4 – O Espiritismo bem compreendido, mas sobretudo bem
sentido, conduz forçosamente aos resultados acima, que caracterizam o
verdadeiro espírita, como o verdadeiro cristão, pois um e outro são a mesma
coisa. O Espiritismo não cria uma nova moral, mas facilita aos homens a
compreensão e a prática da moral do Cristo, ao dar uma fé sólida e esclarecida
aos que duvidam ou vacilam.
Muitos, porém, dos que crêem na realidade das
manifestações, não compreendem as suas conseqüências nem o seu alcance moral,
ou, se os compreendem, não os aplicam a si mesmos. Por que acontece isso? Será
por uma falta de precisão da doutrina? Não, porque ela não contém alegorias,
nem figuras que possam dar lugar a falsas interpretações. A clareza é a sua
própria essência, e é isso que lhe dá força, para que atinja, diretamente a
inteligência. Nada tem de mistérios, e seus iniciados não possuem nenhum
segredo que seja oculto ao povo.
Seria necessária, então, para compreendê-la, uma
inteligência fora do comum? Não, pois vêem-se homens de notória capacidade, que
não a compreendem, enquanto inteligências vulgares, até mesmo de jovens que mal
saíram da adolescência, apreendem com admirável justeza as suas mais delicadas
nuanças. Isso acontece porque a parte, de qualquer maneira, material da
ciência, não requer mais do que os olhos para ser observada, enquanto a parte
essencial exige um certo grau de sensibilidade, que podemos chamar de
maturidade do senso moral, maturidade essa independente da idade e o grau de
instrução, porque é inerente ao desenvolvimento, num sentido especial, do
espírito encarnado.
Em algumas pessoas, os laços materiais são ainda muito
fortes, para que o espírito se desprenda das coisas terrenas. O nevoeiro que as
envolve impede-lhes a visão do infinito. Eis por que não conseguem romper
facilmente com os seus gostos e os seus hábitos, não compreendendo que possa
haver nada melhor do que aquilo que possuem. A crença nos Espíritos é para elas
um simples fato, que não modifica pouco ou nada as suas tendências instintivas.
Numa palavra, não vêem mais do que um raio de luz, insuficiente para
orientá-las e dar-lhes uma aspiração profunda, capaz de modificar-lhes as
tendências. Apegam-se mais aos fenômenos do que à moral, que lhes parece banal
e monótona. Pedem aos Espíritos que incessantemente as iniciem em novos
mistérios, sem indagarem se tornaram dignas de penetrar os segredos do Criador.
São, afinal, os espíritas imperfeitos, alguns dos quais estacionam no caminho
ou se distanciam dos seus irmãos de crença, porque recuam ante a obrigação de
se reformarem, ou porque preferem a companhia dos que participam das suas
fraquezas ou das suas prevenções. Não obstante, a simples aceitação da doutrina
em princípio é um primeiro passo, que lhes facilitará o segundo, numa outra
existência.
Aquele que podemos, com razão, qualificar de verdadeiro e
sincero espírita, encontra-se num grau superior de adiantamento moral. O
Espírito já domina mais completamente a matéria e lhe dá uma percepção mais
clara do futuro; os princípios da doutrina fazem vibrar-lhe as fibras, que nos
outros permanecem mudas; numa palavra: foi tocado no coração, e por isso a sua
fé é inabalável. Um é como o músico que se comove com os acordes; o outro,
apenas ouve os sons. Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação
moral e pelos esforços que faz para dominar suas más inclinações. Enquanto um
se compraz no seu horizonte limitado, o outro, que compreende a existência de alguma
coisa melhor, esforça-se para se libertar, e sempre o consegue, quando dispõe
de uma vontade firme.
TEXTOS DE APOIO
PRÓ OU CONTRA
Cap. XVII - Item 4 - ESE
"Quem não é comigo é contra mim". - Jesus -
(Lucas, 11:23)
Entre o bem e o mal não existe neutralidade.
De igual modo, não há miscibilidade ou transição entre a
verdade e a mentira.
Escondemo-nos na sombra ou revelamo-nos na luz.
Quem não edifica o bem, só por essa omissão já está
forjando o mal, em forma de negligência.
Quem foge à realidade cairá inevitavelmente no engano de
conseqüências imprevisíveis.
Importa considerar, entretanto, a relatividade das
posições individuais, nos quadros da vida coletiva, para não encarcerarmos a
própria conduta em opiniões inamovíveis.
Desse modo, busquenos sempre, acima de tudo, a verdade
fundamental que dimana do Criador, e o bem maior, relativo ao interesse
espiritual de todas as criaturas.
Partindo desse princípio basilar, sentiremos a realidade
do esclarecimento justo do Senhor:
- "Quem não é comigo é contra mim".
A necessidade mais imperiosa de nossas almas é sempre
aquela do culto incessante à caridade pura, sem condições de qualquer natureza.
Quem estiver fora dessa orientação, respira a distância do apostolado com
Jesus.
Para assegurar-nos a firme atitude na senda reta,
trazemos dentro de nós a consciência, à feição de porta-voz do roteiro exato.
Nos mínimos sucessos de cada dia, define-te, pois, com
clareza, para que te não abandones à neblina dos vales de indecisão.
Estacionamento no mal, ou ascensão para o bem.
Com Jesus ou distante dele.
Isto significa que estarás ao lado do Cristo, desprezando
agora as supostas facilidades que gerarão depois as dificuldades reais, ou
abraçando, hoje, a cruz do caminho que, amanhã, conferir-te-á o galardão do
imarcescível triunfo.
Emmanuel - Do livro O Espírito da Verdade. Psicografia de
Waldo Vieira.
ESPIRITISMO E VOCÊ
Recentemente você teve os primeiros contactos com a
Doutrina Espírita e agora se deslumbra com as novas perspectivas espirituais da
existência.
Ideais redentores.
Relações pessoais enriquecidas.
Conversações edificantes.
Leitura nobre.
Promissores ensejos de servir à fraternidade.
Recorde, no entanto, os imperativos da disciplina, em
todos os empreendimentos, para que a afoiteza não lhe crie frustrações.
Tornar-se espírita não é santificar-se automaticamente,
não significa privilégio e nem expressa cárcere interior.
É oportunidade de libertação da alma com
responsabilidades maiores ante as Leis da Criação.
É reencarnar-se moralmente, de novo, dentro da própria
vida humana.
Convicção espírita é galardão abençoado no aprendizado
multimilenar da evolução.
Desse modo, nem prevenção nem invigilância constituem
caminhos para semelhante conquista.
Urge sustentar perseverança e paciência na execução justa
de todos os deveres.
Evite arrancar abruptamente as raízes defeituosas, mas
profundas, de suas atividades; empreenda qualquer renovação pouco a pouco.
Contenha os ímpetos de defesa intempestiva das suas
idéias novas; sedimente primeiro os próprios conhecimentos.
Espiritismo é Claridade Eterna.
Gradue a intensidade da luz que você vislumbrar, para que
seus olhos não sejam acometidos pela cegueira do fanatismo.
Muitos irmãos nossos ainda se debatem nas lutas de
subnível, porque não se dispuseram a aceitar a realidade que você está
aceitando, mas, também, outros muitos palmilharam o lance da experiência que
hoje você palmilha e nem por isso alcançaram êxitos maiores, na batalha íntima
e intransferível que travamos conosco, em vista da negligência a que ainda se afazem.
Crença não nos exime da consciência.
Acertar ou cair são problemas pessoais.
Tudo depende de você.
Quem persiste na ilusão, abraça a teimosia.
Quanto mais se edifica a inteligência, mais se lhe
acentua o prazer de servir.
Obedeça, pois, ao chamamento do Senhor, emprestando boa
vontade ao engrandecimento da redenção humana, através do trabalho ativo e
incessante nos diversos setores em que se lhe possa desenvolver a colaboração.
Conserve-se encorajado e confiante.
Alegria serena, em marcha uniforme, é a norma ideal para
atingir-se a meta colimada.
Eleve anseios e esperanças, tentando sublimar emoções e
cometimentos.
Acima de tudo, consolide no coração a certeza de que a
revelação maior é aquela que nos preceitua o dever de procurar com Jesus a
nossa libertação do mal e, em nosso próprio benefício, compreendamos a real
posição do Mestre como Excelso Condutor de nosso mundo, em cujo infinito amor
estamos construindo o Reino de Deus em nós.
André Luiz - Do Livro O Espírito da Verdade. Psicografia
de Francisco Cândido Xavier.
O ESPÍRITA NA
EQUIPE
Numerosos companheiros estarão convencidos de que
integrar uma equipe de ação espírita se resume em presenciar os atos rotineiros
da instituição a que se vinculam e resgatar singelas obrigações de feição
econômica. Mas não é assim. O espírita, no conjunto de realizações espíritas, é
uma engrenagem inteligente com o dever de funcionar em sintonia com os elevados
objetivos da máquina.
Um templo espírita não é simples construção de natureza material.
É um ponto do Planeta onde a fé raciocinada estuda as leis universais, mormente
no que se reporta à consciência e à justiça, à edificação do destino e à
imortalidade do ser. Lar de esclarecimento e consolo, renovação e solidariedade,
em cujo equilíbrio cada coração que lhe compõe a estrutura moral se assemelha à
peça viva de amor na sustentação da obra em si. Não bastará freqüentar-lhe as
reuniões. É preciso auscultar as necessidades dessas mesmas reuniões,
oferecendo-lhes solução. Respeitar a orientação da casa, mas também contribuir,
de maneira espontânea, com os dirigentes, na extinção de censuras e rixas,
perturbações e dificuldades, tanto quanto possível no nascedouro, a fim de que
não se convertam em motivos de escândalo. Falar e ouvir construtivamente.
Efetuar tarefas consideradas pequeninas, como sejam sossegar uma criança,
amparar um doente, remover um perigo ou fornecer uma explicação, sem que, para
isso, haja necessidade de pedidos diretos. Sobretudo, na organização espírita,
o espírita é chamado a colaborar na harmonia comum, silenciando melindres e
apagando ressentimentos, estimulando o bem e esquecendo omissões no terreno da
exigência individual.
Todos nós, encarnados e desencarnados, comparecemos no
templo espírita no intuito de receber o concurso dos Mensageiros do Senhor; no
entanto, os Mensageiros do Senhor esperam igualmente por nosso concurso, no
amparo a outros, e a nossa cooperação com eles será sempre, acima de tudo,
trabalhar e servir, auxiliar e compreender.
Livro: Estude E Viva - Francisco Cândido Xavier E Waldo
Vieira Pelos Espíritos Emmanuel E André Luiz
PARÁBOLA SIMPLES
Diversos aprendizes rodeavam o Senhor, em Cafarnaum, em
discussão acesa, com respeito ao poder da palavra, acentuando-lhes os bens e os
males.
Propunham alguns o verbo contundente para a regeneração
do mundo, enquanto outros preconizavam a frase branda e compreensiva.
Reparando o tom de azedia nos companheiros irritadiços, o
Mestre interferiu e contou uma parábola simples.
― Certa feita ― narrou, com doçura ―, o Gênio do Bem, atendente
à prece de um lavrador de vida singela, emitiu um raio de luz e insuflou-o sobre
o coração dele, em forma de pequenina observação carinhosa e estimulante,
através de uma boca otimista.
No peito do modesto homem do campo, a fagulha
acentuou-se, inflamando-lhe os sentimentos mais elevados numa chama sublime de
ideal do Bem, derramando-se para todas as pessoas que povoavam a paisagem.
Em breve tempo, o raio minúsculo era uma fonte de
claridade a criar serviço edificante em todos os círculos do sítio abençoado;
sob a sua atuação permanente, os trigais cresceram com promessas mais amplas e
a vinha robusta anunciava abundância e alegria.
Converteu-se o raio de luz em esperança e felicidade na
alma dos lavradores e a seara bem provida avançou, triunfal, do campo venturoso
para todas as regiões que o cercavam, à maneira de mensagem sublime de paz e
fartura.
Muita gente ocorreu aquele recanto risonho e calmo,
tentando aprender a ciência da produção fácil e primorosa e conduziu para as
zonas mais distantes os processos pacíficos de esforço e colaboração, que o
lume da boa vontade ali instalara no ânimo geral.
Ao fim de alguns poucos anos, o raio de luz
transformara-se numa época de colheitas sadias para a tranqüilidade popular.
O Mestre fez ligeiro intervalo e continuou:
―Veio, porém, um dia em que o povo afortunado, orgulhando-se
agora do poderio obtido com o auxílio oculto da gratidão que devia à
magnanimidade celeste e pretendeu humilhar uma nação vizinha.
Isso bastou para que grande brecha se abrisse à
influência do Gênio do Mal, que emitiu um estilete de treva sobre ao coração de
uma pobre mulher do povo, por intermédio de uma boca maldizente.
A infortunada criatura não mais sentiu a claridade
interior da harmonia e deixou que o traço de sombra se multiplicasse
indefinidamente em seu íntimo de mãe enceguecida...
Logo após, despejou a sua provisão de trevas, já
transbordante, na alma de dois filhos que
trabalhavam num extenso vinhedo e ambos, envenenados por pensamentos
escuros de revolta, facilmente encontraram companheiros dispostos a
absorver-lhes os espinhos invisíveis de indisciplina e maldade, incendiando
vasta propriedade e empobrecendo vários senhores de rebanhos e terras, dantes
prósperos.
A perversa iniciativa encontrou vários imitadores e, em
tempo curto, estabeleceram-se estéreis conflitos em todo o reino.
Administradores e servos confiaram-se, desvairados, a
duelo mortal, trazendo o domínio da miséria que passou a imperar, detestada e
cruel para todos.
O Divino amigo silenciou por minutos longos e
acrescentou:
― Nesta parábola humilde, temos o símbolo da palavra preciosa
e da palavra infeliz. Uma frase de incentivo e bondade é um raio de luz,
suscetível de erguer uma nação inteira, mas uma sentença perturbadora pode
transportar todo um povo à ruína...
Pensou, pensou e concluiu:
― Estejamos certos de que se lhe oferece à paisagem, a treva
rola também, enegrecendo o que vai encontrando. Em verdade, a ação é dos braços,
mas a direção vem sempre do pensamento, através da língua.
E sendo todo homem filho de Deus e herdeiro d’Ele, na criação
e na extensão da vida, ouça quem tiver “ouvidos de ouvir”.
Livro: Contos E Apólogos – Humberto De Campos – Irmão X
DEPOIS
Depois de ouvir a palestra esclarecedora, cultive-a junto
dos companheiros ausentes.
Ensinamento ouvido, riqueza de aprendizado.
Depois da notícia edificante, transmita-a sem demora aos
irmãos carecentes de estímulo.
Ânimo levantado, rendimento em serviço.
Depois de ler a publicação doutrinária, passe-a adiante,
clareando outras consciências.
Palavra escrita, idéia gravada.
Depois de entender as frases do livro edificante,
imprima-a no próprio verbo.
Estudo assimilado, conversação enobrecida.
Depois de reconhecer o próprio erro, conserve a
experiência, divulgando-a no instante
oportuno.
Queda de alguém, apelo a muitos.
Depois de observar o acontecimento digno de atenção,
saliente o aviso que ficou.
Fato proveitoso, lição da vida.
Depois de substituir o objeto usado por outro novo,
conduza-o a mãos em maiores
necessidades.
Traste velho na frente, auxílio na retaguarda.
Depois de um dia, de uma tarefa, de uma crise, de uma
enfermidade, de uma viagem ou
de um encontro, algo se modifica em nosso espírito, para
melhor, e devemos ofertar aos
outros o melhor ao nosso alcance, sem deixar qualquer
auxílio para depois.
Livro: Estude E Viva - Francisco Cândido Xavier E Waldo
Vieira Pelos Espíritos Emmanuel E André Luiz
AO COMPANHEIRO ESPÍRITA
E - Cap. XVII -
Item 4
Afirma Allan Kardec "que se reconhece o verdadeiro
espírita por sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar as
tendências inferiores".
Quem se transfigura por dentro, no entanto, pensa por si
e quem raciocina por si desata as amarras dos preconceitos e escala renovações,
no rumo do conhecimento superior pelas vias do espírito.
É por isso que o raciocínio claro te arrancou ao ninho da
sombra.
Não mais para nós o claustro nebuloso da fé petrificada
em que se nos desenvolvia o entendimento, em multimilenária gestação.
Cessou para nós a nutrição mental por endosmose, no bojo
dos pensamentos convencionais.
Todavia, porque te transferes incessantemente de nível,
quase sempre, despertas no mais doloroso tipo de solidão - a solidão dos que
trabalham no mundo, a benefício do mundo, mas desajustados no mundo, sem que o
mundo os reconheça.
Falas - e freqüentemente, as tuas palavras voam sem eco.
Ages - as tuas ações nobres sofrem, não raro, o
menosprezo dos mais queridos.
Emancipas a própria alma - escravizando-te a deveres maiores.
Auxilias - desdenhado.
Compreendes - desdenhado.
Trabalhas - padecente.
Edificas - por entre lágrimas.
Consola - e vergastam-te os sentimentos.
Cultivas o bem - e arrasam-te o campo.
Urge perceber, porém, que quantos consomem as próprias
energias, na exaltação do bem, se fazem clarão, e aos que se fazem clarão as
sombras não mais oferecem lugar em meio delas.
Segue, assim, trilha adiante, erguendo a luz para que as
trevas não amortalhem, indefinidamente, os valores do espírito.
Se temes a extensão das dificuldades, reflete na semente,
a morrer em refúgio anônimo para que a vida se garanta; mas, se o exemplo de um
ser pequenino te não satisfaz, medita no ensinamento do maior e mais glorioso
espírito que já pisou caminhos terrestres. Ele também transitou, na estância
dos homens, sem pouso certo. Para nascer, socorreu-se da hospitalidade dos
animais; enquanto esteve diretamente no mundo, não reteve uma pedra em que
resguardar a cabeça; transmitiu a sua mensagem libertadora em recintos de
empréstimos e, em vista das sombras não lhe suportarem as eternas fulgurações,
já que não poderiam devolvê-lo ao Céu e nem lhe desejavam a presença, junto
delas, no chão, deram-se pressa em suspendê-lo na cruz, para que se
extinguisse, entre um e outro. Ele, no entanto, não se agastou, de leve, e qual
ocorre à semente que regressa da retorta escura a que foi relegada, convertendo
abandono em pão redivivo, Jesus também, ao terceiro dia, contado sobre o
desprezo extremo, voltou, em plenitude de amor, e ao transformar sacrifício em
luz renascente, retomou a construção da concórdia e da fraternidade, na Terra,
afirmando aos companheiros fracos e espantados:
- "A paz seja convosco."
De “Opinião Espírita”, de Francisco Cândido Xavier e
Waldo Vieira, pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz
PERANTE A PRÓPRIA DOUTRINA
Apagar as discussões estéreis, esquivando-se à criação de
embaraços que prejudiquem o desenvolvimento sadio da obra doutrinária.
O espírito da verdadeira fraternidade funde todas as
divergências.
Não restringir a prática doutrinária exclusivamente ao
lar, buscando contribuir, de igual modo, na seara espírita de expressão social,
auxiliando ainda a criação e a manutenção de núcleos doutrinários no ambiente
rural.
Todos estamos juntos nos débitos coletivos.
Orar por aqueles que não souberem ou não puderem
respeitar a santidade dos postulados espíritas, furtando-se de apreciar-lhes a
conduta menos feliz, para não favorecer a incursão da sombra.
O comentário em torno do mal, ainda e sempre, é o mal a
multiplicar-se.
Desapegar-se da crença cega, exercitando o raciocínio nos
princípios doutrinários, para não estagnar-se nas trevas do fanatismo.
Discernimento não é simples adorno.
Antes de criticar as instituições espíritas que julgue
deficientes, contribuir, em pessoa, para que se ergam a nível mais elevado.
Quem ajuda, aprecia com mais segurança.
Auxiliar as organizações espiritualistas ou as correntes
filosóficas que ainda não recebem orientação genuinamente espírita,
compreendendo, porém, que a sua tarefa pessoal já está definida nas edificações
da Doutrina que abraça.
O fruto não amadurece antes do tempo.
Recordar a realidade de que o Espiritismo não tem chefes
humanos e de que nenhum dos seareiros do seu campo de multiformes atividades é
imprescindível no cenário de suas realizações.
Cristo, nosso Divino Orientador, não vive ausente.
“Que fazeis de especial?” — Jesus. (MATEUS, 5:47.)
Livro: Conduta Espírita - Ditado Pelo Espírito - André
Luiz - Psicografia Waldo Vieira
ÉTICA DA
TRANSFORMAÇÃO
"RECONHECE-SE O VERDADEIRO ESPÍRITA PELA SUA
TRANSFORMAÇÃO MORAL (...) E.S.E., CAPÍTULO 17, ÍTEM 4
A reforma íntima é um trabalho processual. Processual
significa aquilo que obedece a uma seqüência. Em conceito bem claro, é a
habilidade de lidar com as características da personalidade melhorando os
traços que compõem suas formas de manifestação. Caráter, temperamento, valores,
vícios, hábitos e desejos são alguns desses caracteres que podem ser renovados
ou aprimorados.
Nessa saga de mutação e crescimento, o maior obstáculo a
transpor é o interesse pessoal, o conjunto de viciações do ego repetido durante
variadas existências corporais e que cristalizaram a mente nos domínios do
personalismo.
O hábito de atender incondicionalmente as imposições dos
desejos e aspirações pessoais levou-nos à cruel escravização, da qual muito
será exigido nos esforços reeducativos para nos libertarmos do "império do
eu".
Negar a si mesmo ou "despersonificar-se", esvaziar-se
de "si", tirar a máscara é o objetivo maior da renovação espiritual.
Esse o grande desafio a ser seguido por todos os que se comprometeram com
seriedade nas nobres finalidades do Espiritismo com Jesus e Kardec.
Extenso será esse caminho reeducativo na vitória sobre
nossa personalidade manhosa e talhada pelo egoísmo ...
O meio prático e eficaz de consegui-lo, conforme ensinam
os Bons Espíritos da codificação, é o conhecimento de si mesmo.
Entretanto, para levar o homem ao aprimoramento, o autodescobrimento
exige uma nova ética nas relações consigo e com a vida: é a ética da
transformação, sem a qual a incursão no mundo íntimo pode estacionar em mera
atitude de devassar a subconsciência sem propósitos de mudança para melhor. O
Espiritismo é inesgotável manancial no alcance desse objetivo. Seu conteúdo
moral é autêntico celeiro de rotas para quantos desejem assumir o compromisso
de sua transformação pessoal com segurança e equilíbrio. Sem psicologismo ou
atitudes de superfície, a Doutrina Espírita é um tratado de crescimento
integral que esquadrinha os vários níveis existenciais do ser na ótica
imortalista.
Nem sempre, porém, verifica-se tanta clareza de
raciocínios entre os espiritistas acerca dessa questão. Conceitos mal
formulados sobre o que seja a renovação interior têm levado muitos corações
sinceros a algumas atitudes de puritanismo e moralismo, que não correspondem ao
lídimo trabalho transformador da personalidade, em direção aos valores capazes
de solidificar a paz, a saúde e a liberdade na vida das criaturas. Por esse
motivo, será imperioso que as agremiações do mundo, erguidas em nome do
Espiritismo ou aquelas outras que expandam a luz da espiritualização entre os
homens, investiguem melhores noções sobre a ética da transformação, a fim de
oferecer a seus profitentes uma base mais cristalina sobre os caminhos e
percalços no serviço da iluminação de si mesmos.
A prática essencial e meta fundamental dos ensinos dos
Bons Espíritos são a melhora da humanidade, a formação do homem de bem. O Espiritismo,
em verdade, está nos elos que criamos, uns com os outros, e que passam a fazer
parte da personalidade nova que estamos esculpindo com o buril da educação. Os
"ritos" ou práticas doutrinárias são recursos didáticos para o
aprendizado do amor - finalidade maior de nossa causa. Na falta do amor, as
práticas perdem seu sentido divino e primordial.
Em face dessas reflexões, evidencia-se a urgência da
edificação de laços de afeto nos grupamentos humanos, no intuito de fixarmos na
intimidade as mensagens do evangelho e do bem universal. Afeto é a seiva
vitalizadora dos processos relacionais e o construtor de sentidos nobres para a
existência dos homens.
O autoconhecimento, através das luzes de imortalidade que
se espraia dos fundamentos espíritas, é um mapa de como chegar ao "eu
verdadeiro", à consciência. Todavia, essa viagem não pode ser feita
somente com o mapa, necessita de suprimentos morais preventivos e
fortalecedores, necessita de uma ética de paz consigo próprio. Somente se
conhecer não basta, é necessário um intenso labor de auto-aceitação para não
cairmos nas garras de perigosas ameaças nessa "viagem de retorno a
Deus", cujas mais conhecidas são a culpa, a autopunição e a baixa
auto-estima, as quais estabelecem o clima psicológico do martírio. É preciso
uma ética que assegure à transformação pessoal um resultado libertador de saúde
e harmonia interior. Tomar posse da verdade sobre si mesmo é um ato muito
doloroso para a maioria das criaturas.
À guisa de sugestões maleáveis, consideremos alguns
comportamentos que serão efetivos roteiros de combate, vigília e treinamento
para instauração das linhas éticas no processo autotransformador:
Postura de aprendiz - jamais perder o viçoso interesse em
buscar o novo, o desconhecido. Sempre há algo para aprender e conceitos a
reciclar. A postura de aprendiz se traduz no ato da curiosidade incessante, que
brota da alma como sendo a sede de entender o universo e nossa parte na
"dança dos ritmos cósmicos". Romper com os preconceitos e fugir do
estado doentio da auto-suficiência.
Observação de si mesmo - é o estudo atento de nosso mundo
subjetivo, o conhecimento das nossas emoções, o não julgamento e a
auto-avaliação constante. Tendemos a avaliar o próximo e esquecer do serviço
que nos compete, no entanto, relembremos que perante a imortalidade só
responderemos por nós, no que tange ao serviço de edificação dos princípios do
bem na intimidade.
Renúncia - a mudança Íntima exige uma seletividade social
dos ambientes e costumes, em razão dos estímulos que produzem reflexos no mundo
mental. No entanto, a renúncia deve ampliar-se também ao terreno das opiniões
pessoais e valores institucionais, para os quais, freqüentemente, o orgulho nos
ilude.
Aceitação da sombra - sem aceitação da nossa realidade
presente, poderemos instaurar um regime de cobranças injustas e intermináveis
conosco e posteriormente com os outros. A mudança para melhor não implica em
destruir o que fomos, mas dar nova direção e maior aproveitamento a tudo que
conquistamos, inclusive nossos erros.
Autoperdão - a aceitação, para ser plena, precisa do
perdão. Recomeço é a palavra de ordem nos serviços de transformação pessoal.
Sem ela o sofrimento e a flagelação poderão estipular provas dolorosas para a
alma. É uma postura de perdão às faltas que cometemos, mas que gostaríamos de
não cometer mais.
Cumplicidade com a decisão de crescer - o objetivo da
renovação espiritual é gradativo e exige devoção. Não é serviço para fins de
semana durante a nossa presença nas tarefas do bem, mas serviço continuado a
cada instante da nossa vida, onde estivermos. Somente assumindo com muita
seriedade esse desafio o levaremos avante. Imprescindível a atitude de
comprometimento com a meta de crescimento que assumimos. Somos egressos de
experiências frustradas no desafio do aperfeiçoamento pessoal, portanto, muito
facilmente somos atraídos para ilusões variadas. Somente com severidade e muita
disciplina construiremos o homem novo almejado.
Vigilância - é a atitude de cuidar da vida mental.
Cultivar o hábito da higiene dos pensamentos, da meditação no conhecimento de
si, da absorção de nutrição mental digna nas boas leituras, conversas,
diversões e ações sociais. Vigilância é a postura da mente alerta, ativa,
sempre voltada a ideais enriquecedores.
Oração - é a terapia da mente. Sem oração dificilmente
recolheremos os germens divinos do bem que constituem as correntes de Energia
Superior da Vida. Através dela, igualmente, despertamos na intimidade forças
nobres que se encontram adormecidas ou sufocadas pelos nossos descuidos de cada
dia.
Trabalho - os Sábios Guias da codificação asseveram que
toda ocupação útil é trabalho. Dar utilidade a cada momento dos nossos dias é
sublime investimento de segurança e defesa aos projetos de crescimento
interior.
Tolerância - toda evolução é concretizada na tolerância.
Deus é tolerância. Há tempo para tudo e tudo tem seu momento. Os objetivos da
melhoria requerem essa complacência conosco para que haja mais resultados
satisfatórios. Complacência não significa conivência ou conformismo, mas
caridade com nossos esforços.
Amor incondicional - aprender o auto-amor é o maior
desafio de quem assume o compromisso da reforma íntima, porque a tendência
humana é desgostar de sua história de evolução, quando toma consciência do
ponto em que se encontra ante os Estatutos Universais da Lei Divina. Sem
auto-amor a reforma Íntima reduz-se a "tortura Íntima". Aprender a
gostar de si mesmo, independente do que fizemos no passado e do que queremos
ser no futuro, é estima a si próprio, um estado interior de júbilo com nosso
retorno lento, porém gradativo, para uma identificação plena com o Pai.
Socialização - se o interesse pessoal é o grande
adversário de nosso progresso, então a ação em grupos de educação espiritual
será excelente medicação contra o personalismo e a vaidade. Destaquemos assim o
valor das tarefas doutrinárias regadas de afetividade e siso moral. São
treinamentos na aquisição de novos impulsos.
Caridade - se socializar pode imprimir novos impulsos e
reflexões no terreno da vida mental, a caridade é o "dínamo de sentimentos
nobres" que secundarão o processo socializador, levando-o ao nível de
abençoada escola do afeto e revitalização dos ensinamentos espíritas.
Conviveremos bem com os outros na proporção em que
estivermos convivendo bem conosco mesmo. A adoção de uma ética de paz, no
transcorrer da metamorfose de nós próprios, será medida salutar no alcance das
metas que almejamos, ao tempo em que constituirá garantia de bem-estar e
motivação para a continuidade do processo.
O exercício de negar a si mesmo não inclui o descuido ou
descrédito pessoal, confundindo a sombra que precisamos reciclar com
necessidades pessoais que não devemos desprezar, para o bem-estar e equilíbrio.
Cuidemos apenas de atrelar essas necessidades de conformidade com os novos rumos
que escolhemos.
Fazemos essa menção porque muitos corações queridos do
ideal supõem que reformar é negar ou mesmo castigar a si, quando o objetivo do
projeto de mudança espiritual é tornar o homem mais feliz e integrado à sua
divina tarefa perante a vida.
Nos celeiros de luz dos repositórios do Evangelho,
verificamos um exemplo de rara beleza e oportunidade que servirá como diretriz
segura para a "despersonificação" dos servidores do Cristo, na obra
do amor: Ananias, o apóstolo chamado para curar os olhos do Doutor de Tarso.
Quando o Mestre o chama pelo nome, o colaborador humilde, com prontidão e livre
dos interesses pessoais, responde sadiamente: "Eis-me aqui Senhor!"
(Atos, 9:10)
Livro: Reforma Intima Sem Martírio – Ermance Dufaux –
Wanderley S. Oliveira
GRAU DE SENSIBILIDADE
"...Homem de uma capacidade notória que não a
compreendem, enquanto que inteligências vulgares, de jovens mesmo, apenas
saídas da adolescência, a apreendem com admirável exatidão em suas mais
delicadas nuanças..." (Cap. XVII, item 4)
Na realidade, são homens sensíveis todos aqueles que
aprenderam a focalizar intensamente a essência das coisas. Sabem sintetizar e
observar sem julgamentos prévios as ocorrências e assuntos, examinando-os como
eles se apresentam realmente, com uma lucidez e discernimento cada vez maiores.
Sensibilidade é patrimônio do espírito que já atingiu um
certo grau de percepção e detecção proveniente do âmago dos fatos. Faculdade
esta alicerçada no "senso de realidade", que tem a capacidade de
penetrar nas idéias novas, captá-las e analisá-las sutilmente, com admirável
eficiência e exatidão.
Há criaturas, porém, que se apegam somente aos fenômenos
e manifestações espetaculares do mundo espiritual. Imaturas e insensíveis, não
compreendem as consequências éticas existentes por detrás dessas mesmas
manifestações.
Não percebem os horizontes ilimitados que se descortinam
em razão da crença na imortalidade das almas, pois não foram "tocadas no
coração" pelo sentimento de que o Universo é o lar que abriga a todos nós,
viajantes na embarcação da Vida.
Por não possuírem a "parte essencial", não
tomam consciência do fato de que existir é participar de uma constante
renovação, que impulsiona as criaturas ao auto-aperfeiçoamento.
Há tempo de começar, crescer, transformar e recomeçar,
num eterno reciclar de experiências. Todavia, aqueles cujo "nível de
maturidade" foi desenvolvido se diferenciam dos outros, porque focalizam
com seus sentidos acurados as profundezas das coisas e, em muitas ocasiões,
conseguem até perceber que certas ciências são muito mais espiritualistas do
que determinadas crenças ou cultos religiosos.
Ciências há que transcendem à vida física pelo somatório
de bases universalistas: observam, no interagir das relações entre seres vivos
e o meio ambiente, uma associação harmônica de "Ordem Divina" e de
cunho fraternalista. Por outro lado, certas religiões deixam muito a desejar
quanto ao sentimento de fraternidade: prometem recompensas imediatistas e ficam
presas a dogmas materialistas de infalibilidade e autoritarismo.
Os seres humanos sensíveis estão despertos tanto em seus
sentidos externos quanto internos, estão vivos em plenitude, pois experimentam
a atmosfera de cada momento.
Estão sempre refletindo e discernindo suas emoções e
sentimentos, porque já se permitem experimentar toda uma sucessão de sensações,
que decorrem das experiências nas relações humanas.
Portanto, podemos confiar em que cada um de nós, a seu
tempo, sensibilizar-se-á pelas coisas espirituais, visto que o desenvolvimento
de nosso grau evolutivo transcorre natural e incessantemente em decorrência dos
impulsos de progresso que recebemos das leis divinas existentes em nós mesmos.
Aqueles que se prendem unicamente aos fenômenos
mediúnicos e em nada se transformam espiritualmente encontrarão mesmo assim,
nesse comportamento, "um primeiro passo que lhes tornará o segundo mais
fácil numa outra existência".
Trata-se de um processo que não ocorre da noite para o
dia, mas que se vai projetando ao longo do tempo e sempre acontece quando
estamos prontos para crescer.
Aliás, "quando o aluno está pronto, o professor
sempre aparece".
Livro: Renovando Atitudes - Hammed – Francisco do
Espírito Santo Neto
ETAPAS EMOCIONAIS
DA REFORMA ÍNTIMA
"Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua
transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações
más."
O evangelho segundo o espiritismo, capítulo 17, item 4.
O aprimoramento espiritual é como uma semeadura com
etapas e harmonia determinadas. Plantio, germinação e frutificação nos terrenos
da alma obedecem a princípios de ordem e continuidade.
A reforma íntima é um campo de esperanças que tem como
principal condição de desenvolvimento o terreno psíquico e emocional, que são
expressões fiéis dos recursos e necessidades do espírito.
Para auxiliar na compreensão desse assunto e também
visando oferecer subsídios de autoavaliação, vamos construir uma linha didática
em seis etapas do progresso da reforma íntima, considerando que para cada
pessoa as variações serão infinitas. Portanto, nossas anotações nada têm de
exatas, definitivas ou conclusivas, sendo apenas referências para o autoexame.
As seis etapas se interpenetram e interagem, apresentando-se com riquezas e
nuanças próprias a cada pessoa.
1ª etapa - Projeção tóxica
A projeção é um mecanismo psicológico necessário ante o
incômodo das mudanças propostas pelo conhecimento espírita que nos orienta à
renovação íntima.
Com esclarecimento, sentimo-nos convocados a sair da
acomodação, de forma que isso é ameaçador e deslumbrante ao mesmo tempo. Gera
medo, mas também estímulo para avançar. Nesse momento, surge uma tensão
emocional resultante do conflito entre o que estamos aprendendo, o que sentimos
e o que vivemos na prática.
Como ainda é difícil identificar em nós próprios o que
estamos aprendendo, a projeção é uma forma de alívio. Enxergamos nos outros,
com maior intensidade e facilidade, o que não queremos reconhecer integralmente
em nossa vida pessoal.
Durante um período, essa projeção é benéfica e faz parte
do processo mental que se organiza em favor da nossa sanidade, porque seria
danoso olhar para todas as nossas imperfeições e corrigi-las de uma só vez. Com
o tempo, essa projeção torna-se tóxica, caminha para a fuga e pode nos trazer
um estado interior de intenso mau humor e inadequação.
2ª- etapa - Identificação intelectual das imperfeições
Nessa etapa, a projeção das nossas imperfeições no outro
vai cedendo lugar a um reconhecimento, a um desejo, inicialmente intelectivo,
de se examinar. Começamos a olhar com mais coragem para as limitações pessoais,
ainda que em níveis superficiais, mas, nem por isso, menos importantes.
Informações adquiridas em livros, palestras e outras
formas de assimilar o saber são as linhas que orientam essa etapa, na qual
ainda não incorporamos com profundidade o que já sabemos. Entretanto, há uma
fermentação de idéias que cria uma pressão interior para mudanças.
Esse conhecimento, aliado com o mecanismo da projeção
tóxica, costuma gerar comportamentos repressivos em relação a si, ao próximo e
sobre o que sentimos a respeito das vivências dessa etapa.
Reconhecer as imperfeições através do autoconhecimento é
o primeiro grande passo de progresso na reforma interior. Contudo, quando
usamos autoconhecimento para reprimir e acusar a nós mesmos e ao próximo, não
atingimos sintonia com a proposta de desenvolvimento moral e espiritual à luz
do Evangelho e do espiritismo.
A forma como aplicamos o autoconhecimento é muito
importante para a próxima etapa. Quanto mais severidade e autocobrança, menos
possibilidade de acessar de forma construtiva o nosso mundo interior.
3ª etapa - Reconhecimento emocional das imperfeições
Essa é a etapa em que começamos a olhar para dentro com
mais e melhor intensidade, porque iniciamos a elaboração da vida emocional com
mais foco. Mais do que conhecimento, nessa etapa importa-nos o que sentimos a
respeito do que sabemos.
Além do medo e da curiosidade das duas etapas anteriores,
alia-se agora um clima de dor psicológica muito intensa, a dor do crescimento.
E junto dela, na maioria dos casos, vem a dor adicional do martírio, porque
ainda não sabemos como gerenciar esse mundo emotivo.
Muitas pessoas, a título de autoconhecimento, penetram em
sua vida emocional e começam um verdadeiro autofuzilamento, questionando sem
piedade a si mesmo e entregando-se ao clima da baixa autoestima.
Por essa razão é que a próxima etapa constitui o coração
da reforma íntima: o desenvolvimento de condições para a compaixão e o
acolhimento amoroso de si mesmo.
4ª etapa - Desenvolvimento da habilidade de contato com a
sombra
A sombra é aquela parte de nosso inconsciente que
desconhecemos e para a qual é destinado todo o conteúdo psíquico que não
conseguimos elaborar conscientemente. Apesar de encontrar-se no inconsciente,
seu poder de influência e ação em nossa vida consciente é maior do que podemos
imaginar. É nessa sombra que está nosso homem velho, nossas tendências e nossos
hábitos que necessitam ser transformados.
Quem inicia o autoenfretamento terá de se munir com a
habilidade de lidar com seu sombrio à luz do autoamor.
A angústia da melhora torna-nos focados no que sentimos.
Isso nos induz a adquirir condições de nos relacionar com esse sombrio de forma
inteligente e progressista, desenvolvendo nossa inteligência emocional.
A reforma íntima não significa tirar algo ruim de nós e
colocar algo melhor no lugar, mas descobrir o que de bom já está em estado
adormecido na intimidade profunda e dinamizar esse(s) recurso(s); significa ter
consciência de valores que podemos educar.
Com inteligência emocional, seremos compassivos com
nossas tendências, usaremos de autoamor, que é a primeira condição de saúde
mental e espiritual para realizar qualquer esforço de crescimento para
construir o homem novo. Com autoestima, avançamos dentro da realidade. Em
contrapartida, quando brigamos com nós mesmos, caminhamos com ilusões e
cansaço.
É nesse campo do esclarecimento que os nossos grupos
necessitam mergulhar com seriedade para construir programas de estudos lúcidos
a respeito de como se tratar com bondade à luz do espírito imortal.
5ª etapa - Renovação de atitudes
A renovação de atitudes acontece de forma automática
quando gerenciamos com habilidade o que está dentro de nós, e a etapa anterior
é o alicerce dessa mudança efetiva.
Querer fazer reforma no comportamento sem aprender a lidar
com a sombra é querer queimar uma etapa natu¬ral no processo de crescimento
espiritual. Quanto mais aprendemos sobre as forças inconscientes, mais poder de
renovação adquirimos.
Quando estamos em paz com nossa sombra, surgem a lucidez
e a serenidade, e, através delas, reunimos melhores condições para três
atitudes básicas para nos transformar: fazer escolhas mais conscientes, adiar
gratificações sem tombar nas ilusões que nos atraem e ser mais adequado em
nossas condutas em cada situação que a vida nos apresenta.
Uma pessoa em paz interior está mais protegida dos
efeitos tóxicos das atitudes de irritação, do impulso, do desrespeito, do abuso
e de tantas outras ações que podem perturbar nosso equilíbrio.
Kardec foi brilhante ao conceituar: "Reconhece-se o
verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega
para domar suas inclinações más.".
A transformação interior é individual, processual e
singular. Violentar esses quesitos é abrir caminho para a hipocrisia. Por essa
razão, será muito valoroso que os indivíduos de nossas comunidades se organizem
com muito respeito e sinceridade uns com os outros para não darmos mais valor a
padrões de ser do que à autenticidade de que cada um é portador.
6ª etapa - Singularidade
Como diz Jung: "Nenhuma circunstância exterior
substitui a experiência interna. E é só à luz dos acontecimentos internos que
entendo a mim mesmo. São eles que constituem a singularidade de minha
vida."
0 futuro acena para a singularidade humana e não para
cópias uns dos outros. 0 importante é florirmos como somos e onde fomos
chamados. Quanto mais padrão, menos legitimidade; quanto mais uniformidade,
menos criatividade; e quanto mais normas, menos autenticidade.
Singularidade é o coroamento da reforma íntima.
É, por assim dizer, o seu grande objtivo: ser quem somos,
ser o plano de Deus na nossa caminhada individual.
Livro: Reforma Intima Sem Martírio – Ermance Dufaux –
Wanderley S. Oliveira
O ARGUMENTO JUSTO
À noite, em casa de Simão, transparecia um véu de
tristeza na maioria dos semblantes.
Tadeu e André, atacados horas antes, nas margens do lago,
por alguns malfeitores, viram- se constrangidos à reação apressada.
Não surgira conseqüência grave, mas sentiam-se ambos
atormentados e irritadiços.
Quando Jesus começou a falar acerca da glória reservada
aos bons, os dois discípulos deixaram transparecer, através do pranto discreto,
a amargura que lhes dominava a alma e, não podendo conter-se, Tadeu clamou,
aflito: — Senhor, aspiro sinceramente a servir à Boa Nova; contudo, sou
portador de um coração indisciplinado e ingrato.
Ouço, contrito, as explanações do Evangelho; lá fora,
porém, no trato com o mundo, não passo de um espírito renitente no mal.
Lamento... lamento...
mas como trabalhar em favor da Humanidade nestas
condições?
Embargando-se-lhe a voz, adiantou-se André, alegando,
choroso: — Mestre, que será de mim? Ao seu lado, sou a ovelha obediente;
entretanto, ao distanciar-me... basta uma palavra insignificante de
incompreensão para desarmar-me.
Reconheço-me incapaz de tolerar o insulto ou a pedrada.
Será justo prosseguir, ensinando aos outros a prática do
bem, imperfeito e mau qual me vejo?!...
Calando-se André, interferiu Pedro, considerando: — Por
minha vez, observo que não passo de mísero espírito endividado e inferior.
Sou o pior de todos.
Cada noite, ao me retirar para as orações habituais,
espanto-me diante da coragem louca dentro da qual venho abraçando os atuais
compromissos.
Minha fragilidade é grande, meus débitos enormes.
Como servir aos princípios sublimes do Novo Reino, se me
encontro assim insuficiente e incompleto? À palavra de Pedro, juntou-se a de
Tiago, filho de Alfeu, que asseverou, abatido:
— Na intimidade de minha própria consciência, reparo quão
longe me encontro da Boa Nova, verdadeiramente aplicada.
Muita vez, depois de reconfortar-me ante as dissertações
do Mestre, recolho-me ao quarto solitário, para sondar o abismo de minhas
faltas.
Há momentos em que pavorosas desilusões me tomam de
improviso.
Serei na realidade um discípulo sincero? Não estarei
enganando o próximo? Tortura-me a incerteza...
Quem sabe se não passo de reles mistificador? Outras
vozes se fizeram ouvir no cenáculo, desalentadas e cheias de amargura.
Jesus, porém, após assinalar as opiniões ali enunciadas,
entre o desânimo e o desapontamento, sorriu, tocado de bom-humor, e esclareceu:
— Em verdade, o paraíso que sonhamos ainda vem muito
longe e não vejo aqui nenhum companheiro alado.
A meu parecer, os anjos, na indumentária celeste, ainda
não encontram domicílio no chão áspero e escuro em que pisamos.
Somos aprendizes do bem, a caminho do Pai, e não devemos
menoscabar a bendita oportunidade de crescer para Ele, no mesmo impulso da
videira que se eleva para o céu, depois de nascer no obscuro seio da terra,
alastrando-se compassiva, para transformar-se em vinho reconfortante, destinado
à alegria de todos.
Mas, se vocês se declaram fracos, devedores, endurecidos
e maus e não são os primeiros a trabalhar para se fazerem fortes, redimidos,
dedicados e bons em favor da obra geral de salvação, não me parece que os anjos
devam descer da glória dos Cimos para substituir-nos no campo de lições da
Terra.
O remédio, antes de tudo, se dirige ao doente, o ensino
ao ignorante...
De outro modo, penso, a Boa Nova de Salvação se perderia
por inadequada e inútil...
As lágrimas dos discípulos transformaram-se em intenso
rubor, a irradiar-se da fisionomia de todos, e uma oração sentida do Amigo
Divino imprimiu ponto final ao assunto.
Neio Lúcio - Do Livro Jesus no Lar - Francisco C. Xavier
RECURSOS ESPÍRITAS
Agora que assimilaste o precioso conteúdo das lições
espiritistas, deparas com as excelentes concessões da vida que já não podes
desconsiderar. A fé, que então clareia os teus passos, se mantém graças ao
combustível da caridade, que podes utilizar indefinidamente, por estar ao
alcance dos teus recursos.
Em razão disso, já não te podes permitir navegar como
antes: em "maré baixa".
Descobriste os recursos do otimismo, e conquanto haja
sombra circundando a tua oficina de ação nobilitante, abre a janela da
esperança e vislumbra adiante a claridade que logo mais te envolverá.
Nominalmente convocado ao pátio da censura ou ao balcão
das queixas e reclamações, concorre com o rol da compreensão e da afabilidade,
da mansuetude e da desculpa espontânea aos que não compartem contigo os
propósitos de elevação, insistindo na tarefa encetada.
Conhecendo as "leis dos fluídos" poderás facilmente
identificar as companhias espirituais, saindo pela porta da oração dos redutos
de vibrações negativas e perniciosas em que te encontres.
Se te sentires inquieto no serviço que te compete
realizar, insultado por companheiros que não acreditam no teu esforço, silencia
e produze mais.
Se perturbações de variada ordem te impedem de prosseguir
na execução do programa da tua própria libertação, não lamentes nem
recalcitres: eleva o pensamento aos Planos da Misericórdia Divina e labora
ainda mais.
Assediado psiquicamente por Entidades levianas ou
perseguidoras, trabalha pelo bem de todos, utilizando os recursos de que
disponhas e preenche os espaços mentais vazios, não concedendo trégua à
ociosidade.
Vencido pela fadiga desta ou daquela natureza, renova as
forças, meditando uma página consoladora antes lida.
Algumas vezes o veneno da ira amargurará teus lábios; em
muitas ocasiões a balbúrdia dos desocupados te atordoará, envolvendo-te em
atroada avassaladora; repentinamente sentirás a mágoa insidiosa e
injustificável, açulando a indiferença muda, que te ameaça, cruel; a tentação
de "tudo abandonar", reiteradamente chegará à tua casa mental; a
deserção de inúmeros companheiros será estímulo para o teu desânimo; as facilidades
do caminho estarão fascinantes à tua frente, convidativas; e perguntarás: que
fazer?
Recorre aos recursos espíritas: ora, e ora sempre, para
adquirires resistência contra o mal que infelizmente ainda reside em nós;
permuta conversação enobrecida, pois que as boas palavras e os pensamentos bons
renovam as disposições espirituais; utiliza o recurso do passe socorrista,
rearticulando as forças em desalinho; sorve um vaso de água fluidificada,
restaurando a harmonia das células em desajustamento e, sobretudo, realiza o
bom serviço.
Nenhum mal consegue triunfo no terreno reservado ao bem
atuante.
Não te concedas a insensata cooperação com o pessimismo
ou o desalento, a rebeldia ou o egoísmo, estimulando a produção do erro ou a
multiplicação da anarquia.
Aquele que conhece o Espiritismo é beneficiário do
Consolador, em cuja fonte haure forças e resignação, mas é, também, amigo da
Verdade, em cuja companhia não tergiversa, sejam quais forem as circunstâncias,
avançando em rumo definido, certo da vitória final.
Tem como modelo e guia Jesus, cujo chamado escutou e
atende, prosseguindo na marcha após "renunciar a si mesmo, tomar a própria
cruz" e transformar-se em espírita autêntico, o que equivale a cristão
verdadeiro.
"Se podes! Tudo é possível àquele que crê".
Marcos: capítulo 9º, versículo 23.
"Muitos, entretanto, dos que acreditam nos fatos das
manifestações não lhes apreendem as consequências, nem o alcance moral, ou, se
os apreendem, não os aplicam a si mesmos". Evangelho Segundo o Espiritismo
- Capítulo 17º - Item 4, parágrafo 2.
FRANCO, Divaldo Pereira. Florações Evangélicas. Pelo
Espírito Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 51.
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