai-vos no amor do Evangelho e qualquer de vós que
me confessar diante do homens, eu o confessarei igualmente diante de meu Pai
que está nos céus.
As recomendações de Jesus foram ouvidas ainda por algum
tempo e, terminada a sua alocução, no semblante de todos perpassava a nota
íntima da alegria e da esperança. Os apóstolos criam contemplar o glorioso
porvir do Evangelho do Reino e estremeciam do júbilo de seus corações.
Foi quando Judas Iscariotes, como que despertando, antes
de todos os companheiros, daquelas profundas emoções de encantamento, se
adiantou para o Messias, declarando em termos respeitosos e resolutos :
– Senhor, os vossos planos são justos e preciosos ;
entretanto, é razoável considerarmos que nada poderemos edificar sem a
contribuição de algum dinheiro.
Jesus contemplou-o serenamente e redargüiu:
– Será que Deus precisou das riquezas precárias para construir
as belezas do mundo? Em mãos que saibam dominá-lo, o dinheiro é um instrumento
útil, mas nunca será tudo, porque, acima dos tesouros perecíveis, está o amor
com os seus infinitos recursos.
Em meio da surpresa geral, Jesus, depois de uma pausa,
continuou :
– No entanto, Judas, embora eu não tenha qualquer moeda
do mundo, não posso desprezar o primeiro alvitre dos que contribuirão comigo
para a edificação do reino de meu Pai, no espírito das criaturas. Põe em
prática a tua lembrança, mas tem cuidado com a tentação das posses materiais.
Organiza a tua bolsa de cooperação e guarda-a contigo; nunca, porém, procures o
que ultrapassa o necessário.
Ali mesmo, pretextando a necessidade de incentivar os
movimentos iniciais da grande causa, o filho de Iscariotes fez a primeira
coleta entre os discípulos. Toda as possibilidades eram mínimas, mais alguns
pobres denários foram recolhidos com interesse. O Mestre observava a execução daquela primeira
providência com um sorriso cheio de apreensões enquanto Judas guardava
cuidadosamente o fruto modesto de sua lembrança material.
Em seguida, apresentando a Jesus a bolsa minúscula, que
se perdia nas dobras de sua túnica, exclamou satisfeito
– Senhor, a bolsa é pequenina, mas constitui o primeiro
passo para que se possa realizai alguma coisa...
Jesus fitou-o serenamente e retrucou em tom profético
– Sim, Judas, a bolsa é pequenina ; contudo, permita Deus
que nunca sucumbas ao seu peso!
IRMÃO X - HUMBERTO DE CAMPOS - Do livro “Boa Nova”.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
UM SÓ SENHOR
“Nenhum servo pode servir a dois senhores."- Jesus. (LUCAS,
16:13.)
Se os cristãos de todos os tempos encontraram dolorosas
situações de perplexidade nas estradas do mundo, é que, depois dos apóstolos e
dos mártires, a maioria tem cooperado na divulgação de falsos sentimentos, com
respeito ao Senhor a que devem servir.
Como o Reino do Cristo ainda não é da Terra, não se pode
satisfazer a Jesus e ao mundo, a um só tempo. O vício e o dever não se aliam na
marcha diária.
Que dizer de um homem que pretenda dirigir dois centros
de atividade antagônica, em simultâneo esforço?
Cristo é a linha central de nossas cogitações.
Ele é o Senhor único, depois de Deus, para os filhos da
Terra, com direitos inalienáveis, porquanto é a nossa luz do primeiro dia
evolutivo e adquiriu-nos para a redenção com os sacrifícios de seu amor.
Somos servos dEle. Precisamos atender-lhe aos interesses
sublimes, com humildade. E, para isso, é necessário não fugir do mundo, nem das
responsabilidades que nos cercam, mas, sim, transformar a parte de serviço
confiada ao nosso esforço, nos círculos de luta, em célula de trabalho do
Cristo.
A tarefa primordial do discípulo é, portanto, compreender
o caráter transitório da existência carnal, consagrar-se ao Mestre como centro
da vida e oferecer aos semelhantes os seus divinos benefícios.
Emmanuel - Do livro Caminho Verdade e Vida. Francisco Cândido Xavier.
FIDELIDADE A DEUS
Depois das primeiras prédicas de Jesus, respeito aos
trabalhos ingentes que a edificação do d Deus existia dos seus discípulos,
esboçou-se na fraterna comunidade um leve movimento e incompreensão. Que? pois
a Boa-Nova reclamaria tamanhos sacrifícios? Então o Senhor, que sondava o
íntimo de seus companheiros diletos, os reuniu, uma noite, quando a turba os
deixara a sós e já algumas horas haviam passado sobre o por do sol.
Interrogando-os vivamente, provocou a manifestação dos
seus pensamentos e dúvidas mais íntimas. Após escutar-lhes as confidencias
simples e sinceras, o Mestre ponderou:
– Na causa de Deus, a fidelidade deve ser uma das
primeiras virtudes. Onde o filho e o pai que não desejem estabelecer, como
ideal de união, a confiança integral e recíproca? Nós não podemos duvidar da
fidelidade do Nosso Pai para conosco. Sua dedicação nos cerca os espíritos,
desde o primeiro dia. Ainda não o conhecíamos e já ele nos amava. E, acaso,
poderemos desdenhar a possibilidade da retribuição? Não seria repudiarmos o
título de filhos amorosos, o fato de nos deixarmos absorver no afastamento,
favorecendo a negação?
Como os discípulos o escutassem atentos, bebendo-lhe os
ensinos, o Mestre acrescentou :
– Tudo na vida tem o preço que lhe corres-ponde. Se
vacilais receosos ante as bênçãos o sacrifício e as alegrias do trabalho,
meditai nos tributos que a fidelidade ao mundo exige. O prazer não costuma
cobrar do homem um imposto alto e doloroso? Quanto pagarão, em flagelações
íntimas, o vaidoso e o avarento? Qual o prego que o mundo reclama ao gozador e
ao mentiroso?
Ao clarão alvacento da Lua, como pai bondoso rodeado de
seus filhinhos, Jesus "reconheceu que os discípulos, diante das suas
cariciosas perguntas, haviam transformado a atitude mental, como que iluminadas
por súbito clarão.
Tìmidamente, Tiago, filho de Alceu, contou a história de
um amigo que arruinara a saúde, por excessos nos prazeres condenáveis.
Tadeu falou de um conhecido que, depois de ganhar grande
fortuna, se havia tornado avarento e mesquinho a ponto de privar-s do
necessário, para multiplicar o número de suas moedas, acabando assassinado
pelos ladrões.
Pedro recordou o caso de um pescador de sua intimidade,
que sucumbira tràgicamente, por efeito de sua desmedida ambição.
Jesus, depois de ouvi-los, satisfeito, perguntou :
– Não achais enorme o tributo que o mundo exige dos que
se apegam aos seus gozos e riquezas? Se o mundo pede tanto, porque não poderia
Deus pedir-nos lealdade ao coração? Trabalhamos agora pela instituição divina
do seu reino na Terra; mas, desde quando estará o Pai trabalhando por nós? As
interrogativas pairavam no espaço sem resposta dos discípulos, porque, acima de
tudo, eles ouviam a que lhes dava o próprio coração. Do firmamento infinito os
reflexos do luar se projetavam no lençol tranqüilo do lago, dando a impressão
de encantador caminho para o horizonte, aberto sobre as águas, por entre
deslumbramentos de luz.
Enquanto os companheiros meditavam no que dissera Jesus,
Tiago se lhe dirigiu, nestes termos:
– Mestre, tenho um amigo, de Corazin que vos ouviu a
palavra santificante e desejava seguir-vos ; porém, asseverou-me que o reino
pregado pela vossa bondade está cheio de numerosos obstáculos, acrescentando
que Deus deve mostrar-se a nós outros somente na Vitória e na ventura. Devo
confessar que hesitei ante as suas observações, mas, agora, esclarecido pelos
vossos ensinamentos, melhor vos compreendo e afirmo-vos que nunca esquecerei
minha fidelidade ao reino!...
A voz do apóstolo, na sua confissão espontânea, se
revelava tocada de entusiasmo doce e amigo e o Senhor, aproveitando a hora para
a semeadura divina, exclamou bondoso:
– Tiago, nem todos podem compreender a verdade de uma só
vez. Devemos considerar que o mundo está cheio de crentes que não entendem a
proteção às céu, senão nos dias de tranqüilidade e de triunfo. Nós, porém, que
conhecemos a vontade suprema, temos que lhe seguir o roteiro. Não devemos
pensar no Deus que concede, mas no Pai que educa; não no Deus que recompensa,
sim no Pai que aperfeiçoa. Daí se segue que a nossa batalha pela redenção tem
de ser perseverante e sem tréguas...
Nesse ínterim, todos os companheiros de apostolado,
manifestando o interesse que os esclarecimentos da noite lhes causavam, se
puseram a perguntar, com respeito e carinho.
– Mestre – exclamou um deles – não seria melhor fugirmos
do mundo para, viver na incessante contemplação do reino?...
– Que diríamos do filho que se conservasse em perpétuo
repouso, junto de seu pai que trabalha sem cessar, no labor da grande família?
Respondeu Jesus.
– Mas, de que modo se há de viver como homem e como
apóstolo do reino de Deus na face deste mundo”. – inquiriu Tadeu.
– Em verdade – esclareceu o Messias – ninguém pode
servir, simultaneamente, a dois senhores. Fora absurdo viver ao mesmo tempo
para os prazeres condenáveis da Terra e para as virtudes sublimes do céu. O
discípulo da Boa-Nova tem de servir a Deus, servindo à sua obra neste mundo.
Ele sabe que se acha a laborar com muito esforço num grande campo, propriedade
de seu Pai, que o observa com carinho e atenta com amor nos seus trabalhos.
Imaginemos que êsse campo estivesse cheio de inimigos : por toda parte, vermes
asquerosos, víboras peçonhentas, tratos de terra improdutiva.É certo que as
farsas destruidoras reclamarão a indiferença e a submissão do filho de Deus;
mas, o filho de coração fiel a seu Pai se lança ao trabalho com perseverança e
boa vontade. Entrará em luta silenciosa com o meio, sofrer-lhe-á os tormentos
com heroísmo espiritual, por amor do reino que traz no coração, plantará uma
flor onde haja um espinho, abrirá uma senda, embora estreita, onde estejam em
confusão os parasitos da Terra, cavará pacientemente, buscando as entranhas do
solo para que surja uma gota dágua onde queime um deserto. Do íntimo desse
trabalhador brotará sempre um cântico de alegria, porque Deus o ama e segue com
atenção.
– Qual a primeira qualidade a cultivar no coração –
perguntou um dos filhos de Zebedeu – para que nos sintamos plenamente
identificados com a grandeza espiritual da tarefa?
– Acima de tôdas as coisas – respondeu o Mestre – é
preciso ser fiel a Deus.
A pequena assembléia parecia altamente enlevada e
satisfeita; mas, André inquiriu:
– Mestre, estes últimos dias, tenho-me sentido doente e
receio não poder trabalhar como os demais companheiros. Como poderei ser fiel a
Deus, estando enfermo?
– Ouvi. – Replicou o Senhor com certa ênfase.
– Nos dias de calma, é fácil provar-se fidelidade e
confiança. Não se prova, porém, dedicação, verdadeiramente, senão nas horas
tormentosas, em que tudo parece contrariar e perecer. O enfermo tem consigo
diversas possibilidades de trabalhar para Nosso Pai, com mais altas
probabilidades de êxito no serviço'. Tateando ou rastejando, busquemos servir
ao Pai que está nos céus, porque nas suas mãos divinas vive o Universo
inteiro!...
“André, se algum dia teus olhos se fecharem para a luz da
Terra, serve a Deus com a tua palavra e com os ouvidos; se ficares mudo, toma,
assim mesmo, a charrua, valendo-te das tuas mãos. Ainda que ficasses privado
dos olhos e da palavra, das mãos e dos pés, poderias servir a Deus com a
paciência e a coragem, porque a virtude é o verbo dessa fidelidade que nos
conduzirá ao amor dos amores!”
O grupo dos apóstolos calara-se, impressionado, ante
aquelas recomendações. O luar esplendia sobre as águas silenciosas. O mais leve
ruído não traía o silêncio augusto da hora.
André chorava de emoção, enquanto os outros observavam a
figura do Cristo, iluminada pelos clarões da Lua, deixando entrever um amoroso
sorriso. Então, todos, impulsionados por soberana força interior, disseram,
quase a um só tempo:
– Senhor, seremos fiéis!...
Jesus continuou a sorrir, como quem sabia a intensidade
da luta a ser travada e conhecia a fragilidade das promessas humanas.
Entretanto, do coração dos apóstolos jamais se apagou a lembrança daquela noite
luminosa de Cafarnaum, aureolada pelo sentimento divino. Humilhados e
perseguidos, crucificados na dor e esfolados vivos, souberam ser fiéis, através
de todas as vicissitudes da Natureza, e, transformando suas angústias e seus
trabalhos num cântico de glorificação, sob a eterna inspiração do Mestre
renovaram a face do mundo.
IRMÃO X - HUMBERTO DE CAMPOS - Do livro “Boa Nova”.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
NOS EMBATES POLÍTICOS
Situar em posição clara e definida as aspirações sociais
e os ideais espíritas cristãos, sem confundir os interesses de César com os
deveres para com o Senhor.
Só o Espírito possui eternidade.
Distanciar-se do partidarismo extremado.
Paixão em campo, sombra em torno.
Em nenhuma oportunidade, transformar a tribuna espírita
em palanque de propaganda política, nem mesmo com sutilezas comovedoras em nome
da caridade.
O despistamento favorece a dominação do mal.
Cumprir os deveres de cidadão e eleitor, escolhendo os
candidatos aos postos eletivos, segundo os ditames da própria consciência, sem,
contudo, enlear-se nas malhas do fanatismo de grei.
O discernimento é caminho para o acerto.
Repelir acordos políticos que, com o empenho da
consciência individual, pretextem defender os princípios doutrinários ou
aliciar prestígio social para a Doutrina, em troca de votos ou solidariedade a
partidos e candidatos.
O Espiritismo não pactua com interesses puramente
terrenos.
Não comerciar com o voto dos companheiros de Ideal, sobre
quem a sua palavra ou cooperação possam exercer alguma influência.
A fé nunca será produto para o mercado humano.
Por nenhum pretexto, condenar aqueles que se acham
investidos com responsabilidades administrativas de interesse público, mas sim
orar em favor deles, a fim de que se desincumbam satisfatoriamente dos
compromissos assumidos.
Para que o bem se faça, é preciso que o auxílio da prece
se contraponha ao látego da crítica.
Impedir palestras e discussões de ordem política nas
sedes das instituições doutrinárias, não olvidando que o serviço de
evangelização é tarefa essencial.
A rigor, não há representantes oficiais do Espiritismo em
setor algum da política humana.
“Nenhum servo pode servir a dois senhores.” — Jesus.
(LUCAS, 16:13.)
André Luiz - Ditado Pelo Espírito - André Luiz –
Psicografia Francisco C Xavier Waldo Vieira
SEJAMOS RICOS EM
JESUS
Quem julga pelas aparências, quase sempre esbarra na
areia móvel das transformações repentinas a lhe solaparem o edifício das
errôneas conclusões.
Existem criaturas altamente tituladas nas convenções do
mundo, que trazem consigo uma fonte viva de humildade no coração, enquanto que
há mendigos, de rosto desfigurado, que carreiam no íntimo a névoa espessa do
orgulho a empanar-lhes o entendimento.
Há ricos que são maravilhosamente pobres de avareza e
encontramos pobres lamentavelmente ricos de sovinice.
Somos defrontados, em toda a parte, por grandes almas que
se fazem humildes, a serviço do Senhor, na pessoa do próximo e, frequentemente,
surpreendemos espíritos rasteiros envergando túnicas de vaidade e dominação.
Jesus, louvando os ‘pobres de espírito’, não tecia
encômios à ignorância, à incultura, à insipiência ou à nulidade, e sim exaltava
os corações simples que descobrem na vida, em qualquer ângulo da existência, um
tesouro de bênçãos, com o qual é possível o enriquecimento efetivo da alma para
as alegrias da elevação.
“Pobres de espírito”, na plataforma evangélica, significa
tão-somente “pobres de fatuidade, de pretensos destaques intelectuais, de
supostos cabedais da inteligência”. É necessário nos acautelemos contra a
interpretação exagerada do texto, em suas expressões literais, para penetrarmos
o verdadeiro sentido da lição.
A pobreza e a pequenez não existem na obra divina.
Constituem apenas posições transitórias criadas por nós
mesmos, na jornada evolutiva em que aprenderemos, pouco a pouco, sob o
patrocínio da luta e da experiência, que tudo é grande no Universo de Deus.
Todos os seres, todas as tarefas e todas as cousas são
peças preciosas na estruturação da vida.
Onde estiveres faze-te espontâneo para recolher a luz da
compreensão.
Alijemos os farrapos dourados da ilusão, que nos
obscurecem a alma, estabelecendo a necessária receptividade no coração, e
entenderemos que todos somos infinitamente ricos de oportunidades de trabalhar
e servir, de aprender e aperfeiçoar, infatigavelmente.
O ouro será, muitas vezes, difícil provação e os cimos
sociais na Terra, quase sempre, são amargos purgatórios para a alma sensível,
tanto quanto a carência de recursos materiais é bendita escola de sofrimento,
mas a simplicidade e o amor fraterno, brilhando, por dentro de nosso espírito,
em qualquer situação no caminho da vida, são invariavelmente o nosso manancial
de alegrias sem fim.
LIVRO:DINHEIRO
(Francisco Cândido Xavier – por Emmanuel)
PARÁBOLA DO
AVARENTO
“As terras de um homem rico produziram muito fruto. E ele
discorria consigo: Que hei de fazer, pois não tenho onde recolher os meus frutos?
E disse: farei isto: derribarei os meus celeiros e os construirei maiores, e aí
guardarei toda a colheita e os meus bens e direi à minha alma: Minha alma, tens
muitos bens em depósito para largos anos; descansa, come e bebe e regala-te.
Mas Deus disse-lhe: Insensato, esta noite te exigirão a tua alma; e as coisas
que ajuntaste para quem serão? Assim é aquele que entesoura para si e não é
rico para com Deus.” (Lucas, XII, 16-21.)
Quanto mais se avizinhava o tempo do cumprimento da Missão
do Divino Messias, mais Ele intensificava o seu trabalho de difusão da Doutrina
de que havia sido encarregado, pelo Supremo Senhor, de trazer à Terra.
Os escribas e fariseus já faziam planos sinistros para
acabar com a vida do Filho do Homem, quando o Mestre Excelente iniciou a
exposição das imaginosas parábolas que constituem um dos mais eloqüentes
capítulos do
Novo Testamento.
A Parábola do Avarento é uma síntese maravilhosa do
trágico fim de todos aqueles que não vêem a felicidade senão no dinheiro e se
constituem em seus escravos incondicionais. Para essa gente, havendo dinheiro,
há tudo. Periclite a família, cambaleie a sociedade, arraste-se o mendigo pelas
vias públicas envergonhado e descomposto, chore e soluce o aflito, grite de
dores o enfermo miserável ou o inválido sem pão e sem lar, nada comove esses
corações de pedra, nada lhes demove, nada consegue mudar-lhes ou desviar-lhes
as vistas dos “seus frutos”, dos seus celeiros, do seu ouro!
São homens desumanos, sem alma; pelo menos ignoram a existência,
em si mesmos, desse princípio imortal que deve constituir, para todos, o principal
objeto de cuidados e de carinho.
A avareza é a véspera da mendicidade, ou seja, o fator da
miséria.
Quantos miseráveis perambulam pelas praças, implorando o
óbulo e que, mesmo nesta existência, foram ricos, sustentaram grandezas, bastos
celeiros transbordantes!
Quantos párias se arrastam pelas ruas, a bater de porta
em porta, implorando “uma esmola pelo amor de Deus!”
Qual a origem dessa situação penosa que atravessam, qual
a causa desses sofrimentos? A avareza! Ricos dinheiro, eram pobres para com Deus,
porque, embora não lhes faltasse tempo, nunca se dedicaram a Deus, nunca
procuraram a sua lei, nunca pesquisaram o próprio íntimo em busca de algo que
existe, que sente, que quer e não quer, que ama e que odeia, que vê o passado,
que ao menos, teme o futuro; nunca buscaram saber se essa centelha de
inteligência que lhes dá tanto amor ao ouro, tanta ganância pelos lucros
terrenos poderá, quiçá, sobreviver a esse corpo que, de uma hora para outra,
cairá exânime, para ser entregue ao banquete dos vermes!
O que valem riquezas efêmeras, sombras de felicidade que
se esvaem, fumo de grandezas que desaparecem à primeira visita de uma
enfermidade mortal! O que valem celeiros repletos em presença do “ladrão da
morte”, que chega em momento inesperado, e, até, quando nos julgamos em plena mocidade
e com ótima saúde!
Míseros avarentos dos bens que Deus vos confiou! Pensais,
porventura, que não tereis de prestar ao Senhor severas contas desse depósito?
Pensa que eles hão de permanecer conosco e servirão para multiplicar cada vez mais
a vossa fortuna? Em verdade vos afirmo que vosso ouro se converterá em brasas a
causticar vossa consciência! Em verdade vos digo que ele se transformará em
peias e algemas, resultantes da ação nefasta que exercestes em detrimento dos
que tinham fome, dos que tinham sede, dos enfermos desprezados, dos pobres
trabalhadores de quem explorastes o trabalho!
Ricos! Movimentai esse talento que o Senhor vos concedeu!
Granjeai amigos com esse tesouro da iniqüidade, para que eles vos auxiliem a entrar
nos tabernáculos eternos! Fazei o bem; socorrei o pobre; amparai o órfão;
auxiliai a viúva necessitada; curai o enfermo, como se ele fosse vosso irmão ou
vosso filho; pagai com generosidade o trabalhador que está ao vosso serviço!
Fazei mais: comprai livros e aproveitai os momentos de ócio para vos instruir,
por que um rico ignorante é tanto como um asno de sela dourada! Ilustrai o vosso
Espírito; fazei para vós, tesouros e celeiros nos Céus, onde os vermes não
chegam, os ladrões não alcançam, a morte não entra!
Lembrai-vos da Parábola do Avarento, cuja alma, na mesma
noite em que fazia castelos no ar, foi chamada pelo Senhor!
CAIRBAR SCHUTEL – PARÁBOLAS E ENSINOS DE JESUS
O RICO VIGILANTE
Tiago, o mais velho, em explanação preciosa, falou sobre
as ânsias de riqueza, tão comuns em todos os mortais, e, findo o interessante
debate doméstico, Jesus comentou sorridente: — Um homem temente a Deus e
consagrado a retidão, leu muitos conselhos alusivos à prudência, e deliberou
trabalhar, com afinco, de modo a reter um tesouro com que pudesse beneficiar a
família.
Depois de sentidas orações, meteu-se em várias empresas,
aflito por alcançar seus fins.
E, por vinte anos consecutivos, ajuntou moeda sobre
moeda, formando o patrimônio de alguns milhões.
Quando parou de agir, a fim de apreciar a sua obra,
reconheceu, com desapontamento, que todos os quadros da própria vida se haviam
alterado, sem que ele mesmo percebesse.
O lar, dantes simples e alegre, adquirira feição sombria.
A esposa fizera-se escrava de mil obrigações destinadas a
matar o tempo; os filhos cochichavam entre si, consultando sobre a herança que
a morte do pai lhes reservaria; a amizade fiel desertara; os vizinhos,
acreditando-o completamente feliz, cercaram-no de inveja e ironia; as autoridades
da localidade em que vivia obrigavam-no a dobradas atitudes de artifício, em
desacordo com a sinceridade do seu coração.
Os negociantes visitavam-no, a cada instante,
propondo-lhe transações criminosas ou descabidas; servidores bajulavam-no, com
declarado fingimento quando ao lado de seus ouvidos, para lhe amaldiçoarem o
nome, por trás de portas semi-cerradas.
Em razão de tantos distúrbios, era compelido a
transformar a residência numa fortaleza, vigiando-se contra tudo e contra
todos.
Sobrava-lhe tempo, agora, para registrar as moléstias do
corpo e raramente passava algum dia sem as irritações do estômago ou sem dores
de cabeça.
Em poucas semanas de meticulosa observação, concluiu que
a fortuna trancafiada no cofre era motivo de desilusões e arrependimentos sem
termo.
Em certa noite, porque não mais tolerasse as preocupações
obcecantes do novo estado, orou em lágrimas, suplicando a inspiração do Senhor.
Depois da comovente rogativa, eis que um anjo lhe aparece
na tela evanescente do sonho e lhe diz, compadecido: — Toda fortuna que corre,
à maneira das águas cristalinas da fonte, é uma bênção viva, mas toda riqueza,
em repouso inútil, é poço venenoso de águas estagnadas...
Por que exigiste um rio, quando o simples copo d’água te
sacia a sede? Como te animaste a guardar, ao redor de ti, celeiros tão
recheados, quando alguns grãos de trigo te bastam à refeição? Que motivos te
induziram a amontoar centenas de peles, em torno do lar, quando alguns
fragmentos de lã te aquecem o corpo, em trânsito para o sepulcro?...
Volta e converte a tua arca de moedas em cofre milagroso
de salvação! Estende os júbilos do trabalho, cria escolas para a sementeira da
luz espiritual e improvisa a alegria a muitos! Somente vale o dinheiro da Terra
pelo bem que possa fazer! Sob indizível espanto, o caçador de outro despertou
transformado e, do dia seguinte em diante, passou a libertar as suas enormes
reservas, para que todos os seus vizinhos tivessem junto dele, as bênçãos do
serviço e do bom ânimo...
Desde o primeiro sinal de semelhante renovação, a esposa
fixou-o com estranheza e revolta, os filhos odiaram-no e os seus próprios
beneficiados o julgaram louco; todavia, robustecido e feliz, o milionário
vigilante voltou a possuir no domicílio um santuário aberto e os gênios da alegria
oculta passaram a viver em seu coração.
Silenciando o Mestre, Tiago, que comandava a palestra da
noite, exclamou, entusiasta: — Senhor, que ensinamento valioso e sublime!...
Jesus sorriu e respondeu: 28 — Sim, mas apenas para
aqueles que tiverem “ouvidos de ouvir” e “olhos de ver”.
Neio Lúcio - Do Livro Jesus no Lar - Francisco C. Xavier
A LENDA DO DINHEIRO
Conta-se que, no princípio do mundo, o Senhor entrou em
dificuldades no desenvolvimento da obra terrestre, porque os homens se
entregaram a excessivo repouso.
Ninguém se animava a trabalhar.
Terra solta amontoava-se aqui e ali. Minerais variados
estendiam-se ao léu. Águas estagnadas apareciam em toda parte.
O Divino Organizador pretendia erguer lares e templos,
educandários e abrigos diversos, mas... com que braços?
Os homens e as mulheres da Terra, convidados ao suor da
edificação por amor, respondiam: - "para quê?" E comiam frutos
silvestres, perseguiam animais para devorá-los e dormiam sob as grandes
árvores.
Após refletir muito, o Celeste Governador criou o
dinheiro, adivinhando que as criaturas, presas da ignorância, se não sabiam
agir por amor, operariam por ambição.
E assim aconteceu.
Tão logo surgiu o dinheiro, a comunidade fragmentou-se em
pequenas e grandes facções, incentivando-se a produção de benefícios gerais e
de valores imaginativos.
Apareceram candidatos a toda espécie de serviços.
O primeiro deles pediu ao Senhor permissão para fundar
uma grande olaria. Outro requereu meios de pesquisar os minérios pesados de
maneira a transformá-los em utensílios. Certo trabalhador suplicou recursos
para aproveitamento de grandes áreas na exploração de cereais. Outro ainda
implorou empréstimo para produzir fios, de modo a colaborar no aperfeiçoamento
do vestuário. Servidores de várias procedências vieram e solicitaram auxílio
financeiro destinado à criação de remédios.
O Senhor a todos atendeu com alegria.
Em breve, olarias e lavouras, teares rústicos e oficinas
rudimentares se improvisaram aqui e acolá, desenvolvendo progresso amplo na
inteligência e nas coisas.
Os homens, ansiosamente procurando o dinheiro, a fim de
se tornarem mais destacados e poderosos entre si, trabalhavam sem descanso,
produzindo tijolos, instrumentos agrícolas, máquinas, fios, óleos, alimento
abundante, agasalho, calçados e inúmeras invenções de conforto, e, assim, a
terra menos proveitosa foi removida, as pedras aproveitadas e os rios
canalizados convenientemente para a irrigação; os frutos foram guardados em
conserva preciosa; estradas foram traçadas de norte a sul, de leste a oeste e
as águas receberam as primeiras embarcações.
Toda gente perseguia o dinheiro e guerreava pela posse
dele.
Vendo, então, o Senhor que os homens produziam vantagens
e prosperidade, no anseio de posse, considerou, satisfeito:
- Meus filhos da Terra não puderam servir por amor, em
vista da deficiência que, por enquanto, lhes assinala a posição; todavia, o
dinheiro estabelecera benéficas competições entre eles, em benefício da obra
geral. Reterão provisoriamente os recursos que me pertencem e, com a sensação
da propriedade, improvisarão todos os produtos materiais de que o aprimoramento
do mundo necessita. Esta é a minha Lei de Empréstimo que permanecerá assentada
no Céu. Cederei possibilidades a quantos mo pedirem, de acordo com as
exigências do aproveitamento comum; todavia, cada beneficiário apresentar-me-á
contas do que houver despendido, porque a Morte conduzi-los-á, um a um, à minha
presença. Este decreto divino funcionará para cada pessoa, em particular, até
que meus filhos, individualmente aprendam a servir por amor à felicidade geral,
livres do grilhão que a posse institui.
Desde então, a maioria das criaturas passou a trabalhar
por dedicação ao dinheiro, que é de propriedade exclusiva do Senhor, da
aplicação do qual cada homem e cada mulher prestarão contas a Ele mais tarde.
Francisco Cândido Xavier, Da obra: Alvorada Cristã. Ditado pelo Espírito
Neio Lúcio
CONVITE À DECISÃO
"Nenhum servo pode servir a dois senhores."
(Lucas: capítulo 16º, versículo 13.)
Será possível o consórcio da Espiritualidade com as
ambições mundanas?
Será crível amar as estrelas e demorar-se no charco?
Pode-se estudar o bem e cultivar a ilusão?
Permite-se o concurso da saúde no organismo debilitado?
É factível a dedicação à caridade e o comércio com a
rebeldia?
Disse Jesus com propriedade inalterável: -"Não se
serve bem a dois senhores."
Sem dúvida não nos encontramos diante da necessidade de
construir comunidades novas em que a ojeriza ao mundo se patenteie pela fuga
aos cometimentos humanos. Não estamos diante de uma imposição para que se
edifiquem células quistosas no organismo social, em que os seus membros se
transformem em marginais da vida contemporânea. Desejamos aclarar quanto à
necessidade de que aquele que encontrou a rota luminosa da Verdade, por um
princípio de coerência natural, não se deve permitir engodos.
Desde que não se podem coadunar realidades que se
contrapõem, tu que conheces os objetivos da vida não deves permitir fixações e
posições falsas que já deverias ter abandonado a benefício da paz interior,
enquanto conivindo com atitudes dúbias, navegando no mar das indecisões,
estarás na crista e nas baixadas das ondas das dúvidas sob as contingências das
posições emocionais em atropelo.
O convite do Cristo tem sido sempre imperioso. Tomando-se
da charrua não se deve olhar para trás. Diante do desejo da retificação,
marchar para o bem e não tornar ao pecado...
Imprescindível decidas o que desejas da vida, como
conduzires a vida, qual a idéia que fazes da vida e por fim marcha na direção
da Vida que venhas a eleger como rota para a verdadeira Vida.
FRANCO, Divaldo Pereira. Convites da Vida. Pelo Espírito
Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 10.
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