APASCENTA AS MINHAS OVELHAS. Jesus (João 21:17)

APASCENTA AS MINHAS OVELHAS.  Jesus (João 21:17)
"APASCENTA AS MINHAS OVELHAS" JESUS (Jo 21:17)

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

E.S.E. CAPÍTULO XVII -ITEM 10 - O HOMEM NO MUNDO



10 – Um sentimento de piedade deve sempre animar o coração daqueles que se reúnem sob o olhar do Senhor, implorando a assistência dos Bons Espíritos. Purificai, portanto, os vossos corações.Não deixeis que pensamentos fúteis ou mundanos os perturbem. Elevai o  vosso espírito para aqueles a quem chamais, a fim de que eles possam, encontrando em vós as disposições favoráveis, lançar em profusão as sementes que devem germinar os vossos corações, para neles produzir os frutos da caridade e da justiça.
Não penseis, porém, que aos vos exortar incessantemente à prece e à evocação mental, queiramos levar-vos a viver uma vida mística, que vos mantenha fora das leis da sociedade em que estais condenados a viver. Não. Vivei com os homens do vosso tempo, como devem viver os homens; sacrificai-vos às necessidades, e até mesmo às frivolidades de cada dia, mas fazei-o com um sentimento de pureza que as possa santificar.
Fostes chamados ao contato de espíritos de naturezas diversas, de caracteres antagônicos: não melindreis a nenhum daqueles com quem vos encontrardes. Estai sempre alegres e contentes, mas com a alegria de uma boa consciência e a ventura do herdeiro do céu, que conta os dias que o aproximam de sua herança.
A virtude não consiste numa aparência severa e lúgubre, ou em repelir os prazeres que a condição humana permite. Basta referir todos os vossos atos ao Criador, que vos deu a vida. Basta, ao começar ou acabar uma tarefa, que eleveis o pensamento ao Criador, pedindo-lhe, num impulso da alma, a sua proteção para executá-la ou a sua benção para a obra acabada. Ao fazer qualquer coisa, voltai vosso pensamento à fonte suprema; nada façais sem que a lembrança de Deus venta purificar e santificar os vossos atos.
A perfeição, como disse o Cristo, encontra-se inteiramente na prática da caridade sem limites, pois os deveres da caridade abrangem todas as posições sociais, desde a mais íntima até a mais elevada. O homem que vivesse isolado não teria como exercer a caridade. Somente no contato com os semelhantes, nas lutas mais penosas, ele encontra a ocasião de praticá-la. Aquele que se isola, portanto, priva-se voluntariamente do mais poderoso meio de perfeição: só tendo de pensar em si, sua vida é a de um egoísta. (Ver cap. V. nº 26)

Não imagineis, portanto, que para viver em constante comunicação conosco, para viver sob o olhar do Senhor, seja preciso entregar-se ao cilício e cobrir-se de cinzas. Não, não, ainda uma vez: não! Sede felizes no quadro das necessidades humanas, mas que na vossa felicidade não entre jamais um pensamento ou um ato que possa ofender a Deus, ou fazer que se vele a face dos que vos amam e vos dirigem.


TEXTOS DE APOIO





A NEGAÇÃO DE PEDRO

O ato do Messias, lavando os pés de seus discípulos, encontrou certa incompreensão da parte de Simão Pedro. O velho pescador não concordava com semelhante ato de extrema submissão. E, chegada a sua vez, obtemperou, resoluto:
– Nunca me lavareis os pés, Mestre; meus companheiros estão sendo ingratos e duros neste instante, deixando-vos praticar êsse gesto, como se fôsseis um escravo vulgar.
Em seguida a essas palavras, lançou à assembléia um olhar de reprovação e desprezo, enquanto Jesus lhe respondia:
– Simão, não queiras ser melhor que os teus irmãos de apostolado, em nenhuma circunstância da vida. Em verdade, assevero-te que, sem o meu auxílio, não participarás com o meu espírito das alegrias supremas da redenção.
O antigo pescador de Cafarnaum aquietou-se um pouco, fazendo calar a voz de sua generosidade quase infantil.
Terminada a lição e retomando o seu lugar à mesa, o Mestre parecia meditar gravemente. Logo após, todavia, dando a entender que sua visão espiritual devassava os acontecimentos do futuro, sentenciou :
– Aproxima-se a hora do meu derradeiro testemunho! Sei, por antecipação, que todos vós estareis dispersados nesse instante supremo.É natural, porquanto ainda não estais preparados senão para aprender. Antes, porém, que eu parta, quero deixar-vos um novo mandamento, o de amar-vos uns aos outros como eu vos tenho amado ; que sejais conhecidos como meus discípulos, não pela superioridade no mundo, pela demonstração de poderes espirituais, ou pelas vestes que envergueis na vida, mas pela revelação do amor com que voa amo, pela humildade que deverá ornar as vossas almas, pela boa disposição no sacrifício próprio.
Vendo que Jesus repetia uma vez mais aquelas recomendações de despedida, Pedro, dando expansão ao seu temperamento irrequieto,
   adiantou-se, indagando :
– Afinal, Senhor, para onde ides?
O Mestre lhe lançou um olhar sereno, fazendo-lhe sentir o interesse que lhe causava a sua curiosidade e redargüiu :
– Ainda não te encontras preparado para seguir-me. O testemunho é de sacrifício e de extrema abnegação e somente mais tarde entrarás na posse da fortaleza indispensável.
Simão, no entanto, desejando provar por palavras aos companheiros o valor da sua dedicação, acrescentou, com certa ênfase, ao propósito de se impor à confiança do Messias :
– Não posso seguir-vos? Acaso, Mestre, podereis duvidar de minha coragem? Então, não sou um homem? Por vós darei a minha própria vida.
O Cristo sorriu e ponderou :
– Pedro, a tua inquietação se faz credora de novos ensinamentos. A experiência te ensinará melhores conclusões, porque, em verdade, te afirmo que esta noite o galo não cantará, sem que me tenhas negado por três vezes.
– Julgais-me, então, um espírito mau e endurecido a êsse ponto? – Indagou o pescador, sentindo-se ofendido.
– Não, Pedro – adiantou o Mestre, com doçura – não te suponho ingrato ou indiferente aos meus ensinos. Mas, vais aprender, ainda hoje, que o homem do mundo é mais frágil do que perverso.
***
Pedro não quis acreditar nas afirmações do Messias e tão logo se verificara a sua prisão, no pressuposto de demonstrar o seu desassombro e boa disposição para a defesa do Evangelho do Reino, atacou com a espada um dos servos do sumo sacerdote de Jerusalém, compelindo o Mestre a mais severas observações. Consoante as afirmativas de Jesus, o colégio dos apóstolos se dispersara, naquele momento de supremas resoluções. A humildade com que o Cristo se entregava desapontara a alguns deles, que não conseguiam compreender a transcendência daquele Reino de Deus, sublimado e distante.
Pedro e João, observando que a detenção do Mestre pelos emissários do templo era fato consumado, combinaram, entre si, acompanhar, de longe, o grupo que se afastava, conduzindo o Messias. Debalde, procuraram os demais companheiros que, receosos da perseguição, haviam debandado.
Ambos, no entanto, desejavam prestar a Jesus o auxílio necessário. Quem sabe poderiam encontrar um recurso de salvá-lo? Era mister certificar-se de tôdas as ocorrências. Mobilizariam suas humildes relações em Jerusalém, a favor do Mestre querido. Compreendiam a extensão do perigo e as ameaças que lhes s pesavam sobre a fronte. De incitante a instante, eram surpreendidos por homens do povo que, em palestra de caminho, acusavam a Jesus de feiticeiro e herético.
A noite caíra sobre a cidade ..
Os dois discípulos observaram que a expedição de servos e soldados chegava à residência de Caifaz, onde o Cristo foi recolhido a uma cela úmida, cujas grades davam para um pátio extenso.
O prisioneiro fora trancafiado, por entre zombarias e impropérios. Ao grupo reduzido, juntava-se agora a massa popular, então em pleno alvoroço festivo, nas comemorações da Páscoa. O pátio amplo foi invadido por uma aluvião de pessoas alegres.
Pedro e João compreenderam que as autoridades do Templo imprimiam caráter popular ao movimento de perseguição ao Messias, vingando-se de sua vitória na entrada triunfal em Jerusalém, como uma nova esperança para o coração dos desalentados e oprimidos.
Depois de ligeiro entendimento, o filho de Zebedeu voltou a Betânia, afim de colocar a mãe de Jesus ao corrente dos fatos, enquanto Pedro se misturava à aglomeração, de maneira a observar em que poderia ser útil ao Messias.
O ambiente estava já preparado pelo farisaísmo para os tristes acontecimentos do dia imediato. Em tôdas as rodas, falava-se do Cristo como de um traidor ou revolucionário vulgar. Alguns comentadores mais exaltados o denunciavam como ladrão. Ridicularizava-se o seu ensinamento, zombava-se de sua exemplificação e não faltavam os que diziam, em voz alta, que o Profeta Nazareno havia chegado à cidade chefiando um bando de salteadores.
O velho pescador de Cafarnaum sentiu a hostilidade com que teria de lutar, afim de socorrer o Messias, e experimentou um frio angustioso no coração. Sua resolução parecia vencida. A alma ansiosa se deixava dominar por dúvidas e aflições. Começou a pensar nos seus familiares, em suas necessidades comuns, nas convenções de Jerusalém que ele não poderia afrontar sem pesados castigos. Com o cérebro fervilhando de expectativas e cogitações de defesa própria, penetrou no pátio extenso, onde se adensava a multidão.
Para logo, uma das servas da casa se aproximou dele e exclamou, surpreendida:
– Não és tu um dos companheiros deste homem? – Indagou, designando a cela onde Jesus se achava encarcerado.
O pescador refletiu um momento e, reconhecendo que o instante era decisivo, respondeu, dissimulando a própria emoção :
– Estás enganada. Não sou.
O apóstolo ponderou aquela primeira negativa e pôs-se a considerar que semelhante procedimento, aos seus olhos, era o mais razoável, porquanto tinha de empregar tôdas as possibilidades ao seu alcance, a favor de Jesus.
Fingindo despreocupação, o irmão de André se dirigiu a uma pequena aglomeração de populares, onde cada qual procurava esquivar-se ao frio intenso da noite, aquentando-se junto de um braseiro.
Novamente um dos circunstantes, reconhecendo-o, o interpelou nestes termos :
– Então, vieste socorrer o teu Mestre?
– Que Mestre? – perguntou o pescador de Cafarnaum, entre receoso e assustado – Nunca fui discípulo desse homem. Fornecida essa explicação, todo o grupo se sentiu à vontade para comentar a situação do prisioneiro. Longas horas passaram-se para Simão Pedro, que tinha o coração a duelar-se com a própria consciência, naqueles instantes penosos em que fora chamado ao testemunho. A noite ia adiantada, quando alguns servidores vieram servir bilhas de vinho. Um deles encarando o discípulo com certo espanto, exclamou de súbito:
– É este!... É bem aquele discípulo que nos atacou à espada, entre as árvores do horto!...
– Simão ergueu-se pálido e protestou :
– Estás enganado, amigo! Vê que isso não seria possível!...
Logo que pronunciou sua derradeira negativa, os galos da vizinhança cantaram em vozes estridentes, anunciando a madrugada.
Pedro recordou as palavras do Mestre e sentiu-se perturbado por infinita angústia. Levantou-se cambaleante e, voltando-se instintivamente para a cela em que o Mestre se achava prisioneiro, viu o semblante sereno de Deus a contemplá-lo através das grades singelas.
***
Presa de indizível remorso, o apóstolo retirou-se envergonhado de si mesmo. Dando alguns passos, alcançou os muros exteriores, onde se deteve a chorar amargamente. Ele, que fora sempre homem ríspido e resoluto, que condenara invariàvelmente os transviados da verdade e do bem, que nunca conseguira perdoar as mulheres mais infelizes, ali se encontrava, abatido como uma criança, em face de sua própria falta. Começava a entender a razão de certas experiências dolorosas de seus irmãos em humanidade. Em seu espírito como que desabrochava uma fonte de novas considerações pelos infortunados da vida. Desejava, ansiosamente, ajoelhar-se ante o Messias e suplicar-lhe perdão para a sua queda dolorosa.
Através do véu de lágrimas que lhe obscurecia os olhos, Simão Pedro experimentou uma visão controladora e generosa. Figurou-se-lhe que o Mestre vinha vê-lo, em espírito, na solidão da noite, trazendo nos lábios aquele mesmo sorriso sereno de todos os dias. Ante a emoção confortadora e divina, Pedro ajoelhou-se e murmurou:
– Senhor, perdoai-me!
Mas, nesse instante, não mais viu, na confusão de seus angustiados pensamentos. Luar alvíssimo enfeitava de luz as vielas desoladas. Foi ai que o antigo pescador refletiu mais austeramente, lembrando as advertências amigas de Jesus, quando lhe dizia : – “Pedro, o homem do mundo é mais frágil do que perverso!...”


Irmão X - Humberto de Campos - Do livro “Boa Nova”. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.




ESTRANHO PONTO DE VISTA
(Chico Xavier)

Chico Xavier nos escreve contando como recebeu a mensagem “Luz para todos”:
“Alguns amigos vindos de cidade distante, em consultas e comentários, antes dos encargos em pauta na sessão pública, haviam mostrado estranho ponto de vista. Disseram-me que são contra a apresentação da Doutrina Espírita em programas de televisão e julgam que os doutrinadores e médiuns devem permanecer segregados nos templos espíritas para exemplificarem humildade cristã. Acreditam que os espíritas precisam fugir de contatos com a vida comum, se quiserem ser modestos e eficientes.
“Ouvi sem concordar com eles, porque os Benfeitores da Vida
Maior ensinaram-me que o Espiritismo é uma bênção de Deus para todas as criaturas sem exceção e que não nos cabe desprezar a ninguém. Abstive-me de qualquer discussão. Mas, iniciadas as tarefas, o ponto de estudo em O Evangelho Segundo o Espiritismo, aberto para as lições da noite, foi a página intitulada “O homem no mundo”, item 10 do capítulo XVII. E o nosso Emmanuel produziu a página que lhe coloco nas mãos com a esperança de que lhe ofereça proveito justo em nossos estudos.”
Livro: Na Era dos Espíritos – Francisco C Xavier



LUZ PARA TODOS
(Emmanuel)
Estariam os princípios espíritas endereçados à segregação para uso exclusivo daqueles irmãos que carregam provas visíveis no plano material?
Encontramos, com frequência, na Terra quem suponha deva ser a Nova Revelação limitada ao trabalho em favor dos que sofrem a penúria do corpo, sob pena de perder a própria simplicidade.
Entretanto, a fulguração solar será menos luz quando clareia o recôncavo de um vale e o topo de um arranha-céu ao mesmo tempo? E, acaso, a fonte se diminuirá em grandeza por deixar-se canalizar em serviço à cidade grande, após haver saciado a sede aos lares do campo?
Decerto, a mensagem da Vida Maior tem significação mais imediata em auxílio a quantos se vejam no mundo em dificuldades abertas, seja no chão das exigências primárias da natureza ou na sombra das grandes tribulações em que a inconformidade os compele a se tornarem francamente infelizes. Imperioso, porém, pensar naqueles outros companheiros da humanidade que a vida situou em outros setores.
Não é a face externa da criatura que lhe determina o grau da necessidade espiritual.
Dói-nos ver as mãos que se nos estendem nas ruas, à cata de pão; no entanto, será justo, igualmente, compreender os obstáculos daqueles que se esfalfam em serviço para que haja pão, tanto quanto possível, à mesa de todos.
Aflige-nos registrar os empeços do amigo em profissão singela, cujo salário não lhe satisfaz a todos os requisitos da vida simples, mas não nos será lícito esquecer os óbices daqueles que se atormentam na orientação da oficina para que o trabalho não se perturbe ou escasseie.
Magoa-nos surpreender irmãos diversos, acomodados nos palheiros humildes que lhes servem de residência; contudo, não podemos desconhecer os impedimentos daqueles outros que encanecemnas administrações, construindo caminhos ao progresso e traçando horizontes ao reconforto geral.
Sensibiliza-nos o martírio das mães que vagueiam nas vias públicas à busca de socorro para filhinhos padecentes; entretanto,seria injusto desconsiderar o sofrimento daquelas outras que se aniquilam, pouco a pouco, dentro de casa, em posição de incessante sacrifício, para sustentarem os descendentes, de modo a que a dignidade humana possa honrosamente sobreviver.
Reflitamos no conjunto dos problemas humanos e a ninguém deserdemos da verdade e do amor, de vez que em qualquer situação pertencemos todos a Deus e, segundo as nossas necessidades, é natural que Deus nos atenda a cada um.
Livro: Na Era dos Espíritos – Francisco C Xavier



O HOMEM NO MUNDO
(J. Herculano Pires)

O Espiritismo é um processo de integração do homem no mundo e não de fuga. Todas as formas de isolamento social e de segregação religiosa são condenadas pela doutrina. Os resíduos do sectarismo religioso, alimentados em várias encarnações, permanecem ainda bastante ativos em alguns adeptos, fazendo-os sonhar com um isolacionismo sectário que atenta contra a própria essência dos ensinos espíritas. É o fermento velho a que se referiu Jesus, como vemos no Evangelho.
O Cristianismo teve de enfrentar esse mesmo problema em seu desenvolvimento. E, apesar da vitória das correntes cristãs mais ativas, não foi possível evitar-se a criação de ordens e congregações dedicadas à vida contemplativa, empenhadas na fuga ao mundo para o encontro com Deus. Essa tendência à fuga é característica das religiões orientais. Basta compararmos a vida contemplativa e os ensinos disciplinares de Buda com a vida ativa e os ensinos morais do Cristo, para vermos a diferença entre o espírito oriental e o espírito ocidental nas religiões.
Na mensagem intitulada “O homem no mundo”, constante do capítulo XVII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, encontramos o seguinte trecho: “Não penseis que, ao vos exortar à prece e à evocação mental, queiramos levar-vos a viver uma vida mística que vos mantenha fora das leis da sociedade. Não. Vivei com os homens do vosso tempo, como devem viver os homens.
Sacrificai-vos às necessidades e até mesmo às frivolidades de cada dia, mas fazei-o com o sentimento de pureza que as possa purificar”. E no capítulo “A Lei de Sociedade”, de O Livro dos Espíritos, a afirmação é taxativa: “Os homens são feitos para viver em sociedade”.
Os médiuns e doutrinadores espíritas têm uma missão eminentemente social. Para bem cumprir essa missão devem servir-se de todos os meios, os mais eficientes possíveis, de divulgação da doutrina. E foi o próprio Jesus quem ensinou que não devemos esconder a lâmpada embaixo da cama, mas colocá-la no alto, para que ilumine a todos.
Livro: Na Era dos Espíritos – Francisco C Xavier




EM TORNO DA REGRA ÁUREA

 Quanto mais se adianta o progresso, mais intensamente se percebe que a vida é um condomínio.
 Partilhamos, em regime de obrigatoriedade, o ar ambiente e a luz solar que nunca estiveram sob nosso controle. E, em nos referindo aos bens que retemos na Terra, quando na condição de Espíritos encarnados, à medida que solucionamos as grandes questões de interesse coletivo, quais as da justiça, da economia, do trabalho, da provisão ou moradia, mais impelidos nos reconhecemos a observar o direito dos outros.
 Seja num edifício de apartamentos ou numa fila de compras, as nossas conveniências estão sujeitas à tranqüilidade dos vizinhos.
 Numa oficina, quanto mais importante se mostre, a produção apenas surge no rendimento preciso se mantida na forma da música orquestral, atribuindo-se a cada instrumento a responsabilidade que lhe compete.
 Civilização e cultura baseiam-se no espírito de equipe, com a interdependência de permeio.
 Princípios idênticos prevalecem no reino da alma, convocando-nos o livre-arbítrio ao levantamento da segurança e da felicidade de todos aqueles que nos comungam a experiência.
 Sem nenhuma pretensão de natureza política, a Doutrina Espírita funciona, atualmente, no campo religioso da Humanidade, por mecanismo providencial de alertamento, induzindo-nos ao concurso natural e espontâneo na edificação do bem comum.
 Por séculos e séculos, conservamos no mundo ignorância e carência, guerra e criminalidade, em nome da Vontade de Deus; entretanto, o Espiritismo, restaurando a mensagem do Cristianismo, que veio estabelecer a fraternidade entre os homens, pergunta a cada um de nós se estaríamos realmente certos de viver sob a Vontade de
Deus, se formássemos entre as vítimas da penúria e das trevas de espírito.
 Usemos todas as nossas possibilidades, sejam elas recursos ou aptidões, na construção dos tempos novos.
 Solidariedade e cooperação, entendimento e concórdia, amor a deslocar-se da teoria para erguer-se na vida prática.
 A regra áureas, para complementar-se devidamente, não se restringe à estrutura negativa, “não faças a outrem aquilo que não desejas”, e sim exige plena observância da forma positiva em que se expressa: “é preciso fazer aos outros tudo aquilo que desejamos nos seja feito”.
Livro: Estude E Viva - Francisco Cândido Xavier E Waldo Vieira Pelos Espíritos Emmanuel E André Luiz


MODO DE FAZER
De modo que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus (Paulo – Filipenses 2:5)

Todos fazem alguma coisa na vida humana, mas raros não voltam à carne para desfazer quanto fizeram.
Ainda mesmo a criatura ociosa, que passou o tempo entre a inutilidade e a preguiça, é constrangida a tornar à luta, a fim de desintegrar a rede de inércia que teceu ao redor de si mesma.
Somente constrói, sem necessidade de reparação ou corrigenda, aquele que se inspira no padrão de Jesus para criar o bem.
Fazer algo em Cristo é fazer sempre o melhor para todos: Sem expectativa de remuneração. Sem exigências. Sem mostrar-se. Sem exibir superioridade. Sem tributos de reconhecimento. Sem perturbações.
Em todos os passos do Divino Mestre, vemo-lo na ação incessante, em favor do indivíduo e da coletividade, sem prender-se.
Da carpintaria de Nazaré à cruz de Jerusalém, passa fazendo o bem, sem outra paga além da alegria de estar executando a Vontade do Pai.
Exalta o vintém da viúva e louva a fortuna de Zaqueu, com a mesma serenidade.
Conversa amorosamente com algumas criancinhas e multiplica o pão para milhares de pessoas, sem alterar-se. Reergue Lázaro do sepulcro e caminha para o cárcere, com a atenção centralizada nos Desígnios Celestes.
Não te esqueças de agir para a felicidade comum, na linha infinita dos teus dias e das tuas horas.
Todavia, para que a ilusão te não imponha o fel do desencanto ou da soledade, ajuda a todos, indistintamente, conservando, acima de tudo, a glória de ser útil, de modo que haja em nós o mesmo sentimento que vive em Jesus Cristo.

Livro: Fonte Viva – Emmanuel - Psicografia de Francisco Cândido Xavier



COOPERAÇÃO COM DEUS
Tema: Cooperação individual na execução do plano de serviço de Providência Divina

Quantas vezes terás dito que amas a Deus e te dispões a servi-lo? e quantas outras tantas terás afirmado a tua fé na Providência Divina?
Provavelmente, porém, não te puseste ainda a raciocinar que os teus votos foram acolhidos e que o Todo-Misericordioso, por intermédio de vasta corrente hierárquica de assessores, te enviou tarefas de cooperação com a Sua Infinita Bondade, junto de causas, organizações, situações e pessoas, que lhe requisitam assistência e intervenção.
Exposto, assim, o problema do teu setor de ação individual, será justo considerar que esforço e dedicação constituem ingredientes inevitáveis no encargo que te foi confiado, a fim de que obtenhas o êxito que denominamos por “dever cumprido perante Deus”.
Mãe ou pai, se recolhesses da vida tão-somente os filhos robustos e virtuosos, que indícios de amor oferecerias a Deus, quando Deus te pede o coração mais profundamente voltado para os filhos menos felizes, com bastante abnegação para jamais abandoná-los, ainda mesmo quando o mundo os considere indesculpáveis ou desprezíveis?
Professor ou mentor, se reunisses contigo apenas os discípulos inteligentes e nobres, quem estaria com Deus no auxílio aos rebeldes ou retardados?
Dirigente ou supervisor, nos diversos ramos da atividade humana, se fosses chamado para guiar os interesses da comunidade exclusivamente nos dias de céu azul, para entoar louvores à harmonia ou presidir a distribuição de luzes e bênçãos, quem cooperaria com o Supremo Senhor, nas horas de tempestade, quando as nuvens da incompreensão e os raios da calúnia varam a atmosfera das instituições, exigindo a presença dos que cultivem brandura e compreensão, a fim de que a Divina Misericórdia encontre instrumentos capazes de ajudá-la a restaurar os elementos convulsos?
Obreiro do bem ou condutor da fé, se obtivesses da Terra apenas demonstrações de apreço e palmas de triunfo, quem colaboraria com Deus, nos dias de perturbação, de maneira a limitar a incursão das trevas ou a apagar o fogo do ódio, entre as vítimas da ilusão ou da vaidade, nos lugares em que o Pai Supremo necessite de corações suficientemente corajosos e humildes para sustentarem o bem com esquecimento de todo mal?
Onde estiveres e sejas com quem sejas, no grau de responsabilidade e serviço em que te situas, agradece aos Céus as alegrias do equilíbrio, as afeições, os dias róseos do trabalho tranqüilo e as visões dos caminhos pavimentados de beleza e marginados de flores que te premiam a fé em Deus;  quando, porém, os espinhos da provação de firam a alma ou quando as circunstâncias adversas se conjuguem contra as boas obras a que vinculas, como se atormenta do mal intentasse efetuar o naufrágio do bem, recorda que terás chegado ao instante do devotamento supremo e da lealdade maior, porque, se confias em Deus, Deus igualmente confia em ti.

 Emmanuel - Livro Encontro Marcado - Francisco Cândido Xavier


ESNOBISMO
Um exotismo existe que ameaça as fileiras espíritas sem ser qualquer das excentricidades que aparecem no movimento doutrinário, à conta de extravagância marginal. Disparate talvez pior, porquanto, se nas atividades paralelas ao caminho real da idéia espírita somos impelidos a reconhecer muita gente caracteristicamente sincera nas intenções louváveis, nessa outra esquisitice vamos encontrar para logo a máscara de atitudes e maneiras, em desacordo com os princípios arejados da Nova Revelação.
Reportamo-nos ao esnobismo que comparece, muita vez, em nossas formações, qual praga enquistada em plantação valiosa.
Companheiros que se deixam vencer por semelhante prejuízo fornecem em pouco tempo os sinais que lhe são conseqüentes.
Continuam espíritas e afirmam-se espíritas, mas começam afetando possuir orientação de natureza superior, passando a excessiva admiração pelas novidades em voga. E, desprevenidamente, sem maior atenção pelos ensinos da Doutrina que abraçam, cristalizam despropósitos no modo de ser.
Habitualmente, apaixonam-se por exterioridades sociais e escolhem classe determinada para freqüentar. Isolam-se em grupo segregacionista, conquanto se supunham representantes da mais alta ortodoxia em matéria de opinião.
Acreditam muito mais em títulos transitórios do academicismo e em facilidades econômicas do que no valor substancial das pessoas.
Estimam espetáculos acima do serviço, e evidenciam apreço além do que é justo aos medalhões do mundo, à medida que se fazem mais distantes e envergonhados de quaisquer relações com os humildes.
Estão sempre dispostos a ordenar no trabalho em assuntos de organização, horário, local e condições, sem permitir que o trabalho os comande nas disposições e disciplinas com que foi estabelecido.
Nas obras de beneficência, tratam irmãos em penúria como se fossem párias sociais, ao passo que se inclinam reverentes perante qualquer figura de relevo mundano de mérito duvidoso.
Nós, os espíritas desencarnados e encarnados, devemos estar de sentinela contra semelhante absurdo.
O esnobismo - repitamos - é parasito destruidor da árvore de nossos princípios e realizações.
Vigiemo-nos. Imitemos o lavrador correto que zela pela própria lavoura, e, se o esnobismo surge, sorrateiro, em nossas atividades, procuremos de imediato, dar o fora com ele.
Livro: Estude E Viva - Francisco Cândido Xavier E Waldo Vieira Pelos Espíritos Emmanuel E André Luiz



AUXILIAR

 “Eis que o semeador saiu a semear.” — JESUS — MATEUS, 13:3
“A perfeição está toda, como disse o Cristo, na prática da caridade absoluta; mas os deveres da caridade alcançam todas as posições sociais, desde o menor até o maior.” — Cap. XVII, 10.

 Auxiliar, amparar, consolar, instruir!
 Para isso, não aguardes o favor das circunstâncias.
 Jesus foi claro no ensinamento.
 O semeador da parábola não esperou chamado algum.
 Largou simplesmente as conveniências de si mesmo e saiu para ajudar.
 O Mestre não se reporta à leiras adubadas ou a talhões escolhidos. Não menciona temperaturas ou climas. Não diz se o cultivador era proprietário ou rendeiro, se moço no impulso ou amadurecido na experiência, se detinha saúde ou se carregava o ônus da enfermidade.
 Destaca somente que ele partiu a semear.
 Por outro lado, Jesus na informa se o homem do campo recebeu qualquer recomendação acerca de pântanos ou desertos, pedreira ou espinheirais que devesse evitar. Esclarece que o tarefeiro plantou sempre e que a penúria ou o insucesso do serviço foi problema do solo beneficiado e não dos braços que se propunham a enriquecê-lo.
 Saibamos, assim, esquecer-nos para servir.
 Não importa venhamos a esbarrar com respostas deficientes da gleba do espírito, às vezes desfigurada pela urze da incompreensão ou pelo cascalho da ignorância. Idéia e trabalho, tempo e conhecimento, influência e dinheiro são possibilidades valiosas em nossas mãos. Todos podemos espalhá-las por sementes de amor e luz.
 O essencial, porém, será desfazer o apego excessivo às nossas comodidades, aprendendo a sair.

Emmanuel - Psicografia : Francisco Cândido Xavier - Livro : Livro da Esperança





VIVER COM NATURALIDADE

"... Vivei com os homens de vossa época, como devem viver os homens..." "... Fostes chamados a entrar em contato com espíritos de natureza diferente, de caracteres opostos; não choqueis nenhum daqueles com os quais vos encontrardes. Sede alegres, sede felizes, mas da alegria que dá uma boa consciência..." (Cap. XVII, item 10)

Viver "felizes segundo as necessidades da Humanidade" é viver com naturalidade, ou seja, participar efetivamente na sociedade usando nosso jeito natural de ser.
Todos nós fomos abençoados com determinadas vocações, e o mundo em que vivemos precisa de nossa cooperação individual, para que possamos, ao mesmo tempo, desenvolver nossas faculdades inatas na prática social e aumentar nossa parcela de contribuição junto à comunidade em que vivemos, no aperfeiçoamento da humanidade.
Possuímos talentos que precisam ser exercitados para que possam florescer, mas poucos de nós damos o real valor a essa tarefa. Esses mesmos talentos estão esperando nosso empenho de "se dar força", a fim de colocá-los em plena ação no intercâmbio das relações com as pessoas e com as coisas.
Não podemos então olvidar que viver no mundo é "entrar em contato com espíritos de natureza diferente, de caracteres opostos", reconhecendo que cada um dá o que tem, vive do jeito que pode, percebe da maneira que vê, admitindo que, por se tratar de tendências, talentos e vocações, todos nós temos a peculiar necessidade de "ser como somos" e "estar onde quisermos" na vida social.
Talentos são impulsos naturais da alma adquiridos pela repetição de fatos semelhantes, através das vidas sucessivas. Vocação é a "voz que chama", palavra oriunda do latim "vocatus", que quer dizer chamado ou convocação.
Pelo fato de a Natureza ser uma verdadeira "vitrina" de biodiversidade ou multiplicidade de seres, é que cada indivíduo tem suas próprias ferramentas, úteis para laborar na lida social.
Todas as árvores são árvores, mas o pessegueiro não tem as mesmas peculiaridades do limoeiro, nem o abacateiro as da mangueira. Por isso, cada pessoa também se exprime em níveis diversos segundo as múltiplas formas com que a Sabedoria Divina nos plasmou na criação universal.
Assim, todos somos convocados a "agir no social com "um aspecto severo e lúgubre, repelindo os prazeres que as condições humanas permitem", mas felizes, fazendo o uso de nossos potenciais e faculdades prazerosamente.
Jesus de Nazaré vivia, à sua época, uma vida mística e distante da sociedade? O Cristo de Deus se integrava intensamente no social, "participando das festas de casamento", "do relacionamento fraterno, amando intensamente os amigos".
"Sem preconceito algum fazia visitas e tomava refeições em companhia de variadas criaturas", percorrendo cidades, campos e estradas sempre acompanhado dos amigos queridos e das multidões que O cercavam.
Em vista disso, devemos entender que as Leis do Criador deram às criaturas inclinações e aptidões íntimas e originais, para que elas pudessem conviver entre si, oferecendo a cada uma participação também original na vida comunitária de maneira "sui generis".
Devemos, sim, viver no mundo com a consciência de que somos espíritos imortais em crescimento e progresso, e de que o nosso "ânimo de viver" em sociedade depende de colocarmos em prática as nossas verdadeiras capacidades e vocações da alma.
Lembremo-nos, contudo, de que a palavra "ânimo" quer dizer "alma", do latim "animus", e de que devemos, cada um de nós, "viver com alma" no círculo social do mundo.
Livro: Renovando Atitudes - Hammed – Francisco do Espírito Santo Neto



FUGA DO MUNDO

"Não julgueis, todavia, que, exortando-vos incessantemente à prece e à evocação mental, pretendamos vivais uma vida mística, que vos conserve fora das leis da sociedade onde estais condenados a viver. Não; viva com os homens da vossa época, como devem viver os homens. Sacrificai às necessidades, mesmo às frivolidades do dia, mas sacrificai com um sentimento de pureza que as possa santificar."
O Evangelho Segundo Espiritismo -cap. 11 - Item 10

Fuga do mundo! Fenômeno comportamental que vem avassalando alguns companheiros beneficiados com o conhecimento espírita. Sua característica mais marcante é a de querer conviver somente entre companheiros de idealismo, com extrema limitação para entender perfis éticos e sociais que destoem da "performance doutrinária-evangélica".
Afora os conflitos naturais, sofridos em razão da necessária adaptação do homem depois que toma contato com as diretrizes espirituais, podemos classificar essa fuga do mundo, quando se torna persistente e sistemática, como verdadeira inconformação com as vicissitudes corporais.
Cataloguemos tal episódio da vida mental de "síndrome de além túmulo" pelo motivo de ser a vida espiritual o "objeto de desejo" de semelhantes casos.
A "síndrome de além túmulo" pode ser classificada como um comportamento neurótico de transferir para um "mundo ideal" as esperanças e expectativas do dia a dia no "mundo real". E' uma fuga, uma transferência como mecanismo de defesa de questões íntimas não resolvidas e dolorosas, resultantes principalmente de frustrações e insatisfações para o homem encarnado. Faz-se algo hoje pensando em colher na imortalidade, no futuro, sem nutrir-se dos benefícios dessa ação no hoje e no agora, vivendo um mundo imaginário "desconectado" dos sentimentos. Seu traço principal é a negação dos prazeres humanos com os quais seu portador carrega sofríveis desajustes. Apresenta-se esse conflito interior com variados assuntos como a riqueza, a beleza, a inteligência, a virtude e outros temas existenciais; por isso é comum projetar julgamentos estereotipados e repreensivos à conduta alheia, exatamente naqueles embates que a criatura carrega.
Doentio nesse lance da vida mental é a suposição que se elabora para si mesmo sobre os futuros frutos que obterá na vida dos espíritos, simplesmente pelo fato de "aguentar resignadamente" as dores pelas quais vêm passando, quando tais dores nesse tipo de vivência são desajustes de inaceitação e rebeldia, provas morais adicionais e distante das provas reais, ante os quadros de aferição terrena a que todo espírito reencarnado está submetido com mais ou menos intensidade.
O conhecimento espírita para agregar valor espiritualizante precisa ser contextualizado, ou seja, adequado à vivência prática de quem o possui, respeitando sua individualidade, seus problemas e suas qualidades. O acúmulo de informações, sem a devida renovação da experiência de viver e conviver, poderá, em algumas situações, servir ao interesse pessoal na sutil fuga dos deveres que a Terra "impõe" como planeta expiatório.
Abençoada é a literatura espírita, mas a cultura humana, que é construída a partir das informações e experiências entre os homens, transportou com certo exagero as avaliações de boa parte dos adeptos espíritas para o mundo espiritual, as existências passadas e a influência dos desencarnados. E' a velha dicotomia passado, presente e futuro no campo da fragmentação da "realidade mental".
Verdadeiramente, o presente é a nossa realidade, contudo o atavismo do reino dos céus, ressumando do passado conjugado às esperanças futuras na vida extrafísica, determina ampla soma de desencontros com as desconfortáveis experiências que todos temos que passar para aquilatar valores e vencer imperfeições.
Essa "síndrome", portanto, gerou uma cultura de supervalorização das questões do mundo extrafísico trazendo como consequência a negação da relação com o mundo físico.
Três são os resultados éticos e emocionais de semelhante postura mental:
- A transferência de responsabilidade sobre os insucessos pessoais, imputada a espíritos e carmas.
- Negação do passado da atual existência pela camuflagem de medos, frustrações, desejos, culpas e sentimentos; são as máscaras emocionais.
- Foco dos pensamentos centrado no tipo de relações sociais das colônias de além túmulo contidas na literatura espiritista.
Ante essa cruel vivência da vida interior, torna-se escassa a auto-estima, enfraquece-se o desejo de progresso e espera-se resultados ótimos na vida além túmulo pelo simples fato de apenas pertencer às fileiras de serviço ou frequência das casas doutrinárias, como se assim todos os problemas estivessem solucionados. E' quando encontra decepções e surpresas desagradáveis na própria convivência com os companheiros de tarefa, melindra-se ostensivamente, afogando-se em mágoas e deserções irrefletidas, supondo que "novos carmas" surgiram para elevá-lo ainda mais na escala de sua suposta ascensão.
Muita oração e paciência requisitam tais corações em nossas fileiras. São doentes graves e podem carecer de tratamentos especializados dos ramos da psique, quando essas desarmonias são persistentes e progressivas.
Evita, desse modo, fugir de teu mundo. Não espere um grupo de cooperadores Celestes na esfera de tuas ações espíritas, relegando o trabalho educativo de ti mesmo ao preço da insipiência e descuidos alheios.
Os dirigentes conscientes e comprometidos ensejem um ambiente doutrinário que conecte o tarefeiro com seu mundo, interagindo sempre o centro espírita com a sociedade e seus problemas, fortalecendo seus irmãos para viverem no mundo sem serem do mundo, e para serem espíritas sem desejarem ser "anjos"...
Vemos assim mais uma faceta sutil das batalhas do espírita na Terra que apela com urgência para a arregimentação de grupos espíritas mais humanos e acolhedores. Grupos que saibam estender mãos e coração a essas desamornias provacionais, tonificando o necessitado de forças novas e soluções realistas e libertadoras. Grupos que tenham competência de demonstrar socorro e rota a quem lhes busca, independentemente da natureza de sua problemática, de educar para entender que cada criatura é o arquiteto de seu destino, o construtor de sua felicidade, apontando-lhe o estudo e o trabalho indispensáveis para seu reajustamento ante as dores do mundo.
Indispensável constatar que semelhantes grupos só podem ser construídos se seus condutores forem criaturas que vivam o mundo da realidade física com coerência e possuam respostas para os conflitos humanos, porque as buscaram para superar suas próprias lutas íntimas. O bom dirigente é aquele que passa experiência e expõe seus caminhos sem, contudo, acreditar que eles sejam os melhores ou que vão servir para todos.
Certamente, conquistando a harmonização afetiva consigo mesmo, o homem conseguirá sentir com mais exatidão e realismo a vida que o cerca, seu pensamento refletirá a nobreza dos seus desejos, as atitudes falarão de sua compostura moral e, então, ele assumirá suas responsabilidades com mais empenho e dedicação, aprendendo a amar a todos e a tudo como são e estão, por sua vez prosseguindo seu caminho de compromissos com a consciência, inderrogavelmente, praticando o bem sem cessar, o que nos faz recordar a sábia alocução entre Allan Kardec e os Espíritos Superiores, assim descrita na questão 642 de O Livro dos Espíritos:
"Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal?"
"Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem."
Companheiros da jornada carnal,
A Terra é uma universidade prodigiosa para nossas necessidades. Fugir de contribuir com o progresso e o crescimento desse planeta é ingratidão e inconsciência. Para almas em nosso estágio, nós que já recusamos o mal, mas ainda temos o desejo do bem embrionário, ela é farta despenseira de bênçãos.
Aprendamos a amar as leiras terrenas.
Conquanto os conflitos que carregamos, mesmo com os anseios não satisfeitos, inconformados com as lutas e com tendências para a "reclusão opcional", sigamos sempre o ideal da melhora, cultivando resignação ativa sem acomodar, ampliando os sonhos sem deixar de trabalhar e esforçar. A desistência ou a fuga fazem-nos jornadeiros insensatos e desculpistas, covardes e indiferentes à riqueza da vida.
A insatisfação crônica não será remediada com vida ascética e puritanismo, porém com nobre devoção ao dever, levando-nos, paulatinamente, a redescobrir a alegria de viver e o fulgor glorioso da paz através dos sacrifícios em equilibrar-se, enfrentando nosso infeliz passado onde se encontram as causas reais das dores que nos atormentam.
Vigiemos a conduta para não transportarmo-nos para as compensações ilusórias das viciações ou na aceitação desonrosa de "vender a alma" a novas formas de prazer, nas derrapagens morais da corrupção no ganho fácil.
E jamais esqueçamos, em tempo algum, que a solução definitiva da "síndrome de além túmulo" será aprender a amar a oportunidade do renascimento, por mais escassez e dureza nas provações, fazendo o melhor que pudermos e com muita fé na abundância da misericórdia de Deus...
Livro: Mereça ser Feliz – Ermance Dufaux –  Wanderley S. Oliveira




DORES DO MARTÍRIO

"Não consiste a virtude em assumirdes severo e lúgubre aspecto, em repelirdes os prazeres que as vossas condições humanas vos permitem." Não imagineis, portanto, que, para viverdes em comunicação constante conosco, para viverdes sob as vistas do Senhor seja preciso vos cilicieis e cubrais de cinzas." E.S.E. cap. 17)

No capítulo do crescimento espiritual torna-se essencial distinguir o que são as dores do crescimento e as dores do martírio.
Não existe reforma íntima sem sofrer, mas martírio é uma forma de autopunição, são "penitências psicológicas" que nos impomos como se com isso estivéssemos melhorando.
Em razão do complexo de inferioridade que assola expressiva parcela das almas na Terra, e cientes de que semelhante vivência psicológica deve-se ao nosso voluntário "afastamento de Deus", ao longo das etapas evolutivas, fazendo-nos sentir inseguros e impotentes, hoje criamos as capas mentais para nos sentirmos minimamente bem e levar avante o desejo de existir e viver.
Essas capas são as estruturas do "eu ideal" que nos leva a crer sermos mais do que realmente somos, uma defesa contra as mazelas que não queremos aceitar em nós mesmos.
A melhoria íntima autêntica ocorre pelo processo de conscientização e não pelas dores decorrentes de cobranças e conflitos interiores, que instalam "circuitos fechados" e pane na vida mental.
Sem dúvida, todos sofremos para crescer; martírio, no entanto, é o excesso que nasce da incapacidade de gerir com equilíbrio o mundo emotivo, assumindo proporções e facetas diversificadas conforme o temperamento e as necessidades de cada qual.
Não o confundamos também com sacrifício - ato que ocasiona dores intensas com objetivo de alcançar alguma meta ou superar alguma dificuldade. '
O que define a condição psíquica de martirizar-se é o fato de se crer no desenvolvimento de qualidades que, de fato, não estão sendo trabalhadas na intimidade.
São as dores impostas a nós mesmos pelas atitudes de desamor, quando acreditamos no "eu ideal" e negamos ou fugimos do "eu real".
Quase sempre as dores do martírio decorrem de não querermos experimentar as dores do crescimento.
Um exemplo típico é quando somos convocados a examinar certa imperfeição apontada por alguém e, entre a dor da auto-avaliação e a dor da negação, preferimos a segunda, a qual integra a lista das "dores-excesso".
Dentre as formas autopunitivas mais comuns, destacamos que a maneira pela qual reagimos a nossos erros tem sido um canal de acesso a infinitas dimensões expiatórias.
Muitos corações transformam o erro e a insatisfação com suas experiências em quedas lamentáveis e irrecuperáveis, quando a escola da vida é um gesto de sabedoria e complacência convidando-nos sempre a reerguer e recomeçar, perante todos os insucessos do caminho.
Quando digo assim: "não posso mais falhar" será mais difícil a conquista de si.
Dessa forma começamos a conhecer os grandes inimigos do auto-amor no nosso íntimo, em deles é o perfeccionismo - uma das fontes de martírio que costuma dizimar a energia de muitos aprendizes da espiritualização. Querendo se transformar, partem para um processo de auto-inaceitação e de auto-reprovação muito cruéis, inclinando-se para a condenação.
A questão não é de lutar contra nós, e sim conquistar essa parte enferma, recuperá-la, e isso jamais conseguiremos se não aprendermos a amar esse nosso "lado doentio".
Essa forma inadequada de reagir a nossos erros abre porta para muitas conseqüências graves, e às vezes maiores que o próprio erro em si, tais como:
. estado íntimo de desconforto e desassossego quase permanente,
. torturante sensação de perda de controle sobre a existência,
. baixa tolerância à frustração,
. ansiedade de origem ignorada,
. medos incontroláveis de situações irreais,
. irritações sem motivos claros,
. angústia perante o porvir com aflição e
. sofrimento por antecipação,
. excesso de imaginação ante fatos corriqueiros da vida,
. descrença no esforço de mudança e nas tarefas doutrinárias,
. mau humor,
. decisões infelizes no clima emotivo de confusão mental,
. intenso desgaste energético decorrente de conflitos,
. desânimo
- são algumas dores do martírio.
Quando permanecem prolongadamente, esses estados psicológicos configuram uma auto-obsessão que pode atingir o campo do vampirismo e de ilimitadas doenças físicas.
Poder-se-ia indagar a origem mais profunda de tantas lutas e teríamos que vagar por um leque de alternativas tão amplo quanto são as individualidades.
Todavia, para nossos propósitos desse momento, convém-nos refletir sobre uma das mais pertinentes atitudes que têm levado os discípulos espíritas aos sofrimentos voluntários com seu processo de interiorização.
Sejamos claros e sem subterfúgios para o nosso bem.
O culto à dor tornou-se uma cultura nos ambientes espíritas.
Condicionou-se a idéias de que sofrer é sinônimo de crescer, de que sofrer é resgatar, quitar.
Portanto, passou-se a compreender a "dor-punitiva" como instrumento de libertação, quando, em verdade, somente a dor que educa liberta.
Há criaturas dotadas de largas fatias de conhecimento espiritual sofrendo intensamente, mas que continuam orgulhosas, insensatas, hostis e rebeldes.
Não é a intensidade da dor que educa, e sim o esforço de aprender amenizá-las.
O espírita costuma "neurotizar" a proposta da reforma íntima. É a "neurose de santificação", um modo imaturo de agir em razão da ausência de noções mais profundas sobre a sua verdadeira realidade espiritual.
Constatamos que existe muita impaciência com a reforma íntima devido à angústia causada ao espírito devido ao contato com sua verdadeira condição diante do Universo.
Cria-se assim para si, através de mecanismos mentais, as "virtudes de adorno" ou "compensações artificiais" a fim de sentir-se valorizado perante a consciência e o próximo.
São os esconderijos psíquicos nos quais quase sempre enfurnamos para não tomarmos contato com a "verdade pessoal" ...
Essa neurotização da virtude gera um sistema de vida cheio de hábitos e condutas rígidas, a título de seguir orientações da doutrina.
Adota-se procedimentos que não são sentidos e "triturados" pela arte de pensar.
Isso nos desaproxima ainda mais da autêntica mudança e passamos então a nos preocupar com o que não devemos fazer, esquecendo o que devíamos estar fazendo.
Certamente esse caminho gera martírio e ônus para a vida mental.
Existem muitas dores naturais no crescimento espiritual que estabelecem um processo crônico de pressão psicológica, entretanto, diferem muito da autoflagelação, porque elas impulsionam e fazem parte da grande batalha pela promoção de todos nós.
Observa-se, inclusive, que alguns corações sinceros, inseridos no esforço auto-educativo, experimentam essa "silenciosa expiação", mas, por desconhecerem os percalços do trabalho renovador, terminam por desistirem de prosseguir e atolam-se no desânimo.
Acreditam-se piores quando constatam semelhantes quadros de dor psicológica e deduzem que, ao invés de progredirem, estão em plena derrocada.
Diga-se de passagem, não são poucos os quadros com essas características que temos observado no seio do movimento doutrinário.
Freqüentemente existe um trio de sicários da alma que a chicoteiam durante as etapas do amadurecimento, são eles: baixa auto-estima, culpa e medo de errar.
Apesar de serem sofrimentos psíquicos, funcionam como emuladores do progresso quando nos habilitamos para gerenciá-los.
Assim, a culpa transforma-se em auto-aferição da conduta e freio contra novas quedas, a baixa auto-estima converte-se em capacidade de descobrir valores e o medo de errar promove-se a valoroso arquivo de experiências e desapego de padrões.
Face ao exposto, indaguemos sobre quais seriam as medidas que deveriam ser implementadas nos núcleos educativos do Espiritismo, em favor da melhor compreensão dos roteiros de transformação interior.
Aprofundemos debates entre dirigentes sobre quais iniciativas poderiam ser facilitadas aos novéis trabalhadores, em favor de um aprendizado sem os torturantes conflitos originados da crueldade aplicada a nós mesmos, quando não somos criativos o bastante para lidar com nossa sombra e tombamos em martírios inúteis.
Reforma íntima deve ser considerada como melhoria de nós mesmos e não a anulação de uma parte de nós considerada ruim.
Uma proposta de aperfeiçoamento gradativo cujo objetivo maior é a nossa felicidade.
Quem está na reforma interior tem um referencial fundamental para se auto-analisar ao longo da caminhada educativa, um termômetro das almas que se aprimoram; inevitavelmente, quem se renova alcança a maior conquista das pessoas livres e felizes: O PRAZER DE VIVER.
Livro: Reforma Intima Sem Martírio – Ermance Dufaux – Wanderley S. Oliveira





PEQUENA HISTÓRIA

Um dia, a Gota D’Água, o Raio de Luz, a Abelha e o Homem Preguiçoso chegaram ao trono de Deus.
O Todo-Poderoso recebeu-os, com bondade, e perguntou pelo que faziam.
A Gota D’Água avançou e disse:
-          Senhor, eu estive num terreno quase deserto, auxiliando a raiz de uma laranjeira. Vi muitas árvores sofrendo sede e diversos animais que passavam, aflitos, procurando mananciais. Fiz o que pude, mas venho pedir-te outras Gotas D’Água que me ajudem a socorrer quantos necessitam de nós.  
O Pai sorriu, satisfeito, e exclamou:
-          Bem-aventurada sejas pelo entendimento de minhas obras. Dar-te-ei os recursos das chuvas e das fontes.
Logo após, o Raio de Luz adiantou-se e falou:
-          Senhor, eu desci... desci... e encontrei o fundo de um abismo. Nesse antro, combati a sombra, quanto me foi possível, mas notei a presença de muitas criaturas suplicando claridade. Venho ao Céu rogar-te outros Raios de Luz que comigo cooperem na libertação de todos aqueles que, no mundo, ainda sofrem a pressão das trevas.
O Pai contente respondeu:
-          Bem-aventurado sejas pelo serviço à Criação.Dar-te-ei o concurso do Sol, das lâmpadas, dos livros iluminados e das boas palavras que se encontram na Terra.
Depois disso a Abelha explicou-se:
-          Senhor, tenho fabricado todo o mel, ao alcance de minhas possibilidades. Mas vejo tantas crianças fracas e doentes que te venho implorar mais flores e mais Abelhas, a fim de aumentar a produção...
  O Pai, muito feliz, abençoou-a e replicou:
-          Bem-aventurada sejas pelos benefícios que prestastes. Conceder-te-ei novos jardins e novas companheiras.
 Em seguida o Homem Preguiçoso foi chamado a falar.
Fez uma cara desagradável e informou:
-          Senhor, nada consegui fazer. Por todos os lados, encontrei a inveja e a perseguição, o ódio e a maldade. Tive os braços atados pela ingratidão dos meus semelhantes. Tanta gente má permanecia em meu caminho que, em verdade, nada pude fazer. 
O Pai bondoso, com expressão de descontentamento, exclamou:
-          Infeliz de ti, que desprezaste os dons que te dei. Adormeceste na preguiça e nada fizeste. Os seres pequeninos e humildes alegraram o meu Trono com o relatório de seus trabalhos, mas tua boca sabe apenas queixar, como se a inteligência e as mãos que te confiei para nada valessem. Retira-te! Os filhos inúteis e ingratos não devem buscar-me a presença. Regressa ao mundo e não voltes a procurar-me enquanto não  aprenderes a servir.
A Gota D’Água regressou, cristalina e bela.
O Raio de Luz tornou aos abismos, brilhando cada vez mais.
A Abelha desceu zumbindo feliz.
O Homem Preguiçoso, porém, retirou-se muito triste.
Francisco Cândido Xavier, Da obra: Alvorada Cristã. Ditado pelo Espírito Neio Lúcio.





O SERVIDOR NEGLIGENTE

Á porta de grande carpintaria, chegou um rapaz, de caixa às costas, à procura de emprego.
Parecia humilde e educado.
O diretor da instituição compareceu, atencioso, para atendê-lo.
- Tem serviço com que me possa favorecer? – indagou o jovem, respeitoso, depois das saudações habituais.
- As tarefas são muitas – elucidou o chefe.
- Oh! Por favor! – tornou o interessado – meus velhos pais necessitam de amparo. Tenho batido, em vão, à porta de várias oficinas. Ninguém me socorre. Contentar-me-ei com salário reduzido e aceitarei o horário que desejar.
O diretor, muito calmo, acentuou:
- Trabalho não falta...
E, enquanto o candidato mostrava um sorriso de esperança, acrescentou:
- Traz suas ferramentas em ordem?
- Perfeitamente – respondeu o interpelado.
- Vejamo-las.
O moço abriu a caixa que trazia. Metia pena reparar-lhe os instrumentos.
A enxó se achava deformada pela ferrugem grossa.
O serrote mostrava vários dentes quebrados.
O martelo tinha cabo incompleto.
O alicate estava francamente desconjuntado.
Diversos formões não atenderiam a qualquer apelo de serviço, tal a imperfeição que apresentavam seus gumes.
Poeira espessa recobria todos os objetos.
O dirigente da oficina observou... observou ... e disse, desencantado:
- Para o senhor, não temos qualquer trabalho.
- Oh! por quê? – interrogou o rapaz, em tom de súplica.
O diretor esclareceu, sem azedume:
- Se o senhor não tem cuidado com as ferramentas que lhe pertencem, como preservará nossas máquinas? Se é indiferente naquilo em que deve sentir-se honrado, chegará a ser útil aos interesses alheios? Quem não zela atentamente no “pouco” de que dispõe, não é digno de receber o “muito”. Aprenda a cuidar das coisas aparentemente sem importância. Pelas amostras, grandes negócios se realizam neste mundo e o menosprezo para consigo é indesejável mostruário de sua indiferença perniciosa. Aproveite a experiência e volte mais tarde.
Não valeram petitórios do moço necessitado.
Foi compelido a retirar-se, em grande abatimento, guardando a dura lição.
Assim também acontece no caminho comum.
Quem deseja o corpo iluminado e glorioso na espiritualidade, além da morte, cuide respeitosamente do corpo físico.
Quem aspira à companhia dos anjos, mostre boas maneiras, boas palavras e boas ações aos vizinhos.
Quem espera colheita de alegrias no futuro, aproveite a hora presente, na sementeira do bem.
E quantos sonharem com o Céu tratem de fazer um caminho de elevação na Terra mesma.
Francisco Cândido Xavier, Da obra: Alvorada Cristã. Ditado pelo Espírito Neio Lúcio.





O DESCUIDO IMPENSADO

No orfanato em que trabalhava, Irmã Clara era o ídolo de toda gente pelas virtudes que lhe adornavam o caráter.
Era meiga, devotada, diligente.
Daquela boca educada não saíam más palavras.
Se alguém comentava falhas alheias, vinha solícita, aconselhando:
- Tenhamos compaixão...
Inclinava a conversa em favor da benevolência e da paz.
Insuflava em quantos a ouviam o bom ânimo e o amor ao dever.
Além do mais, estimulava, acima de tudo, em todos os circunstantes a boa-vontade de trabalhar e servir para o bem.
- Irmã Clara – dizia uma educadora -, tenho necessidade do vestido para o sábado próximo.
Ela, que era a costureira dedicada de todos, respondia, contente:
- Trabalharemos até mais tarde. A peça ficará pronta.
- Irmã – intervinha uma das criadas -, e o avental?
- Amanhã será entregue – dizia Clara, sorrindo.
Em todas as atividades, mostrava-se a desvelada criatura qual anjo de bondade e paciência.
Invariavelmente rodeada de novelos de linha, respirava entre as agulha e a máquina de costurar.
Nas horas da prece, demorava-se longamente contrita na oração.
Com a passagem do tempo, tornava-se cada vez mais respeitada. Seus pareceres eram procurados com interesse.
Transformara-se em admirável autoridade da vida cristã.
Em verdade, porém, fazia por merecer as considerações de que era cercada.
Amparava sem alarde.
Auxiliava sem preocupação de recompensa.
Sabia ser bondosa, sem humilhar a ninguém com demonstrações de superioridade.
Rolaram os anos, como sempre, e chegou o dia em que a morte a conduziu para a vida espiritual.
Na Terra, o corpo da inesquecível benfeitora foi rodeado de flores e bênçãos, homenagens e cânticos e sua alma subiu, gloriosamente, para o Céu.
Um anjo recebe-a, carinhoso e alegre, à entrada.
Cumprimentou-a. Reportou-se aos bens que ela espalhara, todavia, sob impressão de assombro, Irmã Clara ouviu-o informar:
- Lastimo não posso demorar-se conosco senão três semanas.
- Oh! por quê? – interrogou a valorosa missionária.
- Será compelida a voltar, tomando novo corpo de carne no mundo – esclareceu o mensageiro.
- Como assim?
O anjo fitou-a, bondoso, e respondeu:
- A Irmã foi extremamente virtuosa; entretanto, na posição espiritual em que se encontrava não poderia cometer tão grande descuido. Desperdiçou uma enormidade de fios de linha, impensadamente. Os novelos que perdeu, davam para costurar alguns milhares de vestidos para crianças desamparadas.
- Oh! Oh! Deus me perdoe! – exclamou a santa desencarnada – e como resgatarei a dívida?
O anjo abraçou-a, carinhoso, e reconfortou-a dizendo:
- Não tema. Todos nós a ajudaremos, mas a querida irmã recomeçará sua tarefa no mundo, plantando um algodoal.
 Francisco Cândido Xavier,  Da obra: Alvorada Cristã. Ditado pelo Espírito Neio Lúcio.





A NECESSIDADE DO ESFORÇO

Conta-se que, no princípio da vida terrestre, o alimento das criaturas era encontrado como oferta da Divina Providência, em toda parte.
Em troca de tanta bondade, o Pai Celeste rogava aos corações mais esforço no aperfeiçoamento da vida.
O povo, no entanto, observando que tudo lhe vinha de graça, começou a menosprezar o serviço.
O mato inútil cresceu tanto, que invadia as casas, onde toda a gente se punha a comer e dormir.
Ninguém desejava aprender a ler.
A ferrugem, o lixo e o mofo apareciam em todos os lugares.
Animais, como os cães que colaboram na vigilância, e aves, como os urubus que auxiliam nas obras de limpeza, eram mais prestativos que os homens.
Vendo que ninguém queria corresponder à confiança divina, o Pai Celestial mandou retirar as facilidades existentes, determinando que os habitantes da Terra se esforçassem na conquista da própria manutenção.
Desde esse tempo, o ar e a água, o Sol e as flores, a claridade das estrelas e o luar continuaram gratuitos para o povo, mas o trabalho forçado da alimentação passou a vigorar como sendo uma lei para todos, porque, lutando para sustentar-se, o homem melhora a terra, limpa a habitação, aprende a ser sábio e garante o progresso.
Deus dá tudo.
O solo, a chuva, o calor, o vento, o adubo e a orientação constituem dádivas dEle à Terra que povoamos e que devemos aprimorar, mas o preparo do pão de cada dia, através do nosso próprio suor e da nossa própria diligência, é obrigação comum a todos nós, a fim de que não olvidemos o nosso divino dever de servir, incessantemente, em busca da Perfeição.

Francisco Cândido Xavier. Da obra: Pai Nosso.Ditado pelo Espírito Meimei.




ABRE A PORTA

"E havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo." - (JOÃO, 20:22.)

Profundamente expressivas as palavras de Jesus aos discípulos, nas primeiras manifestações depois do Calvário.
Comparecendo à reunião dos companheiros, espalha sobre eles o seu espírito de amor e vida, exclamando: "Recebei o Espírito Santo."
Por que não se ligaram as bênçãos do Senhor, automaticamente, aos aprendizes? por que não transmitiu Jesus, pura e simplesmente, o seu poder divino aos sucessores? Ele, que distribuíra dádivas de saúde, bênçãos de paz, recomendava aos discípulos recebessem os divinos dons espirituais. Por que não impor semelhante obrigação?
É que o Mestre não violentaria o santuário de cada filho de Deus, nem mesmo por amor.
Cada espírito guarda seu próprio tesouro e abrirá suas portas sagradas à comunhão com o Eterno Pai.
O Criador oferece à semente o sol e a chuva, o clima e o campo, a defesa e o adubo, o cuidado dos lavradores e a bênção das estações, mas a semente terá que germinar por si mesma, elevando-se para a luz solar.
O homem recebe, igualmente, o Sol da Providência e a chuva de dádivas, as facilidades da cooperação e o campo da oportunidade, a defesa do amor e o adubo do sofrimento, o carinho dos mensageiros de Jesus e a bênção das experiências diversas; todavia, somos constrangidos a romper por nós mesmos os envoltórios inferiores, elevando-nos para a Luz Divina.
As inspirações e os desígnios do Mestre permanecem a volta de nossa alma, sugerindo modificações úteis, induzindo-nos à legítima compreensão da vida, iluminando- nos através da consciência superior, entretanto, está em nós abrir-lhes ou não a porta interna.
Cessemos, pois, a guerra de nossas criações inferiores do passado e entreguemo- nos, cada dia, às realizações novas de Deus, instituídas a nosso favor, perseverando em receber, no caminho, os dons da renovação constante, em Cristo, para a vida eterna.

XAVIER, Francisco Cândido. Vinha de Luz. Pelo Espírito Emmanuel. 

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AOS ORADORES DO EVANGELHO, PARA QUE NOSSA TAREFA SEJA DE ACORDO COM O ESPERADO POR JESUS!

“APASCENTA AS MINHAS OVELHAS” – JESUS. (JOÃO, 21:17)

Significativo é o apelo do Divino Pastor ao coração amoroso de Simão Pedro para que lhe continuasse o apostolado.

Observando na Humanidade o seu imenso rebanho, Jesus não recomenda medidas drásticas em favor da disciplina compulsória.

Nem gritos, nem xingamentos.

Nem cadeia, nem forca.

Nem chicote, nem vara.

Nem castigo, nem imposição.

Nem abandono aos infelizes, nem flagelação aos transviados.

Nem lamentação, nem desespero.

“Pedro, apascenta as minhas ovelhas! “

Isso equivale a dizer: - Irmão, sustenta os companheiros mais necessitados que tu mesmo.

Não te desanimes perante a rebeldia, nem condenes o erro, do qual a lição benéfica surgirá depois.

Ajuda ao próximo, ao invés de vergastá-lo.

Educa sempre.

Revela-te por trabalhador fiel.

Sê exigente para contigo mesmo e ampara os corações enfermiços e frágeis que te acompanham os passos.

Se plantares o bem, o tempo se incumbirá da germinação, do desenvolvimento, da florescência e da frutificação, no instante oportuno.

Não analises, destruindo.

O inexperiente de hoje pode ser o mentor de amanhã.

Alimenta a “boa parte” do teu irmão e segue para adiante.

A vida converterá o mal em detritos e o Senhor fará o resto.

(Texto número 19, extraído do livro Fonte Viva, de Emmanuel, psicografado por Chico Xavier)


IRMÃOS, RESPONSÁVEIS PELA ORATÓRIA DO EVANGELHO E DA APROXIMAÇÃO DOS OUVINTES ÀS MENSAGENS DE JESUS,

NÃO NOS ESQUEÇAMOS DO PEDIDO DO MESTRE,

APASCENTEMOS AS OVELHAS COM A DOÇURA POSSÍVEL,

COM A CONFIANÇA NECESSÁRIA,

E PRINCIPALMENTE COM O AMOR QUE DEVEMOS À QUEM ESPERA DE NÓS,

APENAS, QUE FAÇAMOS A NOSSA PARTE.

VIBRAÇÕES

VIBRAÇÕES: COMO FUNCIONAM AS VIBRAÇÕES E AS PRECES FEITAS PARA OS NECESSITADOS?

A CURA ATRAVÉS DAS VIBRAÇÕES

Certa moça, contrariada em suas inclinações, havia-se casado com um homem a quem não amava.

A mágoa que sofreu levou-a a um distúrbio mental.

Sob o domínio de uma ideia fixa, perdeu a razão e teve de ser internada.

Ela jamais ouvira falar de Espiritismo.

Se dele se tivesse ocupado teriam dito que os Espíritos lhe haviam transtornado a cabeça.

O mal provinha, assim, de uma causa moral acidental e exclusivamente pessoal.

Compreende-se que em tais casos os remédios normais nenhum efeito produzem, e como não havia obsessão, podia-se, também, duvidar do efeito da prece.

Um amigo da família e membro da Sociedade Espírita de Paris, julgou dever interrogar um Espírito superior, que respondeu:

- A ideia fixa dessa senhora, por sua mesma causa, atrai em sua volta uma porção de Espíritos maus, que a envolvem com seus fluidos e alimentam as suas idéias, impedindo que lhe cheguem as boas influências.

Os Espíritos dessa natureza abundam sempre em semelhantes meios e constituem, sempre, obstáculo à cura dos doentes.

Contudo podereis curá-la, mas para tanto é necessário uma força moral capaz de vencer a resistência.

E tal força não é dada a um só.

Cinco ou seis espíritas sinceros se reúnam todos os dias, durante alguns instantes e peçam com fervor a Deus e aos bons Espíritos que a assistam; que a vossa prece seja, ao mesmo tempo, uma magnetização mental.

Para tanto não necessitais estar junto a ela, ao contrário.

Pelo pensamento podeis levar-lhe uma salutar corrente fluídica, cuja força estará na razão de vossa intenção, aumentada pelo número.

Por tal meio podereis neutralizar o mau fluido que a envolve.

Fazei isto: tende fé em Deus e esperai."

Seis pessoas se dedicaram a esta obra de caridade e, durante um mês não faltaram à missão aceita.

Depois de alguns dias a doente estava sensivelmente mais calma; quinze dias mais tarde a melhora era manifesta e agora voltou para sua casa em estado perfeitamente normal, ignorando ainda, como o seu marido, de onde lhe veio a cura.

A maneira de agir é aqui indicada claramente e nada teríamos a acrescentar de mais preciso à explicação dada pelo Espírito.

A prece não tem apenas o efeito de levar ao doente um socorro estranho, mas o de exercer uma ação magnética.

Que não poderia o magnetismo ajudado pela prece!

Infelizmente certos magnetizadores, a exemplo de muitos médicos, fazem abstração do elemento espiritual; vêem apenas a ação mecânica, assim se privando de poderoso auxiliar.

Esperamos que os verdadeiros espíritas vejam no fato mais uma prova do bem que podem fazer em circunstâncias semelhantes.

Allan Kardec

CAUSAS DA OBSESSÃO E MEIOS DE COMBATE-LA - REVISTA ESPÍRITA, JANEIRO DE 1863 - ALLAN KARDEC


PRECE POR ENTENDIMENTO

Senhor Jesus!

Auxilia-nos a compreender mais, a fim de que possamos servir melhor, já que somente assim as bênçãos que nos concedes podem fluir, através de nós, em nosso apoio e em favor de todos aqueles que nos compartilham a existência.

Induze-nos à prática do entendimento que nos fará observar os valores que, porventura, conquistemos, não na condição de propriedade nossa e sim por manancial de recursos que nos compete mobilizar no amparo de quantos ainda não obtiveram as vantagens que nos felicitam a vida.

E ajuda-nos, oh! Divino Mestre, a converter as oportunidades de tempo e trabalho com que nos honraste em serviço aos semelhantes, especialmente na doação de nós mesmos, naquilo que sejamos ou naquilo que possamos dispor, de maneira a sermos hoje melhores do que ontem, permanecendo em Ti, tanto quanto permaneces em nós, agora e sempre.

Assim seja.

Emmanuel : Francisco Cândido Xavier - Livro: Paciência

DEZ MANEIRAS DE AJUDAR COM SEGURANÇA

NÃO DISCUTA

Se você é aprendiz do Evangelho, não ignora que o Divino Mestre permanece atento, na redenção do mundo, e que devemos estar vigilantes na execução do serviço que nos compete.

NÃO CRITIQUE

Observemos o setor de nossas obrigações e realizemos o melhor na obra geral, usando as possibilidades ao nosso alcance.

NÃO RECLAME

Contentarmo-nos com o ato de servir é simples dever e quem centraliza a mente na tarefa que lhe é própria não dispõe de tempo para formular queixas inoportunas.

NÃO CONDENE

Reparemos a parte aproveitável nas situações difíceis e esqueçamos todo mal.

NÃO EXIJA

Coopere sem rogar a colaboração alheia, de vez que a responsabilidade pertence a todos e cada um de nós será examinado de acordo com as próprias obras.

NÃO FUJA

Jamais olvide que o problema é a lição da vida. O aluno que teme o ensinamento, descerá naturalmente à retaguarda.

NÃO SE PRECIPITE

Usemos a serenidade. O trabalhador que sabe aproveitar os minutos e respeitá-los, nunca sofre os castigos do tempo.

NÃO TEMA

Quando fixamos o cérebro e o coração em Cristo somos simples agentes d’Ele e quem cumpre a Vontade do Mestre, não deve nem pode recear coisa alguma.

NÃO SE ENGANE

Ninguém precisa aplicar os raios candentes na verdade, a propósito dos mínimos acontecimentos da vida, desfigurando a alegria que deve imperar nos domínios da sementeira e da esperança, mas não perca de vista o que é essencial ao seu progresso, à sua felicidade e à sua redenção para o grande caminho.

NÃO SE ENTRISTEÇA

Lembre-se de que o Nosso Mestre é o Salvador pela Ressurreição. Sofrimento, amargura e morte são sombras. A cruz do Amigo Divino era degrau para a Glória Celeste. Seja esse pensamento uma luz permanente em nossa alma que jamais deve abrir-se ao desânimo. A certeza de que somos os seguidores felizes do Cristo Imortal é para nós motivo de soberana resistência e de eterno júbilo.

André Luiz - Do livro Cartas do coração. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.


AS VIBRAÇÕES SEGUNDO DR BEZERRA DE MENEZES

AS VIBRAÇÕES SEGUNDO DR BEZERRA DE MENEZES
LIVRO:INICIAÇÃO ESPÍRITA - EDGARD ARMOND

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